Você está na página 1de 20

Leitura: o que é e como se faz?

Mas, o que é ler?

Consideramos a leitura uma prática social que remete a outros


textos e outras leituras. Em outras palavras, ao lermos um texto,
qualquer texto, colocamos em ação todo o nosso sistema de
valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que
se deu nossa sociabilização primária, isto é, o grupo social em
que fomos criados (KLEIMAN, 2002, p. 10).

A leitura é um processo sócio-cognitivo em que o leitor utiliza


diversas estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico,
sociocultural, enciclopédico.
Leitura: o que é e como se faz?

A leitura requer a mobilização e a interação de


diversos níveis de conhecimento, o que exige
operações cognitivas de ordem superior, inacessíveis à
observação e à demonstração, como a inferência, a
evocação, a intertextualidade, a síntese e a análise
que, conjuntamente, abrangem o que antigamente
era conhecido como faculdades, necessárias para
levar a termo a leitura: a faculdade da linguagem, da
compreensão, da memória (KLEIMAN, 2002, p. 12).
Leitura: o que é e como se faz?

 Ex.:
Leitura: o que é e como se faz?
 Ex.: “Funcionária foge da reportagem quando é pega em
flagrante trabalhando precocemente. Com a Reforma da
Previdência, mais gente está querendo começar a trabalhar logo
cedo para dar tempo de aposentar antes de morrer”.

 Vídeo:
Leitura: o que é e como se faz?

A leitura é uma atividade interativa altamente


complexa de produção de sentidos, que se realiza não
só com base em elementos linguísticos presentes na
superfície do texto, mas também com a mobilização de
um vasto conjunto de saberes na prática social em que
se dão a produção do texto e a leitura.
Compreender é a mesma coisa que ler?

Compreender não é a mesma coisa que ler. Enquanto a leitura


é um ato individual, situado sócio-historicamente, e exige a
ativação de várias faculdades cognitivas para sua realização, a
compreensão é um processo ativo, uma espécie de resposta de
nosso ato de ler.
Diante de um texto, nós nos transportamos para o mundo das
intenções alheias, levando a este mundo o nosso mundo de
intenções.
Compreensão é o efeito que produzimos de um texto. Ela dá
uma ideia mais clara ainda de que o que fazemos com a
linguagem é ação.
Compreender é a mesma coisa que ler?

Dessa forma, diremos que a compreensão tem duas faces: ela é


determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como
pelo fato de que se dirige para alguém.
É por isso que podemos dizer que ela é o produto da interação
entre autor, texto e leitor.
Compreender é a mesma coisa que ler?

Os sentidos não


estarão nem no
texto, nem no leitor,
nem no autor, mas
sim numa complexa
relação interativa
entre os três e surge
como efeito de uma
negociação.
Compreender é a mesma coisa que ler?

Com isso, devemos adotar o seguinte paradigma para


entendermos o que são os processos de compreensão
textual:

ler e compreender e interpretar não são atos de


decodificação de um texto, de extrair do texto um
sentido já pronto e acabado, mas sim uma atividade de
inferência, de produção sócio-interativa de sentidos.
Noção de inferência
A atividade de compreensão se funda em ações
cooperativas e inferenciais.
As inferências lidam com as relações entre os conhecimentos
prévios, como veremos, e muitos outros aspectos. Sua
contribuição essencial na compreensão de textos é
funcionarem como provedores de contexto integrador para
informações e estabelecimento de continuidade do próprio
texto, dando-lhe coerência.
Elas são produzidas com o aporte de elementos
sociossemânticos, cognitivos, situacionais, históricos,
linguísticos, dentre outros, que operam integradamente.
Como funcionam as inferências?

São hipóteses coesivas para o leitor processar o texto.


Funcionam como estratégias ou regras embutidas na
compreensão.
É a geração de informação semântica nova a partir de
informações semânticas velhas num dado contexto.
Partindo de uma informação textual e considerando o
respectivo contexto em que o texto ocorre, nós
construímos uma nova interpretação semântica.
 A VERDADE
 Luiz Fernando Veríssimo

Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho,
deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito
brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas
águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que
fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o
anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um
canteiro de margarida. O pai e os irmãos da donzela foram atrás
do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o
mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela
disse:
- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo
homem, e o encontraram, e o mataram, mas ele
também não tinha o anel. E a donzela disse:
- Então está com o terceiro!
Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o
pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do
terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas
não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E
trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram, e
encontraram no seu bolso o anel de diamante da
donzela, para espanto dela.
- Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo, e a
deixou desfalecida - gritaram os aldeões. - Matem-no!
- Esperem! - gritou o homem, no momento em que passavam a
corda da forca pelo seu pescoço. - Eu não roubei o anel. Foi ela
quem me deu!
E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho,
pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo.
Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a
possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um
homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter
paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de
núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo "Já que
meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor". E
ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram: "Rameira!
Impura! Diaba!" e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da
donzela passou a forca para o seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
- A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela
minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a
verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
- A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe.
Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo,
não histórias de pescador.
Como funcionam as inferências?

Questões inferenciais:
1) A donzela sentada à beira do riacho costumava ir
à praia?

2) O pai e os irmãos da donzela revistaram os dois


presos antes ou depois de matá-los?

3) Quantos foram os assaltantes da donzela?


Questões inferenciais:
a) Nesse estabelecimento, os
atendentes estão todos vestidos
com camisas;

b) Nesse estabelecimento, não


se atende ninguém;

c) Nesse estabelecimento, não


se atendem pessoas que
estejam sem camisa.

Quadro geral de inferências

Você também pode gostar