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Redimindo A Filosofia - Vern S. Poythress
Redimindo A Filosofia - Vern S. Poythress
REDIMINDO A FILOSOFIA
UMA ABORDAGEM TEOCÊNTRICA
ÀS GRANDES QUESTÕES
VERN S. POYTHRESS
Na forma caracteristicamente sensata e cativante do autor, este volume faz
uma contribuição oportuna e bem-vinda ao antigo debate sobre a relação
entre a filosofia e a teologia cristã. Ao fazê-lo, fornece um argumento sólido
e convincente de que as questões básicas que a filosofia coloca encontram
suas respostas fundamentais apenas na Bíblia, a Palavra escrita de Deus. Em
meio a tantos pensamentos confusos hoje sobre esses assuntos, recomendo
Redimindo a filosofia a todos os que se preocupam em levar “cativo todo
pensamento à obediência de Cristo”.
― Richard B. Gaffin Jr., Professor emérito de Teologia Bíblica e
Sistemática, Westminster Theological Seminary, Pensilvânia, EUA.
Poythress acertou de novo. Este livro contém uma grande quantidade de
novas ideias e um cuidadoso trabalho filosófico cristão. É a integração mais
clara que Poythress faz entre a linguística, filosofia e exegese. Certamente
este livro contém as análises mais incisivas de maçãs e marcadores que você
encontrará. O ponto, claro, é que todas as coisas no mundo de Deus refletem
a riqueza do Deus triúno.
― John M. Frame, Professor emérito de Teologia Sistemática e Filosofia,
Reformed Theological Seminary, Orlando, EUA.
Assuntos de filosofia são muitas vezes complexos e carregados de questões
desafiadoras. Os cristãos se perguntam se devem evitar completamente a
filosofia e simplesmente ficar com a Bíblia, ou se há algo que se pode ganhar
a partir do estudo filosófico. Empregando a metodologia teológica de John
Frame, o Dr. Poythress escreveu uma útil pesquisa introdutória sobre a
relação entre a filosofia e os ensinamentos da Escritura.
― J. V. Fesko, Deão acadêmico e professor de Teologia Sistemática e
Histórica, Westminster Theological Seminary, Califórnia, EUA.
Copyright © 2014, de Vern S. Poythress
Publicado originalmente em inglês sob o título
Redeeming Philosophy: A God-Centered Approach to the Big Questions
pela Crossway
1300 Crescent Street, Wheaton, Illinois, 60187, EUA.
1ª edição, 2019
PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) salvo indicação em contrário.
ISBN: 978-85-69980-98-8
Sumário
Parte 1 — PROBLEMAS BÁSICOS NA INVESTIGAÇÃO DAS GRANDES QUESTÕES
1. As grandes questões sobre a vida
2. A Bíblia como um recurso
3. Abordagens opostas à filosofia
Parte 2 — METAFÍSICA: O QUE EXISTE?
4. Filosofias inadequadas
5. A metafísica cristã
Parte 3 — PERSPECTIVAS
6. Apresentando as perspectivas
7. Multiperspectivismo
8. Perspectivas sobre Deus
9. Perspectivas sobre o mundo
10. Perspectivas através da linguagem
11. Implicações para a teologia
Parte 4 — EXEMPLOS DE ANÁLISE METAFÍSICA
12. A metafísica de uma maçã
13. A metafísica da caminhada
14. A metafísica de um marca página
15. Perspectivas em combinação
Parte 5 — OUTRAS SUBDIVISÕES DA FILOSOFIA
16. Ética
17. Epistemologia
18. A alma, a mente e a psicologia
19. Lógica
20. Estética
21. Ramos especializados da filosofia
Parte 6 — INTERAGINDO COM FILOSOFIAS DEFEITUOSAS
22. O desafio das filosofias
23. Immanuel Kant
24. Edmund Husserl
25. Filosofia analítica
Conclusão
Apêndice A
Apêndice B
Apêndice C
Bibliografia
Parte 1
PROBLEMAS BÁSICOS NA
INVESTIGAÇÃO DAS GRANDES
QUESTÕES
1. As grandes questões sobre a vida
A vida tem grandes questões: quem somos nós, como seres humanos? O que
é único sobre a condição de ser humano? Nossa existência tem um propósito,
o mundo tem um propósito? Como devemos conduzir nossa vida? O que são
padrões morais, e de onde eles vêm? Por que existe alguma coisa? Qual é a
natureza do mundo? Como sabemos de alguma coisa? Existe um Deus?
Existem muitos deuses? Existe uma vida após a morte? Como ela é?
Na história do mundo ocidental, os filósofos têm buscado investigar
algumas dessas grandes questões sobre a natureza do mundo. A palavra
filosofia vem da palavra grega philosophia, que significa “amor à sabedoria”.
Os filósofos buscam sabedoria, especialmente sabedoria sobre as grandes
questões.[1]
Por outro lado, as respostas às questões metafísicas têm uma influência sobre
a epistemologia e a ética. Suponha que Suelen tenha encontrado o que
considera ser respostas fundamentais sobre a natureza do mundo. O mundo a
inclui; assim, ela também chegou a algumas respostas sobre sua própria
natureza como ser humano. Com respostas desse tipo, ela já percorreu um
longo caminho para responder como ela, enquanto ser humano, pode interagir
com o mundo de tal forma que possa obter conhecimento.
Por exemplo, se Suelen acredita, como uma verdade metafísica, que
Deus existe, ela pode argumentar que Deus fez tanto ela quanto o mundo ao
seu redor e que Deus a equipou com uma capacidade de conhecer este
mundo, pois lhe deu uma mente e criou uma harmonia intrínseca entre ela e o
mundo. Ou suponha que ela tenha chegado a conclusões materialistas sobre a
natureza do mundo. Provavelmente acreditará que ela é um produto da
evolução darwiniana sem propósito. A evolução a equipou com a capacidade
de sobreviver, e a capacidade de conhecer é um subcomponente da
capacidade mais fundamental de sobreviver.
As visões metafísicas de Suelen também têm implicações para a ética.
Se ela acredita que Deus existe, pode facilmente concluir que Deus é a fonte
última dos padrões morais. Se ela é uma darwinista materialista, pode
concluir que a moralidade é uma ilusão psíquica para nos refrear de destruir
uns aos outros e acabar com a raça.
Queremos explorar como obter respostas sobre a natureza das coisas. Mas
nossas respostas irão diferir da maior parte da história da filosofia, pois
estamos buscando respostas da Bíblia, e não meramente tentando raciocinar
por conta própria. O ensino da Bíblia tem implicações sobre como
respondemos as grandes questões.
Por que deveríamos ouvir a Bíblia mais do que qualquer outro livro?
A Bíblia reivindica ser a própria palavra de Deus dirigida a nós. Ela faz uma
reivindicação das mais importantes. Mas deveríamos crer nela? Em nossos
dias se levantam vozes céticas. Não podemos considerar todas as questões
céticas sem fazer um longo desvio, o que resultaria em outro livro. Eu prefiro
direcionar os leitores a obras existentes que abordam as questões dos céticos.
[6]
Independentemente se você aceita ou não que a Bíblia é a Palavra de Deus,
convido-o a ver como ela fornece respostas às grandes questões.
O papel da Bíblia
Quando Cristo opera em nós uma mudança através do Espírito Santo,
passamos a crer na Bíblia cada vez mais e a entendê-la cada vez melhor. A
partir da Bíblia, aprendemos que Deus criou os seres humanos em um estado
de bondade ou integridade (Gn 1-2). Os seres humanos não estavam desde
sempre suprimindo a verdade, se rebelando contra Deus e tentando escapar
do seu senhorio.
Mesmo quando os seres humanos eram íntegros, Deus pretendia que
eles não vivessem independentemente dele. Ele nos criou para termos
comunhão consigo. Ele falou com os seres humanos em Gênesis 1.28-30 e
2.16-17. Seus discursos revelavam quem ele era e também quais eram seus
padrões para as ações humanas. Ele disse a Adão que não comesse da única
árvore especial no jardim do Éden, a “árvore do conhecimento do bem e do
mal” (Gn 2.17). Deus também indicou, na forma de resumo, as tarefas nas
quais os seres humanos deveriam se envolver (Gn 1.28-30). Deus pretendia
que o pensamento humano se atentasse ao que ele dizia na comunicação
verbal, digerindo e honrando isso.
A primeira comunicação foi oral. Mas posteriormente Deus escreveu
os Dez Mandamentos em forma escrita (Êx 24.12; Dt 5.22). Então
comissionou Moisés para escrever muito mais (Dt 31.24-26). Essa escrita
inicial era a primeira parte de um cânon escrito, ou padrão, que deveria guiar
e instruir as pessoas que pertenciam a Deus. A Bíblia é o cânon em forma
completa.[11] Muito mais poderia ser dito, mas não precisamos buscar os
detalhes. Como o livro da instrução de Deus, a Bíblia fornece respostas
importantes para a vida humana e para o significado humano.
1
Antítese
Primeiro, há uma diferença no coração. A Bíblia indica que Cristo envia o
Espírito Santo para dar ao seu povo escolhido um “coração novo” (Ez 36.26).
Como resultado, eles desejam obedecer a Deus em vez de se rebelar contra
ele — o que faziam antes. Eles se veem amando a Deus, compreendendo e
amando o que a Bíblia diz ao invés de sentir que ela não faz sentido ou que
suas ideias lhes são desagradáveis. Deus levou a uma mudança fundamental,
uma mudança da rebelião a nível do coração contra Deus, e de um desejo de
independência dele, para um amor a nível do coração por Deus.
Às vezes as pessoas usam a expressão nascer de novo para descrever
uma experiência subjetiva de mudança ou renovação. E, de fato, o Espírito
Santo opera a renovação (Jo 3.3-8). Mas essa renovação é mais profunda do
que podemos ver ou sentir. Além disso, as pessoas podem ter experiências
religiosas de mudança que ainda estão aquém da renovação espiritual que a
Bíblia descreve. A Bíblia está falando da verdadeira mudança que o Espírito
Santo opera no coração de uma pessoa e não simplesmente de bons
sentimentos ou de uma experiencia religiosa vaga. Nem todo mundo que
alega ter nascido de novo realmente nasceu de novo, no sentido bíblico. As
pessoas que nascem de novo são também chamadas de regeneradas
(praticamente um sinônimo para nascer de novo).
As pessoas regeneradas são diferentes das não regeneradas. A
diferença é fundamental, não superficial. As primeiras amam a Deus,
enquanto as outras ainda estão em rebelião. Aquelas desejam se submeter ao
que Deus diz na Bíblia, ao passo que as outras não. Umas desejam obedecer a
Deus, enquanto as outras não. Aquela crê em Cristo para a salvação,
enquanto a outra não. Chamarei, portanto, as pessoas não regeneradas de
incrédulas, significando que elas não creem em Cristo. Elas, todavia, creem
em alguma coisa — seja em outra religião, no naturalismo, no ateísmo, ou
talvez apenas nelas próprias. Há um contraste ou antítese radical entre os dois
tipos de pessoas. E essa antítese afeta como elas pensam e como raciocinam,
pois aquela pessoa quer pensar em submissão a Deus, enquanto a outra não.
Essa antítese é real, mas é combinada com as inconsistências e falhas
práticas de ambos os lados. Nesta vida, as pessoas regeneradas ou crentes não
estão totalmente livres do pecado. E os pecados que permanecem incluem
pecados intelectuais. Nem seu pensamento, nem suas atitudes, nem seu
comportamento são consistentemente íntegros.
Por outro lado, os incrédulos, em seus corações, não são consistentes
com seu comprometimento em oposição a Deus. Afinal, eles ainda são
imagem de Deus, e Deus ainda lhes manifesta bons dons a ele, incluindo dons
intelectuais. Eles não são tão ruins quanto poderiam ser, enquanto os crentes
não são tão bons quando poderiam ser. Na verdade, alguns incrédulos podem
ser pessoas muito morais e admiráveis, do ponto de vista de seu
comportamento externo. Elas podem ser gentis no falar e retas no agir. Mas
suas boas ações ainda estão contaminadas com o amor próprio. Sua
motivação subjacente ainda é corrupta. No fundo elas não estão servindo a
Deus, mas servindo a si próprias — talvez ao seu orgulho, talvez à sua
reputação, talvez ao seu conforto (por exemplo, podem querer uma
consciência confortável).
Exceto no período medieval, a maioria dos filósofos ocidentais não
tem sido composta de cristãos totalmente comprometidos tentando “leva[r]
cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.5). Alguns podem
ter chamado a si próprios de cristãos. Mas nossa discussão sobre a
regeneração deixa claro que o verdadeiro cristianismo, que significa seguir a
Cristo como Senhor, não é meramente uma questão de dar a si mesmo o
nome de cristão ou de passar pelo rito cristão do batismo. O verdadeiro
cristianismo começa com a obra do Espírito Santo no coração de uma pessoa.
Portanto, os produtos do pensamento dos filósofos são mistos. Até
mesmo dos filósofos não cristãos resultam algumas percepções positivas,
pois eles usufruem das boas dádivas de Deus. Ainda vivem no mundo de
Deus e não podem escapar do fato de que são feitos à imagem de Deus. Eles
querem ser autônomos, mas não conseguem, pois são continuamente
dependentes de Deus. Há por parte deles uma pretensa autonomia, uma luta
pela independência que é continuamente frustrada pela presença de Deus.
Os bons produtos dos não cristãos são às vezes chamados de produtos
da graça comum. Os produtos vêm da graça porque todos nós somos
culpados de pecado e rebelião e não merecemos as coisas boas que
recebemos de Deus. A palavra comum é usada para indicar que Deus distribui
esses dons tanto para crentes como para incrédulos:
… porque ele [Deus] faz nascer o seu sol sobre maus e bons e
vir chuvas sobre justos e injustos. (Mt 5.45)
… contudo, [Deus] não se deixou ficar sem testemunho de si
mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações
frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria. (At
14.17)
Podemos ver que a graça comum de Deus inclui, em princípio, não apenas
dons físicos como o envio da chuva, mas também dons intelectuais. Deus deu
a algumas pessoas percepções aguçadas sobre o mundo. Portanto, a filosofia
incrédula contém excelentes percepções. Por outro lado, os filósofos que são
cristãos produzem reflexões que são inevitavelmente heterogêneas, pois os
cristãos ainda não estão livres do pecado.
Buscando respostas
Outros livros na tradição da apologética pressuposicional têm lidado
extensivamente com a maneira como conduzimos discussões com incrédulos
de diferentes tipos. Novamente não passaremos por esse conteúdo aqui. Em
vez disso, queremos buscar clareza mental para nós mesmos como crentes.
Queremos empregar todos os recursos da Bíblia para buscar conhecimento. A
própria Bíblia nos encoraja a fazer uma busca que tenha em vista Deus e sua
instrução, ao invés de seguir uma rota autônoma:
Os incrédulos podem pensar que somos insensatos, pois para eles só se pode
encontrar sabedoria na autonomia. Eles não confiam na palavra de Deus na
Bíblia e, portanto, não estão confiantes de que estamos antes crescendo na
sabedoria do que a deixando. De fato, aos seus olhos parecemos estar
abandonando a sabedoria no processo mesmo de nos submeter à Bíblia sem
questionar o que ela diz. Eles dirão que somos “acríticos” e “dogmáticos”.
Mas, é claro, eles por sua vez são acríticos e dogmáticos em seu
compromisso com a autonomia. Não nos deixemos desencorajar pelas críticas
que já pressupõem um modo de vida oposto ao que encontramos em Cristo.
Este livro, portanto, é escrito basicamente para os cristãos. Queremos
ver o que a Bíblia ensina e aonde Deus nos leva com seu ensino, em vez de
debater interminavelmente sobre nossos compromissos básicos em
comparação com os compromissos básicos dos não cristãos. Se você não é
cristão, ainda é bem-vindo para ler, é claro. Você pode aprender como é ser
um cristão na busca de sabedoria. E ao longo do caminho poderá encontrar
percepções individuais das quais acabe gostando e outras das quais acabe não
gostando. Pode ser que Deus o confronte ao longo do caminho e você seja
transformado. Mas não estou escrevendo basicamente com o leitor não
cristão em vista, e estaremos em busca da verdade com base em
pressuposições cristãs, que em alguns pontos são muito diferentes das formas
usuais do mundo.
Parte 2
METAFÍSICA: O QUE EXISTE?
4. Filosofias inadequadas
Agora nos voltamos especificamente para a área da filosofia chamada
metafísica, que investiga a natureza das coisas. As respostas aqui fazem
diferença. Podemos ilustrar isso considerando primeiro algumas respostas
não cristãs.
Materialismo
O uno e o múltiplo
O materialismo também tem uma dificuldade com o problema clássico do
uno e do múltiplo. Esse problema incomoda muitas filosofias. Em que
consiste o problema? O mundo contém tanto unidade (o uno) quanto
diversidade (o múltiplo). Ele contém muitos seres humanos e uma
humanidade. Contém muitos cachorros e uma espécie, a espécie de cachorro.
Por quê? E qual é a relação última entre os dois, entre a unidade e a
diversidade? O problema do uno e do múltiplo suscita a pergunta: o que é
anterior, o uno ou o múltiplo, a unidade ou a diversidade? No nível mais
fundamental, o mundo é uma coisa ou muitas coisas? E como o uno se
relaciona com o múltiplo?
O materialismo moderno retrata o universo como composto de muitas
partículas (bits) de matéria. Assim, a princípio parece que o seu ponto de
partida fundamental é com o múltiplo, isto é, com as muitas partículas. Ao
mesmo tempo, as muitas partículas caem em classes regulares. Todos os
elétrons são iguais, todos os prótons são iguais. A semelhança é uma
expressão de unidade. De onde vem a unidade? Por que todos os elétrons são
iguais?
Neste ponto, o materialismo moderno apelaria à física das partículas
elementares. Um físico poderia dizer que todos os elétrons são iguais porque
todos obedecem às mesmas leis físicas. Se assim for, parece que as leis
físicas, que expressam unidade, são anteriores à diversidade de elétrons
distintos. Como então os muitos elétrons passam a existir através de um
conjunto de leis físicas? Como o múltiplo vêm do uno?
Um físico poderia dizer que as leis físicas, em seu significado interno,
já preveem a possibilidade de muitos elétrons. Mas isso não é uma explicação
completa. Mera possibilidade não é o mesmo que realidade. Equações, por si
só, não produzem matéria. Como, então, as muitas partículas de matéria vêm
à existência?
Se pudermos de alguma forma superar esse problema, outras formas
do problema do uno e do múltiplo ainda nos confrontam. Para a sua
expressão, as leis físicas dependem da matemática, que depende do conceito
de múltoplo que está envolvido nos números. De onde vêm os números? Qual
é a relação do uno e do múltiplo nos números? E por que o mundo da
matéria, que é conceitualmente distinto do mundo dos números, concorda
com o mundo dos números? Aqui temos outro tipo de diversidade — a
diversidade expressa na distinção entre dois “mundos”: o “mundo” do
número e o “mundo” da matéria. Também temos unidade, ou seja, a
coerência entre os dois. Por quê?
Um materialista poderia reconstituir nosso conhecimento dos números
retroativamente até nossa experiência com maçãs e laranjas distintas. Mas
essa distinção nas maçãs é um exemplo dentre muitos, baseada nas muitas
partículas de matéria nas maçãs. Voltamos à matéria. A diversidade na
matéria deriva da diversidade nas leis, e a diversidade nas leis deriva da
diversidade nos números, e a diversidade nos números deriva da diversidade
na matéria. Estamos apenas andando em círculos. Nesse nível o materialismo
realmente não oferece nenhuma explicação última da unidade ou diversidade
nem uma explicação de por que existe matéria, com unidade e diversidade, e
por que existem leis, com sua unidade e diversidade.
Tales
Podemos ver os problemas básicos da filosofia de maneira ainda mais
simples se considerarmos um argumento anterior da filosofia grega. O antigo
filósofo grego Tales supostamente disse que “tudo é água”. Essa proposta
tem dificuldades parecidas com as que já vimos no materialismo moderno.
(De fato, Tales nos fornece uma versão antiga do materialismo.) A visão de
Tales tem dificuldades tanto para explicar a existência das pessoas como para
justificar o uno e o múltiplo. A dificuldade com as pessoas é a habitual.
Como as pessoas surgiram e como podem ter sentido se tudo começou com a
água? Sem um Deus pessoal ou deuses para trazer pessoas humanas à
existência, como podemos entender a singularidade das pessoas? Como
podemos ter moralidade se começamos com uma base materialista? E como
Tales pode saber que tudo é água se ele e tudo o mais se reduz a água?
O problema do uno e do múltiplo também assola a tese de Tales. A
tese aparentemente afirma partir da “água” como a “coisa” única inicial. Mas,
se essa coisa é genuinamente una, como ela pode se diferenciar? Como
podemos obter muitas coisas distintas de muitos tipos diferentes? Se tudo é
água, aparentemente devemos concluir que tudo permanece água, e então
estamos dizendo que “água é água”. Temos uma “explicação” que não
explica.
Ou suponha que partimos de múltiplo em vez de uno. É possível
interpretar a afirmação enigmática de Tales como significando que devemos
partir com pensamentos sobre a diversidade de “todas” as coisas. Todas as
coisas, quando as observamos em sua diversidade, têm de alguma forma água
como uma unidade subjacente. Mas no que consiste essa unidade que une
toda a diversidade? Deve ser uma unidade que já esteja de alguma forma em
cada coisa; assim, não é “água” no sentido literal do termo. O que parece
estarmos dizendo é que “tudo é tudo”. Mais uma vez, temos de nos perguntar
se realmente estamos explicando alguma coisa.
Platão
De acordo com Platão, outro filósofo grego, forma e matéria constituem a
estrutura mais básica do mundo. As formas são objetos abstratos eternos do
pensamento. A ideia do bem deve ser a mais fundamental, enquanto que
outras ideias incluem beleza, justiça, piedade e virtude. Essas ideias ou
“formas” são imperfeitamente expressas nos casos da beleza ou justiça na
Terra. Por exemplo, a ideia eterna e abstrata de um cavalo é expressa nos
cavalos específicos que nós observamos. As expressões na Terra são
diferenciadas porque todas elas têm matéria em si. A forma, como a forma de
um cavalo, fornece a unidade última, enquanto a matéria, que é moldada pela
forma, resulta na pluralidade de muitos cavalos.
Assim como as duas filosofias que acabamos de considerar, a
abordagem de Platão tem dificuldade para explicar as pessoas. O universo
começa puramente com coisas impessoais — as formas são imateriais,
abstratas e, portanto, impessoais. Além disso, a matéria é concreta e
impessoal. Assim, o significado pessoal evapora. Platão pensava que toda
alma humana tinha preexistência eterna. De certa forma, isso é como tornar a
própria alma divina ou deificada. Mas cada alma deve encontrar seu
significado e sua satisfação no conhecimento e na contemplação das formas,
que são impessoais. O que é pessoal é na verdade engolido num mundo
impessoal.
Platão também tinha um problema com o uno e o múltiplo. Cada
forma, como a forma de um cavalo, é uma em relação às suas muitas
corporificações materiais, os cavalos específicos. Mas por que o múltiplo
diferem uns dos outros se são todos produtos de uma forma? A diferença só
pode ser interpretada como uma imperfeição. Mas de onde vem a
imperfeição? E como a matéria, concebida como eternamente existente, se
relaciona com as formas?
Platão ofereceu uma história mitológica sobre um demiurgo, uma
figura deificada (uma espécie de deus finito) que fazia coisas individuais
copiando as formas. Mas de onde veio o demiurgo, e por que seu trabalho era
imperfeito? Não está claro se Platão pretendia que sua história fosse tomada
como uma descrição real ou como um tipo de mito para expressar algo além
da expressão. Em qualquer dos casos, ela deixa a questão do uno e do
múltiplo sem uma explicação definitiva, porque o demiurgo precisa ser
explicado: ele é um ser que aparentemente é distinto tanto da matéria como
das formas, e todavia tem relações significativas com ambas. Sua existência e
seus relacionamentos já pressupõem a unidade e a diversidade, em vez de
explicá-las.[16]
Politeísmo
5. A metafísica cristã
Agora vamos considerar a metafísica a partir do ponto de vista cristão. A
metafísica estuda, em suas características mais básicas ou fundamentais, o
que existe. Alguns poderiam dizer que ela estuda o ser.
Então, o que existe? A Bíblia nos diz em seus versículos iniciais.
Deus sempre existe. No princípio ele criou o mundo. O mundo existe porque
Deus o trouxe à existência. Deus é o Criador, enquanto o mundo e todas as
coisas nele são criados. Deus não deve ser confundido com o mundo. Ele nos
chama para o adorarmos e não a qualquer criatura (Êx 20.3-6). Os teólogos,
em sintonia com isso, falam da “distinção Criador-criatura”.
Podemos agora prosseguir com detalhes mais específicos. O livro de
John Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, se concentra em
epistemologia, não em metafísica.[17] Contudo, as duas estão relacionadas. Na
parte 1, seu livro discute “Os objetos do conhecimento”. Os objetos do
conhecimento são as coisas como elas são. E Frame nos diz o que elas são:
Deus, o mundo e nós mesmos. É isso.
Evidentemente, nós mesmos somos criaturas de Deus, e assim, se
tratamos a palavra mundo de forma ampla, ele nos inclui. Assim, temos Deus
e o mundo. O mundo é tudo o que Deus criou, incluindo nós mesmos. Mas
por causa do papel especial que cada um de nós desempenha no próprio
conhecimento, é conveniente para Frame distinguir entre o indivíduo e o
mundo ao seu redor. Podemos também distinguir entre os seres humanos
como um grupo e tudo o mais na criação, por causa do papel especial que os
seres humanos desempenham (Gn 1.26-30).
Como Frame sabe que essas três coisas — Deus, o mundo e nós
mesmos — existem? Ele não diz explicitamente, mas está claro que ele sabe.
A Bíblia menciona todas as três.[18]
Assim, temos um começo. Mas o que mais podemos dizer?
Mais a saber
Os seres humanos são finitos. Eles não sabem tudo. E com o tempo podem
crescer em conhecimento. Podemos, portanto, preencher cada vez mais
detalhes sobre Deus, sobre o mundo e sobre nós mesmos à medida que
avançamos no tempo. O processo continua enquanto permanecermos neste
mundo.
A Bíblia tem um papel fundamental no processo, pois é a
comunicação de Deus a nós. Como já observamos, Deus jamais pretendeu
que os seres humanos vivessem pela mera observação do mundo. Mesmo
antes da queda no pecado, Deus lhes falou. E a Bíblia é uma continuação do
seu discurso, agora disponível onde quer que seja traduzida.
A Bíblia tem um papel no processo em que Deus nos redime do
pecado, incluindo os pecados intelectuais. Assim, ao longo da nossa vida na
Terra, precisamos continuar a usar a orientação da Bíblia em todas as áreas da
vida. Mas também é verdade que podemos aprender pela observação do
mundo e pela comunicação com os outros seres humanos. A ciência, as
humanidades e as artes podem nos trazer bênçãos. Elas contêm muitos
benefícios da graça comum. Mas visto que estão contaminadas pelo pecado,
precisamos testá-las usando a Bíblia como nossa linha de prumo.
Colocando de outra forma, o que a Bíblia diz sobre o mundo fornece
um começo em vez de um fim. A própria Bíblia atribui tarefas à humanidade:
“… multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai” (Gn 1.28). Incluída
neste programa está uma tarefa de exploração científica, que Adão começou
quando deu nome aos animais (Gn 2.19-20).[19] Os seres humanos devem
descobrir e aprender muito mais sobre Deus e seu mundo do que sabiam no
começo. Idealmente, eles fazem essa exploração em serviço a Deus, com
amor por Deus (Dt 6.5) e em comunhão com Deus. Essa comunhão inclui a
recepção fiel e a confiança na comunicação verbal que Deus dá aos seres
humanos.
Tipos de criaturas
Gênesis 1-2 fornece instruções fundamentais para guiar o aprendizado
humano sobre o mundo. Como vimos, podemos começar dizendo que
existem Deus, o mundo e nós mesmos. Gênesis 1 dá então mais detalhes. Ele
indica que Deus criou a luz (Gn 1.3). Deus também fez várias regiões
distintas: o firmamento, chamado de céu (1.8, NVI); a parte seca, chamada de
terra (1.10, NVI); e o conjunto das águas, chamado de mares (1.10).[20] Ele
também criou tipos específicos de criaturas que habitam essas regiões. Fez
várias plantas, que se reproduzem “de acordo com as suas espécies” e
crescem na terra seca (1.11-13, NVI). No quarto dia fez o sol, a lua e as
estrelas nos céus (1.14-19). As criaturas do mar povoam as águas, e as aves
voam sob o firmamento dos céus (1.20-23). Os animais terrestres vagam pela
terra (1.24-25). Por fim, para coroar tudo, ele fez a humanidade à sua imagem
(1.26-30).
Esses atos criativos de Deus fizeram um começo maravilhoso. E
temos um começo maravilhoso para o nosso conhecimento quando ouvimos,
submissos, a palavra de Deus. Sabemos que Deus fez todos esses tipos de
coisas e que podemos admirar sua sabedoria, poder e bondade demonstrados
no que ele fez (Rm 1.20).
Hoje em dia muitas pessoas se perguntam sobre a relação de Gênesis
1 e 2 com a descrição científica moderna. Elas podem ser céticas. Podem
pensar que Gênesis 1 e 2 representam apenas um relato obsoleto e primitivo
das origens. Mas Gênesis 1 e 2 na verdade fornece uma base para a ciência ao
indicar que (1) o mundo tem ordem por causa do plano e poder de Deus; (2)
nós, como seres humanos, fomos comissionados a crescer em entendimento e
domínio; e (3) porque somos feitos à imagem de Deus, podemos ter
confiança de que, de um modo fundamental, nossa mente está em sintonia
com a mente de Deus. É claro que podemos cometer erros ou ter visões
distorcidas, mas ainda podemos ter uma confiança subjacente de que o
conhecimento é possível e que, pela graça de Deus, ele pode tornar-se
acessível.
Assim, temos esperança de entender o mundo. Nossa mente está em
sintonia com o caráter do mundo porque Deus fez tanto o mundo como nós
mesmos. Se interpretadas corretamente, a ciência e a Bíblia se encaixam.[21]
Trabalhar os detalhes requer paciência, mas obtemos um melhor
entendimento do que se tivéssemos uma ciência sem uma base profunda.
Também podemos ver de que forma a Bíblia afirma a importância dos
seres humanos como pessoas. Somos feitos à imagem de Deus e temos a
capacidade de ouvir Deus e ter comunhão com ele porque Deus é pessoal. O
caráter eternamente pessoal de Deus forma o fundamento último para o
significado das pessoas finitas que ele criou.
Gênesis 1 nos oferece um resumo compacto. Ele indica que existem
muitos tipos de plantas e animais, mas não nos dá todos os detalhes. É um
relato escasso.[22] Podemos notar que ele não menciona os anjos. Passagens
posteriores na Bíblia suprem detalhes indicando que os anjos existem (Mt
28.2). Espíritos malignos também existem; eles foram originalmente criados
como anjos bons, mas decaíram (Jd 6). Um relato mais completo também
poderia ter mencionado plantas marinhas, como as algas. Utilizando
microscópios, acrescentamos agora ao nosso conhecimento a noção de
animais e plantas microscópicos (por exemplo, algas unicelulares). A
expansão do conhecimento humano para incluir esses novos tipos de criaturas
é consistente com o papel de Gênesis 1-2 em nos dar um começo para a
investigação humana.
Gênesis 1 e 2 indicam que Deus criou o mundo como um todo
ordenado, que exibe o poder de Deus. Dado o seu poder, podemos ver que é
possível que ele tenha criado outros mundos dos quais nada sabemos —
outros universos. É possível porque Deus é infinito em poder. Mas não
sabemos de outros mundos nem precisamos saber. A Bíblia nos instrui em
um nível mais prático. Como um relato escasso, ela se limita ao que
precisamos saber quando começamos a interagir com o nosso mundo.
Também é possível que Deus tenha criado seres vivos em outros
lugares no universo. Mais uma vez, não sabemos. Os cientistas se perguntam
se finalmente encontrarão algum ser vivo em Marte, ou talvez até numa das
luas de Júpiter ou Saturno. Ou quem sabe haveria vida em outro sistema
planetário em torno de alguma estrela distante? Isso é com Deus. Ele pode
criar qualquer tipo de vida que desejar. Os próprios capítulos 1 e 2 de Gênesis
não pretende ser exaustivo, mas é programático. É um resumo escasso,
escrito para incluir leitores e ouvintes, tanto doutos quanto indoutos, em todas
as culturas.
Parte 3
PERSPECTIVAS
6. Apresentando as perspectivas
Podemos explorar ainda mais as diferenças entre as várias passagens
introduzindo três perspectivas que ajudam a destacar as diferenças. Tenho em
mente as três perspectivas de John Frame sobre ética, que precisam de uma
breve explicação.
Raízes na Trindade
Os seres humanos estão unidos assim como são diversificados. Todos os
seres humanos estão unidos por seres feitos à imagem de Deus. Eles
compartilham uma humanidade comum, e a humanidade comum inclui
muitos detalhes: capacidade de adorar, capacidade de usar a linguagem,
capacidade de pensar, características físicas comuns, e assim por diante. Os
seres humanos também mostram diversidade. Cada indivíduo é único. Temos
unidade na diversidade e diversidade na unidade de uma humanidade. Essa
unidade na diversidade é uma imitação ou reflexo criacional da Trindade. A
Bíblia ensina que existe um só Deus. Ele tem unidade porque é uno. A Bíblia
também indica que existem três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Cada uma das três pessoas é distinta das outras duas. Assim,
há diversidade em Deus, a diversidade das três pessoas.
A unidade e a diversidade são igualmente últimas. João 1.1-3 mostra
que há um só Deus desde o princípio e que Deus Pai e Deus Filho (o Verbo)
são distintos um do outro desde o princípio (“o Verbo estava com Deus”). A
unidade não surge depois da diversidade, como se Deus iniciasse como três
pessoas independentes que, em algum momento, concordaram em combinar
seus esforços e se tornar uma só. E a diversidade tampouco surge depois da
unidade, como se Deus iniciasse como uma unidade puramente
indiferenciada e depois se dividisse em três ou se manifestasse de três
maneiras (o erro do modalismo).
Assim, Deus existe em unidade e diversidade. Deus criou o homem à
sua imagem. Não é de surpreender, portanto, que os seres humanos existam
em unidade e diversidade. Contudo, também devemos insistir que Deus e o
homem não estão no mesmo nível. A unidade e diversidade de Deus são
únicas. As pessoas da Trindade residem umas nas outras de maneira única. A
relação entre as pessoas da Trindade é em última análise misteriosa para nós,
pois não somos Deus e não compreendemos Deus de forma abrangente.
As pessoas humanas podem ter comunhão umas com as outras.
Marido e mulher podem se unir e se tornar “uma só carne” (Gn 2.24). Marido
e mulher têm formas refletidas de unidade e diversidade. Efésios 5.32 (NVI)
até mesmo diz, acerca da unidade de marido e mulher, que “este é um
mistério profundo”. Mas é uma unidade misteriosa entre duas criaturas
distintas, cada uma das quais considerada moralmente responsável (Gn 3.11-
19). A misteriosa habitação das pessoas da Trindade é mais profunda e
intensa. Não encontra um paralelo perfeito com coisa alguma que vemos no
mundo criado. Deus é Criador e é único.
Também podemos observar uma distinção de perspectivas entre as
pessoas da Trindade. Uma das passagens importantes fala das pessoas
distintas como se conhecendo mutuamente: “Tudo me foi entregue por meu
Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão
o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27). O Pai conhece
o Filho. Visto que o Filho é o próprio Deus, ao conhecer o Filho o Pai
conhece todas as coisas. Ele o faz a partir da perspectiva pessoal de ser o Pai.
Da mesma forma, o Filho conhece o Pai. Por conhecê-lo, conhece todas as
coisas. Ele o faz a partir da perspectiva pessoal de ser o Filho.
Nenhuma passagem paralela exata existe com respeito ao Espírito
Santo. Mas uma passagem chega perto: “… porque o Espírito a todas as
coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos
homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está?
Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de
Deus” (1Co 2.10-11). Aqui podemos ver que o Espírito Santo compreende os
pensamentos de Deus e, portanto, compreende Deus. Ele o faz a partir da sua
perspectiva pessoal de ser o Espírito Santo.
Assim, dentro de Deus existem três perspectivas pessoais sobre o
conhecimento: a perspectiva do Pai, a perspectiva do Filho e a perspectiva do
Espírito Santo. Essas três pertencem a um só Deus. O Espírito conhece Deus
ao conhecer os pensamentos de Deus. O Pai conhece Deus ao conhecer o
Filho e o Espírito Santo. O conhecimento de todas as três pessoas concorda,
pois todas as três conhecem Deus e conhecem todos os pensamentos de Deus.
Há perfeita harmonia entre as três pessoas, mas também uma distinção de
pessoas. Logo, há também uma distinção de perspectivas pessoais sobre o
conhecimento.
Original e derivativo
A Trindade é a fonte última da unidade e diversidade. As formas de unidade e
diversidade dentro deste mundo nos oferecem reflexões criadas da unidade e
diversidade original na Trindade. Esse caráter original de Deus significa que
Deus é o arquétipo. Arquétipo é um padrão original que é refletido em outra
coisa para a qual ele é um modelo. O reflexo do original é às vezes chamado
de éctipo. Assim, em sua natureza trinitária, Deus é o arquétipo da unidade e
diversidade. As ocorrências de unidade e diversidade dentro deste mundo são
éctipos.
1
7. Multiperspectivismo
Uma vez que vamos usar perspectivas para responder às grandes questões,
incluindo especialmente as questões sobre a natureza das coisas (metafísica),
devo falar mais sobre o significado das perspectivas e como seu uso veio a se
desenvolver historicamente numa abordagem chamada multiperspectivismo.
O que é multiperspectivismo?[32] O multiperspectivismo aparece como
um aspecto característico em praticamente todos os escritos de John M.
Frame. Recentemente, o próprio Frame escreveu uma pequena obra, A
Primer on Perspectivalism [Uma cartilha sobre o perspectivismo], que
resume suas principais características.[33] Vamos nos concentrar no
multiperspectivismo de Frame, mas com um olhar no contexto maior.
Características do multiperspectivismo
Origens do multiperspectivismo
O multiperspectivismo de Frame
Desde o início de seu ensino em sala de aula no Seminário Teológico
Westminster na Filadélfia, John Frame mobilizou suas principais tríades de
perspectiva. Quando me tornei estudante no Westminster em 1971, Frame já
usava como principal ferramenta pedagógica a tríade para o senhorio
(autoridade, controle e presença) e a tríade para a ética (normativa,
situacional e existencial).[44] Essas tríades tinham óbvias afinidades com
doutrinas da teologia reformada clássica.
A tríade para o senhorio obviamente se ligava à antiga ênfase
calvinista na soberania de Deus. Mas a tríade também foi projetada para
expressar aspectos do modo como Deus se relacionava, tanto em suas
palavras como em seus atos, com os seres humanos. A tradição reformada
clássica estava acostumada a falar sobre a relação de Deus com os seres
humanos como uma aliança.[45] A autoridade entra na aliança de Deus
conosco porque Deus é o criador legítimo da aliança e nós devemos nos
submeter à sua autoridade. Deus controla a relação pactual tanto protegendo
seu povo como punindo e disciplinando as violações pactuais. Deus está
presente através de sua aliança ao inaugurar e sustentar uma relação de
intimidade pessoal entre Deus e o homem. Assim, a tríade de Frame para o
senhorio pode ser vista como uma reexpressão de alguns dos temas clássicos
da teologia da aliança na tradição reformada.[46]
Uma vez que os seres humanos são feitos à imagem de Deus e podem gozar
de uma comunhão pessoal com Deus, não deve nos surpreender que
encontramos nos seres humanos alguns elementos análogos mais
impressionantes ao mistério trinitário: seu conhecimento, sua relação pactual
com Deus (senhorio da aliança), sua responsabilidade ética perante Deus
(tríade de ética), sua linguagem (Kenneth Pike) e sua criatividade artística
(Dorothy Sayers). No âmago de todas essas manifestações de Deus está a
mediação do Filho de Deus. Considere primeiro o tema do senhorio da
aliança, conforme desenvolvido por John Frame. Isaías prediz a vinda do
servo messiânico para trazer salvação final e o identifica tanto como o Senhor
da aliança (Is 9.6-7) como a própria aliança (Is 42.6; 49.8). De forma
suprema e culminante, Cristo manifesta autoridade, controle e presença. Ele
tem a autoridade de Deus (Mt 5.21-22; Lc 4.36; 5.21-24); manifesta o
controle de Deus ao curar e governar as águas (Mt 8); é a presença de Deus,
“Deus conosco” (Mt 1.23).
Cristo também resume em sua pessoa as várias dimensões da nossa
responsabilidade ética. Sua justiça é a norma suprema, que é refletida nos
pronunciamentos normativos específicos em toda a Bíblia. Sua pessoa é o
objetivo final, porque o objetivo da história é mostrar a glória de Deus na
glória de Cristo (Jo 17.1-5; Ap 21.22-24). Sua pessoa é também o motivo
último: a semelhança de Cristo é operada em nós através do Espírito (2Co
3.18).
Cristo como a Palavra de Deus é a origem última por trás de todas as
manifestações da linguagem (Pike). Cristo o Criador é a origem última por
trás de todas as instâncias de criatividade humana (Sayers). Cristo como
profeta, rei e sacerdote é o modelo último para as instâncias ectípicas de
profetas, reis e sacerdotes do Antigo Testamento (Clowney).
Ao afirmar a centralidade de Cristo, não produzimos um
cristomonismo que acabe colapsando todo o caráter trinitário de Deus numa
só pessoa, ou (pior) na natureza humana de Cristo. Antes, retemos a distinção
de pessoas e a distinção das duas naturezas de Cristo; ao mesmo tempo,
afirmamos a percepção epistemológica de que qualquer um dos temas
relativos a Cristo pode ser um ponto de partida perspectivo para a meditação
de modo geral.
Imagem
Estamos seguindo John Frame neste ponto usando sua tríade de autoridade,
controle e presença. Essa tríade de perspectivas expressa o significado do
senhorio de Cristo. Seu senhorio se expressa no relacionamento pactual entre
Deus e o homem (e de maneira subordinada na relação de Deus com outras
coisas que ele criou). Em seguida agrupamos a autoridade e o controle como
aspectos da transcendência, enquanto a presença é a expressão da imanência.
Podemos escolher mais de uma maneira de falar sobre essas coisas. O que
importa é que usamos a terminologia a serviço da expressão fiel do caráter de
Deus, o Deus que se revela fielmente na Escritura.
Transcendência e imanência
[FTdM1]
Implicações epistemológicas
Mistério
Podemos refinar nossas ideias ao refletir sobre o que a Bíblia diz sobre Deus
criando o mundo e o governando providencialmente. Vamos novamente nos
basear em trabalho já feito, desta feita em meu livro Redimindo a ciência.
Como ali indicado, a criação e a providência acontecem pelo falar de Deus.
Por exemplo, “disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). O discurso de
Deus especifica todas as coisas. Deus especifica que certas coisas existirão:
luz, a vastidão do céu, o mar, a terra seca, as plantas e assim por diante. Ele
também especifica como elas existirão. As plantas crescerão na terra. Elas se
reproduzirão “segundo a sua espécie” (Gn 1.12). Providencialmente,
especifica a chegada da neve e gelo e o seu derretimento:
Ele envia as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente; dá a neve como lã
e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas; quem resiste ao
seu frio? Manda a sua palavra e o derrete; faz soprar o vento, e as águas correm. (Sl
147.15-18)
Deus especifica todas as coisas: “Ele sustenta o Universo com a sua palavra
poderosa” (Hb 1.3, NTLH).
Não ouvimos diretamente as palavras que Deus emite para comandar
o mundo da natureza. Algumas de suas palavras estão registradas em Gênesis
1, mas isso é apenas uma amostra e resumo. Claramente, há muito mais do
que a Bíblia registra.
A Bíblia também indica que Deus tem palavras para nos dizer como
seres humanos. A Bíblia apresenta suas palavras em forma escrita.[94] Deus as
escreveu com o propósito de que ainda falaria conosco ao lermos a Escritura
hoje: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a
fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, [nós] tenhamos
esperança” (Rm 15.4). Tudo o que a Bíblia diz nos informa sobre o mundo. O
que ela diz é verdade, porque Deus é leal. Mas isso não é tudo. O discurso da
Bíblia é definitivo para o mundo, pois o discurso de Deus é original e superior
ao mundo que ele criou.
Reducionismo
Conhecimento secreto
Verdade aberta
Não seria interessante se Deus nos desse a Bíblia para que as pessoas fracas e
ignorantes, lendo e confiando nele através de Cristo, pudessem conhecer a
natureza mais profunda do mundo? Elas poderiam saber que o mundo é uma
criação multidimensional de Deus. E se, contrariamente às expectativas
humanas, Deus deixou na escuridão aqueles que em seu orgulho não
conseguem acreditar que a verdade sobre o mundo pode ser tão aberta?
“Não seria interessante?”, pergunto eu. Mas não é apenas
“interessante”. Na verdade Deus tem feito isso acontecer num sentido
fundamental. A filosofia, dissemos, busca a sabedoria. Deus tornou Cristo
nossa sabedoria (1Co 1.30). Vocês querem saber o segredo do Universo?
Venham a Cristo para terem “toda a riqueza da forte convicção do
entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo,
em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”
(Cl 2.2-3).
“Não pode ser assim tão fácil”, as pessoas podem dizer. De fato, para
nenhum de nós é fácil vir a Cristo e abandonar o orgulho. É “impossível para
os homens”, como diz Jesus (Lc 18.27, NVI), porque o orgulho humano se
interpõe no caminho. “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos
precedem no reino de Deus” (Mt 21.31).
1
O um e os muitos em categorias
Simplificações em Aristóteles
Visto que Deus nos adota como filhos por meio do Espírito, ele nos inclui
pela graça como objetos de amor, em analogia com o amor que o Pai tem por
seu Filho.
Além disso, como em João 3.34-35, o dom do Espírito, do Pai para o
Filho, é a manifestação focal do amor do Pai, podemos praticamente dizer
que o Espírito é o amor do Pai.
Ao tomar todas essas expressões juntas, podemos ver primeiro que o
amor está enraizado no caráter trinitário de Deus. Em segundo lugar, a
expressão de amor de Deus por nós, nossa recepção do seu amor e nossa
experiência do seu amor em nossa vida ocorrem de maneira coerente com e
estruturada pelo seu caráter trinitário, assim como em harmonia com a
realização da redenção no tempo e no espaço por meio da obra de Cristo. Em
terceiro, as várias expressões gramaticais usadas para expressar o significado
do amor de Deus se interligam umas com as outras. Todas as formas
gramaticais têm raízes trinitárias. Todas existem em relação umas com as
outras. Podemos concluir que a preferência de Aristóteles pela forma “A é B”
nos dá apenas uma perspectiva dentre muitas.
Podemos também nos lembrar do princípio de que o uno e o múltiplo
se interligam e se unem em todo o nosso conhecimento. Isto é, conhecemos
cada cavalo individual (o múltiplo) no contexto de algum conhecimento da
categoria geral “cavalo” (o uno), e vice-versa. Assim também, sabemos o
significado da estrutura da oração geral “A é B” (o uno) no contexto de
inúmeros casos (o múltiplo) em que encontramos essa mesma estrutura
gramatical. Entre esses casos, as verdades sobre Deus têm a primazia, porque
Deus é o original. Uma verdade como “Deus é amor”, portanto, oferece uma
base para todas as verdades particulares da forma “A é B” que falam sobre o
mundo criado.
“A é B” não é transparente para o entendimento humano. Ao
contrário, ele manifesta tanto o caráter de Deus, que nos deu a linguagem,
quanto o caráter da Trindade, que é o arquétipo no qual a linguagem, como a
experimentamos, está baseada. Mais especificamente, reflete o padrão que
encontra sua origem em Deus, em verdades como “Deus é amor”.
De maneira similar, a própria natureza de Deus na Trindade oferece o
fundamento final para formas linguísticas e gramaticais de outros tipos, não
apenas “A é B”.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus” (Jo 1.1). Esse mistério é profundo. Nunca compreenderemos Deus. De
forma derivada, o mistério da linguagem é profundo e nunca iremos
compreendê-lo.
Não devemos nos deixar seduzir por explicações reducionistas, quer venham
dos lábios de cientistas, quer de filósofos. Em Cristo “todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). A verdadeira sabedoria
humana exulta em desfrutar de Cristo e desfrutar de um mundo rico em
reflexos da sabedoria divina e do mistério divino. Cristo, o Logos, o Verbo de
Deus, se expressa nas palavras divinas especificando plenamente a própria
natureza do mundo. Essa especificação tem uma riqueza que supera o que
entendemos quando olhamos para a riqueza da linguagem natural. A Bíblia,
ao nos dar a própria linguagem de Deus, nos dá a verdadeira metafísica.
Se considerarmos que a filosofia e a metafísica estão relacionadas
basicamente às reflexões humanas posteriores, podemos dizer que a filosofia
é teologia (como John Frame apontou). A teologia, como aplicação do ensino
da Bíblia, fornece o que precisamos saber sobre as grandes questões.
1
Bagagem filosófica
Essenciais e acidentais
Considere agora Sally, o cavalo, uma égua negra. Poderíamos dizer que ela é
necessariamente negra se sabemos que a produção da pele negra vem da
constituição do seu DNA? Mas talvez a negritude seja epigenética em vez de
genética. Então, é ainda necessária? Podemos também considerar a questão
do tempo. Talvez sua pele só enegreceu depois que ela nasceu, apesar de isso
ter sido geneticamente “programado” desde o início. Era um
desenvolvimento “necessário”, poderíamos dizer, à luz do seu DNA. Mas e
se alguns processos deram errado em algum lugar no desenvolvimento, e o
desenvolvimento não seguiu seu curso normal em relação à cor da pele?
Com o tempo, Sally envelhece. Os aristotélicos se inclinariam a dizer
que somente o que é o mesmo durante toda a vida dela é “essencial”. Mas no
plano de Deus, não era essencial que ela fosse recém-nascida e depois uma
jovem potra antes de amadurecer? Portanto, esses estágios são “essenciais”
em algum sentido. E, dados os detalhes do plano de Deus, não deveríamos
dizer que foi necessário que ela desenvolvesse uma pata coxa em 27 de
fevereiro de 2011 porque é isso que Deus planejou? Portanto, nesse sentido,
tudo o que acontece a Sally é “essencial” — essencial do ponto de vista da
necessidade do fato de que o plano de Deus será executado na hora certa.
Em sua análise lógica, Aristóteles se concentrou em verdades gerais,
não em verdades particulares sobre Sally. Mas as duas se interligam, por
causa do entrelaçamento do uno e do múltiplo. Alguns filósofos têm afirmado
que o conhecimento humano é apenas de universais. De acordo com essa
concepção, uma pessoa não pode “conhecer” Sally, pois ela é única. Mas tais
alegações são ridículas quando vistas à luz da revelação bíblica. Se o uno e o
múltiplo se interligam, o conhecimento sobre categorias gerais (o uno) só está
disponível em conexão com o conhecimento do múltiplo. E, é claro, podemos
conhecer Deus, que é uno e único.
E quanto ao contexto ambiental? Não seria necessário para a vida de
um cavalo que ele tivesse um ambiente, incluindo o solo sob as patas e coisas
para comer? Essas relações são, portanto, “essenciais”? São “propriedades”?
A palavra propriedade sugere características adjetivas que são semi-
independentes do ambiente. Mas uma separação pura do ambiente, do
contexto, é um movimento reducionista — em última análise, uma ilusão.
Não podemos separar perfeitamente as propriedades das relações, mais do
que podemos separar Deus em seu amor de Pai do seu amor pelo Filho.
A distinção aristotélica entre essência e acidentais se baseia pela graça
comum na ideia da necessidade e contingência, ambas enraizadas no caráter
de Deus e em seu plano para o mundo. Podemos, portanto, sentir que
podemos usar essas categorias em virtude da graça comum. Todavia, uma
inspeção mais detalhada mostra que as categorias estão contaminadas pelo
sistema geral de Aristóteles e seu desejo de entendimento autônomo.
Podemos sugerir que as categorias encalham porque foram
introduzidas de maneira reducionista, sem levar em consideração várias
realidades:
Conclusão
Parte 4
EXEMPLOS DE ANÁLISE METAFÍSICA
Um saco de maçãs Granny Smith está sobre nossa mesa da cozinha. Pego
uma para analisá-la.
Deixe-me analisá-la de uma perspectiva em particular. Qual
perspectiva? Cabe a mim escolher. Sou um ser humano cujo ponto de vista é
texturizado não apenas pela minha posição espacial, mas por toda a minha
experiência anterior e pela individualidade da mente. A partir de uma
multiplicidade de alternativas com as quais estou familiarizado, escolho como
minha primeira perspectiva uma com a qual me sinto particularmente
confortável: a tríade de contraste, variação e distribuição.[112] Essa tríade
constitui três perspectivas em uma. Como de costume, as três se entrelaçam.
Há uma história pessoal, social e teológica por trás do meu uso dessa tríade,
na qual não precisamos entrar.[113]
Deus em sua sabedoria e majestade ordena todas as perspectivas de
todos os seres humanos, embora, é claro, não endosse moralmente os
preconceitos pecaminosos daqueles que têm as perspectivas. Deus conhece as
perspectivas de antemão. Seu plano para minha maçã inclui a realidade de
que ele ordenou todas as perspectivas sobre a maçã. A metafísica da maçã,
como expressão da sabedoria de Deus, inclui em princípio todas as
perspectivas.
A presença de Deus
Estabilidade e tempo
Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, pois desfaleço de amor. (Ct 2.5)
Sejam os teus seios como os cachos da vide, e o aroma da tua respiração, como o
das maçãs. Os teus beijos são como o bom vinho. (Ct 7.8-9)
Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada ao seu amado? Debaixo da
macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que
te deu à luz. (Ct 8.5)
Perspectivas científicas
Na minha descrição e análise da maçã, usei o que poderia ser rotulado como
perspectivas da vida comum. Os seres humanos podem fazer as observações
que fiz sem ter um treinamento científico especial. Ao elaborar essas
perspectivas, quero enfatizar que o governo de Deus especifica todas elas. Ao
fazê-lo, seu governo soberano produz a realidade. As texturas dessas
perspectivas nos dão a realidade, em vez de uma ilusão gerada por uma
realidade desconhecida.
Como poderíamos esperar de uma abordagem multiperspectivista, a
afirmação da realidade dessas perspectivas não deprecia a realidade da
investigação científica técnica. Várias ciências e várias subdivisões dentro
das ciências nos dão o que poderíamos chamar de perspectivas técnicas.
Essas perspectivas podem ser muito úteis na execução do programa divino
para que seres humanos exerçam domínio. Descobrimos camadas de
significado não imediatamente visíveis à inspeção casual humana. E essas
camadas de significado podem nos permitir construir novas ferramentas que
aumentem nosso domínio. Crescemos tanto em conhecimento (ciência) como
em poder (tecnologia, usada para o domínio). Tanto a ciência quanto a
tecnologia crescem numa situação em que os seres humanos são
pecaminosos. Portanto, ambos estão sujeitos à distorção e ao abuso. Mas a
distorção é uma distorção do que era bom no desígnio original de Deus em
um mundo não caído.
Não devemos desprezar a ciência e a tecnologia como Deus pretendia
que fossem. Devemos, contudo, inspecionar criticamente a tecnologia e a
ciência humana existentes por causa da influência do pecado. Assim, dado o
presente estado da ciência, vamos usar algumas perspectivas técnicas ou
científicas sobre a minha maçã. A ciência tem desfrutado de um amplo
desenvolvimento nos últimos séculos, de modo que só podemos tocar a
superfície do que é possível.
Primeiro, considere as perspectivas quantitativa e espacial. Nós
contamos uma maçã. Medimos seu diâmetro em polegadas ou centímetros.
Consideramos sua forma espacial, bem como a forma das sementes e do
cerne dela. Podemos realizar uma descrição tridimensional bastante precisa
das suas partes internas, assim como da forma da sua superfície.
Em segundo lugar, considere uma perspectiva física. Minha maçã é
um objeto sólido, que pode ser aproximadamente descrito pela mecânica dos
objetos rígidos. Podemos descrever massa, centro de gravidade, momento de
inércia, compressibilidade e elasticidade. Podemos, com as leis do
movimento de Newton, descrever sua trajetória quando lançada no vácuo. Se
falarmos de aerodinâmica, podemos descrever o que acontece com o
movimento da maçã através de um fluido, seja no ar, na água ou no óleo.
Podemos descrever as cores da maçã em termos de reflexões da luz em certas
bandas de frequência no espectro eletromagnético.
Em terceiro lugar, considere uma perspectiva sobre a composição.
Podemos descrever sua composição material no nível de partículas
elementares (elétrons e quarks) ou no nível de partículas mais comuns
(prótons, nêutrons e elétrons).
Fazendo uma transição para a química, podemos descrever átomos
individuais, moléculas e reações bioquímicas dentro da maçã. Estaremos
então fazendo a transição para a bioquímica e biologia molecular.
Podemos estudar a maçã como um fruto ao nível de seus tecidos e sua
fisiologia. Podemos também estudar os organismos que habitam a maçã —
bactérias e fungos. Minha maçã não mostra sinais de ter sido incomodada por
insetos ou larvas, mas sua história inclui a possibilidade de um agricultor ter
tomado medidas para protegê-la das pragas.
Também podemos estudar a maçã a partir da perspectiva da geologia.
A maçã veio de uma árvore que cresceu no solo de uma certa localidade na
Terra. Os microminerais na maçã podem revelar algo sobre a composição do
solo. Informações comerciais também podem nos dar dicas de onde as maçãs
da variedade Granny Smith são cultivadas e onde o supermercado
provavelmente estocou suas sacas de Granny Smith.
Também podemos nos aventurar no estudo da agricultura. O que se
passa no crescimento das maçãs Granny Smith?
Podemos nos aventurar em áreas especializadas e em áreas gerais
relacionadas aos seres humanos e sua interação com as maçãs. Estamos,
então, fazendo uma transição mais para áreas associadas à ciência social.
Consideramos os veículos usados para transportar maçãs; o sistema de
transporte; o sistema econômico; a rede de negócios e acordos comerciais que
ligam a fazenda ao supermercado; o sistema legal, que sustenta a confiança
do comércio em receber uma recompensa pelos seus esforços; o sistema
político de apoio ao sistema legal; um sistema de abastecimento que forneça
material para sustentar essas outras redes; e assim por diante. Entender a
história da minha maçã em detalhes e no contexto nos leva a interagir com
todas essas áreas.
Podemos também avançar para o momento em que a maçã será
comida. Podemos estudar a fisiologia humana do sistema digestório e a
neurologia do paladar e do olfato, que contribuem para a apreciação da minha
maçã.
O uno e o múltiplo
Entrelaçamento
Hierarquia
A poesia da caminhada
…a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a
carne, mas segundo o Espírito. (Rm 8.4)
Por esse tempo, houve grande alvoroço acerca do Caminho. (At 19.23)
Porém confesso-te que, segundo o Caminho, a que chamam seita, assim eu sirvo ao
Deus de nossos pais. (At 24.14)
Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado,
mas o espírito é vida, por causa da justiça. Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus
dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito,
que em vós habita. (Rm 8.10-11)
… como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo. (2Co 6.16)
Perspectivas científicas
O acrônimo CEAR
Por fim, meu marcador de páginas pode servir como uma perspectiva sobre
todas as coisas quando usamos a analogia entre a posição dele no livro e
minha posição na minha vida. A raça humana como um todo tem uma
história, e encontramo-nos agora em um certo ponto nessa história.
Poderia o meu marcador de páginas servir como uma perspectiva até
mesmo sobre Deus? Deus não está sujeito às limitações do tempo. Antes, sua
atividade na criação e providência constitui o caráter do tempo tal como o
experimentamos. Nossa vida e nossa história acontecem por causa dos
relacionamentos fundacionais existentes no próprio Deus. Se podemos
simplificar, podemos dizer que Deus Pai é o originador em relação a Deus
Filho como o executor, e em relação ao Espírito Santo como o consumador.
Todas as três pessoas da Trindade realizam atos no tempo através de sua
comunhão umas com as outras, uma comunhão que é relacional. A
relacionalidade arquetípica de Deus é o fundamento para nossa
relacionalidade ectípica, que é expressa na relação entre nossa execução
humana da tarefa de leitura até o ponto em que o marca página reside, nossa
visão da origem da nossa leitura no passado com o início do livro e nossa
visão do objetivo da leitura no futuro quando terminarmos o livro. A ação
eterna de Deus no Pai gerando o Filho estabelece o fundamento para as ações
de Deus no tempo à medida que produz eventos no mundo que ele criou. Nós
o imitamos quando lemos um livro e usamos um marcador de páginas.
Combinando duas perspectivas: uma maçã e uma caminhada
Agora estamos livres para andar em amor, para servir a Deus com nosso
coração, porque Cristo nos libertou. Essa liberdade é denominada o aspecto
“já” da redenção — o “indicativo”, pois já aconteceu e o evangelho
indicativamente declara que foi consumada. A consumação de Cristo
pertence ao nosso passado. Deus nos move a andar em amor, não apenas pelo
passado, mas também com esperança pelo futuro, que é o aspecto “ainda
não” da redenção. O futuro corresponde ao nosso “imperativo”, chamado
assim por termos diretivas e mandamentos imperativos nos impulsionando
para o objetivo. Nosso futuro é nosso objetivo. Tanto o passado quanto o
futuro têm relações intrincadas com o nosso presente. Nossa caminhada atual
em amor é afetada por e recebe significado de sua relação com o passado e
futuro dos propósitos de Deus.
Múltiplas perspectivas
Parte 5
OUTRAS SUBDIVISÕES DA FILOSOFIA
16. Ética
Terminamos nossa investigação da metafísica. E quanto às demais
subdivisões da filosofia?
Para abordar detalhadamente cada uma das subdivisões seriam
necessários muitos livros. Neste livro podemos apenas esboçar as
implicações. Espero que esteja claro que a Bíblia fornece recursos para
superar toda a história da filosofia secular.
Ao explorar a natureza do que existe, esclarecemos que a Bíblia tem
recursos para fornecer respostas satisfatórias. Deus nos diz que tipos de
coisas existem. Deus, por sua palavra de comando, cria e sustenta todas os
tipos de criaturas em sua unidade e diversidade. Deus por natureza é
trinitário, e o mundo que ele criou tem unidade e diversidade entrelaçadas
entre si. O mundo por natureza traz a marca da sabedoria criativa de Deus e
reflete a tripersonalidade divina na multiplicidade de suas dimensões. O
mundo especificado pelo discurso multidimensional de Deus é ele próprio
adequado para a análise multiperspectivista. A multiplicidade de maneiras
nas quais o analisamos reflete a multiplicidade perspectivista de maneiras nas
quais Deus o especificou por meio de sua fala.
Como de praxe, a metafísica — a maneira como o mundo é — tem
implicações para outras subdivisões da filosofia. Consideremos
primeiramente a ética, que estuda a natureza do certo e do errado.
17. Epistemologia
Agora vejamos a epistemologia. Se o mundo é por natureza
multiperspectivista, o conhecimento é por natureza multiperspectivista. O
conhecimento arquétipo de Deus é um conhecimento tripessoal. Nosso
conhecimento humano derivativo envolve múltiplas perspectivas.
Consequentemente, uma abordagem cristã da epistemologia é
multiperspectiva.
Teorias da verdade
Tipos de conhecimento
A justificação do conhecimento
Confiabilismo
O local da justificação
A existência da alma
A psicologia moderna
19. Lógica
Nossa exploração da metafísica também tem implicações para a lógica. A
lógica deve levar em conta o caráter multiperspectivista do mundo e do
conhecimento humano do mundo, em vez de tentar reduzir a verdade a uma
dimensão. Como esse cômputo muda nossa visão da lógica?
Podemos somente tocar em alguns pontos principais aqui. Uma
discussão completa exigiria muito mais espaço.[153]
A distinção Criador-criatura
20. Estética
Uma das subdivisões restantes da filosofia é a estética.
Definindo estética
Ademais, nossas conclusões sobre a metafísica sugerem que, como quer que
acabemos definindo a estética, ela oferece uma dimensão entre muitas outras
à medida que experimentamos o mundo. A capacidade artística e literária
aparece na Bíblia na construção do tabernáculo. A habilidade para a
construção é dada pelo Espírito Santo:
Disse então o SENHOR a Moisés: “Eu escolhi Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da
tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhe destreza, habilidade e plena
capacidade artística para desenhar e executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para
talhar e esculpir pedras, para entalhar madeira e executar todo tipo de obra artesanal.
(Êx 31.1-5, NVI)
As vestes sagradas especiais que Bezalel fez para Arão e seus filhos para o
ministério no tabernáculo são especificamente ditas serem “para glória e
ornamento” (Êx 28.2).[156]
Portanto beleza, talento artístico e capacidade artística aparecem na
Bíblia como dons de Deus. Eles não aparecem isoladamente, mas como parte
de um projeto maior — a descrição do tabernáculo e sua construção. A
“estética”, seja ela o que for, pertence a um todo maior que possui muitas
características. O mesmo vale para o templo de Salomão, descrito em 1 Reis
5-8, a visão do templo de Ezequiel em Ezequiel 40-48 e a nova Jerusalém em
Apocalipse 21.1-22.5.
O Novo Testamento deixa claro que o tabernáculo do Antigo
Testamento apontava para o clímax da redenção. Deus vem habitar com seu
povo de maneira suprema e culminante em Cristo. Cristo é chamado de
Emanuel, “que quer dizer: Deus conosco” (Mt 1.23). João 1.14 anuncia que
“o Verbo [a segunda pessoa da Trindade] se fez carne e habitou entre nós”. A
palavra grega traduzida como “habitou” nesse versículo é incomum e alude à
habitação de Deus no tabernáculo do Antigo Testamento, de modo que João
1.14 poderia ser mesmo traduzido como “o Verbo se fez carne e
tabernaculou entre nós”. João também indica que o corpo de Jesus é o
santuário final: “Ele [Jesus], porém, se referia ao santuário do seu corpo” (Jo
2.21).
Assim, a arte e beleza culminantes de Deus aparecem em Cristo. Com
base nisso podemos inferir que Deus é realmente belo (como se pode ver
também em Ap 4.3). Sua beleza é a beleza original e arquetípica. As coisas
belas neste mundo possuem beleza ectípica. Sua beleza é especificada por
Cristo, que é o Verbo de Deus.
Hoje em dia, a arte nem sempre envolve uma representação de coisas
belas, mas chama por vezes atenção para coisas feias. Nosso mundo hoje não
é totalmente belo, em parte porque sofre sob os efeitos da queda no pecado
(Rm 8.20-21). Os artistas podem às vezes escolher representar em sua arte as
tensões encontradas em um mundo contaminado pelo pecado.
Desenvolvimentos adicionais
Filosofia do direito
Filosofia da religião
Além disso, a Bíblia dá uma notável ênfase ao fato de que a religião pode ser
ou verdadeira ou falsa. Deus é o único Deus verdadeiro. Em sua santidade,
ele detesta a adoração falsa de substitutos para Deus. A idolatria o insulta.
Além do mais, a idolatria trai o conhecimento que todos os seres humanos,
em todos os lugares, têm sobre Deus em virtude da criação (Rm 1.18-23).
A distinção da Bíblia entre o Deus verdadeiro e os falsos deuses, e
entre a verdadeira e a falsa religião, não se coaduna com algumas filosofias
da religião. Se uma pessoa se devota à racionalidade universal, sua devoção
pode tentá-la a “nivelar” todas as religiões e a rejeitar a distinção entre
verdadeiro e falso. O pluralismo que é comum na vida moderna reforça ainda
mais essa rejeição.
Filosofia da linguagem
Filosofia da história
O que podemos dizer sobre uma filosofia da história? A Bíblia tem muito a
dizer sobre a história. A Bíblia parte do princípio, com a criação do mundo.
Termina na consumação, com a criação dos novos Céus e da nova Terra.
Explica os propósitos de Deus do princípio ao fim. Entrementes, coloca a
obra da redenção de Cristo. Quando tomamos todas essas coisas em conjunto,
temos uma filosofia básica da história, porque entendemos do que trata a
história.[160] Grande parte da filosofia secular da história realmente expressa
um descontentamento com a imagem dada pela Bíblia, e o descontentamento
leva a buscas por um substituto que possa ser construído através do
pensamento autônomo.
Filosofia da ciência
E quanto à filosofia da ciência? O governo abrangente de Deus sobre o
mundo tem implicações para nosso entendimento da ciência. Mais uma vez, a
distinção Criador-criatura faz diferença. Nosso entendimento da ciência é
subordinado e derivativo em comparação com o entendimento que Deus tem
do mundo e seu governo sobre ele. Visto que Deus governa o mundo inteiro
pela sua palavra (Hb 1.3), sua palavra de comando especifica todas as coisas
sobre o mundo. As ciências humanas exploram aspectos das regularidades
que Deus outorgou em sua sabedoria. Os seres humanos engajados na ciência
estão, portanto, pensando os pensamentos de Deus depois dele
analogicamente na área da ciência. Seus pensamentos e suas teorias são
derivativos: os seres humanos dão seus melhores palpites e fazem suas
melhores aproximações, os quais refletem as leis reais. As leis reais são
palavras de Deus. Podemos fazer progresso na compreensão dos fundamentos
da ciência se partimos de Deus e do ensino da Bíblia sobre Deus. Essas
questões são abordadas mais detalhadamente no livro Redimindo a ciência.
[161]
A história da filosofia
Parte 6
As tentativas de cristãos
Ao longo das eras, os cristãos têm refletido sobre filosofia. Em nossos dias,
podemos trabalhar em cima do que eles fizeram. Alguns cristãos têm de fato
se apercebido do contraste entre a fé cristã e aquilo que os filósofos oferecem
e se engajado na apropriação crítica das ideias filosóficas, ao invés de sua
mera aceitação. Agostinho interagiu criticamente com a filosofia platônica.
Tomás de Aquino interagiu criticamente com Aristóteles.
Podemos ser gratos por essas tentativas. Mas algumas delas não foram
críticas o bastante. O crítico que queira (corretamente) apropriar-se de
percepções positivas pode ao mesmo tempo acabar absorvendo mais do que
pretende. Ele pode ser corrompido ao tempo em que está aprendendo. John
Frame discute com discernimento a questão de se apropriar de percepções da
filosofia grega antiga. Ele emite esse alerta à luz da história anterior de
tentativas:
Combinar a perspectiva cristã com a grega não é aconselhável. Podemos aprender hoje com
as perguntas que os gregos fizeram, com os seus fracassos, com as percepções que eles
expressam em pormenores. Mas devemos rigorosamente evitar a noção de autonomia racional
e o esquema de forma-matéria como uma cosmovisão abrangente. Infelizmente durante o
período medieval e além, os teólogos cristãos confiavam extensivamente no neoplatonismo e
(começando com Tomás de Aquino) no aristotelismo. Aquino, por exemplo, distinguia entre
razão natural (que opera à parte da revelação) e fé (que complementa nossa razão com a
revelação). Então aludia repetidas vezes a Aristóteles como “o filósofo” que nos guia em
questões de razão natural.[163]
Primeiro, podemos ver um elemento de graça comum. Kant está vendo todo o
projeto do conhecimento humano a partir da perspectiva do conhecedor. Está
perguntando como nós, sujeitos humanos, temos a experiência subjetiva que
temos. Está operando de maneira semelhante ao que Frame chamou de
perspectiva existencial. Essa perspectiva é realmente uma perspectiva sobre
todas as coisas que os seres humanos conhecem, incluindo Deus. Numa
cosmovisão cristã, a perspectiva existencial se harmoniza e entrelaça com as
perspectivas normativa e situacional. Deus (o foco da perspectiva normativa)
e o mundo (o foco da perspectiva situacional) podem ser ambos vistos da
perspectiva do que nós, como pessoas humanas, podemos experimentar e
conhecer sobre eles. É revelador ver Deus e o mundo a partir dessa
perspectiva, e John Frame faz isso (naquelas partes de A doutrina do
conhecimento de Deus que empregam a perspectiva existencial).
Kant faz o mesmo. Quando usamos uma perspectiva, notamos coisas
que talvez não tenhamos notado antes por meio de outras perspectivas.
Experimentamos novas percepções. As observações de Kant se tornam
particularmente adequadas quando consideramos o desenvolvimento, no
século XX, da psicologia experimental, da neurociência experimental e do
exame experimental das complexidades dos órgãos sensoriais nos seres
humanos. Descobrimos que ocorre uma enorme quantidade de processamento
fisiológico e neurológico na produção da experiência humana. As declarações
de Kant sobre a experiência sensorial e a investigação posterior do século XX
contêm muitas percepções positivas que se devem à graça comum.
A dificuldade que resta é aquela que já discutimos sobre as
perspectivas. Particularmente em um contexto não cristão, uma perspectiva
pode ser usada como a chave exclusiva. O usuário, então, dá a impressão de
que tudo pode ser reduzido às dimensões especificadas pela única
perspectiva. Em particular, Kant acha que a distinção entre conhecimento a
priori e conhecimento da experiência (a posteriori) é uma percepção
fundamental que nos leva às raízes do mundo. Ele acha que tem uma
distinção precisa e pensa monoperspectivamente. Mas Kant acaba negando
que podemos conhecer Deus, ao menos pela “razão pura”, e nega que
podemos conhecer o mundo na forma “da coisa em si”. Deus e o mundo são
reduzidos às dimensões da perspectiva existencial, tal como Kant a constrói.
Mesmo aqui o pensamento de Kant contém grãos de verdade. Não
podemos conhecer Deus da mesma maneira e na mesma profundidade que
Deus se conhece. Nem tampouco podemos conhecer o mundo na mesma
profundidade que Deus. O que Kant diz é tentador, pois ele está contrapondo
percepções genuínas a algumas das limitações do conhecimento humano.
Mas distorções podem se insinuar. Talvez a “razão pura” acabe sendo uma
razão autônoma, a qual faz de si mesma um falso deus ou falso absoluto e em
seguida declare que qualquer “deus” que não possa se encaixar em suas
expectativas para o domínio humano no conhecimento necessariamente não é
cognoscível.
Mas estamos nos adiantando muito, olhando para algumas das
conclusões que surgem mais tarde no desenvolvimento da filosofia kantiana.
Nosso ponto não é considerar todos os argumentos e conclusões em detalhes,
mas ressaltar que uma interpretação do significado da perspectiva existencial
no início das operações filosóficas de Kant pode ter uma grande influência
sobre o fim. O início parece plausível porque tem grãos de verdade. Mas já
no início a natureza da perspectiva existencial pode ser mal interpretada de
maneira decisiva, ainda que sutilmente, a ponto de o leitor médio — e o
próprio Kant — não o perceber. As conclusões são incorporadas no ponto de
partida.
Análise de termos
Desconstrução
Bertrand Russell
Podemos tomar como exemplo Bertrand Russell. Ele realizava seu trabalho
técnico dentro da tradição da filosofia analítica, mas também explorava
implicações maiores. Ao discutir algumas das implicações, diz: “É admitido
como certo que o conhecimento científico, em suas linhas gerais, deve ser
aceito”.[181] Isso parece ser de bom senso, e Russell fala mais adiante sobre o
“senso comum científico”.[182] Russell sabe muito bem que uma busca pela
sabedoria humana não pode alçar voo sem suposições. A seu juízo, os
produtos da ciência oferecem o ponto de partida mais confiável. Portanto,
construirá sobre eles. E aqui está uma das conclusões a que ele chega:
Que o homem é o produto de causas que não tinham previsão do fim que estavam
alcançando; que sua origem, seu crescimento, suas esperanças e temores, seus afetos
e crenças não passam do resultado de ordenações acidentais de átomos; que nenhum
fogo, nenhum heroísmo, nenhuma intensidade de pensamento e sentimento podem
preservar uma vida individual ao além-túmulo; que todo o labor de todas as eras,
toda a devoção, toda a inspiração, todo o brilho meridiano do gênio humano estão
fadados à extinção na grande morte do sistema solar e todo o templo das conquistas
humanas deve restar inevitavelmente soterrado sob os escombros de um universo
em ruínas — todas essas coisas, ainda que não estejam além de qualquer
controvérsia, são todavia quase tão certas que nenhuma filosofia que as rejeite pode
esperar permanecer de pé. Somente no andaime dessas verdades, somente no firme
fundamento do desespero inexorável, é que a habitação da alma pode ser doravante
erigida com segurança.[183]
Suposições tácitas
Conclusão
A filosofia começou como a busca pela sabedoria. A sabedoria ainda vale a
pena ser buscada. O livro de Provérbios afirma a importância da sabedoria:
… adquire a sabedoria, adquire o entendimento. (Pv 4.5)
Outras áreas?
A aprendizagem continua durante esta vida, de geração em geração.
Aproveitamos contribuições do passado, mas podemos sempre aprender
mais, explorar mais e aprender mais profundamente. Podemos corrigir o que
achamos ter sido feito de maneira errada por gerações anteriores. Assim, o
que exploramos neste livro, bem como o que foi realizado em outros livros
aqui citados, não nos leva a um ponto final. Espero que ofereça um começo,
ao sugerir orientações e encorajamentos para aqueles que vierem depois.
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para
destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o
conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo.
(2Co 10.4-5)
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a
glória de Deus. (1Co 10.31)
1
Apêndice A
Filosofia cosmonômica
Aprendi com muitos outros para chegar ao ponto de escrever este livro.
Destaquei Abraham Kuyper, que enfatizava que Cristo é o Senhor de toda a
vida. Kuyper argumentou que os cristãos devem ter uma abordagem
distintiva para os estudos acadêmicos, e estou me esforçando para fazer o que
ele almejava. Também tenho uma dívida com Cornelius Van Til, que
aprendeu com Kuyper e se tornou uma fonte mais imediata para grande parte
deste livro que guarda semelhança com o pensamento de Kuyper. A
influência de John Frame também é evidente por toda parte.
A liberdade do cristão
A filosofia cosmonômica oferece uma forma de filosofia sistemática. Este
livro também oferece uma forma de filosofia sistemática, mas é um tanto
diferente por causa do seu compromisso de afirmar múltiplas perspectivas.
Convido as pessoas a tratarem a filosofia cosmonômica como uma
perspectiva sobre o mundo ou talvez como várias perspectivas sobrepostas e
entrecruzadas — uma de Dooyeweerd, uma de Vollenhoven, uma de Stoker e
assim por diante. Isso não significa que a filosofia cosmonômica é totalmente
perfeita, mesmo quando tratada como uma perspectiva. Significa apenas que
ela fornece recursos, alguns dos quais precisam talvez passar por
refinamento, reforma ou remoção. Seus recursos, então, ofereceriam um
possível ponto de partida para uma perspectiva sobre o mundo.
John Frame e eu também oferecemos uma perspectiva. Mas é
admitidamente uma perspectiva. Não é a única compatível com a verdade.
Deixemos que os outros construam livremente suas próprias variações,
sujeitas ao ensino da Escritura.
Se estou certo em relação à metafísica do mundo, outras perspectivas
também, quando desenvolvidas em obediência à palavra de Deus, podem
estabelecer a verdade. A verdade de Deus é rica o suficiente para se
desdobrar cada vez mais à medida que desenvolvemos novas perspectivas e
as usamos para aprofundar nossa apreciação de perspectivas mais antigas.
Nesse processo, perspectivas distintas não se colocam simplesmente lado a
lado como alternativas. Em vez disso, devemos nos esforçar para ver cada
perspectiva através das outras e usar uma perspectiva para aprofundar e
corrigir nossa compreensão obtida através de outra.[195] Afirmamos a igual
supremacia da unidade e da diversidade na verdade e da unidade e da
diversidade no conhecimento da verdade. Resistimos, por um lado, ao
racionalismo reducionista do modernismo, que se volta para uma verdade
totalizada de um tipo monolítico e monoperspectivista. Resistimos, por outro
lado, ao irracionalismo reducionista do pluralismo pós-moderno, que perde a
esperança da verdade pacífica e, em nome da coexistência pacífica, permite
que reivindicações concorrentes da verdade permaneçam lado a lado sem
nenhuma unificação racional.[196]
1
Apêndice B
Perspectivas sobre a Trindade
Deus nos dá nas Escrituras algumas passagens e versículos que discutem um
ou outro aspecto do seu caráter trinitário. A Bíblia pressupõe um
conhecimento do caráter de Deus mesmo em passagens que não explanam
isso diretamente. Devemos usar todas essas passagens juntas à medida que
crescemos em conhecimento. Cada passagem funciona como uma perspectiva
sobre Deus. A Bíblia não oferece um único “modelo” que nos permita captar
tudo. Se tivéssemos um único modelo abrangente, isso rebaixaria Deus ao
nível do nosso entendimento.
A analogia do discurso
Embora toda a Bíblia nos ofereça instruções sobre Deus, Deus usa algumas
analogias básicas para expor a natureza de seu caráter trinitário. Uma dessas
analogias ocorre em João 1.1-5, a saber, uma analogia com o falar. A
segunda pessoa da Trindade, Deus o Filho, é chamada de o Verbo. Parte do
pano de fundo é Gênesis 1, quando Deus cria o mundo falando. Ele faz
declarações específicas, como “haja luz!” (Gn 1.3). Podemos inferir que essas
declarações específicas expressam e refletem uma realidade mais profunda
em Deus, uma realidade que sempre existiu. “No princípio era o Verbo” (Jo
1.1). João está dizendo que existe um Verbo original ou arquétipo do qual as
declarações específicas em Gênesis 1 são uma expressão. Nós, como seres
humanos, também falamos palavras, palavras ectípicas que imitam o discurso
de Deus e derivam do padrão de quem ele é.
Assim, temos um padrão em que Deus é o orador arquetípico, e seu
discurso arquetípico é o Verbo, a segunda pessoa da Trindade. Quem é o
orador? De forma preeminente, é Deus Pai que se coloca como o
representante de Deus. Assim, podemos dizer que Deus Pai é o orador. A
segunda pessoa da Trindade é o Verbo de que o Pai fala. E o Espírito Santo
está ativo? João 1.1-5 não menciona o Espírito Santo explicitamente, mas em
outros lugares a Bíblia compara sua obra com o sopro de Deus (veja Ez 37.6,
9-10, 14). O Espírito Santo é o sopro de Deus que leva o discurso ao seu
destino. Podemos chamar essa analogia completa de a perspectiva de
discurso sobre a Trindade.
A analogia da família
A analogia teofânica
A analogia histórico-redentora
Apêndice C
A estrutura de um marcador de páginas
Podemos ilustrar melhor a análise de um marcador de páginas, análise essa
que iniciamos no capítulo 14. Uma vez que o discurso divino determina a
metafísica de um marcador de páginas, podemos usar proveitosamente as
categorias triperspectivas que foram originalmente desenvolvidas para a
análise do discurso verbal.[200] Neste apêndice vamos fazer apenas um
começo. Espero que esse começo, ao menos, aumente a apreciação pela
enorme complexidade e maravilha do mundo de Deus.
Hierarquia
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[1]
No século XX, surgiu uma tradição de filosofia analítica que se concentra em analisar conceitos
fundamentais (como o conceito de “bem” ou o conceito de “ciência”) e em analisar usos-chave da
linguagem em vários campos. Alguns de seus praticantes desconfiam da capacidade humana de
encontrar respostas para as “grandes” questões. Nosso foco nas grandes questões deixa esses
praticantes de lado. Veja Norman Geisler e Paul D. Feinberg, Introduction to Philosophy: A Christian
Perspective (Grand Rapids: Baker, 1980), p. 14-17 [ed. port.: Introdução à filosofia: uma perspectiva
cristã (São Paulo: Vida Nova, 2017)]; Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach to the
Foundation of Western Thought (Wheaton, IL: Crossway, 2013), apêndice F2.
[2]
Veja a parte 5. A ética pode ser vista como parte de uma subdivisão maior, a teoria do valor
(axiologia), que inclui estética e filosofia política.
[3]
Sobre a distinção entre a evolução como uma teoria limitada sobre o desenvolvimento biológico e a
evolução como uma forma de filosofia materialista, veja Vern S. Poythress, Redimindo a ciência: uma
abordagem teocêntrica (Brasília/DF: Monergismo, 2019), p. 80-81 e os capítulos 18-19.
[4]
Veja John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology (Phillipsburg, NJ: P&R, 2015),
cap. 1.
[5]
Para a epistemologia, veja John M. Frame, A doutrina do conhecimento de Deus (São Paulo: Cultura
Cristã, 2010); para a ética, veja Frame, A doutrina da vida cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2013).
[6]
Veja Timothy Keller, A fé na era do ceticismo: como a razão explica Deus (São Paulo: Vida Nova,
2015).
[7]
Livros inteiros abordam a discussão da natureza da Bíblia. Para argumentos de que a Bíblia é a
palavra de Deus em forma escrita, veja especialmente John Murray, “The Attestation of Scripture”, em
The Infallible Word, ed. Ned B. Stonehouse e Paul Woolley (Philadelphia: Presbyterian and Reformed,
1946), p. 1-54; Benjamin B. Warfield, A inspiração e autoridade da Bíblia (São Paulo: Cultura Cristã,
2010); John M. Frame, A doutrina da Palavra de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2013).
[8]
Veja John M. Frame, Salvation Belongs to the Lord: An Introduction to Systematic Theology
(Phillipsburg, NJ: P&R, 2006).
[9]
Uma introdução à história da filosofia a partir de um ponto de vista cristão pode ser encontrada em
W. Andrew Hoffecker, ed., Revolutions in Worldview: Understanding the Flow of Western Thought
(Phillipsburg, NJ: P&R, 2007). Para um relato mais meticuloso, veja John M. Frame, A History of
Western Philosophy and Theology (Phillipsburg, NJ: P&R, 2015).
[10]
Veja John Frame, “Greeks Bearing Gifts”, em Hoffecker, Revolutions in Worldview, p. 6-7.
[11]
Para mais informações, veja, por exemplo, Herman Ridderbos, Redemptive History and the New
Testament Scriptures (Phillipsburg, NJ: P&R, 1988); Michael J. Kruger, Canon Revisited: Establishing
the Origins and Authority of the New Testament Books (Wheaton, IL: Crossway, 2012).
[12]
Veja, por exemplo, John M. Frame, Apologética para a glória de Deus: uma introdução (São
Paulo: Cultura Cristã, 2010); Cornelius Van Til, Apologética cristã, ed. William Edgar (São Paulo:
Cultura Cristã, 2011); Van Til, The Defense of the Faith, 4ª ed., ed. K. Scott Oliphint (Phillipsburg, NJ:
P&R, 2008). Pode-se encontrar uma introdução simples e muito acessível em Richard L. Pratt, Every
Thought Captive: A Study Manual for the Defense of Christian Truth (Phillipsburg, NJ: P&R, 1979).
[13]
Entre os filósofos cristãos, Alvin C. Plantinga é proeminente, e depois dele Nicholas Wolterstorff.
Outros incluem William Lane Craig, Norman L. Geisler, J. P. Moreland, Paul Helm, Garrett J.
DeWeese, K. Scott Oliphint, William Edgar, Al Wolters, David K. Naugle, Esther L. Meek, Steven
Cowan e James Spiegel. Há outros ainda, mas são numerosos demais para mencionar.
[14]
John M. Frame, A doutrina do conhecimento de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 102.
[15]
Fiz uma condensação de um argumento muito mais elaborado e hábil de Alvin C. Plantinga,
Ciência, religião e naturalismo: onde está o conflito? (São Paulo: Vida Nova, 2018).
[16]
Sobre Platão, veja John M. Frame, “Greeks Bearing Gifts”, em Revolutions in Worldview:
Understanding the Flow of Western Thought, ed. W. Andrew Hoffecker (Phillipsburg, NJ: P&R, 2007),
p. 18-23.
[17]
Veja também John M. Frame, A doutrina de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2014), que tem um
capítulo sobre metafísica (capítulo 12, p. 175-92).
[18]
Quando recebemos com humildade o discurso que Deus faz a nós na Bíblia, recebemos com ele
uma resposta para os enigmas filosóficos relacionados ao solipsismo e ao “cérebro numa cuba”.
Sabemos que existe um mundo externo porque Deus nos diz, e podemos confiar em Deus. Mas como
sabemos que estamos ouvindo Deus? Quando Deus fala, autentica seu próprio discurso, através de sua
sabedoria, que reflete Deus Filho, e através do testemunho interno do Espírito Santo que Deus infunde
em nosso coração. Neste ponto pode ser suscitada muita discussão, mas devemos nos referir a outras
obras — por exemplo, John Murray, “The Attestation of Scripture”, em The Infallible Word, ed. N. B.
Stonehouse e Paul Woolley (Philadelphia: Presbyterian and Reformed, 1946), p. 1-54.
[19]
Sobre como a ciência se encaixa no quadro bíblico global do mundo e da humanidade, veja Vern S.
Poythress, Redimindo a ciência: uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF: Monergismo, 2019),
especialmente os capítulos 1-2 e 11.
[20]
Sobre o céu, veja ibid., p. 94-96.
[21]
Veja mais em ibid.
[22]
Sobre a comunicação em linguagem escassa, veja Vern S. Poythress, Inerrancy and the Gospels: A
God-Centered Approach to the Challenge of Harmonization (Wheaton, IL: Crossway, 2012), capítulos
7-9.
[23]
Para uma análise mais completa, devemos nos voltar para obras exegéticas. Veja especialmente C.
John Collins, Genesis 1-4: A Linguistic, Literary, and Theological Commentary (Phillipsburg, NJ:
P&R, 2006).
[24]
Poderíamos acrescentar também Salmos 8, 19 e 147, embora esses salmos também desenvolvam
outros temas.
[25]
John M. Frame, Perspectives on the Word of God: An Introduction to Christian Ethics (Eugene,
OR: Wipf and Stock, 1999); Frame, A doutrina da vida cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2013).
[26]
Para uma discussão mais completa, veja Vern S. Poythress, Teologia sinfônica: a validade das
múltiplas perspectivas em teologia (São Paulo: Vida Nova, 2016); Poythress, “Multiperspectivalism
and the Reformed Faith”, em Speaking the Truth in Love: The Theology of John M. Frame, ed. John J.
Hughes (Phillipsburg, NJ: P&R, 2009), p. 173-200. Acesso em: 26 jan. 2012. Disponível em:
<http://www.frame-poythress.org/poythress_articles/AMultiperspectivalism.pdf>, reproduzido aqui no
próximo capítulo; John M. Frame, “A Primer on Perspectivalism”, 14 de maio de 2008. Acesso em: 26
jan. 2012. Disponível em: <http://www.frame-poythress.org/frame_articles/2008Primer.htm>.
[27]
Veja Vern S. Poythress, Redimindo a sociologia: uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF:
Monergismo), capítulos 15, 17 e 26.
[28]
Frame, “Primer on Perspectivalism”, texto em que Frame fala de “perspectivismo em geral” (o uso
mais amplo) e “triperspectivismo” (o uso mais estrito).
[29]
Se quisermos, podemos ver nessa análise tripla dos tipos de distinção no conhecimento uma
manifestação de perspectivas. A diferença no conteúdo do conhecimento é uma diferença normativa
(porque a verdade é normativa; somos obrigados a buscá-la). A diferença na textura é uma diferença
situacional. O conhecimento é diferentemente “situado” em relação a outras expressões vizinhas. A
diferença na pessoa que tem o conhecimento é uma diferença existencial.
[30]
John Frame alude ao valor da diversidade quando, em um contexto ligeiramente diferente, critica a
suposição de que só deve haver uma organização adequada dos campos do conhecimento: “Parece-me
que pode haver muitas maneiras legítimas de organizar o assunto do universo de estudo, assim como há
muitas maneiras de cortar um bolo com o propósito de servi-lo e como há muitas maneiras de dividir o
espectro em cores a fim de propiciar descrição” (John M. Frame, A doutrina do conhecimento de Deus
[São Paulo: Cultura Cristã, 2010], p. 107).
[31]
Poythress, Teologia sinfônica; Poythress, Inerrancy and the Gospels: A God-Centered Approach to
the Challenge of Harmonization (Wheaton, IL: Crossway, 2012); Frame, “Primer on Perspectivalism”;
Poythress, “Multiperspectivalism and the Reformed Faith”.
[32]
O restante deste capítulo apareceu inicialmente como o ensaio de Vern S. Poythress,
“Multiperspectivalism and the Reformed Faith”, em Speaking the Truth in Love: The Theology of John
M. Frame, ed. John J. Hughes (Phillipsburg, NJ: P&R, 2009), p. 173-200; ele é reimpresso aqui,
levemente editado, com a permissão do editor. As informações bibliográficas foram reformatadas para
o propósito da inclusão aqui, e algumas outras pequenas alterações foram feitas para maior clareza.
[33]
John M. Frame, “A Primer on Perspectivalism”, 14 de maio de 2008, Acesso em: 12 nov. 2008.
Disponível em: <http://www.frame-poythress.org/frame_articles/PrimerOnPerspectivalism.htm>. Uma
exposição mais longa, enfocando especialmente a ética, é encontrada em Frame, Perspectives on the
Word of God: An Introduction to Christian Ethics (Eugene, OR: Wipf and Stock, 1999). Veja também
Vern S. Poythress, Teologia sinfônica: a validade das múltiplas perspectivas em teologia (São Paulo:
Vida Nova, 2016). Para o desenvolvimento do multiperspectivismo de Frame, veja Frame,
“Backgrounds to My Thought”, em Hughes, Speaking the Truth in Love.
[34]
“Porque não somos Deus, porque somos finitos e não infinitos, não podemos saber tudo de uma só
vez; portanto, nosso conhecimento é limitado a uma ou outra perspectiva” (Frame, “Primer on
Perspectivalism”).
[35]
Ibid. Veja também Frame, “Backgrounds to My Thought”, p. 6.
[36]
Em A doutrina da vida cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2013), John Frame argumenta que cada
um dos Dez Mandamentos tem seu próprio enfoque distintivo, mas cada um também pode ser usado
como uma perspectiva sobre toda a gama de nossas obrigações éticas. Esse argumento ilustra que
Frame está ciente da possibilidade de outras perspectivas além das tríades de perspectiva, que são mais
características dos seus escritos. Veja também Frame, “Primer on Perspectivalism”.
[37]
Frame, “Primer on Perspectival”.
[38]
Veja a extensa discussão dessa tríade em John M. Frame, A doutrina do conhecimento de Deus
(São Paulo: Cultura Cristã, 2010); e Frame, A doutrina de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2014).
[39]
A tríade é apresentada em Frame, Perspectives on the Word of God [Perspectivas sobre a Palavra
de Deus], e seu uso é desenvolvido extensivamente em Frame, A doutrina da vida cristã. A tríade para
a ética está intimamente relacionada com a tríade para o senhorio (Frame, “Backgrounds to My
Thought”, p. 16).
[40]
Friedrich Nietzsche enfatizava a centralidade da variedade de perspectivas humanas no processo de
obtenção de conhecimento, e por essa razão sua abordagem epistemológica tem sido chamada de
“perspectivismo”. Werner Krieglstein elaborou um ponto de vista chamado “perspectivismo
transcendental”, que, em busca de uma verdade superior, tenta combinar um reconhecimento das
perspectivas humanas limitadas com o esforço de combinar pontos de vista. Sua abordagem é
explicitamente espiritualista, na medida em que vê a consciência como algo universal. Mas se trata de
uma forma não cristã de espiritualismo.
[41]
A passagem de 2 Coríntios 10.5 se tornou um princípio importante na apologética de Cornelius Van
Til, uma tradição continuada na apologética de Frame.
[42]
Veja a Confissão de fé de Westminster, 1.4-5.
[43]
Frame lecionou no Seminário Teológico Westminster na Filadélfia, no Seminário Westminster na
Califórnia e no Seminário Teológico Reformado em Orlando, Flórida. Veja Frame, “Backgrounds to
My Thought”.
[44]
Em 1971, Frame ensinou introdução à teologia (incluindo a teologia da Palavra de Deus), a
doutrina de Deus e ética. Suas palestras levaram a seus livros na série Teologia do Senhorio: A doutrina
do conhecimento de Deus, A doutrina de Deus, A doutrina da vida cristã e A doutrina da Palavra de
Deus. Frame também menciona a influência de G. Dennis O’Brien, um professor de filosofia católica
em Princeton que tinha alguns elementos reminiscentes do pensamento de perspectiva, e de George
Lindbeck (“Backgrounds to My Thought”, p. 4, 11).
[45]
Veja a Confissão de fé de Westminster, 7, e o Catecismo maior de Westminster, 30-36.
[46]
Em “Backgrounds to My Thought”, p. 6-7, Frame também indica uma conexão entre essa tríade e o
tratamento que Cornelius Van Til faz da correlação entre Deus, o homem e a natureza em An
Introduction to Systematic Theology: Prolegomena and the Doctrines of Revelation, Scripture, and
God, 2ª ed., ed. William Edgar (Phillipsburg: P&R, 2007).
[47]
Cornelius Van Til, Christian Theistic Ethics, In Defense of Biblical Christianity 3 (n. p.: den Dulk
Christian Foundation, 1971). De acordo com Frame, a tríade de Van Til pode ser traçada
retroativamente até a Confissão de fé de Westminster, 16.7 (veja Frame, “Backgrounds to My
Thought”, p. 14n12).
[48]
Veja especialmente Cornelius Van Til, The Defense of the Faith, 4ª ed., ed. K. Scott Oliphint
(Phillipsburg, NJ: P&R, 2008); Van Til, A Survey of Christian Epistemology, In Defense of Biblical
Christianity 2 (n. p.: den Dulk Christian Foundation, 1969); John M. Frame, Apologética para a glória
de Deus: uma introdução (São Paulo: Cultura Cristã, 2010); Frame, Cornelius Van Til: An Analysis of
His Thought (Phillipsburg, NJ: P&R, 1995). Van Til se baseava em pensamentos anteriores,
especialmente de Herman Bavinck, Abraham Kuyper, João Calvino e Santo Agostinho e, claro, da
própria Bíblia.
[49]
Veja Frame, A doutrina da vida cristã, parte 2: “Ética não cristã”, p. 61-138.
[50]
Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, 225n35. Frame faz essa observação no contexto de
uma discussão mais longa sobre as contribuições da teologia bíblica e os perigos do uso orgulho e
imaturo dela. Veja também suas referências em “Backgrounds to My Thought”. A doutrina da Palavra
de Deus e A doutrina de Deus foram subsequentemente publicados em português pela Editora Cultura
Cristã em 2013 e 2014, respectivamente.
[51]
Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, p. 222. Veja Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old
and New Testaments (Grand Rapids: Eerdmans, 1948; reimpr., Eugene, OR: Wipf and Stock, 2003), p.
13 [Edição brasileira: Teologia bíblica: Antigo e Novo Testamentos (São Paulo: Cultura Cristã, 2010)].
Vos expressa uma preferência pelo rótulo “História da revelação especial” (ibid., p. 23); Frame prefere
“história da aliança” (A doutrina do conhecimento de Deus, p. 227). Ambos se contentam com
“teologia bíblica” só porque é uma expressão mais tradicional.
[52]
Veja Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, p. 223n37. Num período inicial da sua carreira,
Clowney, Kline, Gaffin e Frame foram estudantes no Seminário Teológico de Westminster. E todos
mais tarde lecionaram em Westminster por um tempo. Vos permaneceu no Seminário Teológico de
Princeton quando da fundação do Seminário Teológico de Westminster, em 1929, como uma
dissidência de Princeton. Mas as afinidades de Vos com Westminster ainda são profundas. Assim, os
desenvolvimentos do perspectivismo de Frame estão intimamente ligados a Westminster.
[53]
Ibid., p. 212: “É especialmente importante que os teólogos sistemáticos de hoje estejam cientes dos
desenvolvimentos na teologia bíblica, uma disciplina na qual novas descobertas estão sendo feitas
quase diariamente. Com bastante frequência, teólogos sistemáticos (incluindo este!) estão com atraso
em relação aos teólogos bíblicos na sofisticação de sua exegese”. Frame também observa que alguns
defensores da teologia bíblica se excederam (ibid., p. 209-12; Frame, “Backgrounds to My Thought”, p.
18). Veja também Vern S. Poythress, “Kinds of Biblical Theology”, Westminster Theological Journal
70, nº 1 (2008): 129-42.
[54]
Falando ainda mais amplamente, poderia o multiperspectivismo se desenvolver mesmo fora do
cristianismo? Algumas formas de “perspectivismo” surgem aqui e ali (veja a nota 9); mas o
multiperspectivismo de Frame está fundamentado em última instância na Trindade e, portanto, é
possível apenas dentro do círculo da teologia trinitária cristã.
[55]
Veja, por exemplo, Cornelius Van Til, Common Grace and the Gospel (Nutley, NJ: Presbyterian
and Reformed, 1973).
[56]
Essa conexão analógica já havia sido proposta nos Padrões de Westminster: “Este pacto [da graça],
no tempo da Lei, não foi administrado como no tempo do Evangelho. Sob a Lei, foi administrado por
meio de promessas, profecias, sacrifícios, da circuncisão, do cordeiro pascal e de outros tipos e
ordenanças dados ao povo judeu, tudo prefigurando Cristo que havia de vir. Por aquele tempo, essas
coisas, pela operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na
fé do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a salvação eterna; este se
chama o Antigo Testamento” [Confissão de fé de Westminster, 7.5 (extraído de Wayne Grudem,
Teologia sistemática: atual e exaustiva (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 1011); veja também o
Catecismo maior de Westminster, 34). Clowney desenvolveu esses temas confessionais em livros como
Preaching and Biblical Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1961); e Preaching Christ in All of
Scripture (Wheaton, IL: Crossway, 2003). Veja também Vern S. Poythress, The Shadow of Christ in
the Law of Moses (1991; reimpressão: Phillipsburg, NJ: P&R, 1995).
[57]
Confissão de fé de Westminster, 8.1 (Ibid.): “Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e
ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta,
Sacerdote e Rei”. Veja também o Catecismo maior de Westminster, 43-45. Frame também menciona a
influência do pensamento de Clowney em seu triperspectivismo (Frame, “Backgrounds to My
Thought”, p. 15).
[58]
A ideia de usar temas bíblicos como perspectivas é desenvolvida em Poythress, Teologia sinfônica.
Eu pretendia que o título fosse outro rótulo para o multiperspectivismo de Frame. Meu título era, creio
eu, mais belo e pitoresco do que multiperspectivismo, e eu esperava que fosse se consolidar. Mas o
termo multiperspectivismo é mais precisamente descritivo, e permaneceu assim como o rótulo mais
convencional.
[59]
Veja Frame, A doutrina da vida cristã.
[60]
Veja Frame, “Backgrounds to My Thought”, p. 15-18.
[61]
Pike mencionou para mim, em conversa pessoal, que havia lido alguns dos escritos de Cornelius
Van Til. Mas não tenho conhecimento de nenhuma conexão direta entre o Seminário Westminster e o
perspectivismo de Pike.
[62]
Veja as informações biográficas sobre Kenneth L. Pike em http://www.sil.org/klp/klp-bio.htm,
acessado em 12 de novembro de 2008.
[63]
O próprio Pike conta a história em Kenneth L. Pike, “Toward the Development of Tagmemic
Postulates”, em Tagmemics, vol. 2, Theoretical Discussion, ed. Ruth M. Brend e Kenneth L. Pike (The
Hague/Paris: Mouton, 1976), p. 91-127. Outros também contribuíram para o desenvolvimento,
incluindo Robert E. Longacre, Evelyn, esposa de Pike, e sua irmã Eunice. O ensaio de Pike reconhece
contribuições de muitos outros.
[64]
Kenneth L. Pike, Phonemics: A Technique for Reducing Languages to Writing (Ann Arbor: Uni-
versity of Michigan Press, 1947).
[65]
Tecnicamente, “contraste” são mais especificamente “traços contrastivos-identificacionais” e inclui
características que ajudam a estabelecer a identidade de uma unidade em particular, assim como
características que colocam essa unidade em contraste com outras unidades semelhantes. Veja a
exposição em Kenneth L. Pike, Linguistic Concepts: An Introduction to Tagmemics (Lincoln:
University of Nebraska Press, 1982), p. 42-51.
[66]
Pike, “Tagmemic Postulates”, p. 94.
[67]
Ibid., p. 96. Veja a explicação totalmente desenvolvida desses conceitos em Pike, Linguistic
Concepts, p. 42-65.
[68]
Kenneth L. Pike, “Language as Particle, Wave, and Field”. The Texas Quarterly 2, nº 2 (1959): 37-
54; reimpressão em Kenneth L. Pike: Selected Writings to Commemorate the 60th Birthday of Kenneth
Lee Pike, ed. Ruth M. Brend (The Hague/Paris: Mouton, 1972), p. 117-28. Uma explicação mais
madura das três perspectivas pode ser encontrada em Pike, Linguistic Concepts, p. 19-38.
[69]
“Sua experiência [a experiência de um observador da linguagem] da facticidade em sua volta é
afetada por suas perspectivas” (Pike, Linguistic Concepts, p. 12). Sobre a relação das teorias
linguísticas com as perspectivas humanas, veja ibid., p. 5-13.
[70]
Kenneth L. Pike, Language in Relation to a Unified Theory of the Structure of Human Behavior, 2ª
ed. (The Hague/Paris: Mouton, 1967).
[71]
Toda a estrutura para um sistema tagmêmico de discurso pode ser derivada analogicamente,
começando com uma tríade de perspectiva única, a saber: partícula, onda e campo. Veja Vern S.
Poythress, “A Framework for Discourse Analysis: The Components of a Discourse, from a Tagmemic
Viewpoint”, Semiotica 38, nº 3/4 (1982): 277-98; Poythress, “Hierarchy in Discourse Analysis: A
Revision of Tagmemics”, Semiotica 40, nº 1/2 (1982): 107-37.
[72]
Dorothy L. Sayers, A mente do Criador (São Paulo: É Realizações, 2016). O pensamento de Sayers
sobre a Trindade é visível ainda mais cedo em Sayers, Zeal of Thy House (New York: Harcourt, Brace,
1937).
[73]
Sayers, A mente do Criador, p. 49.
[74]
Ibid.
[75]
Ibid.
[76]
Tomei a liberdade de reproduzir aqui dois parágrafos que também aparecem em Vern S. Poythress,
In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway,
2009).
[77]
Veja o argumento de uma base trinitária para a lei científica em Vern S. Poythress, Redimindo a
ciência: uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF: Monergismo, 2019), p. 24-26; e a base trinitária
para a linguagem em Poythress, In the Beginning Was the Word.
[78]
Sobre a estreita correlação e interação entre as revelações geral e especial, veja Van Til,
Introduction to Systematic Theology, capítulos 6-11.
[79]
Sayers, A mente do Criador, capítulo 2, p. 39-46.
[80]
Pike, “Tagmemic Postulates”, p. 99.
[81]
Ibid., p. 91. A inclusão do observador por Pike é ainda mais impressionante quando contrastada
com a tendência de grande parte da teoria linguística da época em construir um sistema formal
deixando as pessoas de fora.
[82]
Meredith G. Kline, Images of the Spirit (Grand Rapids: Baker, 1980).
[83]
Veja João 12.41, que alude a Isaías 6.
[84]
Essa investigação faz parte do ponto desenvolvido por Poythress em Redimindo a ciência.
[85]
Van Til, The Defense of the Faith, p. 47-49; Van Til, Survey of Christian Epistemology, 96; Rousas
J. Rushdoony, The One and the Many: Studies in the Philosophy of Order and Ultimacy (Nutley, NJ:
Craig, 1971); Vern S. Poythress, “A Biblical View of Mathematics”, em Foundations for Christian
Scholarship: Essays in the Van Til Perspective, ed. Gary North (Vallecito, CA: Ross House, 1976), p.
161.
[86]
Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, p. 28-34.
[87]
Assim, o multiperspectivismo passou a servir muitas áreas: pedagogia, descoberta (heurística),
eclesiologia (diversidade de membros num só corpo), análise de termos conceituais (potencial para uso
variável de um termo) e ontologia.
[88]
A realidade da falibilidade é afirmada explicitamente na tradição reformada na Confissão de fé de
Westminster, 31.3: “Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer
particulares podem errar, e muitos têm errado”.
[89]
Veja Vern S. Poythress, “Reforming Ontology and Logic in the Light of the Trinity: An
Application of Van Til’s Idea of Analogy”, Westminster Theological Journal 57, nº 1 (1995): 187-219;
Poythress, In the Beginning Was the Word.
[90]
John M. Frame, A doutrina de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2014).
[91]
John M. Frame, A doutrina do conhecimento de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 30;
Frame, A doutrina de Deus (São Paulo: Cultura Cristã, 2014), p. 101.
[92]
Tecnicamente, sabemos que existe pelo menos um outro tipo de conhecimento — o conhecimento
de anjos e demônios. Não sabemos muito sobre esse tipo de conhecimento — nada além do que a
Bíblia nos diz. Como os anjos e demônios são criados por Deus, seu conhecimento é um conhecimento
de criatura. Como tal, é fundamentalmente como o conhecimento humano e não como o conhecimento
original e único de Deus.
[93]
Veja Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, p. 46-47.
[94]
Veja especialmente John M. Frame, A doutrina da Palavra de Deus (São Paulo: Cultura Cristã,
2013).
[95]
Santo Agostinho, The Confessions of St. Augustine, 1.1.1, em A Select Library of the Nicene and
Post-Nicene Fathers of the Christian Church, ed. Philip Schaff (Grand Rapids: Eerdmans, 1979), 1:45.
[96]
Para obter o poder total do sistema de transformações, é necessário fazer a transição para a teoria
geral da relatividade de Einstein, que admite sistemas de coordenadas aceleradas umas em relação às
outras. Veja Vern S. Poythress, Redimindo a ciência: uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF:
Monergismo, 2019), p. 218.
[97]
Ibid., capítulos 15-16.
[98]
Michael Polanyi, Personal Knowledge: Towards a Post-Critical Philosophy (Chicago: University
of Chicago Press, 1958), p. 328-31 [ed. port.: Conhecimento pessoal: por uma filosofia pós-crítica
(Portugal: Inovatec, 2013)]. O que vale para as máquinas vale também para as coisas vivas, pois estas
contêm máquinas moleculares dentro de suas células. Mas, ao contrário das máquinas mecânicas, as
coisas vivas mostram um desenvolvimento orgânico. Assim, é ainda mais difícil explicar as coisas
vivas com base somente na química apenas do que explicar as máquinas mecânicas com base na
química.
[99]
Veja Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach to the Foundation of Western Thought
(Wheaton, IL: Crossway, 2013), capítulo 16.
[100]
Um dos livros sobre a arte de filosofar que compõem o Organon. [N. do T.]
[101]
“Cada palavra ou expressão não combinada significa uma das seguintes coisas: — o que (ou
Substância), quão grande (isto é, Quantidade), que tipo de coisa (isto é, Qualidade), relacionada a que
(ou Relação), onde (isto é, Lugar), quando (ou Tempo), em que atitude (Postura, Posição), em que
circunstância (Estado ou Condição), quão ativo, o que faz (ou Ação), quão passivo, o que sofre (Afeto).
Falando apenas em linhas gerais, exemplos de Substância são ‘homem’ e ‘cavalo’; de Quantidade, ‘dois
côvados de comprimento’, ‘três côvados de extensão’ e assim por diante; de Qualidade, ‘branca’ e
‘gramatical’. Termos como ‘metade’, ‘duplo’, ‘maior’ denotam uma Relação. ‘No mercado’, ‘no Liceu’
e frases congêneres significam ‘Lugar’, enquanto ‘Tempo’ é pretendido em frases como ‘ontem’,
‘último ano’ e assim por diante. ‘Está mentindo’ ou ‘sentado’ significa Postura; ‘está calçado’ ou ‘está
armado’ significa um Estado. ‘Corta’ ou ‘queima’, mais uma vez, indicam Ação; ‘é cortado’ ou ‘é
queimado’, um Afeto” (Aristóteles, The Categories: On Interpretation, trad. Harold P. Cooke,
[Cambridge: Harvard University Press, 1962], 1b25-2a4).
[102]
Poythress, Logic, especialmente os capítulos 15-23.
[103]
Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach
(Wheaton, IL: Crossway, 2009).
[104]
Poythress, Logic, capítulos 15-21.
[105]
Michael Polanyi, Conhecimento pessoal: por uma filosofia pós-crítica (Portugal: Inovatec, 2013).
[106]
Vern S. Poythress, Redimindo a ciência: uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF: Monergismo,
2019), capítulo 1.
[107]
Poythress, In the Beginning Was the Word, capítulo 31.
[108]
Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach to the Foundation of Western Thought
(Wheaton, IL: Crossway, 2013), capítulo 64.
[109]
A filosofia aristotélica tenta fazer alguma justiça ao tempo usando as categorias potencial e real.
Mas essas categorias são então cercadas de complexidades, de forma muito parecida com as categorias
essencial e acidental. Podemos mencionar apenas uma dificuldade: a palavra potencial pode sugerir
potencial inato, como se o desenvolvimento de um certo tipo fosse deterministicamente programado
numa criatura de forma tal que o desenvolvimento em direção a um objetivo final do ser “real” fosse
inevitável, se apenas não houvesse interferência. No fim, esse acaba sendo um quadro impessoal —
como deve ser em Aristóteles, pois ele removeu Deus de sua cosmovisão. Todo o quadro é uma
imagem de desenvolvimento autônomo, não de um desenvolvimento em comunhão com Deus. O
desenvolvimento é retratado como independente da presença de Deus e da possibilidade de surpresas na
forma como Deus faz com que um cavalo específico, uma árvore específica ou um ser humano
específico cresça até à maturidade.
[110]
Vern S. Poythress, Teologia sinfônica: a validade das múltiplas perspectivas em teologia (São
Paulo: Vida Nova, 2016); Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered
Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2009); e Poythress, God-Centered Biblical Interpretation
(Phillipsburg, NJ: P&R, 1999); todos eles são escritos para ajudar no desenvolvimento da nossa
compreensão da Bíblia sem cobri-la com bagagem filosófica contaminada.
[111]
Poythress, In the Beginning Was the Word; Poythress, Redeeming Sociology: A God-Centered Ap-
proach (Wheaton, IL: Crossway, 2011).
[112]
Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach
(Wheaton, IL: Crossway, 2009), capítulo 19; Kenneth L. Pike, Linguistic Concepts: An Introduction to
Tagmemics (Lincoln: University of Nebraska Press, 1982), p. 41-65. Veja também o modo de
característica, o modo de manifestação e o modo de distribuição em Pike, Language in Relation to a
Unified Theory of the Structure of Human Behavior, 2ª ed. (The Hague/Paris: Mouton, 1967), p. 84-97.
[113]
Vern S. Poythress, “Multiperspectivalism and the Reformed Faith”, em Speaking the Truth in
Love: The Theology of John M. Frame, ed. John J. Hughes (Phillipsburg, NJ: P&R, 2009), p. 185-87,
reproduzido no capítulo 7.
[114]
Pike, Linguistic Concepts, p. 62-64. O termo sequência é apto para descrever a linearidade da fala
e da escrita, mas não tão apto no caso da incorporação espacial tridimensional. Um ajuste fácil na
conceituação é tudo o que é necessário.
[115]
Ibid., p. 62.
[116]
Ibid., p. 65.
[117]
Sobre a soberania universal, veja, por exemplo, John M. Frame, A doutrina de Deus (São Paulo:
Cultura Cristã, 2014); Vern S. Poythress, Chance and the Sovereignty of God: A God-Centered
Approach to Probability and Random Events (Wheaton, IL: Crossway, 2014).
[118]
Vern S. Poythress, “Reforming Ontology and Logic in the Light of the Trinity: An Application of
Van Til’s Idea of Analogy”, Westminster Theological Journal 57, nº 1 (1995): 187-219.
[119]
Poythress, In the Beginning Was the Word, p. 52-57; Pike, Linguistic Concepts, capítulos 3-5.
[120]
A criatividade de Kenneth Pike com perspectivas se estende além, em seu desenvolvimento de
uma variedade de focos humanos da atenção (Pike, A Unified Theory, p. 37-72, 78-81, 98-119).
[121]
Vern S. Poythress, Redeeming Sociology: A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway,
2011), capítulo 7 e em outros lugares.
[122]
Kenneth L. Pike, Linguistic Concepts: An Introduction to Tagmemics (Lincoln: University of Ne-
braska Press, 1982), p. 67-106; Pike, Language in Relation to a Unified Theory of the Structure of
Human Behavior, 2ª ed. (The Hague/Paris: Mouton, 1967), p. 565-97.
[123]
Pike, Unified Theory, p. 101, usa a hierarquia na análise de um jogo de futebol.
[124]
Sobre os pontos de vista de alguém de dentro e de alguém de fora, veja Vern S. Poythress, In the
Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2009),
cap. 19; Poythress, Redeeming Sociology: A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2011),
cap. 18.
[125]
Poythress, Redeeming Sociology, cap. 30.
[126]
A versão ARA traz andar e a NVI, vivamos. [N. do T.]
[127]
Veja a discussão da história em relação à história do mundo em Vern S. Poythress, In the
Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2009),
capítulos 13, 24-29.
[128]
John Beekman e John Callow, Translating the Word of God: With Scripture and Topical Indexes
(Grand Rapids: Zondervan, 1974), p. 68; Johannes P. Louw e Eugene A. Nida, eds., Greek-English
Lexicon of the New Testament Based on Semantic Domains, 2 vols. (New York: United Bible Societies,
1988), agrupam os “relacionais” aos resumos, havendo assim apenas três categorias no total: “objetos”,
“eventos” e “resumos” (1:vi). Pode-se ver alguma relação entre as categorias CEAR e Aristóteles. As
pessoas poderiam usar CEAR como uma versão minimalista de Aristóteles, para reduzir o significado a
categorias fixas, ou como um sistema mais flexível em que admitiriam a natureza multidimensional dos
significados.
[129]
Veja Vern S. Poythress, Teologia sinfônica: a validade das múltiplas perspectivas em teologia
(São Paulo: Vida Nova, 2016), capítulo 3, bem como exemplos nos livros de John Frame da
fecundidade de usar uma perspectiva para aprofundar nossa compreensão de outra.
[130]
“O ser não é um ‘caldo’ de imagens da qual as essências devem ser arrancadas num ato de
rarefação noética, por um lado, nem um caos do não tematizável, por outro, mas uma beleza indomável
e ilimitada em suas variações” (David Bentley Hart, The Beauty of the Infinite: The Aesthetics of
Christian Truth [Grand Rapids: Eerdmans, 2003], p. 141).
[131]
John M. Frame, A doutrina da vida cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2013); veja também a obra
mais breve de Frame Perspectives on the Word of God: An Introduction to Christian Ethics (Eugene,
OR: Wipf and Stock, 1999).
[132]
Não vamos debater aqui o significado da expressão imagem de Deus. Gênesis 1.26-28 parece ter
certo foco na tarefa de domínio que os seres humanos devem exercer sobre o mundo em nome de Deus.
Nesse domínio os seres humanos estão imitando o governo de Deus sobre o universo. Portanto, esse
exercício de domínio é uma das muitas maneiras nas quais os seres humanos são como Deus e imitam
Deus. A natureza distinta dos seres humanos inclui muitos aspectos de semelhança a Deus. Utilizo a
expressão imagem de Deus para incluir todos esses aspectos.
[133]
Veja Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach to the Foundation of Western Thought
(Wheaton, IL: Crossway, 2013), capítulo 15.
[134]
John M. Frame, A doutrina do conhecimento de Deus, p. 81-90.
[135]
Observe a discussão explícita de Frame sobre o perspectivismo em ibid., p. 105-106.
[136]
Note também a discussão da comunhão com Deus no ato da cognição em Vern S. Poythress,
Inerrancy and Worldview: Answering Modern Challenges to the Bible (Wheaton, IL: Crossway, 2012),
capítulos 19-20. Os leitores também podem querer considerar um autor que interaja mais com leitores
que ainda não aceitam a verdade da Bíblia: Esther L. Meek, Longing to Know: The Philosophy of
Knowledge for Ordinary People (Grand Rapids: Brazos, 2003); veja também a resenha do livro de
Meek: John M. Frame, “Review of Esther Meek’s Longing to Know”, Presbyterian 29, nº 2 (outono de
2003), http://www.frame-poythress.org/review-of-esther-meeks-longing-to-know/. K. Scott Oliphint
interage com a “epistemologia reformada” de Alvin Plantinga em “The Old-New Reformed
Epistemology”, em Revelation and Reason: New Essays in Reformed Apologetics, ed. K. Scott Oliphint
e Lane G. Tipton (Phillipsburg, NJ: P&R, 2007), p. 207-19.
[137]
Quanto a resumos claros de várias disputas importantes na epistemologia, julgo útil a obra de
Steven B. Cowan e James S. Spiegel, The Love of Wisdom: A Christian Introduction to Philosophy
(Nashville, TN: B&H, 2009), p. 33-100.
[138]
Ibid., p. 36.
[139]
Michael Polanyi, The Tacit Dimension (Garden City, NY: Anchor, 1967).
[140]
Edmund Gettier, “Is Justified True Belief Knowledge?”, Analysis 23 (1963): 121-23, acessado em
10 de dezembro de 2012, http://www.ditext.com/gettier/gettier.html; veja a discussão em Matthias
Steup, “The Analysis of Knowledge”, em The Stanford Encyclopedia of Philosophy, outono de 2012
ed., ed. Edward N. Zalta, acessado em 20 de dezembro de 2012,
http://plato.stanford.edu/archives/fall2012/entries/knowledge-analysis/; Cowan e Spiegel, Love of
Wisdom, p. 64-72.
[141]
Gettier, “Justified True Belief”.
[142]
Steup, “Analysis of Knowledge”, seção 2.
[143]
Cowan e Spiegel, Love of Wisdom, p. 68.
[144]
Poythress, Logic, capítulos 17-23.
[145]
Para uma formulação mais precisa, veja Cowan e Spiegel, Love of Wisdom, p. 69.
[146]
Ibid., p. 70.
[147]
Ibid., p. 73.
[148]
Ibid.
[149]
Ibid., p. 78.
[150]
Andrew Seth Pringle-Pattison, “Philosophy”, em Encyclopaedia Britannica, 11ª ed. (Cambridge:
University of Cambridge, 1910), 21:440.
[151]
Na primeira geração, esse movimento era chamado de aconselhamento noutético pelo seu
principal fundador, Jay Adams (veja Jay Adams, Competent to Counsel: Introduction to Nouthetic
Counseling [Grand Rapids: Ministry Resources Library, 1986]). Na segunda geração, as obras
principais incluem David Powlison, Seeing with New Eyes: Counseling and the Human Condition
through the Lens of Scripture (Phillipsburg, NJ: P&R, 2003); Edward T. Welch, Counselor’s Guide to
the Brain and Its Disorders: Knowing the Difference between Disease and Sin (Grand Rapids:
Zondervan, 1991); e Welch, Blame It on the Brain? Distinguishing Chemical Imbalances, Brain
Disorders, and Disobedience (Phillipsburg, NJ: P&R, 1998). Pode-se encontrar uma análise histórica
em Powlison, The Biblical Counseling Movement: History and Context (Greensboro, NC: New
Growth, 2010), uma revisão de Powlison, “Competent to Counsel? The History of a Conservative
Protestant Anti-Psychiatry Movement” (tese de PhD, University of Pennsylvania, 1996). Existem agora
muitas publicações mais concisas que abordam problemas e desafios específicos.
[152]
O aconselhamento bíblico fornece mais recursos através de vários canais. Veja a bibliografia na
nota 2, acima, e em http://www.ccef.org/.
[153]
Veja Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach to the Foundation of Western Thought
(Wheaton, IL: Crossway, 2013).
[154]
Merriam-Webster’s New Collegiate Dictionary, 11ª ed. (Springfield, MA: Merriam-Webster,
2008). N. do T.: O dicionário Houaiss oferece quatro significados. O primeiro é: “parte da filosofia
voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno artístico”.
[155]
James Shelley, “The Concept of the Aesthetic”, em The Stanford Encyclopedia of Philosophy,
edição de outono de 2009, ed. Edward N. Zalta, acessado em 28 de janeiro 2012,
http://plato.stanford.edu/archives/fall2009/entries/aesthetic-concept/.
[156]
A NTLH traz “dignidade e beleza”. [N. do T.]
[157]
Veja Philip Graham Ryken, Art for God’s Sake: A Call to Recover the Arts (Phillipsburg, NJ:
P&R, 2006); David Bentley Hart, The Beauty of the Infinite: The Aesthetics of Christian Truth (Grand
Rapids: Eerdmans, 2003); veja também as breves observações sobre formas de arte em Vern S.
Poythress, Redeeming Sociology: A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2011), capítulos
31-33. Hart se situa no contexto da ortodoxia oriental, não do protestantismo ortodoxo, e entende como
os cruzamentos de contexto influenciam a teologização. Minha menção ao seu trabalho deve ser
entendida nesse contexto. O coração de Hart está no lugar certo: “Mas se a história cristã há de ser
oferecida ao mundo como o dom da paz, deve ser contada em sua plenitude, sem conceder qualquer
terreno à outra narrativa” (ibid., p. 34). No entanto, é muito difícil uma pessoa na sociedade moderna
deixar involuntariamente de conceder terreno em uma área ou outra. Julgo ver certas concessões em
Hart. Ele indubitavelmente veria concessões no meu trabalho. Esses perigos confirmam a importância
do uso de múltiplas perspectivas de múltiplas pessoas para a correção e também enriquecimento
mútuos.
[158]
Veja também Vern S. Poythress, Redeeming Sociology: A God-Centered Approach (Wheaton, IL:
Crossway, 2011), capítulo 25.
[159]
Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach
(Wheaton, IL: Crossway, 2009).
[160]
Para mais detalhes sobre história, veja ibid., capítulos 11-19, 24-29; Poythress, Redeeming
Sociology, capítulos 11-18; e Poythress, Inerrancy and Worldview: Answering Modern Challenges to
the Bible, capítulos 5-6. Esses esboços podem ser complementados por muitas obras sobre história
redentora, como Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments (Grand Rapids:
Eerdmans, 1948; reimpressão., Eugene, OR: Wipf and Stock, 2003); Richard B. Gaffin Jr.,
Resurrection and Redemption: A Study in Paul’s Soteriology (Phillipsburg, NJ: P&R, 1987); Edmund
P. Clowney, The Unfolding Mystery: Discovering Christ in the Old Testament (Colorado Springs, CO:
NavPress, 1988).
[161]
Vern S. Poythress, Redimindo a ciência: uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF: Monergismo,
2019).
[162]
Para uma resposta ampliada à história da filosofia, veja John M. Frame, A History of Western
Philosophy and Theology (Phillipsburg, NJ: P&R, 2015).
[163]
John M. Frame, “Greeks Bearing Gifts”, em Revolutions in Worldview: Understanding the Flow
of Western Thought, ed. W. Andrew Hoffecker (Phillipsburg, NJ: P&R, 2007), p. 33.
[164]
Veja, por exemplo, Cornelius Van Til, A Survey of Christian Epistemology, In Defense of Biblical
Christianity 2 (s. e.: den Dulk Christian Foundation, 1969); Van Til, A Christian Theory of Knowledge
(s. e.: Presbyterian and Reformed, 1969); Van Til, Christianity and Barthianism (Philadelphia:
Presbyterian and Reformed, 1965); Van Til, The New Modernism: An Appraisal of the Theology of
Barth and Brunner (Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed, 1973); Van Til, The New Hermeneutic
(Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed, 1974).
Na minha opinião, o trabalho de Van Til é muito importante, porém também de difícil leitura. Van
Til acredita numa antítese entre o pensamento cristão e o não cristão, e essa antítese aparece claramente
em sua análise das obras de outros. Ele também acredita na graça comum, mas é mais difícil discernir, a
partir de suas obras, como se apropriar positivamente dos grãos de verdade presentes nas obras do
pensamento não cristão.
[165]
Veja os ensaios de John Frame sobre o assunto catalogados em “Bibliografia”, em Speaking the
Truth in Love: The Theology of John M. Frame, ed. John J. Hughes (Phillipsburg, NJ: P&R, 2009), p.
1044-45.
[166]
John M. Frame, A History of Western Philosophy and Theology (Phillipsburg, NJ: P&R, 2015).
[167]
Cornelius Van Til, Survey of Christian Epistemology, In Defense of Biblical Christianity 2 (s. e..:
den Dulk Christian Foundation, 1969), p. 106-14; Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach
to the Foundation of Western Thought (Wheaton, IL: Crossway, 2013), apêndice F1; John M. Frame, A
History of Western Philosophy and Theology (Phillipsburg, NJ: P&R, 2015).
[168]
Immanuel Kant, Crítica da razão pura, 5ª edição (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001),
p. 62.
[169]
Ibid., p. 63.
[170]
Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach
(Wheaton, IL: Crossway, 2009), capítulos 24-29.
[171]
Há muito a dizer sobre uma análise crítica da desconstrução, muito mais do que o começo que
tentei desenvolver em ibid., Apêndice I.
[172]
Vladimir Propp, The Morphology of the Folktale, 2ª ed. (Austin: University of Texas Press, 1968),
p. 79.
[173]
Edmund Husserl, Ideas: General Introduction to Pure Phenomenology (London: Allen & Unwin;
New York: Humanities, 1931). [Edição em português: Idéias para uma fenomenologia pura e para
uma filosofia fenomenológica. São Paulo: Idéias e Letras, 2006.]
[174]
Ibid., p. 43, itálicos no original.
[175]
Ibid., p. 41.
[176]
Ibid., p. 51, itálicos no original.
[177]
Ibid., p. 51-52.
[178]
Ibid., p. 52.
[179]
Ibid.
[180]
Sobre a filosofia analítica, veja também Vern S. Poythress, Logic: A God-Centered Approach to
the Foundation of Western Thought (Wheaton, IL: Crossway, 2013), apêndice F2.
[181]
Bertrand Russell, Human Knowledge: Its Scope and Limits (New York: Simon and Schuster,
1948), p. xi.
[182]
Ibid.
[183]
Bertrand Russell, “A Free Man’s Worship”, em Why I Am Not a Christian, ed. Paul Edwards
(New York: Simon & Schuster, 1957), p. 107.
[184]
Para uma discussão aprofundada, veja Vern S. Poythress, Redimindo a ciência: uma abordagem
teocêntica (Brasília/DF: Monergismo, 2019), especialmente o capítulo 1, sobre viés religioso, e os
capítulos 15-16, sobre a natureza da realidade.
[185]
Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach
(Wheaton, IL: Crossway, 2009), apêndice H.
[186]
Para uma introdução histórica, veja Bernard Zylstra, introdução a Contornos da filosofia cristã, de
L. Kalsbeek (São Paulo: Cultura Cristã, 2015). O livro de Kalsbeek pode servir como uma introdução
básica à substância do pensamento de Dooyeweerd. Veja também Roy Clouser, O mito da neutralidade
religiosa (Brasília/DF: Academia Monergista, 2019); e Jeremy G. A. Ive, “A Critically Comparative
Analysis and a Trinitarian, ‘Perichoretic’ Reconstruction of the Reformational Philosophies of Dirk H.
Th. Vollenhoven and Herman Dooyeweerd” (tese de PhD, King’s College, London, 2011).
[187]
Às vezes a expressão filosofia cosmonômica está mais estreitamente associada a Herman
Dooyeweerd, que escreveu o texto fundacional A New Critique of Theoretical Thought, 4 vols.
(Amsterdam: H. J. Paris; Philadelphia: Presbyterian and Reformed, 1955-1958; reimpr., Lewiston, NY:
Edwin Mellen, 1997), em que a ideia da lei cósmica de Deus desempenha um papel principal. O título
original holandês de Dooyeweerd, De wijsbegeerte der wetsidee, é traduzido literalmente “A filosofia
da lei-ideia”. (O termo cosmonômica deriva do grego kosmos, significando “mundo”, e do grego
nomos, significando “lei”. Em termos mais modernos, podemos falar de “leis para o universo”. Ou, se a
palavra universo é inadequada porque sugere apenas o universo físico, podemos falar de “leis para o
cosmo”).
[188]
Dirk H. Th. Vollenhoven, De wijsbegeerte der wiskunde van theïstisch standpunt (Amsterdam:
Van Soest, 1918); Vollenhoven, De noodzakelijkheid eener christelijke logica (Amsterdam: H. J. Paris,
1932); Vollenhoven, “Problemen en richtingen in de wijsbegeerte der wiskunde”, Philosophia Re-
formata 1 (1936): 162-87; Vollenhoven, “Hoofdlijnen der logica”, Philosophia Reformata 13 (1948):
58-118. Devo mencionar também D. F. M. Strauss e Marinus Dirk Stafleu, que se esforçaram para
aplicar a filosofia cosmonômica à matemática e à física.
[189]
Representantes da filosofia cosmonômica expressam com razão um receio de que, em seu desejo
de encontrar respostas imediatas, os leitores em busca de respostas na Bíblia podem perder de vista os
propósitos reais dela e forçá-la a falar sobre questões que ela não aborda diretamente (essa interpretação
equivocada é chamada de “suposição enciclopédica” em Roy A. Clouser, “Genesis on the Origin of the
Human Race”, Perspectives on Science and Christian Faith 43, nº 1 [março de 1991]: 2–13). Mas há
um erro oposto: que para entender os detalhes, estimamos insuficientemente as implicações da
Escritura.
[190]
Uma discussão adicional é encontrada em John M. Frame, A doutrina da Palavra de Deus (São
Paulo: Cultura Cristã, 2013) e Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-
Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2009).
[191]
Essa necessidade de uma concepção cristã instruída pela Escritura é uma das razões por que tenho
me proposto a escrever livros esclarecendo o significado da transcendência e imanência de Deus em
várias áreas: ciência [Redimindo a ciência: Uma abordagem teocêntrica (Brasília/DF: Monergismo,
2019)], linguagem (In the Beginning Was the Word), sociedade [Redeeming Sociology: A God-
Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2011)], lógica [Logic: A God-Centered Approach to the
Foundation of Western Thought (Wheaton, IL: Crossway, 2013)] e acaso [Chance and the Sovereignty
of God: A God-Centered Approach to Probability and Random Events (Wheaton, IL: Crossway,
2014)].
[192]
Deve-se mencionar Hendrik Stoker pelo seu esforço de conceber a estrutura das esferas modais
como uma dentre várias estruturas transversais. Herman Dooyeweerd falou de estruturas de
individualidade e entrelaçamentos encápticos. Assim, filósofos cosmonômicos tentaram fazer justiça à
riqueza da criação. Ainda restam dúvidas sobre se poderíamos acrescentar algo ou reestruturar a lista de
esferas modais.
[193]
É possível ponderar a educação, a epistemologia, e a feitura, a elaboração e o cultivo como
ilustrações de atividade ligadas à esfera “histórica”, que também tem sido chamada de esfera “técnica”
ou esfera “formativa”. Mas podemos distinguir vários tipos de “formação” e desenvolvimento histórico
— desenvolvimento de atividades pessoais, conhecimento pessoal, instituições, ideias, fazendas, casas,
Estados-nações, objetos manufaturados e objetos artísticos. Se as distinções são reais e não
“redutíveis”, o que determina quantas esferas modais nós temos? Da mesma forma, se a comunicação
inclui informação, expressão, propósitos pessoais e alusões poéticas, todos os quais sendo distinguíveis
entre si, essas coisas pertencem ou não a uma única esfera modal lingual mais ampla? A filosofia
dooyeweerdiana fornece um tipo de resposta ao nos permitir fazer distinções dentro de qualquer esfera
através do que chama de “antecipações” e “retrocipações” de outras esferas e através de “estruturas de
individualidade”. Mas será que o apelo a outras esferas e à individualidade não deixa os estudantes
propensos a adotarem um tipo de “reducionismo” que não faz total justiça a distinções mais refinadas?
Nenhuma análise dissolve o mistério.
[194]
Não podemos entrar em todos os detalhes. O aspecto quantitativo no mundo criado é análogo ao
aspecto quantitativo no um e três de um Deus em três pessoas. O aspecto lógico do mundo é análogo à
autoconsistência de Deus. O aspecto lingual no mundo é análogo ao fato de que Deus fala e que a
segunda pessoa da Trindade é o Verbo. O aspecto ético do mundo, que deve ser caracterizado pelo
amor, é análogo ao amor entre as pessoas da Trindade. O aspecto jurídico do mundo é análogo ao
caráter justo de Deus. No próprio Deus, não me parece fazer sentido dizer que o aspecto quantitativo (a
condição de triunidade) é anterior ou subsequente ao aspecto ético (amor) nem que o aspecto lógico
(autoconsistência) é anterior ou subsequente ao aspecto biótico (Deus é o Deus vivo). A origem das
esferas modais no próprio Deus torna problemática a alegação de que uma esfera está de alguma forma
“acima” ou “abaixo” de outra.
Podemos conferir algum sentido ao superior e inferior no tocante aos principais grupos de criaturas (em
distinção do Criador). Plantas e animais funcionam ativamente nos níveis químico e físico de maneira
análoga às atividades químicas e físicas nas rochas. Além disso, as plantas e os animais são
biologicamente ativos de uma forma que as coisas inanimadas não o são. Assim, podemos dizer que
essa atividade biológica mostra que eles são “superiores”?
Muitos animais interagem movendo-se e sentindo, atividades que na maior parte encontram apenas
reflexos tênues na vida das plantas. Então, esses animais seriam “superiores” às plantas. A filosofia
cosmonômica se baseia nessas observações cotidianas para inferir que a esfera psíquica, na qual muitos
animais são subjetivamente ativos, é “superior à” esfera biótica, que por sua vez é superior à esfera
física característica das rochas. De acordo com a filosofia cosmonômica, só os seres humanos são
subjetivamente ativos nas esferas modais que estão acima da esfera psíquica.
Uma vez que os seres humanos são ativos em todas as esferas acima da psíquica, não está tão claro o
que fornece a base para o ordenamento linear das esferas superiores entre si. Os cosmonomistas dizem
que as esferas superiores de algum modo “pressupõem” as inferiores. Mas as inferiores não
“pressupõem” também as superiores —a lógica não pressupõe, enquanto foco humano, a linguagem e a
história humana levando ao uso e à investigação de padrões lógicos? Não pressupõe também ela que
temos um senso de certeza (pertencente à esfera pística)?
[195]
Vern S. Poythress, Teologia sinfônica: a validade das múltiplas perspectivas em teologia (São
Paulo: Vida Nova, 2016), discute o processo. John Frame e eu ilustramos isso em vários escritos.
Talvez o mais notável e elaborado seja Frame, A doutrina da vida cristã (São Paulo: Cultura Cristã,
2013).
[196]
Sobre o modernismo e pós-modernismo, veja também as observações difusas em Poythress, In the
Beginning Was the Word.
[197]
Veja também a analogia trinitária em Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word:
Language — A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway, 2009), capítulos 24 e 25.
[198]
Alguém poderia sugerir que, na analogia do discurso o orador, o Pai é que está mais em foco
(normalmente as pessoas escutam os oradores através de palavras, em vez de se concentrarem nas
palavras mesmas, como o faria um linguista). Na analogia da família, o Espírito Santo, como a
expressão do amor, está em foco; na analogia teofânica, o Filho, como a imagem que aparece, está em
foco. Todavia, em cada uma dessas analogias todas as três pessoas participam ativamente. Ao receber o
dom de Deus, viemos a conhecer todas as três pessoas da Trindade em sua comunhão e coinerência. Na
analogia da família, o Espírito expressa a relação entre o Pai e o Filho; na analogia do discurso, o Filho
como o Verbo viaja do orador até o destino, expressando assim a relação entre o Pai e o Espírito; na
analogia teofânica, tanto o Filho quanto o Espírito expressam o caráter do Pai, e assim o Pai explica a
unidade deles. Qualquer dessas analogias, para não dizer todas elas juntas, mostra o caráter
necessariamente trinitário de Deus. Deus como pessoal é orador, amante e formador de imagem; Deus
como orador tem orador, discurso e destino; Deus como amante tem amante, amor e amado; Deus
como formador de imagem tem arquétipo, imagem e caráter. Contudo, todas essas observações
oferecem simplificações e resumos unidimensionais do mistério infinito. Quaisquer que sejam as
profundezas das limitações do nosso entendimento humano, a irradiação da glória de Deus em seu
caráter necessariamente trinitário irradia em todas as obras de Deus, pois seu caráter irradia primeiro na
glória infinita do Pai, do Filho e do Espírito, que se glorificam infinitamente (Jo 13.31-32) em
comunhão eterna. Se sabemos essas coisas e ainda assim não nos deleitamos nelas e na sua
incompreensibilidade, somos como “o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1Co 13.1).
Estamos perdendo a comunhão com Deus em meio a fatos conhecidos.
[199]
Veja Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word, p. 283-84; Poythress, God-Centered
Biblical Interpretation (Phillipsburg, NJ: P&R, 1999), p. 36-47.
[200]
Vern S. Poythress, “Hierarchy in Discourse Analysis: A Revision of Tagmemics”, Semiotica 40,
nº 1/2 (1982): 107-37.
[201]
Ibid.; Vern S. Poythress, In the Beginning Was the Word: Language — A God-Centered Approach
(Wheaton, IL: Crossway, 2009), capítulo 7.
[202]
Poythress, In the Beginning Was the Word, capítulo 32.
[203]
Vern S. Poythress, Redeeming Sociology: A God-Centered Approach (Wheaton, IL: Crossway,
2011), capítulos 31-33.
[204]
Para uma definição geral, veja Poythress, “Hierarchy”, p. 112-20.