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ELETRÔNICA

Alexandre Capelli

ACIONAMENTO DE
Há dois anos, aproximadamente, publicamos na
MOTORES ELÉTRICOS
Revista Saber Eletrônica uma série (composta por três
artigos) sobre inversores de freqüência. Um dos equipamentos mais clás-
N a é p o c a , a s R ev i s t a s M e c a t r ô n i c a F á c i l e sicos da Eletrônica Industrial é o
“acionamento”. Imaginem uma fábri-
Mecatrônica Atual estavam em uma fase “embrioná- ca de papel, por exemplo.
ria”, fazendo com que todos os artigos de robótica e O produto deve ser “bobinado” pe-
automação caminhassem para uma única obra, isto las várias etapas do seu processo fa-
bril e, para isso, as bobinas devem
é, a própria “Saber”. manter o papel esticado. Notem pela
Como agora temos não apenas uma, mas sim duas figura 1, que a rotação e o sincronis-
revistas de mecatrônica, decidimos rever os artigos mo entre os dois motores elétricos
devem ser extremamente precisos,
voltados a essas áreas, e que fizeram sucesso devi-
pois caso um motor A “gire” mais rá-
do ao seu alto nível técnico e aplicação em campo. A pido que um B, o papel ficará com fol-
idéia é publicá-los novamente, visto que agora já te- ga (criando uma ‘barriga’). Por outro
lado, se o motor B tender a “girar” mais
mos um público “alvo” bem definido para mecatrônica.
rápido que o A, o papel poderá se es-
Seriamos injustos, entretanto, se não fizessemos um ticar a ponto de quebrar.
“up-grade” desses artigos, acrescentando as últimas O acionamento, nesse caso, é uti-
tendências de mercado. Sem dúvida, dessa forma, os lizado para controlar a velocidade de
rotação e torque do motor, de modo a
artigos agregarão valor ao nosso antigo e fiel leitor manter a correta tensão mecânica do
que, por ventura, já tenha lido a primeira versão. papel. Normalmente, utiliza-se um
acionamento para cada motor.
Assim como vimos o exemplo em
uma “máquina de fazer papel”, os
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(quanto maior o fluxo, menor a rotação,


e vice- versa).
A figura 2 mostra o esquema geral
de um acionamento CC.
Notem que o acionamento é forma-
do por 4 blocos básicos: regulador de
velocidade; regulador de corrente; ge-
rador de pulsos de disparo; e ponte
retificadora. O primeiro bloco é forma-
do por uma malha de amplificadores
operacionais, cuja função é enviar ao
próximo módulo uma tensão proporcio-
nal à diferença entre a tensão de con-
trole (velocidade desejada) e a tensão
real (velocidade real do motor). Isso
Figura 1 - Motores A e B, sincronizados. quer dizer que, para comandarmos
uma velocidade para o motor, basta “in-
jetarmos” uma tensão DC na entrada
acionamentos são utilizados nos mais ram a sua utilização em situações do primeiro módulo.
diversos equipamentos, tais como que exigem um torque muito alto. A rotação do motor será proporcio-
guindastes, elevadores, máquinas- A fórmula que mostra o comporta- nal a essa tensão de controle. Em má-
ferramenta, etc... mento de um motor CC é apresentada quinas operatrizes, por exemplo, essa
Há duas famílias de acionamentos: a seguir, onde: E = tensão de alimenta- tensão é enviada pelo comando numé-
acionamentos de corrente contínua ção (armadura); K = constante de mate- rico, e seu valor está entre 0 a 10 V.Para
(também chamados conversores CC), rial; φ = densidade do fluxo magnético; e garantir que essa rotação não se altere
e acionamentos de corrente alternada η = velocidade de rotação (rpm). quando o motor estiver com carga, um
(também chamados de inversores de fre-
pequeno gerador de tensão “DC” é
qüência). O primeiro deles já se tornou E=Κ.φ.η acoplado mecanicamente ao eixo do
obsoleto, sendo utilizado atualmente
motor. A tensão de saída desse gerador
apenas em situações bem específicas. Resumindo, em um motor CC a fica sujeita às variações de velocidade
Mesmo assim, teremos de estudá-lo um velocidade de rotação é proporcio- do motor, visto que o eixo do gerador
pouco para que possamos compreen- nal à sua tensão de alimentação, e gira na mesma velocidade do motor.
der melhor os inversores de freqüência o torque é proporcional à corrente Quando a rotação tende a cair, a
(assunto deste artigo). que circula pela ar madura tensão do gerador tende a diminuir e,
(enrolamento do rotor). imediatamente, a tensão de saída do
ACIONAMENTO CC Também o fluxo magnético influen- módulo 1 aumenta, comandando um
cia a rotação, só que de modo inverso acréscimo de corrente para o segundo
O motor CC tem como principal
qualidade seu alto torque, e prova
disso é que no metrô de São Paulo,
bem como nos ônibus elétricos, o
motor é CC. Esse tipo de motor é
largamente utilizado em tração
elétrica, situação em que neces-
sitamos de alto torque (principal-
mente na partida).
Como tudo na vida, também te-
mos desvantagens em corrente
contínua. O motor CC, devido à
construção do seu rotor, e à co-
mutação do coletor (faiscamento),
não pode atingir uma velocidade
muito alta . Outra desvantagem é
a necessidade de constante ma-
nutenção (troca de escovas, lim-
peza, balanceamento, etc...). Atu-
almente, os custos de manutenção
e o alto preço do motor CC limita- Figura 2 - Acionamento CC.

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módulo. Com uma corrente maior, o


torque do motor aumenta, e sua velo-
cidade volta ao valor desejado. Quan-
do a carga do motor é retirada, o pro-
cesso é o inverso, isto é, a tensão do
gerador aumenta, a tensão proporcio-
nal do módulo 1 diminui, e a corrente
do módulo 2 também diminui, redu-
zindo o torque e impedindo o acrésci-
mo de velocidade.
Nada disso funcionaria sem um
“elo” de ligação entre as duas primei-
ras “malhas” de controle e a ponte
retificadora.
Essa é justamente a função do
terceiro bloco. Esse bloco é um
gerador de pulsos de disparo.
Através da tensão proporcional do
Figura 3 - Esquema de um inversor de freqüência trifásico.
módulo 2 (que é também resulta-
do da proporção do módulo 1),
esse módulo desloca os pulsos de
disparo da ponte retificadora, au-
mentando ou diminuindo a potên-
cia do motor.
O funcionamento detalhado
desse bloco não será explorado
neste ar tigo, porém é interessan-
te para o leitor aprender sobre o
circuito integrado mais utilizado
para essa função, e que se trata
do TCA 785. Na Saber Eletrônica
número 322, o artigo “Controle de
fase com o integrado TCA 785” de-
monstra com muitos detalhes
como esse dispositivo opera.
No quarto e último bloco trata-se Figura 4 - Esquema de um inversor (monofásico) de freqüência.
apenas de uma ponte retificadora
trifásica (formada geralmente por
SCR’s), que é ligada ao motor atra- desenvolvidos para trabalhar com to maior for a freqüência, maior a
vés de um sensor de corrente (S). motores AC. rotação e vice-versa.
Esse sensor propicia uma tensão de O motor AC tem uma série de van- N= 120.f / P
referência ao módulo 2 (regulador de tagens sobre o DC: onde: N= rotação em rpm
corrente) proporcional à corrente - baixa manutenção f= freqüência da rede, em Hz
consumida pelo motor. - ausência de escovas comutadoras p= número de pólos.
Conforme foi dito anteriormente, - ausência de faiscamento
esse tipo de acionamento ficou ob- - baixo ruído elétrico Assumindo que o número de pó-
soleto e está sendo substituído pe- - custo inferior los de um motor AC seja fixo (deter-
los inversores de freqüência . - velocidade de rotação superior. minado na sua construção), ao vari-
armos a freqüência de alimentação,
INVERSORES DE FREQÜÊNCIA Essas vantagens levaram a in- variamos na mesma proporção, sua
dústria a desenvolver um siste- velocidade de rotação.
A função do inversor de fre- ma capaz de controlar a potên- O inversor de freqüência, portanto,
qüência é a mesma do conversor cia (velocidade + torque) de um pode ser considerado como uma fonte
CC, isto é, regular a velocidade de motor AC. de tensão alternada de freqüência va-
um motor elétrico mantendo seu Conforme vemos na fórmula a riável. Claro que isso é uma aproxima-
torque (conjugado). A diferença seguir, a velocidade de rotação de ção grosseira, porém dá uma idéia pela
agora é o tipo de motor utilizado. um motor AC depende da freqüên- qual chamamos um acionamento CA,
Os inversores de freqüência foram cia da rede de alimentação. Quan- de “inversor de freqüência”.

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so modelo monofásico. A primeira eta- 4º tempo T4, T5, T6


pa é o módulo de retificação e 5º tempo T5, T6, T1
filtragem, que gera uma tensão DC 6º tempo T6, T1, T2
fixa (barramento DC) e que alimenta
4 transistores IGBT’s. As possibilidades T1,T3,T5 e T4, T6,
Imaginem agora que o circuito da T2 não são válidas, pois ligam todas
lógica de controle ligue os transisto- as fases do motor no mesmo potenci-
res 2 a 2 na seguinte ordem : primeiro al. Não havendo diferença de poten-
tempo- transistores T1 e T4 ligados, e cial, não há energia para movimentar
T3 e T2 desligados. Nesse caso, a cor- o motor, portanto essa é uma condi-
rente circula no sentido de A para B ção proibida para o inversor.
Figura 5 - Sentido de (fig. 5) ; segundo tempo- transistores Vamos analisar uma das condi-
circulação da corrente de A para B. T1 e T4 desligados, e T3 e T2 ligados. ções, e as restantes serão análogas.
Nesse caso, a corrente circula no sen- No 1º tempo temos T1,T2,e T3 ligados,
tido de B para A (fig. 6). e os restantes desligados. O
Ao inverter-se o sentido de corren- barramento DC possui uma referên-
te, a tensão na carga (motor) passa a cia central (terra), portanto temos +V/
ser alter nada, mesmo estando 2, e –V/2 como tensão DC. Para que
conectada a uma fonte DC. Caso au- o motor AC possa funcionar bem, as
mentemos a freqüência de desses tensões de linha Vrs, Vst, e Vtr devem
transistores, também aumentaremos estar defasadas de 120º. O fato da for-
a velocidade de rotação do motor, e ma-de-onda ser quadrada e não
vice-versa. Como os transistores ope- senoidal (como a rede) não compro-
ram como chaves (corte ou satura- mete o bom funcionamento do motor.
ção), a forma-de-onda de tensão de Para esse primeiro tempo de
saída do inversor de freqüência é sem- chaveamento, teremos:
Figura 6 - Correntede B para A.
pre quadrada. Vrs = +V/2 – V/2 = 0
Raramente encontramos aplica- Vst = + V/2 – (- V/2)= + V
Os circuitos internos de um inver- ções monofásicas nas indústrias. A Vtr = -V/2 – V/2 = - V
sor são bem diferentes de um maioria dos inversores são trifásicos,
acionamento CC (conversor CC). A fi- portanto, façamos outra analogia de Notem que, quando falamos em
gura 3 ilustra um diagrama simplifi- funcionamento tomando como base Vrs, por exemplo, significa a diferen-
cado dos principais blocos. ainda o inversor trifásico da figura 3. ça de potencial entre R (no caso como
A primeira etapa do circuito é for- A lógica de controle agora precisa dis- T1, está ligado é igual a + V/2)e S ( +
mada por uma ponte retificadora tribuir os pulsos de disparos pelos 6 V/2 também). Analogamente: Vst = +
(onda completa) trifásica, e dois IGBT’s, de modo a formar uma ten- V/2 – ( -V/2) = + V , e por aí vai !
capacitores de filtro. Esse circuito for- são de saída (embora quadrada), al- Caso façamos as seis condições
ma uma fonte DC simétrica, pois há ternada e defasada de 120º uma da (tempos) que a lógica de controle es-
um ponto de terra como referência. outra. Como temos 6 transistores, e tabelece aos IGBT’s, teremos a se-
Temos então uma tensão contínua + devemos ligá-los 3 a 3, temos 8 com- guinte distribuição de tensões nas 3
V/2 (positiva) e uma –V/2 (negativa) binações possíveis, porém apenas 6 fases do motor.
em relação ao terra, formando o que serão válidas, conforme veremos a
chamamos de “barramento DC”. O seguir.
barramento DC alimenta a segunda Na figura 7 representamos os
etapa, constituída de seis transistores IGBT’s como chaves, pois em um in-
IGBT’s e que, através de uma lógica versor é assim que eles funcionam.
de controle (terceira etapa), “liga e Caso o leitor tenha interesse em es-
desliga” os transistores de modo a al- tudar mais detalhadamente o funcio-
ternarem o sentido de corrente que namento do IGBT, a revista Saber nº
circula pelo motor. 326 publicou um artigo completo so-
Antes de estudarmos como é pos- bre o assunto.
sível transformar uma tensão DC em A lógica de controle proporciona-
AC, através do chaveamento de tran- rá as seguintes combinações de pul-
sistores em um circuito trifásico, va- sos para ativar (ligar) os IGBT’s:
mos fazer uma “prévia”, em um circui-
to monofásico. Observem a fig. 4 , e 1º tempo T1, T2, T3
notem que a estrutura de um inversor 2º tempo T2, T3, T4
trifásico é praticamente igual ao nos- 3º tempo T3, T4, T5 Figura 7 - IGBT's como chaves.

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nor, e encontraremos o melhor


rendimento para essa outra situa-
ção. Mas, como o inversor poderá
mudar a tensão V, se ela é fixada
no barramento DC através da re-
tificação e filtragem da própr ia
rede?
O inversor altera a tensão V,
oriunda do barramento DC, atra-
vés da modulação por largura de
“Traduzindo” essa tabela em um dia- locidade de rotação de uma placa pulso (PWM). A unidade lógica,
grama de tempos, teremos as três for- (parte da máquina onde a peça a além de distribuir os pulsos aos
mas-de-onda de tensão, conforme ser usinada é fixada) de um tor- IGBT’s do modo já estudado, tam-
mostra a figura 8. Notem que as três fa- no. Quando introduzimos a ferra- bém controla o tempo em que
ses estão defasadas de 120º elétricos, menta de corte, uma carga mecâ- cada IGBT permanece ligado (ci-
exatamente como a rede elétrica trifásica. nica é imposta ao motor, que deve clo de trabalho).
manter a rotação constante. Caso Quando V tem que aumentar
CURVA V/F a rotação se altere, a peça pode ,os pulsos são “alargados” (maior
apresentar um mau acabamento tempo em ON), e quando V tem
Como vimos anteriormente, se variar- de usinagem. que diminuir, os pulsos são “estrei-
mos a freqüência da tensão de saída no Para que esse torque realmen- tados”. Dessa forma, a tensão efi-
inversor , alteramos na mesma proporção te fique constante, por sua vez, o caz entregue ao motor poderá ser
a velocidade de rotação do motor. inversor deve manter a razão V/F controlada.
Normalmente, a faixa de variação constante. Isto é, caso haja mu- A freqüência de PWM também
de freqüência dos inversores fica en- dança de freqüência, ele deve pode ser parametrizada, e geral-
tre 5 e 300 Hz (aproximadamente). mudar ( na mesma proporção) a mente encontra-se entre 2,5 kHz
A função do inversor de fre- tensão, para que a razão se man- e 16 kHz. Na medida do possível,
qüência, entretanto, não é apenas tenha, por exemplo: devemos deixá-la próxima do limi-
controlar a velocidade de um mo- f = 50 Hz V = 300 V te inferior, pois assim diminuímos
t o r AC. E l e p r e c i s a m a n t e r o V/f = 6 as interferências eletromagnéticas
torque (conjugado) constante para Situação 1: o inversor foi progra- geradas pelo sistema (EMI).
não provocar alterações na rota- mado para enviar 50 Hz ao motor, e Observe na figura 10 um con-
ção, quando o motor estiver com sua curva V/f está parametrizada em junto de cinco inversores de fre-
carga. 6. Automaticamente, ele alimenta o qüência para centro de usinagem.
Um exemplo clássico desse pro- motor com 300 V.
blema é a máquina operatriz. Ima- O INVERSOR POR DENTRO
ginem um inversor controlando a ve- f = 60Hz V = 360 V
V/f = 6 A figura 11 mostra um diagrama
Situação 2 : o inversor recebeu de blocos de um inversor de freqüên-
uma nova instrução para mudar de cia típico. Cabe lembrar que cada fa-
50 Hz para 60 Hz. Agora a tensão bricante utiliza sua própria tecnologia,
passa a ser 360 V, e a razão V/f mas esse modelo abrange uma gran-
mantém-se em 6. Acompanhe a de parte dos inversores encontrados
curva mostra na figura 9. no mercado atual.
O valor de V/f pode ser progra- Podemos, portanto, dividi-lo em 4
mado (parametrizado) em um in- blocos principais:
versor, e dependerá da aplicação.
Quando o inversor necessita de
um grande torque, porém não atin-
ge velocidade muito alta, atribuí-
mos a ele o maior V/f que o equi-
pamento puder fornecer, e desse
modo ele terá um melhor rendi-
mento em baixas velocidades, e
alto torque. Já no caso em que o
inversor deva operar com altas ro-
tações e com torques não tão al-
Figura 8 - Forma-de-ondas da tensão. Figura 9 - Curva Tensão x Freqüência.
tos, parametrizamos um V/f me-

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2º bloco – IHM
O 2º bloco é o IHM (Interface Homem
Máquina).
É através desse dispositivo que po-
demos visualizar o que está ocorrendo
no inversor (display), e parametrizá-lo de
acordo com a aplicação (teclas).
A figura 12 mostra um IHM típico,
com suas respectivas funções. Esse
módulo também pode ser remoto.

3º bloco – Interfaces
A maioria dos inversores pode ser
comandada através de dois tipos de
sinais: analógicos ou digitais. Normal-
mente, quando queremos controlar a
velocidade de rotação de um motor
AC no inversor, utilizamos uma ten-
são analógica de comando. Essa ten-
são se situa entre 0 a 10 Vcc. A velo-
Figura 10 - Inversor de freqüência em um centro de usinagem.
cidade de rotação (rpm) será propor-
cional ao seu valor, por exemplo :
1º bloco – CPU visto que também uma memória está 1 Vcc = 1000 rpm, 2 Vcc = 2000 rpm, etc...
A CPU (Unidade Central de integrada a esse conjunto. A CPU Para inverter o sentido de rotação, basta
Processamento) de um inversor não apenas armazena os dados e inverter a polaridade do sinal analógico (ex:
de freqüência pode ser forma- parâmetros relativos ao equipamen- 0 a 10 Vcc sentido horário , e – 10V a 0 anti
da por um microprocessador ou to, como também executa a função - horário). Esse é o sistema mais utilizado
por um microcontrolador (como mais vital para o funcionamento do em máquinas – ferramenta automáticas,
o PLC). Isso depende apenas do inversor: geração dos pulsos de dis- sendo que a tensão analógica de controle
fabricante. De qualquer forma, é paro, através de uma lógica de con- é proveniente do controle numérico
nesse bloco que todas as infor- trole coerente, para os IGBT’s. O fun- computadorizado (CNC).
mações (parâmetros e dados do cionamento dessa lógica está descri- Além da interface analógica, o in-
sistema ) estão armazenadas, to no artigo passado. versor possui entradas digitais. Atra-
vés de um parâmetro de programa-
ção, podemos selecionar qual entra-
da é válida (analógica ou digital).

4º bloco – Etapa de potência


A etapa de potência é constituída
por um circuito retificador , que alimen-
ta (através de um circuito intermediá-
rio chamado “barramento DC”) o cir-
cuito de saída inversor (módulo IGBT).
Maiores detalhes sobre essa eta-
pa também poderão ser vistos no nú-
mero já citado (Saber nº 327).

INSTALAÇÃO DO INVERSOR

Feita essa pequena revisão da estru-


tura funcional do inversor, vamos mostrar
como instalá-lo. A figura 13 mostra a con-
figuração básica de instalação de um in-
versor de freqüência. Existe uma grande
quantidade de fabricantes, e uma infini-
dade de aplicações diferentes para os
Figura 11 - D.B. de um Inversor de Freqüência.
inversores. Portanto, o esquema da fi-
gura refere-se à versão mais comum.

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- O aterramento elétrico deve es-


tar bem conectado, tanto ao inversor
como ao motor.
- O valor do aterramento nunca deve
ser maior que 5 Ω (norma IEC536), e
isso pode ser facilmente comprovado
com um terrômetro, antes da instalação.
- Caso o inversor possua uma
interface de comunicação( RS 232, ou
RS 485) para o PC, o tamanho do
cabo deve ser o menor possível.
- Devemos evitar ao máximo, mis-
turar (em um mesmo eletroduto ou
canaleta) cabos de potência (rede elé-
trica, ou saída para o motor) com ca-
bos de comando (sinais analógicos,
digitais, RS 232, etc...).
Figura 12 - IHM típico.
- O inversor deve estar alojado
próximo a “orifícios” de ventilação,
Sensores e chaves extras, com certeza, No exemplo da figura 13, temos ou, caso a potência seja muito alta,
serão encontrados em campo, mas a es- um CNC comandando um inversor deve estar submetido a uma venti-
trutura é a mesma. através da sua entrada analógica (0 a lação (ou exaustão). Alguns inver-
Os terminais identificados como: R,S,eT 10 Vcc). sores já possuem um pequeno
(ou L1, L2, e L3), referem-se à entrada Nesse caso, as entradas digitais exaustor interno.
trifásica da rede elétrica. Não é comum en- foram utilizadas para um botão de - A rede elétrica deve ser confiável,
contrarmos inversores monofásicos aplica- emergência , e um sensor de veloci- isto é, jamais ultrapassar variações de
dos na indústria. Para diferenciar a entrada dade de rotação (encoder). +ou- 10% em sua amplitude.
da rede para a saída do motor, a saída( nor- - Sempre que possível, utilizar os
malmente) vem indicada por: W,V,e U. cabos de comando devidamente
Além da potência, temos os bornes OS “DEZ MANDAMENTOS” DA blindados.
de comando. Cada fabricante possui sua INSTALAÇÃO DO INVERSOR DE - Os equipamentos de controle (PLC,
própria configuração, portanto, para sa- FREQÜÊNCIA CNC, PC, etc...), que funcionarem em
ber “quem é quem” temos de consultar o conjunto com o inversor, devem possuir
manual de respectivo fabricante. De qual- - Cuidado! Não há inversor no o “terra” em comum. Normalmente, esse
quer maneira, os principais bornes são mundo que resista à ligação invertida terminal vem indicado pela referência “PE”
as entradas (analógicas ou digitais), e as de entrada da rede elétrica trifásica, ( proteção elétrica), e sua cor é amarela
saídas (geralmente digitais). com a saída trifásica para o motor. e verde ( ou apenas verde ).
- Utilizar sempre parafusos e arruelas
adequadas para garantir uma boa fixa-
ção ao painel. Isso evitará vibrações me-
cânicas. Além disso, muitos inverso-
res utilizam o próprio painel em que são
fixados como dissipador de calor. Uma
fixação pobre, nesse caso, causará um
aquecimento excessivo ( e possivelmen-
te sua queima ).
- Caso haja contatores e bobinas agre-
gadas ao funcionamento do inversor, uti-
lizar sempre supressores de ruídos elé-
tricos (circuitos RC para bobinas AC, e
diodos para bobinas DC).
Essas precauções não visam apenas
melhorar o funcionamento do inversor,
mas evitar que ele interfira em outros equi-
pamentos ao seu redor. O inversor de fre-
qüência é, infelizmente, um grande gera-
dor de EMI (interferências eletro-
Figura 13 - Instalação de um inversor de freqüência. magnéticas) e, caso não o insta-

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larmos de acordo com as orienta- 1º passo de tornos com peças grandes, guindas-
ções acima, poderemos prejudicar Acionamos a tecla P e as setas tes, etc...), uma partida muito rápida po-
toda a máquina ( ou sistema ) ao para acharmos o parâmetro. Ex: derá “desarmar” disjuntores de proteção
seu redor. Basta dizer que, para P,e até achar o parâmetro res- do sistema. Isso ocorre, pois o pico de
um equipamento atender o merca- pectivo. No nosso caso, é logo o 1º corrente, necessário para vencer a inér-
do europeu, a certificação CE (Co- OOO1 cia do motor, será muito alto. Portanto,
munidade Européia) exige que a esse parâmetro deve respeitar a massa
emissão eletromagnética chegue 2º passo da carga, e o limite de corrente do inver-
a níveis baixíssimos (norma IEC Agora aciona-se P novamente, e o va- sor (fig 14).
22G – WG4 (CV) 21). lor mostrado no display será o valor do
parâmetro, e não mais a ordem em que Parâmetro 006:
PARAMETRIZAÇÃO ele está. Tempo de parada (rampa de descida).
Ex: O 2 2 O O inversor pode produzir uma pa-
Para que o inversor funcione a con- rada gradativa do motor. Essa facili-
tento, não basta instalá-lo corretamente. 3º passo dade pode ser parametrizada e,
É preciso “informar” a ele em que condi- Como no exemplo a tensão desse como a anterior, deve levar em con-
ções de trabalho irá operar. Essa tarefa é parâmetro está em 220 VCA, e nosso sideração a massa (inércia) da car-
justamente a parametrização do inver- motor funciona com 380 VCA, acionamos ga acoplada (fig 15).
sor. Quanto maior o número de recursos P ,e até chegar nos 380.
que o inversor oferece, tanto maior será O38O Parâmetro 007 – Tipo de frenagem
o número de parâmetros disponíveis. Parâmetro = 1 Parada por rampa
Existem inversores com tal nível de sofis- 4º passo Parâmetro = 0 Parada por CC
ticação, que o número de parâmetros ul- Basta acionar P novamente, e o novo
trapassa a marca dos 900! parâmetro estará programado. No inversor “Saber”, o parâmetro 007
Obviamente, neste artigo, veremos Cerca de 90% dos inversores comer- pode assumir dois estados: “1” ou “0”.
apenas os principais e não utilizare- ciais funcionam com essa lógica! Todos Caso esteja em 1, a parada do motor
mos particularidades de nenhum fa- os demais parâmetros são programados obedecerá a rampa programada no P
bricante, pois um mesmo parâmetro, de forma análoga. 006. Caso esteja em 0, o motor terá sua
com certeza, muda de endereço de parada através da “injeção” de corrente
fabricante para fabricante. Parâmetro 002: contínua em seus enrolamentos.
A partir de agora, portanto, nosso in- Freqüência máxima de saída . Em um motor AC, quando submete-
versor imaginário será da marca “Saber”. Esse parâmetro determina a velo- mos seus enrolamentos a uma tensão
O inversor de freqüência Saber tem as cidade máxima do motor. CC, o rotor pára imediatamente (“estan-
mesmas funções dos demais fabricantes ca”), como se uma trava mecânica
( Siemens, Yaskawa, ABB, etc... ), porém, Parâmetro 003: atuásse em seu eixo.
temos a liberdade de nomearmos segun- Freqüência mínima de saída. Portanto, o projetista de máquinas
do a nossa conveniência, a ordem dos Esse parâmetro determina a velo- deve pensar muito bem se é assim
parâmetros. Isso não deverá dificultar o cidade mínima do motor. mesmo que ele deseja que a parada
trabalho com inversores reais, pois basta ocorra. Normalmente esse recurso é
associarmos com os indicados pelo ma- Parâmetro 004: utilizado para cargas mecânicas pe-
nual do fabricante específico. Freqüência de JOG. quenas (leves), e que necessitam de
A tecla JOG é um recurso que faz o resposta rápida (Ex: eixos das máqui-
Parâmetro 001: motor girar com velocidade bem baixa. nas - ferramenta).
Tensão nominal do motor. Isso facilita o posicionamento de pe-
Esse parâmetro existe na maioria ças antes da máquina funcionar em seu Parâmetro 008: Liberação de altera-
dos inversores comerciais, lembran- regime normal. Por exemplo : encaixar ção de parâmetros:
do que não necessariamente como o papel em uma bobinadeira, antes do Parâmetro = 1 os parâmetros
P 001, e serve para informarmos ao papel ser bobinado efetivamente. podem ser lidos e
inversor qual é a tensão nominal em alterados.
que o motor irá operar. Suponha que Parâmetro 005: Parâmetro = 0 os parâmetros
o motor tenha tensão nominal 380 Tempo de partida (“rampa de subida”). podem ser apenas
VCA. Como vamos introduzir essa in- Esse parâmetro indica em quanto lidos.
formação (parâmetro) no inversor? tempo deseja-se que o motor chegue
Tomando como base a figura 12 à velocidade programada, estando ele Esse parâmetro é uma proteção
(IHM) vamos observar a seqüência de parado. O leitor pode pensar : contra “curiosos”. Para impedir que al-
“teclas”. O display deverá estar 0.0 “Quanto mais rápido melhor”. Mas, guém, inadvertidamente, altere algum
(pois só podemos parametrizar o in- caso o motor esteja conectado mecani- parâmetro da máquina, utiliza-se um
versor com o motor parado). camente a cargas pesadas ( Ex: placas parâmetro específico como proteção.

14 MECATRÔNICA ATUAL Nº 2 - FEVEREIRO/2002


ELETRÔNICA

Parâmetro 009: Tipo de entrada Para parametrizar um inversor


Parâmetro = 1 a entrada real, basta consultar o manual do
significativa é fabricante, e fazer uma analogia
analógica com esse ar tigo. Temos cer teza
(0 – 10 Vcc). que as pequenas diferenças não
Parâmetro = 0 a entrada serão obstáculos para o leitor.
significativa é digital.
DIMENSIONAMENTO
Esse parâmetro diz ao inversor
como vamos controlar a velocida- Como posso saber : qual é o
de do motor. Caso esteja em 1 , a modelo, tipo, e potência do meu
velocidade será proporcional à inversor para a minha aplicação?
tensão analógica de entrada. A Bem, vamos responder a essa per-
entrada digital será ignorada. gunta em três etapas: Figura 14 - Rampa de partida do inversor.
Caso o parâmetro esteja em 0, a
velocidade será controlada por um Potência do inversor:
sinal digital (na entrada digital), e Para calcularmos a potência do
o sinal analógico não mais influ- inversor, temos de saber qual mo-
enciará. tor (e qual carga) ele acionará.
Normalmente, a potência dos mo-
Parâmetro 010: Freqüência de PWM tores é dada em CV ou HP. Basta
Parâmetro = 1 Freq. PWM = 2 kHz fazermos a conversão para watts,
Parâmetro = 2 Freq. PWM = 4 kHz e o resto é fácil. Vamos dar um
Parâmetro = 3 Freq. PWM = 8 kHz exemplo prático:
Parâmetro = 4 Freq. PWM = 16 kHz Rede elétrica = 380 VCA
Motor = 1 HP
Esse parâmetro determina a Aplicação = exaustor industrial
freqüência de PWM do inversor. Figura 15 - Rampa de descida do inversor.
Notem que para P 010 = 1 te- Cálculos:
mos 2 kHz, e os demais dobram 1 HP = 746 W ( e 1 CV = 736 W ).
de valor até 16 kHz (freqüência Por tanto, como a rede elétrica é Modelo e fabricante :
máxima). de 380 VCA, e os inversores (nor- Para escolher o modelo, basta
Para evitarmos perdas no motor, malmente) possuem um fator de consultarmos os catálogos dos fa-
e interferências eletromagnéticas potência = 0,8 (Cos ϕ = 0,80), te- bricantes, ou procurarmos um que
(EMI), quanto menor essa freqüên- remos: atenda (no nosso exemplo ) as se-
cia, melhor. CI = Corrente do inversor guintes características mínimas :
O único inconveniente de para- - Tensão de entrada : 380 VCA
metrizarmos o PWM com freqüên- CI = Pot em watt . - Corrente nominal : 2,5 A
cias baixas (2 ou 4 kHz) é a gera- Tensão rede x Cosϕ - Tipo : escalar.
ção de ruídos sonoros, isto é, a má- Todas as demais funções são
quina fica mais “barulhenta”. Portan- CI = 746 W = 2,45 ampères opcionais.
to, devemos fazer uma “análise crí- 380. 0,8 Quanto ao fabricante, o preço deve
tica” das condições gerais do ambi- determinar a escolha. Apenas como
ente de trabalho, antes de optarmos Tensão de entrada = 380 VCA referência ao leitor, os mais encontra-
pelo melhor PWM. Corrente nominal = 2,5 A (“arredondan- dos na indústria são: Siemens, Weg,
Como dissemos anteriormente, do 2,45 para cima”). Yaskawa, e GE (Fanuc).
existe uma infinidade de parâmetros
nos inversores. Tipo de inversor: CONCLUSÃO
Neste artigo, mostramos apenas os A maioria dos inversores utili-
10 principais, que já serão suficientes zados são do tipo escalar. Só uti- No próximo número estudaremos
para o leitor “colocar para rodar” qual- lizamos o tipo vetorial em duas os inversores de freqüência vetoriais.
quer máquina. ocasiões: extrema precisão de Mais precisos, eles estão do-
Lembrem-se que o inversor de rotação e torque elevado para ro- minando a tecnologia de movi-
freqüência da marca Saber é fictí- tação baixa ou zero ( ex: guindas- mento. Além disso, também anali-
cio. A ordem dos parâmetros foi “in- te, pontes rolantes , elevadores , saremos os demais dispositivos de
ventada” para viabilizar a didática, etc...). controle e processos de au-
porém, é bem parecida com a maio- Como no nosso caso trata-se de tomação em máquinas, ferramen-
ria dos inversores comerciais. um exaustor, um escalar é suficiente. tas e robôs industriais. l

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