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O BATUQUE E SEUS FUNDAMENTOS

Amaci ou Mieró:
É a primeira obrigação da iniciação. Depois de jogada e confirmada nos búzios
a cabeça e as passagens do filho, é feito o amaci, que é um ritual realizado
com ervas específicas de cada Orixá, maceradas na água onde o Babalorixá
lava a cabeça do filho que fará a obrigação, enquanto tira-se o Erí, ou seja, a
reza do Babalorixá.
Aribibó:
O Aribibó é a obrigação realizada com um casal de pombos pertencentes ao
Orixá. Nesta obrigação não é feito nenhum tipo de assentamento, visto que se
trata de um reforço ou até mesmo um axé de saúde.
Bori de aves:
O Bori de aves é a obrigação em que o filho-de-santo reafirma sua convicção
dentro da religião. É feito como uma preparação para o aprontamento, ou como
um "reforço de cabeça", que tem como objetivo melhorar as condições gerais
do filho-de-santo. Na obrigação do bori são sacrificados galos ou galinhas da
cor pertencente ao Orixá de cabeça e para o Orixá que rege o corpo da
pessoa. São consagrados alguns objetos que juntos também se chamam bori:
uma manteigueira de vidro ou porcelana, uma moeda antiga, alguns búzios (de
acordo com o número de axé do Orixá) e uma quartinha (espécie de vaso de
barro com tampa). Estes objetos são colocados dentro de uma vasilha,
juntamente com as guias e recebem o sangue (axorô) dos animais sacrificados,
vasilha esta que fica no colo do filho que está sendo borido, enquanto este fica
sentado no chão.O Babalorixá faz as marcações no corpo do filho da mesma
forma que foi feita no aribibó, com a diferença de serem sacrificados além de
pombos, galos ou galinhas, de acordo com o Orixá dono da cabeça do filho-de-
santo. Na continuação da obrigação de bori conservam-se as mesmas etapas
do aribibó, porém no bori há uma testemunha a quem chamamos de padrinho
ou madrinha de cabeça, devendo-se total respeito ao padrinho, que deverá ser
alguém com feitura, filho-de-santo pronto, pois é o padrinho ou madrinha que
deverá ser procurado caso o afilhado necessite de orientação e o Babalorixá
estiver impossibilitado de auxiliar o filho-de-santo. A reclusão do filho de santo
que está sendo borido varia de 03 a 04 dias em média. Durante este período o
borido reduz ao máximo suas atividades e movimentos, permanecendo a maior
parte do tempo deitado ao chão. Após o batuque e o término do período de
reclusão levanta-se a obrigação e monta-se o bori: Faz-se uma cama de
algodão dentro da manteigueira e põe-se a moeda ao centro rodeada pelos
búzios. Cobre-se com bastante mel. O Bori é considerado a "cérebro" do
indivíduo, portanto exige certos cuidados, não deve ser mexido, a quartinha
deve estar sempre com água e deve ser reforçado de tempos em tempos com
nova obrigação. Nesta obrigação o filho estreita sua relação com o Orixá,
sendo para alguns, a principal obrigação do Batuque onde o filho-de-santo
estreita sua relação com o Orixá, tornando-se assim um filho da Religião.
Bori de Meio Quatro Pés:
É considerado como preparação para o aprontamento, isto é, antecede o Bori
de Quatro-pés. Esta obrigação é feita para filhos que já tenham feito bori de
aves e também pode ser feito como reforço, para os que já são filhos prontos.
É sacrificado um casal de galinhas d'angola se o filho-de-santo pertence a um
Orixá de frente, casal de marrecos se o filho-de-santo pertencer á Oxum ou
Oxalá ou então, um casal de patos se for filho de Iemanjá. A feitura de um Bori
de Meio Quatro-Pés, vai depender da necessidade e/ou da exigência de seu
Orixá.
Bori de Quatro Pés:
Considerado como apronte de cabeça, principalmente quando junto ao Bori
ocorre o assentamento do Orixá de cabeça do filho-de-santo. Ocasião onde se
consagra não somente o Bori, mas também os objetos místicos: as ferramentas
e o ocutá onde será fixado o Orixá e a guia delegum, guia com vários fios de
contas que variam em número e cor de acordo com o axé do Orixá. É
sacrificado um animal de quatro patas de acordo com o Orixá do indivíduo. A
partir desta obrigação, aumentam as responsabilidades do filho-de-santo. O
período de reclusão varia de 06 até 20 dias ou mais.
Aprontamento:
O aprontamento corresponde ao estabelecimento oficial e definitivo do vínculo
entre iniciado e Orixá. Entretanto este vínculo precisa ser renovado de tempos
em tempos, pois o ato de colocar axorô na cabeça implica na idéia de alimentar
o Orixá e fortalecer o seu filho. O aprontamento sempre ocorre na obrigação
que chamamos de matança e o principal passo do aprontamento é o corte dos
animais ofertados a cada um dos Orixás a serem assentados em cima da
vasilha que contém os objetos a serem consagrados.
Obrigação do Peixe:
São sacrificados aos Orixás peixes vivos, pela manhã cedinho, e somente
depois que as obrigações de quatro-pés forem levantadas. O peixe varia de
acordo com o Orixá a receber a obrigação, e sua quantidade varia de acordo
com o axé de número do mesmo. Os Orixás de frente recebem pintado como
obrigação e os Orixás de praia recebem jundiá. No Quarto-de-santo são
imolados ao menos um peixe para cada Orixá e a ele é destinado: a cabeça, as
barbatanas, a cauda e um pouco de axorô (sangue). A carne dos peixes
imolados é servida com pirão (ebó) no almoço e deve ser consumida pelos
filhos que estão de obrigação e pelos que estão na casa, pois o ebó de peixe
simboliza fartura e prosperidade. Uma quantidade maior de peixes é preparada
frita para ser servida ao povo que comparecer ao batuque de encerramento ou
no Toque do Peixe - toque realizado na noite do corte do peixe, porém com
duração mais curta quando serão consumidos o ebó do peixe e peixes fritos,
além das comidas dos Orixás.
Axés de Obé e Ifá (Facas e Búzios):
O filho-de-santo é agraciado com os axés de Obé e Ifá, quando o Babalorixá ou
Yalorixá perceber o desenvolvimento, o empenho e o merecimento do filho
para com suas obrigações e o comprometimento com seus Orixás e com os
fundamentos da Religião. Significa que o Babalorixá tem extrema confiança no
filho que irá receber os axés, tanto em relação aos seus conhecimentos,
quanto ao seu caráter e honestidade, pois é através do Ifá que se auxilia quem
precisa de orientação e com a Obé realizamos os cortes para os Orixás. A
entrega destes axés ocorre no Batuque de terminação, geralmente no sábado
posterior ao Batuque Grande. Quando for entregue os axés, os objetos que
compõe o jogo de Ifá e as facas deverão ser colocados em uma bandeja
enfeitada com flores e folhas e se fará o ritual de entrega. O padrinho ou
madrinha segurará uma vela acesa testemunhando a obrigação. A partir de
então o filho-de-santo é considerado pronto, isto é tem sua obrigação completa
com o assentamento de todos os Orixás e os axés de obé e ifá. Depende agora
de seu desenvolvimento e aptidão e, com o consentimento de seu orixá-de-
cabeça e de seu Babalorixá poderá ter seu próprio Ilê.
A Festa do Batuque:
Após as obrigações cumpridas e encerrada a levantação, será tocada a festa, o
Batuque. O Babalorixá, ajoelhado em frente ao quarto de santo, juntamente
com todos seus filhos e demais convidados, toca o adjá, fazendo a chamada
de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo
a cada Orixá as coisas que a eles competem. Terminada a chamada, o
Babalorixá autoriza o tamboreiro a começar o toque, que correrá em ordem de
Bará a Oxalá. Todos que estão na roda dançam com as características de cada
Orixá ao qual está sendo tocada a reza.

Dentro da Festa existem rituais específicos que chamamos de “Axé”:


Axé da Balança ou Roda de Prontos:
Se a obrigação que originou a festa teve o corte de quatro-pés, deverá ser
realizada dentro das rezas para Xangô, a obrigação da balança ou cassum em
homenagem a Xangô e também por conter o axé de todos os Orixás em
equilíbrio. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes, inclusive
os Orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a roda da
balança. Neste ritual participam só os prontos colocados lado a lado, formando
uma roda de mãos dadas, dançam ao ritmo do tambor que vai gradualmente
aumentando de intensidade. É quando ocorre o maior número de ocupações
ao mesmo tempo. Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento:
vão ao Quarto-de-santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os Orixás
da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís
destinados unicamente pelos Orixás de frente. Há a crença de que a balança
não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até
que se inicie o alujá, sob pena de morte para algum filho da casa. Mas caso
haja alguma ameaça de arrebentar a balança, cabe ao alabê mudar
imediatamente o axé indo direto para a execução do Alujá de Xangô. Por causa
desta crença, muitas pessoas esquivam-se de participar da balança, porém é
uma obrigação muito forte e o axé que emana no salão durante a balança é
algo sentido por todos os presentes.
Alujá de Xangô e Alujá de Iansã:
Logo após a balança, os Orixás que estão no mundo dançam o Alujá do Xangô
e de Iansã, respectivamente. São ritmos do tambor, característicos destes
Orixás. Durante o alujá é contagiante o axé e a empolgação com que os orixás
dançam, proporcionando um momento de rara beleza.
O Aforiba ou a Dança do Atã:
O aforiba é o momento em que Ogum e Iansã demonstram a passagem em
que Iansã embebeda Ogum para fugir com Xangô. O Babalorixá convida um
Ogum e uma Iansã para fazerem o Aforiba, então ele coloca no centro do salão
duas garrafas contendo atã (aforiba) e as armas pertencentes a estes Orixás
(espadas). Iansã toma as garrafas e oferece á Ogum que logo se embebeda,
mas em seguida Ogum volta a si e vai atrás de Iansã empunhando sua espada.
Os dois lutam, mas Iansã consegue acalmar Ogum e os dois reconciliam-se e
voltam a dançar juntos. Tendo um Xangô no mundo poderá vir a fazer parte do
Aforiba. Xangô vem em defesa de Iansã e com seu machado de dois gumes
entra na luta com Ogum. Aí então, Iansã acalma os dois Orixás.
Axé do Ecó:
Terminado os Erís de Xapanã é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que
o despacho do axé de Bará, e do ecó de Bará Lanã e do Bará Lodê (alguidar
com água, farinha de mandioca e gotas de epô) e do ecó de Oxum (Vasilha de
vidro com farinha de milho, água, mel e perfume e flores) que servem como
imãs de energias negativas. A saída do ecó simboliza a saída de toda a
negatividade que existe no ambiente e nas pessoas presentes. Prepara o
ambiente para os erís dos Orixás mais velhos, que tem um toque mais brando.
Enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os erís, só que agora puxam
os erís dos Orixás da rua - Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Timboá - não há
movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo,
virando para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para
si a negatividade ali contida.
Roda de Ibeji:
No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibejis, no JÊe-Ijexá ela acontece
durante os erís de Oxum. É o momento em que as crianças participam da
obrigação e as mulheres que pretendem a maternidade ou que estão grávidas
fazem os seus pedidos e agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e
Xangô, distribuem aos que estão na roda e na assistência, as frutas e os doces
que estão no Quarto-de-santo.
Axé dos Perfumes:
Sendo Oxum a deusa da beleza adora perfumes, espelhos, em seus erís há
um momento especial em as Oxuns que estão no mundo recebem vidros de
perfumes, leques e espelhos. Dançam felizes, empunhando seus leques e
espelhos enquanto outras se banham com perfume e distribuem um axé
perfumado as pessoas que estão na roda e na assistência. Este axé faz uma
referência sobre a passagem em que Oxum está no rio banhando-se, num
ritual de beleza e encantamento.
Axés dos Presentes:
Geralmente acontece quase no final do Batuque, os Orixás que estão
aniversariando apresentam seus bolos, enquanto são saudados pelos
presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é
distribuído juntamente com os mercados. São de costume também, os
convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por
ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são
flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia a dia Ilê...
O Axé do Alá de Oxalá:
Pertence aos erís do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos
de santo com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Alá branco.
Enquanto a roda e os erís continuam, todos passam por baixo do Alá pedindo
ao Orixá do branco a paz e a proteção.
Os Axêres:
Conforme o Batuque vai acontecendo, os Orixás chegam e "sobem", vão
embora. Os orixás são despachados, geralmente por filhos de santo mais
antigos e experientes do Ilê, porém eles ficam em "axêre" ou "axêro" , estado
intermediário entre a ocupação do Orixá e da pessoa propriamente dita. Os
axêres agem como crianças, tomam refrigerante e adoram fazer brincadeiras
com as pessoas, pois seu linguajar é confuso e eles trocam bastante as
expressões. É um momento de descontração, porém deve ser mantido o
respeito, pois apesar de fazerem brincadeiras, os axêres ainda conservam a
essência do Orixá.
Mesa de Ibeji:
A obrigação da Mesa de Ibeji é feita no Batuque de Encerramento e nas
ocasiões em que o Babalorixá ou Yalorixá acharem necessárias. É realizada no
início da noite e antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam
crianças de zero á doze anos, além de mulheres grávidas, ou que queiram
engravidar. São cantados erís de Bará, de Xangô e Oxum (que representam os
Ibeji) e dos Orixás velhos. A Mesa de Ibeji é riquíssima de detalhes e constitui
uma obrigação religiosa com muito axé e beleza. Significa agradar e
reverenciar aos Orixás das crianças que simbolizam pureza, paz e
prosperidade. Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela colocam-
se frutas, amalá, flores, uma quartinha, brinquedinhos, bolo, doces e
refrigerantes. As crianças sentam-se ao redor da toalha, as menores
acompanhadas por um adulto. Servem-se para as crianças: primeiramente
canja de galinha, depois os doces e refrigerante. Após terem comido o que foi
servido, são dados ás crianças uma colher de mel e um gole de água. Depois
são lavadas e enxugadas as mãos das crianças. Terminadas estas etapas as
crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por Orixás que
tenham chegado e conduzidos a formarem uma roda ao som de erís de Xangô.
Encerrada a Mesa, os Orixás que chegaram recolhem os itens que ainda
restam na mesa e levam até o quarto de santo. Os brinquedos são distribuídos
entre as crianças que participaram.
Toque de Encerramento:
É o toque que encerra as atividades públicas do batuque grande. Tem uma
proporção um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelo
corte do peixe e do corte de confirmação, quando são imoladas somente aves
aos Orixás. A cor dos axós é preferencialmente o branco e pode acontecer a
Mesa de Ibedji antes do início do toque. É nesta noite que serão dados os axés
de Obés e Ifá. Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação
do corte de confirmação.

A Levantação da Obrigação:
Terminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação,
termo que se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de
corte que estavam arriadas, limpa-las e guarda-las nas prateleiras dentro do
quarto de santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, as
obrigações são guardadas e ocultas por cortinas que geralmente tem a sua
frente velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros objetos sagrados
pertencentes aos Orixás.
O Passeio:
O término da obrigação para os filhos de santo que estão em reclusão é o
passeio no dia posterior a Levantação. Pela manhã, o Babalorixá ou Yalorixá
os leva até a porta da frente do Ilê e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua),
liberando-os para saírem fora dos limites do Ilê. Vão até o centro visitar lugares
de grande significado: a igreja, o mercado público (onde compram cereais,
grãos, e velas ) e o rio Guaíba. Em seguida, vão visitar algum Ilê conhecido
onde batem cabeça cumprimentando os Orixás do Ilê e lá depositam parte das
compras feitas no mercado. De volta ao Ilê, batem cabeça no quarto de santo e
arriam o restante das compras feitas. Cumprimentam o Babalorixá ou Yalorixá
na nova condição de filho de santo.
As Quinzenas:
As quinzenas são obrigações menores que duram normalmente dois ou três
dias onde é feito a matança e o toque. É frequentado por um número não muito
grande de pessoas e geralmente estão associadas a alguma data
comemorativa ou a obrigação de bori de filhos de santo do Ilê. Há o toque das
rezas, as comidas de santo são ofertadas aos Orixás e as tradicionais comidas
servidas ao povo: canja, canjica branca e amarela, amalá. Por ser uma
obrigação menor, exige um mínimo de aves a serem sacrificadas. A carne das
aves é consumida nos intervalos do toque do tambor, servida enfarofada ou na
canja, comidas tradicionalmente ofertadas às pessoas que comparecem ao
ebó. Há ainda as "quinzenas secas", quando não há sacrifício de animais.
#axeriogrande

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