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Arlete Farge - Lugares para A Historia - Violencia.
Arlete Farge - Lugares para A Historia - Violencia.
autêntica
www.autenticaeditora.com br
coleção história ehistoriografia
0800 28 31377
SBN97S-85-752Õ-542-0
Coleção
HISTÓRIA & HISTORIOGRAFIA
Coordenação
Eliana de Freitas Dutra
Ariette Forge
V.
TRADUÇÃO
Fernando Scheibe
autêntica
d® «<'• sous ,a d.ection SUMÁRIO
Copyright« 2011 Autêntica Editora Uda.
título do original
Des lieux pour rhistoire REVISÃO DA TRADUÇAO
Vera Chacham
"'STORIA E REVlSAO DE TEXTO
historiografia
Eliana deFreitas Dutra Ana Carolina Lins Brandão
Lira Córdova
projeto graficodecapa
Alberto Bittencourt editora responsável
Bejane Dias
edtoraçAo eletrônica
Conrado Esteves Introdução ^
Revisado conforme oNovo Acordo Ortográfico. 1
Do sofrimento
parte dest^pSSSaJopQ^er^^^^^^
mecânicos, eletrônicos 2 avia
Nenhuma
"^eios Estos morados vivos do historio ^^
autorização prévia da Edit^a ^ *erográfica, sem a Ador político 19
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Lugares para a história Davkxénoa
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Lugares para a história Da vioiÉNOA
conjunturais não fecharam odebate, que obrigaram mesmo aoutras violentos. Numerosas práticas sociais canalizam as emoções e os
einterpretações, produzindo ao mesmo tempo acontecimentos de afetos enquanto "o" político assume a violência. Assim ocorre,
ordem poimca e, em conseqüência, novos objetos de pesquisa. Em por exemplo, na sociedade de corte, ou, mais recentemente, edi
todo caso, nesse domínio da história da Revolução, não se pode ferentemente, no esporte, que se revela uma prática regrada que se
de ' '"tetpretação cria novas fonnas de aquiescência ou apodera das emoções, das rivalidades e dos afetos. Uma regulação
das tensões políticas passa por fomias da autoridade do podei edas
tZou"d
erudito ou do homem da rua, são criadas apartir dela --do práticas sociais em que o indivíduo interioriza regras e comporta
mentos. O espaço público e o espaço privado adquirem pouco a
ra em^re5ctroisr"7"'"'''° ~ -teipretação épnniei- pouco (tratados de civilidade, aprendizagem da leitura, adestrainento
Attavês de cada movJntoTS! arv^XtrifrÍ' dos coipos, sociedades de sociabilidade, regulamentos escolares,
regulamentos esportivos, associações) ocostume da não vio encia,
OLi ao menos de uma violência controlada, em que o piocesso
história e de sua interpretação A. ' ' , ^ ° produto da civilização permite anumerosas áreas do social conhecer uma re
lativa serenidade.
""T""""""""-p^dj:,d'r;°í
Se aceitamos, com MichelFoucault noeid-
~ No interior dessas áreas, os mecanismos
violência são aum só tempo complexos esutis, i ceis e
i
reinterpretação ao infinito e refimdacão n E claro que é impossível, nestas páginas, entrar nos
um sujeito novo, podemos finalmenteTusr pensamento eliasiano, que levou muito tempo para er
institui, acada momento histórico, arelaçã^dT'"^"'^"'^''' ^a França.
aviolência, como se fabrica um h sociedade com
_ Essa mescla eliasiana certa
discursosobreaviolèncSrasu"""'^^^^
ecomo sua reinterpretação pode traae «-uncientes eiencia histórica; revela-se convincent dos modelos
' °dngam aadotar um outro rosto. ^'^-'ccimentos que culturais e dos sistemas de
representação,
Eistória sociocultural, para ahistoria da v: amasj^ficilm^K pode
ar conta das grandes rupturas levantes, violências
uen-as, genocídios, massacres, atos d • j violência;
Segundo Norbert Elias p findem com suas hiâncias'^ esse processo de ro «r
Ocidente entre aIdade Mê;. ^ do as explicações, apartir de então, /g (jlyez de lineari-
uma progressiva transformação da econo '^^"«erizada por ronvincentes. O forte sistema de caus i a
Um processo de civiliLção m ade?) que sustenta esse modelo de Nor parece obrigar
eaviolência não está mais expost! àvmlê ''
Pouco apouco vê-se proibida, reprimida efrontal,
^^continuidades edas rupturas; inconscien
aqueles que oseguem apensar apartir ^een ^j^ão^^expHcitados de
crr^ndes avatares
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Lugares paraa história Da vioiíncia
analisar), por exemplo, dos momentos em que aprópria violência supostos chefes) saíam da sombra eeram estudados em suas inten
parece lacerar osimbóUco efazer de tal modo que aordem que se ções e práticas.
guirá seja forçosamente estraçalhada por essa experiência traumática?
Como interpretar aviolência quando esta se aparenta àbarbárie e
A leitura dos Difos e escritos
nenhuma justificação aposteriori permite recolocá-la num sistema
coerente? Permanece impensável enefasto deixá-la justamente no Nos quatro volumes dos Ditos cescritos, não há nenhuma
doimmo do mpensavel, do caos eda barbáne, que são nae.os de interpretação sistemática da violência, nenhum modelo go a
proposto, e isso é bom. Em compensação, ao fio das paginas e
das questões colocadas aMichel Foucault, aviolência se en
freqüentemente nomeada e por vezes refletida. Ea parti
material disperso que nos perguntamos se não jaziam g
elementos próprios para reinterrogar aviolência, para pensar
representava um custo social m^olrerm do passado assim como aquela que nos invade hoje. em esqu
que não éde modo algum uma questão de lançar as ^
conjunto das interpretações passadas, mas que se trata
se certas ferramentas que Michel Foucault nos da po e
Os atores sociais dotón^T cenll quÍf"' certa forma de reflexão. ..
distância das explicações Dsi^nlr^ • ^justo título, tomar Em sua Q.dxa da paz, de 1517, fedesse
instrumentos cegos da violência m"'"' multidões anatureza ensinou apaz eaconcor la » brigam ese
-das pela selvagena ou pelo^nm T -"^u- ^^tado natural, não se pode crer que ' os homens que bnga
populares, as violências coletivas eas sobre as emoções combatem são dotados da razão humana -
os atores sociais eseguir seus gestos --^^ncontrar Michel Foucault (1994Í, p. 145) sustenta, é
ações. Os levantes são então divisíwis em P'='"'="'^os esuas ^"tcada, uma afirmação filosófica totalmente op^
tenta reconstituir: no interior de cada cen ° '-^toriador
lógicas práticas que determinaram edepoK''"'"''"' ° ordem, sem encadeaniento, sem fonna, (poucAULT,
esuas manifestações. As práticas que rerem^®'"'"^'" hannonia". "O mundo í coordenadas
analisadas em lógicas; olevante éfâto d 4c, p. 546) Vivemos sem pontos de re er assim, na ori-
ediferenciados que são adaptados aos lugarereT°"""'"'°^ ^frginárias, em miríades de acontecimentos p ^liberdade.
por vezes, improvisam um sentido que^emiin haveria aordem, nem arazão, ne ^jgfmitivo sobre o
gestos eoutras ações. Assim, pôde-se traLl! ' postulados, longe de trazerem um nevo sobre
de Edward PalmerThompson (e de sua etnom' ^^tninho do historiador, permitem construir
^^que Foucault chama adiscórdia. Colocan
cora-
lugares da
[Thompson, 1971, p. 76-136]), sobre cer^s f
ciai epolíticadas revoltas, levantes ou revoluçõeT '"S^^^ade so- da existência social, considerando os co baixeza eem
^'^^drdia edo disparate, definindo ocomeço ^
=on,po„.n.„„. P«.icul.„, , ^ derrisório, o homem é então o ajeito fl dominem
(e nao somente os outrorif"'""'^Tdiferendaçâo
homens, e é assim que nasce dos valores;
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Lugares para a história
Da vkxínoa
violento. Ela não émais (ou épouco) considerada apostcriori como lei que toma emprestada a raiva como modo de flincionamento
uma forma que dá nascimento atal ou tal fenômeno de consolidação Assim definido, o suplício não se toma evitável? Oencarniçamento
do social; ela esta isolada amontante através do conjunto de seus dos atores sociais em lutar, em estabelecer novas falas epraticas, não
mecamsmos. portanto se toma um objeto que pode ser transfonnado se deve tanto a sua visão de um mundo que precisa se dirigir aum
por outras fonuas de racionalidade.
Bem supremo, mas a uma configuração precisa eprecedente de
Mas então "como são racionalizadas as relações do poder" onde surge um projeto novo capaz de barrar de uma nova maneira
(OUCAULT, 1994g p. 160) entre os homens numa sociedade (aque o desastre que sobrevém.
le por exemplo, de uma classe sobre outra, de uma nação sobre Aguerra: sobre esse assunto Michel Foucault se exprin ' ^
outra, de uma burocracia sobre uma popuhcàn 1,
as mulheres, dos adultos sobre as criaiiças)? Coln gamente em "Droit de mort et pouvoir sur Ia vie", quinto °
de Avontade de saber (1976), edepois nos seus cu^os. eer
objeJ capítulo àluz do que foi dito antes esclarece singu annen e
Colocar essa questão é também em ^ p. 160). conflitos de hoje. Num rprimeiro momento, Mie eaueiras
o puae-
meio, enquanto historiador ecidadão de 7'""°'f ° ; ^ víV
interroga sobre a maneira como, no século X ,' d aual
uma violência que se instaura num lugar preciso ec"' se tomar tão sangrentas e se pergunta
a relaçao de poder tem rnmK' compreender que ^ocaminho paradoxal adotado pelas socieda ^p^^cAULT,
Hberdade quanto co^o m instituir tanto feito de tal sorte que "os massacres se toniaran < ^
3S próprias raízes da racionaliX^d"^ conhecendo erevelando p. 180) num período em que se é uma
fornecer os meios de canaHzar m eventualmente precauções com sua saúde, sua ^^niiinto das
de violência. "Se há reTa^Íde^pTdr' questão que se encontra em defnsagem em relaçao
sobre o acesso da humanidade à 3um só
deeporque há Hberdade
dominação por toda n
[...]" (FcuJ:; '°do campo social,
^ tudo isso, Michel Foucault responderá ' avesso,
^empo violenta, drástica, lógica, inesperada, contraditórias,
memri::~C:/:-:::--°-'.dade. Elas se expri-
muItipHcidade das falas singulares tanr'"'° discursos quanto na
^zendo ficar de
por baixo do discuno. Sua nomeação s ^cianto P^esde o fmi da Idade Clássica (peno soberano,
olhar sobre aviolência; ahistória se faz n'''''' "f"" fabricam outro uia ruptura se fomia; a uma sociedade so a ameaçado
os acontecimentos são singularidades irr d''!''°"'''=""^onto de que expõe seus súditos àmorte quando e^P^° contisco da vida,
qtie exerce seu poder como uma instância sociedade cuja
singulares. Uni egemplo cornado armnr, situações cofpo^ sangue de seus súditos, suce r^^to, amorte tendo
a proposição. Comentando o ritual do v ^ esclarece uão émais oconfisco. Com e epidemias
aquele da roda) epartindo dessa definir~^^^^^^° "^otadamente ^ecido um pouco (as sociedades con uova: aquela
aorVd,..- -É " «Id"."''''""J"""" astadoras e foines mortais), aparece um em conta
çao dos homens em termos de barbárie ede Q População. Um novo espaço nasce on e saúde de uma
Foucault (1975, p. 37) escreve: "Inexphcável talv^ ' processo da vida, as probabilidades de vicl ^ protegidas.
nao irregular nem selvagem"; não é"uma raiva C»e!d. ^ então, o poder não^conipoem eque' , sujeitos sobre os
está mais em geres vivos sobre
°domínio Ciltimo éamorte, mas em face de
Lugares para a história
os quais odoiiiínio exercido éavida. Passa-se, diz Foucault, agerir abominável" deixa de ser corroborada por interpretações sini
a vida, a espécie. E as guerras vão se realizar nesse novo contexto, licas em que osagrado se instaura apartir do fim da violenc
não mais em nome apenas do soberano, como sem dúvida se dava racionalidade não quer dizer progresso nem bem, einterroga a
no século XVII, mas em nome da existência de todos. Assim, cada instante permite compreender suas configurações eass p
populações se acharão paradoxalmente levantadas umas contra as destruí-las. Épreciso então compreender
outras em nome da necessidade que têm de viver. "O princípio, que fazem jorrar aviolência. Um espaço ascomplexo
fomias dese a re
poder matar para poder viver, que sustentava atática dos combates
se tomou pnncípio de estratégia entre Estados, mas a existência historiador, cujo procedimento éde revelar os mecanis
em questão naoe mais ada soberania, éaquela, biológica, de uma uais que conduzem áviolência, mostra ' «tes se
mecanismos existem, outros podem existir, contrários,
Lca"
raça X fo-T ' p. 180).
(Foucault, 1976, da espécie, da •bn„d. , Violêna., " » "
organizações de poder que se inscrevem em e uma vez que
do pSerTxT""' em que anatureza da racionalidade oada éfatal nem mesmo obrigatório em sua apa ' mesmo
tis ooL eSr ' " compatí- todo mecanismo é um jogo que se desmonta, epor
de morte sei c7 se abole, num outro jogo.
horurmlrto/ntr'
do poder não én ^
-q-nto onLero dos
elevado. Arazão de ser
costumes mas humamtano, uma suavização dos
.vld. .. pSÍ ""'«Pl-
sobre aespécie eaponular~"^°'^^ obsoleta, mas areflexão
ou mesmo incitar a^erra '^'^^dicionar aentrada em guerra
d^-r que onazismoTan^tu^^^^
nalidade do abominável éuma lei P^btica em que aracio-
Como não compreender anarHr
do Mal étributária da singularidade d ^
subordinado aos processos aup I ^ política? O mal está
opróprio tema que organiza esslfp"os° ° ^
Ao final dessa reflexão
sobre oque ésugerido sobre aviofêncl"^''"'^"'^ '^'=^'=' "^0
escritos, possamos tomar posição em r 1 ~ '^'^<=''lade nos Ditos e
mais não fosse para demarcar em cadll!!" ^
todo pressuposto linear de continuidade eT"'° de
ede destinação, os tipos de racionalidade ou °dgem
vers com aviolência. Em vez de ser considerJ
sequencia social, a violência pode ser mpio.
^pnndp. dp p„L. sr r»so, a~racionahdade
°Ir-- do