Você está na página 1de 11

Prática online

Controle Tecnológico e Processo Executivo de


Estruturas de Concreto

POR MARCELO CÂNDIDO DE PAULA


PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

REALIZAÇÃO DE UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A UTILIZAÇÃO DE


CONCRETO CONVENCIONAL E CONCRETO AUTOADENSÁVEL EM UMA
EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL DE 40 PAVIMENTOS COM A UTILIZAÇÃO DE
CONCRETO COM FCK DE 45 MPA, ONDE O ALUNO DEVE APRESENTAR UMA
TABELA COM AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DE CADA TIPO DE CONCRETO
UTILIZADO (CONVENCIONAL E AUTOADENSÁVEL), DESTACANDO AS ATIVIDADES
DE CONTROLE TECNOLÓGICO, CARACTERÍSTICAS EXECUTIVAS E CUSTO DE
CADA CONCRETO ALVO DESTE ESTUDO?

PEDRO HENRIQUE DA SILVA FERREIRA

INTRODUÇÃO
O concreto é um dos materiais mais utilizados na construção civil, é o segundo material
mais consumido no mundo, perdendo apenas para a água. A mistura é a receita favorita entre
arquitetos e engenheiros principalmente pela sua durabilidade, baixo custo, trabalhabilidade, de
fácil acesso e transporte. Com o avançar das tecnologias houve uma necessidade em aperfeiçoá-
lo corrigindo suas imperfeições e melhorando sua resistência, entre vários desses materiais há o
concreto com a adição de aglomerantes, que reduz água na mistura utilizando o
superplastificante e assim tornando-o menos poroso.

Essa atividade é a realização de um estudo comparativo entre a utilização de concreto


convencional e concreto autoadensável para uma edificação residencial de 40 pavimentos com a
utilização de concreto com fck de 45 MPa, onde serão apresentadas as vantagens e desvantagens
de cada tipo de concreto utilizado (convencional e autoadensável), destacando as atividades de
controle tecnológico, características executivas e custo de cada concreto alvo deste estudo.
É importante apontar de início que o concreto autoadensável se diferencia do concreto
convencional pela presença de dois novos materiais em sua composição, os quais são materiais
finos e aditivos. Sendo ambos essenciais para sua formação, já que os finos dão a mistura, coesão
e resistência à segregação, ocupando espaços que ficariam vagos, já os aditivos, modificam
quimicamente, diminuindo a quantidade de água necessária à pasta e posteriormente, dando
durabilidade e resistência ao concreto (OKAMURA, 1997).
PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

CONCRETO AUTOADENSÁVEL (CAA)


No Brasil, alguns trabalhos científicos apontam que
o interesse pelo concreto autoadensável (CAA) vem
crescendo, o que tem aumentado seu uso em obras
correntes e especiais, sendo mais comum em
empresas de pré-fabricados, tudo isso verificado no
estudo Viabilidade Técnica e Econômica do
Concreto Autoadensável em Empresas de Pré-
Moldado, Concreto & Construções (TUTIKIAN et al.,
2006; NUNES et al., 2009). Entretanto, o CAA em
obras verticais ainda é pouco utilizado no Brasil,
principalmente devido ao maior custo do material.
Todavia, acredita-se que os benefícios trazidos pelo
CAA tornam o custo final da obra menor, uma vez
que são reportados ganhos de produtividade,
devido à rapidez na execução da concretagem e
ao menor envolvimento de mão de obra e
equipamentos (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2015).

O concreto autoadensável (CAA) tem como característica a capacidade de preencher


uniformemente os espaços vazios no interior das formas sob ação do seu próprio peso
e da sua capacidade de fluxo. A habilidade de autoadensar é alcançada com o
equilíbrio entre alta fluidez, obtida através de aditivos superplastificantes de última
geração, e moderada viscosidade e coesão entre as partículas do concreto fresco,
conseguida com incremento de adição mineral de granulometria fina (LISBÔA, 2004).

Em outras palavras, o CAA


é o concreto que é capaz
de fluir no interior da
forma, preenchendo, sem
interferência, mas de forma
natural, o volume total do
espaço pré-determinado.
Essa mistura vai ganhando
todo espaço entre as barras
da armadura e vai
consolidando-se
influenciado apenas pela
ação do seu próprio peso.
PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

CONCRETO CONVECIONAL (CCV)


CONCRETO AUTOADENSÁVEL (CAA)
Considerando que o CAA e o concreto convencional (CCV) contenham
basicamente os mesmos componentes, são verificadas diferenças principais no
comportamento da fluidez da matéria, avaliando a elasticidade, viscosidade
(resistência ao fluxo) e a plasticidade do CAA em relação ao concreto convencional, e
suas propriedades no estado fresco, que asseguram a sua alta resistência à segregação
e deformabilidade. Essas características são alcançadas pelo uso de aditivos, minerais e
químicos, diferentemente dos concretos convencionais.

Na produção do CAA é
indispensável a presença de
aditivos, tais como: aditivos
minerais, como a sílica ativa,
a cinza volante, a escória de
alto-forno, as pozolanas, a
cinza da casca-de-arroz, o
resíduo de serragem de
mármore e granito, dentre
outros; e aditivos químicos,
como os superplastificantes e
modificadores de viscosidade.
(CAVALCANTI, 2006).

Como parte da efetivação do objetivo específico desse estudo, será demonstrado por
intermédio de um quadro comparativo as vantagens e desvantagens do uso do CAA
comparado com o uso do concreto convencional, destacando as atividades de
CONTROLE TECNOLÓGICO, CARACTERÍSTICAS EXECUTIVAS e CUSTO. Elaborou-se então
um quadro analítico para elucidar e clarificar os pensamentos sobre essa temática:
1.Para o lançamento do CAA a equipe 1.A produção de CAA exige a
para executar o serviço é a mínima diminuição da quantidade de agregado
possível, com riscos menores de graúdo presente na mistura e o
acidentes por haver menos pessoas aumento da quantidade de finos
trabalhando especialmente em alturas (cimento, adições minerais e químicas).
maiores. O custo destes materiais é elevado,
tornando limitante a utilização do CAA
2.O CAA tem a vantagem de agilizar a em obras, que inclusive, se torna um
descarga, pois o tempo na porta da grande desafio para as concreteiras,
obra é apenas para o bombeamento do primeiro, porque impulsiona as fábricas
concreto, não tendo paradas para a investir em pesquisas a fim de se
aguardar vibrar pilares e vigas, que determinar um traço ideal de CAA.
geralmente são mais lentas, pela
dificuldade de adensar os fundos de 2.Faz-se necessário treinamentos
pilares e ferragens com densidades específicos das equipes de recebimento
maiores de vigas, onde que para o CAA e aplicação do concreto na obra, ou
não existe está dificuldade, pois ele seja. O controle de verificação da
adensa apenas com o seu peso fluidez do material por meio dos
impulsionado pela gravidade, com isso ensaios de caracterização é essencial
as concretagens são mais rápidas para a liberação de aplicação do
liberando as vias de circulação e os concreto. Já a cura criteriosa e
passeios de forma mais ágil e trazendo adequada do CAA, vai evitar a
menos transtorno a todos. ocorrência de fissuras por retração do
concreto no momento da pega
3.Como o CAA não necessita de garantindo sua qualidade e
equipamentos para adensar e nivelar, durabilidade.
não provoca nenhum tipo de ruído na
obra, sendo uma vantagem para 3.Outro aspecto relevante, é em relação
diminuir a poluição sonora no ao controle dos processos de transporte
ambiente e ajuda na saúde do e aplicação do concreto. O CAA
trabalhador. necessita de cuidados especiais no seu
transporte da usina até a obra,
4.O CAA pode aumentar a durabilidade principalmente para evitar a sua
das estruturas por ser mais fácil de segregação. Esse deslocamento é feito
adensar e evita, assim, que ocorram normalmente por intermédio de
falhas na concretagem e grandes vazios caminhões-betoneira. O tempo de
resultantes da má vibração que podem aplicação do concreto autoadensável é
acontecer durante a execução do menor que o concreto convencional
serviço no CCV. devido a utilização de aditivos
químicos.
5.CAA tem a vantagem de colaborar na Esse fator leva as empresas a ter uma
preservação do meio ambiente, pois logística de transporte eficiente, o que
na sua composição a quantidade de nem sempre é possível, em função dos
finos é muito alta, sendo utilizado altos problemas de trânsito. A obra também
teores de resíduos industriais como deve se programar para que no dia da
cinza volante, escória de alto forno e concretagem todos os serviços
cinza de casca de arroz, sendo estes os inerentes ao processo já estejam
mais usuais. concluídos e conferidos, o que nem
sempre ocorre.
6.Observa-se, também, que esse
concreto possui tecnologia e qualidade 4.Uma outra desvantagem do CAA é
superiores às do CCVV, ou seja, ao que a pressão de aplicação nas fôrmas
utilizá-lo, a empresa aumentará a é maior quando comparado ao CCV.
qualidade de sua estrutura. O CAA Essa situação se deve à característica
aumenta a durabilidade e a estética, reológica do concreto, de alta fluidez,
elimina reparos posteriores e falhas de que quando lançado na fôrma se
concretagem e, consequentemente, comporta como um líquido, gerando
diminui o custo final da obra. maiores pressões. Necessariamente,
cuidados maiores devem ser tomados
7.Outra vantagem é que o CAA possui na escolha do tipo de escoramento das
uma grande deformabilidade no estado fôrmas, o que muitas vezes, obriga os
fresco, ou seja, pode ser moldado construtores a utilizarem equipamentos
facilmente nas mais diversas fôrmas. mais caros que garantam um
Por ter alta fluidez, o concreto acelera travamento eficiente e completo de
a edificação, proporcionando ganhos todas as peças estruturais.
em relação a prazos para a execução de
outras etapas.
PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

CONTROLE TECNOLÓGICO
A norma recomenda ensaios de consistência pelo abatimento do tronco de cone
(Slump Test) ou de espalhamento e tempo de escoamento (Slump Flow) e habilidade
passante em fluxo livre, no caso de concreto auto adensável e ensaio de resistência à
compressão de corpos de prova cilíndricos para verificar as características básicas do
concreto, seja ele um concreto para estruturas moldadas na obra, estruturas pré-
moldadas e componentes estruturais pré-fabricados para edificações e estruturas de
engenharia.
O controle tecnológico do CAA é importante para a determinação da sua
resistência à compressão e segregação, fluidez, viscosidade e habilidade passante.
Grande parte dos ensaios é realizado nos laboratórios das concreteiras – é o caso do
Funil V, Caixa L, Tubo U e o rompimento dos corpos de prova para análise de
resistências. É importante a contratação de empresas de controle tecnológico de
concreto por parte das obras, primeiro, para monitorar todas as concretagens (realizar
a moldagem e identificação dos corpos de prova, avaliar a consistência do concreto), e,
segundo, para realizar os mesmos ensaios de caracterização do concreto feito pelas
usinas, porém, em seus próprios laboratórios. Dessa forma, é possível confrontar
resultados.

Como é feito o Slump Flow?


Com a amostra de concreto obtida, preencher o molde (cone de Abrams), que deve ser
fixado através de suas aletas, pelos pés do operador. O preenchimento do molde deve
ser realizado sem adensamento e de forma contínua e uniforme.

Ao fim da operação de preenchimento, retirar o complemento tronco-cônico do molde


e remover o excesso de concreto da superfície com o auxílio da colher de pedreiro, que
deve respaldar a superfície do concreto, deslizando sobre as bordas do molde.
Imediatamente após fazer a limpeza da placa de base retirando todos os resíduos de
concreto de sua superfície.
PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

A desmoldagem é efetuada levantando-se cuidadosamente o molde pelas alças, na


direção vertical, com velocidade constante e uniforme, em tempo não superior a 5 s,
sem submeter o concreto a movimentos de torção lateral. Todo o processo de
preenchimento até a desmoldagem deve ser efetuado em tempo não superior a 1 min.
No momento da desmoldagem, imediatamente após o molde perder o contato com a
placa de base, o cronômetro deve ser acionado quando o operador inicia o
levantamento do molde e parado quando a massa de concreto cobrir totalmente a
marca circular de diâmetro 500 mm da placa de base, registrando-se este intervalo de
tempo (t500), em segundos.

No caso do concreto convencional temos o teste de abatimento do concreto, Slump


Test, que é um teste realizado na obra. Ele tem como principal função medir a
consistência do concreto e através dessa consistência avaliar sua trabalhabilidade. A
trabalhabilidade é um parâmetro que está relacionado com a facilidade de se trabalhar
e lidar com o concreto e sua capacidade de adensamento. O slump test deve ser feito
assim que o caminhão betoneira chegar na obra, em caso de utilização de concreto
usinado, e se o concreto for feito na obra o teste deve ser feito após a fabricação do
concreto e momentos antes de ser aplicado nas estruturas em questão.
PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

Como é feito o Slump Test


Em relação ao teste em si, ele consiste em preencher uma estrutura padronizada em
forma de tronco de cone com o concreto a ser testado. Posteriormente removemos essa
estrutura, verificando a diferença de altura entre o molde e o concreto. Essa diferença
de altura pode ser chamada de abatimento do concreto. De forma mais específica, os
instrumentos e passos utilizados estão descritos a seguir.

1. Instrumentos do slump test


· Tronco de cone com altura de 300mm, base maior com 200mm e base menor
com 100mm;
· Haste preferencialmente de metal com diâmetro de 16mm e comprimento de
600mm;
· Placa metálica com dimensões maiores que 500mm e espessura maior que
3mm.

2. Passo a Passo do procedimento

a)Pegar amostra do concreto a ser analisado.


b)Preparar/posicionar materiais do teste.
c)Preencher 1/3 do tronco de cone.
d)Aplicar 25 golpes de forma homogênea na
superfície do concreto, adensando o
concreto.
e)Repetir o passo 3 e 4 mais duas vezes até
preencher todo o tronco de cone.
f)Retirar o tronco de cone com um
movimento constante e de duração
aproximada de 10 segundos.
g)Medir a diferença de altura entre o tronco
de cone e a estrutura em concreto.

OBS1 – Para medir a diferença de altura

entre o tronco de cone e o concreto

posiciona o tronco de cone com a menor

base para baixo e usa a haste para

ajudar na medição.

OBS2 – O teste tem deve ter duração máxima de 2 minutos e 30 segundos.

OBS3 – O teste não é valido para concreto autoadensável.


PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

ANÁLISES DE CUSTOS
Nesse estudo, o comparativo do uso do concreto autoadensável (CAA) com o uso do
concreto convencional, destaca a aplicação em obra vertical, uma edificação
residencial de 40 pavimentos com a utilização de concreto com fck de 45 Mpa. Com
base nas vantagens e desvantagens é possível concluir algumas estimativas de custos
que serão apresentadas abaixo:

a) A eliminação do vibrador pelo uso do CAA resulta, além da redução no ruído na


laje, a redução das despesas com equipamentos e energia para esses serviços o que
contribui positivamente para a escolha em termos finais de custo.

b) A quantidade da mão de obra com o CAA é reduzida em função da eliminação


dos funcionários que manuseiam os vibradores e que fazem os acabamentos, além
da redução dos profissionais espalhadores de concreto, ou seja, além de propiciar
uma melhoria na produtividade da concretagem, reduz os custos em termos de
homem/hora em atividade.

Em geral o CAA é vendido pela central de concreto mais caro que o CCV –
como o custo do material concreto é a parte mais representativa no custo da
concretagem, é preciso um estudo prático para averiguar se os custos da mão de
obra e do tempo de concretagem propiciadas pelo CAA, o torne viável
financeiramente. para que o uso do CAA seja viável em obras verticais, ao se
considerar somente o custo do material e da mão de obra (custos diretos), faz-se
necessário que o preço cobrado por metro cúbico de CAA seja próximo do preço
cobrado para o CCV.
PRÁTICA ONLINE | JUN. 2021

Referências
CAVALCANTI, D. J. H. Contribuição ao estudo de propriedades do concreto auto-
adensável visando sua aplicação em elementos estruturais. Maceió, 2006. 141 p.
Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade
Federal de Alagoas.

LISBOA, E. M. Obtenção do concreto auto-adensável utilizando o resíduo de serragem


de mármore e granito e estudo de propriedades mecânicas. 2004. P.1-15. Dissertação –
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Alagoas,
Maceió, 2004.

OKAMURA, H. e Ozawa, K. (1995), “Mix design for self-compacting concrete”, Concrete


Libraryof JSCE, nº 25, pp. 107-120.

TUTIKIAN, B. F. et al. Viabilidade Técnica e Econômica do Concreto Auto-Adensável em


Empresas de Pré-Moldado. Concreto & Construções, v. 34, n. 43, p. 30-35, jun./ago. 2006.

TUTIKIAN, B. F.; DAL MOLIN, D. C. Concreto Autoadensável. 2. ed. São Paulo: Pini, 2015

Você também pode gostar