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Lê o texto seguinte.

Madonna de braço dado com Eça

Os muitos caminhos da promoção turística passam pela literatura. Todos não seremos demais para falar de
Eça.

Soube tardiamente que Madonna ia viver entre as paredes do que podia ter sido “o Ramalhete”, pelo
menos na nossa imaginação de pobres leitores. A imprensa noticiou vagamente que um hotel de Santos, em
5 Lisboa, iria recolher a cantora durante todo este ano, mas a ninguém escapou que “o Ramalhete” podia bem
ser “o Ramalhete” de Os Maias, o palacete que tão funesto seria para a família criada por Eça de Queirós,
com os seus cretones e salas acolhedoras, salão de bilhar, ameníssimos jardins, fogões de sala crepitantes
— façam o favor de regressar ao livro.
Ora, acontece que, entre outras amáveis distinções, Portugal acabava de ser eleito “o melhor destino
10 turístico do mundo”, distinção que tanto nos honra como responsabiliza para os anos futuros. Há uma ligação
entre Os Maias e o melhor destino turístico do mundo — ou se é um areal cheio de dinheiro, como o Dubai, e
a memória não interessa para nada contanto que circulem os turistas, ou se é um território com História,
passado, literatura e velhas mitologias que se instilam nos visitantes, a receber com galhardia e sentido do
lucro. O turismo é isso. Quer dizer, “o nosso turismo” é bem capaz de ganhar com isso: mitologias cedidas por
15 empréstimo, mesmo quando me garantem que “o Ramalhete” das Janelas Verdes não tem a ver com “o
Ramalhete” de Eça (estive a ver imagens do palácio e é tal e qual). Isto é estapafúrdio, porque “o Ramalhete”
de Eça é onde nós quisermos e, se enganarmos os turistas, tanto melhor. Poderíamos pôr Madonna a ler Os
Maias em inglês, o que seria uma coisa tremenda no Instagram, capaz de fazer inveja à rapaziada do
secundário. Nenhuma alma do Turismo de Portugal ou do Instituto Camões teve a generosidade de enviar um
20 exemplar do livro a Madonna? “Menina, essas pedras onde sentas o rabiosque são páginas da nossa
literatura. Lê e divulga, não sejas totó.”

VIEGAS, Francisco José, 2018. “Madonna de braço dado com Eça”. Ler, n.º 148, inverno 2017-2018 (p. 14) (adaptado)

Seleciona a opção correta em cada um dos itens de 1. a 6.

1. As orações introduzidas por “que” nas linhas 3 e 4 são


(A) subordinada substantiva completiva, no primeiro caso, e subordinada adjetiva relativa, no segundo
caso.
(B) subordinada adjetiva relativa, no primeiro caso, e subordinada substantiva completiva, no segundo
caso.
(C) subordinadas adjetivas relativas, em ambos os casos.
(D) subordinadas substantivas completivas, em ambos os casos.

2. A locução conjuncional “contanto que” (linha 11) introduz uma ideia de


(A) concessão.
(B) adição.
(C) condição.
(D) causa.
3. O segmento “que se instilam nos visitantes” (linha 12) corresponde a
(A) uma oração subordinada substantiva completiva, com a função sintática de complemento direto.
(B) uma oração subordinada adjetiva relativa, com a função sintática de modificar do nome restritivo.
(C) uma oração subordinada adjetiva relativa, com a função sintática de modificar do nome apositivo.
(D) uma oração subordinada adverbial causal, com a função sintática de modificador.

4. Nas expressões “distinção que tanto nos honra” (linha 9) e “mesmo quando me garantem que ‘o
Ramalhete’ das Janelas Verdes não tem a ver com ‘o Ramalhete’ de Eça ” (linhas 14-15), os pronomes
pessoais desempenham as funções sintáticas de
(A) complemento indireto e de complemento direto, respetivamente.

(B) complemento direto e de complemento indireto, respetivamente.


(C) complemento indireto, em ambos os casos.
(D) complemento direto, em ambos os casos.

5. No contexto em que ocorrem, as palavras “ porque” (linha 15) e “se” (linha 16) contribuem para a coesão
(A) temporal.
(B) referencial.
(C) frásica.
(D) interfrásica.

6. As orações subordinadas introduzidas por “ onde” nas linhas 16 e 19 são


(A) substantiva relativa, no primeiro caso, e adjetiva relativa, no segundo caso.
(B) adjetiva relativa, no primeiro caso, e substantiva relativa, no segundo caso.
(C) adjetivas relativas, em ambos os casos.
(D) substantivas relativas, em ambos os casos.

Responde agora às questões que se seguem.

7. Identifica a função sintática desempenhada pelos constituintes:


a. “entre as paredes do que podia ter sido ‘o Ramalhete’ ” (linha 2);
b. “tão funesto” (linha 5);
c. “que” (linha 9);
d. “de dinheiro” (linha 10);
e. “os turistas” (linha 11);
f. “de ganhar com isso” (linha 13);
g. “à rapaziada do secundário” (linhas 17-18);
h. “de enviar um exemplar do livro a Madonna ” (linhas 18-19).
i. “Menina” (linha 19).

8. Indica o tipo de dêixis assegurado pelo determinante possessivo presente na linha 19.

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