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FUNDAMENTOS

DE MATEMÁTICA

Mariana Sacrini Ayres Ferraz


Rute Henrique da Silva Ferreira
Conjuntos numéricos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir o que são conjuntos numéricos em matemática.


„„ Representar conjuntos por meio dos diagramas de Venn.
„„ Realizar operações com conjuntos.

Introdução
Os conjuntos são bastante importantes em matemática. Talvez os mais
famosos sejam os conjuntos numéricos, como os reais, os inteiros e os
naturais. Embora eles tenham muitas aplicações puramente matemáticas,
muitas áreas se beneficiam de suas teorias, como quando temos que di-
vidir grupos que tenham características similares ou não, ou parcialmente
similares, e problemas de reconhecimento de padrões.
Neste capítulo, você aprenderá a definição de conjuntos, como
representá-los e suas propriedades.

Conjuntos numéricos
Um conjunto pode ser definido como uma coleção de entidades, as quais são
seus elementos. Ou seja, é uma coleção de elementos que estão relacionados
segundo alguma regra. Por exemplo, os elementos poderiam ser números,
frutas, pessoas, carros, etc. Já a regra à qual os elementos obedecem deve
ser bem-definida — por exemplo, poderíamos ter um conjunto de palavras
pertencentes à língua portuguesa.
Geralmente, são utilizadas letras maiúsculas para se especificar os conjun-
tos, como A, B, W, …, e letras minúsculas para os elementos de um conjunto,
como a, b, c ,z,... Por exemplo:

g, h ∈ A,
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que significa que os elementos g e h pertencem ao conjunto A. O símbolo ∈ pode


ser interpretado como “é um elemento de”. Para a negativa dessa afirmação,
usa-se ∉, o que significa “não é um elemento de”.

Notação
Para se descrever os elementos de um conjunto, geralmente são utilizadas
chaves {} e vírgulas para separar os elementos. Por exemplo:

{–2, –1, 0, 1, 2, 3, 4, 5}.

Para conjuntos com número de elementos muito grandes, a notação acima


não seria a mais indicada, pois geraria imensas listas. Assim, uma maneira de
se descrever os conjuntos é utilizar uma letra, como x. Por exemplo:

B = {x│x é um inteiro e |x| < 6},

o qual lemos como “B é um conjunto dos elementos x, tal que x é um inteiro


e tem módulo menor que 6. Equivalentemente, podemos escrever:

B = {x│x ∈ Z, |x| < 6}.

Aqui, o símbolo | significa “tal que”, Z representa o conjunto dos inteiros,


e a vírgula é interpretada como “e”.

Veja os três conjuntos a seguir:

A = {x|x2 – 3x + 2 = 0},
B = {1, 2},
C = {2, 1, 2, 2, 1}.

Eles são iguais?


A resposta é sim. Para conjuntos, não importa a ordem de seus elementos, nem se
eles são repetidos. Dessa maneira, no caso dos três conjuntos mostrados aqui, eles
são considerados iguais, ou seja, A = B = C.
Conjuntos numéricos 3

Subconjuntos
Suponha que tenhamos dois conjuntos, A e B. Se a ∈ A, implica que a ∈ B.
Podemos dizer que A é um subconjunto de B e, alternativamente, que A está
contido em B, A ⊆ B, ou que B contém A, B ⊇ A. Por exemplo, se P = {2, 4, 6}
e S = {"inteiros pares"}, então, temos que P ⊆ S.
Se dois conjuntos são iguais, cada conjunto está contido no outro, Assim,
A = B "se, e somente se” A ⊆ B e B ⊆ A.
Para os subconjuntos, temos o seguinte teorema: sejam A, B e C conjuntos
quaisquer, então:

1. A ⊆ A;
2. Se A ⊆ B e B ⊆ A, então A = B;
3. Se A ⊆ B e B ⊆ C, então A = C.

Conjuntos numéricos especiais


Alguns conjuntos são muito usados e, assim, acabaram recebendo tratamento
especial. Veja a seguir.

„„ N: conjunto dos números naturais, ou inteiros positivos, com o zero


— N = {0, 1, 2, 3, 4, …}.
„„ Z: conjunto dos números inteiros, ou seja, todos os números inteiros
positivos, negativos e o zero — Z ={…, –3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, …}.
„„ Q: conjunto dos números racionais, números reais com dígitos decimais
finitos. Números que podem ser escritos em forma de fração de números
inteiros, resultando assim em decimais com dígitos finitos – 𝑄 = ,
p, q ϵ Z e q ≠ 0 .
„„ I: Conjunto dos números irracionais, números que não podem ser
escritos em forma de fração de números inteiros, resultando assim
em decimais com dígitos infinitos — por exemplo, raízes não exatas
, o número 𝜋 e o número de Euler 𝑒.
„„ R: conjunto dos números reais, o qual inclui os racionais e os irracio-
nais — R = Q ∪ I.
„„ C: conjunto dos números complexos, pares (a, b) de números reais, ou
seja, números da forma z = a + bi, onde a e b são números reais e i2 = –1.
4 Conjuntos numéricos

Em teoria de conjuntos, a notação * é utilizada quando desejamos excluir o número


zero do conjunto. Por exemplo:
„„ N* = {1, 2, 3, 4, ...};
„„ Z* = {..., –3, –2, –1, 1, 2, 3, ...}.

A partir dessa descrição, podemos pensar N como uma parte de Z, Z como


uma parte de Q e Q como uma parte de R. Em Q, equações do tipo x2 – 3 = 0
ou o cálculo da área do círculo, por exemplo, não podem ser resolvidas. Temos
então um novo conjunto, os irracionais e esse conjunto I pode ser entendido
como uma parte de R.
No entanto, alguns problemas não podem ser resolvidos apenas em R, o que
motivou o desenvolvimento dos números complexos. Por exemplo, a equação
x2 + 1 = 0 não tem solução em R, mas, em C, veremos que ela tem solução.
Na teoria de conjuntos um número complexo é um par ordenado de nú-
meros reais (a, b) em que estão definidas igualdade, adição e multiplicação
(DANTE, 2002):

(a, b) = (c, d) ↔ a = c e b = d
(a, b) + (c, d) = (a + c, b + d)
(a, b) ∙ (c, d) = (ac – bd, ad + bc)

Os números reais pertencem a C e são aqueles pares em que temos b = 0,


ou seja, o número real 5 pode ser escrito como o par (5, 0). Também é dado
um nome especial para o par (0, 1), unidade imaginária. Ele é indicado por i,
e, usando a definição de multiplicação de complexos, temos:

i2 = (0,1) ∙ (0,1) = (0 ∙ 0 ‒ 1 ∙ 1, 0 ∙ 1 + 1 ∙ 0) = ( ‒ 1, 0) = ‒ 1

Essa definição nos permite calcular, em C, raízes quadradas de números


negativos. Por exemplo:
Conjuntos numéricos 5

Os números complexos podem ser representados na forma algébrica ou na


forma trigonométrica. Veja a seguir algumas definições e exemplos envolvendo
números complexos.

Forma algébrica de um número complexo: z = a + bi

(‒2, 3) = ‒2 + 3i
(0, ‒1) = 0 ‒ 1i = –i

Conjugado de um número complexo: z = a – bi

z = 2 + 3i → z = 2 – 3i
z = 5 – 2i → z = 5 + 2i

Interpretação geométrica de um número complexo

Como cada número complexo está associado a um par (𝑎,𝑏), que por sua vez
está associado a um único ponto no plano, podemos representá-los como um
ponto P no sistema de coordenadas cartesianas. O ângulo θ formado pelo
segmento Oz e o eixo x é chamado de argumento, e ρ é o módulo de z, que
definimos na Figura 1.

Figura 1. Gráfico do módulo de z.


Fonte: Adaptada de Dante (2002).
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Módulo de um número complexo

O módulo de um número complexo é a distância da origem do sistema de


coordenadas até o ponto z. Aplicando o teorema de Pitágoras, .
Vejamos um exemplo:

Forma trigonométrica de um número complexo

A partir da representação geométrica de um número complexo, considerando-


-se seu módulo, o ângulo formado pelo segmento Oz e o eixo x e as noções
de seno e cosseno, temos:

z = a = bi → |z| (cos θ + isen θ)

Vejamos um exemplo:

Resolução de equações com raiz complexa

x2 ­– 2x + 10 = 0
∆ = b2 – 4ac = 4 – 4 ∙ 1 ∙ 10 = –36 → não possui raiz real

Usando números complexos, temos:

Assim, as raízes da equação são 1 + 3i e 1­ – 3i.


Conjuntos numéricos 7

A equação x2 + 1 = 0, mencionada anteriormente no capítulo, pode ser


resolvida da seguinte forma:

Sua solução, então, é:

x = ±i

Conjunto universo e conjunto vazio


O conjunto universo normalmente é denotado pela letra U. Ele seria composto
por todos os elementos e conjuntos em um dado contexto. Já o conjunto vazio
não contém qualquer elemento e é representado por chaves vazias {}, ou pelo
símbolo ∅. Por exemplo:

Se U = Z, então {x│x2 = 10} = ∅.

Conjuntos disjuntos
Conjuntos disjuntos são aqueles que não têm elementos em comum. Por
exemplo, suponha os três conjuntos a seguir:

A = {1, 4, 5},
B = {5, 6, 8, 10} e
C = {10, 14}.

Os conjuntos A e C são considerados disjuntos, mas A e B não, pois eles


têm elementos em comum. Os conjuntos B e C também não são disjuntos.
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Diagramas de Venn
Uma maneira de representar conjuntos é usando os diagramas de Venn. Nesses
diagramas, os conjuntos são representados por áreas delimitadas no espaço,
geralmente círculos e elipses. Assim, o conjunto universal U é representado
por um retângulo, em que estão os outros conjuntos. A Figura 2 mostra três
exemplos de diagramas de Venn. Em (a), há um exemplo em que o conjunto
A está contido no conjunto B; em (b), os conjuntos A e B são disjuntos; em (c),
os conjuntos A e B sobrepõem-se parcialmente.

Figura 2. Exemplos de diagramas de Venn.


Fonte: Adaptada de Lipschutz e Lipson (2013).

Os diagramas de Venn também servem para ilustrar os conjuntos numéricos


descritos na seção anterior, como mostra a Figura 3.

R=Q∪I

N I
Números
Números Naturais
Irracionais
Z
Números Inteiros
Q
Números Racionais

C
Números Complexos

Figura 3. Representação dos conjuntos numéricos.


Conjuntos numéricos 9

A figura a seguir representa um diagrama de Venn de dois conjuntos A e B.

O conjunto universal U foi dividido em quatro regiões chamadas de i, ii, iii e iv. O que
pode ser dito sobre os conjuntos A e B:
a) se a região ii for vazia?
b) se a região iii for vazia?
Se a região ii for vazia, então A não contém elementos que não estão em B. Assim,
A é um subconjunto de B, e o diagrama deveria ser redesenhado como na Figura 2a.
Agora, se a região iii for vazia, então A e B não têm elementos em comum, sendo
disjuntos. Assim, o diagrama deveria ser redesenhado como na Figura 2b.

Para desenhar um diagrama de Venn, pode-se usar uma técnica que contém
dois passos, descrita a seguir. Primeiramente, supomos os seguintes conjuntos:

U = {1, 2, 3, …, 12}
A = {2, 3, 7, 8, 9}
B = {2,8}
C = {4, 6, 7, 10}

Para desenhar o diagrama desses conjuntos, você deve seguir os passos:

a)  desenhe um diagrama genérico com os conjuntos.


b)  insira os elementos em suas devidas regiões.
c)  redesenhe o diagrama, eliminando regiões vazias.
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Assim, o primeiro passo geraria um diagrama como mostrado na Figura 4a.


A partir daí, preencheremos as regiões com os elementos dos conjuntos. Analise
elemento a elemento, checando se ele pertence a mais de um conjunto. Assim,
o resultado ficaria como o mostrado na Figura 4b.

Figura 4. Passos para desenhar um diagrama de Venn. (a) Diagrama genérico. (b) Diagrama
genérico preenchido. (c) Diagrama redesenhado, eliminando os espaços vazios.

Operações com conjuntos


Algumas operações podem ser feitas com conjuntos, como união, interseção
e complementar.
A união de dois conjuntos A e B representa um conjunto com todos os
elementos de A ou B, ou seja:

A ∪ B = {x|x ∈ A ou x ∈ B}

A Figura 5a mostra um diagrama de Venn, em que o conjunto A ∪ B está


sombreado.
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A interseção de dois conjuntos A e B representa um conjunto que pertence


a ambos, A e B, ou seja:

A ∩ B = {x|x ∈ A e x ∈ B}

A Figura 5b mostra um diagrama de Venn, em que o conjunto A ∩ B está


sombreado.

Figura 5. Diagramas de Venn representando as operações de união e interseção entre


conjuntos.
Fonte: Adaptada de Lipschutz e Lipson (2013).

Suponha os conjuntos:

A = {1, 2, 3},
B = {3, 4, 5} e
C = {6, 7}.

Temos que:

A ∪ B = {1, 2, 3, 4, 5}
A ∩ B = {3}
B ∪ C = {3, 4, 5, 6, 7}
B ∩ C = ∅
A ∪ C = {1, 2, 3, 6, 7}
A ∩ C = ∅
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O complementar de um conjunto A é o conjunto de elementos que pertencem


a U, mas que não pertencem a A, ou seja:

AC = {x|x ∈ U, x ∉ A}

A Figura 6 mostra um diagrama de Venn do complementar de um conjunto


A.
O complementar relativo de um conjunto B relativamente a um conjunto
A, ou a diferença de A por B, é o conjunto de elementos que pertencem a A,
mas não a B, ou seja:

A\B = {x ∈ A, x ∉ B}

Essa expressão é lida como “A menos B”. A Figura 6b mostra um diagrama


de Venn de A\B.
A diferença simétrica de dois conjuntos, A e B, são os elementos que
pertencem a um ou outro conjunto, mas não a ambos, ou seja:

A ⊕ B = (A ∪ B)(A ∩ B)

Podemos escrever também:

A ⊕ B = (A\B) ∪ (B\A)

A Figura 6c mostra um diagrama de Venn de A ⊕ B.

Figura 6. Diagramas de Venn representando complementar, complementar relativo e


diferença simétrica.
Fonte: Lipschutz e Lipson (2013, p. 6).
Conjuntos numéricos 13

Em um grupo com 100 esportistas, 41 jogavam basquete, 20 jogavam basquete e


corriam, 22 praticavam corrida e natação, 18 jogavam basquete e nadavam, e 11
praticavam os 3 esportes. O número de pessoas que corriam era igual ao número de
pessoas que nadavam.

a) Quantas pessoas nadavam e não jogavam basquete?


b) Quantas pessoas corriam ou nadavam e não jogavam basquete?
c) Quantos jogavam basquete e não corriam?
Com as informações dadas, podemos desenhar o seguinte diagrama:

onde:
„„ B: jogam basquete;
„„ C: correm;
„„ N: nadam;
„„ BC: jogam basquete e correm;
„„ BN: jogam basquete e nadam;
„„ NC: nadam e correm;
„„ BNC: jogam basquete, nadam e correm.
As letras x e y representam o número de pessoas em C, n(C) = x, e em N, n(N) = y.
Observando o diagrama, temos que:

n(C) = 9 + 11 + 11 + x = 31 + x


e
n(N) = 7 + 11 + 11 + y = 29 + y

Sabemos, também, que n(C) = n(N). Assim:

31 + x = 29 + y
x = y – 2
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Temos, também, que o total de esportistas é 100. Dessa maneira, podemos somar
todas as partes do diagrama desenhado:

14 + 9 + 11 + 7 + 11 + x + y = 100
52 + x + y = 100
x + y = 48

Juntando com a equação encontrada anteriormente, ficamos com:

y – 2 + y = 48
2y = 50
y = 25
x = 23

Assim, agora temos todas as partes do diagrama e podemos responder as questões.

a) O número de pessoas que nadavam e não jogavam basquete:


N + NC = y + 11 = 25 + 11 = 36
b) O número de pessoas que corriam ou nadavam e não jogavam basquete:
N + NC + C = x + 11 + y = 23 + 11 + 25 = 59
c) O número de pessoas que jogavam basquete e não corriam:
B + BN = 14 + 7 = 21

DANTE, L. R. Matemática: contexto e aplicações. São Paulo: Ática, 2002.


LIPSCHUTZ, S.; LIPSON, M. Matemática discreta. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
(Coleção Schaum).

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