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Concreto de alto desempenho (CAD)

1. Introdução

O concreto armado está entre os materiais de construção mais largamente utilizados. Ao


longo dos anos, acompanhamentos de estruturas em concreto vêm sendo feitos e
mostraram a necessidade de fazer reforços, recuperações e, em situações mais críticas,
demolição e reconstrução. Nota-se, então, a necessidade crescente da utilização de um
concreto mais resistente estruturalmente e às agressões sofridas no ambiente.

Após várias pesquisas chegou-se a um material de alta resistência mecânica, maiores


durabilidade, trabalhabilidade e resistência aos agentes agressivos o que proporcionaria
uma menor despesa com manutenção e reparos. Surge então o chamado Concreto de
Alto Desempenho – CAD.

Os estudos sobre o Concreto de Alto Desempenho produziram resultados eficientes


possibilitando sua aplicação há pouco mais de vinte anos. Com o desenvolvimento dos
aditivos químicos, capazes de modificar algumas de suas propriedades, aperfeiçoando-o
como material de construção, incentivou-se a pesquisa sobre materiais pozolânicos, pois
a ação combinada desses dois produtos resultou num aperfeiçoamento do concreto.

A utilização de determinados rejeitos industriais, com propriedades pozolãnicas,


reduzem o custo e a quantidade de energia consumida na produção do concreto
contribuindo para a preservação ambiental.
A durabilidade é outra característica importantíssima que passou a ser exigida desse
material. Mas a utilização real do CAD teve que superar o conservadorismo de
engenheiros e arquitetos, a reduzida disponibilidade comercial em centrais pré-
misturadas, a pequena trabalhabilidade das composições iniciais, as limitações impostas
pelos códigos de obras ou do cálculo estrutural além da falta de conhecimento sobre o
seu comportamento em longo prazo.

Hoje em algumas regiões brasileiras o CAD é empregado em pilares de edificações, em


pontes e obras de arte especiais, peças pré- fabricadas, pisos e pavimentos ou em
recuperações estruturais entre outras.

Uma das maiores vantagens desse material é sua reduzida capacidade de carga por
unidade de custos maior do que a obtida em concretos convencionais, compensando os
custos envolvidos na sua produção.
Em estruturas pré-fabricadas as fôrmas, moldes e mesas de moldagens, podem ser
reutilizados mais rapidamente. Já em peças protendidas podem receber a protensão mais
cedo, trazendo benefícios para a velocidade e economia da obra.

2. Materiais Empregados na Produção

Os concretos são compostos heterogêneos que possuem duas fases; a matriz


aglomerante e os agregados (cargas). É a qualidade intrínseca das fases pasta e
agregados, bem como sua interação a responsável pelo comportamento dos concretos.

A seleção criteriosa dos materiais é de fundamental importância na preparação do


Concreto de Alto Desempenho, pois é muito difícil conquistar à uma hora de
trabalhabilidade necessária para lançá-lo com segurança e uniformidade no canteiro, ou
alcançar o último MPa de resistência a compressão.
2.1. Cimento Portland

Alguns tipos de cimentos não podem ser usados para fazer um concreto de alto
desempenho com resistência entre 75 e 100 MPa. Poucos tipos de cimentos podem ser
usados quando se deseja atingir resistências superiores a 100 MPa.

Os fatores mais importantes relacionados a esse material são: a natureza, a uniformidade


e a dosagem. Alguns têm bom desempenho quanto á resistência final, mas é muito
difícil manter a trabalhabilidade desses concretos por tempo suficiente para lançá-los na
obra de forma econômica, com alto grau de uniformidade e confiabilidade. Para outros a
perda de abatimento nas duas primeiras horas é mínima, ou pode ser facilmente
resolvida com o uso de superplastificantes na obra.

A pequena quantidade de referências bibliográficas relativas à qualidade do cimento


empregado na fabricação do CAD indica que este material tem sido fabricado com os
cimentos comuns, cujas especificações são abrangidas pela normatização corrente.

2.2. Superplastificantes

Os superplastificantes são aditivos que têm fundamental importância para fazer a


dispersão das partículas de cimento na mistura, no controle de um traço com relação
água/aglomerante muito baixa e para reduzir a quantidade de água na mistura.

2.3. Água

A dosagem da água depende de diversos fatores, como, a natureza e a dosagem do


cimento, características quanto à forma, tamanho densidade e absorção dos agregados
além de temperatura e a trabalhabilidade do concreto.

2.4. Sílica Ativa

A Sílica Ativa é um subproduto da fabricação do silício metálico, das ligas de ferro-


silício e de outras ligas de silício.

Os efeitos benéficos da sílica ativa na microestrutura nas propriedades mecânicas do


concreto são devidos à rápida reação pozolãnica, mas também ao efeito físico das
partículas da sílica ativa, o qual é conhecido como “efeito fíler”.

As finas partículas de sílica preenchem os vazios entre as partículas maiores de cimento


e também reduzem a exsudação. O efeito fíler é responsável pelo aumento da fluidez
dos concretos com relação água aglomerante muito baixa

2.5. Escória de Alto-forno

Como próprio nome diz a escória de alto-forno é o subproduto da manufatura do ferro-


gusa num alto-forno. Se resfriada rapidamente quando sai do alto-forno, ela se solidifica
numa forma vítrea e pode então desenvolver propriedades cimentícias quando
devidamente moída.
2.6. Cinza Volante

São partículas pequenas coletadas pelo sistema antipó das usinas de energia que
queimam carvão. Algumas são autocimentícias, a maioria possui propriedades
pozolânicas enquanto que outras não.

2.7. Agregados

É necessário um controle mais rigoroso da qualidade do agregado com relação à


granulometria e ao tamanho máximo, pois à medida que a resistência do concreto
aumenta os agregados podem sofrer ruptura sob alta tensão.
O uso de uma areia grossa leva a pequeno decréscimo na quantidade da água de mistura
necessária para uma dada trabalhabilidade, o que é importante para a resistência e
vantajoso economicamente.

A seleção do agregado graúdo torna-se mais importante à medida que a resistência á


compressão do concreto aumenta, as rochas duras como o calcário e a dolomita e as
ígneas como granito, gabro e diabase tem sido usadas com sucesso.

A forma também interfere na reologia do concreto, partículas lamelares são fracas e


podem ser quebradas com os dedos, produzindo misturas ásperas que exigem água
adicional ou superplastificantes para atingir a trabalhabilidade desejada.

O tamanho máximo do agregado tem efeitos consideráveis em relação à perda de


resistência. As partículas menores do agregado graúdos são geralmente mais resistentes
do que as partículas grandes. Isso porque o processo de redução do tamanho
freqüentemente elimina os defeitos internos do agregado, tais como poros grandes,
microfissuras e inclusões de minerais moles. Na ausência de qualquer ensaio de
otimização é mais seguro usar o agregado graúdo de tamanho máximo de 10 a 12 mm,
porém não significa que um agregado de 20 ou 25 mm não possa ser usado ou afete a
trabalhabilidade e a resistência do concreto

2.8. Observações

O uso de materiais cimentícios suplementares deve ser priorizado sempre que haja
disponibilidade e preços competitivos, pois uma vez que substituem parte do cimento
portland na composição do concreto de alto desempenho, reduzem o seu custo,
melhoram algumas características tecnológicas, além de resolver problemas ambientais.

O uso de dois materiais combinados como cinza volante e sílica ativa ou escória e sílica
ativa, é benéfico, pois a reatividade da sílica ativa pode compensar a reatividade mais
lenta da escória ou cinza volante.

Há algumas limitações possíveis no uso de escórias de alto-forno e de cinza volante no


concreto de alto desempenho. Elas não são tão reativas como o Cimento Portland.
Sendo assim, a resistência à compressão do concreto de alto desempenho ao qual foram
incorporados estes materiais, após 24 horas, é sempre mais baixa do que quando
somente o cimento Portland é usado, ou apenas em combinação com a sílica ativa.
(Aiticin,1998).Portanto isso deve ser considerado caso haja a necessidade de alta
resistência inicial.
3. Principais características

3.1. Pasta de Cimento

A resistência da pasta de cimento é influenciada por vários fatores, como natureza e a


dosagem do cimento, a idade do material, o grau de hidratação do cimento a porosidade
da pasta e a relação água cimento.

Em comparação com os concretos de relação água/ cimento (A/C) elevada, os concretos


de alto desempenho, com relação A/C baixa, possui uma estrutura onde as partículas de
cimento estão mais próximas permitindo uma hidratação mais rápida nas menores
idades.

Apenas o aumento da dosagem de cimento associada à redução da dosagem de água,


não basta para a obtenção do CAD, pois o próprio aumento do consumo de cimento
acima de certo nível impõe o aumento da dosagem de água para um concreto com igual
trabalhabilidade. Por isso começaram a serem utilizados os aditivos redutores de água e
as adições minerais.

3.2. Propriedades no Estado Fresco

São mais coesos e viscosos, com massa específica real superiores a dos concretos
convencionais, da ordem de 2,5 Kg/dm³.

Devido a relação A/C ser baixa, geralmente não apresenta exsudação ou esta é quase
nula, o que pode provocar o surgimento de fissuras devido a retração plástica em
ambientes de altas temperaturas, pouca umidade ou muita aeração, necessitando de uma
atenção mais rigorosa em relação à cura.

3.3. Propriedades no Estado Endurecido

Embora possa atingir resistência à compressão característica de 120 MPa, em


utilizações praticas só atingiu em média 80 MPa, e sua resistência à tração não ocorre
de forma proporcional à resistência á compressão, podendo atingir 10 MPa.O mesmo
ocorre com o módulo de elasticidade,necessitando algumas reformulações de cálculo, e
pode chegar a 50 GPa.

A aderência é favorecida pelo fortalecimento e redução de uma região entre a armadura


e a pasta de cimento. A fluência específica é reduzida chegando a 1/5 das mediadas nos
concretos convencionais. O coeficiente de Poisson em geral não se altera (0,2).

O CAD possui uma resistência ao desgaste até dez vezes superior à dos concretos
normais, favorecendo sua aplicação em pisos, pavimentos e estruturas hidráulicas
sujeitas à abrasão.

3.4. Durabilidade

A permeabilidade do CAD é bastante reduzida, dificultando a penetração de agentes


agressivos. Em alguns testes de incêndios as estruturas apresentaram destacamentos
antes daquelas em que se usou concreto convencional. Isto estaria relacionado à baixa
permeabilidade que dificulta a saída dos vapores d’água, provocando aumento de
pressão no interior do material, capazes de provocar pequenas explosões localizadas.
Fibras plásticas adicionadas á massa reduzem esse problema.

A porosidade pode chegar a menos de 10% metade da medida em concretos


convencionais. Há uma diminuição em relação ao diâmetro dos poros, em alguns casos
houve eliminação total. Outra característica importante deste concreto é o seu aumento
de resistência em relação à carbonatação, e ao ataque por sulfatos.

4. Aplicações em Estruturas
Por ser um material que demanda alto controle tecnológico e, por isso mesmo, é mais
caro, é indicado apenas em estruturas especiais e em grandes empreendimentos. Outra
característica associada ao CAD é a de proporcionar estruturas mais leves, pois sua
maior resistência, conseqüente da menor relação água/cimento, permite a construção de
elementos mais esbeltos para suportar a mesma carga.

Quando comparado a um concreto convencional, o custo inicial do m³ do concreto de


alto desempenho é mais elevado, cerca de 30 a 40%. O que não significa, porém, que a
solução como um todo seja mais cara, pois quando é feita uma especificação adequada
durante as fases de projeto, aumentar a resistência do concreto pode trazer ganhos
técnicos e econômicos.

Há uma diminuição na utilização de armaduras, item que tem peso considerável nos
orçamentos. A protensão consiste na introdução de grandes esforços na estrutura que
visam compensar os esforços externos, ou seja, o concreto recebe tensões muito mais
altas. Por esse motivo o aumento da resistência à compressão característica se mostra
adequado em estruturas protendidas, o que justifica a importância do concreto ter bom
desempenho.

Mesmo diante do custo inicial maior, concretos de resistência superiores a 40 MPa estão
sendo aproveitados principalmente nos primeiros pavimentos e no subsolo de
edificações altas. Objetivando evitar o aumento das seções garantindo uma melhor
distribuição das cargas dos pilares nos andares mais exigidos, como garagem e áreas
comuns, que demandam amplos vãos livres.

Outro benefício é a maior durabilidade. O ganho de vida útil pode chegar a 20%
aproximadamente, o que faz com que esse material se mostre pertinente em estruturas
expostas a ambientes agressivos, como edificações submetidas à atmosfera salina,
academias com piscina e indústrias químicas, por exemplo.
Um fator indutor do uso do CAD é a altura média dos edifícios, sobretudo os
comerciais, que tende a crescer. O preço desse material deixará de ser um empecilho à
medida que sua utilização se torne mais difundida.

5. Sustentabilidade

Como se vê, o projeto de qualquer edificação, em todos os seus aspectos, mas


particularmente na concepção e detalhamento da estrutura, tem hoje como objetivo
fundamental a sustentabilidade. Isso implica projetar estruturas econômicas, duráveis e
flexíveis, preferir a reciclagem à demolição, o que, além das vantagens econômicas e
culturais, contribuirá para reduzir a produção de entulho.

A redução no volume total de material associada a uma maior durabilidade da estrutura


são qualidades que garantem uma maior sustentabilidade para as estruturas de concreto
de alto desempenho quando comparadas com as alternativas usuais.

6. Conclusão

Os avanços tecnológicos na área da construção civil não ficam por conta apenas da
utilização de novos equipamentos e processos construtivos. Este avanço pode ser
percebido também no uso de novos materiais e na melhoria das qualidades de materiais
já existentes, como no caso do desenvolvimento do concreto.

Estudos e pesquisas nesta área nos proporcionaram um grande desenvolvimento nas


últimas décadas. Hoje podemos facilmente obter concretos com resistência à
compressão da ordem de 150 MPa, o que seria inimaginável a algumas décadas,
concretos aplicáveis tanto para grandes quanto para pequenas obras.

A utilização ou não, fica a cargo do engenheiro civil que deve levar em consideração
todos os aspectos construtivos, financeiros e a necessidade do cliente, levando em conta
o custo benefício da obra.

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