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literatura professor
Abaurre • Pontara • Cesila
origens europeias
Uma celebração no palácio: cavalaria e cortesia andam lado a lado nos textos medievais. Iluminuras que ilustram um breviário francês (século XIII).
1
CAPÍTULOs
1 • 2 • 3 • 4 • 5 • 6 • 7 • 8 • 9 • 10 • 11 • 12 • 13 • 14 • 15 • 16 • 17 • 18 • 19 • 20 • 21 • 22 • 23 • 24 1
Deus pai como criador.
Iluminura da primeira
metade do século XIII.
Bible Moralisée. Codex
Vindobonensis 2554, fol. 1.
AKG / LatinStock
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Um Deus soberano e um ser humano servil
Se há uma noção que resume toda a concepção de mundo dos homens da
Idade Média, é a de Deus. Não há ideia mais englobante, mais universal, que
essa. Deus compreende, ou melhor, excede todo o campo concebível da
experiência, tudo o que é observável na natureza, incluindo os homens, tudo
o que é pensável, a começar pela própria ideia de Deus. Ele é todo-poderoso,
eterno, onipresente.
LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do Ocidente medieval.
Bauru: Edusc/São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. p. 301.
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Capítulo
1 A literatura na
Idade Média
Leitura da imagem
1 A imagem de abertura foi retirada de um manuscrito medieval que conta a his-
tória de Tristão, um dos mais renomados cavaleiros da Távola Redonda. Ele vive
uma trágica história de amor com a rainha Isolda, esposa do rei Mark. Descreva
rapidamente o cenário e as figuras retratadas.
Na imagem vemos vários cavaleiros em combate. Tristão aparece no centro da
derrubando outro cavaleiro com sua lança. No alto, as mulheres observam o torneio.
A rainha Isolda ocupa a posição central (vestida de vermelho), cercada por suas
damas de companhia.
4
2 O lugar que cada personagem ocupa na imagem tem relação com sua posição
social?
As personagens pertencentes à nobreza encontram-se no alto, observando os
Leitura do texto
Leia agora o seguinte trecho, extraído de um texto do século XIII:
Acossava. Perse
mui jubiloso por pensar que o cavaleiro estava agora sem defesa. (...) guia, atacava.
TROYES, Chrétien de. Lancelot ou O cavaleiro da charrete. Jubiloso. Feliz, con-
tente.
In: Romances da Távola Redonda. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 164.
4 Tanto o trecho quanto a imagem tratam dos dois temas mais importantes nos
textos medievais.
a) Que temas são esses?
Os temas são o amor e a cavalaria (os alunos também podem referir-se ao
b) Pelo que você observou no texto e na imagem, de que modo esses temas
serão explorados pela literatura?
Na imagem do manuscrito, o combate aparece no centro, como atividade
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1 Religião e poder na Idade Média
A Idade Média tem início com a conquista de Roma, capital do Império Ro-
mano do Ocidente, pelos comandantes germânicos, em 476 (século V), e termina
com a queda de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, tomada
pelos turcos em 1453.
Uma das heranças do período de dominação romana na Europa durante a Idade
Média foi o cristianismo. Aos poucos, a Igreja católica cresceu, acumulou vastas
extensões de terra, enriqueceu e concentrou grande poder religioso e secular. Essa
herança conviveu com mudanças na ordem social, que tiveram expressão signifi-
cativa na literatura do período.
6
Isto é essencial!
O uso do latim como língua literária, outra herança do longo período de domina-
ção romana na Europa, também contribuía para dificultar o acesso aos textos. Poemas
Figura 3 • Enquanto foi
e canções eram compostos em latim por monges eruditos que vagavam de feudo em imperador, Carlos Magno
feudo, divulgando, desse modo, suas composições. A maior parte dessa produção fortaleceu o poder central e
conteve as invasões bárba-
abordava temas religiosos. ras que ameaçavam a socie-
dade europeia. Sua morte
deu início a um período de
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2 O projeto literário do Trovadorismo
No século XII, o período das grandes invasões na Europa havia passado, e isso
permitiu o ressurgimento das cidades e facilitou o progresso econômico e o inter-
câmbio cultural. Os cavaleiros viram-se de uma hora para outra sem função social.
Era preciso criar para eles um novo papel.
Isto é essencial!
Quem idealizou o amor cortês foi Guilherme IX, nobre e senhor de um dos mais pode-
rosos feudos da Europa. Esse código transferia a relação de vassalagem entre cavalei-
ros e senhores feudais para o louvor às damas da sociedade.
Os praticantes do amor cortês teriam a chance de demonstrar, diante da corte, que o
valor pessoal não se fundamentava apenas no sangue ou nas proezas militares, mas
podia ser identificado no comportamento social: a cortesia.
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Biblioteca Nacional, Paris
As regras do amor
Escrito no final do século XII por André Capelão, o Tratado
do amor cortês codificou as regras da arte de amar. O tex-
to teve grande circulação e contribuiu para consolidar o
amor cortês na Europa. Algumas das regras podem ser
identificadas nas cantigas dos trovadores.
■ O amor sempre abandona o domicílio da avareza. (...);
■ A conquista fácil torna o amor sem valor; a conquista
difícil dá-lhe apreço. (...);
■ Todo amante deve empalidecer em presença da aman-
te. (...);
■ Só a virtude torna alguém digno de ser amado. (...);
■ Quem é atormentado por cuidados de amor come me-
nos e dorme pouco.
CAPELÃO, André. Tratado do amor cortês.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
p. 261-262. Coleção Gandhara. (Fragmento.)
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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No mundo non me sei parelha, Não há no mundo ninguém que se
mentre me for’ como me vay, compare a mim em infelicidade,
ca ja moiro por vos – e¡ ay enquanto a minha vida continuar
mia senhor branca e vermelha, assim, porque morro por vós e, ai,
queredes que vos retraya minha senhora branca e de faces
quando vus eu vi em saya! rosadas, quereis que vos retrate
¡Mao dia me levantei, quando vos vi sem manto. Mau dia
que vus enton non vi fea! foi esse em que me levantei, porque
vos vi tão bela (ou seja: melhor seria
E, mia senhor, des aquel di’, ¡ay! se vos tivesse visto feia).
me foi a mi muyn mal,
e vos, filha de don Paay E, minha senhora, desde aquele
Moniz, e ben vus semelha dia, ai, tudo para mim foi muito
d’aver eu por vós guarvaya, mal, mas vós, filha de D. Paio Moniz,
pois eu, mia senhor, d’alfaya parece-vos muito bem que eu
nunca de vos ouve nem ei tenha de vós uma garvaia [manto
valía d’ũa correa. de luxo] quando nunca recebi de
vós o simples valor de uma correia.
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Normalmente, os trovadores galego-portugueses empregavam versos com sete
sílabas métricas (redondilha maior). Como inovação em relação às cantigas pro-
vençais, muitas cantigas apresentam refrão, que é o conjunto de versos que se
repetem no final das estrofes, com a função de enfatizar o sofrimento do eu lírico
ou reafirmar a beleza da senhora a quem ele se dirige.
Observe algumas dessas características na cantiga de João Garcia de Guilhade.
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4.2 Cantigas de amigo
De modo geral, as cantigas de amigo falam de uma relação amorosa concreta,
que acontece entre pessoas simples, que vivem no campo. O tema central dessas
cantigas é a saudade.
As personagens, o ambiente e a linguagem das cantigas líricas representam di-
ferentes universos da sociedade medieval.
Se nas cantigas de amor todas as referências dizem respeito aos membros da
corte, à vida palaciana, às damas sofisticadas e ricas, nas cantigas de amigo elas
aludem aos sentimentos e à vida campesina, às moças simples que vivem nas al-
deias e nos campos.
O eu lírico das cantigas de amigo é sempre feminino e representa a voz de uma
mulher (amiga), que manifesta a saudade pela ausência do amigo (namorado ou
amante). Como o trovador que compõe essas cantigas é um homem, a adoção de
um eu lírico feminino acaba por apresentar, para os membros da corte, o que os
compositores consideravam a visão feminina da saudade e do amor.
O cenário é muito importante nesses textos e sempre caracteriza um am-
biente campesino. Várias personagens participam do “universo amoroso” criado
na cantiga de amigo, além da donzela e de seu amante: mãe, amigas, damas de
Paralelismo: repetição do
Levad’, amigo, quer dormides as manhãas frias; A verso inicial com a parte fi-
todas-las aves do mundo d’amor dizian: B nal ligeiramente alterada.
leda m’and’eu. O objetivo é manter o pa-
ralelismo sem alterar muito
os sentidos dos versos.
Levad’, amigo, que dormide’-las frias manhãas; A’
toda-las aves do mundo d’amor cantavan: B’ Leixa-pren: tipo especial
leda m’and’eu. de paralelismo no qual
se repete o último verso
da estrofe anterior ou
Toda-las aves do mundo d’amor dizian; B’’ parte dele.
do meu amor e do voss’en ment’avian:
leda m’and’eu. Refrão
12
O uso de uma estrutura paralelística faz com que os versos das cantigas de ami-
go variem muito pouco em relação ao vocabulário utilizado. Isso torna a linguagem
dessas composições mais simples que a das outras composições trovadorescas.
A cantiga de Nuno Fernandes Torneol é um exemplo de estrutura paralelística
perfeita e demonstra a grande habilidade do trovador para intercalar os versos,
garantindo equivalência de estrutura e de sentido entre as estrofes.
As cores diferentes mostram como a estrutura paralelística é construída na cantiga.
Vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan Tu lhes tolheste os ramos em que pousavam;
e lhis secastes as fontes u se banhavan: e lhes secaste as fontes que as refrescavam:
leda m’and’eu. alegre eu ando.
TORNEOL, Nuno Fernandes.
In: CORREIA, Natália (Sel., int., adapt. e notas).
Cantares dos trovadores galego-portugueses.
2. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1978. p. 218-220.
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4.3 Cantigas de escárnio
Nas cantigas de escárnio, o trovador critica alguém por meio de palavras de
duplo sentido, para que não sejam facilmente compreendidas. O efeito satírico
que caracteriza essas cantigas é obtido mediante ironias, trocadilhos e jogos se-
mânticos. De modo geral, ridicularizam o comportamento de nobres ou denun-
ciam as mulheres que não seguem o código do amor cortês.
2
Que Deus me perdoe. Dona fea, se Deus mi pardon2,
pois avedes (a) tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Glossário
O trovador, nessa cantiga, manifesta seu descontentamento com o fato de
Loarei. Louvarei.
Sandia. Louca.
uma senhora ter-se queixado de que ele não a elogiava em suas composições.
Coraçon. Vontade.
Para revidar a ofensa sofrida, ele promete louvá-la e diz que ela é feia, velha
Loaçon. Elogio, lou- e louca. Não há, no texto, a nomeação da mulher a quem o eu lírico se dirige,
vação. e, embora a linguagem seja ofensiva, o trovador prefere recorrer à ironia em
lugar da grosseria.
14
5 As novelas de
xandre, o Grande. O ciclo recebe essa denominação porque seus heróis vêm do
mundo clássico mediterrâneo.
■ Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei Artur e os cavaleiros
da Távola Redonda. Nessas novelas podem ser identificados vários núcleos te-
máticos: a história de Percival, a história de Tristão e Isolda, as aventuras dos
cavaleiros da corte do rei Artur e a demanda do Santo Graal.
■ Ciclo carolíngio ou francês: histórias sobre o rei Carlos Magno e os 12 pares
de França.
Sala de cinema
O filme narra as fantásticas aventuras do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda.
Excalibur, a espada de poder, que daria o título de rei a quem a removesse da rocha em que
estava cravada, é retirada dali pelo jovem Artur, ainda um simples escudeiro. A partir daí,
são apresentadas a formação de Camelot, a causa nobre da Távola Redonda na busca pelo
Santo Graal e a disputa pelo poder entre Merlim e Morgana.
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Exercícios dos conceitos
O texto a seguir refere-se às questões de 1 a 4.
Canção
Ao ver a ave leve mover
Alegres as alas contra a luz,
Que se olvida e deixa colher
Pela doçura que a conduz,
Ah! tão grande inveja me vem
Desses que venturosos vejo!
É maravilha que o meu ser
Não se dissolva de desejo.
(...)
Bem feminino é o proceder
Dessa que me roubou a paz.
Não quer o que deve querer
E tudo o que deve não faz.
Má sorte enfim me sobrevém,
Fiz como um louco numa ponte,
E tudo me foi suceder
Só porque quis mais horizonte.
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1 Na primeira estrofe da cantiga transcrita, o eu lírico mostra o estado de espírito
em que se encontra.
a) Descreva esse estado de espírito.
O eu lírico manifesta inveja da alegria das pessoas afortunadas e se espanta por
acerca desse sentimento, mas descobre que isso não é verdade e que o amor não
quem ele nunca fará jus. Além disso, ela tem, segundo o eu lírico, um
b) Explique por que essa descrição da amada é característica das cantigas que
desenvolvem o tema da coita de amor (fin’amors).
Na descrição que o trovador faz de sua amada, ele deixa claro que se põe em
posição de inferioridade em relação a ela (“Essa a que nunca farei jus”) e sofre
por ter se apaixonado por alguém que não corresponde ao seu amor, um amor
que o leva à loucura (e a uma morte simbólica: “Fiz como um louco numa
4 Releia:
17
b) De que maneira essa afirmação comprova a relação de subordinação do tro-
vador em relação à dama que louva? Explique.
O amor do trovador por sua senhora é imenso. Como ela não responde às suas
valores universais: se a amada não demonstra piedade, não pode haver piedade
no mundo.
Joana
Eu não gosto de Joana
Joana tem uma cara esquisita
Joana tem uma risada careta e maldita
Eu não gosto de suas unhas
pessoa: Joana.
18
b) Transcreva o verso em que esse objetivo é explicitado.
“Essa é a canção que eu fiz no dia que tirei / Pra falar mal de Joana.”
relação a Joana (“Eu não gosto de Joana”). Além disso, são feitas críticas diretas
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da moça: “Joana tem uma cara esquisita / Joana tem uma risada careta e
maldita” etc.
tem “uma cara esquisita”, um “rosto pálido de batom rosa” e que é “meio
Ana Carolina transpõe seu olhar crítico para a música que escreveu, satirizando sua
própria composição.
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Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes.
Cantiga
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
So aquestas avelaneiras frolidas,
E quem for velida, como nós, velidas,
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
So aqueste ramo destas avelanas,
E quem for louçana, como nós, louçanas,
Confessor medieval
(1960)
Irias à bailia com teu amigo,
Glossário
Se ele não te dera saia de sirgo?
Aquestas. Estas.
Frolidas. Floridas. Se te dera apenas um anel de vidro
Velida. Formosa. Irias com ele por sombra e perigo?
Verrá. Virá. Irias à bailia sem teu amigo,
Irmanas. Irmãs. Se ele não pudesse ir bailar contigo?
Aqueste. Este.
Avelanas. Avela Irias com ele se te houvessem dito
neiras. Que o amigo que amavas é teu inimigo?
Louçanas. For
mosas. Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
Mentr’al. Enquan Irias sem ele, e sem anel de vidro?
to outras coisas.
Bem parecer. Ti
Irias à bailia, já sem teu amigo,
ver belo aspecto. E sem nenhum suspiro?
Sirgo. Seda. MEIRELES, Cecília. Poesias completas de Cecília Meireles. v. 8.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
20
1 (Vunesp) Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles verificam-se dife-
rentes personagens: um eu poemático, que assume a palavra, e um interlocutor
ou interlocutores a quem se dirige. Com base nessa informação, releia os dois
poemas e, a seguir:
a) indique o interlocutor ou interlocutores do eu poemático em cada um dos
textos.
Na “Cantiga”, o eu lírico se dirige a duas outras moças, chamadas ora de
b) identifique, em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gra-
matical utilizada pelo eu poemático para dirigir-se ao interlocutor ou inter-
locutores.
Na “Cantiga”, o eu lírico, para referir-se aos interlocutores, emprega a
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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3 (Vunesp) As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois
gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu poemático
representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigo”, em que
o eu poemático representa a figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu
amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando com ele, com outras
“amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã etc.). De posse dessa
informação:
a) classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a
justificativa da resposta.
Essa cantiga é uma das mais conhecidas do cancioneiro medieval, classificada
versos) e refrão.
dificuldades do amor.
22
4 (Unifesp) A leitura permite afirmar que se trata de uma cantiga de: O poem a de João
Garcia de Guilhade
a) escárnio, em que se critica a atitude do dono do cavalo, que dele não cuidara, pode ser classifica-
mas, graças ao bom tempo e à chuva, o mato cresceu e o animal pôde recupe- do como cantiga de
rar-se sozinho. escárnio, pertencen-
te ao Trovadorismo
b) amor, em que se mostra o amor de Deus com o cavalo que, abandonado pelo galeg o-português.
dono, comeu a erva que cresceu graças à chuva e ao bom tempo. Trata-se de uma com-
posição satírica, em
c) escárnio, na qual se conta a divertida história do cavalo que, graças ao bom que não se identifica
tempo e à chuva, alimentou-se, recuperou-se e pôde, então, fugir do dono claramente a pessoa
criticada – no caso, o
que o maltratava. relapso dono que não
d) amigo, em que se mostra que o dono do cavalo não lhe buscou cevada nem cuida de seu cavalo.
o ferrou por causa do mau tempo e da chuva que Deus mandou, mas, mesmo Não é cantiga de mal-
dizer porque as pes-
assim, o cavalo pôde recuperar-se. soas criticadas não
e) maldizer, satirizando a atitude do dono que ferrou o cavalo, mas esqueceu-se estão explicitamente
mencionadas.
de alimentá-lo, deixando-o entregue à própria sorte para obter alimento.
5 (UFMA)
No poema acima, o final dos últimos versos – mia dona! – caracteriza um cantar Trata-se de uma can-
tiga de amor, porque
medieval, que se classifica como: “mia dona” é equiva-
lente a “mia senhor”,
a) cantiga satírica. d) cantiga de maldizer. expressão utilizada
b) cantiga de escárnio. e) cantiga de amor. de modo recorrente
nessas cantigas.
c) cantiga de amigo.
23
O texto a seguir, extraído de A demanda do Santo Graal, refere-se às questões
de 6 a 9.
24
O cavaleiro de quem Merlim e todos os profetas falaram
O rei, assim que viu no assento perigoso o cavaleiro de quem Merlim e
todos os profetas falaram na Grã-Bretanha, então bem soube que aquele era
o cavaleiro por quem seriam acabadas as aventuras do reino de Logres, e
ficou com ele tão alegre e tão feliz, que bendisse a Deus: Glossário
– Deus, bendito sejas tu que te aprouve de tanto viver eu que, em minha Logres. Reino
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
casa, visse aquele de quem todos os profetas desta terra e das outras profeti- governado por
zaram, tão longo tempo há já. Artur onde se si-
tuava a cidade de
(...) Camelot, sede do
MEGALE, Heitor (texto sob os cuidados de). A demanda do Santo Graal: manuscrito seu reinado.
do século XIII. São Paulo: T. A. Queiroz/Ed. da USP, 1988. p. 35-36. (Fragmento.)
à Távola Redonda.
Galaaz na sala sem que nenhuma porta tivesse sido aberta à sua passagem
(embora o ermitão que o acompanhava tenha entrado por uma porta) e o fato
25
Professor: Seria in-
b) Que indícios deixam claro que Galaaz está destinado a realizar feitos maravi-
teressante explicar lhosos em nome de Deus? Justifique.
aos alunos que, na
demanda cristiani- Os milagres (a aparição no meio da Távola Redonda, seu assento na cadeira
zada, Galaaz terá sua
imagem claramente perigosa) que envolvem Galaaz já sugerem sua associação a manifestações do
associada à de Cristo.
Ele representa a sal- poder de Deus. Além disso, a maneira como ele saúda os cavaleiros (“A paz esteja
vação do reino de
Logres e dos cavalei- convosco”) é uma clara alusão à sua “filiação” ao cristianismo, porque reproduz
ros, é o único puro e
casto, saúda os ou-
tros cavaleiros como a saudação cristã que é utilizada nos ritos religiosos. Essa também teria sido a
Jesus costumava sau-
dar seus apóstolos, saudação feita por Cristo aos apóstolos após sua ressurreição. Galaaz é
é definido por Artur
como o “mestre” de descendente de Davi e de José de Arimateia. Todos esses indícios permitem
todos os cavaleiros e
não sucumbe às ten- identificá-lo como um cavaleiro a serviço de Deus.
tações que surgem
durante a demanda.
8 A demanda do Santo Graal é uma versão cristianizada da mais famosa aventura
vivida pelos cavaleiros da Távola Redonda.
a) Que elementos vinculam essa narrativa à religião cristã?
único que consegue sentar-se no “assento perigoso” sem morrer por isso.
cavaleiro de Deus.
cristão. Sua aparição pode ser descrita como “milagrosa”, e ele terá de enfrentar
26
9 Por que a grande popularidade de A demanda do Santo Graal, nas cortes medie-
vais, contribuía para fortalecer o poder da Igreja?
A grande circulação e popularidade de A demanda do Santo Graal contribuía para
10 (Mackenzie-SP, adaptada)
Glossário
Ondas do mar de Vigo, Levado. Agitado.
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
27
Capítulo 2 O Humanismo
Leitura da imagem
1339, afresco de Ambrogio
Lorenzetti. Nessa obra, o
artista retrata o refloresci-
mento da vida urbana e do
comércio.
1 Que cenário aparece retratado no afresco de Ambrogio Lorenzetti? Justifique
sua resposta com elementos da própria imagem.
O afresco apresenta cenas da vida em uma cidade. Há um conjunto de edificações,
grupo com trajes mais sofisticados que parece dançar (as pessoas estão de mãos
passam a cavalo (a mulher, na frente, usa uma coroa na cabeça); há pessoas vestidas
de modo mais simples que parecem trabalhar (no canto direito inferior, por
28
3 No afresco, não há nenhuma referência à religião. O que essa ausência sugere
em relação à perspectiva teocêntrica medieval e ao papel do ser humano na
construção do próprio destino? Explique.
Essa ausência sugere uma mudança. Na perspectiva teocêntrica medieval, todas as
conquistas humanas são, na verdade, dádivas divinas. Por esse motivo, as obras de
A divina comédia, de Dante Alighieri, ilustra o olhar humanista para a religião e ganismo, caracterizado
o desejo de compreender e explicar as coisas do mundo, da vida e da morte que pelo culto a muitos deu-
ses. Por esse motivo, os
caracterizam a literatura no Humanismo. Leia um trecho dessa obra. poetas Homero, Horácio,
Ovídio, Lucano e o pró-
prio Virgílio são postos
Canto IV no Limbo por Dante.
Segundo a concepção
Após cruzarem o rio Aqueronte e entrarem no Limbo, o primeiro círculo do Infer- cristã, o batismo era a
no, Dante e Virgílio encontram as almas dos grandes mestres gregos e romanos. única forma de livrar os
seres humanos da má-
(...) cula do pecado original.
Como não tinham sido
A vista descansada então lançando batizados, esses poetas
deviam permanecer no
em derredor, olhei detidamente, Limbo, embora não fos-
a ver onde me achava, e como, e quando. sem pecadores.
(...)
Bem à distância estávamos, mas não
tanto que eu não pudesse ver em parte
que a gente ali mostrava distinção.
“Ó tu, que glorificam ciência e arte,
quem são estes”, falei, “com dignidade
tal que os conserva assim dos mais à parte?”
Disse-me, então: “A notabilidade
deles, que soa lá onde tens vida,
do céu lhes houve a justa prioridade.” Glossário
(...) Notabilidade. Atri
buto de pessoa no-
O meu bom mestre prosseguiu, falando: tável, admirável.
“Olha o que à mão aquela espada traz, Lucano. Poeta épico
à frente dos demais, como em comando: latino, que viveu en-
tre os anos 39 e 65.
É Homero, cantor alto e capaz: Escreveu Farsália,
em que narra episó-
Com Horácio, o satírico, ali vem; dios da guerra civil
Ovídio logo após, Lucano atrás. romana.
29
Reprodução
Figura 2 • Gustave Doré
foi o mais conhecido ar-
tista a elaborar ilustrações
para A divina comédia.
Vemos, na cena ao lado,
o barqueiro conduzindo
Dante e Virgílio em meio
às almas condenadas que
pedem ajuda. Ilustração
para o canto 8, “Inferno”.
tão grande que lhes garantiu distinção entre as outras almas que estão no Limbo.
águia, revoa”.
30
6 Que elementos desse trecho ilustram a tentativa de conciliar a religião católica
e as influências da cultura greco-latina? Por quê?
O fato de Dante escrever uma obra para explicar como seriam o Inferno,
que vive nesse período. O tratamento dado aos poetas clássicos, tratados como
“mestres” formadores da boa escola, revela que a cultura greco-latina era o modelo
31
Muitos camponeses, atraídos pela promessa de prosperidade, transferiram-se
para os burgos (vilarejos que cresciam em torno e ao abrigo de núcleos fortifica-
dos), onde começaram a trabalhar como pequenos mercadores. Surgia, assim, a
burguesia, constituída por todos aqueles que, sem nobreza de sangue, acumula-
vam capital por meio de atividades mercantis. O número de burgueses verdadei-
ramente ricos era pequeno, mas o crescimento das atividades comerciais fez com
que esse grupo se fortalecesse e conquistasse poder político.
A partir do século XIV, as cidades-Estado italianas desenvolveram formas repu-
blicanas de governo. Um magistrado-chefe era eleito pelos cidadãos e administrava
a cidade com poderes definidos por uma constituição. O
Isto é essencial!
32
cia do estudo das obras greco-latinas, ganha força um olhar mais racional, que
CASTELO BRANCO, João Ruiz de. Em: SPINA, Segismundo. Era medieval. 8. ed.
São Paulo: Difel, 1985. p. 136. (Coleção Presença da Literatura Portuguesa.)
33
Nesse poema, os olhos são utilizados para demonstrar a tristeza do eu lírico diante
Glossário da partida da amada. Olhos, aqui, seriam uma metonímia do próprio eu lírico.
Metonímia. Figura
de linguagem que
consiste em usar
uma p alav r a em
lugar de outra. É
4 O Humanismo em Portugal
e m p re g a d a , p o r
exemplo, quando Quando o Humanismo chega a Portugal, no início do reinado da dinastia de
a parte é utilizada Avis (1385), a produção poética passa por uma crise. Entre 1350 e 1450 não se
para representar o tem notícia da circulação de textos poéticos no país.
todo. Nas cantigas
do Humanismo, os Nesse período, Portugal vive o apogeu da crônica historiográfica e da prosa
poetas recorrem às doutrinária, tipo de manual escrito por reis e nobres que apresentava normas e
metonímias para modelos de comportamento para os fidalgos da corte.
melhor ilustrar os
efeitos do amor no O ressurgimento da poesia, então separada da música, ocorre durante o reinado
eu lírico. de D. Afonso V, no século XV, impulsionado pela renovação cultural promovida
na corte portuguesa.
Destaca-se ainda nessa produção o teatro de Gil Vicente, que faz um retrato
vivo da sociedade portuguesa da época.
34
5 O teatro de Gil Vicente
35
■ Autos pastoris (éclogas): gênero a que pertencem algumas das primeiras obras
do autor, entre as quais figuram peças de caráter religioso, como o Auto pastoril
português, e profano, como o Auto pastoril da serra da Estrela.
■ Autos de moralidade: gênero em que Gil Vicente se celebrizou; os mais co-
nhecidos são a Trilogia das Barcas (Auto da barca do inferno, Auto da barca do
purgatório e Auto da barca da glória) e o Auto da alma. Leia um trecho do Auto da
barca do inferno.
36
Exercícios dos conceitos
Pouco se sabe sobre a vida do poeta italiano
Soneto X
Amor e alma gentil estão ligados
como nos diz o sábio na canção.
Só pode um sem o outro ser pensado
Se à alma racional falta razão.
A natureza faz, no Apaixonado,
do Amor, senhor: e sua habitação
é o peito onde adormece repousado
por longo inverno ou por curto verão.
Depois a mulher bela se anuncia
tanto agradando aos olhos, que no peito
se mais agrada, tanto mais se quer;
e ela demora nesta moradia,
tanto, que acorda Amor posto em seu leito.
O mesmo faz um homem à mulher.
ALIGHIERI, Dante. Lírica – Dante. Trad. Jorge
Wanderley. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 271.
senhor. Fica ali adormecido até ser despertado quando o apaixonado vê uma bela
último verso, com o amor que mora no coração de uma mulher após a visão de
um belo homem.
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2 Dante Alighieri escreveu esse poema numa época que privilegiou a razão como
forma de olhar para a realidade.
a) Transcreva os versos em que podemos identificar uma visão mais racional de
amor.
“Amor e alma gentil estão ligados / (...) Só pode um sem o outro ser pensado /
Para o eu lírico, essa análise é essencial, já que, como afirma a primeira estrofe,
se faltar razão à alma racional, o amor e a alma gentil não mais estarão ligados.
38
3 No trecho transcrito são apresentadas duas personagens: o Anjo e o Parvo.
Considerando que os autos vicentinos caracterizam-se por sua função morali-
zante por meio de ações e características de personagens, identifique o papel
que o Anjo e o Parvo representam.
O Anjo representa o Bem, o caminho espiritual correto, que garante o reino
os puros de coração, que não cometem pecados por maldade, mas por
ingenuidade.
4 O Anjo é o encarregado de selecionar as almas que irão para o reino dos céus
em sua barca.
a) Que motivos o levam a permitir a entrada do Parvo em sua embarcação?
O Anjo permite que o Parvo embarque porque os erros que ele porventura
de “gozar os prazeres”.
à barca do Anjo, o Parvo não carrega consigo qualquer símbolo que represente
5 De que maneira a fala do Parvo e os motivos do Anjo para permitir seu ingresso
na barca sugerem o objetivo moralizante do texto?
A fala do Parvo e os motivos do Anjo para permitir seu embarque revelam que a
garantem a salvação dos indivíduos. Por meio dessas personagens, Gil Vicente
39
Retomada dos conceitos Professor: Consulte o Banco de Questões e incentive
os alunos a usar o Simulador de Testes.
Jacques Prévert.
40
1 O poema anterior, como o do poeta italiano Dante (apresentado na primeira
seção de exercícios), também aborda o amor.
a) Como esse sentimento é caracterizado no texto? Justifique.
O amor é caracterizado de modo contraditório: tem o rosto terno e perigoso
e feriu o eu lírico no coração para sempre. Ao dizer que o amor pode ser
b) Como o eu lírico do poema se sente depois que foi tomado pelo amor?
Depois de ferido pelo amor, o eu lírico parece perder o controle racional do que
ocorre ao seu redor (“Nada mais sei”). Reconhece, somente, que a ferida aberta
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma linguagem mais simples, com frases na ordem direta, versos brancos e forma
livre, o que nos leva a identificar uma estruturação linguística muito próxima da
41
4 (Unicamp-SP) Leia os diálogos abaixo, da peça O velho da horta, de Gil Vicente:
Glossário
Corocha. Cober
MOCINHA Estás doente, ou que haveis?
tura para a cabe
ça própria das al VELHO Ai! não sei, desconsolado,
coviteiras. Que nasci desventurado.
Capela. Grinalda.
MOCINHA Não choreis;
mais mal fadada vai aquela.
VELHO Quem?
VELHO Como?
uma moça. Nessa tentativa, perdeu parte de seu dinheiro. Além disso, foi
desconsolo amoroso.
que ele lhe entregava para comprar presentes para a Moça, é punida pela prática
c) Diante do castigo, Branca Gil adota uma atitude paradoxal. Por quê?
A atitude da alcoviteira é considerada paradoxal porque ela revela altivez e
será limitado a açoites, e ela depois voltará a ser livre para continuar exercendo
seu ofício. A cena sugere a corrupção moral que a peça pretende estender a toda
a sociedade portuguesa.
42
5 (UFPI) Sobre Gil Vicente e sua obra, assinale a alternativa correta. A marca do teatro
vic entino é a crítica
a) Respeita apenas o poder da Igreja. à sociedade de sua
b) Centra suas críticas nos membros das classes baixas. época com persona-
gens-tipos, identifi-
c) Conserva a lei das três unidades básicas do teatro clássico. cadas, como destaca
d) Identifica suas personagens pela ocupação ou pelo tipo social de cada uma a afirmativa correta,
pela ocupação que
delas. exercem ou pelo pa-
e) Evita fazer um confronto entre a Idade Média e o Renascimento Medievalista pel social que desem-
penham.
(Teocentrismo versus Antropocentrismo).
6 (UEL-PR) O Humanismo renascentista que se destacou pelas suas inovações nas O Humanismo se ca-
racterizou por uma
expressões artísticas e literárias representou: visão antropocêntrica
de valorização do ser
a) o movimento cultural que valorizou o homem ativo e criativo. humano.
b) o desenvolvimento técnico voltado para o mecenato na cultura renascentista.
c) a defesa das virtudes do homem contra os vícios intrínsecos à mulher.
d) o homem contemplativo, centro do universo, sujeito às leis divinas.
e) o movimento social com vistas à conquista de direitos.
7 (UFPI)
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Com base nesse fragmento, é correto afirmar que: O Diabo não gosta da
zombaria do Fidalgo
a) o Diabo não gostou quando o Fidalgo zombou dele, chamando-lhe de senhora. quando este o chama
de “senhora”.
b) para que o Fidalgo mudasse de atitude, o Diabo inicialmente foi gentil com
seu passageiro.
c) de acordo com o Diabo, vendo o barco de fora, o passageiro sempre se motiva
para a viagem.
d) o Diabo conclui que o Fidalgo deve pegar a barca, porque não tem mais tem-
po de esperar um outro passageiro.
e) a ilha perdida de que fala o Diabo é o nome de uma famosa ilha europeia,
descrita ao longo do Auto da barca do inferno.
43
8 (Fuvest-SP)
marcado pela lisonja: “Barqueiro, mano...”; “meu amor, minhas boninas, / olhos
de perlinhas finas!”.
O Frad e, ao contrá- 9 (PUC-SP) Gil Vicente escreveu o Auto da barca do inferno em 1517, no momento em
rio do Fidalgo, pode que eclodia na Alemanha a Reforma protestante, com a crítica veemente de Lutero
ser considerado um
perdulário. ao mau clero dominante na Igreja. Nesta obra, há a figura do frade, severamente
censurado como um sacerdote negligente. Indique a alternativa cujo conteúdo
não se presta a caracterizar, na referida peça, os erros cometidos pelo religioso.
a) Não cumprir os votos de celibato, mantendo a concubina Florença.
b) Entregar-se a práticas mundanas, como a dança.
c) Praticar esgrima e usar armamentos de guerra, proibidos aos clérigos.
d) Transformar a religião em manifestação formal, ao automatizar os ritos litúrgicos.
e) Praticar a avareza como cúmplice do fidalgo, e a exploração da prostituição
em parceria com a alcoviteira.
44
10 (UEL-PR) A questão refere-se ao texto a seguir.
Com base nessas palavras e nos conhecimentos sobre o Humanismo, é correto A linguagem utili-
zada nos quatro úl-
afirmar: timos versos “adota
alguns padrões do
a) O Humanismo procura retratar a realidade de forma ingênua, revelando uma
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
discurso popular”,
visão idealizada do mundo expressa pelo verso “casa, filha, e aproveita”. como se afirma na al-
ternativa assinalada.
b) O fragmento citado trata o casamento como resultado de um envolvimento As demais alternati-
amoroso pleno. vas estão incorretas,
porque o trecho re-
c) A leitura do fragmento confirma que o Humanismo, embora dirigido a um pú- vela que a união con-
blico palaciano, adota alguns padrões do discurso popular, como se observa jugal é determinada
nos quatro últimos versos. pelo interesse e não
por uma “motivação
d) O verso “Este é o certo caminho” indica o predomínio de uma visão idílica e sentimental”. Além
idealizada em grande parte do discurso humanista. disso, não há, no ex-
certo, a retratação de
e) O olhar humanista, no fragmento citado, imprime à união conjugal uma moti- uma “realidade ingê-
vação sentimental. Tal postura suplanta o lirismo amoroso presente em algu- nua” ou uma visão
mas cantigas trovadorescas. idealizada do mundo
ou das relações amo-
rosas.
Instrução: para responder à questão de número 11, leia os versos seguintes, da fa-
mosa Farsa de Inês Pereira, escrita por Gil Vicente.
11 (Unifesp) Sobre a Farsa de Inês Pereira, é correto afirmar que é um texto de natu-
reza
a) satírica, pertencente ao Humanismo português, em que se ridiculariza a as-
censão social de Inês Pereira por meio de um casamento de conveniências.
b) didático-moralizante, do Barroco português, no qual as contradições huma-
nas entre a vida terrena e a espiritual são apresentadas a partir dos casamen-
tos complicados de Inês Pereira.
45
Nessa farsa, fica clara
c) religiosa, pertencente ao Renascimento português, no qual se delineia o pa-
a intenção de criticar, pel moralizante, com vistas à transformação do homem, a partir das situações
por meio do humor, embaraçosas vividas por Inês Pereira.
a preocupação da
“sociedade mercantil d) reformadora, do Renascimento português, com forte apelo religioso, pois se
emergente, que prio- apresenta a religião como forma de orientar e salvar as pessoas pecadoras.
riza os valores essen-
cialmente materialis- e) cômica, pertencente ao Humanismo português, no qual Gil Vicente, de forma
tas”, que, nesse caso, sutil e irônica, critica a sociedade mercantil emergente, que prioriza os valores
é simbolizada pelo essencialmente materialistas.
desejo de um casa-
mento por interesse.
12 (UFRGS-RS) Entre 1511 e 1516, foram escritas na Europa três das mais funda-
mentais obras da Renascença, Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdã, O prín-
cipe, de Nicolau Maquiavel, e Utopia, de Thomas Morus. Diferentes pelo tom e
pelas respostas que trazem, essas obras têm em comum uma constatação bas-
tante sombria da sociedade da época e a ambição de edificar um mundo mais
harmonioso.
Em relação aos ideais intelectuais humanistas e à conjuntura histórica da época,
considere as seguintes afirmações.
I. O pensamento humanista elaborou uma forte crítica à escolástica, embora
13 (PUC-SP)
46
O trecho acima, de um livro de 1516, narra parte de uma viagem imaginária à No verso em que o eu
Lua. Lá, o personagem encontra o que não há na Terra e não encontra o que lírico refere-se à lou-
aqui há em excesso. Pode-se identificar o caráter humanista do texto na: cura “que não sai de
nosso mundo”, po-
a) certeza, de origem cristã, de que a reza (“suplica ao céu”) é a única forma de se demos perceber uma
espécie de apelo em
obter o que se busca. defesa da razão, uma
b) constatação da pouca razão (“siso”) e da grande loucura existente entre os das características
mais marcantes do
homens. Humanismo.
c) aceitação da limitada capacidade humana de fazer poesia (“o verso meu não
dura”).
d) percepção do desleixo e da indiferença humanos (“O tempo e as muitas obras
que perdia”).
e) ambição dos homens em sua busca de bens (“Mil coisas de que andamos à
procura”).
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Exercício de integração
Professor: Ao corrigir
Leia, no texto a seguir, uma análise do Auto da Lusitânia, de Gil Vicente, feita ou comentar a respos-
ta dos alunos a esta
pelo crítico literário Massaud Moisés. Nessa peça do teatro vicentino, duas alego- proposta, é importante
rias representam personagens que dialogam, Todo Mundo e Ninguém, e que são observar se eles perce-
beram que o ponto cen-
ouvidas por “assistentes” de Lúcifer (Berzebu e Dinato) a quem tudo o que foi dito tral no deslocamento da
será relatado. perspectiva teocêntrica
para a antropocêntrica
é a responsabilidade
O intuito do comediógrafo salta à vista: empregando o estilete da sátira, atribuída ao ser huma-
pretende atingir o âmago das fraquezas humanas e, por meio de sua de- no sobre seus atos. No
Auto da Lusitânia, por
núncia em forma direta ou metafórica, chamar a atenção dos espectadores meio da alegorização
para os seus vícios e debilidades. Daí a carga de moralidade (...), mas uma das personagens Todo
Mundo e Ninguém, o
moralidade despreconcebida, com os pés na terra, realista e objetiva, como, dramaturgo investe nos
de resto, era o teatro de Gil Vicente. Situado no limiar da Renascença, o jogos de palavras resul-
que equivale a colocar em crise certos valores medievais, e os oportunismos tantes dos diálogos en-
tre os dois para ressaltar
emergentes, seu endereço é o homem como espécie ou como animal gregário os comportamentos
vivendo em grupos sociais comprometidos por conveniências e dissimilações humanos típicos que
seriam condenáveis na
de toda ordem. sociedade da época.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. Na peça, “Todo Mundo”
São Paulo: Cultrix, 1993. p. 61. busca o respeito social,
a mentira, a lisonja etc.
(comportamentos que
Redija um parágrafo argumentativo explicando de que maneira o teatro vicen- representariam o que é
condenável e que carac-
tino, ao criticar a sociedade de seu tempo, ilustra a convivência entre o novo e o terizavam os contempo-
velho que define a literatura do Humanismo. râneos de Gil Vicente);
Para desenvolver seu parágrafo, você pode apoiar-se nas seguintes sugestões: “Ninguém” busca a
verdade, a justiça, a vir-
■ Caracterize brevemente a mudança da perspectiva teocêntrica para a perspecti- tude, a consciência (as
atitudes e os compor-
va antropocêntrica, iniciada no Humanismo. tamentos que sempre
■ Com base em alguma passagem do diálogo entre Todo Mundo e Ninguém, no parecem faltar aos seres
humanos). O autor mos-
Auto da Lusitânia, exemplifique como Gil Vicente, nessa obra, coloca “em crise tra como as pessoas de-
certos valores medievais” para ressaltar a necessidade dos indivíduos de alterar vem se responsabilizar
determinados comportamentos viciosos e inadequados. por seus atos.
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