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ITUMBIARA
2019
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS
CÂMPUS ITUMBIARA – BACHARELADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA
ITUMBIARA
2019
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
B732a
Borges, Caio Franco
Análise da qualidade da energia elétrica em um sistema fotovoltaico
conectado a rede. / Caio Franco Borges. -- 2019.
103 f. : il.
Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Elétrica) -
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Câmpus
Itumbiara, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Olívio Carlos Nascimento Souto
CDD: 621.47
4
3
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus e Nossa Senhora Aparecida por me sustentar nos
bons e maus momentos, me guiando por caminhos do bem e livrando de coisas ruins. Em
seguida, não há dúvidas de quem devo agradecer... minha família! Meu pai, Ézio, minha mãe,
Patrícia, e minhas irmãs, Clara e Camila, que sempre me apoiaram em minhas decisões, me
instruíram para que seguisse pelos melhores caminhos, e que mesmo longe, me fizeram sentir
amado a todo momento. Esse sentimento foi o que me deu forças para continuar lutando frente
a todas diversidades que existiram.
A todos, muito obrigado, que todas as coisas boas que me proporcionaram lhes sejam
retribuídas milhares e milhares de vezes!
5
RESUMO
6
ABSTRACT
The deep changes that electric power distribution systems have been experiencing due
to the growth in the use of Distributed Generation have resulted in a change in the traditional
way of controlling and operating the electrical system. The large-scale connection of DG units
poses a number of technical, economic, and regulatory challenges for power utilities that are
required to maintain reliability, continuity of supply, and the level of Electrical Power Quality
in the system, mainly due to the bidirectionality of the power flow in the network. Recently, the
project “Energy Efficiency and Minigeneration at the Federal Institute of Goiás (IFG) was
created, where photovoltaic solar micro and minigigeneration systems will be installed with
total capacity of 1MWp distributed in 9 IFG campuses, namely: Anápolis, Aparecida de
Goiânia, Formosa, Inhumas, Itumbiara, Jataí, Luziânia, Valparaiso and Uruaçu. Given the
above, the purpose of this work is to analyze the impacts of distributed generation, specifically
photovoltaic, on the low voltage secondary distribution network, under parameters of Harmonic
Disturbances and Voltage Disturbances, through data collected from a photovoltaic distributed
generation of 70 kWp present at IFG campus Itumbiara. The technical data of the system were
obtained from the technical documentation regarding campus implementation, the load curve
obtained from on-site measurement using the power quality analyzer, and the comum point
linkage data granted by ENEL. In this work the correlation between system operation and
impacts observed in the parameters to be approached is made, aiming to technically analyze the
QEE of the system in question. It was observed that the operation of the IFG Grid Connected
Photovoltaic System impacted the voltage profile, which increased during periods of high
generation, characterized by the injection of the active power surplus into the grid. It can also
be verified that this system in nominal operation did not cause extrapolation in the limits of
harmonic voltage distortion, as well as in the voltage unbalance. In periods of low production,
there was an increase in the harmonic distortion of the electric current injected by the
photovoltaic inverter.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 6 - Evolução no preço da relação Preço x Watt das células fotovoltaicas no mundo.
Figura 8 - Número de sistemas que utilizam geração distribuída fotovoltaica, por classe de
consumo no Brasil.
Figura 10 - Top 10 países com capacidade para instalação e capacidade total instalada em
2017.
9
Figura 40 – Indicadores DRP e DRC
Figura 48 - ITIC
10
Figura 62 - Comportamento do DITh dia 19/06
Figura 66 – Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Quinta-
feira
Figura 67 - Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Domingo
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 8 - Terminologia
12
LISTA DE ABREVIATURAS
BT - Baixa tensão
MT - Média tensão
FV – Fotovoltaico
RN - Resolução Normativa
14
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 17
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 17
1.2 INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................... 17
1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 21
2. ESTADO DA ARTE.................................................................................................................... 22
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 22
2.2 CENÁRIO DO USO DE SISTEMAS SOLAR FOTOVOLTAICO ............................... 22
2.3 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ............................................................................................... 29
2.4 VANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA .............................................................. 35
2.5 DESVANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ...................................................... 36
2.6 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA COM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS ........................... 39
2.7 LEGISLAÇÃO .................................................................................................................... 43
2.8 CATEGORIAS DOS SFCR ............................................................................................... 49
2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 50
3.0 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA .......................................................................... 51
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 51
3.2 QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA ...................................................................... 51
3.1.1 TRANSITÓRIOS ............................................................................................................ 54
3.1.1.1 TRANSITÓRIO IMPULSIVO .................................................................................. 54
3.1.1.2 TRANSITÓRIOS OSCILATÓRIOS ........................................................................ 54
3.2 DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO .................................................................................... 54
3.3 VARIAÇÕES RMS DE CURTA DURAÇÃO .................................................................. 56
3.4 VARIAÇÕES RMS DE LONGA DURAÇÃO ................................................................. 57
3.5 HARMÔNICOS .................................................................................................................. 57
3.5.1 INDICADORES DE QEE DE DISTORÇÕES HARMÔNICAS ................................ 59
3.6 FLUTUAÇÃO DE TENSÃO.............................................................................................. 62
3.7 TENSÃO EM REGIME PERMANENTE ........................................................................ 65
3.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 67
4.0 RESULTADOS ........................................................................................................................ 68
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 68
4.2 DESCRIÇÃO SISTEMA FOTOVOLTAICO IFG – ITUMBIARA .............................. 68
4.3 TRANSFORMADOR E CABEAMENTO DO IFG – ITUMBIARA ............................. 71
15
4.4 MEDIÇÃO DE ENERGIA ................................................................................................. 71
4.5 ANÁLISE DAS CURVAS DE CARGA ............................................................................ 72
4.6 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA TENSÃO EM REGIME PERMANENTE 75
4.7 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS DE TENSÃO ..................................................................... 81
4.8 ANÁLISE DE HARMÔNICOS ......................................................................................... 83
4.9 ANÁLISE DE FLUTUAÇÃO DE TENSÃO (FLICKER)............................................... 91
4.10 ANÁLISE DO DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO ............................................................. 92
4.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 94
5.0 CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 95
6.0 TRABALHOS FUTUROS ......................................................................................................... 99
7.0 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 100
16
1. INTRODUÇÃO
17
Figura 1 - Capacidade instalada de produção de energia elétrica por categoria, na China
Fonte: [38]
18
Figura 2 - Média global de produção de energia, por tipo de geração
Fonte: [38]
À medida que a GD cresce em potência instalada, o setor elétrico passa por grande
mudança, no que tange à operacionalidade das redes de transmissão em baixa tensão. De modo
geral, a geração distribuída se caracteriza como uma forma de geração próxima ao ponto de
consumo e conectada ao sistema de distribuição [3]. Dessa forma, o conceito de unidade
consumidora sofre alteração, uma vez que anteriormente a UC atuava somente como
consumidor, agora passa a atuar como fonte geradora de energia elétrica. Ao tornar-se produtor
de energia elétrica, a unidade consumidora que utiliza GD injeta potência ativa na rede de baixa
tensão através do Ponto de Acoplamento Comum, estabelecendo eventuais cenários de fluxo
19
bidirecional de potência na rede de BT. A figura 3 ilustra a diferença entre redes com geração
centralizada e geração distribuída.
Fonte: [21]
20
O termo “qualidade da energia” deve ser conhecido por todos os setores envolvidos com
o consumo, transmissão e geração de energia elétrica, uma vez que abrange desde as áreas de
interesse de sistemas da energia elétrica até problemas de comunicação relacionados à
transmissão de dados [5]. Quando abordamos a questão de QEE, vários parâmetros de operação
da rede elétrica devem ser analisados. Entre todos parâmetros a serem considerados, destacam-
se: Harmônicos e Inter-Harmônicos, Ruído, Flutuação de Tensão, Variações de frequência e
Variações RMS.
As mudanças no sistema elétrico devido a conexão de GD possuem pontos positivos e
negativos, tanto para a concessionária quanto para o consumidor. Algumas vantagens técnicas
se dão pela redução de perdas técnicas ao longo das linhas de distribuição devido à diminuição
da potência demandada pelas cargas, capacidade de adequar o perfil de tensão da carga no PAC,
possibilidade de alimentação da carga que está diretamente conectada em casos de falta de
energia, e também a redução do impacto ambiental (quando emprega-se fontes renováveis nessa
modalidade de geração). Porém, há outro cenário que deve ser considerado, uma vez que a
conexão de geração distribuída na rede de baixa tensão pode existir fluxo reverso de potência,
causando distúrbios como a alteração do perfil de tensão da rede em regime permanente,
instabilidade de tensão e frequência, sobretensões, aumento de harmônicos, alteração das
correntes de curto circuito, os quais acabam por prejudicar a QEE.
Diante do exposto acima, a proposta do trabalho é analisar os impactos da geração
distribuída, especificamente a fotovoltaica, na rede de distribuição secundária de baixa tensão,
através de dados colhidos de um SFCR (Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede) presente no
IFG câmpus Itumbiara. Neste estudo, o objetivo principal é caracterizar e analisar tais impactos
atentando-se aos parâmetros indicadores de qualidade de energia.
21
2. ESTADO DA ARTE
22
O mercado de energia solar mostra-se cada vez mais promissor e produtivo não só no
Brasil como no mundo. Segundo [10], a energia solar é suficiente para atender milhares de
vezes o consumo mundial. Entretanto, essa radiação não atinge de maneira uniforme toda a
crosta terrestre, fato que faz com que alguns países possuam maior capacidade de geração de
energia solar fotovoltaica. A seguir, a figura 4 ilustra o índice de irradiação solar em todos
continentes do mundo.
Fonte: [39]
23
Figura 5 – Evolução da capacidade instalada no mundo.
Fonte: [3]
Figura 6 - Evolução no preço da relação Preço x Watt das células fotovoltaicas no mundo.
Fonte: [3]
Fonte: [34]
25
Figura 8 - Número de sistemas que utilizam geração distribuída fotovoltaica, por classe de consumo no Brasil.
Fonte: [3]
Figura 9 - Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica, por classe de consumo no Brasil.
Fonte: [3]
26
Figura 10 - Top 10 países com capacidade para instalação e capacidade total instalada em 2017
Fonte: [3]
Com tal cenário de constate expansão, em meados de 2018, o país atingiu a marca de
0,8% da matriz elétrica proveniente de energia solar, como ilustrado na figura 11. Esse número
contempla tanto mini e microgeração, quanto grandes usinas. Já com previsões globais, estima-
se que em 2050, 11% de toda energia produzida no mundo tenha cunho solar, segundo [12].
Tal crescimento é responsável por alavancar a geração de empregos de qualidade, atrair novos
investimentos privados, diversificar a matriz energética e desenvolver uma nova cadeia
produtiva no país.
Fonte: [3]
27
Enquanto o MME em 2014 estimou que em 2050, 11% de toda energia elétrica do
mundo será proveniente de fonte solar, a BNEF em 2016 estipulou que em 2040, 32% da Matriz
Elétrica Brasileira seja de energia solar fotovoltaica. Com isso, confrontando com o atual
cenário exposto na figura 11, a difusão do uso de sistemas fotovoltaicos para geração de energia
elétrica deverá ter comportamento exponencial para atingir a meta de 32%. A figura 12
apresenta a projeção da BNEF.
Fonte: [3]
28
Figura 13 - Portfólio de capacidade de produção das fontes renováveis no Brasil.
Fonte: [3]
29
Figura 14 - Linhas de Transmissão que compõe o SIN.
Fonte: [41]
30
Figura 15 - Redes elétricas empregadas no processo de GC.
Fonte: [9]
31
Figura 16 - Rede elétrica com geração distribuída.
Fonte: [9]
A Geração Distribuída, além de ser uma área chave para a sustentabilidade e geração de
energia limpa, causa um grande impacto em todo o sistema de transmissão e distribuição de
energia, uma vez que altera toda a concepção do sistema atual devido à consequente
diversificação da matriz elétrica do país. De fato, com o advento das novas tecnologias de
geração de energia de forma distribuída, as redes elétricas e de comunicação passarão a
interligar milhões de fontes de energia renovável estocásticas [37]. Diversos fatores, além dos
ambientais, impulsionam o crescimento no uso da GD, como os cinco fatores principais listados
pela Agencia Internacional de Energia em 2002:
Ainda que o conceito de geração distribuída esteja atrelado à expansão no uso de fontes
renováveis, a matriz elétrica brasileira possui grande dependência da energia provinda da
geração centralizada. Tal afirmação se dá pelo fato de que toda energia elétrica proveniente de
fonte hídrica, a qual compõe 60,9% da matriz elétrica do país, é gerada distante das unidades
consumidoras. A energia elétrica proveniente de importação, nuclear e fóssil também é gerada
distante das cargas consumidoras, intensificando tal dependência. A figura 17 ilustra a atual
situação da matriz energética brasileira.
32
Figura 17 - Matriz elétrica do Brasil.
Fonte: [23]
33
Atualmente, destaca-se como fonte de energia empregada na GD, a energia solar
fotovoltaica. O Brasil é um país que detém grande capacidade de geração, devido aos altos
índices de incidência solar. Tal crescimento no uso de tal tecnologia também se dá pelo fato de
que existem quedas nos preços com o passar dos anos, tornando mais acessível para população.
Além da diminuição nos preços, a evolução da tecnologia faz com que os sistemas de geração
distribuída sejam mais robustos, detendo maior nível de confiabilidade e durabilidade,
viabilizando ainda mais o investimento nesse segmento.
Fonte: [11]
34
2.4 VANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA
• A produção de energia pode ser feita utilizando espaço físico já ocupado e não
utilizados, uma vez que em grande maioria os sistemas são integrados à edificação.
• O sistema possui modularidade, ou seja, pode ser ampliado caso a carga da unidade
se amplie.
• Fonte limpa e renovável de energia, uma vez que utiliza uma fonte primária
inesgotável que está disponível em quase todos locais.
A GD pode ser tanto conectada à rede, como isolada, se diferenciando pelo fato de uma
se integrar ao sistema elétrico, e a outra operar sem interface com o sistema de distribuição ou
transmissão, respectivamente. Tal integração com o sistema garante maior quantidade de
35
potência disponível na rede elétrica, fato que torna a geração distribuída uma estratégia para
ajudar a suprir o constante aumento na demanda do país. Afim de expandir a instalação de
geração distribuída a partir de fontes renováveis instaladas em tensões de distribuição, países
adotaram mecanismos para incentivar tal prática, como:
36
perfil de consumo de uma instalação residencial e outra comercial, expondo também a curva
característica de geração FV, a qual atinge maiores valores em horários de sol a pico.
Fonte: [19]
O tipo de fonte da GD a ser aplicada, influencia diretamente nas alterações nos níveis
de curto-circuito. A energia eólica contribui consideravelmente para tal, uma vez que no
momento do curto-circuito ainda é injetado uma potência no sistema, proveniente da conversão
da energia cinética residual presente nas pás das turbinas. No caso do SFCR, a contribuição
com o nível de curto-circuito depende do modelo e tipo do inversor a ser utilizado, os quais em
grande maioria, não geram incremento de potência durante a falta devido à ação do MPPT –
Maximum Power Point Tracker. Além disso, os inversores são normalmente equipados com
relés de subtensão e sobrecorrente, visando identificar faltas e cessar sua contribuição com a
corrente de curto-circuito por meio da desconexão com a rede, reconectando-se de forma
automática após um período predeterminado [19].
37
Também vale ressaltar que com a conexão de GD, há uma alteração no perfil de tensão
do alimentador. Em sistemas de geração centralizada, geralmente a tensão é mais elevada
quanto mais próxima ao gerador, devido as perdas no processo de transmissão e distribuição,
conforme ilustrado na figura 20.
Fonte: [21]
Com a conexão de GD, parte da potência demandada pela carga é fornecida localmente,
de forma a diminuir a corrente requerida pela carga, e consequentemente, a queda de tensão.
Dessa forma, a GD atua de certa forma como regulador de tensão, uma vez que mantém os
níveis de tensão mais estáveis ao longo do alimentador. Porém, deve-se fazer uma ressalva,
quanto a existência de fluxo reverso na rede. Em ramais que possuem grande quantidade de
GD, em casos de períodos de pico de geração excederem o consumo demandado, ocorre o fluxo
reverso de potência, notando-se a elevação no PAC, conforme ilustrado na figura 21.
Fonte: [21]
38
Outro ponto de desvantagem em relação à GD é a criação de ilhamento não-intencional.
Ilhamento pode ser definido como a condição em que a rede de distribuição que possui tanto
carga quanto GD se mantenha energizada mesmo após o desligamento da rede elétrica. Para
prevenir o ilhamento não-intencional, os inversores de GD são dotados de um sistema de
monitoramento, podendo ser baseado em técnica ativa ou passiva, o qual possibilita a sua
desconexão da rede de distribuição quando for constatada a ausência da referência da tensão no
alimentador, fornecida pela geração base [21]. Alguns dos principais danos físicos ligados ao
ilhamento não-intencional são risco de vida para funcionários durante manutenções na rede,
possibilidade de danos físicos em equipamentos e a interferência no restabelecimento da rede
elétrica pela concessionária.
Em relação à QEE, existem vários parâmetros que devem ser observados e respeitados.
Todos os valores de referência para tais parâmetros a serem monitorados, e seus respectivos
limites, nos sistemas de GD, estão estabelecidos na Seção 8.1 do Módulo 8 do PRODIST. A
Nota Técnica n° 0043/2010–SRD/ANEEL de 08/09/2010 lista algumas desvantagens
associadas ao aumento da quantidade de pequenos geradores espalhados na rede de distribuição,
pontuando:
Fonte: [9]
40
do País, proveniente dos 198 empreendimentos atualmente em construção e mais 403 em
empreendimentos com construção não iniciada [23].
A energia fotovoltaica se caracteriza como um gerador que utiliza o sol como fonte
primária de energia, podendo operar em sistema não conectado à rede (OFF-GRID) ou
conectado com a rede (SFCR). Os módulos fotovoltaicos são os equipamentos responsável por
captar a irradiância solar e converter em energia elétrica. Cada módulo é composto por células
fotovoltaicas, compostas de material semicondutor, conforme exposto na figura 23.
Fonte: [32]
Após a geração da energia elétrica nos módulos, em corrente contínua, a energia passa
pelo inversor, o qual converte essa energia para corrente alternada e cria uma diferença angular
entre vetores de tensão do inversor e da rede, criando um fluxo de potência no sentido do ângulo
de maior valor para menor, possibilitando a injeção de potência no sistema elétrico. Dessa
forma, caso a relação Geração/Consumo da unidade seja maior que 1, ou seja, existe mais
potência sendo gerada do que consumida, haverá injeção de potência ativa na rede, surgindo
fluxo reverso de potência na rede, conforme ilustrado na figura 24.
Fonte: [21]
41
Nesta configuração de sistema ilustrada, e a qual é abordada pelo presente trabalho, não
se faz uso de baterias, uma vez que o fornecimento de energia elétrica é feito pela rede quando
o SFCR não é suficiente para tal, como no período noturno. É muito importante salientar que
quando há falha no fornecimento da rede, o inversor deve ser capaz de identificar tal falta e
desligar o fornecimento proveniente do SFCR, mesmo que este seja capaz de suprir a carga por
si só. Tal função é exigida para garantir a segurança de funcionários que estejam fazendo
intervenções na rede, evitar a reenergização de dispositivos isolados da rede pela ação dos
dispositivos de segurança e até mesmo para proteger a integridade do sistema FV. Em casos
que se deseja utilizar a potência gerada pelo sistema
FV mesmo durante falhas na rede, deve ser instalado um segundo inversor fotovoltaico capaz
de operar de maneira isolada, ou um inversor capaz de trabalhar com ou sem falta, porém
sempre assegurando que o SFCR desconecte imediatamente da rede em caso de falhas.
Fonte: [21]
42
No caso da microgeração distribuída, o medidor bidirecional deve ser capaz de
diferenciar a energia elétrica ativa consumida da rede da energia elétrica ativa injetada na rede
pelo sistema da GD. Já para os sistemas de minigeração distribuída, deverá ser utilizado
medidor de quatro quadrantes que, os quais possibilitam a medição e faturamento de excedente
reativos, além dos recursos exigidos para o medidor utilizado na microgeração.
2.7 LEGISLAÇÃO
Os prazos para a liberação do parecer de acesso são variáveis de acordo com a classe de
geração a ser instalada. Caso não haja pendências em documentação, para microgeração
distribuída, o prazo é de até 15 dias após o recebimento da solicitação contendo todas
informações, ou 30 dias quando houver necessidade de realizar obra de melhoria. Para
minigeração distribuída, o prazo é de até 30 dias após o recebimento da solicitação contendo
44
todas informações ou 60 dias quando houver necessidade de realizar obra de melhoria. Em caso
de deficiência de informações, esses prazos podem se estender.
Potência Instalada
Maior que Maior que 500
Equipamento
Menor ou 75kW e menor kW e menor
igual a 75 kW ou igual a 500 ou igual a 5
kW MW
Elemento de
Sim Sim Sim
desconexão (1)
Elemento de
Sim Sim Sim
interrupção (2)
Transformador de
Não Sim Sim
acoplamento (3)
Proteção de sub e
Sim (4) Sim (4) Sim
sobretensão
Proteção de sub e
Sim (4) Sim (4) Sim
sobrefrequência
Proteção contra
desequilíbrio de Não Não Sim
corrente
45
Proteção contra
Não Não Sim
desbalanço de tensão
Sobrecorrente
Não Sim Sim
direcional
Sobrecorrente com
Não Não Sim
restrição de tensão
46
Tabela 2 - Níveis de tensão considerados para conexão de centrais geradoras.
Para casos de conexão com a rede elétrica, o sistema de compensação de energia elétrica
é o procedimento pelo qual o excedente de potência ativa produzido pela GD será compensado.
É possível realizar a comercialização do excedente de potência produzido e não utilizado pela
unidade consumidora. Vale ressaltar que para fins de compensação, a energia ativa injetada no
sistema de distribuição pela UC será comercializada como forma de empréstimo gratuito para
a distribuidora, de forma que a UC passe a ter um crédito proporcional em quantidade de energia
ativa a ser consumida por um prazo de 60 meses, e não em forma de pagamento monetário. Os
créditos poderão ser utilizados para abonar os gastos com energia elétrica de outra unidade
consumidora, mesmo que possuam diferentes titularidades, conforme exposto pela RN nº 687
de 2015. Essa diversidade no arranjo do negócio em que a GD pode ser empregada aumenta o
uso da tecnologia, facilitando a difusão da modalidade de geração. Atualmente, emprega-se
várias formas de arranjo de mercado no uso de GD, sendo elas:
47
minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras nas quais a
energia excedente será compensada. Cabe ao titular da unidade geradora definir a
porcentagem destinada a cada unidade consumidora que receberá a compensação.
Em caso de crédito remanescente, o mesmo será faturado para UC de destino.
Figura 26 – Esquema de ligação definido para unidades com transformadores de potência superior a 300 kVA
48
Fonte: [27]
49
2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a difusão do uso de energia fotovoltaica ainda está iniciando no país,
devido à baixa participação na matriz elétrica. Porém, devido à diminuição nos custos de
implantação, contínua preocupação com o desenvolvimento sustentável e facilidades
provenientes dos modelos de negócios, é evidente o crescimento futuro no uso dos SFCR.
Também se nota que é necessário empenhar esforços, afim de aplicar conceitos de engenharia
na nova topologia de rede a partir da conexão de SFCR, afim de dirimir as barreiras técnicas
para uso desta tecnologia. A partir do conhecimento das vantagens e desvantagens, requisitos
mínimos para instalação e fluxo normativo para implantação, é possível mensurar os esforços
necessários para fazer uso da tecnologia, melhorando o planejamento necessário para adotar a
tecnologia de geração em questão.
50
3.0 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA
51
principais distúrbios eletromagnéticos de acordo com suas características, apresentados na
tabela 3 a seguir.
Variações de tensão de
curta duração
Instantânea
Afundamento - 0,5 - 30 ciclos 0,1 - 0,9 pu
Elevação - 0,5 - 30 ciclos 1,1 - 1,8 pu
Momentânea
Interrupção - 0,5 - 3 s < 0,1 pu
Afundamento - 30 ciclos - 3 s 0,1 - 0,9 pu
Elevação - 30 ciclos - 3 s 1,1 - 1,4 pu
Temporária
Interrupção - 3 s - 1 min < 0,1 pu
Afundamento - 3 s - 1 min 0,1 - 0,9 pu
Elevação - 3 s - 1 min 1,1 - 1,2 pu
Variações de tensão de
longa duração
Interrupção sustentada - > 1 min 0 pu
Subtensão sustentada - > 1 min 0,8 - 0,9 pu
Sobretensão sustentada - > 1 min 1,1 - 1,2 pu
Desequilíbrios
Tensão - Regime permanente 0,5 - 2%
52
Corrente - Regime permanente 1 - 30%
Distorção da forma de
onda
Nível CC - Regime permanente 0 - 0,1%
Harmônicos 0 - 150⁰ ordem H Regime permanente 0 - 20%
Inter-Harmônicos 0 - 150⁰ ordem H Regime permanente 0 - 2%
Notching - Regime permanente
Ruído Faixa ampla Regime permanente 0 - 1%
Fonte: [14]
Fonte: [21]
53
A seguir serão expostos e descritos alguns parâmetros indicadores de qualidade de
energia elétrica. Vale ressaltar que, no presente trabalho, serão analisados os parâmetros de
níveis de tensão em regime permanente, desequilíbrio de tensão, distorção harmônica e
flutuação de tensão.
3.1.1 TRANSITÓRIOS
54
um problema grave de qualidade de energia elétrica, uma vez que pode afetar significativamente
o funcionamento dos equipamentos nela conectados. Salienta-se que, esse problema atinge
principalmente sistemas de distribuição de baixa tensão. A principal causa de desequilíbrio nas
correntes, e consequentemente, nas tensões é o desequilíbrio na distribuição de cargas
monofásicas. Logo, a realização de um estudo de distribuição de cargas, considerando os
chaveamentos dessas cargas ao longo do dia e futura carga de expansão, é uma forma de atenuar
tal problema.
Outra fonte de desequilíbrios são as linhas aéreas, as quais devido à alocação geométrica
dos condutores ao longo da linha, as capacitâncias intrínsecas entre condutores de fases distintas
não são iguais. Assim, ocasiona quedas de tensões diferentes em cada fase, uma vez que cada
uma tem diferentes parâmetros. Uma forma de atenuar essa problemática é a transposição das
fases.
Para a regulação dos níveis de desequilíbrio de tensão da rede, existem normas que
estabelecem limites permitidos. Normas internacionais como a EN-50160 ou IEC 61000-3-x
estabelecem o limite de 1% para alta tensão e 2% para baixa tensão. No Brasil, a norma em
vigor, PRODIST módulo 8, determina que, o valor de referência nos barramentos do sistema
de distribuição, exceto em baixa tensão, deve ser igual ou menor a 2%, enquanto em baixa
tensão o valor é de 3%. A tabela 4 expõe os limites para o fator de desequilíbrio de tensão que
foi superado em apenas 5% das 1008 leituras válidas (FD95%). Vale ressaltar que, os limites
correspondem ao máximo valor desejável a ser observado no sistema de distribuição.
Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1kV 1 kV ˂ Vn ˂ 230 kV
FD95% 3,00% 2,00%
Fonte: [31]
55
Para caracterizar o nível de desequilíbrio de tensão, o PRODIST módulo 8 prioriza a
utilização do método das componentes simétricas. Nesse método, o valor é obtido através da
relação entre os módulos da tensão de sequência negativa e sequência positiva. Logo abaixo, a
tabela 5 apresenta a terminologia aplicada para cálculo do desequilíbrio de tensão.
− 𝑉
𝐹𝐷% = 𝑉+ . 100 (1)
De acordo com equação (1), quanto maior a presença da tensão de sequência negativa,
maior o valor do desequilíbrio de tensão. Sendo assim, como consequência, a circulação da
componente negativa de tensão em sistema elétrico de potência acarreta aumento nas perdas de
energia, maior aquecimento de equipamentos elétricos, diminuição de transmissão de energia
pela componente de sequência positiva e também afeta na operação de motores de indução.
Segundo [14], as variações RMS de curta duração são caracterizadas por afundamentos
e elevações, ou até mesmo pela total ausência de tensão por um período de tempo inferior a 1
minuto. Tais variações podem ocorrer sendo afundamento, elevação ou interrupção da tensão,
caracterizados cada um de forma diferente.
56
Já a elevação de tensão é caracterizada pelo aumento da tensão superior a 10% em
relação a tensão base do sistema, com duração entre 0,5 ciclo até 1 minuto. Geralmente, as
elevações de tensão são causadas pela conexão de bancos de capacitores e desconexão de
grandes cargas. A figura 4 apresenta uma elevação de tensão.
Por fim, a interrupção é caracterizada pela redução da tensão para valores abaixo de
10% da tensão base do sistema, com duração de até 1 minuto. Normalmente, as interrupções
são causadas por faltas na rede e falhas em equipamentos. A figura 4 ilustra uma interrupção
de tensão.
Segundo [14], as variações RMS de longa duração são caracterizadas por sobre/sub
tensões ou até mesmo pela total interrupção de tensão, por um período superior a 1 minuto.
3.5 HARMÔNICOS
57
Figura 28 – Oscilograma com componente fundamental e harmônicos
Fonte: [40]
Fonte: [21]
58
Em relação aos harmônicos par, uma vez que o semiciclo positivo tem simetria com o
semiciclo negativo das ondas de corrente e tensão, eles se cancelam. Essa afirmação somente é
aplicável em cenários que é considerado ondas perfeitamente simétricas, no caso de fins
didáticos. Na prática, devido à falta de total simetria das ondas, ao realizar análises, consegue-
se observar a presença de componentes pares.
A norma IEC 6100-3-2 define limites de geração de harmônicos para cargas que
solicitam até 16 A de corrente em baixa tensão, com alimentação maior ou igual a 220 V. Já a
norma IEC 6100-3-4 abrange equipamentos que solicitam mais de 16 A. Outra regulação sobre
harmônicos é a IEE 519-2014, a qual é utilizada para controle de harmônicos no ponto de
acoplamento entre concessionária e indústria. Essa norma tem objetivo de regulamentar os
níveis de harmônicos que a rede elétrica recebe, não se preocupando com o que ocorre no
interior das edificações/instalações.
59
Tabela 6 – Terminologia para cálculo de harmônicos
Fonte: [31]
𝑉ℎ
𝐷𝐼𝑇ℎ % = . 100 (2)
𝑉1
Em que:
• DTTp: Distorção harmônica total de tensão para componentes pares não múltiplas de
3;
• DTTi: Distorção harmônica total de tensão para componentes ímpares não múltiplas
de 3;
• DTT3: Distorção harmônica total de tensão para as componentes múltiplas de 3.
√∑ℎ𝑝 𝑉ℎ2
ℎ=2
𝐷𝑇𝑇𝑝 % = . 100 (3)
𝑉1
Em que:
√∑ℎ𝑖 2
ℎ=5 𝑉ℎ
𝐷𝑇𝑇𝑖 % = . 100 (4)
𝑉1
Em que:
61
A equação 5 a seguir apresenta a formulação para cálculo da Distorção harmônica total
de tensão para as componentes múltiplas de 3.
√∑ℎ3 2
ℎ=3 𝑉ℎ
𝐷𝑇𝑇3 % = . 100 (5)
𝑉1
Em que:
Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1kV 1 kV ˂ Vn ˂ 69 kV 69 kV ≤ Vn ˂ 69 kV
DTT95% 10,0% 8,0% 5,0%
DTTp95% 2,5% 2,0% 1,0%
DTTi95% 7,5% 6,0% 4,0%
DTT(3)95% 6,5% 5,0% 3,0%
Fonte: [31]
62
Figura 30 – Flutuação de tensão
Fonte: [40]
63
Tabela 8 - Terminologia
Fonte: [31]
Fonte: [31]
64
O PRODIST – Módulo 8, é responsável por regulamentar os limites a serem utilizados
para avaliação do desempenho do sistema de distribuição, quanto às flutuações de tensão. A
tabela 9 ilustra esses limites.
Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1kV 1kV ˂ Vn ˂ 230kV 69kV ≤ Vn ˂ 230kV
Pst95% 1,0 pu 1,5 pu 2,0 pu
Fonte: [31]
Como as análises serão feitas a partir das leituras coletadas pelo Analisador de Energia,
dispensa-se o uso do equacionamento apresentado acima. Isso se dá pelo fato de o equipamento
ser capaz de fornecer a leitura direta dos índices de Pst.
65
Com a presença de GD, alguns parâmetros da rede são afetados, como fluxo de potência
devido à existência de fluxo bidirecional de potência, perfil de perdas elétricas e o perfil da
tensão da rede. A operação dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede resulta no
comprometimento da qualidade da energia elétrica, em especial a elevação de tensão em níveis
acima do permitido [17]. Quando a potência gerada ultrapassa a potência demandada pela carga,
o excedente é injetado na rede de distribuição causando elevação de tensão no ponto de
acoplamento comum [18].
Os níveis de tensão são analisados a partir da comparação entre o valor de tensão obtido
por meio de medição correta realizada no Ponto de Acoplamento Comum (PAC) e os níveis de
tensão especificados como adequados, precários e críticos, conforme exposto no item 2 -
Módulo 8 do PRODIST. Os níveis de tensão devem estar em conformidade com o que está
exposto pela legislação em todo sistema. A ocorrência de valores adequados, precários e críticos
é verificada a partir dos valores dos índices DRP (Duração relativa de transgressão de tensão
precária) e DRC (Duração relativa de transgressão de tensão crítica). Tais índices são calculados
a partir das equações 6 e 7 a seguir, respectivamente.
𝑛𝑙𝑝
𝐷𝑅𝑃 = 1008 . 100% (6)
𝑛𝑙𝑐
𝐷𝑅𝐶 = 1008 . 100% (7)
em que nlp e nlc representam o maior valor entre as fases do número de leituras situadas
nas faixas precária e crítica, respectivamente. O limite para DRP é 3%, enquanto para DRC é
de 0,5%.
Para a rede de distribuição primária em que o IFG está conectado (13,8 kV), os limites
de tensão e variações permitidas estão expostos na tabela 10, enquanto para rede de distribuição
secundária (380v para tensão fase-fase, 220v para tensão fase-neutro), estão apresentados na
tabela 11 e 12. Vale ressaltar que adotamos a Tensão de Referência (TR) igual à tensão nominal
da rede em questão.
66
Tabela 10 - Faixa de variação de tensão
67
4.0 RESULTADOS
Neste capítulo são apresentados os resultados coletados a partir das medições e dados
técnicos da instalação analisada. A coleta de dados foi feita utilizando o Analisador portátil da
qualidade da energia elétrica - PowerNET PQ-700 G4, fabricado pela IMS Power Quality. O
equipamento estava em conformidade com as normas IEC 61000-4-30 (classe S), IEC 61000-
4-7 e IEC 61000-4-15. Vale ressaltar que todos os resultados apresentados estão em
conformidade com os métodos de medição apontados em [31], afim de garantir maior
assertividade na caracterização dos dados.
Os sistemas fotovoltaicos instalados no IFG possuem uma potência total de 70,2 kWp
de módulos FV’s e estão no telhado dos blocos 300, 400, 500 todos com potência de 21,6 kWp
e no solo com 5,4 kWp. A tabela 13 ilustra as características técnicas de potência do SFCR
avaliado neste trabalho, enquanto a figura 32 mostra a distribuição física deste sistema FV do
IFG.
N⁰ MÓDULOS POTÊNCIA
BLOCO TOTAL kWp INVERSOR kWp
FV MÓDULO (Wp)
300 80 270 21,6 20
400 80 270 21,6 20
500 80 270 21,6 20
SOLO 20 270 5,4 5
68
Figura 32 - Vista área dos sistemas fotovoltaicos instalados no IFG – Itumbiara.
69
Figura 33 - Radiação solar medida no IFG – campus Itumbiara
70
O aumento de temperatura ambiente provoca um aumento de temperatura nas células
fotovoltaicas gerando assim uma queda de tensão. A corrente sofre um leve aumento em altas
temperaturas, porém não compensa em potência, as perdas causadas pela queda de tensão [22].
71
Para coleta de dados, foram seguidos todos os procedimentos de medição conforme
exposto no Módulo 8 – PRODIST, de acordo com cada parâmetro a ser analisado. O
equipamento foi conectado ao secundário do transformador do IFG, conforme método exposto
no manual do fabricante, ilustrado na figura 35.
Figura 35 - Esquema de ligação utilizado para conectar o analisador da qualidade de energia elétrica
Fonte: [33]
Para análise dos impactos do SFCR ao perfil de potência da instalação, foi modelada
nova curva de carga, ilustrada na figura 65, considerando a demanda da instalação e a potência
gerada pelo sistema FV. Para tal análise, considera-se o fluxo reverso de potência ativa, gerado
em momentos em que a geração supera o consumo. Entretanto, neste caso, considera-se como
referência o QGBT do prédio. A potência reativa consumida não sofre alterações com a inserção
do sistema FV, uma vez que este opera com fator de potência unitário.
72
Figura 65 – Perfil da potência ativa por fase - dia 20/06
10.000
5.000
0
00:00:00
00:50:00
01:40:00
02:30:00
03:20:00
04:10:00
05:00:00
05:50:00
06:40:00
07:30:00
08:20:00
09:10:00
10:00:00
10:50:00
11:40:00
12:30:00
13:20:00
14:10:00
15:00:00
15:50:00
16:40:00
17:30:00
18:20:00
19:10:00
20:00:00
20:50:00
21:40:00
22:30:00
23:20:00
-5.000
-10.000
-15.000
O fluxo reverso de potência ativa ocorre quando a potência atinge valores negativos.
Com análise da figura 65, pode-se notar que a potência ativa injetada na rede atingiu maiores
valores no período de sol a pico, ou seja, com maior incidência solar. Nos períodos em que não
há incidência solar os níveis de potência ativa voltam a assumir valores positivos, apontando
que há o sistema está consumindo potência da rede de distribuição. Também se verifica que na
fase C possuem maior quantidade de cargas alimentadas, devido ao menor patamar de potência
injetada na rede. Quanto maior a quantidade de potência injetada na rede, menor é a quantidade
de carga ligada à determinada fase.
73
-7000
-2000
13000
18000
23000
28000
3000
8000
-17000
-12000
00:00:00
3000
8000
13000
18000
23000
28000
-17000
-12000
-7000
-2000
00:30:00
00:00:00 01:00:00
00:40:00 01:30:00
01:20:00 02:00:00
02:30:00
02:00:00 03:00:00
02:40:00 03:30:00
03:20:00 04:00:00
04:30:00
04:00:00
05:00:00
04:40:00 05:30:00
05:20:00 06:00:00
06:00:00 06:30:00
07:00:00
06:40:00 07:30:00
07:20:00 08:00:00
08:00:00 08:30:00
09:00:00
08:40:00
09:30:00
09:20:00 10:00:00
10:00:00 10:30:00
21:20:00 21:30:00
22:30:00
22:40:00
Figura 66 – Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Quinta-feira
23:00:00
23:20:00 23:30:00
74
Se comparado o perfil de potência das figuras 66 e 67, nota-se que a demanda de carga
com o sistema FV desligado é muito maior na quinta-feira, dia em que a instituição está com
grande parte das cargas ligadas, enquanto no domingo o patamar de demanda chega à 1/3 em
relação à quinta-feira. Também se percebe o fluxo reverso de potência ativa, a qual está sendo
injetada na rede de distribuição, durante o período de alta geração, aproximadamente entre as
7:00h às 18:00h.
De acordo com os dados coletados, os valores mínimos (figura 36) para tensão de linha
durante o período de medição, estão adequados de acordo com a tabela 11 em 3.7. Já em relação
aos valores máximos (figura 37), as tensões Ubc e Uca ultrapassaram em 0,54 volts e 0,11 volts,
75
respectivamente, o nível de tensão adequada, caracterizando a leitura como tensões críticas,
considerando a tabela 11.
Já em relação aos valores mínimos e máximos para tensão fase-neutro, estão expostos
nas figuras 38 e 39, respectivamente.
Em relação aos índices DRP e DRC, as tensões fase-neutro das fases A e B atingiram 9
vezes o nível crítica de classificação, devido às ocorrências de afundamento conforme descrito
acima. Não houveram registros na zona precária de classificação, logo DRP com valor igual a
zero. Já o índice DRC extrapolou o limite proposto pelo módulo 8 do PRODIST. A figura 40
expõe o valor dos índices.
76
Figura 40 – Indicadores DRP e DRC
A conexão do sistema fotovoltaico não impactou no nível de DRC, uma vez que pelos
horários de registros das tensões elevadas, o sistema FV estava com baixa produção, sem a
presença de fluxo reverso de potência na rede. Porém, a demanda no momento dos registros,
devido perfil de consumo da instituição, alcançou baixos valores, aumentando o perfil de tensão
da rede de distribuição. Já em relação aos afundamentos, a falta de energia na concessionária
foi a responsável por tais distúrbios.
77
Figura 41 - Histograma das tensões durante período de medição
78
Conforme exposto em 3.7, a conexão de GD na rede de distribuição acarreta aumento
na tensão no PAC com a rede. A figura 43 ilustra o comparativo da tensão na fase A, alternando
em um mesmo dia da semana a conexão e desconexão do SFCR, na tentativa de fazer a
comparação com o sistema no mesmo cenário de cargas. A tensão na fase A quando há conexão
com o sistema FV é nitidamente maior, se comparada com o cenário sem conexão do sistema
FV, durante períodos em que há incidência solar.
Com a análise da figura 43 também pode-se notar que, no período próximo ao fim da
geração, em torno das 18:00h, no dia 27/06 a tensão na fase demonstrou-se superior à do dia
20/06, conforme curvas de potência absorvida da rede, já considerando sistema o SFCR,
ilustradas nas figuras 44 e 45.
79
5.000
15.000
25.000
35.000
45.000
55.000
65.000
75.000
-5.000
5.000
15.000
25.000
35.000
45.000
55.000
65.000
75.000
-5.000
00:00:00 00:00:00
00:45:00 00:45:00
01:30:00 01:30:00
02:15:00 02:15:00
03:00:00 03:00:00
03:45:00 03:45:00
04:30:00 04:30:00
05:15:00 05:15:00
06:00:00 06:00:00
06:45:00 06:45:00
07:30:00 07:30:00
08:15:00 08:15:00
09:00:00 09:00:00
09:45:00 09:45:00
10:30:00 10:30:00
11:15:00 11:15:00
12:00:00 12:00:00
12:45:00 12:45:00
13:30:00 13:30:00
Fonte: Autoria própria
18:45:00 18:45:00
19:30:00 19:30:00
20:15:00 20:15:00
21:00:00 21:00:00
21:45:00 21:45:00
22:30:00 22:30:00
23:15:00 23:15:00
80
4.7 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS DE TENSÃO
Verifica-se que foram identificados um total de 5 variações, sendo três ocorrências AMT
(Afundamento momentâneo de tensão) e duas ATT (Afundamento temporário de tensão). A
classificação das ocorrências em momentâneas, temporárias ou interrupções é baseada nas
durações, de acordo com o exposto na tabela 3.
Vale ressaltar que eventos temporários são de maior duração do que eventos
momentâneos, conforme definição na tabela 3. Para análise da magnitude da tensão durante os
distúrbios, 220 volts é o valor de referência para 1 p.u.. O caso mais crítico ocorreu na fase B,
alcançando 98,51 volts durante 5,4 segundos. Conforme avaliação da imagem acima, observa-
se que no dia 24/06/2019 ocorreram, simultaneamente, variações de mesma classificação em
fases distintas.
81
A curva de vulnerabilidade de equipamentos (ITIC) demonstra os limites de tolerância
de tensão de equipamentos eletrônicos. As regiões do gráfico indicam:
Com isso, a partir da análise desta curva, exposta na figura 48, as fases A e B atingiram
a região cinza do gráfico por um período de aproximadamente 10 segundos, ocasionando o
desligamento no fornecimento da energia elétrica pela concessionaria.
Figura 48 - ITIC
Durante o período de medição, ocorreu uma falta de energia, a qual foi registrada pelo
analisador de energia, conforme exposto na figura 49. A partir da análise da figura 50, a qual
ilustra o comportamento da tensão durante a falta de energia, o equipamento registrou neste
momento um comportamento atípico da tensão, se comparando as magnitudes por fase.
82
Figura 49 - Registro de falta de energia
84
Figura 52 – Indicadores totais de distorção harmônica
85
Figura 54 – Perfil de corrente trifásico dia 23/06
86
0
100
200
300
400
500
600
700
800
00:00:00
00:45:00
01:30:00
02:15:00
03:00:00
03:45:00
04:30:00
05:15:00
06:00:00
06:45:00
07:30:00
08:15:00
09:00:00
09:45:00
10:30:00
11:15:00
12:00:00
12:45:00
13:30:00
21:45:00
22:30:00
23:15:00
87
Com análise da figura 57, pode-se verificar que o perfil da corrente RMS injetada pelo
inversor sofreu distúrbios nas três fases, devido ao fenômeno de sombreamento, caracterizada
pela queda brusca na potência entregue pelo inversor.
O comportamento do DITh do dia 23 de junho é ilustrado na figura 58. Com isso, pode-
se observar que durante a queda na potência fornecida pelo inversor, evidenciada pelo
comportamento do perfil de corrente (figura 57), que houve aumento no DITh do sistema.
88
Figura 58 – Comportamento do DITh dia 23/06
90
Figura 62 - Comportamento do DITh dia 19/06
91
Analisando os indicadores acima nota-se que o Pst95% (severidade de curta duração)
não foi superado nenhuma vez, em 5% do total de 1008 leituras, considerando o limite de 1
p.u.. A última revisão do módulo 8 do PRODIST não regulamenta os valores de Plt.
92
Figura 68 – FD95% para dia 19/06
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
16:15:00
22:05:00
14:10:00
14:35:00
15:00:00
15:25:00
15:50:00
16:40:00
17:05:00
17:30:00
17:55:00
18:20:00
18:45:00
19:10:00
19:35:00
20:00:00
20:25:00
20:50:00
21:15:00
21:40:00
22:30:00
22:55:00
23:20:00
23:45:00
Fonte: Autoria própria
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
00:00:00
01:00:00
02:00:00
03:00:00
04:00:00
05:00:00
06:00:00
07:00:00
08:00:00
09:00:00
10:00:00
11:05:00
12:05:00
13:05:00
14:05:00
15:05:00
16:05:00
17:05:00
18:05:00
19:05:00
20:05:00
21:05:00
22:05:00
23:05:00
A partir da análise dos gráficos, pode-se concluir que apenas no dia 24/06 o nível de
FD95% extrapolou o limite regulamentado pela norma, alcançando o patamar de
aproximadamente 120%. Vale ressaltar que esta data é a mesma em que ocorreu a falta de
energia, exposta na figura 49. O período em que este indicador atingiu valores muito acima do
permitido, coincide com o período em que foram registrados os distúrbios de afundamento de
tensão, expostos na figura 47. Portanto, o efeito dos afundamentos de tensão e falta de energia
afetaram diretamente no indicador de desequilíbrio de tensão.
93
4.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
94
5.0 CONCLUSÃO
O pensamento que as fontes de energia renováveis devem ter seu uso priorizado e
intensificado na participação da matriz elétrica, tanto por motivos econômicos, devido à
redução no preço das faturas, quanto por questões ambientais, por serem fontes inesgotáveis,
com baixo impacto ambiental, maior facilidade e rapidez de instalação, uma vez que, em grande
maioria, são incorporadas à estruturas já existentes.
95
Tabela 14 – Resumo das conclusões sobre tensão em regime permanente
TENSÃO EM REGIME
PERMANENTE
REGISTROS PONTUAIS
LIGEIRAMENTE ACIMA DO
LIMITE SUPERIOR
HARMÔNICOS DE
TENSÃO
EM CONFORMIDADE COM
A NORMA, DEVIDO
OCORRÊNCIAS ACIMA DO
LIMITE NÃO
EXTRAPOLAREM O TOTAL
DE 5% DAS AMOSTRAS
96
Tabela 16 – Resumo das conclusões sobre as curvas de carga
CURVAS DE CARGA
HARMÔNICOS
DE CORRENTE
AUMENTO DO
DITh EM
PERÍODOS DE
BAIXA GERAÇÃO
97
Tabela 18 - Resumo das conclusões sobre desequilíbrio de tensão
DESEQUILÍBRIO DE
TENSÃO
OS REGISTROS ESTÃO
TODOS ABAIXO DE 1%,
EXCETO NO DIA E
PERÍODO DE REGISTRO DA
FALTA DE ENERGIA, EM
QUE ATINGIU
APROXIMADAMENTE 120%
Por fim, é notório que os benefícios que justificam o uso e investimento desta tecnologia
superam os pontos negativos que podem trazer ao sistema elétrico. Portanto, considerando que
as análises foram feitas em um SFCR em operação, sujeito a intempéries e flutuações variáveis,
a operação deste sistema em potência nominal não prejudica a QEE da instalação, fornecendo
energia elétrica dentro dos padrões de qualidade que regem as normas.
98
6.0 TRABALHOS FUTUROS
O presente trabalho direcionou esforços para alguns parâmetros específicos de QEE.
Recomenda-se trabalhos futuros que utilizem o mesmo método de medição no mesmo sistema,
afim de analisar os demais parâmetros expostos pelo Módulo 8 – PRODIST. Afim de
acompanhar a evolução na instalação da potência total do SFCR do IFG e o impacto na QEE
do sistema, pode-se realizar trabalhos que levam em consideração os mesmos parâmetros de
QEE abordados neste trabalho, porém com maior potência instalada. Devido ao grande impacto
que o sombreamento causa no perfil da corrente, cabe a análise qualitativa destas variações,
considerando os impactos na estabilidade do sistema da instalação.
99
7.0 REFERÊNCIAS
[1] HINRICHS, R. A., & KLEINBACH, M. (2012). Energia e Meio ambiente (4ª ed.). (L. B.
Reis, Trad.) São Paulo: CENGAGE Learning.
[2] Economia da China – Santander Trade Portal. Disponível
em:<https://pt.portal.santandertrade.com/analise-os-mercados/china/economia>. Acessado em:
10/02/2018.
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[43] CASA CIVIL. DECRETO Nº 5.163 DE 30 DE JULHO DE 2004: Regulamenta a
comercialização de energia elétrica, o processo de outorga de concessões e de autorizações de
geração de energia elétrica, e dá outras providências. . 1 ed. Casa Civil, 2004.
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