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O objetivo deste livro é fazer uma apresentação geral dos tópicos normalmente
estudados em disciplinas de lógica matemática para cursos de graduação ou pós-graduação
em Filosofia ou Matemática, incluindo tópicos de fundamentos da matemática, considerados
de um ponto-de-vista formalista. Desse modo, o livro cobre os seguintes assuntos: cálculo
proposicional, cálculo de predicados, fundamentos da aritmética, fundamentos da análise e
teoria dos conjuntos.
1. CÁLCULO PROPOSICIONAL
1.1. SINTAXE I
Definições básicas
DEF. 1.1.3: A linguagem formal sobre A, que designaremos por L(A), é o menor subconjunto
de E(A) que satisfaz as seguintes condições:
i) se {P, Q, R, ...}, então L(A), e dizemos que é uma fórmula atômica sobre A
ii) se L(A), então ~ L(A)
iii) se , L(A), então ( & ), ( v ), ( ), ( ↔ ) L(A)
um elemento qualquer de L(A) é uma fórmula sobre A.
Uma vez que se aplica a uma fórmula, o operador da negação é dito um operador
monádico, ou de aridade 1. Os demais operadores lógicos, que relacionam duas fórmulas, são
operadores binários, e têm, portanto, aridade 2. Uma generalização da definição 1.1.3, que é
útil para os propósitos deste livro, pode ser obtida da seguinte maneira:
DEF. 1.1.3’: Seja X um conjunto qualquer de símbolos contendo {), (}; considere-se uma tri-
partição (VX, OX, PX) de X2; vamos chamar VX de conjunto das variáveis proposicionais de X,
OX de conjunto dos operadores lógicos de X, e PX = {); (} de conjunto dos sinais de pontuação
de X; agora, vamos tomar uma multi-partição (O X1 ; O X2 ; ...; O Xn ) de OX, com n < ;
vamos chamar O Xi de conjunto dos operadores lógicos i-ádicos de X, para 1 i n; então a
linguagem formal sobre X, que designaremos por L(X), é o menor subconjunto de E(X) que
satisfaz as seguintes condições:
i) se VX, então L(X)
ii) se 1, ..., i L(X) e O Xi , então (1, ..., i) L(X)
um elemento qualquer de L(X) é uma fórmula sobre X.
2
Ou seja, VX, OX e PX são subconjuntos de X tais que VX OX PX = X e VX OX = VX PX = OX PX = .
4
Como uma concessão à praxe, podemos admitir que, no caso de um operador lógico
binário (2-ádico) qualquer de X, uma fórmula (1, 2) seja escrita na forma (1 2), e
que, no caso de um operador lógico monádico (1-ádico) qualquer de X, uma fórmula (1)
seja escrita na forma 1.
1.2. SEMÂNTICA
Princípios
3
Cf. FREGE,
5
Extensionalidade: Cada fórmula de L(A) designa um valor de verdade, e nada mais significa
além do valor de verdade que designa.
Composicionalidade: O valor de verdade de uma fórmula de L(A) é uma função dos valores
de verdade de suas componentes e de como elas se compõem.
Bivalência: os valores de verdade são o Verdadeiro, ou 1, e o Falso, ou 0.
Esses princípios não são de modo algum necessários, de modo que é comum chamar a
semântica que obedece aos mesmos de clássica, entendendo-se que é possível obter
semânticas não-clássicas para L(A), que rompem com um ou mais desses princípios. Por
exemplo, há semânticas intensionais, em que os pensamentos expressos pelas sentenças de
uma linguagem L são considerados relevantes para as determinações de interesse da lógica, e
semânticas polivalentes, em que o número de valores de verdade que uma sentença de L pode
assumir é maior do que dois.
Definições
6
DEF. 1.2.1: Seja u uma função qualquer definida do conjunto das fórmulas atômicas de L(A)
em {0, 1}; para cada uma dessas funções, uma valoração é uma extensão v de u definida de
L(A) em {0, 1}, tal que:
i) v () = u (), se é atômica
ii) v (~) = 1 sse v () = 0
iii) v ( ) = 0 sse v () = 1 e v () = 0
iv) v ( v ) = 0 sse v () = v () = 0
v) v ( & ) = 1 sse v () = v () = 1
vi) v ( ) = 1 sse v () = v ()
Claramente, as valorações são as funções de que falamos mais acima, que fornecem,
para qualquer fórmula de L(A), o valor de verdade de , em função dos valores de verdade
das fórmulas atômicas que ocorrem em . Os valores de verdade das fórmulas atômicas são
arbitrariamente distribuídos por cada uma das funções u que as valorações estendem para
L(A). Como as fórmulas atômicas de L(A) são variáveis proposicionais, isto é, expressões
que ocupam o lugar que normalmente seria ocupado por uma sentença de uma dada
linguagem L em um conjunto de sentenças ou em um período composto de L, é bastante
natural que não tentemos determinar o valor de verdade de tais fórmulas. Em vez disso,
vamos assumir que dada fórmula atômica é verdadeira ou que é falsa, e averiguar quais as
consequências de fazê-lo para determinações de interesse da lógica, como, por exemplo, o
valor de verdade de uma fórmula em que ocorre. As definições a seguir especificam como
tais determinações podem ser feitas.
DEF. 1.2.2: Seja um conjunto de fórmulas de L(A) e v uma valoração; então, dizemos que v
é um modelo de (em símbolos: v╞ ) sse v () = 1 para todo .
DEF. 1.2.3: Seja um conjunto de fórmulas de L(A); então; dizemos que é satisfatível (ou
consistente) sse existe ao menos uma valoração v tal que v ╞ .
DEF. 1.2.4: Seja um conjunto de fórmulas de L(A) e uma fórmula de L(A); então,
dizemos que é uma conseqüência lógica de sse v () = 1 para toda valoração v tal que v ╞
.
7
DEF. 1.2.5: Seja uma fórmula de L(A); então, dizemos que é válida sse v () = 1 para
toda valoração v.
DEF. 1.2.6: Seja uma fórmula de L(A); então, dizemos que: i) é uma tautologia sse é
válida, ii) é uma contradição sse ~ é válida, iii) é contingente sse não é uma
tautologia nem uma contradição.
Exemplo 1.2.1
Considerando uma valoração v tal que v (P) = 1, v (Q) = 0, v (R) = 0 e v (S) = 1, vamos
determinar v (P → ~ (R ↔ ~S)) e v ((P v ~R) → (S ↔ ~ (Q & ~P))).
a) como v (S) = 1, temos que v (~S) = 0; daí, como v (R) = 0, temos que v (R ↔ ~S) = 1, e
portanto que v (~ (R ↔ ~S)) = 0; daí, por fim, temos que v (P → ~ (R ↔ ~S)) = 0, já que v (P)
= 1.
Essa verificação que acabamos de fazer pode ser feita de modo simples mediante o uso da
seguinte tabela:
P → ~ (R ↔ ~ S)
1 0 0 0 1 0 1
Nessa tabela, colocamos abaixo das variáveis proposicionais da fórmula sob análise os valores
dados a elas pela valoração v que estamos considerando. Depois, colocamos sob os
operadores os valores da fórmula obtida pela sua inclusão, a partir das variáveis
proposicionais. Assim, sob o segundo ~ que ocorre na fórmula acima colocamos o valor da
fórmula ~S em nossa valoração v, sob o operador ↔ colocamos o valor em v da fórmula R ↔
~S e assim por diante. Sob o operador →, então, teremos o valor em v da fórmula P → ~ (R
↔ ~S), que é a fórmula na qual estamos interessados.
b) vamos determinar v ((P v ~R) → (S ↔ ~ (Q & ~P))) utilizando o procedimento de
construção de tabela:
(P v ~ R) → (S ↔ ~ (Q & ~ P))
1 1 1 0 1 1 1 1 0 0 0 1
Assim, como 1 é o valor sobre o operador →, temos que v ((P v ~R) → (S ↔ ~ (Q & ~P))) =
1.
Exemplo 1.2.2
8
{ P → ~ Q; ~( R ↔ Q); (P v ~ ~ R) → Q}
v1 1 0 0 1 0 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1
v2 1 0 0 1 1 0 0 1 1 1 0 1 0 1 1
v3 1 1 1 0 1 1 0 0 1 1 1 0 1 0 0
v4 1 1 1 0 0 0 1 0 1 1 0 1 0 0 0
v5 0 1 0 1 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1
v6 0 1 0 1 1 0 0 1 0 0 0 1 0 1 1
9
v7 0 1 1 0 1 1 0 0 0 1 1 0 1 0 0
v8 0 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0
Exemplo 1.2.3
Vamos determinar se ~ (P → Q) é uma conseqüência lógica do conjunto de fórmulas
B = {P ↔ R; ~ (~R v Q)}.
Vamos montar a tabela-verdade conjunta de B e de ~ (P → Q), isto é, a tabela de B {~ (P
→ Q)}.
{ P ↔ R; ~( ~ R v Q)} ╞ ~ (P → Q)
v1 1 1 1 0 0 1 1 1 / 0 1 1 1
v2 1 1 1 1 0 1 0 0 / 1 1 0 0
v3 1 0 0 0 1 0 1 1 / 0 1 1 1
v4 1 0 0 0 1 0 1 0 / 1 1 0 0
v5 0 0 1 0 0 1 1 1 / 0 0 1 1
v6 0 0 1 1 0 1 0 0 / 0 0 1 0
v7 0 1 0 0 1 0 1 1 / 0 0 1 1
v8 0 1 0 0 1 0 1 0 / 0 0 1 0
A tabela acima nos mostra que v2 é a única valoração modelo de B. Como v2 (~ (P → Q)) = 1,
como também nos mostra a tabela acima, temos, de acordo com a definição 1.2.4, que ~ (P →
Q) é uma conseqüência lógica de B.
Há uma série de fatos interessantes sobre a noção de conseqüência lógica, que convém
comentar aqui. Em primeiro lugar, temos que qualquer fórmula é conseqüência lógica de um
conjunto de fórmulas insatisfatível. De fato, Se é insatisfatível, por definição não há
nenhuma valoração v tal que v╞ . Nesse caso, obviamente, não há nenhuma valoração v que
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seja modelo de , e tal que v () = 0, para uma fórmula qualquer, o que é o mesmo que
dizer que v () = 1 para toda valoração v tal que v╞ . Uma decorrências direta desse fato é a
seguinte: se é um conjunto de fórmulas insatisfatível, então, para qualquer conjunto de
fórmulas , é insatisfatível, e portanto ╞ , para qualquer fórmula .
Um outro fato interessante é que, se é válida, então ╞ , para qualquer conjunto de
fórmulas . De fato, se é válida, temos por definição que v () = 1 dada qualquer valoração
v, e nesse caso é claro que v () = 1 para toda valoração v tal que v╞ . Em particular, no caso
do conjunto vazio, note-se que qualquer valoração v é um modelo para esse conjunto, já que
não há nenhuma valoração v tal que v () = 0 para alguma fórmula , como é óbvio. Isso
é o mesmo que dizer que v () = 1 para toda fórmula , dada qualquer valoração v. Assim
sendo, vamos ter que uma fórmula qualquer é uma conseqüência lógica de se e somente
se v () = 1 dada qualquer valoração v, isto é, se e somente se é válida. Isso justifica a
introdução de uma definição de validade em termos da noção de conseqüência lógica, do
seguinte modo: uma fórmula de L(A) é válida sse ╞ .
Mencionamos acima um fato relativo à noção de satisfatibilidade, tendo em vista a
operação sobre conjuntos. Outros fatos interessantes do mesmo tipo são: se uma família C
de conjuntos de fórmulas é tal que, para todo C, é consistente, temos que C é
consistente. Note-se que, no entanto, dada a mesma família de conjuntos C, C não é
necessariamente consistente. Outro fato interessante: se um conjunto de fórmulas é
consistente, então é consistente, para todo . Daí temos, dado o fato anterior, que se
é consistente para todo C, então P C
é consistente. Note-se que se é
inconsistente, um subconjunto qualquer de não é necessariamente inconsistente.
Tendo em vista as definições de satisfatibilidade e conseqüência lógica, as
propriedades mencionadas dessas noções são intuitivas, mas pode-se construir facilmente
provas formais das mesmas mediante o uso das definições em questão e de uma teoria formal
de conjuntos, tal como ZFC.
Exemplo 1.2.4
Vamos determinar o estatus semântico das fórmulas = ~ (~P → R) → (~P & ~R),
= P → (~Q & P) e = ~ (P → (~Q v P)), isto é, vamos verificar se cada uma dessas fórmulas
é uma tautologia, uma contradição ou uma fórmula contingente.
Vamos montar a tabela-verdade de cada uma dessas fórmulas:
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~( ~ P → R) → (~ P & ~ R)
v1 0 0 1 1 1 1 0 1 0 0 1
v2 0 0 1 1 0 1 0 1 0 1 0
v3 0 1 0 1 1 1 1 0 0 0 1
v4 1 1 0 0 0 1 1 0 1 1 0
P → (~ Q & P)
v1 1 0 0 1 0 1
v2 1 1 1 0 1 1
v3 0 1 0 1 0 0
v4 0 1 1 0 0 0
~( P → (~ Q v P))
v1 0 1 1 0 1 1 1
v2 0 1 1 1 0 1 1
v3 0 0 1 0 1 0 0
v4 0 0 1 1 0 1 0
Com base nessas tabelas e na definição 1.2.6, podemos determinar que é uma tautologia, já
que v () = 1 para toda valoração v, e que é uma contradição, já que v () = 0 para toda
valoração v. Como v1 () = 0 e v2 () = 1, temos que é uma fórmula contingente.
Exercício 1.2.1
Seja v uma valoração tal que v (P) = 0, v (Q) = 0, v (R) = 0, v (S) = 0 e v (T) = 0; e seja
w uma valoração tal que w (P) = 0, w (Q) = 1, w (R) = 1, w (S) = 0 e w (T) = 1. Determine:
a) v ((P ↔ ~Q) v ~ (~~R & (T → ~S)))
b) w ((P ↔ ~Q) v ~ (~~R & (T → ~S)))
c) v (~ ( ~ ( ~ (R v ~S) → ~T) ↔ (R & ~P)) → ~~Q))
d) w (~ ( ~ ( ~ (R v ~S) → ~T) ↔ (R & ~P)) → ~~Q))
Exercício 1.2.2
12
Exercício 1.2.3
Seja = P → ~R; = ~ (~P v ~Q); = R→ ~ (P & Q); = P v ~S; = R ↔ (~P v Q);
= H v ~J; = P → (Q → P) e = ~ (~P v Q) ↔ ~P. Verifique quais dentre as seguintes
afirmações são corretas.
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a) A╞
b) B╞
c) C╞
d) C╞
e) D╞
f) D╞
g) B╞
h) B C╞
i) B C╞
j) B C╞
k) B D╞
l) A B╞
m) A B╞
n) A – B╞ → ~
Exercício 1.2.4
Determine o estatus semântico das seguintes fórmulas:
a) P
b) ~P
c) P → ~Q
d) (P → ~Q) → ~ (Q & P)
e) (Q & P) → (P → ~Q)
f) (Q & P) ↔ (P → ~Q)
g) (P v (R → ~Q)) → (P v ~ (Q & R))
h) P → P
i) P ↔ P
j) P v (P & P)
Para qualquer fórmula de L(A), há uma fórmula de L(A) que não possui
ocorrências de outros operadores lógicos além de → e ~, e tal que ↔ é uma tautologia.
Obviamente, em casos como esse v () = v () dada qualquer valoração v. Como, pelo
princípio de extensionalidade, o significado de uma fórmula de uma linguagem formal
qualquer para o cálculo sentencial se reduz ao seu valor de verdade, temos que as fórmulas
14
2
n 1
(2 n )
. No entanto, se perguntarmos quantos operadores n-ádicos há em uma lógica
n n
bivalente, a resposta é que há 2 (2 ) operadores desse tipo. Generalizando, temos que há k (k )
Neste ponto há uma outra pergunta interessante que podemos fazer. A cláusula da
definição 1.2.1 para o operador lógico & é tal que esse operador funciona em uma fórmula
& de modo semelhante à conjunção ‘e’ em uma sentença da forma ‘p e q’, em que p e q
sejam sentenças quaisquer do português. Podemos nos referir a esse fato dizendo que nossa
noção intuitiva relacionada à palavra ‘e’ do português convém ao operador &. Desse modo,
vamos dizer que a noção intuitiva associada à palavra ‘não’ convém ao operador ~, aquela
associada á palavra ‘ou’ convém ao operador v, a associada à expressão ‘se e somente se’
convém ao operador ↔ e o conceito associado à palavra ‘implica’ convém, mais ou menos, ao
operador →. Nossa questão então é a seguinte: há outras noções intuitivas associadas a outras
palavras ou expressões do português que convenham a algum operador n-ádico diferente dos
cinco que aparecem na definição 1.2.1? Essa obviamente não é uma questão formal, que possa
ser tratada de modo rigoroso, mas ela pode receber uma resposta que provavelmente vai ser
considerada razoável por qualquer falante competente do português.
Para responder a questão que formulamos no parágrafo precedente podemos começar
considerando que, em línguas naturais, não costumamos formular sentenças compostas com
relações de verdade ternárias, ou de qualquer aridade superior a 2. Sendo assim, vamos
considerar apenas os operadores lógicos monádicos e binários. Sabemos que há 4 operadores
monádicos e 16 binários em lógicas bivalentes. A tabela abaixo lista os 16 operadores
binários.
vezes, ao proferir uma sentença do tipo ‘p ou q’ queremos dizer que ocorre p ou ocorre q, mas
não ambos. Costuma-se dizer que este último é um uso exclusivo da palavra portuguesa ‘ou’,
ao passo que o anterior é um uso inclusivo dessa palavra. Assim, temos que o que convém ao
operador v é a noção intuitiva associada ao uso inclusivo de ‘ou’. Algum dos 16 operadores
da tabela acima convém ao uso exclusivo de ‘ou’? O operador 9 é tal que uma fórmula 9 (,
) é verdadeira precisamente quando somente é verdadeira ou quando somente é
verdadeira, de modo que claramente o conceito associado ao uso exclusivo de ‘ou’ convém a
9. Em alguns materiais de lógica o operador 9 é representado pela notação ‘w’, de modo que
podemos escrever uma fórmula 9 (, ) na forma w .
Duas outras expressões portuguesas que utilizamos para construir sentenças compostas
cujo valor de verdade depende das sentenças componentes são ‘é incompatível com’ e ‘nem...
nem’. No caso de uma sentença do tipo ‘p é incompatível com q’, consideramos que é falsa no
caso de as sentenças componentes poderem ser ambas verdadeiras. Isso quer dizer que, ao que
parece, o conceito intuitivo associado à expressão ‘é incompatível com’ convém a algum
operador da lógica modal, que lida com noções como a de possibilidade. No entanto, podemos
dizer que a noção intuitiva de incompatibilidade convém, mesmo que de modo imperfeito, ao
operador 5 da tabela acima, que é tal que uma fórmula 5 (, ) é falsa apenas quando ambas
e são verdadeiras. Esse operador costuma ser representado com a notação |, de modo que
uma fórmula 5 (, ) pode ser escrita na forma | . Já sentenças do tipo ‘nem p nem q’ são
obviamente consideradas verdadeiras apenas quando ambas as sentenças componentes p e q
são falsas, de modo que a noção intuitiva em questão claramente convém ao operador 12 da
tabela acima. Para esse operador é costume utilizar a notação , de modo que fórmulas da
forma 12 (, ) podem ser escritas na forma .
Não parece haver outras noções intuitivas relacionadas aos operadores binários
restantes. Contudo, notando que alguns desses operadores dão para fórmulas compostas
mediante a sua utilização valores opostos aos dados por um outro operador nas mesmas
valorações, podemos dizer que a esses operadores convém as noções das negações do seus
“opostos”. Por exemplo, o operador 14 é tal que uma fórmula da forma 14 (, ) é verdadeira
exatamente quando → é falsa e vice-versa. Assim, podemos dizer que a noção intuitiva
associada às palavras ‘não implica’ convém a 14, mas de modo tão imperfeito, é claro, quanto
a noção intuitiva associada à palavra ‘implica’ convém a →. Além de → e 14, outros pares de
operadores “opostos” são & e |, v e e ↔ e w, todos operadores aos quais já associamos
determinadas noções intuitivas. Aos operadores restantes parece não estar associada nenhum
17
conceito intuitivo, de forma que devemos considerá-los como operadores lógicos puramente
“técnicos”. Esse é o caso de 1, um operador que, ao relacionar duas fórmulas e sempre
produz uma tautologia, e também o de seu oposto 16, que produz sempre uma contradição ao
associar quaisquer duas fórmulas e . Esses operadores podem ser representados,
respectivamente, pelo símbolos T e . O operador 6 é tal que uma fórmula 6 (, ) tem
sempre o valor de , e seu oposto 8 é tal que uma fórmula 8 (, ) tem sempre o valor
oposto ao de , de modo que podem ser chamados, respectivamente, de identidade de e
oposto de . Os operadores identidade de e oposto de são, então, os operadores 10 e 11,
respectivamente. Restam apenas os operadores 3 e seu oposto 13. Uma fórmula 3 (, ) é tal
que v (3 (, )) = v ( → ) para toda valoração v, e isso torna natural o fato de que 3
costuma ser representado com a notação ←. O operador ← é bastante utilizado na linguagem
de programação PROLOG.
No caso dos operadores monádicos, ~ é o único ao qual convém uma noção intuitiva,
que é a de negação. Os outros três operadores monádicos são versões monádicas dos
operadores T, e identidade de . Assim, mesmo se nos restringirmos ao uso dos operadores
aos quais convém alguma idéia intuitiva, temos um número razoável de operadores lógicos, o
que pode complicar a sintaxe de sistemas formais do tipo de Dn4. Um sistema formal com os
operadores de Dn e mais |, e w teria de possuir 16 regras de inferência. E um tal sistema
com uma linguagem formal que incluísse todos os operadores lógicos n-ádicos, para qualquer
n, teria de possuir um número infinito de postulados. Neste ponto podemos então levantar
mais uma questão interessante: há algo que podemos exprimir mediante o uso de um operador
n-ádico qualquer, para n > 2, que não podemos exprimir mediante o uso de operadores
monádicos e binários apenas? Uma formulação mais exata para essa questão é a seguinte: o
conjunto dos operadores n-ádicos com n 2 é funcionalmente completo com relação ao
conjunto de todos os operadores n-ádicos, para qualquer n natural? Na realidade, podemos
demonstrar um resultado mais forte que esse. Vamos, na seqüência, demostrar que {&, v, ~} é
funcionalmente completo com relação ao conjunto de todos os operadores n-ádicos, para
qualquer n natural.
Seja um operador lógico n-ádico qualquer; vamos estender a definição 1.2.1 de
modo que a mesma inclua a seguinte cláusula:
4
Cf. seção 1.3.
18
vi) v ( ((1, 2, ..., n)) = k para vi = (k1; k2; ..., kn), para cada i tal que 1 i 2n, e para cada
n-upla ordenada (k1; k2; ..., kn) {0; 1}n, sendo que vi = (k1; k2; ..., kn) sse v (j) = kj para
qualquer j tal que 1 j n, e sendo que k, kj {0; 1}
vamos denotar por V ao conjunto de todas as valorações e vamos definir uma função f de
L(A) X V em L(A) para o efeito de que tenhamos f (, v) = se v () = 1 e f (, v) = ~ se v
() = 0; além disso, dada uma fórmula qualquer da forma (1, 2, ..., n) e uma n-upla
ordenada (k1; k2; ..., kn) do tipo mencionado em vi) acima, vamos dizer que uma valoração v
qualquer é associada a (k1; k2; ..., kn) com respeito a caso tivermos v (j) = kj para qualquer
j tal que 1 j n; agora, vamos considerar uma fórmula qualquer da forma (1, 2, ..., n);
tomemos as n-uplas ordenadas vi = (k1; k2; ..., kn) tais que v ( ((1, 2, ..., n)) = 1 para
qualquer valoração v associada a vi com relação a ((1, 2, ..., n); suponha-se que haja m
dessas n-uplas; vamos denotar por p, com 1 p m, à fórmula f (1, v) & f (2, v) & ... & f
(n, v)5, sendo v qualquer valoração associada a vi com respeito a (1, 2, ..., n); agora,
tome-se a fórmula = 1 v 2 v ... v m; vamos demostrar que ((1, 2, ..., n) e são
equivalentes; i) vamos começar considerando os casos de valorações v tais que v ( ((1,
2, ..., n)) = 1; cada uma dessas valorações está associada, com respeito a (1, 2, ..., n), a
uma determinada n-upla vi = (k1; k2; ..., kn), o que significa que v (j) = kj para 1 j n; i.a)
suponha-se que kj = 1; então f (j, v) = j, e nesse caso v (f (j, v)) = v (j) = kj = 1; i.b) agora
vamos supor que kj = 0, então f (j, v) = ~j, e como v (j) = kj = 0, temos que v (~j) = 1, isto
é, v (f (j, v)) = 1; mas, nesse caso, v (f (1, v) & f (2, v) & ... & f (n, v)) = 1, o que significa
que existe um p tal que v (p) = 1, e sendo assim v () = 1; ii) agora consideremos os casos de
valorações w tais que w ( ((1, 2, ..., n)) = 0; essas valorações diferem de cada uma das
valorações v do caso i) no sentido de que w (j) ≠ v (j) para pelo menos um j tal que 1 j
n; assim, ii.a) se w (j) = 1, então v (j) = 0, f (j, v) = ~j e v (f (j, v)) = 1, enquanto w (f (j,
v)) = 0; assim sendo v (f (1, v) & f (2, v) & ... & f (n, v)) = 0, e ii.b) se w (j) = 0, então v
(j) = 1, f (j, v) = j e v (f (j, v)) = 1, enquanto w (f (j, v)) = 0; de novo v (f (1, v) & f (2,
v) & ... & f (n, v)) = 0; como cada uma das m n-uplas vi a partir das quais construímos cada
disjunto p de está associada a um dado conjunto de nossas valorações v, temos não há
nenhum p tal que w (p) = 1, e sendo assim w () = 0; logo, (1, 2, ..., n) e são
equivalentes dado o conceito de equivalência entre fórmulas que definimos mais acima. Como
é um operador n-ádico qualquer, e é uma fórmula em que ocorrem apenas os operadores
5
A colocação de parênteses é desnecessária, já que a conjunção é associativa.
19
f (, v) = ~, f (, v) = ~ e f (, v) = ; nesse caso, 2 = & ~ & ~ & ; iii) vamos por fim
considerar as valorações v associadas a v3 com respeito a (, , , ); como v () = v () = v
() = 0 e v () = 1, temos que f (, v) = ~, f (, v) = ~, f (, v) = ~ e f (, v) = ; assim, 3 =
~ & ~ & ~ & ; temos, portanto, que = ( & & & ) v ( & ~ & ~ & ) v (~ &
~ & ~ & ); para demostrar que (, , , ) e são equivalentes, basta construir a tabela
de verdade de e verificar que v ( (, , , )) = v () para qualquer valoração v, mas vamos
fazer essa demonstração seguindo a prova geral de equivalência que demos acima; i) vamos
começar considerando os casos de valorações v tais que v ( (, , , )) = 1; cada uma dessas
valorações está associada, com respeito a (, , , ), a uma e apenas uma das quádruplas v1,
v2 ou v3; i.a) quando kj = 1 temos f (j, v) = j, e nesse caso v (f (j, v)) = v (j) = kj = 1; esse é
o caso de k4 em v3, e. g., de modo que v (f (, v)) = v () = k4 = 1; i.b) quando kj = 0, temos f
(j, v) = ~j, e como v (j) = kj = 0, temos que v (~j) = 1, isto é, v (f (j, v)) = 1; esse é, e. g.,
o caso de k2 em v2, de modo que f (, v) = ~, e como v () = k2 = 0, temos que v (~) = 1, isto
é, v (f (, v)) = 1; desse modo, v (f (1, v) & f (2, v) & f (3, v) & f (4, v)) = 1, donde se
conclui que, para cada uma das valorações v sob consideração, v (1) = 1, ou v (2) = 1, ou v
(3) = 1; sendo assim, temos que v () = 1 para cada uma dessas valorações; ii) agora
consideremos os casos de valorações w tais que w ( (, , , )) = 0; essas valorações
diferem de cada uma das valorações v do caso i) no sentido de que w (j) ≠ v (j) para pelo
menos um j tal que 1 j 4; assim, ii.a) se w (j) = 1, então v (j) = 0, f (j, v) = ~j e v (f
(j, v)) = 1, enquanto w (f (j, v)) = 0; esse é o caso, por exemplo, w () no caso de valorações
w associadas a v4 com relação a (, , , ); como w () = 1, e v () = v () = 0 para o caso de
valorações v associadas a v2 ou a v3 com relação a (, , , ), temos que w () ≠ v () neses
casos; daí se segue que f (, v) = ~ e v (f (, v)) = 1, enquanto w (f (, v)) = 0; assim sendo, v
(f (, v) & f (, v) & f (, v) & f (, v)) = 0, quando v for uma valoração associada a v2 ou a v3
com relação a (, , , ); ii.b) mas se v for uma valoração associada a v1 com relação a
(, , , ), teremos w () = v (); no entanto, como nos casos sob consideração w () = 0 e v
() = 1, teremos w () ≠ v (), e é claro que qualquer de nossas valorações w, associadas a
uma das quádruplas v4-v16, difere no valor dado a j por qualquer das valorações v associadas
a uma das quádruplas v1-v3 para pelo menos um j {1; 2; 3; 4}; ora, se w (j) = 0, então v
(j) = 1, f (j, v) = j e v (f (j, v)) = 1, enquanto w (f (j, v)) = 0; como w () = 0 dadas as
valorações w sob consideração, temos que v () = 1, f (, v) = e v (f (, v)) = 1, enquanto w
(f (, v)) = 0; de novo v (f (, v) & f (, v) & f (, v) & f (, v)) = 0, dadas agora as valorações
21
associadas a v1 com relação a (, , , ); como cada uma das 3 quádruplas v1, v2 e v3 a partir
das quais construímos os disjunto 1, 2 e 3 de está associada a um dado conjunto de nossas
valorações v, temos não há nenhum p {1; 2; 3} tal que w (p) = 1 dadas as valorações w
associadas a v4, o mesmo valendo, é claro, para aquelas associadas a v5-v16; sendo assim w ()
= 0 dadas todas essas valorações; temos, pois, que (, , , ) e são equivalentes dado o
conceito de equivalência tal como foi definido mais acima.
Assim, podemos responder à pergunta que fizemos antes, concluindo que a infinidade
de operadores n-ádicos definíveis em uma lógica bivalente, além de nossos cinco operadores
tradicionais, é supérflua no sentido semântico de que não há nada que possamos exprimir por
meio daqueles operadores que não podemos exprimir mediante o uso exclusivo dos
operadores tradicionais. Melhor ainda do que isso, podemos utilizar apenas os operadores &,
v e ~ para exprimir o que quer que seja exprimível mediante o uso de qualquer operador
lógico n-ádico, para qualquer n natural. Como {~, &}, por exemplo, é funcionalmente
completo com relação a (&, v, ~}, temos, na realidade, que & e ~ são suficientes para
exprimir qualquer coisa exprimível mediante o uso de qualquer operador lógico n-ádico, para
qualquer n natural. Aqui então temos uma outra questão interessante a propor: a menor
cardinalidade de um conjunto de operadores funcionalmente completo com relação ao
conjunto de todos os operadores em uma lógica bivalente é igual a 2, ou podemos encontrar
algum conjunto unitário de operadores que fosse funcionalmente completo com relação ao
conjunto de todos os operadores em uma lógica bivalente? A resposta é que os conjuntos {|} e
{} são funcionalmente completos com relação ao conjunto de todos os operadores em uma
lógica bivalente, além de outros inúmeros conjuntos unitários de operadores n-ádicos
semelhantes a | e , mas com n > 2. Para verificar isso, como já sabemos que {~, &} e {~, v}
são funcionalmente completos com relação ao conjunto de todos os operadores em uma lógica
bivalente, basta mostrar que {|} e {} são funcionalmente completos com relação a qualquer
um desses conjuntos.
Comecemos com {|}. É fácil verificar que qualquer fórmula da forma ~ é equivalente
a uma outra da forma | , e que qualquer fórmula da forma & é equivalente a uma outra
da forma ( | ) | ( | ), o que quer dizer que {|} é funcionalmente completo com relação a
{~, &}. Também é fácil verificar que qualquer fórmula da forma ~ é equivalente a uma
outra da forma , e que qualquer fórmula da forma v é equivalente a uma outra da
forma ( ) ( ), donde se conclui que {} é funcionalmente completo com relação a
22
{~, v}. Esse resultado surpreendente mostra só precisamos, de fato, de um operador lógico, |,
por exemplo, para desenvolver todo o cálculo sentencial. A questão final a fazer é: é
conveniente de um ponto de vista prático, trabalhar com um único operador lógico? Para
responder, basta tomar uma fórmula da qual temos uma intuição simples, como ~ (P ↔ Q), e
substituí-la por sua equivalente que só possui ocorrência de | (exercício 1.2.5). A fórmula em
questão é demasiado longa. No extremo oposto, podemos substituir fórmulas muito longas
que utilizam os cinco operadores tradicionais por fórmulas curtas quando permitimos o uso de
qualquer operador lógico. Um exemplo é qualquer fórmula da forma (, , , ) do ex.
1.2.5, que substitui uma fórmula razoavelmente longa que utiliza os operadores tradicionais.
Mas se, por um lado, temos uma intuição clara do sentido de uma fórmula da forma ( & &
& ) v ( & ~ & ~ & ) v (~ & ~ & ~ & ), a despeito de seu comprimento, não
temos intuição nenhuma do sentido de fórmulas da forma (, , , ). Além disso, admitir
muitos operadores lógicos implica em complicar nossas definições semânticas, como a
definição de valoração, que deverá possuir uma cláusula distinta para cada operador, e
também implica em complicar a construção de sistemas formais do tipo de Dn, em que temos
sempre duas regras de inferência para cada operador. Assim, do ponto de vista da praticidade,
o melhor mesmo parece ser a manutenção dos cinco operadores tradicionais apenas, ou,
melhor ainda, trabalhar com o número de operadores que for mais conveniente em cada
situação específica.
Exercício 1.2.5: Reescreva cada uma das seguintes fórmulas de L(A +) (o resultado de se
acrescentar a L(A) todas as fórmulas com qualquer operador n-ádico resultantes do acréscimo,
na definição 1.2.1, de cláusulas do tipo de vi) na prova de completude funcional dada mais
acima) em L(A), isto é, substitua cada uma delas por fórmulas equivalentes que só utilizem
operadores do conjunto {&, v, →, ↔, ~}.
a) (P w ~Q) → ~ (R ~ ((P | ~Q), ~ (~R ← P), ~ (~ (Q ~S) ← R); (P (~Q |R)))); onde
é o operador lógico do exemplo 1.2.5
b) P T (Q R)
c) P (~Q ↔ (R | ~Q))
Exercício 1.2.6: Reescreva cada uma das seguintes fórmulas de L(A) em L(A) e, depois, em
L(A|)’ (o resultado, respectivamente, de se eliminar da definição 1.2.1 as cláusulas ii) e iii), e
de se acrescentar a ela uma cláusula do tipo de vi) na prova de completude funcional dada
23
mais acima para o operador , e para o operador |, mantendo as interpretações sugeridas para
os mesmos em tabela de verdade proposta mais acima), isto é, substitua cada uma delas por
fórmulas equivalentes que só utilizem operadores do conjunto {}, e depois do conjunto {|}.
a) ~ (P ↔ Q)
b) (P v ~Q) → ~ (~R & P)
c) ~ (R ↔ (~Q v P))
1.3. SINTAXE II
DEF. 1.3.3: Um conjunto de postulados para uma linguagem formal L é AX RI, onde AX é
um conjunto de axiomas para L e RI é um conjunto de regras de inferência para L.
DEF. 1.3.4: Um sistema formal é um par-ordenado (L, P), onde L é uma linguagem formal, e
P é um conjunto de postulados para L.
DEF. 1.3.5: Seja um conjunto de fórmulas de uma linguagem formal L, uma fórmula de L
e F = (L, PF) um sistema formal, sendo P F = AXF RIF; então, uma dedução de a partir de
em F é uma seqüência 1, 2, ..., n de fórmulas de L, n < , tal que n = , e, para cada i, 1
i n, i , ou i AXF, ou i foi obtida de fórmulas anteriores na seqüência, por meio de
aplicação de uma regra de inferência de RI F, ou seja, há uma sequência , , ..., j1 j2 jm de
fórmulas extraídas da sequência 1, 2, ..., i-1, tal que (( , , ..., ), i) RIF.
j1 j2 jm
DEF. 1.3.6: Seja um conjunto de fórmulas de uma linguagem formal L, uma fórmula de L
e F = (L, PF) um sistema formal; então, dizemos que é uma conseqüência lógica de em F
(em símbolos: ├F )6 sse há uma dedução de a partir de em F.
DEF. 1.3.7: Seja uma fórmula de uma linguagem formal L e F = (L, PF) um sistema formal,
sendo PF = AXF RIF; então, uma prova de em F é uma seqüência 1, 2, ..., n de fórmulas
de L, n < , tal que n = , e, para cada i, 1 i n, i AXF, ou i foi obtida de fórmulas
anteriores na seqüência, por meio de aplicação de uma regra de inferência de RI F, ou seja, há
uma sequência , , ...,
j1 j2 jm de fórmulas extraídas da sequência 1, 2, ..., i-1, tal que ((
j , j , ..., j ), i) RIF.
1 2 m
DEF. 1.3.8: Seja uma fórmula de uma linguagem formal L e F = (L, PF) um sistema formal;
então, dizemos que é um teorema em F (em símbolos:├F ) sse há uma prova de em F.
6
Nas situações em que estiver claro o sistema formal no qual se está trabalhando, pode-se escrever simplesmente
├, em vez de ├F.
25
TEO. 1.3.1: Seja uma fórmula de uma linguagem formal L e F = (L, PF) um sistema formal;
├F sse ├F .
Prova: Suponha-se que ├F , segue-se que há uma prova de em F, ou seja, há uma
seqüência 1, 2, ..., n de fórmulas de L, n < , tal que n = , e, para cada i, 1 i n, i
AXF, ou i foi obtida de fórmulas anteriores na seqüência, por meio de aplicação de uma regra
de inferência de RIF; mas isso é o mesmo que dizer que há uma seqüência 1, 2, ..., n de
fórmulas de L, n < , tal que n = , e, para cada i, 1 i n, i , oui AXF, ou i foi
obtida de fórmulas anteriores na seqüência, por meio de aplicação de uma regra de inferência
de RIF, donde se segue que ├F ; a obtenção de ├F a partir de ├F segue o mesmo
raciocínio, como é óbvio.
O sistema formal M
Exemplo 1.3.1
Como exemplo de uma dedução em M, vamos mostrar que há uma dedução de a
partir de {, ~} em Mpara quaisquer fórmulas , L(A).
1) P
2) ~ P
3) (~ ) AX1
4) ~ (~ ~) AX1
5) ~ 1,3 MP
6) ~ ~ 2,4 MP
7) (~ ~) ((~ ) ) AX3
8) (~ ) 6,7 MP
9) 5, 8 MP
Exemplo 1.3.2
Agora, vamos dar um exemplo de uma prova em M, demonstrando que P P é um
teorema de M.
Para demonstrar algumas deduções e para provar alguns teoremas em M, por vezes
será conveniente – embora não necessário – obter uma dedução de outra dedução. Para tanto,
vamos demonstrar o seguinte resultado metateórico sobre M, ao qual vamos chamar de
teorema da dedução.
7
Vamos adotar a notação 1, ..., n├ como abreviação para {1, ..., n}├ .
28
ora, como por definição de dedução m = , temos que ├ → é um caso particular do que
acabamos de provar.
Exercício 1.3.1
Prove que as seguintes fórmulas de L(A) são teoremas no sistema formal M.
a) (P Q) ((Q R) (P R))
b) (P (Q R)) (Q (P R))
c) ~~P P
d) (~Q ~P) (P Q)
e) P ((P Q) Q)
O sistema formal Dn
v v
Esses esquemas serão chamados conjuntamente de ‘introdução da disjunção’, e vamos nos
referir a eles com a notação Iv.
v
_
Esse esquema será chamado ‘eliminação da disjunção’, e vamos nos referir a ele com a
notação Ev.
Esse esquema será chamado ‘introdução do bicondicional’, e vamos nos referir a ele com a
notação I.
Esses esquemas serão chamados conjuntamente de ‘eliminação do bicondicional’, e vamos
nos referir a eles com a notação E.
Esse esquema será chamado ‘prova condicional’ (ou introdução da implicação), e vamos nos
referir a ele com a notação PC (ou I).
Esse é o esquema de ‘modus ponens’, que ocorre no sistema formal M (que podemos também
chamar de eliminação da implicação), e vamos nos referir a ele com a notação MP (ou E).
{}├ &~__
├ ~
Esse esquema será chamado ‘redução ao absurdo’ (ou introdução da negação), e vamos nos
referir a ele com a notação RAA (ou I~).
~~_
Esse esquema será chamado ‘eliminação da negação’, e vamos nos referir a ele com a notação
E~.
Note-se que Dn possui os operadores lógicos v, & e ↔ como primitivos, de modo que,
em Dn, uma fórmula como & não é entendida como uma abreviação para ~ ( → ~),
como ocorre em M. Isso quer dizer que, enquanto em M o teorema ~ ( → ~) → ( & ) é
na realidade uma instância do teorema → , com a abreviação de ~ ( → ~) usada no
conseqüente, em Dn ~ ( → ~) → ( & ) é um teorema essencialmente diferente de → .
De fato, para provar ~ ( → ~) → ( & ) em M, apenas provamos ~ ( → ~) → ~ ( →
~), que é uma instância de → , e substituímos o conseqüente dessa implicação por sua
abreviação ( & ), o que obviamente não é uma aplicação de nenhum postulado de M. Já
para provar ~ ( → ~) → ( & ) em Dn temos que mostrar que ( & ) se segue de uma
hipótese ~ ( → ~) pela aplicação das regras de inferência de RIDn, já que em L(A) ( & ) é
uma fórmula primitiva, e não uma abreviação para ~ ( → ~). É fácil mostrar que qualquer
fórmula ↔ de L(A) – em que é a abreviação utilizada em L(A-) para , ou em que é a
abreviação utilizada em L(A-) para – é um teorema de Dn, o que torna possível que M e Dn
31
sejam sistemas formais equivalentes, como vamos provar mais abaixo, no sentido de que todo
teorema de M é um teorema de Dn e vice-versa, a despeito do fato de que M e Dn utilizam
linguagens formais diferentes.
Convém ainda notar que o teorema da dedução permite que se obtenha em M os
mesmos resultados que obtemos em Dn mediante o uso da regra de prova condicional. É
possível também provar que, em M, de uma dedução de & ~ a partir de {} pode-se
obter uma dedução de ~ a partir de 8. Isso nos permite concluir que também podemos obter
em M os mesmos resultados que obtemos em Dn com o uso da regra de redução ao absurdo.
Contudo, enquanto toda dedução obtida em M a partir de uma dedução anterior pode ser
obtida diretamente, isto é, sem recurso a resultados metateóricos como o teorema da dedução,
há em Dn deduções e provas que não podem ser obtidas sem recurso a regras como PC e
RAA, que são regras básicas de Dn, assim como é o caso de MP para M. Assim, por exemplo,
se obtenho ├ → – mediante recurso ao teorema da dedução – de uma dedução anterior
de a partir de {}, posso obter → a partir de usando apenas os axiomas de M e
MP, do modo que é sugerido na própria demonstração do teorema da dedução. Mas em Dn
eventualmente só será possível obter → a partir de aplicando PC a uma dedução de a
partir de {}.
Exemplo 1.3.3
Como exemplo de uma dedução em Dn, vamos mostrar que há uma dedução de P
R a partir de {P Q, Q R} em Dn.
I
1) P Q P
2) Q R P
3) P P
4) Q 1,3 MP
5) R 2,4 MP
8
Cf. pg. 25 abaixo.
32
DEF. 1.3.9: Uma fórmula de L(A) é uma hipótese em uma dedução (ou prova) sse, nessa
dedução (ou prova), não foi obtida de fórmulas anteriores na dedução (ou prova) por
aplicação de uma regra de inferência.
Note-se que já estamos usando o conceito de dedução (ou prova) que será definido a
seguir, o qual, por não ser geral, mas particularizado para o sistema Dnnão admite axiomas.
Portanto, se as hipóteses não são fórmulas obtidas de outras por aplicação de regras de
inferência, isso significa que qualquer fórmula de L(A) pode ser introduzida em uma
demonstração como uma hipótese9.
Na definição seguinte, em vez de falarmos na i-ésima fórmula de uma dedução (ou
prova) com n fórmulas, vamos supor que cada fórmula da dedução (ou prova) está disposta
em uma linha separada, como fizemos nos exemplos dados até aqui, e vamos falar na fórmula
da i-ésima linha de uma dedução (ou prova) com n linhas.
DEF. 1.3.10: Se uma hipótese ocorre na i-ésima linha de uma dedução (ou prova), então
dizemos que é uma hipótese descartada na j-ésima linha dessa dedução (ou prova), para
qualquer j i, sse a k-ésima fórmula da dedução (ou prova) em questão foi obtida por PC ou
RAA aplicada nas linhas i-k, e j ≥ k; se é uma hipótese não-descartada na j-ésima linha de
uma dedução (ou prova), dizemos que é uma hipótese vigente nessa linha da dedução (ou
prova).
9
A garantia formal da legitimidade deste e de qualquer outro procedimento utilizado em Dn ou outro sistema
formal é dada pelas provas de correção e consistência de tal sistema formal. No caso de Dn, mostraremos adiante
que é um sistema formal equivalente a M, no sentido de que possui um conjunto de teoremas idêntico ao de M,
que é um sistema formal consistente e correto, como também demonstraremos adiante.
33
DEF. 1.3.11: Seja um conjunto de fórmulas de L(A), e uma fórmula de L(A); então, uma
dedução de a partir de em Dn é uma seqüência 1, 2, ..., n de fórmulas de L(A), n < ,
tal que n = , e, para cada i, 1 i n, i , ou i é uma hipótese descartada, ou i foi
obtida de fórmulas anteriores na seqüência, por meio de aplicação de uma regra de inferência
de RIDn.
Exemplo 1.3.4
Como exemplo de uma dedução em Dn satisfazendo nossa definição modificada de
dedução, vamos refazer a dedução do exemplo anterior aplicando PC em sua forma
modificada.
34
1) P Q P
2) Q R P
3) P H (PC)
4) Q 1,3 MP
5) R 2,4 MP
6) P R 3-5 PC
1) PQ H (PC)
2) QR H (PC)
3) P H (PC)
4) Q 1,3 MP
5) R 2,4 MP
6) PR 3-5 PC
7) (Q R) (P R) 2-6 PC
8) (P Q) ((Q R) (P R)) 1-7 PC
Exercício 1.3.2
Demonstre as seguintes asserções:
a) {(P ~Q) v (Q R), ~R v ~~S, ~ (~T v S) & Q}├Dn ~P
b) {P v (Q & ~R), P S, Q ~T, ~R O}├Dn (S v ~T) v O
c) {(P & ~Q) (~Q R), ~ ((P Q) v R)}├Dn Q
d) {(R v S) & P) (~R T), ~ (P (~R & ~S)), ~S}├Dn ~T
e) {P v (~Q & R), P ~S, ~ (~ (~R v Q) v ~~S)}├Dn T
35
Exercício 1.3.3
Prove que as seguintes fórmulas são teoremas de Dn:
a) P v ~P
b) (Q P) v (~Q P)
c) P P
d) P ((P & Q) v (P & ~Q))
e) (P & ~P) Q
f) P (~P Q)
g) Q (P v ~P)
h) (P Q) ((Q R) (P R))
i) (P v Q) (((P R) & (Q S)) (R v S))
j) ((P & Q) R) (P (Q R))
k) ((P v Q) & ~P) Q
l) ~ (P & ~P)
m) ~ (P ~P)
n) (P & Q) (Q & P)
o) (P & (Q & R)) ((P & Q) & R)
p) (P v Q) (Q v P)
q) (P v (Q v R)) ((P v Q) v R)
r) (P & (Q v R)) ((P & Q) v (P & R))
s) (P v (Q & R)) ((P v Q) & (P v R))
t) ~ (P & Q) (~P v ~Q)
u) ~ (P v Q) (~P & ~Q)
v) (P Q) (~Q ~P)
w) (P Q) ~ (P & ~Q)
x) (P Q) ((P & Q) v (~P & ~Q))
y) ~ (P Q) ((P & ~Q) v (~P & Q))
z) ~~P P
Uma vez que um teorema da forma 1 → (2 → (... (n → )... ) tenha sido
demonstrado em Dn, pode-se introduzir uma nova regra de inferência em Dn, com a forma 1,
36
2,... , n├ . Diremos que uma tal regra é uma regra derivada de Dn, em oposição ás dez
regras de RIDn, às quais chamaremos de regras básicas de Dn. O que justifica a introdução de
regras derivadas em Dn é o fato de que, se 1 → (2 → (... (n → )... ) é um teorema em Dn,
então podemos obter em uma dedução em que = {1,... , n}, como é óbvio, simplesmente
aplicando MP à premissa 1 e ao teorema em questão, e depois ao resultado desse MP e a 2,
e assim por diante, n vezes. Em sendo assim, a partir de um teorema de Dn da forma ↔ ,
podemos obter duas regras derivadas, uma com a forma ├ , e a outra com a forma ├ ,
ou seja, desde que tenhamos provado ↔ em Dn, podemos substituir qualquer ocorrência
da fórmula por em uma prova ou dedução em Dn, e vice-versa. Note-se que, utilizando o
que acabamos de dizer e E&, podemos mostrar que de um teorema da forma (1 & 2 & ... &
n) → podemos também obter a regra derivada 1, 2,... , n├ .
Desse modo, ex. 1.1.3 e ou ex. 1.1.3 f nos dá a regra derivada , ~├ , que
denotaremos mediante o uso da notação CT (contradição). Ex. 1.1.3 h nos dá a regra derivada
→ , → ├ → , à qual vamos nos referir com a notação SH (silogismo hipotético). Já
ex. 1.1.3 i nos dá a regra v , → , → ├ v , a que vamos nos referir com a notação
DC (dilema construtivo). Com base em ex. 1.1.3 k obtemos a regra v , ~├ . Como (( v
) & ~) → também é um teorema em Dn, v , ~├ é também uma regra derivada de
Dn. A qualquer dessas regras vamos nos referir com a notação SD (silogismo disjuntivo). Ex.
1.1.3 n nos dá as regras & ├ & e & ├ & , ás quais vamos nos referir com a
notação CM & (comutativa da conjunção). As regras denotadas por AS & (associativa da
conjunção), têm a forma (( & ) & )├ ( & ( & )) e a forma ( & ( & ))├ (( & ) &
), e são obtidas com base no teorema do ex. 1.1.3 o. Com base no ex. 1.1.3 p obtemos as
regras ( v )├ ( v ) e ( v )├ ( v ), que denotamos por meio da notação CM v
(comutativa da disjunção). O ex. 1.1.3 q nos dá as regras (( v ) v )├ ( v ( v )) e ( v (
v ))├ (( v ) v ), às quais vamos nos referir com a notação AS v (associativa da disjunção).
Com base no ex 1.1.3 r obtemos as regras ( & ( v ))├ (( & ) v ( & )) e (( & ) v (
& ))├ ( & ( v )), que vamos denotar mediante o uso da notação DT & (distributiva da
conjunção). As regras ( v ( & ))├ (( v ) & ( v )) e (( v ) & ( v ))├ ( v ( & )),
às quais vamos nos referir utilizando a notação DT v (distributiva da disjunção), nos são
dadas pelo ex. 1.1.3 s. O ex. 1.1.3 t nos dá as regras ~ ( & )├ (~ v ~) e (~ v ~)├ ~ (
& ), às quais vamos nos referir com a notação DM & (lei de De Morgan aplicada a uma
conjunção negativa). Com a notação DM v (lei de De Morgan aplicada a uma disjunção
37
negativa) vamos nos referir às regras ~ ( v )├ (~ & ~) e (~ & ~)├ ~ ( v ), que nos
são dadas pelo ex. 1.1.3 u. Vamos denotar por TR (transposição) as regras ( → )├ (~ →
~) e (~ → ~)├ ( → ), que obtemos do ex. 1.1.3 v. Do ex. 1.1.3 w obtemos as regras (
→ )├ ~ ( & ~) e ~ ( & ~)├ ( → ), às quais vamos nos referir com a notação IM
(implicação material).
As regras que mencionamos no parágrafo precedente são normalmente utilizadas em
deduções e provas em Dn, e os itens do exercício 1.1.3 que nos permitem obter tais regras
foram incluídos nesse exercício com o propósito deliberado de introduzir as regras em
questão. É claro, no entanto, que de qualquer teorema de Dn da forma 1 → (2 → (... (n →
)... ) ou da forma (1 & 2 & ... & n) → podemos também obter uma nova regra derivada
1, 2,... , n├ . Por exemplo uma regra muito utilizada em livros de lógica básica é a regra
comumente designada como modus tollens (MT), que possui a forma → , ~├ ~. Essa
regra é obtida quando provamos em Dn o teorema ( → ) → (~ → ~), ou seja, o lado
direito, por assim dizer, do ex. 1.1.3 v, que nos deu a regra TR. Também podemos obter MT
do teorema (( → ) & ~) → ~, é claro.
AX1: ( )
Prova:
38
1) H (PC)
2) H (PC)
3) ~ H (RAA)
4) & ~ 1,3 I&
5) ~~ 3,4 RAA
6) 5 E~
7) 2-6 PC
8) ( ) 1-7 PC
1) ( ) H (PC)
2) H (PC)
3) H (PC)
4) 1,3 MP
5) 2,3 MP
6) 4,5 MP
7) 3-6 PC
8) ( ) ( ) 2-7 PC
9) ( ( )) (( ) ( )) 1-8 PC
Como a regra MP existe igualmente em Dn, as três provas acima encerram a primeira
parte de nossa demonstração de equivalência entre os sistemas M e Dn. Agora, vamos
demonstrar que os postulados de Dn podem ser obtidos dos postulados de M.
Para começar, note-se que já verificamos que o esquema PC vale em M. De fato, fizemos isso
ao demonstrar o teorema da dedução, uma vez que esse teorema fornece em M uma regra para
obter deduções de outras deduções, que é idêntica ao esquema PC do sistema Dn. Obviamente
também já temos que MP vale em M, já que essa regra pertence a RIM.
Teorema 1: ~~
Prova: exercício 1.3.1, item c.
Teorema 2:
1) P
2) P
3) ~~( → ~) P
4) → ~ T1
5) ~ 1, 4 MP
Logo, {; ; ~~( → ~)}├ ~
TD: {; }├ ~~( → ~) → ~
TD: {}├ → (~~( → ~) → ~)
TD: ├ → ( → (~~( → ~) → ~))
Teorema 3:
40
1) P
2) P
3) → (~~( → ~) → ) AX1
4) ~~( → ~) → 2, 3 MP
5) → ( → (~~( → ~) → ~)) T2
6) → (~~( → ~) → ~) 1,5 MP
7) ~~( → ~) → ~ 2, 6 MP
8) (~~( → ~) → ) → ((~~( → ~) → ~) → ~( → ~)) AX3
9) (~~( → ~) → ~) → ~( → ~) 4, 8 MP
10) ~( → ~) 7, 9 MP
Logo, {; }├ ~( → ~), isto é, {; }├ &
Teorema 5:
1) ~ → P
2) ~ → ~ T4
3) (~ → ~) → ((~ → ) → ) AX3
4) (~ → ) → 2, 3 MP
5) 1, 4 MP
Logo, {~ → }├
Teorema 6:
1) ~( → ~) P
2) ~ P
3) P
4) ~~ P
5) ~ → (~~ → ~) AX1
6) ~~ → ~ 2 , 5 MP
7) → (~~ → ) AX1
41
8) ~~ → 3 , 7 MP
9) (~~ → ~) → ((~~ → ) → ~) AX3
10) (~~ → ) → ~ 6 , 9 MP
11) ~ 8, 10 MP
Logo, {~( → ~); ~; ; ~~}├ ~
TD: {~( → ~); ~; }├ ~~ → ~
Teorema 7:
1) ~( → ~) P
2) ~ P
3) P
4) ~~ → ~ 1, 2, 3 T6
5) ~ 4 T5
Logo, {~( → ~); ~; }├ ~
TD: {~( → ~); ~}├ → ~
Teorema 8:
1) ~( → ~) P
2) ~ P
3) → ~ 1 ,2 T7
4) ~( → ~) → (~ → ~( → ~)) AX1
5) ~ → ~( → ~) 1, 4 MP
6) ( → ~) → (~ → ( → ~)) AX1
7) ~ → ( → ~) 3, 6 MP
8) (~ → ~( → ~)) → ((~ → ( → ~)) → ) AX3
9) (~ → ( → ~)) → 5, 8 MP
10) 7, 9 MP
Logo, {~( → ~); ~}├
TD: {~( → ~)}├ ~ →
Teorema 9:
1) ~( → ~) P
42
2) ~ → 1 T8
3) 2 T5
Logo, {~( → ~)}├ , isto é, { & }├
Teorema 10:
1) ~( → ~) P
2) ~ P
3) (~ → ~(→ ~)) → ((~ → ( → ~)) → ) AX3
4) ~( → ~) → (~ → ~( → ~)) AX1
5) ~ → ~( → ~) 1, 4 MP
6) (~ → ( → ~)) → 3, 5 MP
7) ~ → ( → ~) AX1
8) 6, 7 MP
Logo, {~( → ~); ~}├
TD: {~( → ~)}├ ~ →
Teorema 11:
1) ~( → ~) P
2) ~ → 1 T10
3) 2 T5
Logo, {~( → ~)}├ , isto é, { & }├
Teorema 12:
1) P
2) ~ P
3) ~ P
4) (~ → ~) → ((~ → ) → ) AX3
5) ~ → (~ → ~) AX1
6) ~ → ~ 2, 5 MP
7) (~ → ) → 4, 6 MP
43
8) → (~ → ) AX1
9) ~ → 1, 8 MP
10) 7, 9 MP
Logo, {; ~; ~}├
TD: {; ~}├ ~ →
Teorema 13:
1) P
2) ~ P
3) ~ → 1, 2 T12
4) 3 T5
Logo, {; ~}├
Teorema 14:
Por T13 temos {; ~}├ , logo, por TD temos que {}├ ~ → , isto é, {}├ v
Teorema 15:
1) → P
2) ~ P
3) ~~ P
4) (~~ → ~) → ((~~ → ) → ~) AX3
5) ~ → (~~ → ~) AX1
6) ~~ → ~ 2, 5 MP
7) (~~ → ) → ~ 4, 6 MP
8) ~~ → T1
9) 3, 8 MP
10) 1, 9 MP
11) → (~~ → ) AX1
12) ~~ → 10, 11 MP
13) ~ 7, 12 MP
44
Teorema 16:
1) → P
2) ~ P
3) ~~ → ~ 1, 2 T15
4) ~ 3 T5
Logo, { → ; ~}├ ~
Teorema 17:
1) P
2) ~ P
3) ~~( → ) P
4) ~~( → ) → ( → ) T1
5) → 3, 4 MP
6) 1, 5 MP
7) (~~( → ) → ~) → ((~~( → ) → ) → ~( → )) AX3
8) ~ → (~~( → ) → ~) AX1
9) ~~( → ) → ~ 2, 8 MP
10) (~~( → ) → ) → ~( → ) 7, 9 MP
11) → (~~( → ) → ) AX1
12) ~~( → ) → 6, 11 MP
13) ~( → ) 10, 12 MP
Logo, {; ~; ~~( → )}├ ~( → )
TD: {; ~}├ ~~( → ) → ~( → )
Teorema 18:
1) P
2) ~ P
3) ~~( → ) → ~( → ) 1, 2 T17
4) ~( → ) 3 T5
45
Teorema 19:
1) ~ → P
2) → P
3) → P
4) ~ P
5) ~ 2, 4 T16
6) ~ 3, 4 T16
7) ~(~ → ) 5, 6 T18
8) (~ → ~(~ → )) → ((~ → (~ → )) → ) AX3
9) ~(~ → ) → (~ → ~(~ → )) AX1
10) ~ → ~(~ → ) 7, 9 MP
11) (~ → (~ → )) → 8, 10 MP
12) (~ → ) → (~ → (~ → )) AX1
13) ~ → (~ → ) 1, 12 MP
14) 11, 13 MP
Logo, {~ → ; → ; → ; ~}├
TD: {~ → ; → ; → }├ ~ →
Teorema 20:
1) ~ → P
2) → P
3) → P
4) ~ → 1, 2, 3 T19
5) 4 T5
Logo, {~ → ; → ; → }├ , isto é, { v ; → ; → }├
Teorema 21:
1) → P
46
2) → P
3) ( → ) & ( → ) 1, 2 T3
Logo, { → ; → }├ ( → ) & ( → ), isto é, { → ; → }├ ( ↔ )
Teorema 22:
1) ( → ) & ( → ) P
2) → 1 T9
Logo, { → & → }├ ( → ), isto é, { ↔ }├ ( → )
Teorema 23:
1) ( → ) & ( → ) P
2) → 1 T11
Logo, {( → & ( → }├ ( → ), isto é, { ↔ }├ ( → )
(~~ → ) → ~; daí, como → (~~ → ) é uma instância de AX1, temos por MP que
~~ → , donde, novamente por MP, se segue ~; assim, temos que qualquer dedução da
forma {}├ & ~ pode ser estendida para uma outra dedução que tem a forma
{~~}├ & ~, a qual, por seu turno, pode ser estendida para uma outra que tem a forma
{~~}├ ~; de tal dedução, aplicando TD, podemos obter ainda uma outra, com a forma
├ ~~ → ~daí, utilizando o teorema 5, obtemos uma dedução com a forma ├ ~
1.4. METATEORIA
10
Como as provas podem ser feitas de modos diversos, pode-se provar primeiro este resultado, e derivar-se o
anterior como um caso particular. Na verdade, basta provar um deles, que o outro se segue como corolário. Por
essa razão, faremos apenas as demostrações envolvendo as noções de teorema e validade.
48
11
Essa definição para um sistema formal decidível não é de todo formal, já que envolve a noção de algoritmo,
que não foi definida aqui em nenhum lugar. Entretanto, ela pode ser completamente formalizada se, no lugar de
algoritmos, falarmos em uma função recursiva (cf. capítulo 3) que tome por domínio o conjunto dos números de
Gödel (cf. capítulo 3) das fórmulas de F, e por contradomínio o conjunto {0, 1}, por exemplo, e tal que f (n) = 1
sse n é o número de Gödel de um teorema de F.
49
LEMA 1.4.2: Toda fórmula obtida de duas tautologias por meio de aplicação de MP é
também uma tautologia.
Prova: Se uma fórmula foi obtida de duas outras por aplicação de MP, essas fórmulas são da
forma e ; suponha-se que i) e são tautologias; segue-se que v ( ) = 1 e
v () = 1 para toda valoração v; agora, suponha-se que ii) não é uma tautologia; segue-se
que há uma valoração, digamos, v1, tal que v1 () = 0; mas v1 () = 1, donde se segue que
v1 ( ) = 0, contradizendo a hipótese i) de que é uma tautologia; portanto, é uma
tautologia.
LEMA 1.4.4: Seja uma fórmula de L(A-) e 1, 2, ..., k as variáveis proposicionais que
ocorrem em ; então, se para uma dada valoração v e 1 i k, i’ = i caso v (i) = 1, i’ =
~i caso v (i) = 0, ’ = caso v () = 1, e ’ = ~caso v () = 0, teremos que 1’, 2’, ...,
k’├ ’.
Prova: Por indução sobre o número n de operadores lógicos que ocorrem em .
Base: n = 0
Como não ocorrem operadores lógicos em , = 1; suponha-se que i) v () = 1; segue-se
que v (1) = 1 e, portanto, que ’ = e 1’ = 1; conclui-se, então, que 1’├ ’ é o caso, pois
temos, por substituição, 1├ e, daí, 1├ 1, o que obviamente é o caso; agora, suponha-se
que ii) v () = 0; segue-se que v (1) = 0 e, portanto, que ’ = ~ e 1’ = ~1; mais uma vez,
conclui-se que 1’├ ’ é o caso, pois temos, por substituição, ~1├ ~ e, daí, ~1├ ~1, o que
obviamente é o caso; por conseguinte, lema 1.3.3 é o caso para n = 0.
Hipótese indutiva (HI): suponha-se que lema 1.3.3 vale para todo j < n
Há dois casos a considerar:
Caso 1: = ~
Como = ~, e ocorrem n operadores em , o número j de operadores de é menor que n;
portanto, por HI, lema 1.3.3 vale para .
Sub-caso 1.a.: v () = 1 na valoração v dada
Como = ~, v () = 0; assim, ’ = e ’ = ~; então dado que lema 1.3.3 vale para ,
temos que 1’, 2’, ..., k’├ ’ e, por substituição, que 1’, 2’, ..., k’├ ; pelo teorema
~~, temos que 1’, 2’, ..., k’├ ~~; mas ~~ = ~, donde se segue que 1’, 2’, ..., k’├ ~
e, por substituição, que 1’, 2’, ..., k’├ ’
Sub-caso 1.b.: v () = 0 na valoração v dada
Como = ~, v () = 1; portanto, temos que ’ = ~ e ’ = ; por HI, temos que 1’, 2’, ...,
k’├ ’, isto é, que 1’, 2’, ..., k’├ ~; mas = ~, donde segue que 1’, 2’, ..., k’├ e,
portanto, que 1’, 2’, ..., k’├ ’
Caso 2: =
Como = , e ocorrem n operadores em , temos que o número j de operadores de é
menor que n, o mesmo ocorrendo com o número l de operadores de , donde se segue, por HI,
que lema 1.3.3 vale para e para ; além disso, uma vez que, para quaisquer conjuntos de
fórmulas e , e para qualquer fórmula , se ├ então ├ , e uma vez que o
51
TEOREMA 1.4.5: M é completo, isto é, se é uma fórmula de L(A -) e uma tautologia, então
é um teorema de M.
Prova: seja é uma fórmula de L(A-) e uma tautologia, e 1, 2, ..., k as variáveis
proposicionais que ocorrem em ; por lema 1.3.3, temos que 1’, 2’, ..., k’├ ’; como é
uma tautologia, v () = 1 para toda valoração v e, portanto, ’ = ; segue-se que 1’, 2’, ...,
k’├ ; consideremos, i) valorações v tais que v (k) = 1; segue-se que k’ = k e, portanto,
que 1’, 2’, ..., k├ ; daí, pelo teorema da dedução, temos que 1’, 2’, ..., k-1’├ k ;
52
agora, vamos considerar valorações v em que v (k) = 0; nesses casos, k’ = ~k, seguindo-se
daí que 1’, 2’, ..., ~k├ ; pelo teorema da dedução, resulta disso que 1’, 2’, ..., k-1’├ ~k
; agora, empregando o teorema ( ) ((~ ) ) e MP, temos que
1’, 2’, ..., k-1’├ ; repita-se, então, os passos i) e ii) e o raciocínio subseqüente k-1 vezes,
para 1, 2, ..., k-1; como resultado, se obterá ├ , isto é, é um teorema de M
COROLÁRIO 1.4.6: M é consistente, isto é, não existe um tal que é uma fórmula de
L(A), ├ e ├ ~.
Prova: Suponha-se que existe um tal que é uma fórmula de L(A-), ├ e ├ ~; pelo
teorema 1.3.1, segue-se que e ~ são tautologias; portanto, para qualquer valoração v, v ()
= 1 e v (~) = 1; como v () =1, segue-se que v (~) = 0; mas já vimos que v (~) = 1; logo,
não existe um tal que é uma fórmula de L(A-), ├ e ├ ~.
TEOREMA 1.4.7: M é decidível, isto é, existe um método efetivo para se decidir, para
qualquer fórmula de L(A), se é um teorema de M.
Prova: Pelo teorema 1.3.2, se é uma fórmula de L(A-) e uma tautologia, então é um
teorema de M; portanto, se conseguirmos um método efetivo para determinar se uma fórmula
de L(A-) é uma tautologia, teremos conseguido, ipso facto, um método efetivo para
determinar se é um teorema de M; pela definição de tautologia, uma fórmula é uma
tautologia se v () = 1 para toda valoração v; se possui n variáveis proposicionais, o número
de valorações para é, claramente, 2n; como toda fórmula é uma expressão, e uma expressão,
por definição, é uma seqüência finita de símbolos, segue-se que n é sempre finito; portanto, o
número 2n de valorações para é finito; nesse caso, basta listar todas as valorações para , e
verificar v () em cada uma, o que é possível fazer com base na definição de valoração; se v
() = 1 em todas essas valorações, é uma tautologia e, portanto, um teorema de M.
Exercício 1.4.1:
a) prove que, dado um conjunto qualquer de fórmulas , é insatisfatível sse existe uma
fórmula tal que ├ & ~ (em M ou Dn).
b) prove que se é uma contradição (semântica), então ├ → ( & ~) (M ou Dn), sendo
uma formula qualquer.
53
b) prove que, se ╞ , então 1 & ... & n & ~ é uma contradição (semântica), sendo um
conjunto de fórmulas qualquer, 1, ..., n as fórmulas em , e uma fórmula qualquer.
Exercício 1.4.2
Determine quais das seguintes afirmações são corretas, e em caso positivo prove a
correção das mesmas. O sistema formal a ser considerado – M ou Dn – é indiferente, dada a
equivalência entre esses dois sistemas.
a) ├ (P v ~Q) → (P ↔ ~R)
b) ├ (P → (Q v ~R)) → ((R & ~Q) → ~P)
c) {(P v Q) → ~(R ↔ ~Q); ~(Q → (~R & P)}├ ~R v P
Vamos considerar uma fórmula qualquer de L(A) que sabemos ser uma tautologia, e
portanto um teorema do cálculo sentencial, digamos: ~ (~ (P v Q) ↔ ~ (~Q & ~P)). Como
essa fórmula é uma tautologia, sabemos que sua oposta (para qualquer fórmula de L(A),
chamemos de oposta de à fórmula ~, se não possui a forma ~, e à fórmula se
possui a forma ~) é uma contradição. No caso de nosso exemplo, a oposta é a fórmula ~ (P v
Q) ↔ ~ (~Q & ~P). Se supusermos que existe uma valoração v tal que v (~ (P v Q) ↔ ~ (~Q
& ~P)) = 1, obteremos eventualmente uma contradição. De fato, se v (~ (P v Q) ↔ ~ (~Q &
~P)) = 1, então v (~ (P v Q)) = v (~ (~Q & ~P)). Suponha-se que v (~ (P v Q)) = v (~ (~Q &
~P)) = 1; então v (P v Q) = v (~Q & ~P) = 0; se v (P v Q) = 0 então v (P) = v (Q) = 0; se v
(~Q & ~P) = 0, então ou v (~Q) = 0 ou v (~P) = 0; suponhamos que v (~Q) = 0; então v (Q) =
1, e portanto não é o caso que v (Q) = 0, já que v é uma função; como temos aqui uma
contradição, concluímos que v (~P) = 0; então v (P) = 1, e portanto não é o caso que v (P) = 0,
e temos novamente uma contradição. Vamos agora supor que v (~ (P v Q)) = v (~ (~Q & ~P))
= 0; então v (P v Q) = v (~Q & ~P) = 1; se v (~Q & ~P) = 1, então v (~Q) = v (~P) = 1; donde
se segue que se v (Q) = v (P) = 0; se v (P v Q) = 1 então ou v (P) = 1 ou v (Q) = 1;
55
suponhamos que v (P) = 1; então não é o caso que v (P) = 0, já que v é uma função, e temos
aqui uma contradição; já se v (Q) = 1, não é o caso que v (Q) = 0, e de novo temos uma
contradição. Ora, isso sugere um modo diferente, eventualmente mais prático, de se verificar
se uma fórmula qualquer de L(A) é uma tautologia, e portanto um teorema do cálculo
sentencial. Em vez de construir a tabela de verdade de , o que pode ser muito trabalhoso, no
caso de possuir muitas variáveis sentenciais, podemos tomar a oposta de , supor que há
uma valoração v tal que v () = 1, e verificar se essa suposição conduz a contradições em
todos os casos possíveis. Um modo simples de se executar esse procedimento consiste em
contruir um gráfico, comumente chamado de árvore de refutação, para nossa fórmula ,
obedecendo às seguintes regras.
Se = & , então supor que v () = 1 implica que v () = v () = 1, e, nesse caso
escrevemos abaixo de (ou na seqüência do gráfico), e abaixo de ; se = v , então
supor que v () = 1 implica que v () = 1 ou v () = 1, e, para considerar cada caso em
separado, desenhamos duas setas na seqüência do gráfico, uma apontando para a esquerda e a
outra para a direita, de modo a abrirmos dois “ramos” na seqüência do gráfico, e escrevemos
no ramo da esquerda, e no ramo da direita; se = → , notando que a fórmula ~ v é
equivalente a → , abrimos dois ramos no gráfico, e escrevemos ~ no ramo da esquerda, e
no ramo da direita; se = ↔ , notando que a fórmula ( & ) v (~ & ~) é
equivalente a ↔ , abrimos dois ramos no gráfico, e escrevemos e no ramo da
esquerda, uma abaixo da outra, e ~ e ~ no ramo da direita, uma abaixo da outra; se = ~ (
& ), notando que a fórmula ~ v ~ é equivalente a ~ ( & ), abrimos dois ramos no
gráfico, e escrevemos ~ no ramo da esquerda, e ~ no ramo da direita; se = ~ ( v ),
notando que a fórmula ~ & ~ é equivalente a ~ ( v ), escrevemos ~ e ~ na seqüência
do gráfico, uma abaixo da outra; se = ~ ( → ), notando que a fórmula & ~ é
equivalente a ~ ( → ), escrevemos e ~ na seqüência do gráfico, uma abaixo da outra; se
= ~ ( ↔ ), notando que a fórmula ( & ~) v (~ & ) é equivalente a ↔ , abrimos
dois ramos no gráfico, e escrevemos e ~ no ramo da esquerda, uma abaixo da outra, e ~ e
no ramo da direita, uma abaixo da outra; se = ~~, escrevemos abaixo de . Como se
pode notar, a aplicação dessas regras resulta em uma decomposição de , e, em cada um
desses casos, marcamos a fórmula com um sinal qualquer, para indicar que a mesma já foi
decomposta. Caso alguma das fórmulas resultantes da decomposição de em questão se
enquadrar em algum dos 8 casos acima, deve-se decompor essa fórmula de acordo com as
56
mesmas regras, e marcá-la com o sinal indicador de que foi decomposta, e continuar o
processo, caso alguma das fórmulas resultantes se enquadrar em algum dos oito casos sob
consideração. Ora, os únicos casos que não se enquadram nos oito acima são aqueles em que
é atômica, ou em que = ~, sendo uma fórmula atômica. Esses casos não provocarão a
continuação do desenho do gráfico, de modo que o mesmo estará terminado quando, tendo
partido de , não tivermos nenhuma fórmula marcada com o sinal indicador de decomposição,
exceção feita para as fórmulas atômicas e para as fórmulas da forma ~, com atômica. A
leitura do gráfico completo, então, indicará que é uma contradição, e que portanto sua
oposta , em que estávamos interessados no início, é uma tautologia (e portanto um teorema
do cálculo sentencial), caso tivermos um par de fórmulas e ~, com atômica12, em cada
caminho que vai da fórmula mais baixa de cada ramo do gráfico até .
Exemplo 1.4.1: Vamos fazer a árvore de refutação para = ~ (~ (P v Q) ↔ ~ (~Q & ~P)). A
oposta de é = ~ (P v Q) ↔ ~ (~Q & ~P), que têm a forma ↔ , de modo que
começamos nosso gráfico do modo seguinte:
~ (P v Q) PvQ
~ (~Q & ~P) ~Q & ~P
Utilizamos o sinal √ como indicador de que ~ (P v Q) ↔ ~ (~Q & ~P) já foi decomposta.
Como em cada ramo ainda temos duas fórmulas não marcadas com √ que não são atômicas
nem negativas de atômicas, devemos continuar a desenhar o gráfico. Note-se que, no ramo da
direita, não escrevemos ~~ (P v Q) e ~~ (~Q & ~P), de acordo com nossa regra para fórmulas
do tipo ↔ , mas fomos diretamente para as fórmulas que sabíamos que seriam obtidas
aplicações subseqüentes da regra para fórmulas da fóma ~~. Esse é umprocedimento
comumente utilizado para simplificar as árvores de refutação.
12
Na verdade, não é necessário que d seja atômica, e nem precisamos concluir nossos gráficos para realizar sua
leitura, podendo concluir um ramo qualquer do gráfico toda vez que encontrarmos um par de fórmulas d e ~d no
caminho que vai da fórmula mais baixa do ramo até g. No entanto, não mencionamos esses fatos para simplificar
nossa descrição genérica das árvores de refutaçao.
57
~ (P v Q) √ PvQ√
~ (~Q & ~P) √ ~Q & ~P √
~P ~Q
~Q ~P
Q P ~Q ~P
X X X X
Note-se que a ordem que escolhemos para aplicar as regras de decomposiução às fórmulas é
irrelevante. No ramo da direita, por exemplo, decompusemos primeiro a fórmula ~Q & ~P, e
depois a fórmula P v Q. Por motivos práticos, é interessante decompor primeiro aquelas
fórmulas cuja forma é tal que a decomposição não requer abertura de ramos. O gráfico acima
está terminado, pois não há nele nenhuma fórmula não marcada com √ que não seja atômica
ou negativa de atômica. Ao ler o gráfico, notamos que, no ramo mais à esquerda, por
exemplo, temos o par Q e ~Q no caminho que vai da fórmula mais baixa do ramo, Q, à
fórmula = ~ (P v Q) ↔ ~ (~Q & ~P). Para indicar esse fato, escrevemos um X abaixo desse
ramo, e dizemos que o ramo “fechou”. De acordo com nossa descrição feita mais acima das
árvores de refutação, um gráfico em que todos os ramos fecham, como o de nosso exemplo,
indica que é uma contradição, e que, portanto sua oposta é uma tautologia. Assim, temos
que = ~ (~ (P v Q) ↔ ~ (~Q & ~P)) é uma tautologia, e portanto um teorema do cálculo
sentencial.
Uma vez que se ╞ , para um dado conjunto de fórmulas e uma fórmula , a
conjunção 1 & 2 & ... & n & ~ das n fórmulas de e de ~ é uma contradição, temos que
a árvore de refutação dessa conjunção, caso todos os seus ramos fechem, vai indicar que ╞
, e portanto que ├ , em qualquer sistema formal equivalente a M. Além disso, a árvore de
refutação da conjunção 1 & 2 & ... & n indica se é consistente: todos os ramos fecham se
for inconsistente. No caso de uma fórmula qualquer, vimos como utilizar a árvore de
refutação da oposta de para determinar se é um teorema do cálculo sentencial. Se
tivermos uma resposta negativa para essa questão, saberemos que não é uma tautologia.
Polomos então construir a árvore de refutação de para determinar o estatus semântico de :
58