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NOTA TÉCNICA FPSF-NT-04-2021

Projeto CMST da TAMISA na Serra do Curral – Parte I

Canyon do Córrego da Fazenda, Serra do Curral


Local da Cava Norte prevista no projeto CMST

Canyon do Córrego da Fazenda, Serra do Curral


Local da Cava Norte prevista no projeto CMST

Fórum Permanente São Francisco – FPSF 1


Belo Horizonte – Setembro/2021
2021/Setembro – Fórum Permanente São Francisco - FPSF

Pelo Comitê Técnico do FPSF:

Euler de Carvalho Cruz

Hélio Pedrosa de Resende

Júlio César Dutra Grillo

Letícia Camarano Minas

Simone de Pádua Thomaz

O Fórum Permanente São Francisco (FPSF)

é um grupo da sociedade civil que se organizou 3 dias depois do rompimento da


barragem da Vale no Córrego do Feijão a fim de levantar e estudar temas de
relevância para a região de Brumadinho e para o Estado de Minas Gerais como
um todo e com o objetivo de propor soluções para problemas e demandas da
população com base nos preceitos mais atuais da tecnologia e das exigências
ambientais de sustentabilidade.

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nesta publicação, desde que citada a fonte.

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NOTA TÉCNICA FPSF-NT-04-2021
Projeto CMST da TAMISA na Serra do Curral – Parte I
Setembro/2021

SUMÁRIO EXECUTIVO

Nessa Nota Técnica, o Fórum Permanente São Francisco, através de seu Comitê Técnico,
apresenta considerações específicas sobre alguns pontos do projeto “Complexo Minerário
Serra do Taquaril – CMST” elaborado pela empresa TAMISA, que visa obter licenciamento para
mineração na região da Serra do Curral e adjacências, na região central do estado de Minas
Gerais.
Essa nota tomou como base os documentos listados nos item (1) Objetivo, página 4 do texto
da nota.
Resumo dos principais pontos considerados:
Todos os pontos resumidos abaixo são amplamente detalhados e demonstrados no decorrer
da Nota Técnica.
Documentos elaborados pela Bio Espeleo Consultoria Ambiental apontam a existência dentro
da área do CMST ou na ADA, de várias cavidades subterrâneas (cavernas), dentre as quais
algumas abrigam animais raros, sendo um deles inédito na taxonomia zoológica oficial.
Cavidades subterrâneas, sítios arqueológicos e pré-históricos são bens da União e a cavidade
em que se encontrou o espécime inédito passa a ser considerada de máxima relevância e por
isso não passível de compensação e obrigatoriamente preservada de qualquer impacto.
Há problemas graves relacionados à pretendida Cava Norte do CMST: ela encontra-se no
município de Nova Lima, mas na divisa do município de Belo Horizonte. Escavações futuras,
não previstas no EIA, irão fazer a cava se unir à Mina Corumi, já existente e paralisada,
localizada no município de Belo Horizonte. Sendo assim o CMST não se restringe apenas ao
município de Nova Lima como considerado pelo empreendedor, mas também atingirá o
município de Belo Horizonte e requererá por parte dele todo o processo de licenciamento, que
não foi realizado; além disso, os ângulos dos taludes da Cava Norte superam os limites de
segurança para desmoronamentos.
O projeto CMST é pouco claro no tratamento que dispensará à trilha de acesso ao pico Belo
Horizonte, se irá destruí-la ou preservá-la, dentro de um alegado e ambíguo citado “princípio
da legalidade”.
A região pretendida para implantação do CMST possui conjuntos arqueológicos e históricos
relevantes e protegidos por lei e o que foi apresentado sobre o assunto no EIA/RIMA são
insuficientes e carecem da anuência do IEPHA e do IPHAN.
O CMST carece de esclarecimento sobre a situação fundiária da antiga fazenda Ana da Cruz,
sítio sobre o qual pretende ser instalada. Tal esclarecimento se faz necessário haja visto
conflitos fundiários relevantes no passado, nessa região.
Com relação aos impactos e danos à população, o EIA apresentado pela TAMISA é
francamente omisso e subestima em larga medida estes impactos. Ao contrário do afirmado
no estudo apresentado pelo empreendedor, de que apenas uma comunidade seria afetada,
3
seis outras serão diretamente afetadas e várias outras comunidades ou bairros serão
indiretamente afetados. O documento apresentado pela TAMISA é superficial, impreciso e
inconcluso quanto aos danos inevitáveis à essas comunidades, tais como: ruídos, tremores de
terra, vibrações, poluição do ar por poeira, aumento do tráfego, impactos à paisagem e
questões de segurança.
O EIA do CMST desconsidera, não quantifica e não recomenda medidas compensatórias e
protetivas quanto à desvalorização dos milhares de imóveis na região da ADA e no entorno do
projeto.
Embora o CMST apresente enorme potencial de dano ao município de Belo Horizonte e à sua
população, este não foi chamado a avaliar o projeto. Considera-se inadmissível que o
município de Belo Horizonte não seja chamado à análise, já que vários estudos, muitos dos
quais apontados no corpo dessa Nota, atestam variados impactos sobre o território da capital
do estado.
A Serra do Curral, verdadeiro “cartão postal de Belo Horizonte” e bem cultural tombado,
sofreria, com esse projeto, grande impacto visual e paisagístico conforme enfatizado no EIA.
No entanto no parecer do IPHAN esse impacto é bastante minimizado. Fica então a questão:
Qual será realmente o impacto que o empreendimento causará sobre a Serra do Curral ? Neste
sentido, recomendações específicas são feitas no corpo dessa Nota.
Finalmente, conforme informação fornecida no EIA, no caso do indeferimento do projeto
CMST, o grupo empreendedor, já considerando possível essa hipótese, possui como plano de
negócio alternativo a implantação de projeto imobiliário no mesmo local. Recomenda-se, que,
sendo esse o caso, seja exigido, pelos municípios de Nova Lima e de Belo Horizonte, pedido de
licenciamento específico para esse possível novo fim pretendido.
Conclusão:
Dado todo o exposto no texto principal dessa Nota Técnica e que foi sumarizado acima,
recomendamos:
1. Que o pedido de licenciamento do CMST, tal como apresentado pela TAMISA seja
indeferido.
2. Que no caso da empresa TAMISA optar por rever e reformular o pedido de
licenciamento, que sejam atendidas, no mínimo, as diversas recomendações feitas no
texto principal dessa Nota Técnica, nos seus vários itens.
3. Que no caso de novo pedido de licenciamento ser formulado, que o município de Belo
Horizonte, via seus órgãos competentes, seja convidado a dar seu parecer.

4
Índice
1 Objetivo ................................................................................................................................. 6

2 Achados bioespeleológicos ................................................................................................... 6

2.1 Cavidades com Espécies Novas e Raras ........................................................................ 6

2.1.1 Nova espécie encontrada em cavidade na área estudada.................................... 6


2.1.2 Precedente: troglóbio raro na área da Mina Corumi .......................................... 10
2.2 Proteção Urgente das Cavidades com Troglóbios Raros e Novos............................... 14

3 Limites da Cava Norte no Município de Belo Horizonte ..................................................... 15

4 Destruição de Trilha de Acesso ao Pico Belo Horizonte ...................................................... 28

5 Aspectos Arqueológicos e Históricos .................................................................................. 31

7 Aspectos Fundiários ................................................................................................................ 38

8 Impactos e Danos à População............................................................................................... 40

8.1 Proximidade com Áreas Habitadas ................................................................................... 40

8.2 Quantificação dos Impactos no Entorno .......................................................................... 49

8.3 Impactos Decorrentes de Poeira ..................................................................................... 50

8.4 Impactos Decorrentes de Vibração (Detonações)........................................................... 55

8.4 Perdas Materiais e Imateriais da População .................................................................... 64

9 Falta de Anuência do Município de Belo Horizonte ............................................................ 65

10 Alterações do Relevo e da Paisagem............................................................................... 66

11 Projeto Imobiliário na Área do CMST .............................................................................. 72

ANEXO 1 – Cadastro da Fazenda Ana da Cruz no IPHAN ........................................... 73

ANEXO 2 – Ofício da SMMA de BH .................................................................................... 78

ANEXO 3 – Notícia de Audiência Pública na Câmara de Vereadores de BH.......... 81

ANEXO 4 – Carta do Hospital da Baleia ........................................................................... 85

5
1 Objetivo
Essa Nota Técnica tem como objetivo apresentar considerações sobre pontos específicos do
projeto CMST da TAMISA na Serra do Curral, Taquaril, e tomou como base nos seguintes
documentos:
1) Doc. No RT-013_199-515-2486_01-J e seus diversos Anexos - Estudo de Impacto
Ambiental – EIA – Projeto Complexo Minerário Serra doTaquaril (CMST), Taquaril
Mineração S.A. Elaborado por Golder Associates Brasil Consultoria e Projetos Ltda.
Belo Horizonte. Dezembro/2019. (Ref.1)
2) Doc. No RT-014_199-515-2486_02-J - Relatório de Impacto Ambiental – RIMA – Projeto
Complexo Minerário Serra doTaquaril (CMST), Taquaril Mineração S.A. Elaborado por
Golder Associates Brasil Consultoria e Projetos Ltda. Belo Horizonte. Dezembro/2019.
(Ref.2)
3) Parecernº 22/SEMAD/SUPPRI/DAT/2020 - Processo Nº 1370.01.0021546/2019-49.
Parecer Único SUPPRI - Parecer Único de Compensação Florestal - SUPPRI 04/2020
Indexado ao Processo PA SLA 218/2020. (Ref.3)
4) Parecer Único SUPPRI - Protocolo SIAM Nº 0285398/2018 Indexado ao Processo PA
COPAM 04421/2013/001/2014 - Parecer Único de Compensação Florestal - SUPPRI
04/2018. (Ref.4)
5) Parecer Único N.º073/2019 (Protocolo SIAM 0452363/2019) – PA COPAM
28047/2014/001/2015 referente à Empabra Mineração Pau Branco Ltda. (Mina
Corumi) - 0148564/2019 de 24/07/2019. (Ref.5)

2 Achados bioespeleológicos
2.1 Cavidades com Espécies Novas e Raras
2.1.1 Nova espécie encontrada em cavidade na área estudada
Estudos espeleológicos da área do empreendimento Projeto Complexo Minerário Serra do
Taquaril (CMST) realizados pela BioEspeleo Consultoria Ambiental – apresentados no
documento “Análise de Relevância das Cavidades do Projeto Complexo Minerário Serra do
Taquaril”, datado de dezembro 2019 –identificaram e analisaram 52 cavidades, sendo 31 delas
com comprimento (“desenvolvimento linear”) menor que 5 metros e que foram classificadas
em baixa relevância por não apresentarem os atributos físicos e biológicos destacados no Art.
12º da IN MMA N° 02/2017. Para as demais obteve-se a seguinte classificação (cf. pág. 58 do
documento):

1) 1 de máxima relevância: TAQ-15;


2) 12 de alta relevância (TAQ-02, TAQ-05, TAQ-06, TAQ-07, TAQ-08, TAQ-09, TAQ-10,
TAQ-12, TAQ-13, TAQ-17, TAQ-20 e TAQ-21);
3) 6 de média relevância:(TAQ-01, TAQ-03, TAQ-04, TAQ-14, TAQ-19 e TQ-R-08)
4) 2 de baixa relevância: TAQ-11 e TAQ-16.

O documento denominado “Diagnóstico Bioespeleológico das cavidades do Projeto Complexo


Minerário Serra do Taquaril” da BioEspeleo, em sua pág. 55, informa que “Uma nova espécie
de Cyphoderus foi registrada para uma cavidade do Projeto CMST (TAQ-13)”.

6
De acordo com o mesmo documento (pág. 34 e 35), foi encontrada nacavidade denominada
TAQ-15, fora da ADA do Complexo Minerário, uma espécie troglomórfica1, Spinopilar sp.1
(aracnídeo), que se enquadra no critério de raridade Tipo IV sugerido no workshop técnico
científico “Troglóbios raros”: incertezas e encaminhamentos”, realizado pelo Instituto do
Carste em 2011. Este táxon (ver Fig. 1) foi amostrado apenas na cavidade TAQ-15, a qual foi
considerada, portanto, como de Máxima Relevância (pg. 34 do citado documento).

Na pág. 42 do documento“Análise de Relevância das Cavidades do Projeto Complexo


Minerário Serra do Taquaril”, afirma-se que a espécie Spinopilarsp.1 e a espécie troglófila e/ou
epígea: Cyphoderussp.nov.1 (Fig. 1e Fig. 2 a seguir) são consideradas “táxons novos”.De
acordo com a IN MMA N° 02/2017: “táxons novos”abrange a“Ocorrência de animais
pertencentes a táxons ainda não descritos formalmente”. Portanto, as cavidades denominadas
TAQ-13 e TAQ-15 devem ser consideradas como abrigos de táxons novos.

Adicionalmente, foram identificadas espécies troglomórficas nas cavidades TAQ-02,TAQ-03,


TAQ-06, TAQ-07, TAQ-08, TAQ-10, TAQ-12, TAQ-13, TAQ-15, TAQ-17 e TAQ-21, de acordo com
IN MMA N° 02/2017 (“Ocorrência de animais cujas características morfológicas revelem
especialização decorrente do isolamento no ambiente subterrâneo”).

O documento denominado “Área de Influência das cavidades próximas à ADA do Projeto


Complexo Minerário Serra do Taquaril”da BioEspeleo Consultoria Ambiental, datado de
dezembro 2019, em sua pág. 54, confirma que:

“Spinopilar sp.1 é um opilião da família Cryptogeobiidae cuja distribuição se


restringe a uma cavidade (TAQ-15) no Projeto CMST. Um único indivíduo
desta espécie foi registrado neste projeto, portanto caracterizando-o como
um táxon raro tipo IV. Esta definição de raridade está em conformidade
com o Workshop Troglóbios raros (Instituto do Carste 2011), sendo o tipo IV
correspondente a um táxon registrado para uma única cavidade, além de
ser representado por um único indivíduo”.(Grifo nosso)

1
“Troglóbios são animais que se especializaram para a vida dentro de cavernas. A maioria não possui
pigmentação e pode ter os olhos atrofiados ou mesmo ausentes. Ao invés disso possuem longas e
numerosas antenas ou órgãos olfativos muito sensíveis”.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Trogl%C3%B3bio)
7
Fig. 1 – Cópia de foto da pg. 33 do doc. “Diagnóstico Bioespeleológico das cavidades do Projeto
Complexo Minerário Serra do Taquaril” da BioEspeleo.Troglóbio novo e raro encontrado na cavidade
TAQ-15 do CMST – Spinopilar sp.1

Fig. 2 – Cópia de foto da pg. 42 do doc. ““Análise de Relevância das Cavidades do Projeto Complexo
Minerário Serra do Taquaril”, da BioEspeleo – Cyphoderussp.nov.1

O documento “Diagnóstico Bioespeleológico das cavidades do Projeto Complexo Minerário


Serra do Taquaril”da BioEspeleo Consultoria Ambiental, datado de dezembro 2019, informa,
na pág. 54, que:

8
“Uma nova espécie de Spinopilar foi registrada para uma cavidade do
presente estudo (TAQ-15), a qual também foi considerada troglomórfica por
apresentar acentuada despigmentação e olhos extremamente reduzidos.
Além disso, até o presente momento esta espécie não foi encontrada no
ambiente externo”. (Grifo nosso)

Cabe registrar ainda que, de acordo com a pág. 58 do documento “Análise de Relevância das
cavidades do Projeto Complexo Minerário Serra do Taquaril”, da BioEspeleo Consultoria
Ambiental, datado de dezembro 2019, a análise de relevância nele proposta deveria ser
confirmada pelo “órgão ambiental competente”.

Por fim, é importante considerar o exposto nodocumento “Estudos Espeleológicos - Complexo


Minerário Serra do Taquaril - Análise de Potencial Espeleológico, Prospecção Espeleológica e
Espeleotopografia”da BioEspeleo Consultoria Ambiental, datado de dezembro 2019:

“Segundo a IS SISEMA 08/2017 (Rev. 1), a prospecção espeleológica deve


ser realizada em toda a Área Diretamente Afetada - ADA, e em seu entorno
imediato de 250 metros. Além disso, o esforço amostral, ou seja, a
densidade da malha de caminhamento, deve refletir o potencial
espeleológico da área prospectada. (...)

O trabalho consistiu no caminhamento sistemático em uma área de cerca


de 6 km (...). Foram priorizadas as áreas com maior potencial para
ocorrência de cavernas, de acordo com estudo de potencial espeleológico
realizado anteriormente.

A prospecção espeleológica atingiu densidades de caminhamento


consideradas satisfatórias, superando em muito os valores de referência
estabelecidos pelo órgão ambiental em sua Instrução de Serviço SISEMA
08/2017 (Rev.1)”

Diante dos fatos relatados, cabe cosiderar que:

• As cavidades subterrâneas, os sítios arqueológicos e pré-históricos são bens da União,


conforme inciso X do Art. 20 da Constituição de 1988. Esse artigo 20 é o mesmo que
estabelece, em seu inciso IX, que os recursos minerais, inclusive os do subsolo,
também são bens da União.
• Por ser de máxima relevância, a cavidade TAQ-15 não é passível de compensação
espeleológica e necessariamente deve ser preservada de qualquer impacto. Essa
cavidade, assim como as demais, não é sequer mencionada no EIA apresentado pela
TAMISA, o qual apresenta a AIA para diversos itens, mas não para as cavidades
detectadas na área.
• Surpreende-nos o fato de que as espécies novas e raras identificadas nos estudos
espeleológicos não foram mencionadas no EIA nem no RIMA e também o fato de que
não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, nenhuma AIA
(Avaliação de Impacto Ambiental) das cavidades.
• Embora a BioEspeleo Consultoria Ambiental afirme que a relevância das cavidades do
Projeto Complexo Minerário Serra do Taquaril deva ser confirmada por “órgão
ambiental competente”, o Parecer nº 22/SEMAD/SUPPRI/DAT/2020 não menciona o
documento“Análise de Relevância das Cavidades do Projeto Complexo Minerário Serra

9
do Taquaril”, nem mesmo os termos “caverna”, “cavidade”, “espeleológico” etc.
Assim, aparentemente, não contemplou as propostas da BioEspeleo2.
• Entre os documentos complementares encontramos a resposta da BioEspeleo a uma
solicitação da SUPRI que diz respeito a espécies que não se classificam como raras ou
novas (Pseudosinella sp.1 e Pseudochtonius sp.1), mas nada encontramos sobre as
espécies presentes na cavidade TAQ-13 e TAQ-15, que se encontram próximas à ADA
das Fases 1 e 2 do empreendimento e, como várias outras também estudadas, estão
inseridas em litologia ferrífera da Formação Cauê.
• Embora os estudos realizados possam ter coberto uma grande porcentagem da área
do empreendimento e do seu entorno, é possível que algumas das cavernas
existentes não tenham sido visualisadas e registradas. Deve-se considerar também
que a amostragem de espécies realizada pode não ter sido exaustiva e que espécies
raras e novas, a exemplo dsa encontradas nas cavidade TAQ-13 e TAQ-15, podem estar
presentes nas cavidades inspecionadas e em outras, não visualisadas.
• O grande número de cavidades e o alto percentual de cavidades de alta relevância – 12
das 52 cavidades estudadas – em grande parte da área do empreendimento,
caracterizadapela presença de rochas ferríferas (canga e itabirito), permitem afirmar
que um estudo mais detalhado é necessário, de forma a complementar os já
importantes estudos realizados pela BioEspeleo.

2.1.2 Precedente: troglóbio raro na área da Mina Corumi


Um aspecto de relevância capital diz respeito ao Parecer Único N.º073/2019 (Protocolo SIAM
0452363/2019) referente à EMPABRA (documento da ref. 5, conforme apresentado no item 1.
Objetivo), que afirma o seguinte (pág. 39 e seguintes):

“Embora se tenha cadastrado duas cavidades naturais subterrâneas, GMT-


01 e GMT-02, no entorno do empreendimento, não foi possível identificar
nos autos do processo Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) do
empreendimento sobre o patrimônio espeleológico, não sendo esta
avaliação abarcada nem nos estudos espeleológicos (...) e nem na AIA geral
do EIA (Protocolo SIAM R0075899/2018). Tal fato contradiz o disposto nas
Resoluções CONAMA n° 001/1986 e n° 237/1997, e notadamente o que
preconiza o artigo 5° da Resolução CONAMA n° 347/2004 e na Instrução de
Serviço SISEMA n° 08/2017, cuja versão vigente à época fora publicada em
05/06/2017, ou seja, antes do protocolo do EIA.

A AIA sobre o patrimônio espeleológico seria crucial para definir tanto qual
seria a necessidade de outros estudos prévios ao julgamento da licença (e.g.
ensaio sismográfico), quanto sobre quais deveriam ser as medidas de
controle, mitigação, monitoramento ou mesmo compensação a ser
adotadas.

Diferentemente do disposto na Instrução de Serviço (IS) SISEMA n° 08/2017,


disponível no sítio eletrônico da SEMAD, o empreendedor apresentou

2
De acordo com a pág. 58 do documento “Análise de Relevância das cavidades do Projeto Complexo
Minerário Serra do Taquaril”, da BioEspeleo Consultoria Ambiental, datado de dezembro 2019, a análise
de relevância nele proposta deveria ser confirmada pelo “órgão ambiental competente”.
10
diretamente estudos de análise de relevância das cavidades e estudo de
definição de área de influência. (...)

Considerando o histórico do empreendimento, além da sugestão de


indeferimento deste parecer único, nenhum dos estudos de espeleologia do
empreendimento foram validados por meio de vistoria por este órgão
ambiental. (...)

Ainda que não seja foco a validação de estudos espeleológicos


apresentados cabe pontuar que o diagnóstico da análise de relevância da
cavidade GMS-02 identificou ali um indivíduo Entomobryidae sp.10
(Collembola) que o estudo apontou ser táxon com características
troglomórficas e considerado troglóbio raro, atributo classificatório para
cavidade de máxima relevância, conforme preconiza o Decreto Federal n°
99.556/1990, alterado pelo Decreto Federal nº 6.640/2008.

A identificação desta espécie no inventário eleva a criticidade de se


avançar com o licenciamento ambiental de um empreendimento que não
fora alvo de AIA sobre o patrimônio espeleológico. (...)

É embasado, pois, na ausência de dados técnicos que permitam à avaliação


das questões relacionadas à espeleologia do licenciamento em tela, bem
como na falta de atendimento a questões normativas, que esta equipe
técnica de espeleologia da SUPRAM CM aqui decide que não serão, no
âmbito deste PU, avaliados ou validados os estudos de espeleologia
apresentados pelo empreendedor no âmbito do processo e que não
recomenda o deferimento do processo de LOC para a Mina
Corumi”.(Grifos nossos).

(Pág. 53):

“Considerando que não foram avaliados nos autos deste processo os


impactos ambientais sobre as cavidades naturais subterrâneas, GMT-01 e
GMT-02, localizadas no entorno do empreendimento. Considerando que o
neste sentido o órgão ambiental até o presente momento desconhece o
impacto do empreendimento nas cavidades para o que, do ponto de vista
da equipe de espeleologia, não se recomenda o deferimento do
processo”.(Grifos nossos).

(Pág. 72 e seguintes):

“A referida IS n°08/2017, de 05/06/2017, é clara ao apontar que a etapa


seguinte à prospecção espeleológica cujo resultado for positivo para a
presença de cavidades é a AIA sobre o patrimônio espeleológico:

Etapa 2: Avaliação de Impactos sobre Cavidades Constatada a presença de


cavidade na ADA e/ou no seu entorno de 250 m, o empreendedor deverá
apresentar a avaliação dos impactos da atividade ou do empreendimento
sobre o patrimônio espeleológico, que deverá considerar todos os impactos
reais e potenciais sobre todas as cavidades identificadas na ADA e no seu
entorno de 250m, bem como sobre suas respectivas áreas de influência,

11
considerando-se, nesta etapa, a área de influência inicial das cavidades” (IS
n°08/2017, de 05/06/2017, página 13).

(...)

Sabe-se que a atividade de extração de minério de ferro é fonte de uma


gama de impactos em cavidades, inclusive impactos negativos
irreversíveis, mesmo sem que a própria cavidade seja suprimida. Para
tanto, não é factível se avançar em qualquer licenciamento destas
atividades sem que os impactos sejam avaliados e medidas de controle,
mitigação, monitoramento e se necessária compensação sejam
aprovadas.

A AIA do empreendimento sobre o patrimônio espeleológico é o


instrumento capaz de prever a ocorrência de impactos negativos
irreversíveis ou reversíveis, reais ou potenciais sobre as cavidades
identificadas na área da Mina Corumi. Neste sentido, a elaboração da
referida AIA seria crucial para definir tanto qual seria a necessidade de
outros estudos prévios à licença (e.g. ensaio sismográfico), quanto quais
seriam as medidas de controle, mitigação, monitoramento ou mesmo
compensação dos impactos previstos.

Diante do fato de que os documentos técnicos apresentados pelo


empreendedor não subsidiam a análise técnica e de legalidade deste
licenciamento, esta equipe técnica de espeleologia da SUPRAM CM não
recomenda o deferimento do pedido de Licença Ambiental Corretiva para
a Mina Corumi”.

Imperioso se faz reportamos também, nesse contexto, que a mencionada cavidade GMS-
02 da área da mina Corumi, onde foi encontrado o troglóbio raro Entomobryidae sp.10
(Collembola)e que se encontra nas coordenadas UTM 617215 E / 7795660 N, dista apenas
1275 metros da cavidade TAQ-15 (UTM 618440 E / 7796013 N), onde foi encontrado o
novo troglóbio na área do CMST, da TAMISA (ver Fig. 3a a seguir).
Fig. 3a – Localização e distância entre as cavidades em que
foram encontrados troglóbio raros nas áreas da Mina
Corumi/EMPABRA e do CSMT/TAMISA.

12
É de se destacar que os estudos realizados pelo EIA não consideraram o efeito, nas
cavidades, das vibrações causadas por explosões, conforme é informado no item 12.2.2.3
(pág. 1210 do EIA):

“Além disso, omonitoramento durante a operação do Projeto CMST deve se


darcom medições sismográficas em pontos receptores de interesse durante
o desmonte por explosivos. Cabe ressaltar que esta avaliaçãoprognóstica
em termos devibração foi elaborada exclusivamente para predizer os
efeitos davibração para o receptor humano, os quais podem em termos de
percepção e/ou incômodo. Com esta avaliação a Golder não pretendeu
qualquer outra consideração de possíveis efeitos da vibração do Projeto
CMST, como por exemplo, em cavidades naturais subterrâneas”. (Grifos
nossos)

A partir da análise dos trechos do Parecer Único N.º073/2019 (Protocolo SIAM 0452363/2019),
destacados anteriormente, consideramos que:

• Eles se aplicam ipsis litteris ao caso do Complexo Minerário Serra do Taquaril, visto
que táxons não apenas raros, mas novos, foram identificados em uma das cavidades
da área e nenhuma AIA foi encontrada entre os documentos consultados.
• Devido ao alto potencial de ocorrência de cavidades na região, bem como à
possibilidade de o estudo realizado pela BioEspelo não ter sido exaustivo – tanto no
que diz respeito à identificação das cavidades quanto à das espécies nela encontradas
– podemos afirmar a necessidadede que a equipe técnica de espeleologia da
SUPRAM CM recomente o indeferimento do pedido de licenciamento do
empreendimento.
• O fato de que o Parecer Único da SUPPRI sobre o CMST sequer mencione o achado, e
nem mesmo os estudos espeleológicos realizados pela BioEspeleo, nos causa
estranheza e permite-nos afirmar que tal Parecer não se baseia em uma análise
completa nem considera, por coerência técnica e por rigor legal, o que julgamos –
para usar uma expressão machadiana –“que tolera bem a qualificação3” de
“jurisprudência” estabelecida pela SUPRAM CM (Superintendência Regional de
Regularização Ambiental Central Metropolitana) para o caso da Mina Corumi acima
descrito.

Com relação fatode a cavidade GMS-02 da área da mina Corumi, onde foi encontrado o
troglóbio raro Entomobryidae sp.10 (Collembola)distar apenas 1275 metros da cavidade TAQ-
15 consideramos que:

• Nos parece forte indicativo de que toda a região é propensa à ocorrência de táxons
raros e novos e, por esse motivo, deve ser integralmente protegida, sendo nela
vedados empreendimentos que possam provocar impactos à sua rica
biodiversidade, conforme previsto na legislação citada pela SUPRAM CM.

Por fim, devido:

3
Memorial de Aires, Machado de Assis. Cap.: 25 de janeiro.
13
• ao elevado número de cavidades da ADA do CMST e de seu entorno,
• aos achados de troglóbios raros e novos acima mencionados
• ao fato de não ter sido analisado o efeito, nas cavidades, das vibrações causadas por
explosões,
• à falta de outros estudos e de garantias reais quanto aos possíveis impactos

recomendamos:

• oindeferimento do pedido de licenciamento do CMST;


• providências imediatas por parte da SEMAD para proteção das cavidades GMS-02 e
TAQ-15; a primeira se encontra muito próxima da área de equitação da Hípica Corumi
e a segunda, muito próxima da área degradada por mineradora irregular nas
imediações do Novo Alvorada, no topo da Serra do Curral.

2.2 Proteção Urgente das Cavidades com Troglóbios Raros e Novos


Consideramos de crucial importância que a SEMAD adote medidas urgentes e efetivas para a
proteção das cavidades acima mencionadas uma vez que:
a) A cavidade GMS-02 encontra aproximadamente a 33 m da pista de equitação da Hípica
Corumi e poderá ser afeta – se ainda não o foi – por atividades desenvolvidas nesse
local. Essa proximidade é mostrada na Fig. 3b:

Fig. 3b – Localização e distância entre a cavidade GMS-02 e a


pista de equitação da Hípica Corumi.

a) As cavidades naturais subterrâneasGMT-01 e GMT-02, cadastrado no entorno do


empreendimento, não foram estudas na AIA da mina Corumi (EMPABRA) sobre o
patrimônio espeleológico nem na AIA geral do EIA. Esse estudo é de fundamental
importância e já deveria ter sido feito, pois – tendo em vista o potencial da área –
pode resultar na descoberta de novos troglóbio raros ou, até mesmo, novos.

14
b) A cavidade TAQ-15 encontra-se a 160 m da área que voltou a ser explorada e
degradada pela Fleurs Global na Serra do Curral, região do Taquaril, como se mostra
da Fig. 3c a seguir. As atividades dessa mineradora, que haviam sido paralisadas no
ano passado, devem ser imediatamente suspensas, em definitivo, devido à presença
da cavidade TAQ-15. Sua extrema proximidade com a área residencial Novo Alvorada,
também evidente na Fig. 3c, também é motivo para a paralisação. Aplica-se a esse
caso os mesmos argumentos e considerações feitos nos itens 5, 7 e 9 do presente
documento.

Fig. 3c – Localização e distância entre a cavidade TAQ-15 e a


área que está sendo explorada e degradada pela Fleurs Global.

Consideramos que a ausência de providências urgentes e efetivas para proteção das


cavidades, conforme acima descrito, poderá caracterizar negligência por parte da SEMAD e
redundar em perdas inestimáveis do patrimônio espeleológico da Serra do Curral.

3 Limites da Cava Norte no Município de Belo Horizonte


Para analisar a situação dos limites da Cava Norte, procuramos interpretar algumas imagens
obtidas das referências citadas no início deste documento, dos anexos e do Google Earth. A
Fig. 4a seguir (detalhe copiado da pág. 18 do Anexo B do EIA – doc. Ref. 1), mostra os limites
previstos para a Cava Norte.

Evidencia-se que os contornos norte e oeste da Cava Norte (em vermelho) estão
extremamente próximos e, em parte, exatamente sobre a divisa dos municípios de Belo
Horizonte e Nova Lima (linha cinza claro), conforme assinaladonesta figura pela linha curva
amarela, com setas.

15
Fig. 4 – Contornos previstos para a Cava Norte (linha vermelha) e divisa entre Belo Horizonte e
NovaLima (linha branca)

Para melhor visualização, apresentamos na Fig. 5 (obtida do Google Earth, com maior nitidez e
a partir do arquivo .kmz dos limites da cava e da divisa entre os municípios), o mesmo
contorno da Cava Norte e um segmento da linha da divisa entre os dois municípios.

Do lado do município de Belo Horizonte o talude íngreme da Mina Corumi (paralisada), da


empresa EMPABRA, também está extremamente próximo e, em parte, exatamente sobre a
divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima.

Fig. 5 – Contornos previstos para a Cava Norte (linha vermelha) e divisa entre Belo Horizonte e Nova
Lima (linha branca)
16
As Figs. 6a, 6b, 6c e 6d apresentam vistas da área e dos maciços que darão lugar à Cava Norte,
bem como do talude da mina Corumi (EMPABRA) acima referido.

Fig. 6a – Vista da região da Cava Norte desde o Pico Belo Horizonte (de oeste para leste); contorno da
Cava e divisa entre Belo Horizonte e Nova Lima

Fig. 6b – Vista da região da Cava Norte desde o Pico Belo Horizonte (de leste para oeste); contorno da
Cava.

17
Fig. 6c – Vista da Mina Corumi e Pico Belo Horizonte (de nordeste para sudeste); divisa entre Belo
Horizonte e Nova Lima

Fig. 6d – Detalhe da Fig. 6c.

As fotos 6c e 6d evidenciam que a Cava Norte estaria localizada na parte sul do mesmo lugar
em que estava sendo desmontado pela EMPABRA em 2018, quando as atividades dessa
empresa foram paralisadas.

18
Nos documentos disponíveis emhttps://ecosistemas.meioambiente.mg.gov.br/sla/#/acesso-
visitante/8926/A-05-02-0(Acesso 01 agosto 2021), encontramos algumas figuras e tabelas,
como reproduzido a seguir na Fig. 7 (cópia da Fig. 6.7 da pág. 49 do EIA),com a topografia e os

Fig. 7 – Topografia da Cava Norte


parâmetros geotécnicos da Cava Norte.

A figura anterior apresenta a topografia, em planta, da Cava Norte, mostrando apenas a


altimetria, mas omitindo as escalas horizontal e verticaldas seções da cava (cortes
transversais). Estas omissões impedem a verificação mais acurada, na figura, dos ângulos
informados na Fig.8 (Tabela 6.4 do EIA). Em geral, as figuras do EIA/RIMA apresentam a base
topográfica em pequena escala e em figuras com pouca nitidez, dificultando bastante a
verificação das informações contidas nos textos, o que nos parece comprometer a
transparência e a coerência dessas informações.

19
Fig. 8 – Tabela 6.4 do EIA

Para melhor compreensão do que foi exposto, apresentamos, na Fig. 9, a nomenclatura


utilizada para uma seção de cava de mina:

Fig. 9 – Representação do talude de uma cava de mina de acordo com Kliche (2001) 4

AFig. 7 e outrasanterioresmostram que as bordas norte e oeste da Cava Norte coincidirão com
as bordas já existentes da mina Corumi da EMPABRA, cujos taludes são bem íngremes (grande
ângulo geral).

As informações apresentadas anteriormente nos permitem elaborar as seguintes


considerações:

4
Kliche C. A. 2011. Slope Stability. In: Darling P. SME Mining Enginering Handbook - Littleton, Society for
Mining, Metallurgy, and Exploration, p. 495-525.
20
• A Cava Norte consiste numa continuação da Mina Corumi, da EMPABRA, a princípio
no lado de município de Nova Lima, mas com imensorisco de adentrar o de Belo
Horizonte.
• As escavações da Cava Norte resultarão em taludes íngremes, com ângulos gerais
(informados na Tab. 6.4 do EIA)de 38o a 42oe ângulos de face de 55,8o a 63o. Essa
conformação resultará em dois possíveis cenários.

a) Cenário 1:Para permitir o aprofundamento da cava e, assim, a retirada de maior


volume de minério e/ou proporcionar a estabilidade do talude(visto que o ângulo
geral é grande, como se verá a seguir), a linha de divisa dos dois municípios será
rebaixada pelas escavações futuras, ainda que não previstas no EIA (ver esquema
na Fig. 10a), caso em que a Cava Norte fatalmente adentrará o município de
Belo Horizonte.
F
i
g
.

1
0
a

C
e
n
á
r
i
o

1
:

Divisa rebaixada: a Cava Norte entra no município de Belo Horizonte


b) Cenário 2:Durante a operação da mina a linha de divisa entre os dois municípios
permanecerá no local e na altitude atuais, ladeada pelos dois taludes íngremes
(de Corumi e Cava Norte) e será suportada por um trecho longitudinal de
terreno, em forma de cone invertido (ver esquema na Fig. 10b). Os taludes,
sujeitos a processos erosivos ao longo do tempo e instabilizados por explosões,
por escavações adicionais não previstas atualmente e/ou não informadas no EIA
e RIMAou mesmo instabilizados por processos naturais, poderão desmoronar,
rebaixando a divisa, caso em que a Cava Norte tambémadentrará o município
de Belo Horizonte.

21
Fig. 10b – Cenário 2: Divisa no ápice de dois taludes íngremes, sem garantia de continuidade ao longo
das décadas.

• Não encontramos, nos documentos apresentados pela TAMISA para o licenciamento


nem nos Pareceres Únicos emitidos pela SUPRI (doc. ref.3 e 4) nenhuma menção a
garantias de que a Cava Norte não terá efeito algum, ao longo do tempo, sobre a
divisa dos dois municípios.
• Não encontramos também nenhum documento que comprove que a administração e
os órgãos ambientais de Belo Horizonte foram consultados e deram anuência a esse
empreendimento que muito provavelmente adentrará fisicamente área do município.

Para realizamos uma análise preliminar dos cenários acima descritos utilizamos informações
obtidas do Google Earth, por não dispor de base topográfica detalhada e confiável do terreno
nem do projeto geométrico / topográfico previsto para a Cava Norte. Para tanto, comparamos
o ângulo geral de inclinação dos taludes da cava com o do talude sul da mina Corumi,
adjacente, e odo talude norte da mina próxima, deÁgua ClaraÁguas Clarass (ver fotos a seguir).

22
Fig. 11a –Corte no talude norte da cava da mina de Águas Claras para identificação da declividade
máxima admissível.

Fig. 11b –Corte no talude norte da cava da mina de Águas Claras para identificação da declividade
máxima admissível.

23
Fig.12 – Cálculo da declividade média do talude norte da cava da mina de Águas Claras

É de crucial importância ter em conta que o talude norte de Águas Claras, nas vizinhanças
imediatas da Cava Norte do CMST, tem ângulo geral de 31o (menor que os previstos para a
Cava Norte da TAMISA, que situam-se na faixa de 38o a 42o) e, mesmo com esse ângulo menor,
tem se mostrado instável devido à sua grande declividade, o que exigiu trabalhos extensos de
consoli
dação5,6
.

terreno e projeção dos taludes da Cava com a


Fig. 13a – Corte da Cava Norte da mina da
TAMISA para identificação do perfil do

declividade máxima admissível.

5
Ver https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/08/17/interna_gerais,980859/mineradora-
termina-estabilizacao-em-cume-da-serra-do-curral.shtml (reportagem de 2018 do jornal Estado de
Minas: “Outro resultado apresentado ontem se refere ao término da “complexa” fixação de taludes,
com telas de aço e serviços de geotécnica, na Cava Oeste e Morro do Patrimônio, numa extensão de
cerca de 150 metros lineares. Há exatos quatro anos, a equipe do Estado de Minas esteve no local na
companhia de funcionários da Vale e constatou a degradação da encosta devido à atividade minerária,
que começou em 1973 e foi desativada em 2002 – hoje os canais de drenagem podem ser vistos a olho
nu na encosta e são monitorados constantemente por técnicos.
Para executar os trabalhos nos últimos quatro anos foram usados cerca de 200 alpinistas industriais,
alguns mineiros, tendo em vista a necessidade de utilização de rapel para fixar as telas de aço na rocha,
além de helicóptero para o transporte. Na sequência, foi feito um “coquetel de sementes” nativas para
revegetar a área. Um radar também pode ser visto à beira do lago (150 metros de profundidade) para
emitir, online, boletins com informações sobre eventuais movimentações (?) na área”.
6
https://www.hojeemdia.com.br/primeiro-plano/economia/mina-de-%C3%A1guas-claras-ser%C3%A1-
recuperada-mas-destina%C3%A7%C3%A3o-n%C3%A3o-est%C3%A1-definida-1.258754 (reportagem de
16/5/2014 do jornal Hoje em Dia: “A partir desta sexta-feira (16) será possível perceber o tráfego de
helicópteros no local. Ele será usado para afixar uma tela de aço de 92 mil metros quadrados, que terá
função de revestir a montanha e impedir novas erosões e desprendimentos de rochas, como ocorreu
em 1992, com impactos ainda visíveis”)
24
Fig. 13b – Corte da Cava Norte da mina da TAMISA para identificação do perfil do terreno e projeção
dos taludes da Cava com a declividade máxima admissível.

Fig.14 – Corte da Cava Norte da mina da TAMISA com o Ângulo Geraldos taludes de Água ClaraÁguas
Claras e Corumi e com o Ângulo Geral previsto no EIA.

Igualmente importante é considerar que o talude adjacente, do mesmo maciço rochoso a ser
esplorado pela Cava Norte, talude esse resultante da operação da mina Corumi, tem ângulo
geral de 28o, um pouco menor que o da mina de Águas Claras, o que confirma a inadequação
dos ângulos informados no EIA para a Cava Norte.

A Fig. 15 a seguir (cópia da Fig. 10.1.34, pág. 318, do EIA apresentado pela TAMISA), permite
visualizar bem o “mergulho das camadas rochosas em posição que favorece o surgimento de
movimentos de massa, deslocando volumes do terreno encosta abaixo”, o que faria a divisa
entre os municípios de Nova Lima e Belo Horizonte ser rebaixada, como já explicamos, fazendo
a Cava Norte adentrar o município de Belo Horizonte. Some-se a esse mergulho, os grandes
valores de ângulos que apresentamos acima. Acrescentamos a esta figura a seta vermelha para
evidenciar a tendência de escorregamento das rochas para dentro da Cava Norte.

25
Fig.15 – Mergulho das camadas rochosas no sentido de favorecer o desmoronamento dos taludes
para dentro da Cava Norte da mina da TAMISA.

Com base nos exemplos reais e bem próximos da situação analisada, cabe concluir, portanto
que:

• Oângulo geral máximo admissível para a Cava Norte seria de 30o e que ângulos
maiores resultarão em instabilidade e desmoronamento dos taludes, com risco para os
operadores da mina e invasão de área do município de Belo Horizonte.
• Não foi encontrada nos documentos do EIA/RIMA nenhuma justificativa técnica para
os ângulos informados na Tab. 6.4. Não encontramos também nos Pareceres Únicos
emitidos pela SUPRI (doc. ref.3 e 4) nenhuma menção aos riscos advindos dos ângulos
acima mencionados e de suas possíveis nefastas consequências, “detalhe” que pode
ter passado despercebido aos técnicos da SEMAD que analisaram os documentos.
• Da mesma forma nos parecem excessivos os ângulos de face dos taludes das cavas (na
faixa de 55,8o a 63o, conforme tabela 6.4 do EIA) e das estradas de acesso (67o
conforme item 6.4.7.1 do EIA), igualmente desprovidos de justificativa técnica.
• O fundo da Cava Norte está previsto no EIA na El. 1090 m (ver Fig. 5). Como o topo do
talude existente da mina Corumi está na El. 1214 m, a altura total do talude norte da
Cava Norte seria de 114 m e desmoronamentos de um talude desse porte teriam
graves consequências.
• Pelo exercício amostrado anteriormente, é imprescindível que o projeto completo e
detalhado da Cava previstaseja apresentado pela TAMISA. Mesmo no cenário em
que, a divisa entre os municípios fosse preservada na altitude atual durante a
operação da mina (e, portanto, sem que inicialmente a cava adentrasse Belo
Horizonte), as bordas norte e oeste da Cava Norte, por chegarem até a linha de
contorno da cava já existente da mina Corumi, resultariam em um limite em forma de
“gume”, extremamente instável, sujeito a futuros efeitos de erosão e
desmoronamentos, mormente com ângulos tão altos. Assim, o cenário inicial seria
descaracterizado e isso faria, em alguns anos, a Cava Norte entrar em área do
município de Belo Horizonte.
• Problemas similares aos analisados acima podem estar ocorrendo com relação às
demais cavas, motivo pelo qual o projeto geométrico / topográfico completo,
detalhado e com figuras nítidas de todas as Cavas deveria constar do EIA/RIMA.Esse
projeto deve ser apresentado por meio de desenhos editáveis, em formato .DWG ou
similar, com possibilidade de gerar imagens 3D. Vídeos 3D mostrando o aspecto da
cava dea partir de vários ângulos de visada e detalhesde todas as áreas da mina,
incluindo estradas, também devem ser fornecidos e estar disponíveis para o público.

26
• Igualmente importante é saber em que extensão a Cava Norte, depois de totalmente
explorada, seria preenchida com estéreis das demais cavas, qual seria o perfil final da
pilha e como seria garantida a sua estabilidade.
• Também é importante conhecer os impactos no meio ambiente previstos para as
décadas e séculos futuros. Nenhuma informação consistente e detalhada sobre isso
foi encontrada no EIA/RIMA nem nos dois Pareceres Únicos da SUPRI.

Nosso parecer é de que processo de licenciamento do Complexo Minerário Serra do Taquaril


(CMST) não está devidamente instruído, visto que os estudos apresentados pela TAMISA
estão incompletos no que se refere à geometria / topografia da Cava Norte e às garantias de
que ela não terá efeito algum, ao longo do tempo, sobre a divisa dos dois municípios. Pela
análise que realizamos, parece-nos inevitável que a Cava Norte adentre áreas do município de
Belo Horizonte, o que demandaria um processo de licenciamento formal por parte desse
município.

Essa afirmação, portanto, corrobora o que está no Parecer Técnico nº 0294/217 da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, datado de 17/3/2021:

“Apesar das estruturas estarem situadas junto ao limite com o município de


Belo Horizonte, este não foi considerado como passível das repercussões do
empreendimento”.

O Parecer Técnico nº 0294/21 confirma também a possibilidade, acima descrita,de invasão da


área do município de Belo Horizonte

“A possibilidade da interferência do empreendimento sobre o território de


Belo Horizonte é percebida na porção superior da chamada “cava norte” do
projeto aonde haverá, no mínimo, o ajuste do terreno natural com a
bancada mais elevada projetada para essa cava. Sabendo-se que na região
a montante do Parque Estadual da Baleia está em nível topográfico superior
em relação ao território de Nova Lima, é possível prever o surgimento de
focos erosivos com escoamento no sentido de Nova Lima, assoreando o vale
do município vizinho por meio da erosão da área mais elevada no município
de Belo Horizonte, desde que não haja o devido controle de engenharia.

A topografia na área da cava norte do projeto CMST é bastante acentuada,


com mergulho das camadas rochosas em posição que favorece o
surgimento de movimentos de massa, deslocando volumes do terreno
encosta abaixo, podendo provocar o recuo da linha de divisa para o
interior do atual território do município de BH, já que ela acompanha a
linha de cumeada do alinhamento montanhoso.(Grifo nosso)

Ressalta-se, aqui, que há um exemplo conhecido de interferência direta de


um empreendimento localizado em Nova Lima sobre o território de B.
Horizonte: a conhecida Mina de Águas Claras, que promoveu a deformação
do perfil emblemático da Serra do Curral à altura do Parque das
Mangabeiras e motivou manifestações da sociedade da época (“Olhe bem
as montanhas”, década de 1970). Mais recentemente, já no século 21 e com

7
https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/meio-
ambiente/pt_smma_294_21_tamisa.pdf
27
a lavra encerrada, um movimento de massa ocorrido na face da escarpa
final da Serra do Curral voltada para Nova Lima levou ao fechamento
preventivo da trilha de passeio pela sua cumeada, próximo ao Parque das
Mangabeiras”.

Por fim, considerando quea Cava Norte muito provavelmente ocupará – durante sua
implantação ou no futuro – parte da atual cava da mina Corumi, no município de Belo
Horizonte, e terá impactos ambientais nesse município, sem que ele tenha sido consultado e
manifestado sua anuência ao projeto e que atividades minerárias na mina Corumi estão
indeferidas, de acordo com o Ofício N.º 338/2019 – SEMAD/SUPRAM-CM/DAF DE 30/7/2019,
pelos motivos apresentados no Parecer Único N.º 073/2019 (Protocolo SIAM
0452363/2019)recomendamos:

• O indeferimento do pedido de licenciamento do CMST.

4 Destruição de Trilha de Acesso ao Pico Belo Horizonte


Outro ponto que merece destaque é o fato - demonstrado nas Fig. 16a a 16d a seguir – de que
as duas CavasOeste da mina em discussão teriam grande e irreversível impacto sobre a trilha
de acesso ao alto do Pico Belo Horizonte, podendo resultar em sua destruição e inviabilizar,
deste modo, o acesso a este lugarde uso comum da população.

É cediço na jurisprudência que o direito de propriedade não é absoluto, não podendo o


particular impor restrição ao direito de terceiros de usufruir de bem público de uso comum
dos cidadãos.

O Pico Belo Horizonte é lugar turístico, patrimônio social, histórico, cultural, paisagístico e
ambiental. O acesso a ele, de forma segura e permanente, constitui também a garantia do
direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, que deve ser garantido a
todos, e entendido também, de forma ampla extensiva, como direito de usufruí-lo e nele
permanecer. Ao Estado compete a obrigação de assegurar o acesso público a tais ambientes
naturais, impedindo sua privatização e a inviabilização do acesso a eles, mormente quando
esse acesso já está consolidado por costume há décadas, talvez mais de um século.

28
Fig. 16a – Pico Belo Horizonte e trilha de acesso a
ele, de uso constante. Essa trilha ficaria na borda
da Cava Oeste ou seria destruída por essa cava.
Ápice do Pico
Belo Horizonte

Trilha de
acesso ao Pico

Área da Cava Oeste

Trilha de
acesso ao Pico

Fig. 16b – Trilha de acesso aoPico Belo Horizonte e área destinada à Cava Oeste.

29
Fig. 16c – Caminhada rumo ao Pico Belo Horizonte pela trilha que seria destruída pela Cava Oeste.

Ápice do Pico Belo Horizonte

Fig. 16d – Ponto final da caminhada até o Pico Belo Horizonte pela trilha que seria destruída pela Cava
Oeste.

Deve-se destacar que em documento complementar (informação No 70, de 1º/3/2021, a


TAMISA considera apenas, para efeitos de preservação e com base em um alegado “princípio
da legalidade”, “as trilhas que contam com proteção legal”.E afirma: “trataremos, nesta

30
resposta, portanto (i) das trilhas protegidas no município de Nova Lima e (ii) trilhas em
unidades de conservação, destinadas à visitação pública”.

O documento citado deveria apresentar os fundamentos jurídicos (leis, decretos etc.) que
elucidariam o alegado “princípio da legalidade”, o que julgamos basilar. Sobre esse tema,
perguntamos: pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a trilha de acesso ao Pico Belo
Horizonte, aqui apresentada, pode ser “legalmente” destinada ao desaparecimento? Será ela
“legalmente” irrelevante, desprezível?

Diante do exposto, recomendamos:

• Que as questões aqui levantadas sejam discutidas para definição da legalidade da


extinção da trilha de acesso ao Pico Belo Horizonte.

5 Aspectos Arqueológicos e Históricos


De acordo com Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos - CNSA MG02632 do IPHAN8,
instituído pela Portaria nº 241, de 19 de novembro de 1998 - IPHAN (ver Anexo 1 ao presente
documento), a Fazenda Ana da Cruz, local do projeto CMST, tem sítios arqueológicos que são
constituídos não apenas de “conjunto de estruturas de habitação e conjuntos que remetem à
mineração aurífera colonial”, mas também de alinhamento de pedras, canais tipo trincheiras,
valetas e círculos de pedracom grau de integridade superior a 75%.A ficha do cadastro foi
preenchida em16/01/2015 por Henrique Piló, da Arteffactto Consultoria, de acordo com o
disposto no Art.18 da Lei No 3.924, de 26 de julho de 1961.

Entretanto:

• Uma única menção a existência de patrimônio arqueológico é feita no EIA da TAMISA,


à pág. 27, em que uma tabela lista, nos itens Q e R, a existência de Ficha de Cadastro
no CNSA/SGPA e um documento de “Diagnóstico Arqueológico” elaborado pela
Arteffactto em 2015. Esses dois documentos (Ficha e Diagnóstico) também são listados
na pág. 6 do “Anexo A do EIA” e algumas tabelas das páginas seguintes desse Anexo A
apresentam a pontuação, referente às alternativas estudadas para o empreendimento,
no que diz respeito à presença de sítios arqueológicos.

“Assim, estudos arqueológicos preventivos fazem-se necessários


independentemente da presença ou ausência de sítios conhecidos na área
a ser afetada por determinado empreendimento, devendo o IPHAN ser
sempre consultado. A ausência de sítios conhecidos em uma determinada
área, portanto, não exime os empreendimentos da necessidade de anuência
do IPHAN para obtenção das licenças. Trata-se do princípio da precaução, o
qual determina que “para que o ambiente seja protegido, serão aplicadas
pelos Estados, de acordo com as suas capacidades, medidas preventivas.
Onde existam ameaças de riscos sérios ou irreversíveis, não será utilizada a
falta de certeza científica total como razão para o adiamento de medidas
eficazes, em termos de custo, para evitar a degradação ambiental”
(Declaração do Rio de Janeiro/1992). Deste modo, faz-se sempre necessário
conferir se não há sítios ainda desconhecidos a serem impactados. No caso

8
http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?25002
31
da identificação de sítio na área, o princípio da prevenção exige que uma
solução técnica seja aplicada, geralmente o resgate ou medidas que
promovam sua preservação”.(disponível em
https://floripaarqueologica.com.br/que-e-arqueologia/legislacao/, acesso
em de 02 agosto 202)(Grifo nosso)

Com relação a esse item:

a) Não encontramos no EIA nem no Rimaapresentados pela TAMISA, assim como nos dois
Pareceres Únicos (Parecer Úniconº 22/SEMAD/SUPPRI/DAT/2020 e Parecer Único
SUPPRI - Protocolo SIAM Nº 0285398/2018) emitidos pela SEMAD, qualquer menção
ao patrimônio arqueológico e nenhuma AIA do empreendimento sobre esse
patrimônio.Não há documentos que mostrem a localização dos sítios arqueológicos
que possam permitir a verificação de possíveis influências do empreendimento na
integridade desses sítios.
b) Apesar do Parecer Úniconº 22/SEMAD/SUPPRI/DAT/2020“sugerir o deferimento” do
processo, não menciona a anuência no IEPHA nem do IPHAN ao projeto
apresentado pela TAMISA.
c) É possível que estejam tombados pelo IPHAN não apenas o “conjunto de estruturas de
habitação e conjuntos que remetem à mineração aurífera colonial”, mas também de
alinhamento de pedras, canais tipo trincheiras, valetas e círculos de pedra. Nenhum
desses elementos está mostrado ou considerado nos documentos apresentados pela
TAMISA.
• Conforme a ficha do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos - CNSA MG02632, a
Fazenda Ana da Cruz, onde está previsto o projeto do CMST, é um sítio histórico.

Com relação ao este tem:

Não encontramos em nenhum dos documentos apresentados pela TAMISA nem nos
Pareceres Únicos da SEMAD qualquer referência a levantamentos históricos que
possam ser utilizadas para balizar o licenciamento do CMST9.

• O Anexo D do EIA apresenta o documento OFÍCIO/GAB/IPHAN/MG no 0203/2016 de


1º/02/2016 enviado aos arqueólogos Alenice Baeta e Henrique Piló, da Arteffactto,
com cópia para a TAMISA, que aprova os relatórios de diagnóstico arqueológico das
áreas do CMST protocolados naquele órgão em 27/2/2013 e 27/2/2015.

O Ofício informa, ainda, que:

9
Em pesquisa na internet, localizamos uma única referência ao histórico da Fazenda: a citação de um
documento denominado “Histórico da Fazenda Ana da Cruz – Sabará/Raposos/Nova Lima, datado de
2018 e elaborado por Marcus Vinícius Duque Neves. Em contato direto com o autor, obtivemos a
informação de que ele elaborou o documento, mediante contrato, para uma empresa, motivo pelo qual
não poderia nos fornecer cópia.
Informação disponível em: https://www.escavador.com/sobre/6542207/marcus-vinicius-duque-
nevesAcesso em 9/6/2021.
32
Fig. 17 – Imagem de parágrafo do OFÍCIO/GAB/IPHAN/MG no 0203/2016 de 1º/02/2016

Sobre isso, cabe registar que não encontramos, entre os documentos disponibilizados
pela SEMAD, os dois relatórios mencionados no Ofício do IPHAN. Observamos que o
Ofício do IPHAN:

a) dá anuência “para com o licenciamento do CMST” e aprova tão somente a “localização


da cava 1 nas proximidades do pico Belo Horizonte” para fins de Licença Prévia (LP) e
não a localização de áreas para rejeitos e estéreis, estradas, instalações de
processamento etc.
b) cita achados, que não sabemos quais foram nem onde se localizam.
c) solicita projeto que envolva os impactos, as medidas mitigatórias ea proposta de
preservação e/ou eventuais compensações sobre os ditos achados.

• O Anexo D do EIA inclui outro Ofício (OFÍCIO/GAB/IPHAN/MG no 0369/2018, de


28/11/2018), dirigido à TAMISA e com cópia para a Arteffactto, dá anuência à Fase 1
do CMST condicionada ao cumprimento dos seguintes itens:

33
Fig. 18 – Imagem de parágrafo do OFÍCIO/GAB/IPHAN/MG no 0369/2018, de 28/11/2018

Com relação a este item:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, relatórios que


permitam conhecer os bens arqueológicos encontrados na área do CMST e a
localização das áreas citadas nas condicionantes, o que seria necessário para permitir
o conhecimento e a análise por parte da sociedade, tornando o processo inteiramente
transparente.

• Um terceiro Ofício, o de no 1447/2018/DIVAP IPHAN-MG/IPHAN-MG-IPHAN, datado


de 10/12/2018, prorroga os prazos para cumprimento das condicionantes 1 a 5 e
informa que tais prazos serão contados a partir da emissão da Licença de Instalação da
Fase 1. O Ofício também acata “os mapas com a nova ADA adequada aos parâmetros
da Portaria 473, referente ao tombamento da Serra do Curral.

Com relação a esse item:

Não sabemos se tal ADA, aprovada pelo IPHAN, é a mesma que consta dos mapas do
EIA que deu origem ao Parecer Único da SUPPRI, o que deveria ser comprovado pela
apresentação do mapa da ADA com aprovação formal do IPHAN.

34
• Por fim, o Anexo H do EIA, referente à anuência do IPHAN para a Fase 2 do CMST:

a) inclui o mesmoOFÍCIO/GAB/IPHAN/MG no 0203/2016 de 1º/02/2016, disponibilizado


no Anexo D (Fase 1, ver acima), o qual aprova somente a localização da Cava 1.
b) inclui o Ofício de no 1449/2018/DIVAP IPHAN-MG/IPHAN-MG-IPHAN, datado de
10/12/2018, que solicita à TAMISA encaminhar ao IPHAN documento específico sobre
a Fase 2, visto que a TAMISA tinha encaminhado, no âmbito da Fase 1, documento
relativo à “Cava Oeste – Fase 2”, cava essa situada no entorno da área tombada da
Serra do Curral.
c) inclui o Ofício de no 1561/2018/DIVAP IPHAN-MG/IPHAN-MG-IPHAN, datado de
19/12/2018, que esclarece o anterior, confirmando que as Fases 1 e 2 seriam tratadas
em processos distintos.
d) inclui o Ofício de no 2495/2019/DIVAP IPHAN-MG/IPHAN-MG-IPHAN, datado de
6/9/2019, que emite anuência à LP da Fase 2 do empreendimento e apresenta as
seguintes considerações (com grifos nossos):

“1)NoOFICIO/GAB/IPHAN/MGno203/2016,de01defevereirode2016,noâmbit
odoProcessoIPHANno01514.004478/2013-12,foi aprovada a localização da
Cava 1 nas proximidades do pico Belo Horizonte para fins de Licença Prévia
(LP);
2)NoOfíciono1561/2018/DIVAPIPHAN-MG/IPHAN-MG-
IPHAN,de19dedezembrode2018,informou-sequeaLicençaPrévia(LP)do
empreendimentocomoumtodoeespecificadamentedaLIdaFase1foitratadan
oprocesso01514.004478/2013-12eorientou-sequeaLicençade Instalação
(LI) da Fase 2 fosse tratada especificamente no âmbito deste processo em
tela;
3) Conforme declarado expressamente na página 4 do Termo de Referência
Específico (TRE) elaborado pelo IPHAN-MG em resposta à FCE que foi
apresentada, e na página 1 do PARECER TÉCNICO no
284/2019/COTECIPHAN-MG/IPHAN-MG, a Portaria IPHAN no 437, de 19 de
novembro de 2018 não impede atividades extrativistas no setor AOC 03”;

Sobre o trecho destacado:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, o Termo de


Referência Específico (TRE) elaborado pelo IPHAN-MG, a FCE que foi apresentada, nem
o PARECER TÉCNICO no 284/2019/COTECIPHAN-MG/IPHAN-MG.

“4)NoPARECERTÉCNICOno 284/2019/COTECIPHAN-MG/IPHAN-
MGforamsolicitadosestudoscomplementaresparaaLIdaFase2do projeto da
Taquaril”.

Sobre este item:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, tais estudos


complementares.
35
e) o mesmo Ofício de no2495/2019/DIVAP IPHAN-MG/IPHAN-MG-IPHAN, de 6/9/2019,
emite a anuência do IPHAN à LP da Fase 2 do empreendimento e apresenta as
seguintes condicionantes para “quando da solicitação de LI da fase 2”:

“EstamosemitindoapresenteanuênciaàLPdaFase2doempreendimento,diante
doquefoiapresentadopeloempreendedornaFCEdo processo em tela.
Informamos ainda que, quando da solicitação de LI da fase 2, nos termos do
PARECER TÉCNICO no284/2019/COTEC IPHAN-MG/IPHAN-MG, deverá ser
reformulado o Relatório de Avaliação de Impacto aos Bens Culturais
Tombados, visando detalhar os impactos sobre morfologia da paisagem
que a mineração provocará dentro daspoligonaisde tombamento da Serra
do Curral e seu respectivo entorno, além de propor
alternativastécnicaspara garantir a leitura de continuidade entre os bens
tombados e a paisagem, apresentando, como subsidio para o mesmo, os
seguintes documentos: (...)”

Com relação a essa informação:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, ooriginal do


Relatório de Avaliação de Impacto aos Bens Culturais Tombados, nem o
reformulado. Consideramos de extrema importância conhecer, desde já (e não apenas
quando da solicitação de LI da Fase 2), quais serão os “os impactos sobre morfologia
da paisagem que a mineração provocará dentro daspoligonaisde tombamento da Serra
do Curral e seu respectivo entorno”, bem como quais seriam as
“alternativastécnicaspara garantir a leitura de continuidade entre os bens tombados e
a paisagem”. Devido à alta relevância da Serra do Curral e todo o seu entorno
consideramos imprescindível, obrigatória, a apresentação e disponibilização para toda
a sociedade de todas essas informações, da forma mais clara e completa possível,
antes de qualquer Parecer Único e qualquer análise por parte da CMI. Sobre esse
ponto, favor ver item 9 do presente documento.

“1)Estudo de Impacto Ambiental, com as devidas considerações sobre a


paisagem e estudo de eixos visuais, de forma a se avaliar o impacto
visualcausadopeloempreendimentonosdiferentespontosdevisada,dentreel
es,ossituadosnomunicípiodeBeloHorizonte.Taldocumentofoi mencionado
em estudos constantes no processo IPHAN 01514.004478/2013-12, devendo
ser reformulado, de acordo com a nova ADA”;

Com relação a esta informação:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, esse Estudo de


Impacto Ambiental solicitado pelo IPHAN. Conforme já afirmado, consideramos
obrigatória sua imediata apresentação.

36
“2)PlanodeRecuperaçãodeÁreaDegradadadoempreendimento.Taldocume
ntofoijuntadoaoprocessoIPHAN01514.004478/2013-12 (0736461), também
devendo ser reformulado, de acordo com a nova ADA”;

Com relação a esta informação:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, esse Plano de


Recuperação de Área Degrada solicitado pelo IPHAN (nem o original nem o
reformulado. Conforme já afirmado, consideramos obrigatória sua imediata
apresentação.

“3)EstudodeSequenciamentoAnualdeLavra,comrepresentaçõesdoPicoBelo
Horizonte,APPAMesoluçãodebanqueamentodaCAVA OESTE em plantas e
cortes”.

Com relação a esta informação:

Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, esse Estudo


de Sequenciamento Anual de Lavra solicitado pelo IPHAN (nem o original nem o
reformulado. Conforme já afirmado, consideramos obrigatória sua imediata
apresentação. Consideramos que o documento deverá incluir o estudo de todas as
Cavas e não apenas a Oeste.

Conclusão:

Sem a apresentação dos relatórios e estudos arqueológicos e históricos acima


mencionadosjulgamos que falta ao licenciamento do empreendimento CMST a transparência
devida à sociedade, que têm o direito de comprovar, por si mesma, se há o efetivo
cumprimento do que é determinado no Decreto-Lei no 25, de 30/11/1937 e no Art. 216 da
Constituição da República de 1988. Nunca é demais lembrar que as cavidades subterrâneas, os
sítios arqueológicos e pré-históricos são bens da União, consoante o inciso X do Art. 20 da
Constituição de 1988, o que é mencionado no item 7.2.1.8 do EIA apresentado pela TAMISA:

“Conforme estabelece o artigo 216, inciso I, da Constituição da República de


1988, os sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico configuram patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser protegidos pelo Poder Público por meio de
inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, nos termos
do §1º do mesmo dispositivo”.

Consideramos, portanto, que também sob os aspectos arqueológico e histórico, o processo de


licenciamento do Complexo Minerário Serra do Taquaril (CMST) não está devidamente
instruído, visto que os estudos apresentados pela TAMISA estão incompletos no que se refere
aos patrimônios arqueológico e histórico e às garantias de que o CMST não terá efeito
inaceitável, ao longo do tempo, sobre o patrimônio referido.

Diante do exposto, recomendamos:

37
• O indeferimento do pedido de licenciamento do CMST.

7 Aspectos Fundiários
Em “Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis - Exercícios findos em 31 de dezembro de
2017 e 2016”10 a Cowan Participações S.A. informa que

“A Companhia tem por atividade principal a participação no capital social


de outras sociedades, detendo a propriedade do imóvel rural denominado
Fazenda Ana da Cruz, com aproximadamente 1.400 hectares, localizado nos
municípios de Nova Lima e Sabará, ambos pertencentes à denominada
Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. Este imóvel foi adquirido em
10 de fevereiro de 1977 para fins de investimento, tendo em vista a
perspectiva de valorização imobiliária dessa área pela crescente
urbanização dos municípios onde está localizada.

Adicionalmente ao potencial de valorização imobiliária, nos últimos anos


outras duas importantes oportunidades de realização do ativo representado
pela Fazenda Ana da Cruz são:

1) o desenvolvimento da atividade imobiliária, tendo em vista o imóvel estar


localizado próximo a região de crescente urbanização e a forte valorização
imobiliária ocorrida nos últimos dez anos; e

2) o arrendamento do imóvel para o desenvolvimento da atividade de


mineração.

A Fazenda é superficiária de importantes jazimentos de minério de ferro,


estando localizada no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Os direitos
minerários são de titularidade de empresa ligada que, no momento, executa
estudos de viabilidade para o desenvolvimento da atividade de mineração
no local”.

A aquisição a fazenda pela COWAN em 1977 envolveu a expulsão de posseiros que ocupavam
a área. De acordo com a notícia, os posseiros acusavam o antigo proprietário, Vinicius
Valladares Vasconcellos, de ter usado “policiais, presidiários, tratores e armas para destruir
mais de 100 casas”. Acusavam também a compradora, COWAN, de ter pagado pelas
propriedades valores bem abaixo do que valiam e de ter mandado expulsar novamente, à
força, os posseiros que voltaram a trabalhar na área em virtude de liminar que lhes foi
concedida. A notícia cita ainda a existência, na época, de “100 processos de usucapião,
reintegração de posse e indenizatórios”.

Reproduzimos a seguir, na íntegra, a notícia que saiu na pág. 20 do 1º Caderno do Jornal do


Brasil de 24/12/1978.

10
https://www.hojeemdia.com.br/polopoly_fs/1.772027.1581594012!/menu/standard/file/Editais%20-
%2013-02-2020.pdf
38
Fig.19 – Cópia de notícia publicada na pág. 20 do 1º Caderno do Jornal do Brasil de 24/12/1978

Pensamos ser necessário saber se ainda há algum processo pendente que poderia interferir
ou, mesmo, inviabilizar o empreendimento, visto ser o aspecto fundiário essencial para
permitir a instalação do CMST.

O Sr. Vinicius Valladares Vasconcellos, cerca de 10 anos antes de vender a fazenda, já tinha
recebido autorização para pesquisar minerais na área11 e os resultados dessa pesquisa podem
ter sido utilizados nas negociações com a COWAN. A existência de minério de ferro de alto
teor valorizou bastante a propriedade, o que pode ter contribuído para a geração de conflito
com os posseiros.

11
Decreto nº 54.700, de 29/10/1964 e Decreto nº 60.148, de 27 de Janeiro de 1967 - Autorizam o
cidadão brasileiro Vinicius Valladares Vasconcellos a pesquisar dolomita, minérios de ferro e de
manganês, no município de Nova Lima, Estado de Minas Gerais.
39
Em 1973 a empresa Oxima12 foi autorizada a “lavrar minério de ferro em terrenos de
propriedade de Vinícius Valladares Vasconcellos, no lugar denominado Fazenda Ana da Cruz”.
Ao que tudo indica, a Oxima não se instalou e a fazenda foi vendida para a COWAN.

Diante do exposto, recomendamos:

• Que seja esclarecida a situação fundiária dos terrenos da Fazenda Ana da Cruz e
verificado se existe alguma pendência com relação à questão dos posseiros
mencionados que possa interferir com a instalação do CMST.

8 Impactos e Danos à População


8.1 Proximidade com Áreas Habitadas
O EIA apresentado pela TAMISA, um documento de 1639 páginas, logo no seu início (item 1.1,
pág. 3) faz a seguinteafirmação,que parece estar escrita sobre a linha tênue e imprecisa da
divisa entre a falácia e o equívoco:

“A única comunidade relativamente próxima ao projeto é a do Taquaril,


situada a norte da Fazenda Ana Cruz. Somado a isso, a existência da serra
do Taquaril, situada entre o projeto a comunidade, funciona como um
anteparo natural”.

Como se pode ver pelo mapa da página seguinte, aonorte doempreendimento CMST existem
outras comunidades e instalações bastante próximos, todos situados no município de Belo
Horizonte, que não foi consultado no processo e não emitiu sua anuência.

12
Decreto nº 72.622 de 16/08/1973 – “Art. 1º Fica outorgada a Oxima-Óxidos, Minérios e Associados
Ltda., concessão para lavrar minério de ferro em terrenos de propriedade de Vinícius Valladares
Vasconcellos, no lugar denominado Fazenda Ana da Cruz, Distrito e Município de Nova Lima, Estado de
Minas Gerais, numa área de cento e cinquenta e oito hectares, trinta ares e quatro centiares
(158,3004ha), delimitada por um polígono irregular, que tem um vértice a duzentos e cinquenta e seis
metros e cinquenta centímetros (256,50m) (...)”. O Decreto nº 72.622 foi revogado pelo Decreto s/nº,
de 15.02.1991, DOU 18.02.1991.
40
41
Fig. 20 – Cópia da Fig. 6.13 (pág. 62) do EIA com os nomes de comunidades / locaise distâncias
42
O mapa anterior é cópia da Fig. 6.13 (pág. 62) do EIA e nele inserimos rótulos com os nomes de
comunidades e outros locais e linhas com as distâncias. Pode-se constatar facilmente que a
“Comunidade do Taquaril” não é a única e não está “relativamente”, mas absolutamente
próxima, assim como outras:

➢ Novo Alvorada (região do Taquaril): a 1000 m das Instalações de Tratamento de


Minério (ITM) e a 1850 m da Cava Central.
➢ Bairro Cidade Jardim Taquaril: a 1200 m da Cava Norte e a 1250 m da Cava Central.
➢ Bairro Jardim Pirineus:a 1450 m da Cava Norte e a 1850 m da Cava Oeste.
➢ Minas Country Clube: a 1350 m da Cava Central e a 1700 m da Cava Norte
➢ Hípica Corumi: a 950 m da Cava Central e a 1300 m da Cava Norte.

Além desses locais, pode-se citar, por exemplo, os bairros Ipê Amarelo e Paciência, de Sabará,
que distam apenas 3,1 e 4,3 km respectivamente das Instalações de Tratamento de Minério
(ITM) do CMST.

Pode-se ver que há grande proximidade do projeto com vários sítios, casas, comunidades e
bairros de Belo Horizonte também pelas Fig. 6.13 e Fig. 10.3.75 do EIA, o que torna óbvioque
existem várias outras comunidades próximasalém da do Taquaril.

Outra possível falácia (“anteparo natural”) se destaca no texto do item 1.1 do EIA:

A Serra do Taquaril (denominação que o EIA usa para a Serra do Curral na


área do empreendimento) constitui um anteparo meramente visual e,
mesmo assim, não o seria no caso da Cava Norte caso houvesse
desmoronamento de taludes, como explicado na presente Nota Técnica.

O próprio EIA, por meio de mapas e textos, demonstra que a Serra não é capaz de deter
totalmente a contaminação do ar por poeira advinda do tráfego de caminhões e do
tratamento do minério, bem como os ruídos e as vibrações provocados, principalmente os
provenientes de explosões.

Parece que o EIA procura convencer o leitor incauto apelando para o provérbio popular que
diz que “o que os olhos não veem o coração não sente”. Não há justifica técnica para o fato de
o EIA não ter contemplado de forma especial e profunda, em sua análise, pelo menos a
comunidade oCastanheiras e o Novo Alvorada(área de ocupação, no ponto mais alto da Serra,
que está especialmente exposta aos efeitos lesivos do projeto), os bairros Pirineus e Cidade
Jardim Taquaril, o Minas Country Clube e o Hípica Corumi.

Outros bairros e zonas habitadas, tais como os bairros Jonas Veiga, Saudade, Alto Vera Cruz,
Pompeia e as várias áreas das comunidades do Taquaril também deveriam ter recebido
atenção especial, mas nenhuma dessas áreas é destacada nos mapas que mostram as
simulaçõesdo alcance dos ruídos, poeira e vibrações (Fig. 12.2.12 até 12.2.22, 14.1.1
até14.1.5 do EIA, aqui denominadas de Fig. 21a a 21n).

Para permitir que se tenha uma ideia dos bairros e comunidades de Belo Horizonte situados
nas proximidades do CMST apresentamos abaixo algumas imagens obtidas do Google Earth e
do Google Maps.

43
Fig. 21a – Vistas de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21b – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

44
Fig. 21c – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21d – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

45
Fig. 21e – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21f – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21g – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST


46
Fig. 21h – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21i – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21j – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

47
Fig. 21k – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21l – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

Fig. 21m – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

48
Fig. 21n – Vista de bairros e comunidades próximas ao CMST

8.2 Quantificação dos Impactos no Entorno


Sabe-se bem que as simulações matemáticas podem ser capciosas e dependem das diversas e
quase sempre imprecisas hipóteses utilizadas nos cálculos, bem como da metodologia e da
capacidade dos softwares utilizados. Assim, é também surpreendente que a SEMAD / SUPPRI
não exija que as memórias de cálculo dessas simulações, que geraram os diversos mapas de
impactos, sejam fornecidas pelos empreendedores – no caso a TAMISA – e submetidas à
análise e aprovação de consultores independentes, de notório saber, visto que dificilmente
esses conhecimentos especializados são de domínio dos técnicos do Estado responsáveis pela
análise dos documentos. O Anexo YY do EIA fornece tão somente os “outputs” dos
modelamentos realizados, mas não os “inputs”, a descrição da metodologia, dos softwares etc.

Não basta que mapas e textos de descrição dos resultados sejam apresentados no EIA: é
necessário que os cálculos sejam abertos para o exame meticuloso dos especialistas, sejam
eles contratados pela SEMAD ou pessoas sociedade interessadas em contribuir para com a
análise do processo.

É preciso ainda que a operação dos empreendimentos que causam impactos à sociedade e
ao meio ambiente, uma vez licenciados, seja condicionada às medições precisas dos
impactos, tais como ruídos, contaminações, vibrações etc. Caso se verifique, na prática
operacional, que os valores apresentados nos documentos de licenciamento foram superados,
a operação deve ser imediatamente suspensa, podendo-se dar o caso de suspensão definitiva.
Sem essa condicionante, os documentos apresentados no EIA passam a ser apenas ilustrativos,
sem função real para o licenciamento e para a operação.

O item 10.3.3 do EIA(pág. 1138) trata do “Entorno Imediato da Área Diretamente Afetada”
(ADA) não menciona os bairros Novo Alvorada, Castanheiras, Jardim Pirineus, Cidade Jardim
Taquaril,Jonas Veiga, Saudade, Alto Vera Cruz, Pompeia, o Minas Country Clube, o Hípica
Corumi, o Ipê Amarelo, o Paciência e demais zonas habitadas de Belo Horizonte e Sabará
próximas à ADA., tais como os bairros e as várias áreas das comunidades do Taquaril.

49
A Tabela 10.3.138 do EIA deveria ser completada com todos esses bairros e localidades e é
lamentável que a SEMAD / SUPPRI tenha recomendado o deferimento do pedido de licença
sem ter exigido os estudos adequados. Ao que parece, os técnicos desses órgãos não
conhecem a região e emitiram seu Parecer sem se preocuparem em conferir, in loco, os dados
informados no EIA, ou, pelo menos, consultar o Google Maps e o Google Earth.

Diante do exposto, recomendamos:

• Que, no caso do prosseguimento do processo de licenciamento do CMSTsejam


incluídos nos estudos todas as comunidades próximas ao empreendimento, como
claramente demonstrado nesse item, e avaliados detidamente todos os impactos que
essas comunidades poderão sofrer.

8.3 Impactos Decorrentes de Poeira


Como exemplo de impactos previstos pelo EIA por meio de simulações matemáticas – cuja
precisão é questionável, conforme já mencionado – apresentamos a seguir a Fig. 22, que é
detalhe da Fig. 12.2.12, pág. 1191 do EIA.

Fig. 22 – Resultados das simulações de dispersão de poluentes no ar.

Os pontos numerados inseridos na Fig. 22 (ver mais abaixo) correspondem aos seguintes locais
(Tab. 12.2.3 doEIA), a qual, lamentavelmente, omite a identificação das áreas. Pela listagem
apresentada na Tab. 12.2.3 pode-se comprovar que, embora o EIA tenha reconhecido nela
50
áreas residenciais próximas do CMST, tais áreas não foram mencionadas no item 1.1, que
afirma que “a única comunidade relativamente próxima ao projeto é a do Taquaril”:

1) Triângulo Aquapônico13 (fazenda, pousada) e Sítio Reino Ecológico, Sabará.


2) Área industrial, CMST.
3) Sítio em área rural.
4) Sítio em área rural.
5) Bairro Cidade Jardim Taquaril, rua Thales Assis das Chagas com Av. Prof. Navantino
Alves.
6) Bairro Taquaril, próx. ao Centro de Saúde Novo Horizonte.
7) Parte mais alta do Novo Alvorada (Ocupação).
8) Minas Country Club
9) Extremo sul do Bairro Jardim Pirineus (ref.: Império das Calhas, Av. Country Clube)
10) Bairro Mangabeiras, rua Ajax Corrêa Rabêlo com rua Fernando Megre Velloso
11) Vale S/A - Mina de Águas Claras (MAC) - Prédio 4, junto ao lago da cava da mina.
12) Orizonti - Instituto Oncomed de Saúde e Longevidade.
13) Hospital da Baleia

Na tabela 12.2.3 do EIA, as denominações dos itens 11 e 12 estão invertidas.

13
“O Triângulo Aquapônico concorre na categoria Impacto Ambiental - O projeto Triângulo Aquapônico
trata-se do cultivo integrado de peixes, hortaliças e morangos em sistema de recirculação de água sem
adição de agrotóxicos e produtos químicos, apenas rações para os peixes. Reduz em até 90% do
consumo de água comparado com a agricultura convencional. O jovem casal empreendedor, Gabriela
Viveiros e Felipe Magnani são os participantes deste projeto que surgiu em julho de 2020 e foi
idealizado no final do ano passado em um sítio em Sabará. Disponível em:
https://folhadesabara.com.br/noticia/2757/projeto-de-sabara-e-finalista-no-premio-impactos-positivos-
2020?__cf_chl_jschl_tk__=9ad79b92dd906579141b8af4af0b8cd36100c5b9-1626297876-0-
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jB2SQmcx1WqtV3s4XRHG1jNSENWhrGub6kzsAjakUSZ3fFxmKMFZlOLBsSTe3JobF_HBG_g. Consulta em
14/7/2021
51
Fig. 23– Relação de pontos receptores discretos.
O EIA prevê que o CMST irá gerar diversos tipos de “incômodos” à população que habita no
entorno do empreendimento, porém não identifica, de modo específico, os “incômodos”
previstos para cada comunidade:

Fig. 24– Texto do IA sobre geração de incômodos à população.

Julgamos ser indispensável a apresentação de tabela resumo com a listagempormenorizada


das várias comunidades, empreendimentos, hospitais, clubes, escolas etc. no entorno do
CMSTe, para cada uma delas, pelo menos os seguintes dados:

a) Identificação correta do local, incluindo endereço;


b) Coordenadas geográficas;
c) Níveis de poeira e poluentes;
d) Níveis de ruído;
e) Aumento do tráfego;
f) Qualificação dos impactos na paisagem;
g) Aspectos relativos à segurança.

A Tab. 13.1.72 do EIA é insuficiente quanto ao aspecto dos “incômodos” -

A título de exemplo, apresentamos a seguir fotos da grave situação da cidade de Congonhas –


MG, emjulho/2021, assolada pela poeira proveniente das minerações do seu entorno nas Fig.
25a a 25d.

52
Fig. 25a – Nuvens de poeira em Congonhas no mês de julho/2021

Fig. 25b – Nuvens de poeira em Congonhas no mês de julho/2021

53
Fig. 25c – Nuvens de poeira em Congonhas no mês de julho/2021

Fig. 25d – Nuvens de poeira em Congonhas no mês de julho/2021

54
Pode-se notar que a poeira foi carregada pelos ventos a grandes distâncias. As ocorrências
ensejaram duas Representações ao MPMG e dois ofícios desse Órgão14, todos da mesma data
de 28/7/21, enviados à FEAM e à Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Essa situação vem
se repetindo há vários anos.

De acordo com o “Boletim Diário por Poluente - Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Congonhas – MG”15 de 19/7/2021, a estação de monitoramento do bairro Pires registrou, para
Partículas Inaláveis (MP10), o índice 124 (Muito Ruim). Segundo o mesmo Boletim, esse índice,
situado na faixa de 121 a 200, é capaz de causar os seguintes efeitos: “Toda a população pode
apresentar agravamento dos sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e
garganta e ainda falta de ar e respiração ofegante. efeitos ainda mais graves à saúde de
grupos sensíveis (crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas)".

A respeito desse exemplo, é necessário perguntar se os EIA’s das mineradoras de Congonhas,


aprovados pela SEMAD, incluíram a simulação matemática de dispersão de poeira, análogaao
que foi feito e incluído no EIA da TAMISA. Se incluíram, é necessário saber se previsões feitas
para Congonhas estão aquém do se vê na atualidade ou estão sendo confirmadas pelas atuais
medições.
De qualquer forma, como o caso de Congonhas é paradigmático e não poderá, de forma
alguma, ocorrer em Belo Horizonte, Sabará e Nova Lima caso o CMST vier a ser – contra todas
as razões já apontadas pela sociedade e no presente documento – recomendamos
• que, para validar seus estudos, a TAMISA aplique, para o caso de Congonhas, a
metodologia e os programasque usou para seu EIA e comprove que os cálculos
resultantes coincidem com as medições que têm sido feitas em Congonhas. A seguir,
tendo calibrado o método e os parâmetros por meio de um caso real, a TAMISA deverá
refazer os cálculos para o caso do CMST, apresentando – em memória de cálculo
completa e detalhada – a comparação do caso de Congonhas com o do futuro CMST.
Poderá ser necessária a aferição da metodologia e dos programas de cálculo por meio
de outros exemplos práticos, além do de Congonhas.

8.4 Impactos Decorrentes de Vibração (Detonações)


O EIA é bastante claro a respeito do uso de explosivos durante, pelo menos, uma década de
operação do CMST, o que implicará na ocorrência de sismos artificiais (eufemisticamente
denominados “vibrações” no EIA). Entre os efeitos nocivos dessa prática, o EIA lista: “danos a
estruturas civis” (que, na prática, significatrincas em paredes e estruturas das casas e prédios,
podendo chegar em desmoronamentos), “níveis de pressão acústica” (ou seja, barulhos de
explosão) e “projeção de material desmontado”, expressão essa que procura elidir o fato de
que ocorrerão quedas de pedras de vários tamanhos, em direções diversas, lembrando os
efeitos de uma artilharia ou a queda de meteoros. Imagine-se tais efeitos, durante dez anos ou
mais, sobre as diversas comunidade próximas ao CMST:

14
Ofício n.º 0728/2021/1ªPJ/CONGONHAS e Ofício n.º 0729/2021/1ªPJ/CONGONHAS e Notícia de Fato
MPMG-0180.21.000142-6
15
Disponível em https://servidor.congonhas.mg.gov.br/intranet02-uploads/documentos/EDO-
264_2021_2_20-07-2021.pdf). Acesso em 29/7/2021. Ver também:
https://correiodeminas.com.br/ambientalista-alertou-sobre-a-chegada-das-tempestades-de-poeira-em-
congonhas/155639/
55
Fig. 26a – EIA - Vibração

No mesmo item 12.2.2.3 o EIA afirma textualmente:

Fig. 26b – EIA - Vibração

Com relação ao conteúdo das duas figuras anteriores:

Cabe registar que oAnexo L do EIA contém o “Termo de Compromisso COPASA-MG e


TAMISA” e não o Parecer Técnico mencionado.
Não encontramos, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, esse “Parecer Técnico
dos Impactos relacionados às vibrações”. Conforme já afirmado, consideramos necessária a
sua apresentação.
Chama a atenção o fato de que o Parecer não incluiu áreas de Belo Horizonte, mas apenas de
Nova Lima e Sabará, mesmo sabendo-se com o empreendimento estaria bem próximo de
vários bairros, comunidades e instalações, como se mostra no presente documento.
O item 12.2.2.3 informa que o estudo dos impactos das explosões, feitos pela empresa VMA,
foram elaborados especificamente sobre duas estruturas localizadas no entorno da área do
CMST: a subestação da CEMIG e suas linhas de transmissão, a adutora daCOPASA (da captação
de Bela Fama e que é responsável por boa parte do abastecimento da cidade de Belo
Horizonte). Os estudos concluíram que, conceitualmente não haverá prejuízo a essas duas
estruturas. Trata-se, portanto, apenas de um conceito e não de uma certeza, de uma
conclusão segura, confiável.
Não foram, portanto, feitos estudos de impactos nas estruturas das torres de
telecomunicações que ficam sobre o Pico Belo Horizonte, nem sobre o próprio Pico.
Não foram feitos estudos de impactos específicos para avaliar os “eventuais incômodos
sobre potenciais receptores humanos”, ou seja, sobre pessoas que habitem ou estejam no
entorno do empreendimento, nem mesmo sabendo-se que, conforme afirma o item 12.2.2.3,
“os limites de incômodo da vibração ao ser humano correspondem a valores de velocidade de
56
partícula muito mais baixos daqueles adotados para avaliação na integridade de estruturas”, o
que significa, na prática, que as pessoas são muito mais susceptíveis que as estruturas aos
tremores de terra e aos ruídos provocados pelas explosões. Os possíveis “incômodos” a
pessoas foram avaliados apenas por analogia com os estudos realizados, o que consideramos
extremamente temeroso e impróprio, visto serem as pessoas mais importantes que as
estruturas.
Não foram, também, feitos estudos para avaliar os impactos das explosões sobre as casas –
em grande parte frágeis e precárias – da área de ocupação do Novo Alvorada, bastante
próxima do empreendimento. Caso venham a ser realizadas explosões, a população dessa
comunidade e de outras próximas, indefesa e já em situação de grande vulnerabilidade,com
suas características étnicas e minoritárias assaz conhecidas, sofrerá, além dos “incômodos das
vibrações” (ou seja, dos sismos artificiais),riscos reais de danos em suas casas (trincas,
desmoronamentos e possíveis danos à sua integridade física). Tais riscos, imprevistos – e
talvez, imprevisíveis de forma segura – ocorrerão por dez ou mais anos, enquanto perdurarem
as explosões, e sobrepor-se-ão aos advindos dos ruídos, da poeira, do tráfego de caminhões e
máquinas e da presença de pessoas estranhas às comunidades, além de outros.
Pode-se alegar que a falta de avaliação específica e segura dos impactos acima mencionados
constituiria caso de racismo ambiental, inadmissível e condenável.
Por extensão, os impactos às demais populações do entorno, já apresentadas no presente
documento, precisam ser avaliadas de maneira específica, completa e segura, e não apenas de
modo “conceitual”.
Os impactos são reconhecidos de forma explícita no item 12.2.2.3 do EIA:

Fig. 27a – EIA - Vibração

O último parágrafo do item 12.2.2.3 é bastante claro, também, quanto às limitações dos
estudos realizados:a caixa aseguir.

Fig. 27b – EIA – Vibração: Limitação dos estudos

Diante dessas informações, cabe considerar que:


a) O modelo matemático (“conceitual”, deve-se lembrar) “sugere” que a TAMISA deverá
respeitar os limites de tremores (“vibrações”) definidos em normas e que “isso precisa
ser detalhado com o avanço dos estudos e detalhamento do plano de desmonte”. Ou
seja, o modelo realizado é geral, conceitual e não apresenta detalhes. A se aceitar
isso, o empreendimento seria licenciado, implantado e operado com base em

57
suposições matemáticas de caráter geral que poderão não ser verificadas na prática,
fato que é, no mínimo, temerário, insensato e altamente questionável.
b) Seria necessária a implantação de rede de sismógrafos no entorno, nos pontos
considerados “de interesse”. Pergunta-se: caso os tremores medidos ultrapassem os
valores previstos o uso de explosivos será interrompido? Sem explosões a operação
será viável? Quais são os “pontos receptores de interesse”, que critérios serão
usados para defini-los?
c) Ao contrário do que se afirmou no início do item 12.2.2.3 9 (estudos feitos para prever
os impactos na subestação da CEMIG e na adutora da COPASA), o último parágrafo
informa que a avalição foi feita “exclusivamente para predizer os efeitos da vibração
para o receptor humano”. Como não tivemos acesso ao “Parecer Técnico”, não é
possível confrontar com ele as duas afirmações contraditórias.
d) Não se avaliou os efeitos das explosões sobre as cavidades naturais subterrâneas
que, como já abordado no presente documento, apresentam troglóbios raros e novos.
Embora não tenhamos localizado, entre os documentos disponibilizados pela SEMAD, o
“Parecer Técnico de Avaliação dos Impactos relacionados às Vibrações pelo terreno e pela
atmosfera, a serem geradas por detonações com uso de explosivos, e seus eventuais efeitos
futuros sobre as interferências diversas situadas no entorno do Complexo Minerário Serra de
Taquaril – CMST, da Taquaril Mineração S/A, em Nova Lima e Sabará – MG”, de
fevereiro/2017, encontramos a informação complementar No 72 (ID No 31713, de 1º/3/2021
que conclui pela não existência de influências na estabilidade dos taludes da mina de Água
ClaraÁguas Claras, da Vale, e da minaCorumi, da Empabra.

A mina Corumi – assim como o Parque Estadual da Baleia e o das Mangabeiras – têm grande
área inserida no interior do perímetro “conceitual” em que os tremores são maiores (maiores
valores de velocidade de vibração de partícula de pico - VPP), como se pode ver na figura a
seguir, copiada da Informação complementar ao EIA No 72, e não nos parece lógico afirmar
que não haveria impactos nos taludes dessa mina. Lembramos que o desmoronamento de
taludes do lado sul dessa mina faria com que o projeto CMST adentrasse e tivesse efeitos
diretos em área do município de Belo Horizonte, que não foi consultado, como mostramos no
presente documento.As antenas no Pico Belo Horizonte, não avaliadas no Parecer Técnico
mencionado, estão na área onde ocorrerão os maiores sismos artificiais.

58
Fig. 28a – Alguns dos pontos sensíveis próximos à zona sujeito a sismos artificiais por explosões

Pelo menos o talude leste da mina de Água ClaraÁguas Claras está no limite (hipotético, diga-
se de passagem, visto ter sido determinado por cálculos “conceituais”) da área onde poderiam
ocorrer tremores mais intensos. Também já mencionamos no presente documento a
instabilidade dos taludes dessa mina e abordamos o tema dos demorados e caros trabalhos
feitos para evitar o desmoronamento desses taludes.

AInformação No 72 afirma que será necessária“a instalação de sismógrafos fixos e


permanentes nos pontos Vib-02 (torres de transmissão [do Pico Belo Horizonte]); Vib-03
(adutora da COPASA) e Vib-05 (Subestação do Taquaril – CEMIG), que registrarão todas as
vibrações pelo terreno, sejam elas provenientes de detonações ou não, o que possibilitará o
ajuste e controle adequando dos planos de detonação”. A figura a seguir mostra, entre outros,
o Vib-04, instalado nas imediações do bairro Cidade Jardim Taquaril. O citado “ajuste” dos
planos de detonação será feito sempre a posteriori das explosões, o que aponta para a
possibilidade de se tomar providências para reduzir os tremores somente depois que eles já
tiverem causado danos a estruturas e taludes.

Há que se levar em conta, também, a possibilidade de que um efeito nocivo dos tremores
pode advir tanto de um tremor de maior intensidade quanto de uma sequência de tremores
de menor intensidade, fato que não foi abordado nem no EIA nem na Informação No 72.
Assim, mesmo se fazendo “ajustes”, é possível que, a médio e a longo prazo, ocorram danos.

Entre os documentos disponibilizados pela SEMAD para acesso irrestrito do público está um
denominado apenas “Parecer Técnico”, elaborado pela empresa VMA e constituído de três
Anexos (A, B, e D – a falta do Anexo C não é justificada). Aparentemente, esse documento é o
que apresenta os Anexos do acima mencionado, de título “Parecer Técnico de Avaliação dos
Impactos relacionados às Vibrações pelo terreno e pela atmosfera, a serem geradas por
detonações com uso de explosivos, e seus eventuais efeitos futuros sobre as interferências
59
diversas situadas no entorno do Complexo Minerário Serra de Taquaril – CMST, da Taquaril
Mineração S/A, em Nova Lima e Sabará – MG”, que não localizamos. Com respeito a esse
documento, destacamos alguns pontos a seguir:

a) O AnexoB afirma que atualmente tem sido utilizada a velocidade de partícula VR, que é
a resultante dos vetores de velocidade nas três direções ortogonais. Assim, VR é maior
que a velocidade unidirecional VPPutilizada nos estudos realizados pela VMA e
acima referidos, o que faria tais estudos apontarem valores abaixo dos que
realmente ocorreriam.
b) Os estudos foram feitos considerando todo o terreno da mina e do seu entorno feito
de um material homogêneo e anisotrópico, ou seja, não consideraram a existência de
rochas diferentes, de falhas geológicas, de cavidades, de trincas ou de instabilidades já
existentes em taludes das minas de Águas Claras e Corumi, de erosões naturais ou
induzidas etc. Portanto, o estudo“conceitual” teve como hipótese um terreno ideal,
sem nenhuma descontinuidade, sem variações de propriedades, um terreno
inexistente na prática e cujos parâmetros de caracterização, tais como densidade,
elasticidade etc. não estão informados no documento. A Serra do Curral tem falhas
geológicas e é formada de rochas de diferentes composições e propriedades, com
espessuras variáveis, com inclinações e perfis topográficos diversos, contendo água
(aquíferos) em quantidades diferentes etc. Essa diversidade, afirma o documento,
somente poderia ser considerada se fossem feitos ensaios (detonações experimentais)
e mapeamentos sismográficos de detalhe. Dessa forma, os estudos conceituais, por se
basearem em um material ideal, impossível de existir na realidade, podem ser
altamente imprecisos. Consideramos incompreensível o fato da SEMAD / SUPPRI ter
emitido um Parecer Único favorável ao empreendimento que aceita, entre tantas
outros documentos igualmente questionáveis, um estudo desse tipo.
c) O Anexo B afirma ainda que as ondas sonoras – e não apenas os sismos artificiais,
provocados no terreno – podem provocar danos em estruturas e incômodos às
pessoas e que a quantificação e a previsibilidade dos ruídos e pressões acústicas são
bastante complexas e envolvem um grande gama de variáveis, incluindo as condições
atmosféricas no momento da detonação (pressão atmosférica, temperatura, inversões
térmicas, direção e velocidade do vento). Os efeitos mais comuns são quebras de
vidraças, mas podem também ocorrerdanos a paredes, trincas nos rebocos,
desalinhamento de telhas e danos em telhados. Dessa forma, podemos afirmar que,
devido a essa grande imprecisão, os ruídos e os danos por eles causados a pessoas,
edificações e estruturas, mesmo a distâncias maiores da área do empreendimento,
poderão ser inopinadamente maiores que os esperados.
Além dos problemas e riscos acima mencionados, não encontramos na documentação do
EIA/RIMA disponibilizada para consulta nenhuma avaliação – que consideramos ser de
crucial importância – sobre as barragens do entorno da Mina de Águas Claras. Várias
dessas barragens encontram-se atualmente em Nível 1 de emergência e vibrações
provocadas por detonações podem atuar como gatilho para o rompimento delas, tal como
foi citado e estudado exaustivamente no caso do rompimento da barragem da Mina do
Córrego do Feijão. A tabela a seguir, que resume parte da tabela mais completa disponível
em site da ANM16, apresenta informações básicas sobre essas barragens:

16
https://app.anm.gov.br/SIGBM/Publico/ClassificacaoNacionalDaBarragem - Informação extraída do
SIGBM: 06/09/2021 - 05:11:20 h
60
Altura Cat. Dano
Nome da Vol. Método Nível de
Latitude Longitude Atual de Pot. Clas.
Barragem Atual(Mm³) Construtivo Emergência
(m) Risco Assoc.
10 -
- - Alteamento a
5 (MAC) 78 15,55 Alto Alto A Nível 1
19°58'37.512" 43°53'34.810" montante ou
desconhecido
2-
5 - -
55 10,92 Alteamento a Alto Alto A Nível 1
(Mutuca) 20°01'34.413" 43°56'33.225"
jusante
- - 0 - Etapa
6 25 0,06 Alto Alto A Nível 1
19°57'36.000" 43°52'58.000" única
- - 0 - Etapa
7a 30 0,20 Alto Alto A Nível 1
19°57'56.000" 43°53'07.000" única
- - 0 - Etapa
B 40 0,49 Alto Alto A Nível 1
20°07'27.900" 43°55'30.800" única
- - 0 - Etapa Sem
7B 27,4 0,08 Baixo Alto B
19°58'02.514" 43°52'58.725" única emerg.

Deve-se lembrar que a barragem da Valedo Córrego do Feijão que se rompeu em


jan/2019 tinha 12 Milhões de m3 de rejeitos. A barragem 5 (MAC) tem volume superior
(15,55 Mm3) e a 5 (Mutuca) tem volume similar à do Córrego do Feijão (cerca de 11 Mm3).

As figuras a seguir mostram a localização e a distância dessas barragens à área das


detonações previstas no EIA/RIMA da TAMISA. Não sabemos por qual motivo a SEMAD
não exigiu da TAMISA o estudo dos possíveis efeitos das detonações nas estruturas das
barragens acima listadas.

Fig. 28b – Barragem 5 (MAC) – Distância até área das explosões: 3500 m

61
Fig. 28c – Barragem 5 (Mutuca) – Distância até área das explosões: 10.500 m

Fig. 28d – Barragem 6 – Distância até área das explosões: 1500 m

62
Fig. 28e – Barragem 7A – Distância até área das explosões: 2300 m

Fig. 28f – Barragem 7B – Distância até área das explosões: 2500 m

Pelos motivos acima mencionados, nos perguntamos: é aceitável um empreendimento


que fará explosões em área tão próxima de comunidades e de estruturas importantes?
Pode um licenciamento de mina aceitar estudos que confessam ter limitações tão
grandes?

Diante do exposto,:
63
• recomendamos o indeferimento do pedido de licenciamento do CMST.

8.4 Perdas Materiais e Imateriais da População


Além dos impactos advindos de poluentes em suspensão no ar, de vibrações, ruídos etc;, o EIA
aborda, superficialmente, a questão da desvalorização dos imóveis situados no entorno, tanto
na Fase 1 quanto na Fase 2 do empreendimento:

Fig. 29a – EIA – Desvalorização de propriedades

Constata-se que o EIA considera que poderá ocorrer desvalorização dos imóveis apenas no
entorno imediato do empreendimento, “não havendo ali nenhuma residência ou atividade
antrópica”.

É surpreendente – para dizer o mínimo – que as comunidades e bairros situados a pouco mais
de 1000 metros do empreendimento não sejam considerados inseridos no entorno imediato.
Obviamente haverá desvalorização dos imóveis no Novo Alvorada, Castanheira, Taquaril,
Cidade Jardim Taquaril, Jardim Pirineus, Minas Country Clube, Hípica Corumi e em vários
outros locais dos municípios de Sabará e Nova Lima. A existência de residências e atividades
entrópicas é notória, óbvia, por uma simples consulta ao Google Maps e à Tab. 12.2.3 do EIA,
por exemplo.

O EIA considera, tão somente, que impactos maiores poderão ocorrer no “entorno imediato”
somente durante a Fase 2 do empreendimento:

64
Fig. 29b – EIA – Desvalorização de propriedades

Novamente, o EIA desconsidera os bairros e comunidades acima destacados (Novo Alvorada,


Castanheira, Taquaril, Cidade Jardim Taquaril, Jardim Pirineus etc.) e passa ao largo da
necessidade de compensar as perdas financeiras e imateriais de todos os habitantes das
cercanias do projeto.

Se o próprio EIA considera que haverá “incômodos” e “desvalorização das propriedades”, por
qual motivo não prevê e não se exige, desde já,que seja feito ressarcimento e a reparação
desses danos, perdas e impactos, materiais e imateriais?Contratos nesse sentido poderiam
ser assinados, previamente, com todos os proprietários, como forma de garantia das
indenizações no caso de comprovação dos danos e perdas.

Na atualidade, a consideração, tão somente, de perdas materiais – tais como as decorrente


de desvalorização de propriedades – fere diretamente os direitos civis, individuais e
coletivos.

“Isso se deve à positivação dos interesses transindividuais, coletivos e difusos, que a


um só tempo reorganiza a categoria dos danos indenizáveis segundo a natureza dos
interesses (danos materiais e danos imateriais) e conforme o titular dos interesses
lesionados (dano individual e dano coletivo). De outro lado, o reconhecimento dos
interesses coletivos torna antiquada a partição dos danos entre patrimoniais e
extrapatrimoniais, este significando o dano moral, uma vez que o patrimônio humano
passa a ser considerado como dotado de bens pecuniariamente estimáveis e de bens
que não o são.

Amparado nesse raciocínio, (...) as bases conceituais que legitimam a concepção do


dano imaterial como a outra face das lesões a interesses, a par dos danos materiais,
resultando de uma situação adequada do instituto do dano no volume tridimensional
da dignidade humana”17.

Diante do exposto:

• recomendamos o indeferimento do pedido de licenciamento do CMST.

9 Falta de Anuência do Município de Belo Horizonte


Por meio de Ofício GAB-SMMA/COMAM nº 0545/2118, datado de 24/03/2021 (Anexo 2 à
presente Nota Técnica), o Secretário Municipal de Meio Ambiente, o Sr. Mário de Lacerda
Werneck comunica ao Conselho Municipal do Meio Ambiente os problemas graves que
poderão ser causados ao município de Belo Horizonte caso o CMST venha a ser implantado,
afirma que não recebeu consulta sobre o projeto e pede providências. O Ofício termina com o
seguinte parágrafo:

17
Dano imaterial: a compreensão dos interesses jurídicos e de sua lesão segundo volume tridimensional
da dignidade humana. Antônio Carlos Barros de Andrade FilhoAntônio Carlos Barros de Andrade Filho.
2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/20826/dano-imaterial-a-compreensao-dos-interesses-
juridicos-e-de-sua-lesao-segundo-volume-tridimensional-da-dignidade-humana. Acesso em 14/7/2021;
18
https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/meio-
ambiente/0541_21_oficio_comam_tamisa_ass.pdf
65
Fig. 30 – Ofício GAB-SMMA/COMAM nº 0545/21 – Problemas relacionados à Implantação do CTSM

Os impactos ao município de Belo Horizonte e a falta de anuência desse ao projeto foram


objeto de audiência pública19 da Câmara Municipal de Belo Horizonte no dia 27/4/2021.
Durante a audiência, em que foi discutida “a garantia da integralidade da Serra do Curral
frente à implantação de novos empreendimentos minerários, em especial o Complexo
Minerário Serra do Taquaril (CMST)”, o presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das
Velhas (CBH Velhas), Marcus Vinícius Polignano, ponderou que:

“a justificativa da empresa para não necessitar da anuência de Belo


Horizonte se assenta na afirmação de que o empreendimento não impacta
diretamente o Município, o que já foi negado pelos estudos apresentados
pela própria empresa”.

O presente documento demonstra cabalmente que áreas significativas do município de Belo


Horizonte estão bastante próximas da área prevista para o CMST – o que foi negado pelo EIA
apresentado pela TAMISA –e poderão sofrer grandes impactos. De modo particular,
lembramos aqui o que já apresentamos sobre a Cava Norte e o elevado risco de que ela entre
em área de Belo Horizonte.

Consideramos inadimissível que o município de Belo Horizonte não faça parte do processo de
licenciamento do empreendimento e que seus os órgãos de licenciamento não recebam
oficialmente, para análise e deliberação, toda a documentação relativa ao CMST já submetida
à SEMAD.

Diante do exposto, recomendamos:

• Que todo o processo de licenciamento seja submetido à análise do município de Belo


Horizonte e que o empreendimento CMST seja licenciado somente se obtiver a
anuência de Belo Horizonte.

10 Alterações do Relevo e da Paisagem


O EIA é bastante enfático no que diz respeito às alterações previstas para o relevo e a
paisagem. A seguir reproduzimos parte do seu item 12.2.2.6, que trata desse tema:

19
https://www.cmbh.mg.gov.br/comunica%C3%A7%C3%A3o/not%C3%ADcias/2021/04/comiss%C3%A3
o-apresentar%C3%A1-mo%C3%A7%C3%A3o-de-rep%C3%BAdio-projeto-de-minera%C3%A7%C3%A3o-
na-serra-do
66
Fig. 31 – EIA – Aspecto Abióticos Gerais

Em outras palavras, o EIA afirma que os montes artificiais resultantes das pilhas de rejeitos e
de estéreis e as crateras das cavas modificam drasticamente o relevo e destaca:

“Levando em conta as condições naturais do relevo na área, o qual


apresenta um grau elevado de conservação e apego paisagístico, e o
Projeto previsto, espera-se uma modificação importante da morfologia
natural”(grifo nosso).

Sobre esse ponto, reiteramos aqui o que já foi apresentado no item 5 do presente documento
sobre as solicitações do IPHAN, órgão esse que, mesmo sabendo que haverá importante
alteração do relevo, emitiu anuência ao empreendimento e apresentou condicionantes que
apenas registrariam as alterações, sem impedi-las.

De fato, como já citamos, o Ofício 2495/2019/DIVAP IPHAN-MG/IPHAN-MG-IPHAN, datado de


6/9/2019 informa que

“quando da solicitação de LI da fase 2, nos termos do PARECER TÉCNICO


no284/2019/COTEC IPHAN-MG/IPHAN-MG, deverá ser reformulado o
Relatório de Avaliação de Impacto aos Bens Culturais Tombados, visando
detalhar os impactos sobre morfologia da paisagem que a mineração
provocará dentro daspoligonaisde tombamento da Serra do Curral e seu
respectivo entorno, além de propor alternativastécnicaspara garantir a
leitura de continuidade entre os bens tombados e a paisagem,
apresentando, como subsidio para o mesmo, os seguintes documentos”: (...)

Infelizmente o IPHAN não esclarece o que entende por “alternativastécnicaspara garantir a


leitura de continuidade entre os bens tombados e a paisagem”. O que seria tal “leitura de
continuidade” e como poderia ser feita? Estaria o IPHAN solicitando que, no futuro, uma vez
finalizada a operação, as cavas fossem disfarçadas, erigindo-se sobre elas uma estrutura
artificial que simulasse as condições naturais da atual paisagem? Como poderiam ser
disfarçadas as pilhas de rejeitos e estéreis? Se o material dessas pilhas fosse disposto no
interior das cavas (que garantia se tem de que a TAMISA assumiria esses custos?) ele seria
suficiente para recompor a paisagem e fazê-la retornar à sua atual aparência? E a aparência
dos locais de onde as pilhas seriam retiradas?

Quais serão os reais “impactos sobre morfologia da paisagem que a mineração provocará
dentro daspoligonaisde tombamento da Serra do Curral e seu respectivo entorno”?

67
Além do Além do “Relatório de Avaliação de Impacto aos Bens Culturais Tombados”, no
mesmo Ofício, o IPHAN solicita também um

Estudo de Impacto Ambiental, com as devidas considerações sobre a


paisagem e estudo de eixos visuais, de forma a se avaliar o impacto
visualcausadopeloempreendimentonosdiferentespontosdevisada,dentreel
es,ossituadosnomunicípiodeBeloHorizonte.Taldocumentofoi mencionado
em estudos constantes no processo IPHAN 01514.004478/2013-12, devendo
ser reformulado, de acordo com a nova ADA;

Consideramos que tanto o Relatório reformulado quanto o Estudo de Impacto Ambiental


solicitados pelo IPHAN devem ser apresentados imediatamente para que a sociedade conheça,
com clareza, os reais impactos na paisagem e possa decidir se os considera aceitáveis ou não.
Obviamente, a paisagem é um bem coletivo, não apenas da geração atual, mas das gerações
futuras e, no caso de uma paisagem tão relevante quando a da Serra do Curral, a deliberação
sobre a possibilidade de sua alteração não pode ser feita apenas por alguns técnicos do
Governo nem pelo grupo restrito de pessoas, de representatividade bastante questionável,
que faz parte da CMI.

Diante do exposto, recomendamos:

• Que toda a documentação submetida ao IPHAN e gerada por esse órgão, relativa ao
CMST, seja disponibilizada para consulta pública.
• ser necessária a criação de um mecanismo adequado – tal como um plebiscito – para
que a sociedade possa decidir se aceita ou não o que a TAMISA pretende fazer.

O item 13.3.3.5 do EIA (ver a seguir) reitera e ressalta os impactos negativos abordados no
item 112.2.2.6, mas finaliza a avaliação de forma paradoxal. Vejamos:

68
Fig. 32 – EIA – Alteração da paisagem

O caráter incoerente e ilógico das conclusões da análise apresentada no item 13.3.3.5 se torna
manifesto pelos seguintes pontos:
a) Afirma-se que as mudanças durarão apenas 5 anos, como se as alterações do relevo
da Cava Norte - Fase 1 (fato que podemos aplicar também às outras cavas da Fase 2)
desaparecessem ao findar desse prazo. Ainda que a Cava Norte fosse preenchida com
rejeitos e estéreis, o relevo atual seria totalmente reconstituído? Haveria material
suficiente para recompor o relevo da área dessa cava e das demais? Há garantias de
que essa recomposição teria, ao longo das décadas e séculos, estabilidade semelhante
à da atual conformação geológica?
b) Contrariamente a tudo que se afirmou no EIA a respeito das mudanças na paisagem, o
item 13.3.3.5 avalia que o impacto é “de baixa importância e baixa magnitude,
assumindo uma significância baixa na etapa de implantação, permanecendo o mesmo
na etapa de operação.” Nosso ponto de vista é radicalmente oposto ao apresentado
no EIA e consideramos o impacto deimportância, magnitude e significância muito
altas.
c) Por qual motivo afirma-se que apenas Sabará e Nova Lima terão acesso ao projeto da
Fase 1, quando a Cava Norte (e as demais) poderão ser visualizadas de sobre o Pico
Belo Horizonte e de suas proximidades, no município de Belo Horizonte? A parte
mais alta dos taludes da mina Corumi, da Empabra, pode ser visualizada, como um
corte sangrento na Serra, de vastas áreas da cidade de Belo Horizonte. A Cava Norte
do CMST, que será uma continuação, rumo ao Sul, da Mina Corumi, poderá aumentar
esse corte.
Esse último ponto é apoiado pelo conteúdo do item 12.4.2 do EIA, que contradiz frontalmente
a afirmação de que o acesso visual seria possível apenas de Nova Lima e Sabará. Prova-se isso
pela reprodução do texto desse item:

Fig. 33 – EIA – Prognóstico com o empreendimento

Destacamos o seguinte trecho:

69
“Ainda que localizadas na face oposta da serra, tais saliências de
relevo de certa maneira compõem o conjunto topográfico paisagístico
da serra do Curral, e, assim, alterações no perfil natural serão
percebidas inclusive na perspectiva a partir de Belo Horizonte. Na
perspectiva de sul para o conjunto serrano as alterações na paisagem
serão significativas, no entanto, a importância do conjunto serrano
nesta perspectiva é muito inferior à importância que assume a partir
de Belo Horizonte” (grifos nossos).
O item 12.4.2 finaliza com o seguinte parágrafo, que reafirma categoricamente os impactos
negativos do empreendimento no “conjunto paisagístico da Serra do Curral”, a qual constitui
um “quadro cênico de valor estético de reconhecimento local e regional”:

Fig. 34 – EIA – Impactos negativos no conjunto paisagístico Serra do Curral

Os impactos do empreendimento na composição cênica da Serra já poderiam ter sido


apresentados pela TAMISA.

Não consideramos admissível, em pleno século XXI, que projetos da envergadura do


proposto pela TAMISA não sejam apresentados por meio de vídeos de simulação, bem como
por meio de documentos editáveis e completos, de acordo com a tecnologia mais recente.
Apresentação em formato .PDF, com figuras sem resolução e pouco nítidas, como feito no EIA
apresentado pela TAMISA, permite-nos cogitar se não há deliberado ocultamento de
informações que podem ser cruciais para a compreensão – e para a aprovação – do projeto.

Somos da opinião de que figuras como as apresentadas a seguir – que fizemos com uso de um
dos vários softwares hoje existentes e que apresentamos tão somente a título de ilustração do
que é possível e necessário – devem, compulsoriamente, constar dos documentos de
licenciamentos e das audiências públicas para que os técnicos analistas da SEMAD e a
população em geral possam visualizar e compreender com maior profundidade o que está
sendo proposto pelas empresas. Além de figuras, vídeos com imagens desse tipo são
extremamente importantes e obrigatoriamente – pensamos nós – deveriam ser fornecidos
pelas empresas.

70
Fig. 35a e 35b – Simulações 3D do projeto da Cava Norte da TAMISA e sua inserção na região

Os vídeos e figuras, baseados em desenhos de detalhe do projeto das cavas, pilhas, estradas,
instalações etc., servirão não apenas para possibilitar o entendimento prévio e facilitar o
questionamento do projeto, por parte de todo e qualquer interessado, mas também para
permitir a confrontação direta das imagens previstas com as reais, tomadas por drones,
satélites e observadores em terra, à medida que empreendimento for se desenvolvendo.
Alterações de projeto, que resultem em diferenças com relação ao previsto e registrado nas

71
imagens e vídeos, somente poderiam ser feitas se submetidas a novo e completo processo de
licenciamento.

Diante do exposto, recomendamos:

• que figuras e vídeos de simulações em 3D, mostrando vários ângulos e detalhes


projeto e de seu entorno, devem constar de todos os processos de licenciamento de
minas e de outros empreendimentos; devem ser disponibilizados para os cidadãos,
para livre consulta e apresentadosnas audiências públicas para que todos possam
conhecer com detalhes o que se pretende fazer e possam confrontar, no futuro, o
projeto licenciado com o executado;
• que todos os recursos da tecnologia disponível atualmente e no futuro sejam
utilizados – e exigidos do empreendedor – para demonstrar claramente à sociedade,
previamente e, depois, em tempo real, o projeto a ser licenciado e sua
operacionalização.

11 Projeto Imobiliário na Área do CMST


O item 12.1 do EIA inclui uma relevante informação concernente à expectativa do Grupo
COWAN com relação ao uso da área onde seria instalado o CMST:

Fig. 36 – Projeto mobiliário na área do empreendimento

Pode-se ver, portanto, que o empreendedor já considera a possibilidade de não aprovação do


CMST e planeja a instalação de um empreendimento imobiliário no local.

Diante do exposto, recomendamos:

Que, no caso de o empreendedor optar pela instalação de um empreendimento imobiliário,


novo processo de licenciamento seja exigido para demonstrar quais seriam os impactos desse
tipo de empreendimento na área, extremamente destacada em termos ambientais, da
Fazendo Ana da Cruz e Serra do Curral.

Fórum Permanente São Francisco


Belo Horizonte – Agosto/2021

72
ANEXO 1 – Cadastro da Fazenda Ana da Cruz no IPHAN

- CNSA MG02632 -
Nome do sítio: Sítio Histórico Sede Fazenda Ana da Cruz
Outras designações e siglas: CNSA: MG02632
Município: Nova Lima UF: MG
Descrição sumária do sítio: conjunto de estruturas de habitação e conjuntos que remetem á mineração aurifera colonial
Sítios relacionados:

Comprimento: 250m Largura: m Altura máxima: m (a partir do nível do solo)


Área: m2 Medição Estimada Passo Mapa Instrumento
Unidade geomorfológica:
Compartimento topográfico:
Altitude: m(com relação ao nível do mar)
Água mais próxima:
Distância: m
Rio:
Bacia:

Vegetação atual Uso atual do terreno


Floresta ombrófila Savana (cerrado) Atividade urbana Pasto
Floresta estacional Savana-estépica (Caatinga) Via pública Plantio
Campinarana Estepe Estrutura de fazenda Área devoluta
Capoeira Outra: Outro:
Propriedade da terra Área pública Área privada Área militar Área indígena
Outra:
Proteção legal Unid. de conservação ambiental

73
Em área tombada Municipal Estadual Federal Patrim. da humanidade

Categoria Tipo de sítios:


Pré-colonial Forma:
Unicomponencial
De contato Tipo de solo:
Multicomponencial
Histórico
Estratigrafia:
Contexto de deposição Em superfície Em profundidade
Exposição Céu aberto Abrigo sob rocha Gruta Submerso
Outra:

* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Cadastro Nacional de
Sítios Arqueológicos*
Sist. Nac. de Patrimônio Cultural - SNPC - CNSA MG02632 - Centro Nacional de Arqueologia - CNA
Estrutura Artefatos
Canais tipo trincheiras, Lítico lascado Cerâmico
Área de refugo
valetas
Lítico polido Sobre concha
De lascamento Círculos de pedra
Sobre material orgânico
De Combustão Estacas, buracos de
(fogueira, forno, fogão) Fossas Outros vestígios líticos:

Funerárias Fossas
Muros de terra, linhas de
Vestígios de edificações
argila
Vestígios de mineração Palafitas
Alinhamento de pedras Paliçadas

74
Concentrações cerâmica -
Manchas pretas
quant.:
Outras:

Material histórico:
Outros vestígios orgânicos:
Outros vestígios inorgânicos:

Arte rupestre: Pintura: Gravura: Ausente:

FILIAÇÃO CULTURAL
Artefatos líticos: Tradições:
Fases:
Complementos:
Outras atribuições:
Artefatos cerâmicos: Tradições:
Fases:
Complementos:
Outras atribuições:
Artefatos rupestre: Tradições:
Estilos:
Complementos:
Outras atribuições:
Datações Absolutas:
Datações Relativas:
Grau de integridade mais de 75% entre 25 e 75% menos de 25%
Fatores de destruição Erosão eólica Erosão fluvial Vandalismo
Erosão pluvial Atividades agrícolas
Construção de estrada Construção de moradias
Outros fatores naturais:
Outros fatores antrópicos:
Possibilidades de destruição:
Medidas para preservação:
Relevância do sítio Alta Média Baixa
Atividades desenvolvidas no local Registro Sondagem ou Corte estratigráfico
Coleta de superfície Escavação de grande superfície

75
Levantamento de grafismo rupestre
Nome do responsável pelo registro: HENRIQUE PILÓ
Data do registro: 08/11/2014 Ano do registro: 2014

* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

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Cadastro Nacional de
Sítios Arqueológicos*
Sist. Nac. de Patrimônio Cultural - SNPC - CNSA MG02632 - Centro Nacional de Arqueologia - CNA

Nome do projeto:

Documentação produzida (quantidade)


Mapa com sítio plotado: 0 Foto preto e branco: 0
Croqui: 0 Reprografia de imagem: 0
Planta baixa do sítio: 0 Imagem de satélite: 0
Planta baixa dos locais afetados: 0 Cópia total de arte rupestre: 0
Planta baixa de estruturas: 0 Cópia parcial de arte rupestre: 0
Perfil estratigráfico: 0 Ilustração do material: 0
Perfil topográfico: 0 Caderneta de campo: 0
Foto aérea: 0 Video / Filme: 0
Foto colorida: 0 Outra: 0
Bibliografia

76
Responsável pelo preenchimento da ficha: HENRIQUE PILÓ
Data: 16/01/2015 Localização dos dados:
Atualizações:

Assinatura

* Em atendimento ao determinado na Lei nº 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.

Página 3 de 3

77
ANEXO 2 – Ofício da SMMA de BH

78
79
80
ANEXO 3 – Notícia de Audiência Pública na
Câmara de Vereadores de BH

Comissão apresentará moção de repúdio a projeto de


mineração na Serra do Curral
Audiência discutiu impactos de Complexo Minerário Serra do
Taquaril. Representantes do empreendimento não compareceram
Terça-Feira, 27 Abril, 2021 - 22:00

A antiga campanha “Olhe bem as montanhas”, que já nos anos 1970 alertava para a
destruição da Serra do Curral, parece continuar atual. Nesta terça-feira (27/4), a Comissão
de Meio Ambiente e Política Urbana realizou audiência pública para discutir a garantia da
integralidade da Serra do Curral frente à implantação de novos empreendimentos
minerários, em especial o Complexo Minerário Serra do Taquaril (CMST). Proposto pela
empresa Taquaril Mineração S/A (Tamisa) e em fase de licenciamento ambiental na
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o projeto prevê a
lavra e o beneficiamento de minério de ferro em reservas situadas no limite de Nova Lima,
no trecho da Serra do Curral conhecido como Serra do Taquaril. As vereadoras solicitantes
do debate, Bella Gonçalves (Psol) e Duda Salabert (PDT), assim como vários convidados,
reforçaram a importância ambiental, cultural, geológica, hídrica e paisagística da Serra do
Curral para Belo Horizonte e Minas Gerais, assim como os riscos de destruição do
monumento e seus impactos frente a empreendimentos minerários. Foram relatados
problemas no licenciamento e no tombamento da área. A ausência de representantes da
Tamisa na reunião será tema de uma moção de repúdio ao avanço dos processos de
mineração.

Prejuízos à biodiversidade e ao abastecimento

Além de lembrar que a Serra do Curral é símbolo cultural de Belo Horizonte, Arthur
Nicolato, representante da Associação dos Moradores do Bairro Cidade Jardim Taquaril
(Amojat) e médico, alertou para os danos à saúde que o complexo minerário pode causar,
tanto pela retirada de área verde quanto pela piora na qualidade do ar.
Tambémconselheiro do Parque Estadual Florestal da Baleia, localizado no entorno da
Serra e onde há “um hospital oncológico importantíssimo para o Brasil” [Hospital da
Baleia], ele informou que o conselho demonstra “preocupação” com a saúde dos
pacientes se o empreendimento seguir em frente. Assim como vários outros, considerou
“criminoso” o impedimento de o município de Belo Horizonte se manifestar sobre o tema.

81
O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas), Marcus
Vinícius Polignano, incluiu o risco do espalhamento de espécies vetores de várias
doenças, “que estão equilibradas naquele sistema”. Segundo Polignano, uma das áreas de
influência do empreendimento seria a cumeeira da Serra, “para exatamente tentar fazer a
exclusão de Belo Horizonte inclusive no processo de anuência”. Ele citou que o Conselho
Municipal do Meio Ambiente (Comam) e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente
mostraram os impactos do complexo minerário na capital, como questões climáticas que
levam à perda hídrica e da biodiversidade. Conforme explicou, a justificativa da empresa
para não necessitar da anuência de Belo Horizonte se assenta na afirmação de que o
empreendimento não impacta diretamente o Município, o que já foi negado pelos estudos
apresentados pela própria empresa. Polignano relatou que a Serra tem grande quantidade
de nascentes e cursos d’água, configurando-se como uma “mãe d’água”, além de ter mais
de 900 espécies de plantas, inclusive muitas raras, e mais de 40 espécies animais,
algumas em risco de extinção. Por fim, o convidado lembrou o risco de desabastecimento
com a baixa da vazão do Rio das Velhas, pois a alternativa de abastecimento para uma
baixa ainda maior seriam poços artesianos na Serra do Curral.

O coordenador estadual de Meio Ambiente e Mineração e promotor de Justiça Felipe Faria


de Oliveira elencou algumas questões que trazem preocupação ao órgão, que “vem
acompanhando de perto a evolução desse empreendimento”: a saúde, unidades de
conservação afetadas, participação da população e transparência, comprometimento do
lençol freático e do abastecimento, redução da Mata Atlântica – “um celeiro de
biodiversidade” -, morosidade do tombamento estadual, dentre outros. O Ministério Público
de Minas Gerais (MPMG) havia feito uma recomendação à Secretaria Estadual do Meio
Ambiente para que a audiência pública sobre o empreendimento, que seria realizada no
último 25 de março, fosse adiada por não permitir grande participação popular, mas o
evento foi remarcado ontem (26/4), de acordo com ele. Ainda segundo o promotor, foi feito
novo informe à secretaria para averiguar se os pontos colocados pelo Comam estão sendo
respeitados. Ele também contou que, quando do rompimento da Barragem da Vale em
Brumadinho (25 de janeiro de 2019), o MP pediu à empresa para apresentar soluções para
garantias no caso de rompimento de barragens. Após avaliação da própria Copasa, na
Serra do Curral foram identificadas diversas medidas para salvaguardar o abastecimento
público, inclusive a construção de poços artesianos, o que demonstraria a importância
dessa região para a captação de água. Desse ponto de vista, o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) seria o “documento de maior relevo”, por prever todos os impactos do
empreendimento: “Se for verificado que o impacto não pode ser admitido, o
empreendimento pode não ter sua licença concedida”.

Irregularidades no licenciamento

82
Já a representante do Movimento Mexeu com a Serra do Curral, Jeanine Oliveira,
ressaltou problemas quanto à forma do licenciamento do CMST. De acordo com ela, o
empreendimento em questão era da antiga MBR, comprada pela Vale e vendida ao
Grupo Cowan, que desde 2012 vem tentando licenciá-lo “de forma fracionada”, com
desordenação das ações; estudos e locais escolhidos pelas empresas responsáveis pelo
empreendimento; instituições sendo pressionadas; falta de participação social nas
decisões etc. Como exemplo dos problemas de licenciamento, ela informou que o estudo
dos impactos geológicos foi assinado pelo mesmo técnico que assina o EIA, um
“oportunismo”: “Agora redigiram texto novo, mas os estudos são do primeiro [2012]”, uma
defasagem de uma década. Jeanine também contou que mora a um quilômetro de uma
das cavas e terá que conviver com barulho e poeira, embora não haja “nenhum estudo
sobre isso dentro do EIA”, e que a ata da última reunião do Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) sobre o tombamento da Serra
do Curral registra duas empresas dizendo que o processo estaria incorreto e deveria ser
refeito. “E quando a gente fica sabendo que a presidente [do Iepha] foi retirada um dia
antes de falar sobre o tombamento na Serra, a gente fica mais preocupado ainda”. A
convidada teme pelo desmoronamento do monumento e relatou que moradores “são
constantemente ameaçados de morte”.

A vereadora Duda Salabert contou que foi à região ontem (26/4) e viu vários tratores na
área onde serão feitas as cavas. Ela questionou por que as máquinas já estariam lá, se o
empreendimento ainda não foi autorizado.

Tombamento demorado

A pedido de Duda, a secretária municipal de Cultura, Fabíola Moulin Mendonça, falou


sobre o tombamento e os riscos da mineração para BH. Segundo ela, desde 1990 a Serra
é protegida pela Lei Orgânica (espécie de “constituição” municipal), do Bairro Taquaril
ao Jatobá. Em 1991, a secretaria aprovou o perímetro de tombamento e, em 1997, a Serra
foi eleita como grande símbolo da cidade. Em 2012, a área foi subdividida, “para efeitos de
proteção”, em quatro subáreas (limitadas por bacia hidrográfica) “com diferentes inserções
na cidade e no sentido de ter um acompanhamento mais próximo”, e foi traçado um
perímetro de entorno na parte voltada para Belo Horizonte, com “diretrizes muito claras de
proteção”. Não houve demarcação na parte pertencente à Nova Lima. “A gente faz toda a
área de proteção de entorno com as diretrizes, mas entendendo que existem outras áreas
de territórios de municípios vizinhos que impactam Belo Horizonte”, ponderou. A secretária
continuou o histórico, citando que em 2018 o Iepha lançou um edital de licitação para
elaboração de dossiê de tombamento abrangendo área de proteção estadual, ficando
definido que o órgão incluiria tanto a área já tombada pelo Município quanto áreas

83
pertencentes à Nova Lima. O processo de tombamento ainda não foi concluído, pois
dependeria de “pressão” para que seja apreciado pelo Conselho Estadual de Patrimônio.

A vereadora Bella Gonçalves solicitou à superintendente do Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Débora Maria Ramos do Nascimento França, que
falasse sobre os aspectos da mudança no tombamento do Pico Belo Horizonte, incluído na
Serra do Curral. Segundo ela, o órgão “não tomba a Serra como um todo”, mas numa faixa
de 900 metros para cada lado, a partir do eixo da Avenida Afonso Pena. Ela citou que
houve uma “adequação feita na área do entorno pela última portaria, criando um
perímetro mais condizente para o bem tombado”, sem especificar quais seriam essas
adequações. Outro representante do Iphan esclareceu que não é possível fundamentar a
inclusão de trechos no tombamento, mas que o setor de entorno, chamado de Área
de Proteção do Ambiente Natural (Apan), tem restrição de uso tão grande quanto a própria
área tombada, e que essa Apan se estende até a cota 1260 (m) em Nova Lima, com
proibição de extração vegetal e mineral. Ao ser questionado por Marcus Vinícius Polignano
se a cava norte do empreendimento chega exatamente no alicerce do Pico, ele respondeu
que “do ponto de vista normativo, estão parcialmente em área de entorno, mas em setores
que não proíbem a mineração como no caso da Apan”. Além disso, apesar de ter
concedido licença prévia, o Iphan condiciona a entrega desta às licenças de implantação e
operação. O representante afirmou ainda que, “por definição”, a mineração causa
alterações morfológicas.

Encaminhamentos

Para Bella Gonçalves, “não faria sentido a gente ver um licenciamento acontecer e logo
depois a apreciação do tombamento”. Ela afirmou que vai protocolar nesta data (27/4) uma
moção de repúdio ao avanço dos processos minerários, reforçando o “repúdio pelo temor
do diálogo” não apenas por parte da Tamisa, mas também dos órgãos estaduais.

“É uma série de descasos e nós conhecemos um histórico de mineradoras tendo vários


processos de descaso. Essa soma de descasos leva a esse ecocídio”, externou Duda
Salabert, em apoio à Bella, alertando para o fato de que “as últimas pandemias todas
foram de origem zoonótica”.

Além das vereadoras solicitantes, a audiência contou com a presença dos vereadores
Marcos Crispim (PSC), Professor Juliano Lopes (PTC), Professora Marli (PP) e Wanderley
Porto (Patri).

84
ANEXO 4 – Carta do Hospital da Baleia

FBG -
Belo Horizonte, 09 de abril de 2021

À
DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS DO IEF – INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS
At. Dr. Henri Dubois Collet
As.: TAQUARIL MINERAÇÃO S/A

Prezado Dr. Henri,


Tomamos conhecimento de uma avaliação técnica apresentada pela Taquaril Mineração S/A –
TAMISA, junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de
Minas Gerais (SEMAD), correspondente ao pleito de licenciamento ambiental do Projeto
Complexo Minerário Serra do Taquaril – CMST (procedimento administrativo SUPPRI n.º
218/2020).
Estamos preocupadíssimos, pois, após detida análise, concluímos que o EIA-RIMA não
considerou adequadamente os futuros impactos ambientais do projeto Complexo Minerário
Serra do Taquaril – CMST sobre o Parque Florestal Estadual da Baleia, podendo comprometer,
de forma acentuada, a conservação da biodiversidade e a manutenção da qualidade ambiental
da referida Unidade de Conservação. Além disso, esta atividade minerária tem um alto
potencial de gerar poluição de diversas formas na área atual do Hospital da Baleia e nas
populações humanas assentadas em seu entorno.
Chama-nos a atenção que, no caso da aprovação do projeto, em alguns mapas, a cabeceira do
Córrego da Baleia irá receber poeira da Mineração e, dependendo da intensidade dos ventos,
essa poeira descerá o vale em direção ao Complexo Hospitalar da Baleia. No estudo ambiental
apresentado pela Mineração Taquaril não foi mencionado possível rebaixamento do lençol
d'água subterrânea, gerando a diminuição da vazão dos Córregos da Baleia e outros ao redor
da cava principal. A poluição sonora irá afetar a fauna silvestre e, com a diminuição da
cobertura vegetal, irá afetar o corredor ecológico que liga os Parques da Baleia e do Rola
Moça, que, se intocado,serve de caminho para diversas espécies da fauna local.
Cabe destacar que, há cerca de 15 anos, o Hospital da Baleia vem tentando o seu
Licenciamento Ambiental e a sua Regulação Urbana, mas sempre esbarrando em enorme
burocracia e uma infinidade de exigências, a fim de cumprir e se adequar às legislações
estaduais e municipais sobre o meio ambiente, mesmo sabendo e demonstrando que as suas
atividades não agridem o meio ambiente, mas sim cuidam e preservam a saúde da população
carente de 88% dos municípios do Estado de Minas Gerais.
Portanto, achamos inconcebível que uma atividade que busca o lucro, independente das
graves agressões ao meio ambiente, seja aprovada.
Diante do exposto, vimos recomendar veementemente a reprovação do licenciamento
ambiental do Projeto Complexo Minerário Serra do Taquari, acompanhando parecer do
Conselho Consultivo do Parque da Baleia.
85
Certos da vossa costumeira atenção e cordialidade, antecipamos os nossos agradecimentos.

Atenciosamente,

Raquel Virgínia Rocha Vilela


Presidente do Conselho Curador
Fundação Benjamin Guimarães
Hospital da Baleia

86

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