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Introdução Ao Conceito de Arte
Introdução Ao Conceito de Arte
Introdução
Ao longo de toda a história, o homem produziu artefatos que auxiliaram
em seu trabalho e o ajudaram a vencer as limitações físicas apresentadas
pela natureza. Para dominar e aperfeiçoar o meio natural, o ser humano
produziu um número imenso de utensílios, ferramentas e artefatos. Estu-
dar essa produção torna possível a compreensão do processo civilizatório
ocorrido desde que o homem habitou a Terra. O ser humano também
produziu coisas que, embora não possuam uma utilidade imediata, sem-
pre estiveram presentes em sua vida e revelam a história da humanidade.
Esta produção — que permite que tenhamos conhecimento da visão do
ser humano frente ao mundo que o cerca: seu momento histórico, seus
desejos e a expressão de seus sentimentos — se refere às denominadas
“obras de arte”.
Neste capítulo, você estudará a construção do conceito de arte, de-
lineando as implicações culturais que o envolvem. A história da arte se
desenvolve nos limites daquilo que os autores consideram “conceito
restrito” de arte, pois contempla a produção realizada por artistas e le-
gitimada por instituições, teoria e crítica. As definições de belas artes e
artes aplicadas contribuem para a compreensão do fenômeno artístico e
sua conceituação, à luz de algumas bibliografias referenciais. Assim, você
compreenderá a relevância da história da arte para entender os fenôme-
nos que sustentam a diversidade da produção artística, com apoio dos
conhecimentos advindos da estética, da crítica de arte e da museologia.
2 Introdução ao conceito de arte
É possível dizer, então, que arte são certas manifestações da atividade hu-
mana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura
possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas atividades e
as privilegia (COLI, 2002, p. 8).
[...] um mais restrito, pois trata da arte como ‘obra de arte’, circunscrita na
história da arte, feita por artistas e na maioria das vezes localizada em insti-
tuições artísticas; o outro é mais amplo, pois concebe a arte como o conjunto
de atos criadores ou inovadores presentes em qualquer cultura humana.
Talvez seja próprio da obra de arte não pertencer a nenhum tempo específico
– ou talvez a todos, mas sempre como se proviesse de outro tempo, passado
ou futuro. Quem sabe um dia outra civilização, ou uma outra fase desta,
desvelará a valência artística de uma luta de Ali, ou de um número de dança
de Astaire. Uma obra de arte é um objeto que sobrevive à vida e à intenção
que a gerou, e a todos os discursos produzidos sobre ela. Nesse sentido, “o
que resta” é, simplesmente, sinônimo de “arte”.
Figura 2. Laca chinesa da Dinastia Ming (séc. XVI) e ânfora grega (500–450 a.C.).
Fonte: a) [Perlmuttlack], (2008); b) Kamira/Shutterstock.com.
Manifesto das Sete Artes foi publicado em 1923, escrito pelo pesquisador
italiano Ricciotto Canudo, onde foi mencionado, pela primeira vez, o termo
“sétima arte” para se referir ao cinema.
Para Canudo, a obra cinematográfica era constituída por elementos das outras
expressões, como o som, da música; o movimento, da dança; a cor, da pintura;
o volume, da escultura; o cenário, da arquitetura; a representação, do teatro;
a palavra, da poesia. Enfim, uma síntese de outras artes; uma arte híbrida
(COVALESKI, 2012, p. 93).
1. Música (som).
2. Artes cênicas (Teatro/Dança/Coreografia — movimento).
3. Pintura (cor).
4. Escultura (volume).
5. Arquitetura (espaço).
6. Literatura (palavra).
7. Cinema (audiovisual — contém artes anteriores, como a música para
trilha sonora, artes cênicas para dublagem, captura de movimentos,
pintura, escultura e arquitetura para o design e literatura, para roteiros)
(COVALESKI, 2012; CHAUI, 2000).
8. Fotografia (imagem).
9. História em quadrinhos (cor, palavra, imagem).
10. Videogames (integra os elementos de outras artes).
11. Arte digital (integra artes gráficas computadorizadas 2D, 3D e
programação).
Há muitas artes que são híbridas pela própria natureza: teatro, ópera, perfor-
mance são as mais evidentes. Híbridas, neste contexto, significa linguagens
e meios que se misturam, compondo um todo mesclado e interconectado de
sistemas de signos que se juntam para formar uma sintaxe integrada. Nesse
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trumentos, a arte não existe — ao menos para nós —, pois, assim como esta,
esses instrumentos específicos são indissociáveis da nossa cultura.
Historiadores de arte argumentam que a fruição da arte não é imediata,
espontânea, um dom. “Ela pressupõe um esforço diante da cultura” (COLI,
2002, p. 115). Para podermos ser tocados pela arte, é necessário estabelecer
um conjunto de relações e referências que nos permita adentrar nas frequentes
transformações dos objetos, conceitos e discursos artísticos. A arte é polissê-
mica, ambígua, mutável e complexa, portanto, não podemos aprender regras
de apreciação para o fenômeno artístico.
Um tema recorrente é a questão do gosto. Quando nos julgamos livres
para gostar ou não gostar de um objeto artístico, na realidade, estamos sendo
conduzidos pelo conjunto de elementos que possuímos para manter relação
com a cultura que nos envolve.
Gostar ou não gostar não significa possuir uma sensibilidade inata ou ser
capaz de uma fruição espontânea – significa uma reação do complexo de
elementos culturais que estão dentro de nós diante do complexo cultural que
está fora de nós, isto é, a obra de arte (COLI, 2002, p. 117).
Figura 6. Lei da Jornada (Protótipo B), Ai Weiwei. OCA, Parque Ibirapuera, SP, 2018.
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Hoje, a importância reside no mundo social, no papel que a arte exerce neste
mundo, no estatuto da obra, nas suas funções e propriedades estéticas. Quan-
do necessário, o historiador descentraliza o sujeito e trabalha com atores
anônimos para diagnosticar melhor a função da arte frente aos fenômenos
coletivos, às estruturas mentais e ao imaginário de diferentes grupos sociais
(KERN, 2004, p. 7).
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