Por Amor Capitulo 172

"POR AMOR" 172º capítulo pag.
: 1
CENA 01 / LUGAR LINDO PERTO DO LAGO / EXT / DIA
MARCELO / EDUARDA
Continuação direta do capítulo anterior. Eles fecham e abrem os olhos
em movimentos coordenados. E conversam sem se olhar, olhando o céu
lindo.
MARCELO
Eu não entendo por que você fugiu de
mim outra vez.

EDUARDA
Fugir. Minha mãe também usou esse
verbo.
MARCELO
Foi o que você fez.

EDUARDA
Não. Eu me afastei daquele
apartamento. De todas as pessoas...

MARCELO
De mim.
EDUARDA
Tinha que ser assim.

MARCELO
A gente não precisa se afastar um do
outro.
EDUARDA
"POR AMOR" 172º capítulo pag.: 2
Senti essa necessidade.

MARCELO
Podemos enfrentar qualquer problema
juntos.
EDUARDA
Não sei. Estou confusa.

MARCELO
Perto de mim, você vai perceber que
não há o menor motivo pra se sentir
confusa. Eu posso te dar todas as
certezas do mundo.
EDUARDA
Eu tenho medo de continuar... e não
dar certo.
MARCELO
A maior prova de que pode (CORRIGE)
de que dá certo é o amor que a gente
sente um pelo outro.

EDUARDA
Nem sempre o amor é suficiente pra
manter um relacionamento.
MARCELO
Já fui um bobo de pensar que havia coisa

mais importante na vida do que o amor.
Mas não há.

EDUARDA
Eu não diminuo a importância do meu
amor por você. Muito menos a
intensidade. Eu amo muito. Muito
mesmo.
MARCELO
Então, Eduarda? Nós somos adultos!
Podemos superar essa confusão toda.

EDUARDA
Não se trata de imaturidade. Sei que
estamos mais maduros. Até mesmo
melhores como pessoas. Nesse tempo
todo de convívio, passamos da
criancice total a um amadurecimento
absurdo, rápido, doloroso.

MARCELO
A gente penou tanto que cada dia valeu
por dois.
EDUARDA
Foi bom por um lado. Abriu os meus
olhos. Os seus olhos. Não se pode ser
criança, imaturo, para sempre. Mas

esse crescimento também ensinou o
valor da paz. Eu não aguento viver num
ambiente de tumulto, insegurança,
desequilíbrio.
MARCELO
Não vai mais ser assim.

EDUARDA
(QUE NÃO PAROU) Tudo isso traz dor.
E eu não quero mais sentir dor. Não
essa que bate tão fundo na alma e deixa
marcas profundas.
MARCELO
Eu não posso prometer que vou tirar
as dores do mundo. A gente nunca está
livre. Mas posso garantir que entre
nós não vai haver mais espaço para
insegurança.
EDUARDA
O medo vem de saber que agora eu
estou competindo com uma mulher que
tem bons argumentos para segurar
você.
MARCELO
Argumentos? Eu não amo aquela louca.

EDUARDA
Mas vai amar os filhos dela. Que vão
ser seus filhos também. Duas crianças.
Quem sabe até um casalzinho. E isso
eu nunca vou poder te dar. Somos eu
e o Marcelinho contra a Laura e os
gêmeos. É uma disputa muito pesada.
E ela vem com tudo pra cima de você.
Marcelo ri, se volta e abraça Eduarda.

MARCELO
Eu não estou com você por causa do filho
que você me deu. Filho qualquer mulher
pode dar a qualquer homem. Mas amor...
como eu sinto por você e como você sente
por mim... isso a gente não encontra
fácil, não.
Abraçam-se e beijam-se muito apaixonados.
CENA 02 / SUITE DE LAURA / INT / DIA
LAURA / ELVIRA
Elvira com uma bandeja no colo, onde vemos um mingau de laranja.

ELVIRA
Come, Laurinha.
LAURA
Não.
ELVIRA
Um mingauzinho de laranja que eu fiz
com tanto carinho pra você.

LAURA
Carinho? E alguém sabe o que é carinho
nessa casa?!
ELVIRA
Eu tenho carinho por você. E quero que
se cuide. Que cuide dos bebezinhos.

LAURA
Vamos fazer greve de fome: nós três!
Eu, a Alícia e o João Marcelo! Somos
um trio unido pro que der e vier!

ELVIRA
Deixa de falar bobagem, garota! Onde
já se viu fazer greve de fome grávida
de gêmeos? Tem é que comer em dobro!

LAURA
Mingau de laranja, é?
ELVIRA
Sente o perfume... maizena e suco de
laranja no fogo brando...
Laura salivando, mas sem querer dar o braço a torcer.

LAURA
Mingau me enjoa. Meus filhos odeiam.

ELVIRA
Odeiam mingau de leite. Mas esse é de
suco de laranja. Parece um pudinzinho.
(FAZ DOCE) Você não sabe o que está
perdendo...
LAURA
Sem leite, é?
ELVIRA
Os bebês já devem estar com água na
boca...
LAURA
Tudo bem. Eu como. Mas simbolicamente.
Porque não vou registrar no meu cérebro
que comi. Continuo com a greve de fome.
O mingau vai pros bebês que estão
cheios de apetite mesmo.
E Laura devora o mingau.

ELVIRA
Nào falei que estava gostoso?

LAURA
Não estou prestando atenção. Sou
apenas um canal para que as crianças

recebam o alimento.
ELVIRA
Criancice! Depois reclama quando fica
de castigo! Tratam você como criança
porque você age como criança!

LAURA
Peraí! Veio trazer mingau ou veio dar
o sermão parte dois?!

ELVIRA
Tanta revolta só deixa a gravidez
agitada!
LAURA
O que deixa a minha gravidez agitada
é todo mundo dando palpite, querendo
se meter entre mim e o pai dos meus
filhos. Cavaram um abismo entre a
gente. Eu aqui, trancada feito uma
prisioneira e ele solto na praça!

ELVIRA
Não falei por mal...

LAURA
Desculpa, vai. Estou descontando em
você a raiva que estou de todo mundo.
Como se não bastasse essa clausura

absurda, agora querem me exportar pra
Portugal! Virei produto brasileiro de
exportação assim como café, abacaxi
e banana! Só faltam me vestir de baiana
estilizada!
ELVIRA
Se eu fosse você fazia tudo diferente.
Bancava a anja. Me vestia de querubim
com asinhas e tudo.

LAURA
Eu hem! Coisa mais sem graça! Prefiro
o modelito capeta: um longo vermelho
com um decote profundo aqui no busto.

ELVIRA
Só que capeta não ganha perdão... mas
uma boa anja... quem sabe?
Laura até olha pra Elvira, avaliando.
CENA 03 / LIVING DE SIRLÉIA / INT / DIA
LEONOR / NESTORZINHO / TEREZA
Leonor já mansa e se divertindo com Nestorzinho.

TEREZA
Anjo de altar de igreja mineira. Assim
que a dona Sirléia chama o Nestorzinho.

DONA LEONOR
Mas por que igreja mineira? Em Tatuí
também tem igreja!

TEREZA
E eu é que sei? Depois que a filha da
senhora decidiu bancar a fina pra
impressionar o seu Pedro, nada da terra
dela serve. Só se for importado.
DONA LEONOR
E desde quando anjo de Minas Gerais
é importado? É tudo brasileiro!

NESTORZINHO
Importado é de fora do Brasil.
As duas se olham.
DONA LEONOR
Viu, Tereza? O menino sabe mais do que
você!
TEREZA
E como sabe! Quer ver? Nestorzinho,
quanto é dois mais dois?

NESTORZINHO
Moleza. Quatro.
TEREZA
Vezes três.
NESTORZINHO
Doze.
DONA LEONOR
É um gênio!
TEREZA
Peguei uma tabuada antiga que a dona
Sirléia guarda de recordação e comecei
a testar. Ele faz conta de cabeça!

DONA LEONOR
A quem será que ele puxou? Ao pai com
certeza não foi! Aquele lá erra conta
até usando calculadora.

TEREZA
(EXIBIDA) Nestorzinho, como é que a
gente fala: o queijo pra mim comer...
ou o queijo pra eu comer?
NESTORZINHO
Para eu comer.
DONA LEONOR
E pensar que eu chamei de assaltante
anão esse intelectual-mirim!
TEREZA
Inteligente desse jeito? Não ia ser
batedor de carteira, não!

DONA LEONOR
Tem razão! Ia ser logo do colarinho
Branco!
NESTORZINHO
Vó Leonor, tia Tereza, quero ir pro
play...
TEREZA
Pode ir. Mas lembra do que a sua
vice-mãe recomendou: não vai pra rua
que você não conhece nada por aqui!

DONA LEONOR
E tem gente malvada que some com
criança!
NESTORZINHO
Deixa comigo.
E Nestorzinho sai.
DONA LEONOR
Ele é mesmo um encanto! A Sirléia deve
estar derretida!
TEREZA
Apaixonada pela criança! Disse que é
como se fosse dela! Seu Nestor foi
esperto... mandou o anjinho na frente
pra amaciar a fera...

DONA LEONOR
Do jeito que ela sempre quis ter um
filho homem... não sei não...

TEREZA
O seu Pedro que se cuide!

DONA LEONOR
Ou a Sirléia que se descuide e tenha
outro bebê!
Comentário musical.
1º INTERVALO COMERCIAL
CENA 04 / LAGO EM TERESÓPOLIS / EXT / DIA
EDUARDA / MARCELO
Agora estão num barco mesmo. Marcelo remando. Cena super romântica.
Linda visualmente. Sol batendo na água, refletindo o dourado. Tema
deles. Eles se olham. Ela ainda um pouco durinha, olhando e baixando
os olhos de vez em quando, como se tivesse medo de encarar e ceder
de vez. Tema musical deles.

CENA 05 / QUARTO DE CÉSAR / INT / DIA
CESAR / ANITA
Ele se arrumando pra sair, colocando o material numa maleta. De vez
em quando dá uma olhada na foto de Eduarda. Ele se vira e vê Anita
parada na porta. Ela tem um olhar carinhoso, mas crítico.

CESAR
Está aí há muito tempo?

ANITA
Não. Acabei de chegar.

CESAR
Quietinha...
ANITA
Gosto de olhar você.

CESAR
Sem que eu saiba?

ANITA
É interessante. Como se eu ficasse um
tempo invisível aqui dentro com
você... tentando ler seus
pensamentos...
CESAR
(SEM GRAÇA) Agora eu me senti num
microscópio.
ANITA
Mas eu observo com amor.

CESAR
Mas querer ler meus pensamentos...
mesmo com amor... me parece um pouco/

ANITA
Invasivo?
CESAR
É.
ANITA
Tem medo que eu descubra que você não
pensa em mim?
CESAR
Eu penso em você. Muito.
Anita aponta a foto de Eduarda.

ANITA
Mas pensa nela também. Muito.

CESAR
Estou preocupado. Só isso.

ANITA
Ela está bem grandinha pra lidar com
os próprios problemas.
CESAR
Não negaria ajuda a uma amiga.

ANITA
Se fosse só amiga...
CESAR
Sempre foi apenas amiga. Não...
apenas, não. Porque eu dou muito valor
a essa amizade.
ANITA
Valor até demais. Uma dimensão...

CESAR
Não dá pra medir o tamanho de uma
amizade. Assim como nós, médicos, não
conseguimos medir a dor que um paciente
diz que sente. A gente sabe que a dor
existe e é grande. Mas não tem o tamanho
exato.
ANITA
Uma amizade que cresce tanto vira amor.
E se o amor é grande, mesmo que não
se possa dar o tamanho, a força exata,
é um sentimento que não passa
despercebido.
CESAR
Não sei por que você vem sempre com
esse assunto. A gente está numa boa.

ANITA
Eu gosto muito de você, César. Amo.

CESAR
Eu sei disso. Nunca duvidei.

ANITA
Mas não vou aguentar viver a minha vida
inteira com medo de perder você pra
ela.
CESAR
Não há porquê.
ANITA
A Eduarda está por todos os lados dessa
casa. Nas conversas, nos pensamentos
e até nas fotos. É muito difícil ter
segurança do nosso relacionamento, do
nosso amor... com esse fantasma
rondando.
CENA 06 / SALÃO DE LÍDIA / INT / DIA
DENISE / LÍDIA / MARISA / FONSECA / KÁTIA / ÂNGELO / FLAVINHO
Denise sentada. As mulheres à volta. Os homens trabalhando.

LÍDIA
Não quis comer quase nada.

DENISE
Ainda estou com o estômago embrulhado.

MARISA
É de tanto antibiótico!
KÁTIA
O nervosismo também tira o apetite.

LÍDIA
Mas tem que se alimentar pro organismo
se recuperar mais rápido. Está tudo
mexido aí dentro de você.
Denise baixa os olhos.

LÍDIA
Não adianta ficar assim... já está
feito. Agora é erguer a cabeça e tocar
a vida. Se cuidar. Se reestabelecer
o mais rápido possível.

DENISE
Estou morrendo de vergonha de vocês.

LÍDIA
Pára com isso.

MARISA
A gente está aqui pra dar apoio.
Carinho. Não pra julgar você.

DENISE
Vocês são contra o que eu fiz.

LÍDIA
Mas não vamos crucificar você. Já basta
o que está sofrendo.

MARISA
Ninguém é juiz de ninguém, Denise. A
gente tem opinião diferente da sua.
Mas não quer dizer que vamos deixar
de gostar de você por causa do/

DENISE
Por causa dessa burrada. Burrada de
me meter com um cafajeste. Burrada de
não ter me cuidado. Burrada de ter
feito isso... e com aquela gente...

LÍDIA
É o que mais tem por aí. Clínicas
clandestinas. As granfinas, quando
querem fazer, procuram o médico da
família, o de confiança, e eles fazem
sem ninguém ficar sabendo.

MARISA
Uns protegem os outros.

KÁTIA
O problema é a pessoa sem recursos,
sem as tais amizades... tem que se

submeter a esses verdadeiros abutres!
MARISA
Eu sei que só dão vaga em hospital pra
fazer... isso... em caso de violência
contra a mulher. E também quando o feto
não está perfeito.

LÍDIA
É um assunto muito delicado. Cada um
tem sua religião e, consequentemente,
sua opinião sobre interromper uma
gravidez.
DENISE
Mas se o corpo é meu, eu tenho o direito
de decidir se quero ou não ter o filho.
Não vai ser um padre ou uma autoridade
que vai mandar no meu corpo.

KÁTIA
Nesse ponto você está certa. Quem faz
as leis tem que pensar direitinho
nisso. Senão vai continuar acontecendo
com outras mulheres o que aconteceu
com você.
Os dois homens cochicham.

ÂNGELO
A Denise aprontou. Tenho certeza.

FONSECA
Coitada. Está com a cara péssima.
Cabeça sem juízo, o corpo que paga!

ÂNGELO
Queria ser uma mosquinha pra ouvir o
que elas cochicham!
Flavinho chega.
LÍDIA
Olha só quem chegou!
Denise sorri, fraquinha. Flavinho retribui.
CENA 07 / QUARTO DE CÉSAR / INT / DIA
ANITA / CÉSAR / MAFALDA
Continuação da conversa.
ANITA
Basta ela chegar perto que você muda
completamente. Fica parecendo um
menino tímido querendo agradar a
qualquer custo.
CESAR
Você interpreta um gesto de carinho
como se fosse pecado. A família da
Eduarda/
ANITA
Chega desse papo de gratidão. Vai ficar
a vida toda se comportando como se
fosse menos importante? Eles ajudaram.
Não precisa ser ingrato. Mas não também
precisa colocar num altar pra adoração
eterna.
CESAR
Esse drama todo é porque ela ficou
aqui.
ANITA
Você tem uma recaída a cada vez que
ela aparece. Mas ela não aparece quando
está bem, quando está feliz. Ela só
aparece quando está atolada em
problemas e não tem quem ajude! Ela
usa você!
CESAR
Ela não faz de propósito. É que confia
em mim... nos meus pais.

ANITA
Faz pouco do amor que você sente. Ela
se aproxima pra dar a impressão de que
vai corresponder. Você cai. Mas ela

só quer te usar pra atingir o marido,
porque sabe que ele tem ciúmes.

CESAR
Ela vem até mim porque se sente
protegida.
ANITA
Se você quer se iludir, ter
esperança... eu deixo o caminho livre.
Mas tem que ter consciência de que
ela ama o Marcelo. E eu amo você.
César se aproxima, carinhoso, carente.

CESAR
Eu gosto de você. A Eduarda tem
marido... gosta dele... Eu jamais
faria qualquer coisa que pudesse
separar um do outro.
Anita beija César. Ele corresponde. Mafalda abre a porta sem ser notada,
vê o beijo, sorri e sai.
CENA 08 / SALA DE ANTENOR / INT / DIA
MAFALDA / ANTENOR
Mafalda vem do quarto. Antenor toma café.

MAFALDA
Eles estão se acertando lá dentro.

ANTENOR
Em briga de casal, nem pai e mãe pode
se meter. É outra conversa. Tem a ver
com o coração, com a pele. Com a química
entre eles.
MAFALDA
Como você está romântico...

ANTENOR
Essa garotada cheia de romance faz a
gente ter vontade de trazer de volta
o frescor da juventude que o tempo
levou. A vida tem mais colorido quando
se está amando.
MAFALDA
Você não me ama mais?

ANTENOR
Nunca vou deixar de amar. Mas os anos
pesam. E o amor se transforma. O nosso
amor não é esse furacão que vivem o
César, a Anita, a Eduarda, o Marcelo...
o nosso amor é uma brisa suave. Que
traz paz.
MAFALDA
Eu implicava muito com essa moça. Mas

ela tem se mostrado tão companheira
do César mesmo nos momentos mais
difíceis que chego a repensar minha
opinião.
ANTENOR
É mais mulher pro nosso filho. A
Eduarda é a paixão dele. Não dá pra
negar. Mas a companheira pra vida toda
é a Anita. A mesma profissão, menos
mimada, mais adaptada à dura rotina
do César.
MAFALDA
E eles podem crescer juntos. Na vida
e na profissão. A Eduarda teve marido
rico. É cheia de fricotes. Que a Helena
não nos escute...

ANTENOR
Por mais que esteja mudada, não se
encaixaria nessa vidinha simples que
a gente leva.
MAFALDA
Não imagino a Eduarda esquentando
comida pro César de madrugada, depois
de um plantão. A Anita faria isso. Mãe

é boba mesmo! Pensa até em requentar
comida na hora de pedir uma boa mulher
pro filho!
ANTENOR
Mãe não é boba nunca. Mãe é sempre
sábia.
CENA 09 / SALA DE LÍDIA / INT / DIA
DENISE / ORESTES / LÍDIA / FLAVINHO
Orestes arrumando uns papéis em sua pasta de trabalho. Lídia entrando
com Denise e Flavinho.

LÍDIA
Você desculpa quase te arrastar aqui
pra cima, mas é que o pessoal do salão
não sabe do problema.

DENISE
Mas eles estão com as orelhas em pé!
Me olham de um jeito!
FLAVINHO
(LEVE) Não vai ficar com mania de
perseguição agora, hem?

LÍDIA
Eles são curiosos, Denise! Até parece
que não conhece! É só não dar trela!
Orestes se aproxima, de saída. Cumprimentos informais.

ORESTES
Vocês me desculpem não ficar pra
conversar um pouco. Mas estou na minha
hora! O dever me chama!

FLAVINHO
Fica à vontade, seu Orestes.

ORESTES
Estou cheio de tarefas importantes
para cumprir. (SEGREDA) Assuntos de
extrema responsabilidade que o seu
Trajano, meu patrão, fez questão de
colocar nas minhas mãos. Tudo aqui
nesta pasta!
LÍDIA
Ai, Orestes! Cuidado! A rua está cheia

de pivetes!
DENISE
Só pivete? Bandidão também!

ORESTES
Verdade! Não se vê policiamento e os
bandidos estão deitando e rolando.

FLAVINHO
O que me impressiona é a quantidade
de armas pesadas, de grosso calibre,
que eles conseguem. Coisa que nem a
polícia tem!
ORESTES
Tudo importado! As autoridades têm que
combater a corrupção que deixa entrar
no país tanta arma! Tem que fiscalizar
com rigor os aeroportos, portos e
ferrovias que ligam o Brasil a outros
países!
FLAVINHO
Não se pode descuidar das fronteiras
de um país gigantesco como o nosso.

LÍDIA
É um país de gente honesta e

trabalhadora que se vê agredida
diariamente pelas notícias de
violência. É um desrespeito.
Orestes beija Lídia.

ORESTES
Qualquer problema, liga pro
almoxarifado.
LÍDIA
Vai com Deus, Orestes.

ORESTES
Um bom dia pra todos.
Orestes sai.
LÍDIA
Se não é Deus pra cuidar do povo...
Mas senta, Flavinho. Eu vou buscar um
café. Está fresquinho.

FLAVINHO
Minha mãe mandou um abraço pra senhora.

LÍDIA
Manda ela vir fazer o cabelo aqui com
a gente! Do jeito que você tem sido
bacana, eu nem cobro!

DENISE
E eu faço as unhas dela.

Eles se acomodam. Lídia vai buscar o café. Denise e Flavinho encantados
um pelo outro. Lídia percebe e ataca de cupido.

FLAVINHO
Da próxima vez que eu vier aqui, vou
querer ver um sorriso no seu rosto.

DENISE
Está difícil sorrir...

FLAVINHO
Passa uma borracha por cima desse drama
que você viveu. E vai tentar encontrar
a sua felicidade.
LÍDIA
Você já viu o show da Marisa?

FLAVINHO
Ainda não. Mas está o maior comentário
aqui em Niterói!
LÍDIA
Leva sua namorada...

FLAVINHO
Eu não tenho namorada.
Denise sorri, discreta.

LÍDIA
Não acredito! Um moço formado, bom
filho e bonito como você?

FLAVINHO
(SEM GRAÇA) Eu costumo dizer que eu
não estou só. Eu sou sozinho.
LÍDIA
Mas não deve ser por falta de
pretendente!
FLAVINHO
Só pra dizer que estou acompanhado?
Não. Quero encontrar alguém especial,
com quem valha a pena sonhar, fazer
planos...
LÍDIA
Você é um rapaz sensato. Igualzinho
ao meu Nando.
CENA 10 / LAGO / EXT / DIA
EDUARDA / MARCELO
Ela adormeceu no barco e ele rema suavemente, olhando o rosto dela.
Muito amor. Tema deles. Uma imagem bem lírica.
CENA 11 / ESTÚDIO DE HELENA / INT / DIA
HELENA / ANINHA / FLÁVIA / ATÍLIO
Helena pensativa: como se visualizasse a cena da filha no lago.

FLÁVIA
Helena! Helena!
HELENA
Oi? Desculpa. Eu estava distraída.

FLÁVIA
Deu pra notar. Onde você guardou as
anotações sobre o projeto de reforma
da mansão de Vargem Grande?

ANINHA
O proprietário não quer outra
decoradora envolvida...
FLÁVIA
Você é a porta-voz dele?

HELENA
(SUPERIOR)Está na primeira gaveta da
mesa.
FLÁVIA
Quero dar uma olhada. Escutei seu papo
com o homem e tive algumas idéias.
Flávia vai até a gaveta e pega uma pasta com as anotações.

HELENA
Idéia boa é sempre bem-vinda.

FLÁVIA
Sou profissional. Não ia perder tempo
com um projeto pequeno se não fosse
uma boa idéia. Aliás, a minha idéia

é ótima.
Aninha p. da vida. Helena faz sinal pra se segurar.

HELENA
O cliente embarca no fim do mês pra
Paris. Fica dois meses. Tempo mais do
que suficiente pra fazer as
modificações que ele quer.

FLÁVIA
Mas falou um monte de bobagens! Quer
escadaria com corrimão dourado. Já foi
a época!
HELENA
Eu vou conversar com ele a respeito.

FLÁVIA
Com essa sua conversinha doce? Vai
deixar ele colocar não apenas o
corrimão, mas a casa inteira dourada!
Novo rico... deslumbrado! Se bobear
até a piscina vai querer com azulejos
dourados!
Flávia ri, debochando do cliente. Helena sorri minimizando.

HELENA
Sou decoradora. Mas a casa é dele. Não

posso impor um estilo. Tenho que
atender certos pedidos. Afinal, é ele
quem vai morar lá... Já lidamos com
tantas pessoas excêntricas...
O telefone toca.
HELENA
Deve ser Eduarda dando notícias.
Flávia, que está ao lado do telefone, atende.

FLÁVIA
Como vai? Estava aqui falando que estou
com ótimas idéias!
Aninha faz carinha de "mas que cara-de-pau!"

FLÁVIA
Não. É Flávia. (PAUSA) Não... não me
aborreço de maneira alguma... claro...
foi um prazer...
Aninha e seu sorrisinho terrível. Flávia desliga, p. da vida.

FLÁVIA
Me cortou. Pediu pra dar o recado de
que está aguardando você para o chá
amanhã.
HELENA
(DELICADA) Com a mãe dele. Uma senhora
simpaticíssima. Tem umas peças de

família que doou para o filho e eu
pretendo usar.
Atílio chega. E fica entre as duas. Cumprimentos informais. Flávia
dá um beijo de leve nele.

ATÍLIO
Vim saber notícias da Eduarda.

HELENA
Nada ainda.
ATÍLIO
Então é sinal de que estão se
entendendo. Notícia boa é pra ser
curtida. Ainda mais a dois. Depois é
que eles vão se lembrar de que existem
outras pessoas no mundo.

HELENA
O lugar é lindo. Dá uma sensação de
paz tão grande que eu espero que eles
se deixem contagiar e se desarmem um
pouco.
ATÍLIO
O Marcelo não vai abrir mão dela. Pode
ter certeza disso. Saiu daqui com o
discurso pronto.
HELENA
Discurso?
ATÍLIO
Vai abrir o coração. Falar do amor que
é imenso. É discurso pronto porque é
direto, vem do coração. Não precisa
de ensaio. É só deixar fluir.

FLÁVIA
Eu sou assim: falo o que penso. Amo
e me entrego sem reservas.

ATÍLIO
O amor só vale a pena se for pleno.
E é tão raro... uma gota no oceano.
O Marcelo já percebeu que entre ele
e a Eduarda é especial.
HELENA
Ela também.
FLÁVIA
O problema é a cuca deles. Nós três
sabemos ver com clareza quando um amor
acaba de verdade.Quando o coração
volta a amar... mas eles...

ATÍLIO
Eles sabem exatamente o que querem.
Basta que ninguém tumultue. Na solidão

a dois, sem turbulências, vão se
entender. Vão falar a mesma língua.

HELENA
Que os anjos digam amém.
Novo toque de telefone. Helena se agita. Aninha atende.

ANINHA
Não. É engano. Disponha.

FLÁVIA
Se cada vez que o telefone tocar você
der um salto desses...

HELENA
Tenho que aprender a segurar minha
ansiedade.
FLÁVIA
Já cansei de falar pra você que o
problema de Eduarda é excesso de mimo.
Trata como se fosse um bebê!

HELENA
(COM CLASSE) Minha filha cresceu,
Flávia. Em todos os sentidos. E eu
tenho orgulho de ter podido acompanhar

cada passo desse crescimento. Nos bons
e maus momentos. Realmente, eu
superprotegi. Você não está de todo
errada. Me sinto até culpada. Mas a
Eduarda tem qualidades de caráter, de
postura... uma generosidade... que
matam esses defeitos de criação.
Flávia engole e se manca.
CENA 12 / VILA SANTA RITA / EXT / DIA
GENÉSIO / MAGNÓLIA / OSCAR
Oscar com headphones, sentado no chão em posição de Yoga, sob o sol.
Concentradíssimo. Genésio cuida das plantas. Magnólia se aproxima.
Ele colhe uma flor e oferece a ela.

GENÉSIO
Uma flor para outra flor.

MAGNÓLIA
(QUE DESGOSTO) Que profundo... você

é praticamente um poeta!
GENÉSIO
(ORGULHOSO)Sei outros versos bonitos.
Depois você anota pra colocar no seu
livro.
MAGNÓLIA
Vamos guardar esse seu talento
literário pra outra ocasião. Quem sabe
a próxima bienal do livro!

GENÉSIO
Você é quem manda!

MAGNÓLIA
Aprendi a mandar ainda no berço! Papai
Almirante tocava a Alvorada pra
família inteira despertar. Eu me
levantava e dizia pra babá: "já pra
cozinha! Vai fazer minha mamadeira!"
E ri, maluca.
GENÉSIO
O Oscar está naquela posição há horas!
Já estou preocupado!
E sem protetor solar! Vai estragar a
pele de porcelana!
MAGNÓLIA
E desde quando maracujá de gaveta é
porcelana?! Deixa o Oscar quieto lá
na concentração dele! Está escutando
o hino do Vasco.
GENÉSIO
Que mau gosto!

MAGNÓLIA
Concordo. É que hoje tem rodada dupla:
juniores e profissionais.
GENÉSIO
Vai decorar o hino ou vai enlouquecer!
Eu hem!
E Oscar mais um pouco em seu ritual ortodoxo.
CENA 13 / RESTAURANTE DO WILSON / INT / DIA
WILSON / OSCAR / ZITO / GENÉSIO / MAGNÓLIA / CLÁUDIA / MARIAZINHA
Wilson, Zito, Cláudia e Mariazinha por ali.

WILSON
Vou fazer uma festança! De arrebentar
a boca do balão!
Magnólia e Genésio entram.

CLAUDIA
O Wilson vai casar!

GENÉSIO
Vai largar a Márcia? Coitada!

MARIAZINHA
Vai casar com a Márcia! No civil!

GENÉSIO
Puxa, que susto!

MAGNÓLIA
E os comes e bebes? Quero dar palpites
no menu! Como única candidata a
emergente da vila, tenho que ficar
encarregada do cerimonial.
WILSON
Tudo de primeira! Cheque em branco!
Não vou medir despesas! Vai parecer
casamento de novela!
ZITO
E já pensou na data?
WILSON
22 de Maio. Cai numa sexta-feira! E
o que é melhor: é dia de Santa Rita!
Padroeira da vila e protetora da
Ritinha!
MAGNÓLIA
Já pedi de um tudo pra Santa Rita dos

Impossíveis! E sempre sou atendida...
nada me escapa... pedi, ganhei!

GENÉSIO
A gente tem que enfeitar a vila! Tem
que encher de flores!

CLAUDIA
Eu faço o bolo! Meu presente!

MARIAZINHA
Eu cuido do vestido!
Oscar chega, ainda em silêncio.

WILSON
Logo mais tem jogão, hem, Oscar! Vasco
e Fluminense! Se prepara pra sofrer!
Já comecei minha dieta tricolor: hoje
só como alface, tomate e arroz! Verde,
vermelho e branco!
Oscar faz sinal de que não vai falar.

ZITO
Está com a garganta inflamada?
Oscar nega.
WILSON
(PROVOCA) Vou pro Maracanã estrear
minha camisa nova! Super bonita! A
número 1... a do Ronaldo... goleiro...

que vai fechar o gol... e não vai passar
nem pensamento...
Oscar faz cara feia.

GENÉSIO
Acho que seu Oscar está doente. Melhor
preparar um chá de carqueja!
Oscar fungando, deprimido.

MAGNÓLIA
Não é doença de gente normal não. Só
ataca torcedor fanático. O
neurologista disse que é depressão de
indecisão futebolística a nível de
coração dividido.
TODOS
O quê?!
MAGNÓLIA
Depressão de indecisão futebolística
a nível de coração dividido!
Oscar já chorando.
MAGNÓLIA
Antes do Vasco jogar com o Fluminense
tem/
WILSON
Juniores do Vasco contra os juniores

do Goytacaz.
MAGNÓLIA
O Oscar torce pelos dois times. E fica
deprimido no dia que eles se enfrentam.
Perde a voz e chora o dia inteiro.

WILSON
Tem cura?
MAGNÓLIA
Segundo o método mautache de
neurologia clubística, ele só sai do
surto se o jogo acabar empatado. Se
um dos dois vencer... (PAUSA) eu posso
até ficar viúva...
E Oscar chorando.
CENA 14 / LIVING DE MEG / INT / DIA
MEG / MILENA / NATÁLIA / SIMONE / ELVIRA
Elas já inteiradas da "prisão domiciliar" de Laura.

MILENA
Eu estou chocada. Não pensei que você
e o Trajano fossem radicalizar, Meg.

MEG
É porque você não tem convivido de
perto com todos os atos extremos da

Laura. Se existe alguém radical aqui
em casa, é ela: radical no
desequilíbrio!
SIMONE
Deixa ao menos o telefone no quarto,
pra gente poder bater um papinho...

NATÁLIA
Coitada, mãe, trancada lá sozinha!

MEG
A ordem de cortar a comunicação com
o mundo exterior é do meu marido. E
não costumo contrariar o Trajano. Ele
é um excelente pai e se tomou essa
atitude é porque pensou muito.

MILENA
Mas ir pra Portugal ter os bebês...
você há de concordar que é um absurdo!

NATÁLIA
Foi idéia dela!

MILENA
Sua, Meg?!
MEG
Trajano tem parentes lá. Não
sentiremos tanta falta do ambiente

familiar.
NATÁLIA
Tudo parente distante. A Laura vai
odiar.
MEG
Não seria novidade. É só o que ela sabe
fazer: odiar...
SIMONE
Ao menos um bilhetinho eu posso deixar?

MEG
Não. Ela está com a roupa do corpo,
cama e comida. E toilete, lógico.

MILENA
Um castigo exagerado assim pode ser
prejudicial à própria gravidez que
tanto preocupa vocês.

SIMONE
O pior é ficar sem telefone! Eu ficaria
maluca sem o meu celular!
Meg preocupada.
CENA 15 / SUITE DE LAURA E LIVING DE BRANCA / INT / DIA
LAURA /// LEONARDO / ROSE / BRANCA / ZILÁ
Laura ao telefone, com Leonardo.

LAURA
Conta, Léo! Você é ou não é meu amigo?

LEONARDO
Não tenho a menor idéia de onde o
Marcelo se meteu!
LAURA
E a infeliz da Eduarda? Cadê?

LEONARDO
Repito: não sei.

LAURA
Impossível! Você sabe e não quer dizer!
Está fazendo parte do complô pra me
isolar do mundo e me enlouquecer!

LEONARDO
Se acalma.
LAURA
(ALTO) Estou calmíssima! Você não me
viu nervosa!
LEONARDO
Nem quero ver. Prefiro todo mundo
vivendo em harmonia. Deixa os dois em
paz, Laura. Vai viver sua vida.

LAURA
Despeitado! Só porque eu não te quis!

Cretino!
LEONARDO
Se você quiser, eu posso tentar falar
com seus pais...

LAURA
Não preciso de advogado! Me defendo
muito bem sozinha! Preciso saber do
Marcelo! Se nem pra isso você presta,
tenha um péssimo dia!
Laura bate o telefone na cara de Léo. Ele faz nova ligação.

LEONARDO
Oi. Aqui é o Léo. Por favor, eu gostaria
de falar com a Cat.
Branca no tititi com Rose.

BRANCA
Bilhete? Pra mim? De quem?

ROSE
Do Fausto.
Branca faz aquela cara.
CENA 16 / LIVING DE BRANCA / INT / DIA
ROSE / BRANCA / LEONARDO / ZILÁ
Zilá zanzando. Léo lá no telefone.

ROSE
Mandou o bilhete através do advogado.

BRANCA
A troco de que santo esse idiota do
Fausto ia me mandar um bilhete?

ROSE
Estou assustada.
BRANCA
Está aí com você? Passa pra cá.
Rose abre a bolsa, pega o bilhete e passa pra Branca, discretamente.
Léo percebe, mas dá a entender que não valorizou. Branca lê o bilhete
em tom baixo.
BRANCA
"Dona Branca, só posso recorrer à
senhora nessa emergência. Estou
isolado do mundo. Abandonado mesmo."
Branca pára de ler e ri.

BRANCA
Como abandonado? Está numa ilha

deserta por acaso? Deve ter um monte
de amiguinhos lá no presídio... vai
ver até jogam pôquer, futebol...
Aquilo lá tem jeito de ser animado!
E ele quer fazer o gênero maior
abandonado!
ROSE
Continua!
BRANCA
"Estou pagando meus pecados nesse
lugar. Encarei numa boa. Fiz minha
parte. Só não quero ser esquecido.
Preciso da proteção que a senhora
prometeu."
Mais uma parada.

BRANCA
Imagina. Joga um inocente na cadeia
e depois vem se queixar. E sem remorso!

ROSE
Lê de uma vez!
BRANCA
"Estou sem notícias da Noêmia e do meu
filho. Só a senhora sabe como encontrar

os dois. Aguardo contato. Do amigo,
Fausto"
ROSE
Do amigo?!
BRANCA
Virei amiga de bandido! Era só o que
me faltava! O que será que esse
meliante quer da vida? Manter
correspondência com Branca Letícia de
Barros Mota?
ROSE
Mais um pouco e pede pra você instalar
computador e Internet no presídio, pra
vocês ficarem trocando e-mails o dia
todo!
BRANCA
Pior se resolver publicar uma
biografia. Agora qualquer pé rapado
publica livro... Já imaginei até o
título: "Cartas de um pilantra
enjaulado para uma loira, linda, leve
e solta".
E riem. Branca rasga o bilhete e atira displicentemente numa bandeja
onde foi servido o café. Léo desliga o telefone.

BRANCA
Filhinho da mamãe. Chega aqui pertinho
que me deu um ataque de saudade.
Léo sorri e se senta no braço do "trono" de Branca.

BRANCA
Não tão perto que a saudade afinal não
é tão grande assim. Senta ali do
ladinho da Rose. E toma um cafezinho
com a gente.
O bilhete ali. Zilá se aproxima.

ROSE
Zilá, você não colocou o adoçante da
marca que eu gosto.

ZILÁ
Desculpa, dona Rose.

ROSE
Não desculpo não.

BRANCA
No que você faz muito bem.
CENA 17 / LAGO / EXT / DIA
MARCELO / EDUARDA / MARCELINHO / LIZA
Marcelo rema até a margem, no ancoradouro, onde alguém ajuda a amarrar
o barco. Liza está brincando no gramado com Marcelinho. Eduarda e

Marcelo caminham até eles.
EDUARDA
Se comportou direitinho?
LIZA
Está feliz da vida!

MARCELO
Como eu.
Olham-se. Eduarda sorri. Eles se sentam junto à Liza e o menino. À
princípio, uma situação meio tímida. Marcelo provocando Eduarda. Ela
vai se soltando devagar. Ele deita na grama, pega Marcelinho e coloca
em cima do peito.
MARCELO
Chega aqui pertinho da gente...
Ela se aproxima e deita ao lado dele. Ficam ali brincando com o filho.
Liza se afasta, discreta.

EDUARDA
Vem com a mamãe...
Ela pega o filho e brinca com ele sobre seu peito. Rolam na grama,
se beijam de leve. Delicadeza e integração entre eles.
CENA 18 / SHOPPING / INT / DIA
Stock-shot.
CENA 19 / LOJA DE MILENA / INT / DIA
TELMA / LUCIANA / VIRGÍNIA / JULIANA / FREGUESAS

Movimento de freguesas. Virgínia entra na loja com Juliana. Admiram
um pouco. Quando uma cliente sai, elas se aproximam de uma vendedora.

VIRGINIA
Tudo bem? A Milena está por aí?

TELMA
Deu uma saída.

VIRGINIA
Que pena! Justo hoje que vim conhecer
a loja dela...
JULIANA
É nossa amiga.
VIRGINIA
Está muito bonita...

LUCIANA
E o movimento tem aumentado bastante.

VIRGINIA
É a famosa propaganda de boca. Uma
pessoa compra, gosta, e sai indicando
para os amigos.
JULIANA
Mãe, olha que peças lindas!

VIRGINIA
Vou dar uma xeretada...

TELMA
Fica à vontade.
LUCIANA
Vocês aceitam água? Café?

VIRGINIA
Não, obrigada.
E ficam olhando a loja um tempinho. Dão um tchauzinho e saem.
CENA 20 / SHOPPING E LANCHONETE / INT / DIA
VIRGÍNIA / JULIANA
Elas caminhando, vendo vitrine até entrar na lanchonete habitual.

JULIANA
Tem tanto shopping agora que, se a
gente quiser, dá passear cada dia num!

VIRGINIA
Eu prefiro shopping do que loja em rua.
Além desse ar refrigerado maravilhoso,
tem o estacionamento. Já pensou que
horror ficar rodando atrás de vaga?

JULIANA
Aqui eu não tenho medo de andar. Até
sozinha eu venho. Mas na rua... só com
você ou com o papai. Morro de medo de
assalto.
VIRGINIA
Está uma barra pesada. As autoridades
têm que ver esse problema. Se até você
que é cuca fresca já se tocou... só
faltam eles! Os que mandam!

JULIANA
Mãe, tô morrendo de fome!

VIRGINIA
Vamos fazer um lanche. Não espalha,
não, mas vou fugir da dieta e encarar
um cheeseburguer com fritas!

JULIANA
Chego a sonhar com batata frita!

VIRGINIA
Sonhar com batata frita, Ju? Você está
na idade de sonhar com esses galãzinhos
de Tv... e não com batata frita!
Riem, descontraídas.
CENA 21 / LIVING DE BRANCA / INT / DIA
BRANCA / ROSE / LEONARDO / ZILÁ
Continuação da cena.
BRANCA
Detesto essas pessoas metidinhas a

sabe-tudo, que têm sempre uma frase
de efeito na ponta da língua.

ROSE
Geralmente frases medíocres. Porque
conheço poucas pessoas brilhantes como
você e que tenham essa capacidade
magnífica de falar a frase certa na
hora certa. Você é uma filósofa dos
tempos modernos!
BRANCA
(ESPANTADA) Não cansou não?

ROSE
De quê?
BRANCA
De puxar...
ROSE
Tomo vitaminas de potássio e fósforo
para ficar com a memória sempre afiada
e jamais esquecer minha coleção de
elogios a você.
BRANCA
Vê, Léo, que pessoa espontânea,
verdadeira? Minha única amiga de
verdade.
LEONARDO
Inacreditável.
Zilá se aproxima.
ZILÁ
Desejam mais alguma coisa?

BRANCA
Pedimos?
ZILÁ
Ainda não.
BRANCA
Então não vem bancar a boazinha, a
eficiente, não. O salário está
congelado. E nem que você me beije os
pés eu dou aumento.

ZILÁ
Ganho bem. Não estou me queixando.

BRANCA
Então é o caso de reduzir o salário.
Não faz quase nada e ainda tem a honra
de conviver comigo...
LEONARDO
É proibido por lei reduzir salário.

BRANCA
Eu mando refazer a lei. Qual o

problema? Um pedidinho desses, que
autoridade vai me negar? É quase dar
uma bala a uma criança. Coisinha à toa!
Um mimo à minha pessoa.

ROSE
Reze todas as noites, Zilá, e dê graças
a Deus de ter uma patroa tão
maravilhosa e de bom coração como a
Branca. Abusada do jeito que você é,
se trabalhasse lá em casa...
ZILÁ
Com licença. (SAI)

BRANCA
Léo, está tão quietinho... depois se
queixa que a mamãe não conversa com
você.
LEONARDO
Gosto de ouvir você falar.

ROSE
Ele se queixa de você?

BRANCA
Hum hum.
ROSE
Léo, você caiu no meu conceito. Juro!

LEONARDO
Eu adoro a minha mãe.

BRANCA
É pouco. Tem que colocar num altar e
venerar. Mãe é sagrada.

ROSE
Branca, querida, vamos dar o nosso
passeio habitual?
BRANCA
Vamos, sim. Apenas uma correção: eu
não tenho hábitos. Quem tem hábito é
gente medíocre. Eu tenho tradições.
Elas saem, tagarelando, felizes em suas abobrinhas. Léo vai para o
telefone fazer uma ligação qualquer. Zilá pega a bandeja onde está
o bilhete rasgado e leva para a copa.
CENA 23 / COPA DE BRANCA / INT / DIA
ZILÁ
Ela coloca a bandeja em cima da mesa, abre a geladeira e pega água.
CENA 24 / LANCHONETE / INT / DIA
VIRGÍNIA / JULIANA / RAFAEL / ALEX
Elas lancham, felizes.

VIRGINIA
Nada como um pecadinho...

JULIANA
Você está enxuta! Não precisa de tanta
dieta!
VIRGINIA
Elogio vindo de mulher... mesmo que
tenha a sua idade e seja minha filha,
tem lá seu valor!
Riem. Virgínia olha ao redor, distraída e vê Rafael e Alex passeando.
Os dois sorrindo. Intimidade. Como dois namorados mesmo. Virgínia
congela o olhar.
JULIANA
Vamos ao cinema?
Virgínia sem acreditar e sem ouvir.

JULIANA
Mãe, estou falando com você! O que
aconteceu?
VIRGINIA
Nada, Ju. Termina logo o seu lanche!
Eles não vêem Virgínia, nem Juliana. A menina não vê o pai. Virgínia
disfarça, esconde o rosto com o cardápio. Aquele suspense. Juliana
sem entender nada.
CENA 25 / COPA DE BRANCA / INT / DIA

ZILÁ / LEONARDO
Quando Léo entra na copa, Zilá está encostando as partes do bilhete
e lendo.
LEONARDO
O que você está fazendo?

ZILÁ
Nada, não.
Zilá sem graça, embaralha os pedaços. Léo pega o bilhete, junta as
partes e lê. Depois olha para Zilá, que baixa os olhos.

LEONARDO
Pode me explicar o que significa isso?
Zilá morde os lábios, aflita.

LEONARDO
Responde, Zilá!
ZILÁ
Significa que a dona Branca foi a
mandante...
LEONARDO
O quê?!
ZILÁ
A dona Branca mandou esse Fausto
colocar droga na mochila do Nando.

Ficamos com o choque de Léo.
FIM DO 172º CAPÍTULO DE "POR AMOR"
MANOEL CARLOS 1998 LAUS DEO
Com Letícia Dornelles.

Por Amor Capitulo 172

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Por Amor Capitulo 172

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"POR AMOR" 172º capítulo pag.

CENA 01 / LUGAR LINDO PERTO DO LAGO / EXT / DIA

Continuação direta do capítulo anterior. Eles fecham e abrem os olhos

em movimentos coordenados. E conversam sem se olhar, olhando o céu

Eu não entendo por que você fugiu de

mim outra vez.

Fugir. Minha mãe também usou esse

Foi o que você fez.

Não. Eu me afastei daquele

apartamento. De todas as pessoas...

Tinha que ser assim.

A gente não precisa se afastar um do

Senti essa necessidade.

Podemos enfrentar qualquer problema

Não sei. Estou confusa.

Perto de mim, você vai perceber que

não há o menor motivo pra se sentir

confusa. Eu posso te dar todas as

Eu tenho medo de continuar... e não

A maior prova de que pode (CORRIGE)

de que dá certo é o amor que a gente

sente um pelo outro.

Nem sempre o amor é suficiente pra

Já fui um bobo de pensar que havia coisa

Mas não há.

Eu não diminuo a importância do meu

amor por você. Muito menos a

intensidade. Eu amo muito. Muito

Então, Eduarda? Nós somos adultos!

Podemos superar essa confusão toda.

Não se trata de imaturidade. Sei que

estamos mais maduros. Até mesmo

melhores como pessoas. Nesse tempo

todo de convívio, passamos da

criancice total a um amadurecimento

absurdo, rápido, doloroso.

A gente penou tanto que cada dia valeu

Foi bom por um lado. Abriu os meus

olhos. Os seus olhos. Não se pode ser

criança, imaturo, para sempre. Mas

valor da paz. Eu não aguento viver num

ambiente de tumulto, insegurança,

Não vai mais ser assim.

(QUE NÃO PAROU) Tudo isso traz dor.

E eu não quero mais sentir dor. Não

essa que bate tão fundo na alma e deixa

Eu não posso prometer que vou tirar

as dores do mundo. A gente nunca está

livre. Mas posso garantir que entre

nós não vai haver mais espaço para

O medo vem de saber que agora eu

estou competindo com uma mulher que

tem bons argumentos para segurar

Argumentos? Eu não amo aquela louca.

Mas vai amar os filhos dela. Que vão

ser seus filhos também. Duas crianças.

Quem sabe até um casalzinho. E isso

eu nunca vou poder te dar. Somos eu

e o Marcelinho contra a Laura e os

gêmeos. É uma disputa muito pesada.

E ela vem com tudo pra cima de você.

Marcelo ri, se volta e abraça Eduarda.

Eu não estou com você por causa do filho

que você me deu. Filho qualquer mulher