Você está na página 1de 104

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA EM


UM SISTEMA FOTOVOLTAICO CONECTADO A REDE

ALUNO: Caio Franco Borges


ORIENTADOR: Prof. Dr. Olívio Carlos Nascimento Souto

ITUMBIARA
2019
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS
CÂMPUS ITUMBIARA – BACHARELADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

Caio Franco Borges

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA EM UM SISTEMA


FOTOVOLTAICO CONECTADO A REDE

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás – IFG – Campus
Itumbiara, para obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Elétrica.

ITUMBIARA
2019

2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B732a
Borges, Caio Franco
Análise da qualidade da energia elétrica em um sistema fotovoltaico
conectado a rede. / Caio Franco Borges. -- 2019.
103 f. : il.
Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Elétrica) -
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Câmpus
Itumbiara, 2019.
Orientador: Prof. Dr. Olívio Carlos Nascimento Souto

1. Energia solar. 2. Geração de energia fotovoltaica. 3. Energia elétrica -


produção. I. Título. II. Souto, Olívio Carlos Nascimento.

CDD: 621.47

Bibliotecário: Eduardo Pereira Resende CRB/1-3266

4
3
AGRADECIMENTOS

Este trabalho representa o final de um ciclo extremamente importante em minha vida,


tanto profissional quanto pessoal. Com todo final de ciclo chegam novas oportunidades, novos
desafios, novas dificuldades e novas conquistas! Para que eu conseguisse chegar até o fim da
faculdade e finalizar este trabalho, existiram várias pessoas que contribuíram direta e
indiretamente, para que tivesse sucesso no objetivo de me graduar em engenharia elétrica. Sobre
isso só resta um sentimento: Gratidão!

Em primeiro lugar, agradeço a Deus e Nossa Senhora Aparecida por me sustentar nos
bons e maus momentos, me guiando por caminhos do bem e livrando de coisas ruins. Em
seguida, não há dúvidas de quem devo agradecer... minha família! Meu pai, Ézio, minha mãe,
Patrícia, e minhas irmãs, Clara e Camila, que sempre me apoiaram em minhas decisões, me
instruíram para que seguisse pelos melhores caminhos, e que mesmo longe, me fizeram sentir
amado a todo momento. Esse sentimento foi o que me deu forças para continuar lutando frente
a todas diversidades que existiram.

Em seguida, agradeço ao IFG, todos meus professores, em especial meu orientador


Olivão, e ao Núcleo de Pesquisa NUPSOL que me proporcionaram oportunidades de
desenvolvimento durante o curso. Não poderia deixar de citar meus colegas de graduação, que
juntos formamos uma equipe em que todos se ajudavam, e também alguns que se tornaram
muito mais do que colegas, e sim amigos para longas datas.

A todos, muito obrigado, que todas as coisas boas que me proporcionaram lhes sejam
retribuídas milhares e milhares de vezes!

5
RESUMO

As profundas mudanças que os sistemas de distribuição de energia elétrica vêm


experimentando, devido ao crescimento no emprego de unidades de Geração Distribuída, têm
resultado na alteração da forma tradicional de controlar e operar o sistema elétrico. A conexão
em larga escala de unidades de geração distribuída acarreta às distribuidoras de energia uma
série de desafios técnicos, econômicos e regulatórios, que se fazem necessários para manter a
confiabilidade, continuidade no fornecimento e o nível de Qualidade da Energia Elétrica no
sistema, principalmente devido à bidirecionalidade do fluxo de potência na rede. Recentemente,
foi aprovado o projeto “Eficiência Energética e Minigeração no Instituto Federal de Goiás
(IFG), onde serão implantados sistemas de micro e minigeração solar fotovoltaico com
capacidade total de 1MWp distribuídos em 9 campus do IFG, sendo: Anápolis, Aparecida de
Goiânia, Formosa, Inhumas, Itumbiara, Jataí, Luziânia, Valparaíso e Uruaçu. Diante do exposto
acima, a proposta desta obra é analisar os impactos da geração distribuída, especificamente a
fotovoltaica, na rede de distribuição secundária de baixa tensão, sob parâmetros de Distúrbios
harmônicos e Distúrbios de tensão, através de dados coletados de um Sistema Fotovoltaico
Conectado à Rede de 70 kWp presente no IFG campus Itumbiara. Os dados técnicos da
instalação foram obtidos através da documentação técnica referentes à implementação do
campus, a curva de carga obtido através de medição in loco utilizando analisador de qualidade
da energia elétrica, e os dados do PAC concedidos pela ENEL. Neste trabalho é feito a
correlação entre operação do sistema e impactos observados nos parâmetros a serem abordados,
visando analisar tecnicamente a qualidade da energia elétrica do sistema em questão. Foi
possível observar que a operação do Sistema Fotovoltaico Conectado a Rede do IFG impactou
no perfil de tensão, a qual sofreu elevação em períodos de alta geração, caracterizados pela
injeção do excedente de potência ativa na rede. Também pode-se verificar que este sistema em
operação nominal não ocasionou extrapolação nos limites de distorção harmônica de tensão, e
também no desequilíbrio de tensão. Já em períodos de baixa produção, notou-se um aumento
na distorção harmônica da corrente elétrica injetada pelo inversor fotovoltaico.

Palavras-chaves: Geração distribuída, Qualidade de energia elétrica, Sistemas


fotovoltaicos, Distúrbios de harmônicos, Distúrbios de tensão.

6
ABSTRACT

The deep changes that electric power distribution systems have been experiencing due
to the growth in the use of Distributed Generation have resulted in a change in the traditional
way of controlling and operating the electrical system. The large-scale connection of DG units
poses a number of technical, economic, and regulatory challenges for power utilities that are
required to maintain reliability, continuity of supply, and the level of Electrical Power Quality
in the system, mainly due to the bidirectionality of the power flow in the network. Recently, the
project “Energy Efficiency and Minigeneration at the Federal Institute of Goiás (IFG) was
created, where photovoltaic solar micro and minigigeneration systems will be installed with
total capacity of 1MWp distributed in 9 IFG campuses, namely: Anápolis, Aparecida de
Goiânia, Formosa, Inhumas, Itumbiara, Jataí, Luziânia, Valparaiso and Uruaçu. Given the
above, the purpose of this work is to analyze the impacts of distributed generation, specifically
photovoltaic, on the low voltage secondary distribution network, under parameters of Harmonic
Disturbances and Voltage Disturbances, through data collected from a photovoltaic distributed
generation of 70 kWp present at IFG campus Itumbiara. The technical data of the system were
obtained from the technical documentation regarding campus implementation, the load curve
obtained from on-site measurement using the power quality analyzer, and the comum point
linkage data granted by ENEL. In this work the correlation between system operation and
impacts observed in the parameters to be approached is made, aiming to technically analyze the
QEE of the system in question. It was observed that the operation of the IFG Grid Connected
Photovoltaic System impacted the voltage profile, which increased during periods of high
generation, characterized by the injection of the active power surplus into the grid. It can also
be verified that this system in nominal operation did not cause extrapolation in the limits of
harmonic voltage distortion, as well as in the voltage unbalance. In periods of low production,
there was an increase in the harmonic distortion of the electric current injected by the
photovoltaic inverter.

Keywords: Distributed Generation, Power Quality, Photovoltaic Systems, Harmonic


Disturbances, Voltage Disturbances.

7
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Capacidade instalada de produção de energia elétrica por categoria, na China.

Figura 2 - Média global de produção de energia, por tipo de geração.

Figura 3 - Fluxo de potência com fonte de geração centralizada e GD.

Figura 4 - Níveis de irradiação solar no mundo.

Figura 5 – Evolução da capacidade instalada no mundo.

Figura 6 - Evolução no preço da relação Preço x Watt das células fotovoltaicas no mundo.

Figura 7 - UC's com geração distribuída

Figura 8 - Número de sistemas que utilizam geração distribuída fotovoltaica, por classe de
consumo no Brasil.

Figura 9 - Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica, por classe de consumo no


Brasil.

Figura 10 - Top 10 países com capacidade para instalação e capacidade total instalada em
2017.

Figura 11 - Matriz elétrica brasileira: Potência Instalada em Operação (MW).

Figura 12 - Projeção da BNEF para a Matriz Elétrica Brasileira em 2040.

Figura 13 - Portfólio de capacidade de produção das fontes renováveis no Brasil

Figura 14 - Linhas de Transmissão que compõe o SIN.

Figura 15 - Redes elétricas empregadas no processo de GC

Figura 16 - Rede elétrica com geração distribuída.

Figura 17 - Matriz elétrica do Brasil.

Figura 18 - Potência instalada de sistemas fotovoltaicos utilizados em GD


8
Figura 19 – Demandas residenciais e comerciais para SFCR com excedente de produção.

Figura 20 – Perfil da tensão em linhas de distribuição sem GD

Figura 21 - Perfil da tensão em linhas de distribuição com GD

Figura 22 – Irradiação horizontal total diária no Brasil

Figura 23 – Arranjo fotovoltaico em módulo fotovoltaico

Figura 24 – Esquema de funcionamento do SFCR

Figura 25 – Medição bidirecional em sistemas SFCR

Figura 26 – Esquema de ligação definido para unidades com transformadores de potência


superior a 300 kVA

Figura 27 – Oscilograma com alguns dos principais distúrbios de QEE

Figura 28 – Oscilograma com componente fundamental e harmônicos

Figura 29 - Sequência de fase por ordem harmônica

Figura 30 – Flutuação de tensão

Figura 31 – Distribuição Acumulada Complementar da Sensação de Cintilação

Figura 32 - Vista área dos sistemas fotovoltaicos instalados no IFG – Itumbiara.

Figura 33 - Radiação solar medida no IFG – campus Itumbiara

Figura 34 - Temperatura ambiente medida no IFG - Campus Itumbiara

Figura 35 - Esquema de ligação utilizado para conectar o analisador da qualidade de energia


elétrica

Figura 36 - Valores mínimos para tensão de linha

Figura 37 - Valores máximos para tensão de linha

Figura 38 - Valores mínimos para tensão de fase

Figura 39 - Valores máximos para tensão de fase

9
Figura 40 – Indicadores DRP e DRC

Figura 41 - Histograma das tensões durante período de medição

Figura 42 - Histograma das tensões durante período de medição

Figura 43 – Comparativo da tensão fase A com e sem FV

Figura 44 - Curva de potência absorvida da rede do dia 20/06

Figura 45 – Curva de potência absorvida da rede do dia 27/06

Figura 46 - Variações de tensão de curta duração

Figura 47 - Classificação dos distúrbios

Figura 48 - ITIC

Figura 49 - Registro de falta de energia

Figura 50 - Oscilograma da tensão no momento da falta de energia

Figura 51 – Indicadores de distorção harmônica

Figura 52 – Indicadores totais de distorção harmônica

Figura 53 -Distorção harmônica total de tensão por registro

Figura 54 – Perfil de corrente trifásico dia 23/06

Figura 55 - Perfil de corrente trifásico dia 23/06 durante sombreamento

Figura 56 – Medida de irradiação pela estação meteorológica dia 23/06

Figura 57 – Perfil da corrente de saída do inversor dia 23/06, nas fases A, B e C

Figura 58 – Comportamento do DITh dia 23/06

Figura 59 - Perfil de corrente fase C dia 19/06 durante início da geração

Figura 60 - Perfil de corrente fase A dia 19/06 durante início da geração

Figura 61 - Perfil de corrente fase B dia 19/06 durante início da geração

10
Figura 62 - Comportamento do DITh dia 19/06

Figura 63 – Indicadores de flutuação de tensão

Figura 64 – Tendência de Pst

Figura 65 – Perfil da potência ativa por fase - dia 20/06

Figura 66 – Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Quinta-
feira

Figura 67 - Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Domingo

Figura 68 – FD95% para dia 19/06

Figura 69 - FD95% para dia 24/06

11
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Requisitos mínimos em função da potência instalada.

Tabela 2 - Níveis de tensão considerados para conexão de centrais geradoras.

Tabela 3 – Monitoramento de distúrbio de QEE

Tabela 4 - Limites para desequilíbrio de tensão

Tabela 5 – Terminologia para cálculo do desequilíbrio de tensão

Tabela 6 – Terminologia para cálculo de harmônicos

Tabela 7 – Limite das distorções harmônicas totais

Tabela 8 - Terminologia

Tabela 9 – Limites para flutuação de tensão

Tabela 10 - Faixa de variação de tensão

Tabela 11 - Faixa de variação de tensão para TR em 380 volts

Tabela 12 - Faixa de variação de tensão para TR em 220 volts

Tabela 13 – Relação técnica sistema FV do IFG

Tabela 14 – Resumo das conclusões sobre tensão em regime permanente

Tabela 15 – Resumo das conclusões sobre harmônicos de tensão

Tabela 16 – Resumo das conclusões sobre as curvas de carga

Tabela 17 – Resumo das conclusões sobre os harmônicos de corrente

Tabela 18 - Resumo das conclusões sobre desequilíbrio de tensão

12
LISTA DE ABREVIATURAS

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica.


IEA – International Energy Agency.
IEC – International Electrotechnical Commission.
IFG – Instituto Federal de Goiás.
MME – Ministério de Minas e Energia.
ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico.
PRODIST – Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional.
SFCR – Sistema fotovoltaico conectado a rede
DRP - Duração relativa de transgressão de tensão precária
DRC - Duração relativa de transgressão de tensão crítica
QEE - Qualidade da Energia Elétrica
GD - Geração Distribuída
GC – Geração Centralizada
UC - Unidade consumidora

BT - Baixa tensão

MT - Média tensão

MPPT – Maximum Power Point Tracker

FV – Fotovoltaico

PAC - Ponto de Acoplamento Comum

RN - Resolução Normativa

National Renewable Energy Laboratory – NREL

SIN - Sistema Interligado Nacional

RMS - Root medium square

PCH – Pequena Central Hidrelétrica


13
CGH – Central de Geração Hidrelétrica

EOL – Central Geradora Eólica

UFV – Central Geradora Fotovoltaica

UTE – Usina Termelétrica

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

QGBT - Quadro geral de distribuição de baixa tensão

SEP - Sistema Elétrico de Potência

14
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 17
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 17
1.2 INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................... 17
1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 21
2. ESTADO DA ARTE.................................................................................................................... 22
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 22
2.2 CENÁRIO DO USO DE SISTEMAS SOLAR FOTOVOLTAICO ............................... 22
2.3 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ............................................................................................... 29
2.4 VANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA .............................................................. 35
2.5 DESVANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ...................................................... 36
2.6 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA COM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS ........................... 39
2.7 LEGISLAÇÃO .................................................................................................................... 43
2.8 CATEGORIAS DOS SFCR ............................................................................................... 49
2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 50
3.0 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA .......................................................................... 51
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 51
3.2 QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA ...................................................................... 51
3.1.1 TRANSITÓRIOS ............................................................................................................ 54
3.1.1.1 TRANSITÓRIO IMPULSIVO .................................................................................. 54
3.1.1.2 TRANSITÓRIOS OSCILATÓRIOS ........................................................................ 54
3.2 DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO .................................................................................... 54
3.3 VARIAÇÕES RMS DE CURTA DURAÇÃO .................................................................. 56
3.4 VARIAÇÕES RMS DE LONGA DURAÇÃO ................................................................. 57
3.5 HARMÔNICOS .................................................................................................................. 57
3.5.1 INDICADORES DE QEE DE DISTORÇÕES HARMÔNICAS ................................ 59
3.6 FLUTUAÇÃO DE TENSÃO.............................................................................................. 62
3.7 TENSÃO EM REGIME PERMANENTE ........................................................................ 65
3.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 67
4.0 RESULTADOS ........................................................................................................................ 68
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 68
4.2 DESCRIÇÃO SISTEMA FOTOVOLTAICO IFG – ITUMBIARA .............................. 68
4.3 TRANSFORMADOR E CABEAMENTO DO IFG – ITUMBIARA ............................. 71
15
4.4 MEDIÇÃO DE ENERGIA ................................................................................................. 71
4.5 ANÁLISE DAS CURVAS DE CARGA ............................................................................ 72
4.6 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA TENSÃO EM REGIME PERMANENTE 75
4.7 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS DE TENSÃO ..................................................................... 81
4.8 ANÁLISE DE HARMÔNICOS ......................................................................................... 83
4.9 ANÁLISE DE FLUTUAÇÃO DE TENSÃO (FLICKER)............................................... 91
4.10 ANÁLISE DO DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO ............................................................. 92
4.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 94
5.0 CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 95
6.0 TRABALHOS FUTUROS ......................................................................................................... 99
7.0 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 100

16
1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este capítulo é introdutório e tem como objetivo apresentar o panorama de crescimento


na demanda por energia elétrica, a difusão do uso de fontes renováveis para geração de energia
elétrica, explanando sobre os impactos da geração distribuída na rede de distribuição,
relacionados à qualidade de energia elétrica e apresentando o objetivo do presente trabalho.

1.2 INTRODUÇÃO GERAL

Na sociedade moderna, as transformações de recursos naturais em bens de consumo,


bem como os serviços adquiridos, dependem de um elemento substancial: energia. Com o
advento das máquinas, a exploração dos recursos energéticos se deu substancialmente através
da queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural, cenário ainda recorrente,
visto que tais combustíveis ainda representam cerca de 85% das fontes comerciais de energia
[1].
Com a expansão dos centros urbanos, as cargas foram se localizando cada vez mais
longe da fonte geradora de energia e demanda de energia elétrica aumenta constantemente.
Dessa forma, fez-se necessário integrar um sistema de distribuição robusto, que fosse capaz de
transmitir a potência requerida pelas cargas. É fato que as redes de distribuição, tanto de baixa
quanto de alta tensão, foram projetadas para operar em um modelo de geração centralizada, em
que o fluxo de potência acontece em um único sentido, da fonte geradora para a carga. Vale
ressaltar que, a geração centralizada muitas vezes está ligada ao processo de produção de
energia elétrica através de fontes não-renováveis, principalmente em países com baixa
capacidade hídrica. A figura 1, ilustra tal realidade de forma bem clara, uma vez que a China,
segunda potência econômica mundial [2], possui grande parte de sua demanda atendida por
meio de termoelétricas movidas a combustíveis fósseis.

17
Figura 1 - Capacidade instalada de produção de energia elétrica por categoria, na China

Fonte: [38]

O constante crescimento do consumo energético mundial acaba por permitir melhor


qualidade de vida para a população, ao poder usufruir das comodidades modernas movidas a
eletricidade. Porém, a preocupação com o aquecimento global também se intensifica, e a
produção de energia utilizando fontes de origem fósseis contribuem diretamente para o aumento
da emissão de gases de efeito estufa. Assim, intensifica-se a busca pela diversificação da matriz
elétrica, de modo a manter a capacidade de entrega da demanda solicitada e intensificar a
geração de energia elétrica no mundo a partir de fontes renováveis, como a fonte solar. Dessa
forma, diversos países começaram a investir em fontes de energias renováveis, estudos e
aplicações voltados à eficiência energética. A expansão da aplicação de energias renováveis é
ilustrada na figura 2 abaixo.

18
Figura 2 - Média global de produção de energia, por tipo de geração

Fonte: [38]

A expansão no uso de fontes de energias renováveis para geração de energia elétrica,


está atrelada diretamente à expansão da geração distribuída. A geração distribuída tem como
característica principal de gerar a energia próximo a carga responsável pelo consumo. Tal
prática acarreta uma série de benefícios relacionados a redução de gastos dos consumidores,
menor investimento necessário em linhas de distribuição e redução das perdas de energia
elétrica no processo de distribuição. A expansão da geração distribuída beneficia o consumidor-
gerador, a economia do país e os demais consumidores, pois esses benefícios se estendem a
todo o sistema elétrico [4].

À medida que a GD cresce em potência instalada, o setor elétrico passa por grande
mudança, no que tange à operacionalidade das redes de transmissão em baixa tensão. De modo
geral, a geração distribuída se caracteriza como uma forma de geração próxima ao ponto de
consumo e conectada ao sistema de distribuição [3]. Dessa forma, o conceito de unidade
consumidora sofre alteração, uma vez que anteriormente a UC atuava somente como
consumidor, agora passa a atuar como fonte geradora de energia elétrica. Ao tornar-se produtor
de energia elétrica, a unidade consumidora que utiliza GD injeta potência ativa na rede de baixa
tensão através do Ponto de Acoplamento Comum, estabelecendo eventuais cenários de fluxo

19
bidirecional de potência na rede de BT. A figura 3 ilustra a diferença entre redes com geração
centralizada e geração distribuída.

Figura 3 - Fluxo de potência com fonte de geração centralizada e GD.

Fonte: [21]

No âmbito regulatório, a Agência Nacional de Energia Elétrica publicou a resolução


normativa n. 482/2012, com a atualização RN n. 687/2015, com intuito de regular a conexão
de mini e micro geração distribuída na rede de distribuição, em que a fonte de energia seja
incentivada através de regras da conexão à rede de distribuição e da forma de faturar a energia
gerada, realizando a compensação de energia. A partir da criação dessa norma pela ANEEL, as
concessionárias criaram suas próprias resoluções normativas, as quais contém todas
informações e premissas a serem seguidas sobre requisitos de segurança e qualidade de energia,
proteções necessárias, ponto de acesso e certificações exigidas.
Como consequência da expansão da GD, existe a alteração na forma de operação do
sistema elétrico, uma vez que a unidade consumidora que utiliza GD conectada à rede, também
atua como unidade geradora. De acordo com o estudo realizado pela National Renewable
Energy Laboratory – NREL, o percentual de penetração acima de 10% entre a GD e a demanda
do sistema já pode ser considerado como nível significante de penetração de GD, tendo em
vista os impactos ocasionados. Apesar de tais mudanças no modo tradicional de operação da
rede, as resoluções normativas de cada concessionária responsável pelo fornecimento de
energia expõem que os quesitos de segurança e qualidade de energia elétrica devem ser
mantidos e alcançados.

20
O termo “qualidade da energia” deve ser conhecido por todos os setores envolvidos com
o consumo, transmissão e geração de energia elétrica, uma vez que abrange desde as áreas de
interesse de sistemas da energia elétrica até problemas de comunicação relacionados à
transmissão de dados [5]. Quando abordamos a questão de QEE, vários parâmetros de operação
da rede elétrica devem ser analisados. Entre todos parâmetros a serem considerados, destacam-
se: Harmônicos e Inter-Harmônicos, Ruído, Flutuação de Tensão, Variações de frequência e
Variações RMS.
As mudanças no sistema elétrico devido a conexão de GD possuem pontos positivos e
negativos, tanto para a concessionária quanto para o consumidor. Algumas vantagens técnicas
se dão pela redução de perdas técnicas ao longo das linhas de distribuição devido à diminuição
da potência demandada pelas cargas, capacidade de adequar o perfil de tensão da carga no PAC,
possibilidade de alimentação da carga que está diretamente conectada em casos de falta de
energia, e também a redução do impacto ambiental (quando emprega-se fontes renováveis nessa
modalidade de geração). Porém, há outro cenário que deve ser considerado, uma vez que a
conexão de geração distribuída na rede de baixa tensão pode existir fluxo reverso de potência,
causando distúrbios como a alteração do perfil de tensão da rede em regime permanente,
instabilidade de tensão e frequência, sobretensões, aumento de harmônicos, alteração das
correntes de curto circuito, os quais acabam por prejudicar a QEE.
Diante do exposto acima, a proposta do trabalho é analisar os impactos da geração
distribuída, especificamente a fotovoltaica, na rede de distribuição secundária de baixa tensão,
através de dados colhidos de um SFCR (Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede) presente no
IFG câmpus Itumbiara. Neste estudo, o objetivo principal é caracterizar e analisar tais impactos
atentando-se aos parâmetros indicadores de qualidade de energia.

1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, é notório a tendência de aumento no uso de energia renovável para geração de


energia elétrica, devido questões socioambientais. Também pode-se verificar a importância do
IFG, como instituição de formação em profissionais no ramo da engenharia elétrica, a partir da
capacitação dos alunos utilizando o projeto “Eficiência Energética e Minigeração no Instituto
Federal de Goiás (IFG)” como objeto de estudo, além de disseminar a aplicação de novas
tecnologias para geração sustentável de energia elétrica.

21
2. ESTADO DA ARTE

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O crescimento no uso de fontes renováveis de energia está diretamente ligado à


expansão no uso de geração distribuída conectada ao sistema elétrico de distribuição. Tal
conexão concebe particularidades antes não existentes no modelo de geração centralizada. A
partir disso, o presente capítulo tem como objetivo explanar sobre o cenário no uso de energia
renovável no país, com foco em energia fotovoltaica, caracterizando vantagens, impactos
negativos na interação com o sistema elétrico, apresenta sobre a legislação em vigor e
categoriza a modalidade do SFCR.

2.2 CENÁRIO DO USO DE SISTEMAS SOLAR FOTOVOLTAICO

O constante crescimento do consumo energético mundial acaba por permitir melhor


qualidade de vida para a população, ao poder usufruir das comodidades modernas movidas a
eletricidade. Porém, a preocupação com o aquecimento global também se intensifica, e a
produção de energia utilizando fontes de origem fósseis contribuem diretamente para o aumento
da emissão de gases de efeito estufa.
A consciência da importância da utilização de fontes renováveis desponta em diversos
países, com destaque para a energia solar fotovoltaica conectada à rede de distribuição. Uma
vantagem do uso da energia solar como fonte alternativa é o fato de que isso não altera o
equilíbrio térmico do planeta [8].
Segundo [11], o principal fator ambiental que favorece o aproveitamento solar para a
produção de energia é a não modificação do equilíbrio térmico da terra, isso porque os
equipamentos empregados na energia solar, utilizam parte da irradiação disponível como
eletricidade útil, antes da energia ser degradada como calor para o meio ambiente. Além disso,
esse tipo de geração contribui para o suprimento da demanda por energia elétrica, sem haver a
emissão de gases ácidos ou gases de efeito estufa. Dessa forma, no que tange aos benefícios
ambientais advindos do uso de tal tecnologia, destaca-se a contribuição para atingir as metas de
redução na emissão de gases poluentes, não há geração poluição sonora, e consiste em uma
fonte renovável, limpa e sustentável.

22
O mercado de energia solar mostra-se cada vez mais promissor e produtivo não só no
Brasil como no mundo. Segundo [10], a energia solar é suficiente para atender milhares de
vezes o consumo mundial. Entretanto, essa radiação não atinge de maneira uniforme toda a
crosta terrestre, fato que faz com que alguns países possuam maior capacidade de geração de
energia solar fotovoltaica. A seguir, a figura 4 ilustra o índice de irradiação solar em todos
continentes do mundo.

Figura 4 - Níveis de irradiação solar no mundo.

Fonte: [39]

Devido à diversos fatores, como mudanças climáticas, independência energética,


políticas públicas, queda no preço dos módulos fotovoltaicos, desenvolvimento tecnológico e
diminuição nas barreiras técnicas no processo de aplicação, a energia fotovoltaica é, atualmente,
o segmento energético que mais cresce no mundo. A figura 5 ilustra tal cenário de expansão
mundial, enquanto a figura 6 demonstra a diminuição nos preços para geração de 1 Watt devido
ao desenvolvimento tecnológico, através de sistemas FV’s.

23
Figura 5 – Evolução da capacidade instalada no mundo.

Fonte: [3]

Figura 6 - Evolução no preço da relação Preço x Watt das células fotovoltaicas no mundo.

Fonte: [3]

O emprego da geração distribuída vem crescendo, e auxiliando no suprimento da


demanda de energia. As características desses geradores se opõem ao cenário de uma geração
centralizada, pois têm por objetivo fornecer energia às cargas mais próximas. De modo geral, a
geração distribuída se caracteriza como uma forma de geração próxima ao ponto de consumo e
24
conectada ao sistema de distribuição [4]. A geração distribuída vem se destacando no cenário
energético nacional, principalmente após a publicação da Nota Técnica n° 0043/2010–
SRD/ANEEL de 08/09/2010, a qual teve intuito de reduzir as barreiras para instalação de GD
de pequeno porte a partir de fontes renováveis, e a Resolução Normativa nº 482 de 2012, pela
Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL [7], que garantiu o acesso da micro e
minigeração ao sistema de distribuição e ao sistema de compensação de energia. Atualmente
pode-se observar um maior crescimento na aplicação de energia fotovoltaica como fonte na
geração distribuída, em relação às demais modalidades, como mostra a figura 7 (CGH – Central
de Geração Hidrelétrica; EOL – Central Geradora Eólica; UFV – Central Geradora
Fotovoltaica; UTE – Usina Termelétrica). Tal destaque do número de GD que utiliza como
fonte geradora a energia fotovoltaica, ocorre pela grande capacidade do país de produção de
energia elétrica através da fonte solar. O Brasil, por ser um país localizado na sua maior parte
na região inter-tropical, possui grande potencial para aproveitamento de energia solar durante
todo ano [9]. A região Nordeste apresenta a maior disponibilidade energética, seguida pelas
regiões Centro-Oeste e Sudeste. As características climáticas da região Norte reduzem seu
potencial solar médio a valores próximos da região Sul [9].

Figura 7 - UC's com geração distribuída

Fonte: [34]

Inseridos neste cenário de expansão da GD solar fotovoltaica, estão os consumidores


responsáveis por tal crescimento. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica,
divulgou os dados de 2018, identificando a porcentagem de aplicação de acordo com o tipo do
consumidor. Pode-se observar que, em relação ao número de sistemas, os consumidores
Residenciais lideram o cenário. Já em relação à potência instalada, o consumidor da classe de
Comércio e Serviço assumem o topo em relação às demais classes. A figura 8 demonstra o
balanço de número de sistema por classe, enquanto a figura 9 a potência instalada.

25
Figura 8 - Número de sistemas que utilizam geração distribuída fotovoltaica, por classe de consumo no Brasil.

Fonte: [3]

Figura 9 - Potência instalada de geração distribuída fotovoltaica, por classe de consumo no Brasil.

Fonte: [3]

Em 2017, o Brasil integrou o ranking mundial de potência solar fotovoltaica para


instalação anual, com um total de 0,9 Giga Watts. Dessa forma, o país ocupou a décima posição
no ranking, conforme apresentado na figura 10 abaixo.

26
Figura 10 - Top 10 países com capacidade para instalação e capacidade total instalada em 2017

Fonte: [3]

Com tal cenário de constate expansão, em meados de 2018, o país atingiu a marca de
0,8% da matriz elétrica proveniente de energia solar, como ilustrado na figura 11. Esse número
contempla tanto mini e microgeração, quanto grandes usinas. Já com previsões globais, estima-
se que em 2050, 11% de toda energia produzida no mundo tenha cunho solar, segundo [12].
Tal crescimento é responsável por alavancar a geração de empregos de qualidade, atrair novos
investimentos privados, diversificar a matriz energética e desenvolver uma nova cadeia
produtiva no país.

Figura 11 - Matriz elétrica brasileira: Potência Instalada em Operação (MW)

Fonte: [3]

27
Enquanto o MME em 2014 estimou que em 2050, 11% de toda energia elétrica do
mundo será proveniente de fonte solar, a BNEF em 2016 estipulou que em 2040, 32% da Matriz
Elétrica Brasileira seja de energia solar fotovoltaica. Com isso, confrontando com o atual
cenário exposto na figura 11, a difusão do uso de sistemas fotovoltaicos para geração de energia
elétrica deverá ter comportamento exponencial para atingir a meta de 32%. A figura 12
apresenta a projeção da BNEF.

Figura 12 - Projeção da BNEF para a Matriz Elétrica Brasileira em 2040.

Fonte: [3]

A expansão exposta acima, garante maior complementariedade de fontes renováveis na


matriz elétrica brasileira, de forma a diminuir a dependência de fontes hídricas e o uso de fontes
de energia não renováveis. O uso de fontes de energia não-hídricas alivia a pressão sobre os
recursos hídricos do país, de forma a garantir maior preservação dos reservatórios de água. Vale
salientar que, a energia solar possui a menor variabilidade mensal e anual, em relação às demais
fontes renováveis aplicadas no Brasil, conforme é apresentado na figura 13 abaixo. Essa
característica garante maior assertividade no planejamento de geração, de acordo com a
demanda do SIN.

28
Figura 13 - Portfólio de capacidade de produção das fontes renováveis no Brasil.

Fonte: [3]

2.3 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

Por definição, a geração centralizada é a modalidade em que a geração de energia


elétrica é gerada distante dos centros consumidores. Isso faz com que, a partir da GC haja a
necessidade de haver todo o processo de transmissão, o qual não só onera altos custos para as
concessionárias, como também acaba por ocasionar perdas elétricas. Os custos do processo de
transmissão também contemplam o investimento em equipamentos de engenharia, os quais são
empregados com intuito de dirimir as barreiras técnicas na transmissão. Os custos alcançam
valores bilionários, como por exemplo as linhas que se originam na Usina Belo Monte, as quais
totalizam um orçamento de 5 bilhões de reais em infraestrutura.

O uso de grande quantidade de energia elétrica proveniente de GC também pode ser


notado pela grande complexidade e extensão do Sistema Interligado Nacional (SIN). SIN é o
sistema que coordena e controla todo o fluxo de energia elétrica no processo de transmissão,
possuindo mais de 100 mil quilômetros de linhas de transmissão, as quais interligam todas as
regiões do país. A figura 14 ilustra o atual cenário de operação do SIN.

29
Figura 14 - Linhas de Transmissão que compõe o SIN.

Fonte: [41]

A GC é caracterizada pelo fluxo unidirecional de potência, ou seja, energia fluindo da


geração para a carga, conforme ilustrado na figura 15. Nesse tipo de sistema, diversos
equipamentos são empregados para garantir que a energia elétrica seja entregue ao consumidor.
Subestações elevadoras, subestações abaixadoras, dispositivos de proteção e coordenação, são
alguns dos equipamentos de engenharia empregados nesse processo de transmissão.

30
Figura 15 - Redes elétricas empregadas no processo de GC.

Fonte: [9]

Com o advento da geração distribuída, na qual a geração de energia elétrica é próxima


à unidade consumidora, tal topologia de rede sofrerá mudanças, uma vez que o fluxo de energia
pode ocorrer fluindo da carga ao consumidor, ou até mesmo de um consumidor para outro
consumidor, conforme ilustrado na figura 16. Por mais que a energia elétrica esteja tão presente
no dia-a-dia de grande parte da população, ainda se encontra no Brasil, pessoas de baixa renda
que não possuem acesso à energia elétrica. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), cerca de um milhão de residências ainda não tem acesso à energia elétrica. A grande
maioria desses domicílios, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
estão em regiões rurais onde a quantidade populacional é mais baixa. Para atender essas regiões,
há a demanda de grandes investimentos econômicos por parte dos concessionários,
acompanhado de baixo retorno financeiro, o que faz tais regiões ainda não possuírem acesso à
energia elétrica. A GD é uma solução em discussão para ajudar a prover energia para esses
lugares.

31
Figura 16 - Rede elétrica com geração distribuída.

Fonte: [9]

A Geração Distribuída, além de ser uma área chave para a sustentabilidade e geração de
energia limpa, causa um grande impacto em todo o sistema de transmissão e distribuição de
energia, uma vez que altera toda a concepção do sistema atual devido à consequente
diversificação da matriz elétrica do país. De fato, com o advento das novas tecnologias de
geração de energia de forma distribuída, as redes elétricas e de comunicação passarão a
interligar milhões de fontes de energia renovável estocásticas [37]. Diversos fatores, além dos
ambientais, impulsionam o crescimento no uso da GD, como os cinco fatores principais listados
pela Agencia Internacional de Energia em 2002:

• Preocupações com relação à mudança climática.


• Crescente desenvolvimento das tecnologias para geração distribuída.
• Restrições com relação à construção de novas linhas de transmissão.
• Aumento da demanda dos clientes por energia elétrica altamente confiável.
• Liberalização do mercado da eletricidade.

Ainda que o conceito de geração distribuída esteja atrelado à expansão no uso de fontes
renováveis, a matriz elétrica brasileira possui grande dependência da energia provinda da
geração centralizada. Tal afirmação se dá pelo fato de que toda energia elétrica proveniente de
fonte hídrica, a qual compõe 60,9% da matriz elétrica do país, é gerada distante das unidades
consumidoras. A energia elétrica proveniente de importação, nuclear e fóssil também é gerada
distante das cargas consumidoras, intensificando tal dependência. A figura 17 ilustra a atual
situação da matriz energética brasileira.

32
Figura 17 - Matriz elétrica do Brasil.

Fonte: [23]

A geração distribuída atualmente é classificada pela ANEEL a partir da potência


instalada em modalidade de minigeração e microgeração. A microgeração distribuída é
caracterizada como central geradora de energia elétrica, com potência instalada menor ou igual
a 75 kW e que utilize cogeração qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, ou fontes
renováveis de energia elétrica, conectada na rede de distribuição por meio de instalações de
unidades consumidoras.

Já a minigeração distribuída é caracterizada como central geradora de energia elétrica,


com potência instalada superior a 75 kW e menor ou igual a 3 MW para fontes hídricas ou
menor ou igual a 5 MW para cogeração qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, ou
para as demais fontes renováveis de energia elétrica, conectada na rede de distribuição por meio
de instalações de unidades consumidoras.

33
Atualmente, destaca-se como fonte de energia empregada na GD, a energia solar
fotovoltaica. O Brasil é um país que detém grande capacidade de geração, devido aos altos
índices de incidência solar. Tal crescimento no uso de tal tecnologia também se dá pelo fato de
que existem quedas nos preços com o passar dos anos, tornando mais acessível para população.
Além da diminuição nos preços, a evolução da tecnologia faz com que os sistemas de geração
distribuída sejam mais robustos, detendo maior nível de confiabilidade e durabilidade,
viabilizando ainda mais o investimento nesse segmento.

Além desses fatores expostos acima, houve a criação de diversas políticas


governamentais que buscam impulsionar a GD no país e também o uso de fontes renováveis.
No Brasil, os principais marcos legais para a geração distribuída são a Lei nº 10.848 de 15 de
março de 2004 [42], o Decreto nº 5.163 de 30 de julho de 2004 [43] as quais tem como objetivo
geral demonstrar propostas para utilização de geração fotovoltaica conectada à rede de
distribuição. Atualmente, há maiores facilidades em adquirir sistemas fotovoltaicos, como a
possibilidade de utilizar do FGTS para compra do sistema ou até realizar financiamento do
mesmo. Programas governamentais também buscam desenvolver esse cenário, como a
instalação de Energia Solar Fotovoltaica em habitações do Minha Casa Minha Vida. A figura
18 ilustra esse cenário de disseminação no uso de sistemas fotovoltaicos na GD nos últimos 7
anos.

Figura 18 - Potência instalada de sistemas fotovoltaicos utilizados em GD

Fonte: [11]

34
2.4 VANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

O crescimento na adesão de GD faz com que haja diversidade na matriz elétrica, de


modo a possibilitar um planejamento estratégico em relação à quais fontes geradoras utilizar
em cada momento do ano. Isso se dá pelo fato de que, diversas fontes de energia podem ser
empregadas na GD, como a Biomassa, Eólica, Fotovoltaica, Resíduos urbanos, PCH e CGH.
Tal diversificação faz com que haja diminuição no uso de energia elétrica proveniente de
termelétricas e até mesmo de hidroelétricas, fato que contribui para o reestabelecimento nos
níveis dos reservatórios e diminuição na emissão de gases poluentes. A Nota Técnica n°
0043/2010–SRD/ANEEL de 08/09/2010 [24] expõe alguns benefícios ao sistema elétrico com
a presença de pequenos geradores próximos às cargas, sendo:

• Baixo impacto ambiental e consequente diversificação da matriz energética.


• A postergação de investimentos em expansão nos sistemas de distribuição e
transmissão.
• Menor tempo de implantação.
• Redução no carregamento das redes e perdas elétricas.
• A melhoria do nível de tensão da rede no período de carga pesada.
• Redução nas perdas elétricas devido ao processo de transmissão, uma vez que a
energia é produzida junto à carga.

Além desses pontos levantados pela Nota Técnica n° 0043/2010–SRD/ANEEL, também


pode-se afirmar que:

• A produção de energia pode ser feita utilizando espaço físico já ocupado e não
utilizados, uma vez que em grande maioria os sistemas são integrados à edificação.
• O sistema possui modularidade, ou seja, pode ser ampliado caso a carga da unidade
se amplie.
• Fonte limpa e renovável de energia, uma vez que utiliza uma fonte primária
inesgotável que está disponível em quase todos locais.

A GD pode ser tanto conectada à rede, como isolada, se diferenciando pelo fato de uma
se integrar ao sistema elétrico, e a outra operar sem interface com o sistema de distribuição ou
transmissão, respectivamente. Tal integração com o sistema garante maior quantidade de

35
potência disponível na rede elétrica, fato que torna a geração distribuída uma estratégia para
ajudar a suprir o constante aumento na demanda do país. Afim de expandir a instalação de
geração distribuída a partir de fontes renováveis instaladas em tensões de distribuição, países
adotaram mecanismos para incentivar tal prática, como:

• Criação de tarifas especiais para unidades geradoras.


• Sistema de medição líquida da energia injetada na rede de distribuição, descontado o
consumo, e utilização desse crédito no abatimento da fatura nos meses posteriores.
• Estabelecimento de quotas de energia, por tipo de fonte, que devem ser compradas
pelas distribuidoras.

2.5 DESVANTAGENS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

A instalação de GD conectada à rede exige mudanças e adaptações no sistema elétrico


de distribuição, visto que foi projetado para operar com sentido unidirecional, fluindo da
geração para carga. Com isso, surgiram diversas barreiras técnicas para operação e garantia nos
parâmetros de QEE, uma vez que irá existir no sistema elétrico fluxo de potência fluindo da
carga à fonte geradora. Quando a instalação ocorre somente em pequena quantidade de
sistemas, o sistema não sofre grandes impactos, porém, com o crescimento exponencial na
quantidade de sistemas instalados, o nível de perturbação gerado pode ser significativo.

Grande parte dos dispositivos de proteção, coordenação e seletividade instalados foram


projetados somente para o fluxo unidirecional de potência, fato que faz com que o sistema
comece a necessitar de adequações para operar de forma correta com a presença de geração
distribuída. Essa adequação se faz necessária devido à existência de fluxo de potência reverso,
o qual consiste no fluxo de potência partindo dos níveis mais baixos de tensão para os mais
altos. Essa mudança se intensifica nas situações em que a geração é maior que o consumo da
carga, com a unidade consumidora se comportando de forma ativa. Isso se faz como um fator
de extrema importância para os órgãos de regulamentação e também para as concessionárias de
distribuição, uma vez que pode afetar diretamente a correta operação do sistema.

Esse comportamento da unidade consumidora/geradora depende do perfil de consumo


da instalação, o qual é definido de acordo com a quantidade de potência demandada, o período
de maior consumo e a capacidade de geração instalada. A figura 19 ilustra a diferença entre o

36
perfil de consumo de uma instalação residencial e outra comercial, expondo também a curva
característica de geração FV, a qual atinge maiores valores em horários de sol a pico.

Figura 19 – Demandas residenciais e comerciais para SFCR com excedente de produção.

Fonte: [19]

Outra barreira técnica para instalação de GD é a alteração no nível de curto-circuito do


sistema. É de extrema importância que sejam realizados estudos sobre este parâmetro, uma vez
que grande parte dos equipamentos de proteção são especificados a partir deste. Neste contexto,
a instalação de GD em sistemas de distribuição pode alterar o nível de curto-circuito da rede,
passando a ter duas fontes de contribuição para o nível curto, a subestação e o sistema de GD,
podendo provocar efeitos indesejados, tais como: perda de coordenação dos dispositivos de
proteção contra sobrecorrente, violação da capacidade de interrupção de disjuntores,
extrapolação dos limites térmicos e mecânicos de equipamentos.

O tipo de fonte da GD a ser aplicada, influencia diretamente nas alterações nos níveis
de curto-circuito. A energia eólica contribui consideravelmente para tal, uma vez que no
momento do curto-circuito ainda é injetado uma potência no sistema, proveniente da conversão
da energia cinética residual presente nas pás das turbinas. No caso do SFCR, a contribuição
com o nível de curto-circuito depende do modelo e tipo do inversor a ser utilizado, os quais em
grande maioria, não geram incremento de potência durante a falta devido à ação do MPPT –
Maximum Power Point Tracker. Além disso, os inversores são normalmente equipados com
relés de subtensão e sobrecorrente, visando identificar faltas e cessar sua contribuição com a
corrente de curto-circuito por meio da desconexão com a rede, reconectando-se de forma
automática após um período predeterminado [19].

37
Também vale ressaltar que com a conexão de GD, há uma alteração no perfil de tensão
do alimentador. Em sistemas de geração centralizada, geralmente a tensão é mais elevada
quanto mais próxima ao gerador, devido as perdas no processo de transmissão e distribuição,
conforme ilustrado na figura 20.

Figura 20 – Perfil da tensão em linhas de distribuição sem GD

Fonte: [21]

Com a conexão de GD, parte da potência demandada pela carga é fornecida localmente,
de forma a diminuir a corrente requerida pela carga, e consequentemente, a queda de tensão.
Dessa forma, a GD atua de certa forma como regulador de tensão, uma vez que mantém os
níveis de tensão mais estáveis ao longo do alimentador. Porém, deve-se fazer uma ressalva,
quanto a existência de fluxo reverso na rede. Em ramais que possuem grande quantidade de
GD, em casos de períodos de pico de geração excederem o consumo demandado, ocorre o fluxo
reverso de potência, notando-se a elevação no PAC, conforme ilustrado na figura 21.

Figura 21 - Perfil da tensão em linhas de distribuição com GD

Fonte: [21]

38
Outro ponto de desvantagem em relação à GD é a criação de ilhamento não-intencional.
Ilhamento pode ser definido como a condição em que a rede de distribuição que possui tanto
carga quanto GD se mantenha energizada mesmo após o desligamento da rede elétrica. Para
prevenir o ilhamento não-intencional, os inversores de GD são dotados de um sistema de
monitoramento, podendo ser baseado em técnica ativa ou passiva, o qual possibilita a sua
desconexão da rede de distribuição quando for constatada a ausência da referência da tensão no
alimentador, fornecida pela geração base [21]. Alguns dos principais danos físicos ligados ao
ilhamento não-intencional são risco de vida para funcionários durante manutenções na rede,
possibilidade de danos físicos em equipamentos e a interferência no restabelecimento da rede
elétrica pela concessionária.

Em relação à QEE, existem vários parâmetros que devem ser observados e respeitados.
Todos os valores de referência para tais parâmetros a serem monitorados, e seus respectivos
limites, nos sistemas de GD, estão estabelecidos na Seção 8.1 do Módulo 8 do PRODIST. A
Nota Técnica n° 0043/2010–SRD/ANEEL de 08/09/2010 lista algumas desvantagens
associadas ao aumento da quantidade de pequenos geradores espalhados na rede de distribuição,
pontuando:

• Alto custo de implantação e consequente grande tempo de retorno do investimento.


• Necessidade de alteração dos procedimentos das distribuidoras para operar, controlar
e proteger suas redes, devido ao aumento na complexidade das mesmas.
• Aumento da dificuldade para controlar o nível de tensão da rede no período de carga
leve.
• Aumento da distorção harmônica e alteração nos níveis de curto-circuito na rede.

2.6 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA COM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS

Com o constante aumento da demanda por energia elétrica, os países mapearam a


necessidade de diversificar a matriz elétrica, uma vez que muitos deles utilizam recursos não-
renováveis para geração de energia elétrica. A energia fotovoltaica, que advém da conversão
direta da radiação solar em energia elétrica, é a fonte de geração que tem recebido bastante
atenção pela comunidade técnica ao redor do mundo. É brilhante pensar que pode ser gerada
eletricidade através da radiação solar, recurso o qual é renovável e disponível em todo mundo.
Países tropicais como Brasil se destacam pela capacidade de geração, uma vez que possuem
39
alto índice de radiação em diversas regiões, com incidência praticamente durante todo ano. A
figura 22 ilustra o total diário de irradiação horizontal no Brasil.

Figura 22 – Irradiação horizontal total diária no Brasil

Fonte: [9]

Além da grande capacidade de geração devido à localização geográfica do Brasil, essa


tecnologia de geração se adapta em diversos locais que haja incidência de luz, ocupando áreas
anteriormente não utilizadas, como telhados de edificações, fachadas, áreas alagadas. Dessa
forma, utiliza-se, em grande parte, áreas antes não utilizadas permitindo a produção local de
eletricidade limpa, sem resíduos, ruídos e emissão de gases poluentes, e contribuindo para o
suprimento de energia elétrica e garantia da qualidade de vida das pessoas. O Brasil possui no
total 7.436 empreendimentos em operação, totalizando 164.768.799 kW de potência instalada.
Está prevista para os próximos anos uma adição de 20.756.633 kW na capacidade de geração

40
do País, proveniente dos 198 empreendimentos atualmente em construção e mais 403 em
empreendimentos com construção não iniciada [23].

A energia fotovoltaica se caracteriza como um gerador que utiliza o sol como fonte
primária de energia, podendo operar em sistema não conectado à rede (OFF-GRID) ou
conectado com a rede (SFCR). Os módulos fotovoltaicos são os equipamentos responsável por
captar a irradiância solar e converter em energia elétrica. Cada módulo é composto por células
fotovoltaicas, compostas de material semicondutor, conforme exposto na figura 23.

Figura 23 – Arranjo fotovoltaico em módulo fotovoltaico

Fonte: [32]

Após a geração da energia elétrica nos módulos, em corrente contínua, a energia passa
pelo inversor, o qual converte essa energia para corrente alternada e cria uma diferença angular
entre vetores de tensão do inversor e da rede, criando um fluxo de potência no sentido do ângulo
de maior valor para menor, possibilitando a injeção de potência no sistema elétrico. Dessa
forma, caso a relação Geração/Consumo da unidade seja maior que 1, ou seja, existe mais
potência sendo gerada do que consumida, haverá injeção de potência ativa na rede, surgindo
fluxo reverso de potência na rede, conforme ilustrado na figura 24.

Figura 24 – Esquema de funcionamento do SFCR

Fonte: [21]
41
Nesta configuração de sistema ilustrada, e a qual é abordada pelo presente trabalho, não
se faz uso de baterias, uma vez que o fornecimento de energia elétrica é feito pela rede quando
o SFCR não é suficiente para tal, como no período noturno. É muito importante salientar que
quando há falha no fornecimento da rede, o inversor deve ser capaz de identificar tal falta e
desligar o fornecimento proveniente do SFCR, mesmo que este seja capaz de suprir a carga por
si só. Tal função é exigida para garantir a segurança de funcionários que estejam fazendo
intervenções na rede, evitar a reenergização de dispositivos isolados da rede pela ação dos
dispositivos de segurança e até mesmo para proteger a integridade do sistema FV. Em casos
que se deseja utilizar a potência gerada pelo sistema
FV mesmo durante falhas na rede, deve ser instalado um segundo inversor fotovoltaico capaz
de operar de maneira isolada, ou um inversor capaz de trabalhar com ou sem falta, porém
sempre assegurando que o SFCR desconecte imediatamente da rede em caso de falhas.

A compensação da potência ativa excedente produzida, a qual é injetada na rede, é


regulamentada pela resolução 687/2015, a qual altera a Resolução Normativa nº 482, de 17 de
abril de 2012, e os Módulos 1 e 3 – PRODIST. Segundo RN 687, o excedente de energia é a
diferença positiva entre a energia injetada e a consumida, exceto para o caso de
empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras, em que o excedente é igual à energia
injetada. Dessa forma, o sistema deve ser capaz de contabilizar o total consumido e o total
injetado na rede, afim de verificar a resultante dessas grandezas. Com isso, justifica-se a
necessidade de instalação do medidor eletrônico de energia bidirecional, o qual é responsável
por realizar tal tarefa, conforme ilustrado na figura 25.

Figura 25 – Medição bidirecional em sistemas SFCR

Fonte: [21]

42
No caso da microgeração distribuída, o medidor bidirecional deve ser capaz de
diferenciar a energia elétrica ativa consumida da rede da energia elétrica ativa injetada na rede
pelo sistema da GD. Já para os sistemas de minigeração distribuída, deverá ser utilizado
medidor de quatro quadrantes que, os quais possibilitam a medição e faturamento de excedente
reativos, além dos recursos exigidos para o medidor utilizado na microgeração.

Para fins de compensação, a energia ativa injetada no sistema de distribuição pela


unidade consumidora será cedida a título de empréstimo gratuito para a distribuidora, passando
a unidade consumidora a ter um crédito em quantidade de energia ativa a ser consumida por um
prazo de 60 (sessenta) meses (ANEEL, 2015). Para unidades consumidoras conectadas na baixa
tensão pelo grupo B, a compensação é feita dentro de alguns limites impostos pela legislação
vigente na Resolução Normativa 687 de 2015. Desta forma, deve ser cobrado, no mínimo, o
valor referente ao custo de disponibilidade para o consumidor do grupo B, ou da demanda
contratada para o consumidor do grupo A, conforme o caso [25]. Esta afirmação expõe que,
para unidades consumidoras em baixa tensão do grupo B, mesmo que a energia injetada na rede
seja superior ao consumo por um período, ainda deverá ser cobrado o valor em Reais referente
à disponibilidade da rede elétrica, o qual é equivalente a 30 KWh (monofásico), 50 KWh
(bifásico) ou 100 KWh (trifásico). Na mesma situação para consumidores conectados em média
tensão (grupo A), caso alcance o balanço energético de consumo e geração na unidade, ainda
deverá ser cobrado o correspondente à demanda contratada [21].

2.7 LEGISLAÇÃO

Com intuito de estabelecer condições gerais para o acesso da microgeração e


minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e sistema de
compensação de energia elétrica, a ANEEL publicou a Resolução Normativa 687 de 2015 a
qual altera a Resolução Normativa 482 de 2012 e os módulos 1 e 3 do PRODIST. Dessa forma,
a norma vigente atualmente é a RN 687 para todo procedimento de acesso de GD à rede elétrica
de distribuição. Os textos que não sofreram alteração dos módulos 1 e 3 do PRODIST
continuam em vigência para o mesmo procedimento.

Para a implantação de minigeração distribuída, a unidade geradora integrada ao sistema


elétrico, o titular da unidade consumidora deve arcar com os custos para adequação de toda
infraestrutura. Tais custos se referem à adequação dos componentes do sistema de medição
43
requeridos para o sistema de compensação de energia elétrica. A distribuidora é responsável
por adquirir e instalar o sistema de medição, sem custos para o acessante no caso de
microgeração distribuída.

Em relação ao acesso à micro e minigeração distribuída, a solicitação de acesso deve


conter o Formulário de Solicitação de Acesso para microgeração e minigeração distribuída
presente em anexo na RN 687 de 2015, conforme potência instalada da geração, acompanhado
dos documentos presentes nos formulários da mesma norma. Entre as informações requeridas
para o preenchimento dos formulários encontrados na RN 687, encontra-se:

• As características do ponto de entrega, acompanhadas das estimativas dos


respectivos custos, conclusões e justificativas;
• As características do sistema de distribuição acessado, incluindo requisitos técnicos,
tensão nominal de conexão, e padrões de desempenho;
• Orçamento da obra, contendo a memória de cálculo dos custos orçados, do encargo
de responsabilidade da distribuidora e da participação financeira do consumidor;
• A relação das obras de responsabilidade da acessada, com correspondente
cronograma de implantação;
• As informações gerais relacionadas ao local da ligação, como tipo de terreno, faixa
de passagem, características mecânicas das instalações, sistemas de proteção,
controle e telecomunicações disponíveis;
• O modelo de Acordo Operativo para minigeração nos termos do ANEXO I da Seção
3.5 ou o Relacionamento Operacional para microgeração constante no ANEXO I
desta Seção;
• As responsabilidades do acessante;
• Eventuais informações sobre equipamentos ou cargas susceptíveis de provocar
distúrbios ou danos no sistema de distribuição acessado ou nas instalações de outros
acessantes;

Os prazos para a liberação do parecer de acesso são variáveis de acordo com a classe de
geração a ser instalada. Caso não haja pendências em documentação, para microgeração
distribuída, o prazo é de até 15 dias após o recebimento da solicitação contendo todas
informações, ou 30 dias quando houver necessidade de realizar obra de melhoria. Para
minigeração distribuída, o prazo é de até 30 dias após o recebimento da solicitação contendo

44
todas informações ou 60 dias quando houver necessidade de realizar obra de melhoria. Em caso
de deficiência de informações, esses prazos podem se estender.

Em relação ao dimensionamento do circuito de ligação à rede, a quantidade de fases e o


nível de tensão de conexão da central geradora serão definidos pela distribuidora em função das
características técnicas da rede e em conformidade com a regulamentação vigente. Em relação
aos equipamentos necessários, a RN 687 expõe a relação com base no nível de potência do
sistema. Segue abaixo a relação, demonstrada na tabela 1. Vale ressaltar que, com a evolução
tecnológica dos inversores fotovoltaicos que conectam o sistema à rede, vários destes
equipamentos descritos na tabela estão instalados internamente nos inversores. Dessa forma, o
sistema se torna mais robusto e com menor quantidade de equipamentos instalados
separadamente, aumentando o índice de confiabilidade de operação. Também cabe destacar que
além do regulamento em relação aos dispositivos de potência a serem utilizados, também
existem os níveis de tensão indicados de acordo com a potência instalada. A tabela 2 ilustra os
níveis de tensão de acordo com a potência da unidade, conforme exposto no Módulo 3 do
PRODIST (2017) e a RN 724, de 2016.

Tabela 1 - Requisitos mínimos em função da potência instalada.

Potência Instalada
Maior que Maior que 500
Equipamento
Menor ou 75kW e menor kW e menor
igual a 75 kW ou igual a 500 ou igual a 5
kW MW
Elemento de
Sim Sim Sim
desconexão (1)
Elemento de
Sim Sim Sim
interrupção (2)

Transformador de
Não Sim Sim
acoplamento (3)

Proteção de sub e
Sim (4) Sim (4) Sim
sobretensão

Proteção de sub e
Sim (4) Sim (4) Sim
sobrefrequência

Proteção contra
desequilíbrio de Não Não Sim
corrente
45
Proteção contra
Não Não Sim
desbalanço de tensão

Sobrecorrente
Não Sim Sim
direcional

Sobrecorrente com
Não Não Sim
restrição de tensão

Relé de sincronismo Sim (5) Sim (5) Sim (5)

Anti-ilhamento Sim (6) Sim (6) Sim (6)


Sistema de
Medição Medidor de 4 Medidor de 4
Medição
Bidirecional quadrantes quadrantes
(7)
1) Chave seccionadora visível e acessível que a acessada usa para garantir
a desconexão da central geradora durante manutenção em seu sistema,
exceto para microgeradores e minigeradores que se conectam à rede através
de inversores, conforme item 4.4 desta Seção.

2) Elemento de interrupção automático acionado por proteção para


microgeradores distribuídos e por comando e/ou proteção para
minigeradores distribuídos.
3) Transformador de interface entre a unidade consumidora e rede de
distribuição.
4) Não é necessário relé de proteção específico, mas um sistema
eletroeletrônico que detecte tais anomalias e que produza uma saída capaz
de operar na lógica de atuação do elemento de interrupção.

5) Não é necessário relé de sincronismo específico, mas um sistema


eletroeletrônico que realize o sincronismo com a frequência da rede e que
produza uma saída capaz de operar na lógica de atuação do elemento de
interrupção, de maneira que somente ocorra a conexão com a rede após o
sincronismo ter sido atingido.

6) No caso de operação em ilha do acessante, a proteção de anti-ilhamento


deve garantir a desconexão física entre a rede de distribuição e as
instalações elétricas internas à unidade consumidora, incluindo a parcela de
carga e de geração, sendo vedada a conexão ao sistema da distribuidora
durante a interrupção do fornecimento.

7) O sistema de medição bidirecional deve, no mínimo, diferenciar a


energia elétrica ativa consumida da energia elétrica ativa injetada na rede.
Fonte: [25]

46
Tabela 2 - Níveis de tensão considerados para conexão de centrais geradoras.

Potência Instalada Nível de Tensão de Conexão


< 10 kW Baixa Tensão
10 a 75 kW Baixa Tensão
76 a 150 kW Baixa Tensão / Média Tensão
151 a 500 kW Baixa Tensão / Média Tensão
501 kW a 10 MW Média Tensão / Alta Tensão
11 a 30 MW Média Tensão / Alta Tensão
> 30 MW Alta Tensão
Fonte: [26]

Para casos de conexão com a rede elétrica, o sistema de compensação de energia elétrica
é o procedimento pelo qual o excedente de potência ativa produzido pela GD será compensado.
É possível realizar a comercialização do excedente de potência produzido e não utilizado pela
unidade consumidora. Vale ressaltar que para fins de compensação, a energia ativa injetada no
sistema de distribuição pela UC será comercializada como forma de empréstimo gratuito para
a distribuidora, de forma que a UC passe a ter um crédito proporcional em quantidade de energia
ativa a ser consumida por um prazo de 60 meses, e não em forma de pagamento monetário. Os
créditos poderão ser utilizados para abonar os gastos com energia elétrica de outra unidade
consumidora, mesmo que possuam diferentes titularidades, conforme exposto pela RN nº 687
de 2015. Essa diversidade no arranjo do negócio em que a GD pode ser empregada aumenta o
uso da tecnologia, facilitando a difusão da modalidade de geração. Atualmente, emprega-se
várias formas de arranjo de mercado no uso de GD, sendo elas:

• Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras: caracteriza-se pela


utilização de energia elétrica de forma independente, em que cada consumidor
individual é uma unidade consumidora (UC). Em caso de uso comum, a UC é
caracterizada de forma distinta, sendo a mesma de responsabilidade do condomínio
ou proprietário do empreendimento.
• Autoconsumo remoto: caracteriza-se por UC’s que possuem mesma titularidade,
incluindo a Matriz e Filial, mesmo que em localidades diferentes, porém dentro da
mesma área de concessão, de forma que a energia excedente seja compensada.
• Geração compartilhada: caracteriza-se por vários consumidores reunidos na mesma
área de concessão, organizado em cooperativa composta tanto por Pessoa Jurídica
quanto Pessoa Física, que possua unidade consumidora com microgeração ou

47
minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras nas quais a
energia excedente será compensada. Cabe ao titular da unidade geradora definir a
porcentagem destinada a cada unidade consumidora que receberá a compensação.
Em caso de crédito remanescente, o mesmo será faturado para UC de destino.

Em caso de a unidade possuir diferentes postos tarifários (ponta e fora de ponta),


segundo RN nº 687 de 2015, a compensação deve ocorrer primeiramente no mesmo posto
tarifário em que a energia elétrica foi gerada, e posteriormente nos demais postos tarifários,
dentro do mesmo ciclo de faturamento, após a aplicação de um fator de ajuste. Vale ressaltar
que, estando a SFCR em operação, o consumo interno da unidade é priorizado, ou seja, somente
a potência ativa excedente é injetada na rede.

Para os sistemas de GD instalados em unidades consumidoras atendidas em tensão


primária, com equipamentos de medição instalados no secundário dos transformadores, a
contabilização dos créditos de compensação deve ser deduzida a perda por transformação da
energia injetada por essa unidade consumidora (RN nº 687 de 2015). Porém, este não é o caso
do IFG campus Itumbiara, de acordo com o exposto na norma Conexão de Micro e Minigeração
Distribuída ao Sistema Elétrico da Enel Distribuição Ceará/Enel Distribuição Goiás/Enel
Distribuição Rio número 122 versão 2. A figura 26 expõe o esquema de ligação, considerando
o cenário do IFG campus Itumbiara.

Figura 26 – Esquema de ligação definido para unidades com transformadores de potência superior a 300 kVA

48
Fonte: [27]

A potência instalada da microgeração ou minigeração distribuída participante do


sistema de compensação de energia elétrica fica limitada à potência disponibilizada para a
unidade consumidora, limite este definido pela corrente do disjuntor geral do padrão de entrada
desta unidade. O limite da potência instalada do sistema de SFCR em empreendimento de
múltiplas unidades consumidoras deve-se considerar a potência disponibilizada pela
distribuidora para o atendimento do empreendimento. Caso o consumidor deseje instalar
microgeração ou minigeração distribuída com potência superior ao limite estabelecido, deve
solicitar à distribuidora o aumento da potência disponibilizada, sendo dispensado o aumento da
carga instalada [25].

2.8 CATEGORIAS DOS SFCR

Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede são classificados pela ANEEL de acordo


com a capacidade de produção energética. Estes sistemas podem ser centralizados, formando
as usinas solares de geração, ou micro e minissistesmas descentralizados, instalados em
unidades consumidoras. Segundo RN nº 687 de 2015, a categorização é a seguinte:

• Microgeração: Potência instalada até 75kW;


• Minigeração: Potência instalada acima de 75kW até 5MW;
• Usinas de geração: Potência instalada acima de 5MW;

49
2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que a difusão do uso de energia fotovoltaica ainda está iniciando no país,
devido à baixa participação na matriz elétrica. Porém, devido à diminuição nos custos de
implantação, contínua preocupação com o desenvolvimento sustentável e facilidades
provenientes dos modelos de negócios, é evidente o crescimento futuro no uso dos SFCR.
Também se nota que é necessário empenhar esforços, afim de aplicar conceitos de engenharia
na nova topologia de rede a partir da conexão de SFCR, afim de dirimir as barreiras técnicas
para uso desta tecnologia. A partir do conhecimento das vantagens e desvantagens, requisitos
mínimos para instalação e fluxo normativo para implantação, é possível mensurar os esforços
necessários para fazer uso da tecnologia, melhorando o planejamento necessário para adotar a
tecnologia de geração em questão.

50
3.0 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


Este capítulo apresenta os aspectos da qualidade da energia elétrica, listando os
principais distúrbios e seus limites de variação de acordo com as normas vigentes, bem como
as causas e efeitos com ênfase sobre as distorções harmônicas, desequilíbrio de tensão,
flutuação de tensão e tensão em regime permanente, abordando a conceituação matemática.

3.2 QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA


O constante e expressivo crescimento da demanda nacional de energia elétrica,
juntamente com a dificuldade em construir grandes empreendimentos de geração, desperta uma
barreira, em que a inclusão da GD fotovoltaica é incentivada. Tal incentivo também é
impulsionado por questões financeiras, ambientais, sociais e técnicas, se destacando frente à
demais tipos de sistemas de geração. Para manter a QEE da rede, esses sistemas devem fornecer
energia elétrica seguindo parâmetros mínimos de qualidade, os quais devem ser compreendidos
para análise correta dos impactos técnicos na rede elétrica.

O termo “qualidade de energia elétrica”, em geral, compreende a qualidade das formas


de onda da tensão e corrente elétricas em um sistema elétrico [13]. A variação das formas de
onda ocorre devido à fenômenos eletromagnéticos, que acabam por caracterizar as formas de
onda de corrente e tensão, em um determinado instante no sistema elétrico. Logo, segundo [14],
esses fenômenos podem ser classificados em transitórios, variações RMS de curta duração e de
longa duração, variações de frequência e distorções na forma de onda. Além disso, também vale
ressaltar a importância da análise do fator de potência.

A qualidade de energia elétrica estava normalmente associada apenas à continuidade de


serviço, isto é, a duração e número de interrupções de tensão constatadas pelos consumidores.
No entanto, hoje em dia, para além deste conceito, a qualidade da energia está relacionada a um
conjunto de alterações que podem ocorrer e afetar o desempenho do sistema elétrico
indistintamente tanto as companhias de fornecimento de energia como os consumidores e
fabricantes de equipamentos. A recomendação prática para monitoração de distúrbios da
qualidade da energia elétrica, exposta pela norma IEEE Std. 1159/2009 [14], classifica os

51
principais distúrbios eletromagnéticos de acordo com suas características, apresentados na
tabela 3 a seguir.

Tabela 3 – Monitoramento de distúrbio de QEE

Categorias Conteúdo Espectral Durações Magnitudes


Transitórios
Impulsivos
Nanosegundo Acima de de 5 ms < 50ns
Microsegundo Acima de 1 µs 50 ns - 1 ms
Milisegundo Acima de de 0,1 ms > 1 ms
Oscilatórios
Baixa Frequência < 5 kHz 0,3 - 50 ms 0 - 4 pu
Média Frequência 5 - 500 kHz 20 µs 0 - 8 pu
Alta Frequência 0,5 - 5 MHz 5 µs 0 - 4 pu

Variações de tensão de
curta duração
Instantânea
Afundamento - 0,5 - 30 ciclos 0,1 - 0,9 pu
Elevação - 0,5 - 30 ciclos 1,1 - 1,8 pu
Momentânea
Interrupção - 0,5 - 3 s < 0,1 pu
Afundamento - 30 ciclos - 3 s 0,1 - 0,9 pu
Elevação - 30 ciclos - 3 s 1,1 - 1,4 pu
Temporária
Interrupção - 3 s - 1 min < 0,1 pu
Afundamento - 3 s - 1 min 0,1 - 0,9 pu
Elevação - 3 s - 1 min 1,1 - 1,2 pu

Variações de tensão de
longa duração
Interrupção sustentada - > 1 min 0 pu
Subtensão sustentada - > 1 min 0,8 - 0,9 pu
Sobretensão sustentada - > 1 min 1,1 - 1,2 pu

Desequilíbrios
Tensão - Regime permanente 0,5 - 2%

52
Corrente - Regime permanente 1 - 30%

Distorção da forma de
onda
Nível CC - Regime permanente 0 - 0,1%
Harmônicos 0 - 150⁰ ordem H Regime permanente 0 - 20%
Inter-Harmônicos 0 - 150⁰ ordem H Regime permanente 0 - 2%
Notching - Regime permanente
Ruído Faixa ampla Regime permanente 0 - 1%

Flutuação de tensão < 25 kHz Intermitente 0,1 - 7%


Variações de frequência - < 10 s Não se aplica

Fonte: [14]

A figura 27 apresenta oscilogramas dos principais distúrbios de QEE que ocorrem na


forma de onda da tensão de alimentação de um Sistema Elétrico de Potência.

Figura 27 – Oscilograma com alguns dos principais distúrbios de QEE

Fonte: [21]

A ANEEL, através do PRODIST Módulo 8 – Qualidade de Energia Elétrica, não define


com precisão todos os parâmetros ligados aos distúrbios do sistema elétrico. Porém, define com
precisão e de forma diferente do exposto pela norma IEEE Std. 1159/2009, quanto às Variações
de Tensão de Curta Duração, conforme exposto na tabela 3.

53
A seguir serão expostos e descritos alguns parâmetros indicadores de qualidade de
energia elétrica. Vale ressaltar que, no presente trabalho, serão analisados os parâmetros de
níveis de tensão em regime permanente, desequilíbrio de tensão, distorção harmônica e
flutuação de tensão.

3.1.1 TRANSITÓRIOS

Transitórios são perturbações de tensão ou corrente de duração muito curta (alguns


milissegundos), mas durante esse curto período de tempo o sistema elétrico poderá ser
submetido a grandes variações desses parâmetros. Os transitórios costumam ser subdivididos
em transitórios impulsivos ou oscilatórios. Em grande parte, surgem dos efeitos das descargas
atmosféricas (transitórios impulsivos) ou do chaveamento de cargas muito grandes ou reativas
(transitórios oscilatórios) [15].

3.1.1.1 TRANSITÓRIO IMPULSIVO

Pode ser definido como um distúrbio repentino no regime permanente da tensão ou


corrente, caracterizando-se por apresentar impulsos unidirecionais em polaridade, ou seja,
positivo ou negativo, e com frequência diferente da fundamental da rede.

3.1.1.2 TRANSITÓRIOS OSCILATÓRIOS

São alterações repentinas nas condições de regime permanente da tensão ou corrente,


caracterizando-se por apresentar impulsos com polaridade positiva e negativa. Segundo [15],
normalmente são decorrentes da energização de linhas, eliminação de faltas, chaveamento de
banco de capacitores e transformadores.

3.2 DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO

As tensões geradas em sistemas trifásicos são senoidais, com mesma magnitude e


defasadas em 120 graus. Porém, esse cenário pode sofrer alteração devido a desigualdade na
magnitude da tensão e desvios nos ângulos de fase. O desequilíbrio de tensão em uma rede é

54
um problema grave de qualidade de energia elétrica, uma vez que pode afetar significativamente
o funcionamento dos equipamentos nela conectados. Salienta-se que, esse problema atinge
principalmente sistemas de distribuição de baixa tensão. A principal causa de desequilíbrio nas
correntes, e consequentemente, nas tensões é o desequilíbrio na distribuição de cargas
monofásicas. Logo, a realização de um estudo de distribuição de cargas, considerando os
chaveamentos dessas cargas ao longo do dia e futura carga de expansão, é uma forma de atenuar
tal problema.

Outra fonte de desequilíbrios são as linhas aéreas, as quais devido à alocação geométrica
dos condutores ao longo da linha, as capacitâncias intrínsecas entre condutores de fases distintas
não são iguais. Assim, ocasiona quedas de tensões diferentes em cada fase, uma vez que cada
uma tem diferentes parâmetros. Uma forma de atenuar essa problemática é a transposição das
fases.

Atualmente, existem barreiras técnicas no cenário de microgeração distribuída no que


tange à garantia do equilíbrio de tensão entre fases. Nessa modalidade de geração, é comum o
uso de sistema monofásicos, logo, deve-se atentar para que a fase de conexão da GD mantenha
o nível de tensão permitido e que o sistema não ultrapasse os limites de desequilíbrio.

Para a regulação dos níveis de desequilíbrio de tensão da rede, existem normas que
estabelecem limites permitidos. Normas internacionais como a EN-50160 ou IEC 61000-3-x
estabelecem o limite de 1% para alta tensão e 2% para baixa tensão. No Brasil, a norma em
vigor, PRODIST módulo 8, determina que, o valor de referência nos barramentos do sistema
de distribuição, exceto em baixa tensão, deve ser igual ou menor a 2%, enquanto em baixa
tensão o valor é de 3%. A tabela 4 expõe os limites para o fator de desequilíbrio de tensão que
foi superado em apenas 5% das 1008 leituras válidas (FD95%). Vale ressaltar que, os limites
correspondem ao máximo valor desejável a ser observado no sistema de distribuição.

Tabela 4 - Limites para desequilíbrio de tensão

Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1kV 1 kV ˂ Vn ˂ 230 kV
FD95% 3,00% 2,00%
Fonte: [31]

55
Para caracterizar o nível de desequilíbrio de tensão, o PRODIST módulo 8 prioriza a
utilização do método das componentes simétricas. Nesse método, o valor é obtido através da
relação entre os módulos da tensão de sequência negativa e sequência positiva. Logo abaixo, a
tabela 5 apresenta a terminologia aplicada para cálculo do desequilíbrio de tensão.

Tabela 5 – Terminologia para cálculo do desequilíbrio de tensão

Identificação da Grandeza Símbolo


Fator de desequilíbrio da tensão FD
Magnitude da tensão eficaz de sequência negativa - frequência fundamental V-
Magnitude da tensão eficaz de sequência positiva - frequência fundamental V+
Magnitudes das tensões eficazes de linha - frequência fundamental Vab, Vbc e Vca
Valor do indicador FD% que foi superado em apenas 5% das 1008 leituras válidas FD95%
Fonte: [31]

A fórmula de cálculo é apresentada a seguir.

− 𝑉
𝐹𝐷% = 𝑉+ . 100 (1)

De acordo com equação (1), quanto maior a presença da tensão de sequência negativa,
maior o valor do desequilíbrio de tensão. Sendo assim, como consequência, a circulação da
componente negativa de tensão em sistema elétrico de potência acarreta aumento nas perdas de
energia, maior aquecimento de equipamentos elétricos, diminuição de transmissão de energia
pela componente de sequência positiva e também afeta na operação de motores de indução.

3.3 VARIAÇÕES RMS DE CURTA DURAÇÃO

Segundo [14], as variações RMS de curta duração são caracterizadas por afundamentos
e elevações, ou até mesmo pela total ausência de tensão por um período de tempo inferior a 1
minuto. Tais variações podem ocorrer sendo afundamento, elevação ou interrupção da tensão,
caracterizados cada um de forma diferente.

O afundamento de tensão é caracterizado pela redução da tensão de 10 a 90%


em relação a tensão base do sistema, com duração entre 0,5 ciclo até 1 minuto. Geralmente, os
afundamentos de tensão são causados por faltas na rede, partida de grandes motores ou conexão
de grandes cargas.

56
Já a elevação de tensão é caracterizada pelo aumento da tensão superior a 10% em
relação a tensão base do sistema, com duração entre 0,5 ciclo até 1 minuto. Geralmente, as
elevações de tensão são causadas pela conexão de bancos de capacitores e desconexão de
grandes cargas. A figura 4 apresenta uma elevação de tensão.

Por fim, a interrupção é caracterizada pela redução da tensão para valores abaixo de
10% da tensão base do sistema, com duração de até 1 minuto. Normalmente, as interrupções
são causadas por faltas na rede e falhas em equipamentos. A figura 4 ilustra uma interrupção
de tensão.

3.4 VARIAÇÕES RMS DE LONGA DURAÇÃO

Segundo [14], as variações RMS de longa duração são caracterizadas por sobre/sub
tensões ou até mesmo pela total interrupção de tensão, por um período superior a 1 minuto.

A subtensão é caracterizada pela redução de 10 a 90% em relação a tensão base do


sistema, com tempo superior a 1 minuto. Geralmente, as causas da subtensão são as mesmas do
afundamento de tensão. Já a sobretensão caracterizada pelo aumento acima de 10% em relação
a tensão base do sistema, com duração superior a 1 minuto. Normalmente, as causas são as
mesmas da elevação de tensão.

A interrupção permanente é caracterizada pela redução da tensão para valores abaixo de


10% da tensão base do sistema, com duração superior a 1 minuto. Normalmente, as interrupções
são causadas por faltas na rede, falhas em equipamentos e por desligamento programado.

3.5 HARMÔNICOS

Harmônicos são componentes, em tensão ou corrente, que são múltiplos inteiros da


frequência fundamental da rede (60 Hz para o Brasil). Combinado com a componente
fundamental da rede, resultam em uma forma de onda distorcida, conforme ilustrado na figura
28. Uma vez que os harmônicos são representações matemáticas de uma forma de onda
distorcida, através da Transformada de Fourier consegue-se substituir a onda distorcida pela
representação da soma de ondas senoidais puras, com frequências múltiplas da frequência
fundamental.

57
Figura 28 – Oscilograma com componente fundamental e harmônicos

Fonte: [40]

Os harmônicos de corrente são distúrbios de corrente produzidos pela operação de


dispositivos e cargas não lineares na rede elétrica. Tais cargas, mesmo sendo alimentadas com
tensão puramente senoidal, geram correntes não senoidais. Essas correntes distorcidas circulam
pela impedância do sistema, que é a resultante da impedância da fonte somada impedância dos
cabos condutores e transformadores, gerando uma forma de tensão distorcida. Vale ressaltar
que na geração, a concessionária produz tensão com forma de onda puramente senoidal. De
acordo com Chicco (2005) as contribuições para a distorções harmônicas são cada vez mais
significativas quando o ponto de operação do inversor é inferior a 20% da sua potência nominal,
em virtude da estratégia de controle da maioria dos inversores não conseguir encontrar ponto
de operação eficiente para entregar uma onda senoidal na saída.

Também é importante salientar que, os harmônicos de ordem 3 e seus múltiplos inteiros


ímpares, não existem quando se tem carga trifásica alimentada a três fios. Isso ocorre pelo fato
de que não existe caminho de retorno pelo neutro, uma vez que são harmônicos de sequência
zero, conforme explicitado na figura 29.

Figura 29 - Sequência de fase por ordem harmônica

Ordem (H) 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª 12ª


Freq. (Hz) 60 120 180 240 300 360 420 480 520 580 640 700
Sequência + - 0 + - 0 + - 0 + - 0

Fonte: [21]

58
Em relação aos harmônicos par, uma vez que o semiciclo positivo tem simetria com o
semiciclo negativo das ondas de corrente e tensão, eles se cancelam. Essa afirmação somente é
aplicável em cenários que é considerado ondas perfeitamente simétricas, no caso de fins
didáticos. Na prática, devido à falta de total simetria das ondas, ao realizar análises, consegue-
se observar a presença de componentes pares.

3.5.1 INDICADORES DE QEE DE DISTORÇÕES HARMÔNICAS

Afim de garantir a adequada operação do sistema elétrico e da instalação, existem níveis


a serem seguidos, para cada um dos equacionamentos para cálculo dos indicadores de distorção
harmônica. Existem instituições responsáveis por estabelecer os níveis limites para os
harmônicos, como o IEC (International Electrotechnical Commission) e IEEE (Institute of
Electrical and Electronic Engineers), sendo ambas instituições internacionais.

A norma IEC 6100-3-2 define limites de geração de harmônicos para cargas que
solicitam até 16 A de corrente em baixa tensão, com alimentação maior ou igual a 220 V. Já a
norma IEC 6100-3-4 abrange equipamentos que solicitam mais de 16 A. Outra regulação sobre
harmônicos é a IEE 519-2014, a qual é utilizada para controle de harmônicos no ponto de
acoplamento entre concessionária e indústria. Essa norma tem objetivo de regulamentar os
níveis de harmônicos que a rede elétrica recebe, não se preocupando com o que ocorre no
interior das edificações/instalações.

A regulamentação vigente no Brasil que trata de limites harmônicos é o PRODIST


(Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional) Módulo 8.
Nesse documento são estabelecidos metodologia de medição, a instrumentação, terminologia e
valores de referência para distorção harmônica de tensão. Atualmente esta resolução não
normatiza limites para harmônicos de corrente.

Com intuito de permitir a quantificação dos níveis de interferência harmônica em


determinado ponto de acoplamento à rede conforme as regulamentações, foram criados
indicadores de distorção harmônica. A tabela 6 a seguir traz a terminologia aplicável ao cálculo
das distorções harmônicas.

59
Tabela 6 – Terminologia para cálculo de harmônicos

Fonte: [31]

A distorção harmônica individual (DITh), é a relação entre a amplitude da harmônica


de ordem “h”, e a grandeza correspondente fundamental. A equação 2 mostra a formulação da
distorção harmônica individual da tensão de ordem harmônica “h” em percentual.

𝑉ℎ
𝐷𝐼𝑇ℎ % = . 100 (2)
𝑉1

Em que:

𝑉ℎ - Valor eficaz da componente harmônica individual da tensão de ordem “h”

𝑉1 – Valor eficaz da componente fundamental da tensão

Os resultados do equacionamento 2 expõe a porcentagem de distorção em relação ao


valor fundamental da onda. Por exemplo, se determinada instalação possui distorção harmônica
de terceira ordem na tensão de 11% e distorção harmônica de quinta ordem na tensão de 6%,
significa que a amplitude do terceiro harmônico de tensão é 11% em relação à amplitude da
tensão fundamental, enquanto a amplitude do quinto harmônico de tensão é 6% em relação à
60
amplitude da tensão fundamental. De acordo com a norma ABNT NBR 16.149 e IEEE
1547/2018, o limite de DITh deve ser inferior a 5% da corrente fundamental em condições
nominais de operação.

Além da distorção harmônica individual, também calcula-se a distorção harmônica total


(DTT). A DTT é a relação entre o valor eficaz das componentes harmônicas e a correspondente
grandeza fundamental. A revisão 10 do Módulo 8 do PRODIST, que entrou em vigor em janeiro
de 2018, introduziu mudanças na caracterização e quantificação das distorções harmônicas,
dividindo a DTT convencional em três grupos espectrais, os quais serão apresentados a seguir.

• DTTp: Distorção harmônica total de tensão para componentes pares não múltiplas de
3;
• DTTi: Distorção harmônica total de tensão para componentes ímpares não múltiplas
de 3;
• DTT3: Distorção harmônica total de tensão para as componentes múltiplas de 3.

A equação 3 a seguir apresenta a formulação para cálculo da Distorção harmônica total


de tensão para as componentes pares não múltiplas de 3.

√∑ℎ𝑝 𝑉ℎ2
ℎ=2
𝐷𝑇𝑇𝑝 % = . 100 (3)
𝑉1

Em que:

h – Todas as ordens harmônicas pares, não múltiplas de 3

hp – Máxima ordem harmônica par, não múltipla de 3

A equação 4 a seguir apresenta a formulação para cálculo da Distorção harmônica total


de tensão para as componentes ímpares não múltiplas de 3.

√∑ℎ𝑖 2
ℎ=5 𝑉ℎ
𝐷𝑇𝑇𝑖 % = . 100 (4)
𝑉1

Em que:

h – Todas as ordens harmônicas ímpares, não múltiplas de 3

hi – Máxima ordem harmônica ímpar, não múltipla de 3

61
A equação 5 a seguir apresenta a formulação para cálculo da Distorção harmônica total
de tensão para as componentes múltiplas de 3.

√∑ℎ3 2
ℎ=3 𝑉ℎ
𝐷𝑇𝑇3 % = . 100 (5)
𝑉1

Em que:

h – Todas as ordens harmônicas múltiplas de 3

h3 – Máxima ordem harmônica múltipla de 3

A tabela 7 abaixo ilustra os limites de distorções permitidos. Segundo [31], caso a


medição com analisador de energia seja feita com o transformador de potência com delta aberto,
os valores de DTT3 são 50% abaixo dos expostos pela tabela 7.

Tabela 7 – Limite das distorções harmônicas totais

Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1kV 1 kV ˂ Vn ˂ 69 kV 69 kV ≤ Vn ˂ 69 kV
DTT95% 10,0% 8,0% 5,0%
DTTp95% 2,5% 2,0% 1,0%
DTTi95% 7,5% 6,0% 4,0%
DTT(3)95% 6,5% 5,0% 3,0%

Fonte: [31]

3.6 FLUTUAÇÃO DE TENSÃO

Flutuação de tensão é um fenômeno de variação do valor eficaz ou de pico da tensão


instantânea, podendo ser a variação aleatória, repetitiva ou esporádica. A partir dessa afirmação
conclui-se que cause uma oscilação variável na senóide de tensão, quando comparada com a
forma de onda fundamental, conforme exposto na figura 30. No Brasil, esse parâmetro é
normatizado pelo PRODIST módulo 8, o qual fornece a forma de medição da flutuação de
tensão e também os parâmetros que devem ser medidos para realização do cálculo deste
indicador. A principal causa das variações de tensão é a variação da corrente, causada por cargas
pesadas e intermitentes, como exemplo um alto-forno.

62
Figura 30 – Flutuação de tensão

Fonte: [40]

Dentre os principais efeitos da flutuação de tensão, tem destaque a cintilação luminosa


(Efeito Flicker), o qual caracteriza-se pela percepção pelo olho humano das variações do fluxo
luminoso de uma lâmpada. Apesar de parecer um simples problema de conforto visual, porém
já foi comprovado em pesquisas que o efeito pode atingir o sistema nervoso central do indivíduo
afetado, causando disfunções neurológicas como cansaço visual, estresse mental, perda de
concentração, incômodo visual, entre outros. Operacionalmente falando, o fenômeno pode
dificultar a correta operação de contatores e relés, vindo prejudicar um processo industrial.

O âmago da determinação da qualidade da tensão quanto à flutuação de tensão é a


avaliação do incômodo luminoso provocado no consumidor alimentado em baixa tensão. Para
obtenção dos níveis de severidade de cintilação, associados à flutuação de tensão, o PRODIST
módulo 8 adota os indicadores e procedimentos definidos pela IEC 61000 - 4 – 15 [16] -
Electromagnetic compatibility (EMC) – Part 4-15: Testing and measurement techniques –
Flickermeter – Functional and design specifications provenientes da International
Electrotechnical Commision (IEC). Estes indicadores são obtidos através da medição e
processamento das tensões dos barramentos. A tabela 8 sintetiza a terminologia aplicada à
formulação de cálculo do Efeito Flicker.

63
Tabela 8 - Terminologia

Identificação da Grandeza Símbolo


Severidade de Flutuação de Tensão de Curta Duração Pst
Severidade de Flutuação de Tensão de Longa Duração Plt
Valor do indicador Pst que foi superado em apenas 5%
Pst95%
das 1008 leituras válidas

Fonte: [31]

A Pst representa o grau de severidade dos níveis de cintilação luminosa associados à


flutuação de tensão, observada em um período ininterrupto de 10 minutos. A edição 2017 do
PRODIST mantém a definição de Plt, porém não estabelece valores/limites para tal. Para
cálculo do Pst, segue equação abaixo.

𝑃𝑠𝑡 = √0,0314𝑃0,1 + 0,0525𝑃1 + 0,0657𝑃3 + 0,28𝑃10 + 0,08𝑃50

𝑃𝑖 (i=0,1;1;3;10;50) corresponde ao nível de flutuação de tensão, ou sensação de


cintilamento, que foi ultrapassado durante i% do tempo, obtido a partir da função de distribuição
acumulada complementar, de acordo com o estabelecido pela IEC 61000-4-15 [16], Flickmeter
- Functional and Design Specifications. A função de distribuição está exposta na figura 31.

Figura 31 – Distribuição Acumulada Complementar da Sensação de Cintilação

Fonte: [31]
64
O PRODIST – Módulo 8, é responsável por regulamentar os limites a serem utilizados
para avaliação do desempenho do sistema de distribuição, quanto às flutuações de tensão. A
tabela 9 ilustra esses limites.

Tabela 9 – Limites para flutuação de tensão

Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1kV 1kV ˂ Vn ˂ 230kV 69kV ≤ Vn ˂ 230kV
Pst95% 1,0 pu 1,5 pu 2,0 pu

Fonte: [31]

A partir da análise da tabela pode-se concluir que a regulamentação admite-se violação


dos limites durante 5% do respectivo tempo de observação. Vale ressaltar que os limites
correspondem ao máximo valor desejado a ser observado no sistema. Todos acessantes da Rede
Básica terão de seguir o conteúdo determinado na regulamentação do PRODIST.

Existem medidas de engenharia capazes de atenuar os níveis de flutuação de tensão em


uma instalação. Uma delas consiste no aumento da potência de curto-circuito do sistema, o qual
é responsável por limitar as amplitudes das flutuações de tensão. Esse aumento é obtido através
do aumento na potência do transformador que alimenta a carga flutuante. Outra solução possível
para atenuar o problema é a redução nos índices de energia reativa no sistema de alimentação,
o qual pode ser feito utilizando compensadores dinâmicos.

Como as análises serão feitas a partir das leituras coletadas pelo Analisador de Energia,
dispensa-se o uso do equacionamento apresentado acima. Isso se dá pelo fato de o equipamento
ser capaz de fornecer a leitura direta dos índices de Pst.

3.7 TENSÃO EM REGIME PERMANENTE

Afim de garantir o correto funcionamento do sistema elétrico, de forma a evitar falhas


no sistema, as concessionárias definem limites adequados, precários e críticos para nos níveis
de tensão em regime permanente da rede. A distribuidora de energia elétrica deve dotar-se de
recursos de engenharia para acompanhar a tensão do sistema em regime permanente, atuando
preventivamente para que a tensão permaneça dentro dos padrões adequados.

65
Com a presença de GD, alguns parâmetros da rede são afetados, como fluxo de potência
devido à existência de fluxo bidirecional de potência, perfil de perdas elétricas e o perfil da
tensão da rede. A operação dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede resulta no
comprometimento da qualidade da energia elétrica, em especial a elevação de tensão em níveis
acima do permitido [17]. Quando a potência gerada ultrapassa a potência demandada pela carga,
o excedente é injetado na rede de distribuição causando elevação de tensão no ponto de
acoplamento comum [18].

Os níveis de tensão são analisados a partir da comparação entre o valor de tensão obtido
por meio de medição correta realizada no Ponto de Acoplamento Comum (PAC) e os níveis de
tensão especificados como adequados, precários e críticos, conforme exposto no item 2 -
Módulo 8 do PRODIST. Os níveis de tensão devem estar em conformidade com o que está
exposto pela legislação em todo sistema. A ocorrência de valores adequados, precários e críticos
é verificada a partir dos valores dos índices DRP (Duração relativa de transgressão de tensão
precária) e DRC (Duração relativa de transgressão de tensão crítica). Tais índices são calculados
a partir das equações 6 e 7 a seguir, respectivamente.

𝑛𝑙𝑝
𝐷𝑅𝑃 = 1008 . 100% (6)

𝑛𝑙𝑐
𝐷𝑅𝐶 = 1008 . 100% (7)

em que nlp e nlc representam o maior valor entre as fases do número de leituras situadas
nas faixas precária e crítica, respectivamente. O limite para DRP é 3%, enquanto para DRC é
de 0,5%.

Para a rede de distribuição primária em que o IFG está conectado (13,8 kV), os limites
de tensão e variações permitidas estão expostos na tabela 10, enquanto para rede de distribuição
secundária (380v para tensão fase-fase, 220v para tensão fase-neutro), estão apresentados na
tabela 11 e 12. Vale ressaltar que adotamos a Tensão de Referência (TR) igual à tensão nominal
da rede em questão.

66
Tabela 10 - Faixa de variação de tensão

Faixa de variação da Tensão de


Tensão de Atendimento
Leitura (TL) em relação à Tensão de
(TA)
Referência (TR)
Adequada 0,93TR ≤ TL ≤ 1,05TR
Precária 0,90TR ≤ TL ≤ 0,93TR
Crítica TL ˂ 0,90TR ou TL ˃ 1,05TR
Fonte: [31]

Tabela 11 - Faixa de variação de tensão para TR em 380 volts

Faixa de variação da Tensão de Leitura


Tensão de Atendimento
(TL) em relação à Tensão de
(TA)
Referência (TR)
Adequada 353,4 ≤ TL ≤ 399
Precária 342 ≤ TL ≤ 353,4
Crítica TL ˂ 342 ou TL ˃ 399
Fonte: Autoria própria

Tabela 12 - Faixa de variação de tensão para TR em 220 volts

Faixa de variação da Tensão de Leitura


Tensão de Atendimento
(TL) em relação à Tensão de
(TA)
Referência (TR)
Adequada 204,6 ≤ TL ≤ 231
Precária 198 ≤ TL ≤ 204,6
Crítica TL ˂ 198 ou TL ˃ 231
Fonte: Autoria própria

3.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da análise deste capítulo, pode-se salientar que garantir segurança e


confiabilidade de um sistema elétrico depende do controle de diversos parâmetros, os quais
afetam diretamente na qualidade da energia elétrica do sistema. Desta forma, o planejamento
do sistema também deve envolver estudos sobre o comportamento de tais critérios, afim de
evitar baixa eficácia da instalação SFCR e multas decorrentes de operação fora dos limites
tolerados.

67
4.0 RESULTADOS

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Neste capítulo são apresentados os resultados coletados a partir das medições e dados
técnicos da instalação analisada. A coleta de dados foi feita utilizando o Analisador portátil da
qualidade da energia elétrica - PowerNET PQ-700 G4, fabricado pela IMS Power Quality. O
equipamento estava em conformidade com as normas IEC 61000-4-30 (classe S), IEC 61000-
4-7 e IEC 61000-4-15. Vale ressaltar que todos os resultados apresentados estão em
conformidade com os métodos de medição apontados em [31], afim de garantir maior
assertividade na caracterização dos dados.

4.2 DESCRIÇÃO SISTEMA FOTOVOLTAICO IFG – ITUMBIARA

Os sistemas fotovoltaicos instalados no IFG possuem uma potência total de 70,2 kWp
de módulos FV’s e estão no telhado dos blocos 300, 400, 500 todos com potência de 21,6 kWp
e no solo com 5,4 kWp. A tabela 13 ilustra as características técnicas de potência do SFCR
avaliado neste trabalho, enquanto a figura 32 mostra a distribuição física deste sistema FV do
IFG.

Tabela 13 – Relação técnica do sistema FV do IFG

N⁰ MÓDULOS POTÊNCIA
BLOCO TOTAL kWp INVERSOR kWp
FV MÓDULO (Wp)
300 80 270 21,6 20
400 80 270 21,6 20
500 80 270 21,6 20
SOLO 20 270 5,4 5

Fonte: Autoria própria

68
Figura 32 - Vista área dos sistemas fotovoltaicos instalados no IFG – Itumbiara.

Fonte: Autoria própria

No telhado de um dos blocos está instalado uma estação meteorológica, a qual é


responsável por obter todas as informações usadas neste trabalho. A estação é composta por
uma célula de referência para medição da irradiância, um sensor de velocidade dos ventos, um
sensor de temperatura ambiente e um sensor de temperatura dos módulos FV. Os dados
possuem medições com um intervalo de aquisição de cinco minutos.
A Figura 33 mostra a irradiância de um dia típico, com céu claro, obtidos pela célula de
referência instalada no campus, com valores muito próximos ao valor máximo disponível na
superfície terrestre (1 kW/m²), indicando assim condições ideias para sistemas fotovoltaicos.

69
Figura 33 - Radiação solar medida no IFG – campus Itumbiara

Fonte: Autoria própria

A partir da Figura 34 nota-se que os módulos solares alcançam temperaturas elevadas


no decorrer do dia, mesmo em um dia com temperatura ambiente por volta de 30° Celsius a
temperatura nos painéis chega alcançar 51° Celsius.

Figura 34 - Temperatura ambiente medida no IFG - Campus Itumbiara

Fonte: Autoria própria

70
O aumento de temperatura ambiente provoca um aumento de temperatura nas células
fotovoltaicas gerando assim uma queda de tensão. A corrente sofre um leve aumento em altas
temperaturas, porém não compensa em potência, as perdas causadas pela queda de tensão [22].

4.3 TRANSFORMADOR E CABEAMENTO DO IFG – ITUMBIARA

No que se diz respeito ao cabeamento, do ponto de conexão do sistema de distribuição


da Enel até o primário do transformador do IFG, são utilizados cabos do tipo Eprotenax
Unipolar de 8,7/15 kV com um condutor de 35 mm² por fase com aproximadamente 150 metros
de comprimento. Enquanto do secundário do transformador até os barramentos dos quadros de
distribuição de cada bloco do campus são utilizados cabos Sintenax 0,6/1 kV com quatro
condutores de 185 mm² por fase e um comprimento de 15 metros.

Os cabos de média tensão são subterrâneos dispostos em trifólio em um eletroduto de


PVC e os cabos de baixa tensão também são subterrâneos e estão em eletroduto PVC, porém
com uma fase por eletroduto, devido a distribuição física dos blocos do campus e a bitola dos
cabos.

O transformador da subestação do IFG é de 500 kVA, 13,8/0,38 kV ligado em delta-


estrela aterrado. O transformador possui uma porcentagem de reatância de 4,782, um
rendimento de 99,06%, perdas de operação a vazio de 0,278% e uma corrente magnetizando no
ramo magnetizante de 1,8%. O transformador encontra-se fisicamente dentro da subestação do
campus, em frente aos blocos 300, 400 e 500. Vale ressaltar que o IFG Itumbiara se enquadra
no grupo tarifário A4, conforme classificação da NTC 05.

4.4 MEDIÇÃO DE ENERGIA

O estudo foi desenvolvido no âmbito experimental, onde utilizou-se dados coletados de


um sistema fotovoltaico conectado à rede instalado no IFG campus Itumbiara. Para aquisição
dos dados, fez-se uso do Analisador portátil da qualidade da energia elétrica - PowerNET PQ-
700 G4, fabricado pela IMS Power Quality. O equipamento está em conformidade com as
normas IEC 61000-4-30 (classe S), IEC 61000-4-7 e IEC 61000-4-15. O instrumento de
medição foi conectado ao secundário do transformador do IFG.

71
Para coleta de dados, foram seguidos todos os procedimentos de medição conforme
exposto no Módulo 8 – PRODIST, de acordo com cada parâmetro a ser analisado. O
equipamento foi conectado ao secundário do transformador do IFG, conforme método exposto
no manual do fabricante, ilustrado na figura 35.

Figura 35 - Esquema de ligação utilizado para conectar o analisador da qualidade de energia elétrica

Fonte: [33]

4.5 ANÁLISE DAS CURVAS DE CARGA

Para análise dos impactos do SFCR ao perfil de potência da instalação, foi modelada
nova curva de carga, ilustrada na figura 65, considerando a demanda da instalação e a potência
gerada pelo sistema FV. Para tal análise, considera-se o fluxo reverso de potência ativa, gerado
em momentos em que a geração supera o consumo. Entretanto, neste caso, considera-se como
referência o QGBT do prédio. A potência reativa consumida não sofre alterações com a inserção
do sistema FV, uma vez que este opera com fator de potência unitário.

72
Figura 65 – Perfil da potência ativa por fase - dia 20/06

10.000

5.000

0
00:00:00
00:50:00
01:40:00
02:30:00
03:20:00
04:10:00
05:00:00
05:50:00
06:40:00
07:30:00
08:20:00
09:10:00
10:00:00
10:50:00
11:40:00
12:30:00
13:20:00
14:10:00
15:00:00
15:50:00
16:40:00
17:30:00
18:20:00
19:10:00
20:00:00
20:50:00
21:40:00
22:30:00
23:20:00
-5.000

-10.000

-15.000

FASE A FASE B FASE C

Fonte: Autoria própria

O fluxo reverso de potência ativa ocorre quando a potência atinge valores negativos.
Com análise da figura 65, pode-se notar que a potência ativa injetada na rede atingiu maiores
valores no período de sol a pico, ou seja, com maior incidência solar. Nos períodos em que não
há incidência solar os níveis de potência ativa voltam a assumir valores positivos, apontando
que há o sistema está consumindo potência da rede de distribuição. Também se verifica que na
fase C possuem maior quantidade de cargas alimentadas, devido ao menor patamar de potência
injetada na rede. Quanto maior a quantidade de potência injetada na rede, menor é a quantidade
de carga ligada à determinada fase.

Com intuito de fazer o comparativo entre o comportamento do perfil de potência ativa


do sistema, foram geradas curvas com e sem sistema FV, para um dia útil e de um dia sem
atividades escolares na instituição, expostos nas figuras 66 e 67, respectivamente.

73
-7000
-2000
13000
18000
23000
28000

3000
8000

-17000
-12000
00:00:00

3000
8000
13000
18000
23000
28000

-17000
-12000
-7000
-2000
00:30:00
00:00:00 01:00:00
00:40:00 01:30:00
01:20:00 02:00:00
02:30:00
02:00:00 03:00:00
02:40:00 03:30:00
03:20:00 04:00:00
04:30:00
04:00:00
05:00:00
04:40:00 05:30:00
05:20:00 06:00:00
06:00:00 06:30:00
07:00:00
06:40:00 07:30:00
07:20:00 08:00:00
08:00:00 08:30:00
09:00:00
08:40:00
09:30:00
09:20:00 10:00:00
10:00:00 10:30:00

POTENCIA FASE A - DOMINGO - COM FV


CURVA DE CARGA - COM FOTOVOLTAICO - 20 DE JUNHO
10:40:00 11:00:00
11:30:00
11:20:00 12:00:00
12:00:00 12:30:00
12:40:00 13:00:00
13:30:00
13:20:00

Fonte: Autoria própria

Fonte: Autoria própria


14:00:00
14:00:00 14:30:00
14:40:00 15:00:00
15:20:00 15:30:00
16:00:00
16:00:00 16:30:00
16:40:00 17:00:00
17:20:00 17:30:00
18:00:00
18:00:00
18:30:00
18:40:00 19:00:00
19:20:00 19:30:00
20:00:00 20:00:00
20:30:00
20:40:00 21:00:00
CURVA DE CARGA SEM FOTOVOLTAICO - 27 DE JUNHO

21:20:00 21:30:00

POTENCIA FASE A - DOMINGO - SEM FV


22:00:00 22:00:00
Figura 67 - Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Domingo

22:30:00
22:40:00
Figura 66 – Perfil de potência ativa comparando sistema operando COM e SEM FV – Quinta-feira

23:00:00
23:20:00 23:30:00

74
Se comparado o perfil de potência das figuras 66 e 67, nota-se que a demanda de carga
com o sistema FV desligado é muito maior na quinta-feira, dia em que a instituição está com
grande parte das cargas ligadas, enquanto no domingo o patamar de demanda chega à 1/3 em
relação à quinta-feira. Também se percebe o fluxo reverso de potência ativa, a qual está sendo
injetada na rede de distribuição, durante o período de alta geração, aproximadamente entre as
7:00h às 18:00h.

4.6 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA TENSÃO EM REGIME


PERMANENTE

O período de análise iniciou-se em 19 de junho de 2019, e finalizou em 26 de Junho de


2019, período em que o IFG estava em funcionamento normal, fora do período de férias. Os
valores mínimos e máximos para tensão de linha, estão expostos nas figuras 36 e 37,
respectivamente.

Figura 36 - Valores mínimos para tensão de linha

Fonte: Autoria própria

Figura 37 - Valores máximos para tensão de linha

Fonte: Autoria própria

De acordo com os dados coletados, os valores mínimos (figura 36) para tensão de linha
durante o período de medição, estão adequados de acordo com a tabela 11 em 3.7. Já em relação
aos valores máximos (figura 37), as tensões Ubc e Uca ultrapassaram em 0,54 volts e 0,11 volts,

75
respectivamente, o nível de tensão adequada, caracterizando a leitura como tensões críticas,
considerando a tabela 11.

Já em relação aos valores mínimos e máximos para tensão fase-neutro, estão expostos
nas figuras 38 e 39, respectivamente.

Figura 38 - Valores mínimos para tensão de fase

Fonte: Autoria própria

Figura 39 - Valores máximos para tensão de fase

Fonte: Autoria própria

Houve desconformidade quanto ao parâmetro de nível de tensão fase-neutro na fase Vbn


e Vcn durante as primeiras 1008 medições, alcançando a zona crítica de afundamento, conforme
tabela 12. Tais registros influenciaram diretamente no fator de desequilíbrio da tensão no
período em que ocorreram.

Em relação aos índices DRP e DRC, as tensões fase-neutro das fases A e B atingiram 9
vezes o nível crítica de classificação, devido às ocorrências de afundamento conforme descrito
acima. Não houveram registros na zona precária de classificação, logo DRP com valor igual a
zero. Já o índice DRC extrapolou o limite proposto pelo módulo 8 do PRODIST. A figura 40
expõe o valor dos índices.

76
Figura 40 – Indicadores DRP e DRC

Fonte: Autoria própria

A conexão do sistema fotovoltaico não impactou no nível de DRC, uma vez que pelos
horários de registros das tensões elevadas, o sistema FV estava com baixa produção, sem a
presença de fluxo reverso de potência na rede. Porém, a demanda no momento dos registros,
devido perfil de consumo da instituição, alcançou baixos valores, aumentando o perfil de tensão
da rede de distribuição. Já em relação aos afundamentos, a falta de energia na concessionária
foi a responsável por tais distúrbios.

Através da análise do histograma de tensões durante todo o período de medição, exposto


na figura 41, pode-se quantificar o número de ocorrência de acordo com o patamar de tensão
alcançado. Com isso, consegue-se afirmar que o maior número de tensões está no patamar de
1,02 p.u. para as fases A, B e C. A fase C se destacou em relação às demais, atingindo mais de
1500 registros com o patamar de 1,02 p.u. e com o menor número de ocorrências em valor
nominal de 1 p.u.. Não houveram registros de tensão acima de 1,05 p.u., limite superior de
tensão conforme [31]. No entanto, ocorreram um pequeno número de registros com valores
inferiores a 0,8 p.u., ultrapassando o limite inferior de variação de tensão, conforme [31]. Vale
ressaltar que os registros inferiores a 0,8 p.u. são provenientes da falta de energia elétrica
registrada.

77
Figura 41 - Histograma das tensões durante período de medição

Fonte: Autoria própria

Afim de garantir melhor visualização dos valores, a figura 42 ilustra o mesmo


histograma, porém com unidade de grandeza em Volts.

Figura 42 - Histograma das tensões durante período de medição

Fonte: Autoria própria

78
Conforme exposto em 3.7, a conexão de GD na rede de distribuição acarreta aumento
na tensão no PAC com a rede. A figura 43 ilustra o comparativo da tensão na fase A, alternando
em um mesmo dia da semana a conexão e desconexão do SFCR, na tentativa de fazer a
comparação com o sistema no mesmo cenário de cargas. A tensão na fase A quando há conexão
com o sistema FV é nitidamente maior, se comparada com o cenário sem conexão do sistema
FV, durante períodos em que há incidência solar.

Figura 43 – Comparativo da tensão fase A com e sem FV

Fonte: Autoria própria

Com a análise da figura 43 também pode-se notar que, no período próximo ao fim da
geração, em torno das 18:00h, no dia 27/06 a tensão na fase demonstrou-se superior à do dia
20/06, conforme curvas de potência absorvida da rede, já considerando sistema o SFCR,
ilustradas nas figuras 44 e 45.

79
5.000
15.000
25.000
35.000
45.000
55.000
65.000
75.000

-5.000
5.000
15.000
25.000
35.000
45.000
55.000
65.000
75.000

-5.000
00:00:00 00:00:00
00:45:00 00:45:00
01:30:00 01:30:00
02:15:00 02:15:00
03:00:00 03:00:00
03:45:00 03:45:00
04:30:00 04:30:00
05:15:00 05:15:00
06:00:00 06:00:00
06:45:00 06:45:00
07:30:00 07:30:00
08:15:00 08:15:00
09:00:00 09:00:00
09:45:00 09:45:00
10:30:00 10:30:00
11:15:00 11:15:00
12:00:00 12:00:00
12:45:00 12:45:00
13:30:00 13:30:00
Fonte: Autoria própria

Fonte: Autoria própria


14:15:00 14:15:00
15:00:00 15:00:00
15:45:00 15:45:00
16:30:00 16:30:00
17:15:00 17:15:00
18:00:00 18:00:00
Figura 44 - Curva de potência absorvida da rede do dia 20/06

Figura 45 – Curva de potência absorvida da rede do dia 27/06

18:45:00 18:45:00
19:30:00 19:30:00
20:15:00 20:15:00
21:00:00 21:00:00
21:45:00 21:45:00
22:30:00 22:30:00
23:15:00 23:15:00

80
4.7 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS DE TENSÃO

Durante o período de medição foram identificados alguns distúrbios elétricos.


Considerando os conceitos de variação de curta duração, conforme exposto em 3.3 e 3.4, segue
resultados obtidos referente às variações de tensão de curta duração, ilustrados pelas figuras 46
e 47.

Figura 46 - Variações de tensão de curta duração

Fonte: Autoria própria

Verifica-se que foram identificados um total de 5 variações, sendo três ocorrências AMT
(Afundamento momentâneo de tensão) e duas ATT (Afundamento temporário de tensão). A
classificação das ocorrências em momentâneas, temporárias ou interrupções é baseada nas
durações, de acordo com o exposto na tabela 3.

Figura 47 - Classificação dos distúrbios

Fonte: Autoria própria

Vale ressaltar que eventos temporários são de maior duração do que eventos
momentâneos, conforme definição na tabela 3. Para análise da magnitude da tensão durante os
distúrbios, 220 volts é o valor de referência para 1 p.u.. O caso mais crítico ocorreu na fase B,
alcançando 98,51 volts durante 5,4 segundos. Conforme avaliação da imagem acima, observa-
se que no dia 24/06/2019 ocorreram, simultaneamente, variações de mesma classificação em
fases distintas.

81
A curva de vulnerabilidade de equipamentos (ITIC) demonstra os limites de tolerância
de tensão de equipamentos eletrônicos. As regiões do gráfico indicam:

• Região cinza - Sujeito a mau funcionamento ou desligamento por afundamento


de tensão;
• Região verde – Região de tolerância de tensão;
• Região laranja – Sujeito a danos aos equipamentos por elevação de tensão;

Com isso, a partir da análise desta curva, exposta na figura 48, as fases A e B atingiram
a região cinza do gráfico por um período de aproximadamente 10 segundos, ocasionando o
desligamento no fornecimento da energia elétrica pela concessionaria.

Figura 48 - ITIC

Fonte: Autoria própria

Durante o período de medição, ocorreu uma falta de energia, a qual foi registrada pelo
analisador de energia, conforme exposto na figura 49. A partir da análise da figura 50, a qual
ilustra o comportamento da tensão durante a falta de energia, o equipamento registrou neste
momento um comportamento atípico da tensão, se comparando as magnitudes por fase.

82
Figura 49 - Registro de falta de energia

Fonte: Autoria própria

Figura 50 - Oscilograma da tensão no momento da falta de energia

Fonte: Autoria própria

Considerando análise do oscilograma das tensões de fase, observa-se o aumento no valor


da tensão Vcn em relação das demais e o afundamento de tensão nas fases Van e Vbn,
considerando que o valor de referência da tensão fase-neutro é 220 volts. Salienta-se que as
duas faltas temporárias registradas ocorram momentos após o início da queda de energia,
podendo identificar a atuação do sistema de proteção da rede da concessionária, que
interrompeu o fornecimento de energia elétrica, por questões de segurança.

4.8 ANÁLISE DE HARMÔNICOS

Para análise de distorções harmônicas, as medições se iniciaram no dia 10/06/2019 e


finalizaram em 03/07/2019, totalizando 1008 medições intervaladas em 600 segundos,
conforme exposto em [31]. Os resultados apresentados a seguir foram gerados considerando 50
como ordem harmônica máxima. A figura 51 expõe os resultados dos cálculos dos indicadores
83
de distorções harmônicas de tensão, considerando os limites para faixa de tensão igual ou
inferior a 1 kV, a qual é a faixa de tensão do secundário do transformador do IFG e utilizando
o percentual de conformidade de 95%, ou seja, admitindo que os limites sejam extrapolados em
5% das amostras coletadas (1008 amostras).

Figura 51 – Indicadores de distorção harmônica

Fonte: Autoria própria

A partir da análise dos resultados, observa-se que nenhum dos indicadores


ultrapassaram o patamar máximo regulamentado pelo PRODIST - módulo 8. Apesar de carga
ser composta em grande maioria por equipamentos que produzem correntes não lineares, como
computadores e ar condicionado, os distúrbios harmônicos permaneceram abaixo dos limites
estabelecidos. Também pode-se salientar que, os maiores valores de distorção são os de
distorção harmônica total de tensão para as componentes ímpares não múltiplas de 3
(DTTi95%). Isso ocorre devido aos tipos de cargas presentes na instalação do IFG. Os baixos
índices de distorção harmônica total de tensão para as componentes pares não múltiplas de 3
(DTTp95%) demonstram que há baixa interferência de componentes de tensão contínua no
sistema, garantindo certa simetria na forma de onda da tensão.

Os indicadores totais ilustram os valores médios e máximos alcançados com cada


categoria de distorção harmônica, ilustrados na figura 52. Através do mapeamento de todos
registros, exposto na figura 53, verifica-se que ocorreram distorções na fase B que superaram o
limite de 10% proposto pela norma, alcançando 12%. Porém, como os indicadores da figura 51
estão dentro dos limites da norma, isso demonstra que essa variação na fase B ocorreu em um
número inferior que 5% das amostras.

84
Figura 52 – Indicadores totais de distorção harmônica

Fonte: Autoria própria

Figura 53 -Distorção harmônica total de tensão por registro

Fonte: Autoria própria

Em relação ao perfil da corrente, verificou-se comportamento praticamente senoidal nos


períodos em que a produção é nominal, conforme ilustrado na figura 54. Tal comportamento da
onda de corrente caracteriza o que foi abordado no capítulo 3.5, de que a relação de potência
entregue pelo inversor e os níveis de distorções harmônicas são inversamente proporcionais.

85
Figura 54 – Perfil de corrente trifásico dia 23/06

Fonte: Autoria própria

Já no dia 23/06 pode-se observar o efeito do sombreamento parcial a partir da passagem


de nuvens, ocasionando falta de uniformidade na irradiação solar. Se a irradiação solar incidente
não for uniforme, e algumas células fotovoltaicas ficarem sujeitas a passagem de nuvens, a
potência disponível diminui, causando impactos no rendimento total da instalação e na
qualidade da energia elétrica. A figura 55 expõe o comportamento do espectro de corrente,
enquanto a figura 56 evidencia a queda na irradiação, captada através de uma estação
meteorológica localizada próxima ao sistema fotovoltaico em análise.

86
0
100
200
300
400
500
600
700
800
00:00:00
00:45:00
01:30:00
02:15:00
03:00:00
03:45:00
04:30:00
05:15:00
06:00:00
06:45:00
07:30:00
08:15:00
09:00:00
09:45:00
10:30:00
11:15:00
12:00:00
12:45:00
13:30:00

Fonte: Autoria própria


Fonte: Autoria própria
14:15:00
15:00:00
15:45:00
16:30:00
17:15:00
18:00:00
18:45:00
19:30:00
20:15:00
21:00:00 Figura 56 – Medida de irradiação pela estação meteorológica dia 23/06
Figura 55 - Perfil de corrente trifásico dia 23/06 durante sombreamento

21:45:00
22:30:00
23:15:00

87
Com análise da figura 57, pode-se verificar que o perfil da corrente RMS injetada pelo
inversor sofreu distúrbios nas três fases, devido ao fenômeno de sombreamento, caracterizada
pela queda brusca na potência entregue pelo inversor.

Figura 57 – Perfil da corrente de saída do inversor dia 23/06, nas fases A, B e C

Fonte: Autoria própria

O comportamento do DITh do dia 23 de junho é ilustrado na figura 58. Com isso, pode-
se observar que durante a queda na potência fornecida pelo inversor, evidenciada pelo
comportamento do perfil de corrente (figura 57), que houve aumento no DITh do sistema.

88
Figura 58 – Comportamento do DITh dia 23/06

Fonte: Autoria própria

O fenômeno de sombreamento não é o único responsável por atingir a capacidade de


geração do sistema fotovoltaico. Os períodos de início e final do dia, quando há baixa produção,
também se verifica aumento significativo no índice de DITh. O comportamento da corrente
durante o início e o fim do período de geração, ilustrado pelas figuras 59, 60 e 61, e o aumento
do DITh exposto pela figura 62, confirmam tais variações.

Figura 59 - Perfil de corrente fase C dia 19/06 durante início da geração

Fonte: Autoria própria


89
Figura 60 - Perfil de corrente fase A dia 19/06 durante início da geração

Fonte: Autoria própria

Figura 61 - Perfil de corrente fase B dia 19/06 durante início da geração

Fonte: Autoria própria

90
Figura 62 - Comportamento do DITh dia 19/06

Fonte: Autoria própria

Assim sendo, a produção de harmônicos de corrente pelo inversor é diretamente


dependente do nível de potência elétrica fornecido pelo sistema fotovoltaico, caracterizando
uma relação inversamente proporcional. Portanto, ocorreu intensificação nos índices de DITh
durante início e fim dos períodos de geração.

4.9 ANÁLISE DE FLUTUAÇÃO DE TENSÃO (FLICKER)

Considerando os limites expostos na tabela 8, os resultados obtidos estão dentro do


critério estabelecido pela ANEEL em regime permanente de tensão. Os resultados estão
expostos na figura 63.

Figura 63 – Indicadores de flutuação de tensão

Fonte: Autoria própria

91
Analisando os indicadores acima nota-se que o Pst95% (severidade de curta duração)
não foi superado nenhuma vez, em 5% do total de 1008 leituras, considerando o limite de 1
p.u.. A última revisão do módulo 8 do PRODIST não regulamenta os valores de Plt.

Figura 64 – Tendência de Pst

Fonte: Autoria própria

Apesar de os valores em 5% do total de medições realizadas não terem ultrapassado o


limite proposto pela norma vigente, a figura 64 ilustra que houveram alguns registros de
severidade de curta duração (Pst) acima do limite de 1,0 p.u., com ocorrência de alcance em 9
p.u.. Este valor acima do limite foi ocasionado pelos afundamentos de tensão e a falta de
energia, uma vez que o registro condiz com dia e período em que foram registrados tais
distúrbios no sistema.

4.10 ANÁLISE DO DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO

O desequilíbrio de tensão é outro indicador de qualidade da energia elétrica, o qual


também foi observado através dos dados coletados durante o período de medição. O Fator de
Desequilíbrio (FD) foi calculado por (1), de acordo com PRODIST [31]. O valor limite para o
FD95%, considerando-se tensão nominal abaixo de 1 kV, é de 3%, conforme tabela 4. O fator
FD95% representa o valor do indicador FD que foi superado em 5% das leituras válidas. A
figuras 68 representa os valores de FD95% observados diariamente, mantendo nesse patamar
de variação, exceto durante todo o período da falta de energia registrada, ilustrado pela figura
69. O eixo Y de todos os gráficos estão em unidade de porcentagem.

92
Figura 68 – FD95% para dia 19/06

0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
16:15:00

22:05:00
14:10:00
14:35:00
15:00:00
15:25:00
15:50:00

16:40:00
17:05:00
17:30:00
17:55:00
18:20:00
18:45:00
19:10:00
19:35:00
20:00:00
20:25:00
20:50:00
21:15:00
21:40:00

22:30:00
22:55:00
23:20:00
23:45:00
Fonte: Autoria própria

Figura 69 - FD95% para dia 24/06

120,00

100,00

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00
00:00:00
01:00:00
02:00:00
03:00:00
04:00:00
05:00:00
06:00:00
07:00:00
08:00:00
09:00:00
10:00:00
11:05:00
12:05:00
13:05:00
14:05:00
15:05:00
16:05:00
17:05:00
18:05:00
19:05:00
20:05:00
21:05:00
22:05:00
23:05:00

Fonte: Autoria própria

A partir da análise dos gráficos, pode-se concluir que apenas no dia 24/06 o nível de
FD95% extrapolou o limite regulamentado pela norma, alcançando o patamar de
aproximadamente 120%. Vale ressaltar que esta data é a mesma em que ocorreu a falta de
energia, exposta na figura 49. O período em que este indicador atingiu valores muito acima do
permitido, coincide com o período em que foram registrados os distúrbios de afundamento de
tensão, expostos na figura 47. Portanto, o efeito dos afundamentos de tensão e falta de energia
afetaram diretamente no indicador de desequilíbrio de tensão.

93
4.11 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao demonstrar vantagens e desvantagens do SFCR, pontos críticos de controle devem


ser observados, afim de verificar o real impacto da conexão ao sistema. Desta forma, se torna
possível realizar a análise fidedigna e dedicada ao sistema em questão, avaliando os critérios
de funcionamento conforme a legislação. Assim, a necessidade de um estudo de qualidade de
energia elétrica é capaz de caracterizar o estado de funcionamento da unidade consumidora, a
confiabilidade da operação e possíveis parâmetros que necessitam ser corrigidos. Logo, a partir
deste capítulo, foi possível observar o comportamento do sistema elétrico do IFG campus
Itumbiara após a instalação do sistema de SFCR, detalhando ocorrências e avaliando impactos.

94
5.0 CONCLUSÃO

O pensamento que as fontes de energia renováveis devem ter seu uso priorizado e
intensificado na participação da matriz elétrica, tanto por motivos econômicos, devido à
redução no preço das faturas, quanto por questões ambientais, por serem fontes inesgotáveis,
com baixo impacto ambiental, maior facilidade e rapidez de instalação, uma vez que, em grande
maioria, são incorporadas à estruturas já existentes.

Em consonância com o crescimento deste seguimento de fonte de energia está a


manutenção da qualidade da energia elétrica. O tema tem se tornado fonte de ampla discussão,
uma vez que a disseminação das fontes renováveis, em especial a fotovoltaica, está se
expandindo juntamente com a geração distribuída, fato que faz com que seja dada atenção à
todas barreiras técnicas já mapeadas, afim de contornar os efeitos negativos o uso de SFCR.
Nesta perspectiva, o presente trabalho realiza um estudo de QEE referente aos dados coletados
a partir das medições no sistema elétrico do IFG, após a instalação do SFCR.

O cenário de aumento de tensão no sistema devido à conexão do SFCR é nítido a partir


da análise do perfil de tensão com os gráficos temporais, e registros pontuais de tensão
ligeiramente acima do limite proposto. Porém, pela análise dos histogramas de tensão, esses
registros ocorrem com baixa frequência, possuindo registros somente em zona crítica baixa,
extrapolando o limite inferior proposto. Os distúrbios de afundamento estão ligados com a falta
de energia registrada, inerente às variações da rede de distribuição, caracterizando registros
momentâneos e temporários. Apesar do aumento da tensão, maior parte dos dados estão dentro
dos limites de operação, exceto durante as ocorrências de afundamento, em consequência da
falta de energia.

95
Tabela 14 – Resumo das conclusões sobre tensão em regime permanente

TENSÃO EM REGIME
PERMANENTE
REGISTROS PONTUAIS
LIGEIRAMENTE ACIMA DO
LIMITE SUPERIOR

REGISTROS EM ZONA CRÍTICA


ABAIXO DO LIMITE INFERIOR

FALTA DE ENERGIA ELÉTRICA

Fonte: Autoria própria

A ocorrência de harmônicos de tensão no sistema é inferior à 5% das amostras,


caracterizando conformidade dos registros em detrimento com o que é exposto pela norma.
Com a elaboração da nova curva de carga, foi possível identificar a existência de fluxo reverso
na rede durante horários de pico da geração, comprovando a efetividade do sistema na
compensação de potência ativa injetada no sistema. Também pode-se notar que a operação do
inversor distante de sua potência nominal, ocasiona distorções no perfil da corrente de saída do
inversor. Tais distorções ocasionam aumento no nível de harmônicos de corrente.

Tabela 15 – Resumo das conclusões sobre harmônicos de tensão

HARMÔNICOS DE
TENSÃO
EM CONFORMIDADE COM
A NORMA, DEVIDO
OCORRÊNCIAS ACIMA DO
LIMITE NÃO
EXTRAPOLAREM O TOTAL
DE 5% DAS AMOSTRAS

Fonte: Autoria própria

96
Tabela 16 – Resumo das conclusões sobre as curvas de carga

CURVAS DE CARGA

EXISTÊNCIA DE FLUXO REVERSO


NA REDE DURANTE HORÁRIOS
DE PICO DA GERAÇÃO,
COMPROVANDO A EFETIVIDADE
DO SISTEMA NA COMPENSAÇÃO
DE POTÊNCIA ATIVA

Fonte: Autoria própria

Tabela 17 – Resumo das conclusões sobre os harmônicos de corrente

HARMÔNICOS
DE CORRENTE

AUMENTO DO
DITh EM
PERÍODOS DE
BAIXA GERAÇÃO

Fonte: Autoria própria

Já em relação ao fator de desequilíbrio, os registros estão todos abaixo de 1%, exceto


no dia e período de registro da falta de energia, em que o patamar de desequilíbrio atingiu
aproximadamente 120%.

97
Tabela 18 - Resumo das conclusões sobre desequilíbrio de tensão

DESEQUILÍBRIO DE
TENSÃO

OS REGISTROS ESTÃO
TODOS ABAIXO DE 1%,
EXCETO NO DIA E
PERÍODO DE REGISTRO DA
FALTA DE ENERGIA, EM
QUE ATINGIU
APROXIMADAMENTE 120%

Fonte: Autoria própria

Por fim, é notório que os benefícios que justificam o uso e investimento desta tecnologia
superam os pontos negativos que podem trazer ao sistema elétrico. Portanto, considerando que
as análises foram feitas em um SFCR em operação, sujeito a intempéries e flutuações variáveis,
a operação deste sistema em potência nominal não prejudica a QEE da instalação, fornecendo
energia elétrica dentro dos padrões de qualidade que regem as normas.

98
6.0 TRABALHOS FUTUROS
O presente trabalho direcionou esforços para alguns parâmetros específicos de QEE.
Recomenda-se trabalhos futuros que utilizem o mesmo método de medição no mesmo sistema,
afim de analisar os demais parâmetros expostos pelo Módulo 8 – PRODIST. Afim de
acompanhar a evolução na instalação da potência total do SFCR do IFG e o impacto na QEE
do sistema, pode-se realizar trabalhos que levam em consideração os mesmos parâmetros de
QEE abordados neste trabalho, porém com maior potência instalada. Devido ao grande impacto
que o sombreamento causa no perfil da corrente, cabe a análise qualitativa destas variações,
considerando os impactos na estabilidade do sistema da instalação.

99
7.0 REFERÊNCIAS

[1] HINRICHS, R. A., & KLEINBACH, M. (2012). Energia e Meio ambiente (4ª ed.). (L. B.
Reis, Trad.) São Paulo: CENGAGE Learning.
[2] Economia da China – Santander Trade Portal. Disponível
em:<https://pt.portal.santandertrade.com/analise-os-mercados/china/economia>. Acessado em:
10/02/2018.
[3] SAUAIA, L. R. Energia Solar Fotovoltaica: Panorama, Oportunidades e Desafios.
ABSOLAR. 11/06/2018. Acessado em 25/10/2018.
[4] ANEEL. Novas regras para geração distribuída entram em vigor. Acessado em 21
janeiro de 2019. Disponível em:<http://www.aneel.gov.br>. Acessado em 15/12/2018
[5] PAULILO, G. Conceitos Gerais Sobre Qualidade da Energia. Cap. 1: Qualidade de
Energia. O Setor Elétrico. Ed 84: p 28 – 35, 2013.
[6] INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS. IFG terá sistema de geração de energia solar
fotovoltaica em nove câmpus, 2017. Disponível em:<
http://www.ifg.edu.br/component/content/article/152-ifg/campus/anapolis/noticias-campus-
anapolis/3886-ifg-tera-sistema-de-geracao-de-energia-solar-fotovoltaica-emnove-campus-2>.
IFG, Acessado em 26/02/2018.
[7] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº
482, DE 17 DE ABRIL DE 2012. Disponível em:<
http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf>. Acessado em: 22/10/2018.
[8] EPE, Empresa de Pesquisa Energética. NOTA TÉCNICA DEA 001/17 - Projeção da
demanda de energia elétrica para os próximos 10 anos (2017-2026). Rio de Janeiro, 2017.
[9] PEREIRA, E. B., MARTINS, F. R. “Atlas Brasileiro de Energia Solar (Brazilian Atlas
of Solar Energy)”. Projeto Swera. 1 Ed. São José dos Campos, 2016.
[10] TOLMASQUIM, M. T. Energia Renovável: Hidráulica, Biomassa, Eólica, Solar,
Oceânica. (Coord.). EPE: Rio de Janeiro, 2016.
[11] MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (MME). Plano Nacional de Energia 2030.
Geração de Energia Elétrica a partir de Outras Fontes. Disponível em:<
http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-165/topico-173/PNE%202030%20-
%20Outras%20Fontes.pdf>. Acessado em 10/02/2019
[12] MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (MME). Energia Solar no Brasil e Mundo.
Disponível em:<http://www.mme.gov.br/documents/10584/3580498/17+-+Energia+Solar+-
+Brasil+e+Mundo+-+ano+ref.+2015+%28PDF%29/4b03ff2d-1452-4476-907d-
d9301226d26c;jsessionid=41E8065CA95D1FABA7C8B26BB66878C9.srv154>. Edição
16/10/2017. Acessado em 5/01/2019.
[13] BOLLEN, M. H. J., RIBEIRO, P. F., GU, I. Y. H., et al. “Trends, challenges and
opportunities in power quality research”, EUROPEAN, Transactions on Electrical Power,
v. 20, pp. 3–18, 2009.
100
[14] INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS (IEEE). Std 1159-
2009: Recommended practice for monitoring electric power qualitity, 2009.
[15] ROCHA, J.E. Qualidade da Energia Elétrica. Departamento de Eletrotécnica. UTFPR.
Curitiba, 2016.
[16] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL). IEC 61000 4-15.
Disponível
em:<http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/consulta_publica/documentos/Nota%20T%C3%A9
cnica_0105_SRD-Anexo%20I%20_Relat%C3%B3rio_3_FINAL.pdf.>. Acessado em
5/04/2019.
[17] DUGAN, R. C.; MCGRANAGHAN, M. F.; SANTOSO, S. Electrical Power Systems
Quality. [S.l.]: McGraw-Hill, 2002
[18] BOLLEN, M.; HASSAN, F. Integration of Distributed Generation in the Power
System. New York: Wiley-Blackwell, 2011.
[19] SHAYANI, R. A., Método para determinação do limite de penetração da geração
distribuída fotovoltaica em redes radiais de distribuição. 2010. 161 f. Tese (Doutorado) –
Faculdade de tecnologia, Universidade de Brasília – UNB, 2010.
[20] LIMA, Rogério Lúcio; MOTTER, Daniel; VIEIRA JÚNIOR, José Carlos de Melo;
MONARO, Renato Machado. Análise de estratégias aplicadas ao ilhamento intencional de
geradores síncronos distribuídos. Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática. Belo
Horizonte/MG, 2014.
[21] FORTES, Rarison Roberto Acácio. Propagação de harmônicas produzidas por
inversores fotovoltaicos e transformadores assimetricamente magnetizados na geração
distribuída. UNESP, Ilha Solteira, 2018, 203 p.
[22] J. T. Pinho, M. A. Galdino, Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos.
CEPEL – CRESESB, Rio de Janeiro, março de 2014.
[23] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. BIG – Banco de Informações de Geração
– Capacidade de Geração do Brasil. Disponível em: <
http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acessado em
09/07/2019.
[24] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. NOTA TÉCNICA N° 0043/2010-
SRD/ANEEL: Proposta de abertura de Consulta Pública para o recebimento de contribuições
visando reduzir as barreiras para a instalação de geração distribuída de pequeno porte, a partir
de fontes renováveis, conectada em tensão de distribuição. 1 ed. Aneel, 2010. 20 p.
[25] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº
687: Altera a Resolução Normativa nº 482, de 17 de abril de 2012, e os Módulos 1 e 3 dos
Procedimentos de Distribuição – PRODIST. 1 ed. Aneel, 2015. 25 p.
[26] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº
724: Aprova revisões dos Módulos 3 e 5 dos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica
no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST e altera as Resoluções Normativas nº 395/2009, nº
414/2010 e nº 506/2012. 1 ed. Aneel, 2016. 33 p.

101
[27] ENEL. Conexão de Micro e Minigeração Distribuída ao Sistema Elétrico da Enel
Distribuição Ceará / Enel Distribuição Goiás/ Enel Distribuição Rio. 2. ed. Enel, 2018. 42
p.
[28] CELG D. NTC 05: Fornecimento de Energia Elétrica em Tensão Primária de
Distribuição. 2 ed. Celg D, 2012. 144 p.
[29] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. MÓDULO 3 – ACESSO AO
SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO: Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no
Sistema Elétrico Nacional – PRODIST. 7 ed. Brasil, 2017. 74 p.
[30] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. MÓDULO 5 – SISTEMAS DE
MEDIÇÃO: Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
– PRODIST. 5 ed. Brasil, 2017. 31 p.
[31] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. MÓDULO 8 – QUALIDADE DE
ENERGIA ELÉTRICA: Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema
Elétrico Nacional – PRODIST. 10 ed. Brasil, 2018. 88 p.
[32] GOMES, Rodolfo Dourado Maia; VARELLA, Fabiana K. de O. M.. Sistemas
Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica no Brasil: Panorama da Atual
Legislação. Campinas: IEI - International Energy Initiative, 2009. 53 p.
[33] IMS POWER QUALITY. Analisador da Qualidade da Energia Elétrica POWERNET
PQ-700 G4: Manual de Instalação e Operação. Brasil, 2016.
[34] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Geração Distribuída. Disponível em:
<http://www2.aneel.gov.br/scg/gd/GD_Fonte.asp>. Acessado em 09/07/2019.
[35] FORTES, Rarison Roberto Acácio. Distorções Harmônicas Produzidas por Inversores
de Geração Distribuída Fotovoltaica em Condição de Ressonância Paralela. UNESP, Ilha
Solteira, 2016, 124 p.
[36] CHICCO, Gianfranco; SCHLABBACH, Jurgen; SPERDINO, Fillipo. Characterisation
and assessment of the harmonic emission of grid-connected photovoltaic systems. Power
Tech, Petersburg, p. 1-7, jun 2005.
[37] (Keshav and Rosenberg 2011) Keshav, S. and Rosenberg, C. (2011). How internet
concepts and technologies can help green and smarten the electrical grid. ACM
SIGCOMM Computer Communication Review.
[38] World Energy Outlook 2017 – IEA. Disponível em:< https://www.iea.org/weo2017/>.
Acessado em 20/04/2019.
[39] IMAPS SOLARGIS. Disponível em:<https://solargis.info/imaps/>. Acessado em
15/04/2019.
[40] PINTO NETO, Aime Fleury de Carvalho. Avaliação dos impactos de sistemas
fotovoltaicos conectados à rede de distribuição de baixa tensão. 2016. 109 f. Tese - Curso
de Programa de Pós-graduação em Energia, USP, São Paulo, 2016.
[41] Operador Nacional do Sistema (ONS) – Mapa dinâmico do SIN. Disponível em:<
http://ons.org.br/paginas/sobre-o-sin/mapas>. Acessado em 15/04/2019.
[42] CÂMARA DOS DEPUTADOS. LEI Nº 10.848, DE 15 DE MARÇO DE 2004: Dispõe
sobre a comercialização de energia elétrica, altera as Leis nºs 5.655, de 20 de maio de 1971,
102
8.631, de 4 de março de 1993, 9.074, de 7 de julho de 1995, 9.427, de 26 de dezembro de 1996,
9.478, de 6 de agosto de 1997, 9.648, de 27 de maio de 1998, 9.991, de 24 de julho de 2000,
10.438, de 26 de abril de 2002, e dá outras providências. 1 ed. Câmara dos Deputados, 2004.
21 p.
[43] CASA CIVIL. DECRETO Nº 5.163 DE 30 DE JULHO DE 2004: Regulamenta a
comercialização de energia elétrica, o processo de outorga de concessões e de autorizações de
geração de energia elétrica, e dá outras providências. . 1 ed. Casa Civil, 2004.

103

Você também pode gostar