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Disciplina Conformacao Mecanica Dos Meta
Disciplina Conformacao Mecanica Dos Meta
FLORIANÓPOLIS, 1985
ATUALIZADA EM 2000 por Carlos Augusto Silva de Oliveira e
digitalizada por Anderson Eduardo Santana
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO: A DEFORMAÇÃO PLÁSTICA COMO PROCESSO DE
FABRICAÇÃO 4
I.1. PROCESSOS DE FABRICAÇÃO 4
I.2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO
MECÂNICA DOS METAIS 9
I.2.1. Classificação quanto ao esforço conformante 10
I.2.2. Classificação quanto à variação relativa da espessura da peça 11
I.2.3. Classificação quanto ao regime de operação 12
I.2.4. Classificação quanto ao propósito da deformação 12
II - ASPECTOS GERAIS DA CONFORMAÇÃO MECÂNICA DOS METAIS 13
II.1. ESQUEMA GERAL DO PROCESSO DE CONFORMAÇÃO 13
II.2. DEFORMAÇÃO PLÁSTICA: ASPECTOS FENOMENOLÓGICOS 14
II.2.1. Tração uniaxial 14
II.2.2. Compressão uniaxial 19
II.2.3. Deformação plana 20
II.3. ASPECTOS CRISTALOGRÁFICOS DA DEFORMAÇÃO
PLÁSTICA 22
II.4. EFEITO DA TEMPERATURA NA DEFORMAÇÃO 29
II.4.1. Classificação dos processos quanto a temperatura 29
II.4.2. Trabalho a frio 31
II.4.3. Processos de restauração 32
II.4.4. Trabalho a morno 36
II.4.5. Trabalho a quente 37
II.4.6. Geração de calor na conformação mecânica 38
II.5. EFEITOS DA TAXA DE DEFORMAÇÃO 40
II.6. ALGUNS EFEITOS METALÚRGICOS IMPORTANTES NA
CONFORMAÇÃO 44
II.6.1. Fibramento mecânico (textura metalográfica) 44
recalcar, rebitar, estirar por tração, -Puncionar. chavetas, ajuste forçado ou alisamento, tornar áspero,
ESPACIAL DE
repuxar, rolar roscas, prensado) impregnar, recartilhar).
CRISTAIS embutimento, estiramento).
Laminação, trefilação, extrusão.
Tornear, furar, fresar, plainar, -Serrar; -Polir;
limar, alargar, escariar, raspar, -Cortar aparas. -Retificar por lapidação;
SEPARAÇÃO DE
retificar, brochar, cortar roscas -“Honing”;
MATERIAL (com tarraxa, fresa, torno ou -“Superfinish”.
pente). Usinagem com ultra-som.
-Colar; Cementação. Nitretação.
DIFUSÃO
QUÍMICOS
b)Usinagem:
Consiste na remoção (arrancamento) de partículas do material de um bloco ou forma bruta,
até se atingir a forma desejada. É efetuada com o auxilio de ferramentas adequadas de material duro
em máquinas especiais (tornos, plainas, fresadoras, etc.) (Fig. I.4) ou, em sentido mais amplo,
mediante técnicas especiais não mecânicas como a eletroerosão. A peça inicial tem origem na
fundição ou em outros processos.
A variedade de formas obteníveis por usinagem é praticamente infinita, sendo também
possível um controle rigoroso de dimensões e acabamentos. As maiores desvantagens são: perda de
material; morosidade da operação; incapacidade para alterar a microestrutura da peça, não
alterando, portanto os problemas provenientes da fundição.
c) Soldagem:
É um conjunto de processos que permitem obter peças pela união de várias partes,
estabelecendo a continuidade do material entre as mesmas e usando ou não um material adicional
para servir de ligação (Fig. I.5).
A soldagem possibilita também uma grande variedade de formas: contudo, em geral não
modifica as deficiências do material (p.ex., provenientes da fundição), podendo mesmo introduzir
outras.
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d) Metalurgia do Pó:
O metal ou liga em forma de pó é colocado em uma fôrma ou molde, comprimido
(compactado) e em seguida, ou simultaneamente, aquecido (sinterizado), em condições de
temperatura, atmosfera, tempo, etc., adequadas para que se estabeleçam ligações fortes entre as
partículas vizinhas (Fig. I.6), obtendo-se assim uma peça sólida com maior ou menor porosidade,
dependendo das condições do material e do processo. A metalurgia do pó tem experimentado nos
últimos anos um desenvolvimento intenso e rápido.
e) Conformação Mecânica:
É o nome genérico dos processos em que se aplica uma força externa sobre a matéria-prima,
obrigando-a a tomar a forma desejada por deformação plástica. O volume e a massa do metal se
conservam nestes processos.
As vantagens principais são: bom aproveitamento da matéria-prima; rapidez na execução;
possibilidade de melhoria e controle das propriedades mecânicas do material, de par com a
homogeneização da microestrutura. Por exemplo: bolhas e porosidade em lingotes fundidos podem
ser eliminados através de conformação mecânica a quente, melhorando a ductilidade e a tenacidade;
a dureza do produto pode ser controlada (p.ex., alternando etapas de conformação a frio e
recozimento); há casos em que um controle preciso do grau e velocidade da deformação, assim
como da temperatura, durante o processo, permitem otimizar a estrutura e as propriedades
mecânicas do produto [1].
É importante observar, contudo, que o ferramental e os equipamentos para conformação
mecânica são comumente caros, exigindo normalmente grandes produções para justificar-se
economicamente.
c) Processos de Tração:
O esforço conformante primariamente aplicado é de natureza trativa. Ex: o ESTIRAMENTO
POR TRAÇÃO de um retalho de chapa, preso por sua periferia, em torno de um estampo ou molde
de forma adequada (Fig. I.7-f.); a peça tem a sua área superficial aumentada às custas da sua
espessura.
d) Processos de Dobramento:
Envolvem a aplicação de momentos fletores a uma chapa, barra ou tubo, de modo a dobrar a
peça em torno de uma ferramenta apropriada (Fig. I.7-g).
e) Processos de Cisalhamento:
Aplicação de forças cisalhantes suficientemente intensas para romper o metal no plano de
cisalhamento; abrangem diferentes operações de corte de chapas, barras e tubos (Fig. I.7-h).
P
S (II.2.1)
A0
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A deformação utilizada é a deformação linear média. É obtida dividindo - se o alongamento
do comprimento-base do corpo-de-prova, L, pelo valor original desse comprimento, L0:
L L L0
e (II.2.2)
L0 L0
Medidas da resistência
A deformação é inicialmente elástica e, se o espécime fosse descarregado nesta faixa de
tensão, suas dimensões iniciais seriam recuperadas. A deformação cresce linearmente com a tensão
aplicada, sendo tanto menor quanto maior o módulo elástico (módulo de Young) do material, E:
e=S/E (II.2.3)
OBS.: As unidades de tensão mais usadas são o kgf/mm2 (sistema técnico), o Megapascal, MPa
(sistema internacional) e as unidades inglesas psi (lb/pol2) e ksi (1.000 psi); os fatores de conversão
são: 1 MPa = 106 Pa = 106 N/m2 = 1 N/mm2 = 1,45x102 psi = 0,102 kgf/mm2
1 kgf/mm2 = 1 , 42 x 10-4 psi = 9 , 806 MPa
1 psi = 7,04 x 104 kgf/mm2 = 6,93 x 10-3 MPa
A carga necessária para continuar a alongar o espécime continua crescendo mesmo depois
de iniciado o regime plástico, indicando que o material vai se tornando mais resistente, ou
endurecido, à medida que é deformado plasticamente. Tal processo de endurecimento intrínseco é
conhecido como encruamento, e decorre de fenômenos internos ao nível da estrutura cristalina do
metal, como será visto mais adiante.
Outra observação importante no que diz respeito aos metais é que o volume se mantém
constante durante a deformação plástica de qualquer tipo, de modo que no caso particular da tração
uniaxial tem-se:
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V = Ao.Lo = A.L (11.2.4)
Onde: Ao e A são respectivamente o valor inicial e o instantâneo da área da seção transversal do
corpo-de-prova.
Assim, a seção transversal vai decrescendo uniformemente ao longo do comprimento à
medida que o espécime se alonga.
Inicialmente o encruamento mais do que compensa esta diminuição de seção, de modo que a
tensão da engenharia, proporcional à carga, continua a crescer com o aumento da deformação.
Finalmente, porém, chega-se a um nível crítico de deformação em que a perda de resistência por
diminuição da seção ultrapassa o aumento de resistência devido ao encruamento, e toda a
deformação ulterior passa a se concentrar no ponto mais fraco do espécime, formando um
estrangulamento local (pescoço) ou estricção. A partir deste ponto a carga necessária à deformação
diminui e se torna instável, porque prossegue com carga decrescente até que ocorre a fratura no
ponto de seção transversal mínima, Af.
A tensão convencional máxima é chamada limite de resistência à tração e é simbolizada por
Sr (ingl: "ultimate tensile strength", UTS) e, embora resulte de um cálculo tecnicamente inexato, é
amplamente usada na prática como indicação da resistência, bem como em alguns processos como
estimativa da tensão de escoamento necessária para manter a deformação plástica.
Medidas da ductilidade
A deformação convencional final, ef, é comumente denominada alongamento ou elongação:
L L
f 0
e f
(II.2.5)
L 0
Como pode ser observado na Fig. II.2.1, ela inclui tanto o alongamento uniforme como o
localizado devido à estricção. Trata-se, portanto de um valor composto que é também sensível ao
comprimento - base empregada, já que uma menor base de medidas faria o mesmo material
apresentar um valor maior de alongamento. Por isto tem de ser fornecido, juntamente com o valor
do alongamento total, o comprimento - base sobre o qual ele foi medido.
Outra medida freqüentemente utilizada da ductilidade de um material é a redução de área, q,
medida sobre o corpo-de-prova fraturado:
q
A A
0 f
(II.2.6)
A 0
Pode-se mostrar que q é uma medida da capacidade do material para resistir a tensões
trativas triaxiais, estando, portanto relacionada a conformabilidade do material em diversos
processos [2].
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Tensão e deformação reais
A maneira tecnicamente correta de calcular a tensão real suportada pelo espécime tracionado
é dividir-se a carga pelo valor instantâneo da área da secção transversal:
= P/A (II.2.7)
Se, por sua vez, a deformação é calculada com base no comprimento instantâneo do
corpo-de-prova, L, e não no comprimento inicial, tem-se a chamada deformação real, ou natural, ou
logarítmica dada pela expressão:
ln L ln A
0
(II.2.8)
L 0
A
Se a deformação é uniforme, ou seja, antes da estricção, pode-se obter os valores reais a
partir dos nominais através das relações [1]:
= S(e+1) (II.2.9)
= ln(e+1) (II.2.10)
A diferença entre os valores reais e os nominais só se torna importante, na prática, para
deformações acima de 0,1.
A curva de tensão versus deformação reais é chamada curva de escoamento do material em
tração uniaxial (Fig.II.2.2-a). Note-se que, ao contrário da curva convencional, ela é sempre
crescente, uma vez que o material continua a encruar mesmo depois de iniciada a estricção, até a
fratura. Havendo estricção, a tensão real é calculada com base na área transversal mínima do
pescoço e a deformação real é dada por ln (A0/A) e as relações II.2.9 e II.2.10 não são mais válidas.
Fig. II.2.2: Curva tensão – deformação reais de um material que obedece a lei de
encruamento exponencial, (a) em escala normal e (b) em escala log-log
x+y+z = 0 (11.2.14)
Fig. II.2.3: Elemento de volume de um corpo submetido a tração uniaxial, mostrando (a) o
estado de tensão; (b) o estado de deformação
Fig. II.2.4: Compressão uniaxial – (a) esquema do ensaio; (b) estado de tensão; (c) estado de
deformação
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II.2.3. Deformação plana
Muitos processos de deformação de interesse prático ocorrem sob condições tais que há
pouco ou nenhum deslocamento de material em uma dada direção, ou seja, a deformação em uma
das direções principais é desprezível ou nula. Tal situação é denominada deformação plana, ou
biaxial (ingl. "plane strain"). A tensão dominante pode ser tanto trativa como compressiva.
De vez que um material plástico tende em princípio a se deformar em todas as direções, para
desenvolver-se um estado de deformação plana é preciso que o escoamento fique impedido em uma
direção. Tal restrição pode ser produzida por um anteparo externo lubrificado, tal como as paredes
de uma matriz (Fig. II.2.5-a) , ou pode surgir numa situação em que somente parte do material sofre
deformação e o restante, fora da região plástica, impede o espalhamento desta região (Fig. II.2.5-b).
Encontram-se situações de deformação plana no forjamento, na laminação de tiras e chapas, na
trefilação de tubos, no dobramento de chapas largas, no embutimento e, em geral, no processamento
de formas basicamente planas.
Fig. II.2.5: Maneiras esquemáticas de produzir deformação plana: (a) num forjamento em
matriz (o material se expande apenas na direção y); (b) num puncionamento
No chamado ensaio de compressão plana ou ensaio Ford [1], duas placas rígidas são
carregadas contra uma tira ou chapa de modo a comprimir uma zona estreita de metal ao longo da
largura, produzindo escoamento através da espessura (Fig. II.2.6-a). Os estados de deformação e de
tensão num elemento da zona plástica são representados na Fig. II.2.6-b e -c. Com lubrificação
adequada o atrito nas interfaces tira-placa pode ser praticamente eliminado, de modo que a tira fica
livre para alongar-se na direção 1, onde = 0. A restrição imposta pelo material não tensionado de
ambos os lados da zona plástica - traduzida mecanicamente pela tensão compressiva 2 - evita que
a tira se deforme na direção da largura, tal como se verificaria numa laminação (Fig. II.2.7). O
ensaio simula também o estado de tensão encontrado neste processo.
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Fig. II.2.6: (a) Esquema do ensaio Ford (compressão plana); (b) estado de deformação; (c)
estado de tensão.
Fig. II.2.7: Esquema da laminação de uma placa, mostrando o estado de deformação plana
(largura inalterada)
A condição 2 = 0 é usualmente obtida se w/b5 e b/h está entre 2 e 4 [1, 7]. A tensão e a
deformação verdadeiras neste ensaio podem ser determinadas pelas seguintes expressões:
cp = 3 =P/wb (II.2.17)
cp = - 3 = ln(h0/h) (II.2.18)
A Fig.II.2.8 mostra resultados obtidos pelo ensaio Ford à temperatura ambiente em aço
doce, cobre e alumínio [10].
A pressão média sob as placas compressivas é cerca de 15,5% maior do que seria no ensaio
correspondente de compressão simples (uniaxial com deformação triaxial). A curva
tensão-deformação reais na compressão simples (cs versus cs) pode ser obtida a partir da curva
correspondente de compressão plana (cp X cp) mediante as relações [1].
Fig. II.2.8: Curvas exponenciais de escoamento em compressão plana para aço doce, cobre e
alumínio à temperatura ambiente
Um exemplo de deformação plana com tração é encontrado na parede de um copo que está
sendo embutido, onde a presença do estampo impede a contração circunferencial da peça, podendo
o material apenas estirar-se na direção de embutimento (axial) e diminuir na direção da espessura
(Fig. II.2.9).
Após à descoberta da difração de raios X através de cristais metálicos, por Von Laue, em
1912 e à constatação de que os metais são fundamentalmente constituídos de átomos dispostos em
redes geométricas específicas, têm sido realizadas inúmeras investigações das relações entre a
estrutura atômica e o comportamento plástico dos metais. A análise difratográfica mostra que os
átomos num cristal metálico estão arranjados em um padrão tridimensional regular e repetido no
espaço.
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Quando observada ao microscópio ótico, a superfície de um cristal metálico deformado
plasticamente apresenta degraus (fig. II.3.la), sugerindo que a deformação ocorre pelo deslizamento
de uma parte do cristal sobre a outra. Sob ampliações maiores cada degrau aparece composto de
muitos degraus menores (fig. II.3.1b), indicando que ocorre um deslocamento ao longo de certos
planos preferenciais (planos de deslizamento). Tal efeito é fácil de visualizar, considerando-se um
cristal em escala atômica sob ação de uma tensão cisalhante ele pode assumir a configuração
mostrada na figura II.3.2.
O deslizamento, porém não ocorre pelo movimento em massa de porções adjacentes inteiras
do cristal, mas pelo movimento de defeitos lineares (discordâncias ou deslocações) nos planos de
deslizamento preferenciais. Em seu conceito mais simples, uma discordância pode ser considerada
como uma linha ou plano extra de átomos inserido na estrutura (fig. II.3.lc); assim, basta que esta
linha extra de átomos se mova ao longo do plano de deslizamento, em vez de se moverem centenas
de milhares de átomos ao mesmo tempo sobre toda a superfície de deslizamento. Muitas das
características da deformação dos metais podem ser interpretadas considerando-se a facilidade com
que essas discordâncias podem se mover e os obstáculos que podem impedir ou deter o seu
movimento.
Fig. II.3.1: Deformação de um monocristal em tração (a) com baixa ampliação, (b) com alta
ampliação, e (c) na escala atômica
É importante notar que, para que a deformação plástica comece, as tensões cisalhantes têm
que atingir um valor crítico sobre o plano de deslizamento [1, 2].
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É de se esperar que o deslizamento das discordâncias seja mais fácil sobre os planos que
possibilitem o movimento mais suave, menos irregular. De fato se constata que o deslizamento
ocorre mais prontamente nos planos mais compactos e ao longo das direções cristalográficas de
maior densidade atômica da estrutura.
Como se sabe, muitos metais comuns (ex.: Al, Ni, Cu, Ag, Au, Pb) apresentam a estrutura
cúbica de faces centradas (CFC) (fig. II.3.3a), que possui quatro planos equivalentes compactos (os
planos octaédricos {111}) com três direções de deslizamento equivalentes <110>, dando um total
de 12 sistemas de deslizamento (i.e., combinações de planos e direções de deslizamento)
independentes. Assim, se o deslizamento ficar prejudicado sobre um dado plano por causa de
obstáculos ao movimento das discordâncias, haverá sempre a probabilidade de que algum outro
sistema de deslizamento esteja orientado favoravelmente com relação às máximas tensões
cisalhantes e possa entrar em operação. Conclui-se, portanto que os metais CFC devem ser muito
deformáveis em todas as temperaturas - o que é de fato uma característica dos metais citados acima,
bem como do ferro acima de 906 0C, a temperatura de transformação para a forma CFC (chamado
ferro gama, ou austenita) [2].
A estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) (fig. II.3.3b), apresentada pelo ferro alfa
(abaixo de 906 0C), titânio beta (acima de 880 0C) e Nb, Cr, Ta, Mo, V, W, não possui planos
compactos como os {111} da CFC, mas contém direções compactas nas diagonais dos cubos,
<111> . Os planos {110} são os de maior densidade atômica, mas há diversos outros planos de
densidade quase igual e que também contêm as direções <111>, de modo que esta estrutura possui
48 sistemas de deslizamento. Contudo, como os planos não são compactos, as tensões necessárias
para iniciar o deslizamento são mais elevadas e a deformabilidade é menor do que na estrutura CFC
[1].
A estrutura hexagonal compacta (HC) (fig. II.3.3c) possui apenas um plano compacto, o
basal (0001), e três direções compactas, as diagonais das bases <1120> ; existem portanto, em
princípio, apenas três sistemas de deslizamento. Metais como Zn, Cd, Mg a Co operam com tais
sistemas, contudo, metais em que a relação entre a altura e a aresta basal da célula unitária, c/a, é
apreciavelmente menor do que o valor teórico 1,6333 - como é o caso do titânio alfa (c/a=1,587
abaixo de 880°C) e do zircônio - apresentam deslizamento preferencial sobre os chamados planos
prismáticos e piramidais (fig. II.3.3d). Em todos os casos, o número limitado de sistemas de
deslizamento é a razão para a ductilidade relativamente baixa dos metais HC [l].
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Fig. II.3.3: Planos e direções de deslizamento (“slip”) nas estruturas (a) CFC, (b) CCC, (c)
hexagonal com relação c/a alta, e (d) hexagonal com relação c/a baixa
Maclação
Freqüentemente, a deformação nos metais HC é ajudada pelo mecanismo denominado
maclação (ou geminação), fenômeno que ocorre quando uma parte do cristal "flamba" assumindo
uma nova orientação tal que forma uma imagem especular do restante não deformado do cristal (fig.
II.3.4). Com isto, outros sistemas de deslizamento são trazidos para posições favoráveis com
respeito às tensões cisalhantes máximas, possibilitando maior deformação.
A maclação pode ser produzida por deformação mecânica em metais HC e CCC, sendo
favorecida por baixas temperaturas a por altas velocidades de deformação; mas pode também ser
produzida por um recozimento em seguida à deformação. Os metais CFC, que normalmente não
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formam maclas por deformação mecânica freqüentemente passam a exibi-las ao serem recozidos
após uma deformação a frio. A presença de maclas na microestrutura de um metal recozido é,
portanto uma boa indicação de que ele foi deformado plasticamente antes do recozimento.
Deformação de monocristais
A quantidade de deformação sofrida por um monocristal solicitado mecanicamente depende
da magnitude da tensão cisalhante produzida pelas forças externas, da geometria da estrutura
cristalina e da orientação dos planos de deslizamento ativos com respeito às tensões cisalhantes. O
deslizamento começa quando a tensão cisalhante sobre o plano de deslizamento e paralela à direção
de deslizamento atinge um valor limite chamado tensão cisalhante crítica resolvida (TCCR). Este
valor é o equivalente, para o monocristal, do limite de escoamento de uma curva tensão –
deformação de policristais, e depende basicamente da composição e da temperatura.
Considere-se, por exemplo, um monocristal carregado em tração uniaxial. Se os extremos do
cristal forem livres para se deslocar lateralmente, o deslizamento ocorrerá uniformemente sobre
todos os planos de deslizamento ao longo do corpo de prova (fig. II.3.5a). Nas máquinas de ensaio
normais, porém, as garras tracionadoras (guias) se mantêm alinhadas, de modo que o eixo do
corpo-de-prova permanece fixo a os planos de deslizamento são obrigados a girar em direção ao
eixo de tração, ocorrendo uma flexão nos planos da região próxima às guias (fig. II.3.5b). É também
possível, se o metal possui grande número de sistemas de deslizamento (caso típico do sistema
CFC), ocorrer um duplo deslizamento, com dois ou mais planos de deslizamento operando
simultânea ou alternadamente (fig. II.3.5c).
Em geral, portanto, durante a deformação ocorre não só um deslizamento de partes do cristal
umas com relação às outras, mas também uma rotação dos planos de deslizamento, sobre a direção
de solicitação no caso de tracionamento e transversalmente a ela no caso de compressão.
Policristais e textura
Os produtos metálicos comerciais são em geral constituídos de um número enorme de
cristais individuais, ou grãos, agregados entre si. Quando um policristal sofre deformação plástica, a
continuidade e coesão entre os grãos são mantidas, contudo, como grãos vizinhos podem ter
orientações muito diferentes entre si, poderá haver consideráveis diferenças em deformação e
tensão locais entre grãos vizinhos e dentro de cada grão. É comum ocorrerem rotações da rede
cristalina de cada grão.
Em conseqüência dessas rotações da rede cristalina, um metal policristalino que sofreu uma
severa deformação - por laminação ou trefilação, por exemplo - desenvolve uma orientação
preferencial, ou textura cristalográfica, na qual certos planos cristalinos tendem a se orientar de
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maneira preferencial com respeito à direção de máxima deformação. O tipo de orientação
preferencial que se desenvolve depende primariamente do número e tipo de sistemas de
deslizamento disponíveis na estrutura cristalina e das deformações principais, bem como, em alguns
casos, da temperatura. Um número pequeno de sistemas de deslizamento disponíveis favorece a
formação de uma determinada textura; assim, os metais de estrutura hexagonal desenvolvem uma
forte textura após deformações relativamente pequenas (20 a 30%), enquanto que os metais CFC só
passam a apresentá-la, e de modo menos intenso, após deformações da ordem de 50%.
Fig. II.3.5: Deformação de um monocristal em tração (a) com deslocamento transversal, (b)
sem deslocamento transversal, e (c) com duplo deslizamento
Nos arames, fios e barras trefilados ou laminados a textura que se desenvolve normalmente é
simétrica com relação ao eixo longitudinal da peça, apresentando uma certa direção cristalográfica
paralela a este eixo (textura fibrosa). Nos metais CCC esta direção é <110> ; nos CFC pode ser
tanto <111> (predominante no Al) como <100> (predominante em Ag, Cu, latão). Nos HC, p.ex. no
Mg, a direção <1010> coincide com o eixo da peça.
Nas chapas laminadas a textura é descrita pelos planos cristalográficos paralelos à superfície
da chapa bem como pelas direções cristalográficas deste plano que ficam paralelas à direção de
laminação. Nos metais CFC encontram-se as texturas {110} <112> e {112} <111> ; nos CCC
predomina {100} <110> e nos HC o plano basal tende a ficar paralelo ao plano da chapa com as
direções <2110> alinhadas na direção de laminação.
Macroscopicamente o desenvolvimento de tais texturas fica evidente nas variações do
módulo de elasticidade, limite de escoamento, alongamento e muitas outras propriedades conforme
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a direção em que são medidas (anisotropia plástica). A caracterização mais conveniente é realizada
através da medição das deformações transversais em ensaios de tração de amostras de chapas.
Num material isótropo (sem textura) a deformabilidade é a mesma em todas as direções, é o
caso de um agregado policristalino cujos grãos estejam orientados de maneira totalmente aleatória.
Assim, uma amostra de chapa submetido a tração simples mostraria iguais deformações na largura,
w , e na espessura, t. A razão entre elas, chamada razão ou índice de anisotropia plástica, R = w
/t), seria igual a um (fig. II .3.6a).
Devido também à existência de anisotropia no plano da chapa, geralmente são definidos dois
parâmetros:
a) Coeficiente de anisotropia normal ( R ):
R0 2.R45 R90
R (II.3.1)
4
onde: Ro, R45 e R90 são os valores de R medidos a 0, 45 e 90 com a direção de laminação
(fig.II.3.6b).
Este parâmetro indica a habilidade de uma certa chapa metálica resistir à deformações na
espessura, quando submetida a forças de tração e/ou compressão, no plano da mesma.
b) Coeficiente de anisotropia planar (R):
R0 2.R45 R90
R (II.3.2)
2
Fig. II.3.6: Medição da anisotropia num ensaio de tração: (a) definição das deformações, e
(b) definição das direções de ensaio
29
Um material isotrópico tem R = 1 e R = 0. Um valor de R 1 indica que a resistência da
chapa na direção da espessura é maior do que na largura (diz-se que a chapa está reforçada por
textura), o que é vantajoso em operações de embutimento; em caso contrário, a chapa é dita
amolecida por textura. Nos metais CCC, como os aços, consegue-se na prática valores de R até 2,0;
metais HC, como o titânio, permitem R da ordem de 5 a 6.
A tendência a formação de “orelhas” na estampagem é função da anisotropia planar.
As "orelhas" se formam a 0 e 90° com a direção de laminação, quando o coeficiente de anisotropia
planar (R) é maior que zero e a 45 e 135° com a direção de laminação, quando o coeficiente de
anisotropia planar é menor que zero.
Onde: D é o diâmetro médio dos grãos, o é uma tensão de fricção interna do material e k é uma
constante que é função do material.
O controle do tamanho de grão durante a fabricação é um meio poderoso de melhorar as
propriedades tanto de fabricação como de serviço dos materiais.
Figura II.4.1- Variação da tensão de compressão com a deformação em função da temperatura para
um aço de baixo carbono
Figura II.4.4: Alterações na resistência, ductilidade e microestrutura durante (a) trabalho a frio, (b)
recuperação e (c) recristalização.
Tabela II.4.1: Temperaturas de Recristalização para alguns metais e ligas de uso comum
MATERIAL Temperatura de Recristalização (oC)
Cobre Eletrolítico (99,999%) 121
Cu – 5% Zn 315
Cu – 5% Al 288
Cu – 2% Be 371
Alumínio Eletrolítico (99,999%) 279
Alumínio (99,0%) 288
Ligas de Alumínio 315
Níquel (99,99%) 571
Monel (Ni – Cu) 593
Ligas de Magnésio 252
Ferro Eletrolítico 398
Aço de Baixo Carbono 538
Zinco 10
Chumbo -4
Estanho -44
Embora os recozimentos aumentem o custo do processo (sobretudo com metais reativos, que
têm de ser recozidos em atmosferas inertes ou em vácuo), fornecem também grande versatilidade,
pois ajustando-se adequadamente o ciclo TF- recozimento, pode-se obter qualquer grau desejado de
encruamento no produto final:
Se este é para ser mais resistente do que o material integralmente recozido, então a operação
final é um passe de TF com o grau de deformação necessário para dar a resistência desejada,
seguindo-se geralmente um aquecimento de recuperação (abaixo da temperatura de
recristalização) apenas para aliviar as tensões residuais;
Obs: este procedimento é mais adequado do que tentar controlar a resistência da peça encruada por
recozimento, porque o processo de recristalização avança rapidamente e é muito sensível a
pequenas flutuações de temperatura no forno.
Se o que se quer é o material inteiramente amolecido, então o recozimento é a operação final.
É habitual produzir-se artigos trabalhados a frio (como tiras, chapas e fios) com diferentes
classificações, dependendo do grau de encruamento, conforme mostrado na tabela II.4.2, para
35
chapas de aço laminadas a frio. Cada estado (inglês “temper”) indica uma diferente porcentagem de
trabalho a frio após o último recozimento. A classificação varia conforme o metal, sendo em geral
baseada em valores comparativos do limite de resistência à tração, e não em valores de dureza de
penetração. Também nem todas as ligas admitem os graus de encruamento correspondentes às
classes mais elevadas.
Figura II.4.5: Efeito do trabalho a frio prévio e da temperatura de recozimento sobre o tamanho de
grão do material recozido (para um tempo de recozimento constante).
Tabela II.4.2 : Tabela comercial Brown & Sharp mostrando as diversas classificações em função do
grau de encruamento
Designação Comercial r (%) Classe B & S
Chapa Recozida Soft temper 0 -
Chapa ¼ dura Quarter hard 11 1
Chapa meio dura Half (medium) hard 21 2
Chapa ¾ dura ¾ hard 29 3
Chapa (100%) dura (full) hard temper 37 4
Chapa extradura extra-hard 50 6
Chapa com dureza de mola spring temper 60 8
Chapa extramola extra-spring 68 10
DESVANTAGENS:
Necessidade de equipamentos especiais (fornos, manipuladores, etc.) e gasto de energia para
aquecimento das peças;
Reações do metal com a atmosfera do forno, levando as perdas de material por oxidação e
outros problemas relacionados (p.ex., no caso dos aços, ocorre também descarbonetação
superficial. Metais reativos, como o titânio, ficam severamente fragilizados pelo oxigênio e tem
de ser trabalhados em atmosfera inerte ou protegidos do ar por uma barreira adequada);
Formação de óxidos, prejudiciais para o acabamento superficial;
Desgaste das ferramentas é maior e a lubrificação é difícil;
Necessidade de grandes tolerâncias dimensionais por causa das expansões e contrações
térmicas;
Estrutura e propriedades do produto são menos uniformes do que em caso de TF seguido de
recozimento, pois a deformação, sempre maior nas camadas superficiais, produz nas mesmas
uma granulação recristalizada mais fina, enquanto que as camadas centrais, menos deformadas e
sujeitas a um resfriamento mais lento, apresentam crescimento de grãos.
Para uma deformação, = 1,0 tem –se Tmáx igual a 74oC para alumínio, 277oC para ferro e
571oC para o titânio.
Se a velocidade de um dado processo é alta, a perda de calor gerado será pequena e o
aumento efetivo da temperatura será próximo do valor teórico.
C m ,T (II.5.2)
Um valor alto de m significa, naturalmente, que será preciso um esforço muito maior para
deformar o material com taxas de deformação elevadas. Mas implica também maior resistência à
fratura em tração: uma vez que ao surgir um pescoço incipiente, a deformação fica aí
momentaneamente concentrada e o pescoço fica submetido a uma taxa de deformação mais alta do
que o material adjacente não estriccionado; conseqüentemente ele oferece maior resistência à
deformação e não se estreita mais. Em vez disso, o pescoço se propaga ao longo de todo o
comprimento (fig. II.5.3). Assim, verifica-se que (do mesmo modo que para o expoente de
encruamento n) um valor alto de m também indica um maior valor possível de alongamento, o que é
importante em operações onde ocorre estiramento.
Fig. II.5.3: Alongamento de materiais com alta sensibilidade à taxa de deformação, em tração
uniaxial
Fig. II.6.1: Etapas do forjamento do garfo do freio de uma locomotiva. A solução (a) apresenta uma
orientação mais favorável das fibras mecânicas, proporcionando maior tenacidade à peça
Aços
Os aços são produzidos em chapas, placas, fios, barras, tubos, perfis, forjados e outros
conformados, em grandes quantidades. Mediante uma seleção adequada dos elementos de liga e/ou
dos tratamentos térmicos, eles podem ser ajustados em uma ampla faixa de dureza, resistência ao
escoamento, à ruptura, à fadiga, ao calor, à corrosão; ductilidade, tenacidade, usinabilidade, etc. Os
aços de baixo e médio carbono representam as maiores tonelagens; para trabalho em chapas são
utilizados ou tais como laminados ou após recozimento. O recozimento prévio é essencial para uma
severa deformação a frio; e faz-se via de regra um recozimento de esferoidização para as aplicações
mais exigentes tais como a extrusão a frio. Como se sabe, a distribuição esferoidal dos carbonetos
aumenta a ductilidade e diminui a resistência.
Os aços-liga tratáveis termicamente são mais trabalháveis no estado recozido; teores
crescentes de carbonetos aumentam o esforço necessário à conformação e o desgaste das
ferramentas, e reduzem a ductilidade. Estes materiais são usualmente trabalhados a quente, já que
na faixa austenítica a sua resistência não é muito maior que a dos aços ao carbono. Também os aços
inoxidáveis austeníticos e ferríticos podem ser trabalhados a quente com as devidas precauções; e
aqueles que contêm ao mesmo tempo níquel e cromo incluem-se entre os materiais mais
trabalháveis a frio por causa de sua alta taxa de encruamento.
Ligas de alumínio
Um dos segmentos que mais tem crescido na indústria de conformação é o de ligas de
alumínio. Sendo CFC, o alumínio é facilmente deformável em todas as temperaturas. Com o auxílio
de mecanismos de solução sólida e de endurecimento por precipitação pode-se produzir materiais
de grande resistência com uma relação resistência/peso freqüentemente não ultrapassada. Na
indústria aeronáutica, principalmente, e na automobilística usam-se ligas endurecíveis de alumínio
que podem apresentar resistência de até 550 MPa apesar da baixa densidade (2,8 t/m 3). A
resistência à corrosão e o baixo peso tornam as ligas de Al atraentes para inúmeras aplicações
domésticas e nas indústrias de alimentos, recipientes, construção naval e química. Pode-se também
obter condutividade elétrica equivalente à do cobre a um custo não raro menor e, especialmente
com seções transversais maiores, não há problemas de instalação.
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Ligas de magnésio
A estrutura hexagonal do magnésio torna-o frágil na temperatura ambiente, mas ele é
facilmente trabalhável em temperaturas moderadamente elevadas, tipicamente acima de 200C, nas
quais ainda não surgem problemas de ferramental ou lubrificação. Exploram-se a adição de
elementos de liga em solução sólida e o endurecimento por precipitação para obter material de
maior resistência. A indústria aeronáutica utiliza forjados de ligas de magnésio cuja resistência não
muito alta (350 MPa) é compensada pela sua baixa densidade (1,8 t/m3).
Ligas de cobre
O cobre é um dos materiais mais dúcteis, e suas ligas em solução sólida com zinco (latão),
estanho (bronze estanoso), alumínio (bronze alumínico), berílio (bronze berílico), níquel
(cuproníquel) e ligas ternárias (tais como a chamada "prata de níquel", uma liga Cu-Ni-Zn)
preservam a maior parte destas qualidades desejáveis, freqüentemente com maiores resistências ao
escoamento, à fadiga, à corrosão e propriedades de alta temperatura.
A maior parte das ligas a base de cobre é prontamente trabalhável a frio e a quente, embora
algumas exijam considerável habilidade. O cobre puro tem a maior condutividade elétrica após a
prata, encontrando por isto grande aplicação na indústria eletrotécnica. A indústria automotiva
emprega ligas de cobre em razão de sua boa resistência mecânica (400 MPa) e à corrosão.
Ligas de titânio
O titânio pesa 4,5 t/m3 e atinge resistências de 600 a 700 MPa, podendo chegar a 1.200 MPa
quando ligado; assim, é um dos materiais que apresentam melhor relação resistência/peso (os aços
com valores similares de resistência pesam 7,8 t/m3). Apresenta alta resistência à corrosão, sendo
por isto muito empregado na indústria química. Ligas do titânio tornaram-se indispensáveis para
componentes críticos de aeronaves e para peças do compressor de motores a jato. O titânio
hexagonal, estável à temperatura ambiente, não é particularmente trabalhável, mas a forma CCC
(acima do 880C) é muito dúctil. A trabalhabilidade a quente das ligas depende muito de fatores
como temperatura, taxa de deformação, microestrutura, etc. e as condições de trabalho permitem
variar grandemente as propriedades mecânicas do produto.
c = e.f(a).h(g)
onde:
e = resistência do material ao escoamento no estado de tensão que prevalece no processo
(i.e., uniaxial, deformação plana, flexão, etc.); é função da temperatura, do grau de
deformação e da taxa de deformação.
f (a) = uma expressão para o atrito na interface peça-ferramenta.
h (g) = uma função da geometria do ferramental e da geometria da deformação, podendo
incluir ou não uma contribuição proveniente da deformação heterogênea da peça.
obtido por integração da curva de escoamento entre os limites de deformação, a e b (fig. II.8.1)
Para aumentar o comprimento do cilindro desde L0 até L1, o trabalho por unidade de volume
é:
L L
W 1 dl 1 L
w . .d e . ln 1 (II.8.5)
V Lo l Lo L0
onde e é a tensão de escoamento média.
Este resultado pode ser aplicado a trefilação sem atrito de uma barra ou fio cilíndrico que
passa da seção transversal inicial A0 para a seção final A1 (fig. II. 8. 2 b); a mudança de forma
externa da peça é idêntica à que ocorre na tração uniaxial e, se a deformação é suposta homogênea,
o trabalho realizado pela força aplicada externamente pode ser igualado ao trabalho interno de
deformação:
L1
W P.L1 w.V A1 .L1 . e . ln (II.8.6)
L0
L1 A
P A1 . e . ln A1 . e . ln 0 (II.8.7)
L0 A1
(a) (b)
Fig. II.8.2. Trabalho para deformação sem atrito de uma barra – a- Tração uniaxial, b- Trefilação
A tensão de trefilação, i.e., aquela que é aplicada à porção do fio já trefilado para continuar a
trefilação, será:
P A 1
t e . ln 0 e . ln (II.8.8)
A1 A1 1 r
Visto que na trefilação a redução de área é r = (A0-Al) /A0. A equação II.8.8 é a equação da
tensão de trefilação sem atrito e com deformação inteiramente homogênea (cf. a equação II.8.1).
52
É um princípio geral que a deformação homogênea requer menos trabalho, e
conseqüentemente uma carga menor, do que uma deformação heterogênea; portanto a carga
calculada para deformação homogênea representa um limite inferior para a carga real em qualquer
outra operação que produza a mesma mudança de forma externa.
A fig. II.8.4b indica também que as duas cunhas que penetram na peça tendem a separá-la
em duas, criando no interior da mesma tensões secundárias trativas , que em casos extremos podem
causar trincamento interno na peça, e resultarão num padrão de tensões residuais (i.e., tensões
internas elásticas que permanecem na peça após a remoção da força de conformação) que pode
causar subseqüentemente uma deformação elástica (empenamento) da peça, particularmente ao ser
aquecida, ou pode se combinar com outros efeitos para causar falhas progressivas (p.ex. trincas por
corrosão sob tensão na presença de um meio corrosivo).
Fig. II.8.5: Fator multiplicativo de esc para se obter a pressão interfacial média na indentação
55
II.8.5. Atrito em processos de conformação
Visto que a conformação mecânica é quase sempre realizada colocando-se a peça em
contato direto com uma ferramenta, é inevitável o atrito entre os dois corpos em contato, a as
correspondentes forças do atrito representam um fator importante na grande maioria dos processos.
Na maioria das situações físicas e de engenharia, os efeitos do atrito são descritos pelo
coeficiente de atrito = F/P, onde P é a força normal e F a força de atrito na interface. Está bem
estabelecido que o contato entre dois corpos sólidos é normalmente limitado a umas poucas
saliências microscópicas (asperezas ou rugosidades); não obstante, costuma-se calcular as tensões
assumindo que as forças estão distribuídas sobre toda a área aparente de contato, A. Assim, a
pressão interfacial é p = P/A, a tensão de atrito (tensão cisalhante na interface) é i = F/A, e =i/p.
Nos processos de conformação o material da peça se deforma e, ao fazê-lo, desliza sobre a
superfície mais dura da ferramenta; tem -se assim o chamado atrito de deslizamento. Para valores
relativamente moderados da pressão interfacial, pode-se supor que a tensão de atrito é proporcional
a p (atrito coulombiano). Contudo, a tensão cisalhante interfacial não pode exceder a tensão de
escoamento em cisalhamento do material da peça, e, pois neste ponto a peça para de deslizar sobre
a superfície da ferramenta e passa a deformar-se por cisalhamento sub-superficial; é o chamado
atrito de aderência. É uma situação freqüente no trabalho a quente, onde a lubrificação é, em muitos
casos, difícil. É possível também, e relativamente freqüente, as condições de atrito variarem entre a
aderência total e o deslizamento, ao longo da interface, dependendo do valor local da pressão.
Os principais efeitos práticos do atrito são:
Aumentar o esforço necessário à conformação;
Acentuar a tendência à ruptura a ao trincamento da peça (pois tende a tornar a deformação
mais heterogênea);
Prejudicar o acabamento superficial do produto;
Ocasionar desgaste das matrizes e demais ferramentas.
OBSERVAÇÕES:
1. As rugosidades da superfície mais dura da ferramenta podem “arranhar” a superfície da
peça, produzindo sulcos, que podem ser minimizados pelo bom acabamento das
ferramentas, sobretudo das matrizes.
2. Se a lubrificação é deficiente e o acabamento das ferramentas é precário, ou se o lubrificante
falha sob alta pressão ocasionando um caldeamento local entre a ferramenta e a peça, pode
ocorrer o arrancamento de metal da superfície da peça, que fica retido na superfície das
56
ferramentas. As conseqüências podem ir desde a descamação e esfoliação da peça até o
emperramento (engripamento) do fluxo de material.
3. O mecanismo principal de desgaste das ferramentas é a abrasão por partículas duras de
óxidos das peças; mas também contribuem a fadiga superficial resultante dos diversos ciclos
de trabalho, e as tensões térmicas decorrentes do aquecimento e resfriamento alternados das
ferramentas, especialmente no trabalho a quente.
WT WP WA WR (II.8.10)
Onde: WP = trabalho de deformação plástica ideal (homogênea);
WA = trabalho para vencer as forças de atrito na interface metal-ferramenta;
WR = trabalho redundante, i.e., envolvido em processos de cisalhamento interno devido as
deformações heterogêneas, que não contribuem para a mudança de forma da peça.
A eficiência ou rendimento de um processo é obtido por:
WP
(II.8.11)
WT
Valores típicos de para processos de conformação são: extrusão direta 30 a 60%;
trefilação 50 a 75%; laminação de chapa 75 a 95%; forjamento em matriz 25 a 40% .
Fig. II.8.6: Representação esquemática da lubrificação (a) hidrodinâmica; (b) limítrofe com um
agente polar; (c) limítrofe com um aditivo mecânico de extrema pressão (pigmento).
Fig. II.9.1: (a) Deformação heterogênea na laminação de uma chapa; (b) esquema da distribuição
resultante das tensões residuais longitudinais ao longo da espessura da chapa.
Fig. II.9.3: Desempenadeira de rolos. Os rolos de entrada flexionam mais fortemente a chapa num e
noutro sentido, enquanto os rolos de saída servem apenas para acabamento.
Fig. II.9.4: Diferentes esquemas de máquinas desempenadeiras para barras e tubos, utilizando
flexão alternada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - Em geral uma peça de engenharia é projetada de modo a minimizar seu custo, garantindo
propriedades que permitam seu funcionamento adequado durante um tempo de vida esperado.
Comente:
(a) Como os processos de fabricação podem alterar as propriedades das ligas metálicas?
(b) Como o processo de fabricação pode determinar o grau de sobrecarregamento admissível de um
componente mecânico?
2 - Faça uma comparação qualitativa entre uma peça fundida e uma peça conformada (p. ex.,
forjada).
3 - Faça uma comparação qualitativa entre uma peça conformada (p. ex., forjada) e uma peça
usinada.
4 - Liste as principais vantagens genéricas dos processos de conformação plástica dos metais.
5 - Diferencie processos de conformação transientes e estacionários. Exemplifique.
6 - Diferencie tensão nominal (ou de engenharia) de tensão verdadeira. Idem para deformação.
Qual a importância prática desta diferenciação? Comente quanto ao uso em projeto de
equipamentos para conformação.
7 - As expressões = S (1 + e), = ln (1 + e), só valem se a deformação é uniforme. Explique.
8 - Na equação de Hollomon: = K.n, K é o coeficiente de resistência e n é o expoente de
encruamento.
(a) Se não houvesse limite para a deformação máxima que pode ser atingida em tração, qual seria o
significado físico de K?
(b) Mostre que n = u (deformação uniforme máxima, ou seja, deformação verdadeira no início da
estricção).
(c) Por que razão os materiais com n mais elevado são mais adequados para operações com estado
de tensão trativo?
9 - Dadas três ligas - A, B, C - cujas leis de encruamento em tração uniaxial são, respectivamente,
A = 420 0,1; B = 600 0,35 e C = 500 0,25 (tensões em MPa), determine e compare, para as três
ligas, os valores das seguintes propriedades: (a) ductilidade uniforme; (b) limite de escoamento
convencional (com deformação plástica residual de 0,2%); (c) limite convencional de resistência à
tração (Sr).
10 - Explique a razão do barrilamento comum nos corpos cilíndricos submetidos à compressão
uniaxial. Como pode ser minimizado este efeito?
11 - Explique o ensaio de deformação plana em compressão (ensaio Ford), esquematize as
deformações e tensões que ocorrem e comente a sua importância prática.
62
12 - De um modo geral, em que condições pode-se assumir estado de deformação plana em um
processo de conformação plástica?
13 - Descreva uma situação de deformação plana com estado de tensão trativo, explicando porque,
nesta situação, a deformação não é triaxial. Mostre esquematicamente os estados de deformação e
tensão e compare o limite de escoamento observado neste caso com aquele medido numa situação
de tração uniaxial.
14 - Conceitue a anisotropia em algum produto obtido por conformação plástica.
15 - Um ensaio de tração é executado em uma amostra de chapa com as seguintes dimensões
iniciais: comprimento útil 50 mm; largura 6,25 mm; espessura 1,0 mm. O ensaio é interrompido
antes do início da estricção, quando o comprimento é de 60 mm e a largura de 5,60 mm. Calcule o
valor da razão de anisotropia, R, para esta amostra.
16 - (a) Conceitue a textura cristalográfica de uma peça, e descreva o seu efeito sobre as
propriedades mecânicas do material.
(b) Conceitue a textura mecânica (ou metalográfica) de uma peça, evidenciando a diferença entre
ela e a textura cristalográfica.
(c) Descreva o efeito da textura mecânica sobre as propriedades mecânicas do material.
(d) Por que é importante obter uma textura mecânica com orientação adequada, especialmente em
peças forjadas que serão submetidas a condições severas de serviço?
17 - Um resultado clássico da metalurgia física é a relação de Hall-Petch, = o + k.D-1/2. Comente
a sua importância para a tecnologia da conformação.
18 - Conceitue "trabalho a quente", "trabalho a frio" e "trabalho a morno".
19 - Nos processos de trabalho a frio, atinge-se um ponto em que a ductilidade do metal se esgota.
Explique em que situações são usados os tratamentos térmicos de recozimento de recristalização e
em quais um simples recozimento para alívio de tensões (recuperação).
20 - Ajustando-se adequadamente o ciclo trabalho a frio - recozimento, pode-se obter qualquer grau
desejado de encruamento no produto final. Explique.
21 - Cite alguns itens restritivos quanto às máximas temperaturas de trabalho na conformação a
quente.
22 - Compare, de um modo genérico, o trabalho a quente com o trabalho a frio quanto aos seguintes
aspectos, justificando:
(a) resistência do material à mudança de forma (= tensão de escoamento);
(b) sensibilidade do material á taxa de deformação (por esta expressão entende-se a variação da
resistência ao escoamento em resposta a uma variação na taxa de deformação imposta ao material);
(c) microestrutura do produto (morfologia e uniformidade da granulação);
(d) propriedades mecânicas do produto;
63
(e) precisão dimensional do produto;
(f) acabamento superficial do produto;
(g) desgaste das ferramentas de conformação.
23 - (a) Descreva em quais condições, e por que, existe limitação para a taxa de deformação que
pode ser imposta numa conformação a quente.
(b) Para um metal cuja tensão de escoamento obedece a expressão C. , explique o efeito de m
m
TABELA II.A: PROPRIEDADES DE FABRICAÇÃO DE AÇOS E LIGAS NÃO FERROSAS (a) – (ESTADO RECOZIDO)
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TABELA II.A: PROPRIEDADES DE FABRICAÇÃO DE AÇOS E LIGAS NÃO FERROSAS (a) – (ESTADO RECOZIDO)
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TABELA II.A: PROPRIEDADES DE FABRICAÇÃO DE AÇOS E LIGAS NÃO FERROSAS (a) – (ESTADO RECOZIDO)
OBSERVAÇÕES:
(a) Espaços em branco indicam não disponibilidade de dados. A compilação foi feita de várias fontes, sendo a maioria dos valores de tensão de
escoamento proveniente do artigo de T. Altan e F. W. Boulger em TRANSACTIONS OF THE ASME, series B, Journal of Engineering for
Industry, vol. 95, pp 1009-1018, 1973.
(b) A tensão de escoamento no trabalho a quente é para compressão simples (uniaxial) com uma deformação = 0,5. Para converter em kgf,
divida as tensões calculadas por 9,81.
(c) Classificação relativa de trabalhabilidade; a classe A é a mais alta, correspondendo à ausência de trincas no forjamento e na laminação a
quente.
(d) A tensão de escoamento no trabalho a frio é para compressão simples (uniaxial) com taxas de deformação moderadas, em torno de 1/s. Para
converter em kgf, divida as tensões calculadas por 9,81.
(e) Quando aparecem dois valores, o primeiro é longitudinal e o segundo transversal.
(f) O resfriamento no forno é indicado por F, a têmpera por T.
REFERÊNCIA:
Alguns lubrificantes mais freqüentemente usados (o uso do hífen indica mais de um componente no lubrificante).
PC – PARAFINA CLORADA
EM – EULSÃO; Os ingredientes lubrificantes estão finamente dispersos em água.
EP – Compostos para EXTREMA PRESSÃO (contendo S, Cl e P).
AG – ÁCIDOS E ÁLCOOIS GRAXOS; p. ex. ácido oléico, ácido esteárico, álcool estearílico.
OG – ÓLEOS GRAXOS; p. ex. óleo de coco natural ou sintético.
VD – VIDRO (viscosidade na temperatura de trabalho em unidades de Poise).
GR – GRAFITE, normalmente num fluido transportador à base de água.
OM – ÓLEO MINERAL (viscosidade entre parênteses, em unidades de cetipoise a 40 C).
FF – revestimento conversivo de FOSFATO (ou similar), facilitando a retenção do Lubrificante.
+ – Coeficiente de atritos são poucos definidos na extrusão, não sendo portanto fornecidos aqui.
++ – O símbolo AD significa atrito aderente.
Referências: 1) J.A. SCHEY (ed): Metal Deformation Processes: “FRICTION AND LUBRIFICATION”, DEKKER; NEW YORK, 1970.
2) J.A. SCHEY: “INTRODUCTION TO MANUFACTURING PROCESSES”, Mc Graw-Hill Kogakusha, 1977.