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Meu nome é Nimue Lykaios eu nasci em uma pequena

vila de artesãos e mercadores, ou apenas pessoas que


procuravam um pouco de paz e fugiam dos grandes
centros, era uma vila simples com apenas o essencial,
mesmo assim era o meu lar.

Eu me lembro que quando eu era pequena eu gostava


de acompanhar a minha mãe até a loja dela e a ajudar
a organizar e limpar tudo antes que os clientes
chegassem, e a noite eu voltava pra casa cansada do
dia e sempre podia encontrar o meu pai em seu
pequeno escritório com as paredes forradas do chão
ao teto com livros lendo e estudando em silencio. Ele
passava o dia todo estudando e treinando magias, mas sempre que eu e a minha irmã
fossemos dormir ele largava os livros e ia até o nosso quarto, então ele invocava pequenos
glóbulos de luz formando constelações com eles e nos contava diversas histórias sobre as suas
aventuras de quando era mais novo, sobre os monstros que ele enfrentava, terras distantes,
dragões elegantes e furiosos, e sobre aventureiros e heróis, eu me lembro de sonhar em ter as
minhas próprias aventuras, de saber mais sobre esses monstros e as criaturas tão diferentes
de mim. Acho que essas são as minhas lembranças mais felizes que eu tenho dele.

Apesar de ser uma vila no fim do mundo ela era um ponto de passagem para os viajantes que
subiam a serra e queria um lugar para descansar ou comercializar algo para então irem para as
grandes cidades, e entre eles sempre haviam pessoas de diversos lugares com culturas e
religiões diferentes, minha mãe sempre era educada com todos que vinham em sua loja não
importa quem fossem, porém quando ela sabia que uma caravana religiosa passava pela
cidade ou quando algum mercador um pouco mais agressivo era avistado ela dizia para mim e
minhas irmã que se fossemos sair sozinhas deveríamos sempre deixar as orelhas escondidas
sobre os cabelos e evitar falar com esses estranhos. Um dia quando eu tinha 9 anos eu e a
minha irmã estávamos brincando perto do rio que descia pela montanha totalmente
despreocupadas, e vimos algumas crianças humanas passando por lá e a chamamos para
brincar, as crianças olharam para as nossas orelhas e foi a primeira vez que eu vi medo e
desprezo nos olhos de alguém, uma delas cuspiu na minha cara enquanto um dos meninos
pegou uma pedra e tacou na Nayla, mas ele tacou tão forte que abriu um corte na cabeça dela
fazendo sangrar e que ela caísse no chão, imediatamente eu parti pra cima do menino com
raiva e dei um soco nele forte o suficiente pra fazer a minha mão doer, a minha mãe sempre
dizia se baterem em você bata de novo só que mais forte, e foi o que eu fiz, o menino
assustado com a minha reação saiu correndo com os outros dois amigos. Quando eles foram
embora eu voltei para a Nayla que ainda estava no chão
chorando sem saber o porquê de eles terem feito isso, ela
tinha apenas 6 anos, e eu não tive coragem de explicar pra
ela, na verdade eu também não entendia direito, a única
coisa que eu sabia era que algumas pessoas não gostavam de
meio elfos, mesmo nós não termos feito nada, então eu
apenas a abracei até que ela se acalmasse e cuidei dos seus
ferimentos e nós fomos pra casa, no dia seguinte eu acordei
antes dela peguei duas pedras de malaquita que havia
encontrado outro dia na floresta e fui até a bancada de
artesanato de minha mãe, lá eu lixei as pedras e as prendi em
pequenas molduras de ferro que havia em cima da bancada e as prendi em dois cordões
diferentes, quando a minha irmã acordou eu dei um dos colares para ela e disse “Não importa
aonde eu esteja eu sempre vou te proteger e sempre que nós estivermos longe da outra e
estiver assustada segure firme esse colar que eu vou até você”

Com o passar dos anos eu me afastei das outras crianças com medo de algo assim acontecer
novamente, falava apenas com as poucas que eu conhecia a tempos, então como eu ficava
muito tempo sozinha eu comecei a explorar o escritório do meu pai quando ele estava fora, foi
ai que eu conheci os livros, todo dia eu ia até o escritório e pegava um escondido e então ia ler
em uma arvore que tinha perto na nossa casa, meu esconderijo particular, até que um dia a
minha mãe descobriu, mas em vez dela brigar ou coisa do tipo ela simplesmente me entregou
no meu aniversario um presente, um livro, um livro apenas meu, não do meu pai, mas meu e
disse que eu sempre fui muito curiosa, e isso era uma coisa que eu e o meu pai tínhamos em
comum. Porém um dia quando eu tinha 14 anos um grupo de aventureiros apareceu em minha
vila, eles estavam em busca de um poderoso livro de magias, eles haviam subido a costa e
souberam que na vila tinha um mago que sabia um pouco de tudo e de todos, então eles
foram até o meu pai e ele concordou em os ajudar a encontrar esse livro, naquela tarde o meu
pai organizou e guardou algumas coisas para a viajem, eu vi empoleirada em cima de um
ganhos de uma arvore o meu pai se despedir de minha irmã e minha mãe, mas eu ainda estava
com raiva dele por uma discussão que tivemos de manhã, então eu não desci para me
despedir, então eu o vi subir em um cavalo e ir embora junto com o grupo de aventureiros,
essa foi a ultima vez que eu o vi, ele nunca mais voltou. Depois do sumiço do meu pai eu
mergulhei ainda mais nos estudos e nós livros, estudava um pouco de tudo, magia, história,
política geografia, os livros eram o meu refúgio, eu os via como uma porta para novos
universos muito mais interessantes que o meu. E eu ainda tinha começado o meu treinamento
para me tornar médica, junto da minha irmã, então todos os dias nós íamos para o hospital
ajudávamos os médicos, aprendíamos a cuidar dos ferimentos, e a noite quando voltava para
casa eu passava o resto do meu tempo estudando, isso acabou me deixando obcecada por
conhecimento, mas eu não me importava com isso, ainda tinha tanta coisa para aprender,
tanta coisa que eu não conhecia.

Dois anos depois do sumiço do meu pai eu e Nayla tínhamos começado o nosso treinamento
para sermos médicas, e eu estava concentrada estudando quando senti o meu colar aquecer
um pouco, como se alguém tivesse dado um puxão nele e o calor da mão ainda estivesse lá o
segurando, na mesma hora eu me desesperei, passei rapidamente pela oficina da minha mãe
peguei uma pequena adaga que ela usava quando ia pegar suprimentos e sai correndo atrás da
Nayla. Ela havia ficado até tarde no hospital para ajudar com um paciente especialmente
problemático, quando eu cheguei no hospital vi ela cercada por 3 caras vestidos com vestes
brancas as mesmas da caravana da igreja que tinha chegado na vila no dia anterior, eu corri
até eles e me coloquei entre eles e a Nayla, eles nós olharam com olhares maldosos, porém
um deles me reconheceu, ele era o menino que eu havida dado um soco a tantos anos atrás, e
ele abriu ainda mais o sorriso maldoso como se aquela lembrança aumentasse ainda mais o
seu ódio por nós. “Bastardas meio elfas” disse ele enquanto cuspia no meu rosto, eu apenas
limpei o cuspi sem tirar os olhos daqueles 3 tendo consciência de cada movimento que eles
faziam e também da minha irmã atrás de mim, eu não era forte, e também não era muito
rápida mas podia segurar eles por tempo o suficiente da minha irmã fugir, e foi isso que eu fiz,
eu sussurrei pra ela o que ela tinha que fazer e então eu parti com tudo pra cima do cara que
tinha cuspido em mim, cortando um pouco a sua barriga, quando os outros dois vieram ajudar
o amigo eu chutei com tudo bem no meio das pernas fazendo ele se encolher com dor, mas o
terceiro ele me segurou por trás me imobilizando, não demorou muito tempo para os dois se
recuperarem e se aproximarem para me bater, e por mais que eu lutasse o cara que me
segurava era muito mais forte que eu e eu era fraca demais, eles me desarmaram e
começaram a me socar, cada vez mais e mais. Porém a única coisa que eu conseguia pensar
era que eles ficaram tão concentrados em mim que não viram quando a Nayla passou
correndo atrás de um deles, ela tinha conseguido escapar, ela estava bem, doía, cada soco
deles doíam muito, quando eles viram que eu estava fraca demais para me mexer me tacaram
no chão e começaram a me chutar, eu não conseguia enxergar mais nada, a minha visão
estava nublada demais, a minha cabeça doía demais, o meu corpo doía demais, a última coisa
que eu me lembro é do alto som de “CHACK” da minha coluna se dobrando, e uma dor
excruciante, e então eu desmaiei de dor. Eu acordei no hospital no dia seguinte, eu estava
toda enfaixada e conseguia sentir um cataplasmo gelado embaixo das bandagens, minha mãe
e minha irmã estavam do lado da minha cama conversando com o médico, porém quando eu
olhei para as minhas pernas, nada, eu não sentia nada, quando a Nayla viu que eu acordei, ela
chorou desesperada, e quando ela se acalmou ela começou a explicar. A porrada que aqueles
caras tinham me dado foi tão forte que tinha me deixado paraplégica, também tinham
quebrado as minhas costelas e eu estava com uma grande hemorragia interna na maioria dos
órgãos, foi sorte eles terem me achado viva, mais um minuto e eu poderia estar morta.
Enquanto eu distraia os homens a Nayla tinha corrido e ido até os guardas e chamado ajuda,
porém os desgraçados conseguiram fugir, então na mesma hora ela analisou os meus
ferimentos me levou pra dentro do hospital e começou a dar um monte de ordens para todo
mundo, ela não deixou ninguém encostar em mim como uma força da natureza, e ninguém
ousou questioná-la, alguns a ajudaram e a auxiliaram, mas ela não deixou de cuidar de mim
até que eu estivesse estável. Eu não sei quanto dias eu passei naquela cama de hospital, mas
eu lembro que pareceu uma eternidade, eles não me deixavam fazer nada nem ao menos
continuar os meus estudos, no máximo me deixaram ler uma coisa leve, por que de acordo
com eles eu precisava de repouso, todo dia a minha mãe e minha irmã vinham me visitar, elas
de vez enquanto até me levavam para pegar um pouco de ar, nesses dias eu não sabia se
ficava feliz ou triste, pois por mais que fosse bom sair um pouco do hospital todos da vila me
olhavam e olhavam a cadeira de rodas com pena, como se eu fosse uma coitada que não podia
fazer nada sozinha, eu odiava aquilo. Depois desse “acidente” a minha mãe começou a
incansavelmente procurar um jeito de me curar, de me fazer andar de novo, desde chás que
estimulavam o crescimento de nervos até mesmo magia, ela entrou em contado com um
antigo amigo do meu pai, um feiticeiro e ele concordou em ajudar, quando ele chegou a nossa
casa eu estava sentada na cadeira de rodas olhando pela janela, tentando me manter otimista,
mas não por mim e sim por elas, o feiticeiro analisou a minha situação, e com um rápido
movimento das mãos eu senti uma energia calma e tranquila me envolver e então um coque
percorreu a minha espinha, e doeu, eu senti a dor em todo o meu corpo, inclusive nas pernas.

E foi a partir desse dia que eu me interessei ainda mais por magia, eu larguei o treinamento e
movida pela minha obsessão me dediquei dia e noite a aprender essa magia, esse feiticeiro
ficou ainda mais um tempo na vila antes de partir, ele me ensinou o básico e o resto eu
comecei a aprende sozinha seguindo as anotações e estudos de meu pai, além é claro das
minhas próprias anotações, eu encontrei um dos antigos cajados de meu pai, bruto com uma
grande gema que parecia ter uma fumaça branca dentro mais útil e eficaz, eu e minha mãe
pegamos aquele cajado e o modificamos, o entalhando e deixando na altura adequada pra
mim. Durante esse anos eu vivi enfurnada no antigo escritório do meu pai, agora meu
escritório, saia apenas de vez em quando, na maioria das vezes quando a Nayla aparecia e me
arrastava pra fora, todo ano havia uma comemoração na nossa vila chamada de Calahai, é uma
celebração ao inicio da primavera, nesse dia a minha irmã me puxava pra fora do escritório e
nós passávamos o dia ajudando nossa mãe na organização do festival e a noite nós eu e a
minha irmã usávamos coroas de flores e passávamos a noite nos divertindo, durante a noite do
Calahai era como se a natureza resolvesse compartilhar um pouco de sua magia conosco
deixando a festa com uma atmosfera indescritível, era montado uma grande fogueira que
soltava cheiro de flores, um antigo truque élfico que a minha mãe nunca me contara, diversas
comidas eram servidas e músicos tocavam, eu e a minha irmã dançávamos em volta da
fogueira a noite toda até os nossos pés doerem, naquela noite nenhuma tristeza existia,
nenhum problema existia, a única coisa que existia era o calor do fogo os pés descalços
sentindo a terra, e a musica animada que contagiava a todos, e ao fundo junto com a música
era possível ouvir as risadas de duas jovens, que por apenas aquela noite tinham tudo o que
precisavam, elas tinham uma a outra e só isso importava, a única coisa que importava era o
quando lindamente a malaquita no pescoço de cada uma brilhava a luz do fogo.

Apesar da dor que preenchia o seu corpo, apesar do seu coração partido pela traição essa era
a única coisa que a Nimue conseguia pensar, a sua mente, a sua consciência se apegou apenas
aquele momento, deixou todo o resto ir embora, restando apenas aquela sensação de paz, e
quando por fim o bardo cortou a sua garganta ela foi embalada por aquele calor do fogo e as
risadas em uma música.

Carta da Nimue para a Mãe e a Irmã:

“Mãe, Nayla

Primeiramente antes que vocês se desesperem eu estou bem, depois de sair da nossa vila eu
encontrei um grupo de pessoas que receberam a mesma carte que eu recebi, alguns deles são
diferentes do habitual mas eles são legais, inclusive foi um deles que me ajudou a enviar essa
carta para vocês, o nome dela é Ivory, ela é uma elfa que tem lindos olhos roxos, e eu nem
sabia que dava para alguém ter olhos roxos, ela tem se tornado uma boa amiga, tem também
o Marguth que é um golias, acho que isso é uma espécie de gigante, ele é meio bruto mas é
gente boa, e tem também o JayJay ele é um meio elfo que nem eu, e tá sempre com o seu
violão, nós não conversamos muito mas ele é legal também, ainda tinha mais duas pessoas
com a gente, um mago e um tifling, um deles morreu e o outro está desaparecido. E sim Nay
os tiefling são iguais as histórias do papai.

Nós viemos parar em uma cidade meio destruída e acabada, como se já tivesse visto dias
melhores, e lá nós encontramos uma guilda de heróis que protege essa cidade foram eles que
enviaram as cartas, elas eram como um pedido de ajuda para os heróis que quisessem ajudar
eles a enfrentar uma espécie de maldição que havia soldado diversos monstros e perigos pela
cidade, eu ainda estou tentando entender essa última parte. Bem eu não sou uma heroína,
mas resolvi ajudar, e os meus companheiros também. Então nós fomos até uma ruinas que
tinha na cidade, lá encontramos diversos esqueletos e inimigos, eu me machuquei um pouco,
mas eu já estou curada. Mas enquanto explorávamos aquelas ruinas eu o encontrei, eu
encontrei o papai, eu não sei como contar isso para vocês, mas o papai está morto, havia um
monstro gigante feito de sombras e ossos, e pelo visto ele colecionava as cabeças daqueles
que ele matava, quando nós fomos enfrentar ele eu vi a cabeça do papai lá, flutuando envolta
daquele desgraçado. Eu o matei, nós o matamos, eu vi o medo nos olhos dele quando lançava
as minhas magias, eu o vi hesitando, e com isso um de meus companheiros cortou aquele
crânio amaldiçoado no meio, eu não sei o porquê ou o que o papai foi fazer naquela cidade, eu
perguntei para uma das moradoras e ela disse que nunca o tinha visto antes.

Eu queria estar ai pessoalmente pra contar isso pra vocês, mas eu não podia esperar, por
mais que eu tenha falado que eu estou bem um dos meus companheiros, o mago, morreu hoje
nessa mesma masmorra, então eu não sei o que pode acontecer comigo amanhã, e vocês
precisavam saber, pelos menos isso coloca um fim na história, ele não vai voltar pra casa, e
acho que eu também não, pelo menos não tão cedo ainda, a missão ainda não acabou e eu
acho que não vai acabar tão cedo. A única coisa que eu queria era uma bebida quente tipo
aquelas do Calahai, e uma boa fogueira com cheiro do flores, eu sinto saudades de vocês duas,
parte de mim quer voltar para casa, mas essas pessoas também de ajuda, sabe Nay toda noite
eu seguro o nosso colar e olho para a lua e eu sei que você deve estar fazendo o mesmo,
segura em casa, ou exausta no meio de um dos seus plantões no hospital, mas eu sei que você
está bem, e isso me deixa mais calma.

Saibam que eu amo muito vocês, e que logo, logo eu volto pra casa, só tenho que destruir
alguns esqueletos, fiquem seguras e bem.

Com amor Nimue

PS: Maninha não esquece de sempre levar um lanche extra na bolça, toda vez que você está
concentrada você acaba esquecendo de comer. E mamãe, o seu pilão está na minha bancada,
eu esqueci de devolver para você antes de sair de casa.”

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