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O banqueiro
dos pobres
Muhammad Yunus

Edição atual nos


Estados Unidos
1ª edição Banker of the poor: Edição atual no
Banker of the poor: micro­‑lending and Reino Unido
the autobiography the battle against Banker of the poor:
of Muhammad Yunus, world poverty the story of the
founder of the Public Affairs, Perseus Grameen Bank
Grameen Bank Books Group, 2003 Aurum Press, 2003
Aurum Press, 1998 312 p, (brochura) 338 p. (brochura)
288 p, (capa dura) edição revista nova edição
978­‑1854105776 978­‑1586481988 978­‑1854109248

Ideias­‑chave
uu Os pobres estão presos em uma armadilha de pobreza porque lhes
falta acesso ao crédito. Pobreza não é um estado natural.
uu O crédito é um direito humano, já que se tornou indispensável
para atender às necessidades humanas.
uu Os pobres são dignos de crédito, contrariamente à crença popular
de que são de alto risco e, portanto, "imbancáveis".
uu Todo mundo é um empreendedor. Com isso, o microcrédito cria
um jeito de as pessoas ajudarem a si mesmas.
uu Proporcionar aos pobres acesso ao crédito e à tecnologia da
informação eliminará a pobreza.
O BAN QU EIRO DOS POBRES 127

Sinopse
O banqueiro dos pobres, essencialmente uma Historicamente, os pobres não têm acesso a
autobiografia de Muhammad Yunus e do Ban- oportunidades de desenvolvimento econômico
co Grameen, é uma mistura fascinante de porque o financiamento é sempre dirigido para
­argumentos econômicos, casos pessoais e his- aqueles que têm dinheiro, não para os pobres.
tórias inspiradoras. O que se transformou no No entanto, Yunus defende que a única manei-
Banco Grameen e no movimento mundial de ra de os pobres escaparem da pobreza é te-
microcrédito começou com um empréstimo de rem acessso a essas mesmas oportunidades
apenas 27 dólares, em 1974, feito por Yunus, por meio da concessão de crédito. Sobre a
então professor de economia, para aliviar o so- questão de serem dignos de crédito, afirma:
frimento quando Bangladesh foi atingida por “Por que os pobres não podem controlar capi-
grave escassez de alimentos. Yunus emprestou tal? Porque não herdam nem capital nem cré-
dinheiro para 42 mulheres para que elas pudes- dito, nem ninguém lhes dá acesso ao capital,
sem comprar bambu para fabricar e vender porque fomos levados a crer que não se deve
banquinhos. Em pouco tempo, as mulheres confiar crédito aos pobres – que eles não são
­pagaram os empréstimos e continuaram a sus- dignos de crédito. Mas são os bancos dignos
tentar a si mesmas e a suas famílias. das pessoas?”

Com esse sucesso inicial, Yunus criou uma O Banco Grameen é atualmente um banco de
empresa experimental de microcrédito, em 2,5 bilhões de dólares, sediado em Bangla-
1977. Como não conseguiu apoio dos bancos desh, e o seu modelo de microcrédito se
tradicionais, decidiu criar seu próprio “banco ­espalhou por mais de cinquenta países, dos
dos pobres”, o Banco Grameen, em 1983. A Estados Unidos à Papua Nova Guiné, da
ideia por trás desse banco é simples: estenda ­Noruega ao Nepal. Levou também ao desen-
o crédito aos pobres e eles ajudarão a si mes- volvimento de outros empreendimentos
mos. Essa ideia toca na raiz da pobreza, ­sociais, como Grameenphone, Grameen Check
­mirando especificamente o mais pobre dos (roupas tecidas em teares), Grameen Fisheries
pobres, fornecendo pequenos empréstimos Foundation, Grameen Cybernet e Grameen
(geralmente menos de 300 dólares) para Shakti (energia).
­aqueles que não conseguem obter crédito dos
bancos tradicionais. O livro é rico da filosofia de Yunus sobre vários
assuntos, desde bancos, economia e capita­
No Grameen, os empréstimos são administra- lismo até educação, pobreza e negócios. Sua
dos para grupos de cinco pessoas, entre as premissa básica é que o estado atual de bem­
quais apenas duas recebem o dinheiro adianta- ‑estar, na verdade, tolhe a capacidade do
do. Assim que esses dois beneficiários efetuam ­pobre de escapar da pobreza, na medida que
alguns pagamentos regulares os empréstimos pune as atividades que libertam da pobreza.
são gradualmente estendidos ao resto do Além disso, o capitalismo só poderá permitir
­grupo. Desse modo, o programa constrói um ao pobre escapar da pobreza se for atribuído
sentido de comunidade, bem como de auto- um valor ao impacto social, isto é, se levar em
confiança individual. A maioria dos empréstimos­ conta as externalidades do comportamento
do Banco Grameen é para mulheres e, desde social positivo.
seu início, o índice de pagamento da dívida tem
­sido impressionante: superior a 98%.
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Tópicos do livro
• Os pobres, uma vez capacitados economicamente, são os lutadores mais decididos
na batalha para solucionar o problema populacional, dar fim ao analfabetismo, viver
vidas mais saudáveis e melhores. Quando os formuladores de política finalmente se
derem conta de que os pobres são seus parceiros, em vez de espectadores ou
­inimigos, progrediremos muito mais depressa do que hoje.
• Deveríamos julgar a qualidade de vida de uma sociedade não pela maneira como os
ricos dessa sociedade vivem, mas pelo modo como os integrantes do percentil mais
baixo vivem a vida deles.
• Ganância não é o único combustível da livre empresa. Metas sociais podem substituir
a ganância como poderosa força motivacional. Empresas dirigidas com consciência
social podem ser concorrentes formidáveis para as empresas calcadas na ganância.
• Proponho substituirmos o acanhado princípio da maximização do lucro por outro
­princípio de lucro generalizado ­– um empreendedor que maximiza um pacote com dois
itens, lucro e retorno social, com a condição de que o lucro não pode ser negativo.
• Capacitação econômica e social, que cria oportunidades para mulheres pobres
­obterem suas rendas e as coloca dentro de estruturas organizacionais, terá mais
­impacto em restringir o crescimento populacional do que o atual sistema, que tenta
amedrontar as pessoas.

Sobre o autor
Muhammad Yunus (nascido em 1940) Yunus fundou em Bangladesh, em 1983, o
é banqueiro e economista bangladeshiano Banco Grameen, que hoje concede crédito
que se tornou líder emblemático do movimen- para 7 milhões de pobres do país. De 1993 a
to do microcrédito. 1995, foi membro do Grupo Consultivo Inter-
nacional da Quarta Conferência Mundial da
Yunus nasceu na cidade portuária de Chitta- Mulher, posto para o qual foi nomeado pelo
gong, estudou na Universidade de Dhaka, em Secretário­‑Geral das Nações Unidas. Traba-
Bangladesh, e recebeu uma bolsa do programa lhou na Comissão Global de Saúde da Mulher,
Fulbright para estudar economia na Universida- no Conselho Consultivo para o Desenvolvi-
de de Vanderbilt, onde recebeu PhD em econo- mento Econômico Sustentável e no Grupo de
mia, em 1969, e, no ano seguinte, tornou­‑se Especialistas das Nações Unidas em ­Mulheres
professor assistente de economia da Universi- e Finanças.
dade Estadual do Middle Tennessee. De volta a
Bangladesh, foi chefe do departamento de Pelas suas ideias e dedicação, Yunus foi agra-
economia da Universidade de Chittagong. ciado com numerosos prêmios, até mesmo
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com o Nobel da Paz de 2006, juntamente com


o Banco Grameen. No início de 2007, pensou
em criar um partido político em Bangladesh
chamado Nagorik Shakti (Poder do Cidadão),
mas desistiu da ideia. É um dos membros fun-
dadores do Global Elders (Anciões Globais).

Em suas próprias
palavras
(entrevista de 2008)

Reflexões sobre o livro


Estava lecionando economia em uma das uni-
versidades de Bangladesh quando fomos
­atingidos por uma escassez de víveres. Senti­
‑me totalmente vazio. Todas as teorias eco­
nômicas me pareciam superficiais e inúteis.
­Pensei: por que não sair e ver se podia encon-
trar outro ser humano? Ficar próximo dele ou
dela e ajudar essa pessoa a superar qualquer
dificuldade, naquele dia em particular.

Por força da vida acadêmica, durante muitos


anos tinha uma visão de pássaro (aérea e
­panorâmica) do mundo – podia vê­‑lo todo, a ex-
tensão de terra toda, mas não os detalhes.
­Agora, quando chego a uma vila, vejo os deta-
lhes muitíssimo claros. O que estou tendo agora­
é uma visão de minhoca (de baixo e inferior), e
­isso é uma vantagem. Com essa visão, podere-
mos encontrar a solução imediatamente.

O papel dos negócios


Percebo que agora os negócios estão ten-
tando descobrir um novo mundo de gente
pobre, a que chamam “base da pirâmide”,
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“território não descoberto”, e assim por dian- oportunidades especiais ou políticas espe-
te. Sinto­‑me mal com esse tipo de atitude, ciais para elas. Estamos falando de qualquer
que não tira os pobres de tal condição. benefício– quaisquer oportunidades – que
­Queremos ficar ricos à custa das pessoas ­outros do topo da sociedade têm.
que ali se encontram. Nossa principal res-
ponsabilidade é elevá­‑los, em vez de vê­‑los Os seres humanos são dotados de capaci­
como uma oportunidade para ganhar dinhei- dade ilimitada; eles podem mudar as suas
ro. Não deveríamos olhar para os pobres ­vidas. E a pobreza é uma imposição artificial
­como consumidores de nosso produto. De- nos s­ eres humanos, não é algo nato. Se
veríamos vê­‑los como produtores potenciais, ­removermos essa situação artificial, eles sai-
pessoas potencialmente criativas que podem rão da ­pobreza. É preciso mudar a estrutura
assumir sua própria vida e transformá­‑la. econômica. Temos de incluir outro tipo de
­negócios, a que chamo “negócio social” ­–
Hoje eu diria que responsabilidade social ­negócio totalmente dedicado a abordar as
corporativa é um dinheiro dado para o depar- questões e os problemas sociais. Uma vez
tamento de relações públicas, que o usa que reunamos essas coisas, acredito que
mais para propósitos promocionais da em- ­poderemos criar um mundo sem pobreza.
presa do que para verdadeiramente cuidar da
vida das pessoas. Esse dinheiro, que é dado
como responsabilidade social corporativa,
poderia ser usado para criar um negócio
­social – um negócio dedicado exclusivamen-
te a atingir um objetivo social.

Olhando para o futuro


Estou convencido de que podemos criar um
mundo onde não haja nenhuma pessoa po-
bre. As pessoas têm capacidade, potencial
ilimitado de mudar sua própria vida e contri-
buir para este planeta. Mas, infelizmente, não
lhes é dada a chance. Não estamos pedindo

OUTROS LIVROS MAIS INFORMAÇÕES

Grameen Bank:
Creating a world without poverty: social
www.grameen.com ou www.grameen­‑info.org
business and the future of capitalism
(Public Affairs, 2008). Grameen Foundation:
www.grameenfoundation.org

Muhammad Yunus:
www.muhammadyunus.org

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