Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Teontologia - Heber Campos
Teontologia - Heber Campos
Teontologia
II
Estudos
sobre as Obras
de Deus.
ÍNDICE
PARTE II. ......................................................................................................................................8
CAPÍTULO 1 ..............................................................................................................................................9
OS DECRETOS DE DEUS...........................................................................................................................9
Definição..................................................................................................................................................9
A doutrina do decreto e da queda. ........................................................................................................9
A doutrina do decreto e a providência. ................................................................................................9
A doutrina dos decretos nos símbolos de fé. ......................................................................................10
Características do decreto de Deus. ....................................................................................................10
O decreto de Deus é sábio. ...................................................................................................................10
O decreto de Deus é eterno. .................................................................................................................10
O decreto de Deus forma uma unidade. .............................................................................................10
O decreto de Deus é imutável. .............................................................................................................11
O decreto de Deus é incondicional. .....................................................................................................12
O decreto de Deus é particular............................................................................................................13
O decreto de Deus é a liberdade humana. ..........................................................................................13
A obra de Deus na vida dos santos......................................................................................................13
A obra de Deus na vida dos ímpios. ....................................................................................................13
Uma influência restringente. ...............................................................................................................14
Uma influência amaciadora.................................................................................................................14
Uma influência diretora. ......................................................................................................................14
O decreto de Deus inclui todas as coisas. ...........................................................................................14
Ele inclui o destino das nações. ...........................................................................................................14
Ele inclui todos os eventos. ..................................................................................................................14
Ele inclui as coisas mais corriqueiras da natureza. ...........................................................................15
Ele inclui as coisas grandes da natureza. ...........................................................................................15
Ele inclui as épocas e a habitação de todos os homens. .....................................................................15
Ele inclui as viagens dos homens. ........................................................................................................15
Ele inclui todas as ações dos homens. .................................................................................................15
Ele inclui as boas ações dos homens. ..................................................................................................15
Ele inclui as ações ímpias dos homens. ...............................................................................................15
Ele inclui os eventos acidentais. ..........................................................................................................16
Ele inclui o tempo de vida de cada homem. .......................................................................................16
Objeções à doutrina do decreto de Deus. ...........................................................................................17
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................................18
A DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO. .......................................................................................................18
O lugar da doutrina na sistemática. ...................................................................................................18
Definição de predestinação. .................................................................................................................18
Terminologia bíblica usada. ................................................................................................................19
Observações preliminares....................................................................................................................19
A doutrina da eleição. ..........................................................................................................................19
A doutrina Arminiana da eleição. .......................................................................................................21
Doutrina da eleição de Jacob Arminius .............................................................................................21
A eleição divina é condicional. ............................................................................................................21
Doutrina da eleição dos Remonstrantes. ............................................................................................24
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 3
Obs.: esta apostila deve ser lida com a ajuda de uma Bíblia, uma vez
que os textos bíblicos citados são de vital importância para o entendimento
da argumentação. Originariamente os textos bíblicos faziam parte do corpo
da apostila, mas por questão de tempo e espaço, na compilação preferi
colocar apenas as referencias como notas de rodapé.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 8
PARTE II.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 9
AS OBRAS DE DEUS.
CAPÍTULO 1
OS DECRETOS DE DEUS.
Definição.
1 Rice, p. 63
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 10
2 Rice, p. 46
3 Rice, p. 68
4 Rice, p. 67, 73
5 isto é, as opera ad intra, como a geração eterna do Filho e a processão do Espírito Santo.
6 Ap 14.8; 1 Pe 1.19-20.
7 Rm 8.28 e Ef 3.11 falam em „propósito‟ e não propósitos.
8 Hb 4.13
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 11
Por essa razão não é correto falar dos decretos de Deus no plural, mas
sim no singular. Mas costumeiramente falamos dos decretos divinos (plural)
por causa da realização deles no tempo e no espaço. As coisas decretadas
são muitas, mas o ato decretante é um só.
O universo que nós vemos foi decretado desde a eternidade, mas
realmente ele não existe desde a eternidade. Ele foi na eternidade uma idéia
divina, mas não uma coisa existente historicamente.
12 At 2.22-23
13 1 Pe 1.1; Tt 1.1
14 Rice, 75
15 Rice, 41, 83
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 14
Esta é a parte mais delicada do assunto dos decretos, porque trata dos
atos pecaminosos dos homens22. Deus decretou todas as coisas, inclusive a
entrada do pecado no mundo. Isto é afirmado em nossos símbolos de fé. A
CFW diz:
“A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal
maneira se manifestaram na sua providência, que esta se estende até a primeira
queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma
mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos
desígnios, sábia e poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla
17 Mt 10.29-30
18 Sl 104.9
19 At 17.25.26
20 Tg 4.13-16 e At (Paulo impedido de viajar)
21 Ef 2.10
22 este assunto será discutido amplamente no estudo da doutrina da providência.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 16
23 Sl 76.10
24 A.W. Pink, The Sovereignty of God, Brittish edition, p. 61-62
25 At 14.16
26 At 2.23; At 4.27-28; Sl 76.10; Pv 16.4
27 Pv 16.33; Gn 45.8; 50.20
28 Embora tenhamos a obrigação de cuidar de nosso corpo, pois ele é a habitação do Espírito, e porque
temos qualidade melhor de vida. Temos que viver de maneira equilibrada, para que não agridamos o
que nos foi dado bondosamente por Deus.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 17
pelo decreto divino, que limita os nossos dias, alem dos quais não
passaremos. Ninguém prolonga os nossos dias. Eles todos estão contados,
porque Deus impôs limites sobre eles. Ninguém morre antes da hora;
ninguém adianta o dia de sua morte. A morte não pode nos tirar a vida mais
cedo, porque o controle da vida não é da morte, mas de Deus.
As enfermidades não tem o poder sobre a vida. Ela pode guerrear contra
o nosso corpo e contra o nosso ser psíquico emocional, mas ela não pode
encurtar as nossas vidas, assim como elas não puderam encurtar a vida de
Jó. Deus sara as nossas enfermidades quando os nossos dias tem quer ser
vividos mais do que os prognósticos médicos afirmam. As enfermidades
servem como instrumentos de Deus para por fim a esta existência presente,
mas elas não encurtam a duração de nossa vida. A doença não leva a vida de
ninguém a não ser quando seja para o cumprimento do decreto de Deus.
Os escritores sacros possuíam plena consciência desta verdade, porque
Deus lhas havia revelado29.
Quanto à objeção feita ao caso do rei Ezequias30, respondemos que não
há nenhuma afirmação do profeta sobre o decreto de Deus, mas sim sobre a
natureza da enfermidade de Ezequias, isto é, que ela seria mortal se Deus
não interviesse miraculosamente.
CAPÍTULO 2
A DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO.
Definição de predestinação.
31 Heinrich Heppe, Reformed Dogmatics, Grand Rapids, Baker Book House, 1978, p. 154
32 John Calvin, Institutas, III, 21.5
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 19
Observações preliminares.
A doutrina da eleição.
prevista, de tal forma que Deus elegeu seu povo de acordo com a fé prevista? (Ibid. p. 380)
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 23
homem com liberdade da vontade, após ele tê-lo formado como um agente
livre”48.
O argumento de Arminius contra a idéia Reformada de Predestinação
insinua claramente que ele ainda sustenta que o homem não pode ser
determinado em nada com respeito à sua salvação, porque ainda há no
homem uma espécie de „capacidade natural‟ em desejar as coisas boas, como
produto da idéia de liberdade humana ainda remanescente nele. Ele
simplesmente aplica a todos os seus descendentes o que era peculiar a Adão.
Ele diz:
“Esta Predestinação é prejudicial ao homem com relação à inclinação e
capacidade para a fruição eterna da salvação, com a qual ele foi capacitado no
período de sua criação. Pois, visto que por esta Predestinação a salvação tem sido
predeterminada, e que a maior parte da raça não será participante da salvação,
mas cairá em eterna condenação, e visto que esta Predestinação aconteceu
mesmo antes de ter acontecido o decreto para a criação do homem, tais pessoas
são privadas de algumas coisas, por causa do desejo pelo qual elas tem sido
capacitadas por Deus por uma inclinação natural. Esta espécie de privação que
eles sofrem, não em conseqüência de qualquer pecado anterior, ou demérito
deles próprios, mas simples e somente através dessa espécie de Predestinação”49.
A fim de entender a doutrina de alguém, é necessário vê-la como um
todo. Arminius faz algumas afirmações muito boas sobre a depravação da
alma humana, mas quando ele tenta lutar contra a doutrina da
Predestinação, ele revela o que é quase natural em todas as pessoas: o
conceito de que a verdade não está totalmente depravada, mas que reflete
ainda algumas capacidades naturais ou inclinações para o bem. Segundo
Arminius a doutrina Reformada da Predestinação priva o homem de tais
capacidades. Novamente, a noção de liberdade da vontade tem o seu
nascedouro na falha de Arminius em levar a sério a doutrina bíblica da
depravação humana. Não há nenhuma incapacidade real na vontade do
homem de desejar coisas boas, segundo Arminius, mas o homem é privado
de exercê-la se crê na doutrina reformada da Predestinação.
“Que Deus, por um propósito imutável e eterno em Jesus Cristo Seu Filho, antes
da fundação do mundo, determinou salvar em Cristo da raça caída e pecaminosa,
por amor de Cristo, e através de Cristo, aqueles que, através da graça do Espírito
Santo, crerão e perseverarão nesta fé e obediência de fé, através desta graça,
mesmo até o fim...50”
William afirma sua opinião a respeito deste primeiro artigo
apresentando pelos Remonstrantes:
“Superficialmente, isto parece totalmente Agostiniano e Calvinista, mas
o aguilhão da sentença reside no uso dos particípios futuros credituri e
perseveraturi, e a omissão na qualificação da palavra graça pelo adjetivo
somente; que obviamente deixa uma porta aberta para, e consequentemente
insinua, a idéia de que o homem pode utilizar ou não a graça oferecida a ele,
e que Deus tem somente predestinado à vida eterna aqueles que Ele previu
como indo utilizá-la corretamente através do exercício de sua própria
vontade livre... Este artigo... insinua Sinergismo e Predestinação – não sobre
a base de méritos previstos, porque a concepção de mérito humano não tem
lugar na teologia protestante, mas antes sobre a base de uma fé e obediência
previstas”51.
A doutrina da Predestinação dos Remonstrantes não era, portanto,
diferente da doutrina de Arminius. Em alguns aspectos eles foram mais
longe ainda. Eles negaram que a eleição fosse eterna, em sua Apology.52 Eles
negaram que a eleição de Deus fosse de pessoas particulares escolhidas
dentre a raça. Não houve nenhum ato soberano de Deus em eleger pessoas.
Eles disseram: “Nós negamos que a eleição de Deus se estenda a quaisquer
pessoas singulares como pessoas singulares” 53 . Qual a causa dessa
negação? É que eles asseveram que a eleição não é um ato soberano, mas é
uma decisão de Deus de escolher aqueles que Ele previu que creriam e que
se arrependeriam. Eles disseram: “Sim, nós não reconhecemos nenhuma
outra Predestinação a ser revelada no evangelho alem daquela pela qual
Deus decreta salvar aqueles que devem perseverar em fé”54. A Predestinação
de Deus, portanto, na mente dos Remonstrantes, é dependente da
perseverança em fé do homem. Ela não é a expressão do Seu amor e
misericórdia, mas é a escolha daqueles que são vistos como crentes
obedientes.
50 Phillip Schaff, Creeds of Christendom, vol. III, New York, Harper & Brothers, 1877, p. 544. O texto
latino reza: “Deus aiterno et immutabili decreto en Christo Jesu Filio suo, ante jacta mundi
fundamenta, statuiut ex genere humano in peccatum propalso, eos in Christo, propter Christim, et per
Christum salvare, qui per gratiam Spiritus Sancti in eundem Filium suum credituri, inque ea ipsa fide
et obedientia fidei, per eandem gratiam, usque ad finem essent perseveraturi”. Ibid., grifo acrescentao.
51 Normam P. Williams, The Grace of God, London, Hodder and Stoughton, 1966, p. 98
52 O texto latino reza: “Electio non está ab aeterno”. (Remonstrants Apology – ver Owen, The words of
John Owen, edited by William H. Goold, vol. 10 (Edinburg, T&T Clarck, 1862, p. 55
53 O texto latino reza: “Nos negamus Dei electionem ad salutem extendere sese ad singulares
54 o texto latino reza: “Non agnoscimus aliam praedestinationem in evangelio patefactam, quam qua
Deus decrevit credentes et qui in aedem fide perseverarent, salvos facere”. (Rem. Coll. Hag. P. 34 – ver
owen, Op.Cit. p. 55)
55 Christianity today, vol. IV, n. 1, 1959, p. 3-15
56 Ibid. p. 5
57 Robert Shank, election in the Son (Springsfield, Mo. Westcott Publishers, 1970, p. 45
58 Ibid. p. 122
59 Mildred Bangs, Winkoop, Foundations of Wesleyan-Arminian Theology, Kansas City, Mo, Beacon
Publications, 1984 edition, p. 23 (Wesley, Works, vol. 9, p. 381-382, New York, 1927
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 27
Segundo, eu creio que eleição significa uma indicação divina de alguns homens
para a alegria eterna. Mas eu creio que esta eleição(para a salvação) seja condicional”61.
Wesley justifica a sua descrença na incondicionalidade da eleição
assim:
“Nesta eleição eu creio firmemente como firmemente creio que a Escritura seja de
Deus. Mas na eleição incondicional eu não posso crer, não somente porque eu
não posso encontrá-la na Escritura, mas também porque ela necessariamente
implica numa reprovação incondicional. Encontre qualquer eleição que não
implique em reprovação, e eu alegremente concordarei com ela. Mas com
reprovação eu não posso concordar, enquanto eu crer que a Escritura é Palavra
de Deus: essa doutrina é totalmente irreconciliável com o escopo geral do Velho e
Novo Testamentos”.62
Wesley afirma categoricamente que a eleição é daqueles que haveriam
de crer. Ele fala da eleição desta forma:
"A Escritura diz-nos claramente o que é a Predestinação: ela é a pre-indicação de
Deus dos crentes obedientes para a salvação, não sem, mas 'de acordo com a sua
presciência' de todas as Suas obras 'desde a fundação do mundo'... Podemos
considerar isto um pouco mais. Deus, desde a fundação do mundo, preconheceu
crença ou descrença dos homens. E, de acordo com Sua presciência, Ele escolheu
ou elegeu todos os crentes obedientes, como tal, para a salvação"63.
Wesley negou não somente a eleição soberana de Deus, afirmando a
condicionalidade da fé e da obediência, mas também negou a eternidade da
eleição:
"Ele chamou Cristo de 'O Cordeiro morto desde a fundação do mundo', embora
não morto até que Ele tenha sido feito carne. Da mesma forma Ele chamou
homens 'eleitos desde a fundação do mundo', embora eles não se tornassem
eleitos até que eles fossem homens na carne"64.
Ele ainda continua:
"Se os santos são escolhidos para a salvação através da crença na verdade ... eles
não foram escolhidos antes deles crerem; muito menos antes que eles existissem...
Muito claro está que eles não foram eleitos até que eles creram, embora Deus
'chamou coisas que não eram como se elas existissem'..."65.
Então Wesley afirma categoricamente a temporalidade da eleição: "Está
claro que o ato eletivo está no tempo, embora conhecido de Deus antes"66.
Ele ainda sugere que a idéia da eleição eterna é a grande pedra de tropeço,
que é tirada com a sua solução da eleição temporal67.
Richard Watson: um dos expoentes do Arminianismo do século
passado, também nega a eternidade da eleição, dizendo:
"Segue-se, então, que eleição não é somente um ato de Deus feito no tempo, mas
também que ele é subsequente à administração dos meios de salvação. A
chamada vem antes da eleição... Assim a doutrina da eleição eterna é derrubada
em direção ao seu verdadeiro significado. A eleição real não pode ser eterna... As
frases 'eleição eterna', e 'eterno decreto da eleição', tão freqüentemente nos lábios
dos Calvinistas, pode, no sentido comum, portanto, significar um propósito
eterno de eleger, ou um propósito formado na eternidade, de eleger, ou escolher
do mundo, e santificar no tempo, pelo Espírito e o sangue de Jesus"68.
No raciocínio de Watson, portanto, a eternidade está no propósito de
eleger, não na eleição em si mesma.
Dr. Ralston, um outro arminiano do século XIX, vai a um extremo que
nem todos os arminianos mais recentes tem coragem de ir, embora na
prática todos cheguem à mesma conclusão. Ele diz: "... Se Deus seleciona ou
escolhe alguns homens para a vida eterna e rejeita outros, como todos
admitimos ser um fato, deve haver uma razão boa e suficiente para esta
eleição"69. Ao invés de crer que a razão está escondida em Deus, e seja um
motivo dele a eleição, Ralston diz:
"Qual é a razão, então? Nós chegamos à conclusão, portanto, que conquanto
diferentes sejam os ensinos do Calvinismo, se um homem é eleito para a vida
eterna e ou outro consignado para a perdição, isso não é o resultado arbitrário,
caprichoso e de parcialidade não razoável, mas de acordo com a razão, equidade
e justiça, e é uma amostra gloriosa das perfeições harmoniosas de Deus. É porque
um é bom e o outro mal; um é justo e um outro injusto; um é crente e o outro
incrédulo; ou um é obediente e o outro rebelde. Estas são as distinções que a
razão, a justiça e a Escritura reconhecem. E nós podemos descansar certos de que
estas são as únicas distinções que Deus considera quando elege o seu povo para a
glória, e quando sentencia o ímpio para a perdição"70.
1. Eleição e fé no Arminianismo.
68 citado por Girardeau, p. 25, Watson, Theological Institutes, vol. II, publicada em New York, em
1840, p. 338
69 citado por Girardeau, p. 26, Ralston, Elementos of Divinity, Nashville, Tenn, 1882, p. 289
70 Elements of Divinity, p. 291-293.
71 O texto latino reza: "Rotunde fatemur, fidem in consideratione Dei in eligend ad aslutem
antecedere, et non tanquan fructum electioins sequi". (Rem. Hag. Coll. P. 35) citado por Owen, p. 60
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 29
et praescripto Dei ista persona praedita est, Deo gratia sit". Rem. Apol. P. 13), citado por Owen, p. 59
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 30
75 William Cunningham, Historical Theology, vol. 2, Edinburgh, T&T Clark, 1870, p. 437, itálico
acrescido.
76 A respeito da perseverança dos santos, ele disse: "Mas, como eu disse, esta matéria toda pode ser
elucidada, se a graça de Deus é devidamente distinguida de seus vários efeitos". Arminius, Writtings,
vol. 3, p. 499
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 31
certos homens, embora Deus nunca tenha produzido, nem decretado produzi-las
neles"77.
O conceito arminiano da palavra grega proe/gnw, 'pré-conheceu' em Rm
8.29, da qual se deriva a idéia da presciência, deveria ser reavaliado. Os
teólogos arminianos dizem que Paulo está falando a respeito da
predestinação para a salvação daqueles a quem ele soube de antemão que
responderiam à chamada graciosa de Deus. Em outras palavras, isto
significa que eles responderiam de acordo com o uso correto da liberdade da
suas vontade. Alguns comentadores arminianos falam a respeito desta
resposta futura da vontade do homem. Godet, por exemplo, comentando Rm
8.29, pergunta: "Em que sentido Deus assim os pré-conheceu"? Então, ele
afirma que eles foram 'pré-conhecidos como certos de cumprir as condições
de salvação, isto é, fé; assim seriam 'pré-conhecidos como d'Ele pela fé'.78"
Entretanto, para a maioria de todos os comentaristas, como Godet, a palavra
'conheceu de antemão' é entendida como 'significando que Deus conhecia de
antemão quais eram os pecadores que iriam crer, etc., e soabre a base desse
conhecimento, Ele os predestinou para a salvação"79.
Essa doutrina da Predestinação diz a respeito do conhecimento
antecipado das obras que os homens fariam, não ao conhecimento
antecipado de pessoas, como a Escritura assevera. Esta abordagem faz uma
enorme diferença na interpretação do texto. Se Deus conhece de antemão as
ações das pessoas no futuro, a fim de predestiná-las, então esta doutrina
tem a sua base, em última instancia, nas obras dos homens e não na
decisão de Deus de salvar homens. Mas a verdade é que o texto diz que Deus
está tratando o assunto da predestinação segundo o seu pré-conhecimento
de pessoas, não das coisas que elas fariam. A abordagem Arminiana muda
totalmente o significado da Escritura e o resultado das conclusões, quando
fala sobre a base da Predestinação divina. Eles são obrigados a acrescentar
alguma noção qualificante para justificar o conhecimento antecipado de
Deus, a fim de provar o seu ponto. Fazendo assim, eles revertem o
significado da eleição do amor soberano de Deus para a eleição da
supremacia humana.
A razão última pela qual os arminianos negam a doutrina da eleição,
conforme ensinada pelos Reformados, é a da vontade livre. Eles podem dar
uma porção de razões para rejeitar a doutrina Reformada, mas a razão final
está no que eles chamam de violação da vontade livre do homem. A doutrina
da vontade livre controla cada aspecto da Soteriologia deles.
Reagindo ao assunto da preordenação dentro do Calvinismo e
condenando algumas ênfases comprovadamente errôneas na fé reformada,
Whedon, um metodista arminiano, disse:
"O Calvinismo afirma que Deus, imutável e eternamente preordena tudo o que
vem a acontecer. Isto é, Deus, desde toda a eternidade, predetermina não
somente todos os eventos físicos, mas todas as volições dos agentes responsáveis.
77 Cunningham, p. 437.
78 Frederic Godet, Commentary to the Epistle to the Romans, p. 325. (As ênfases são dele).
79 David, N. Steele, Five Points of Calvinism, (Philadelphia; Presbiteryan & Reformed Publishing Co.
1967, p. 85
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 32
80 D.D. Whedon, "Arminianism and Arminius", in Methodist Quaterly Review, july, 1879, p. 407.
81 Whedon, p. 407, itálico acrescido
82 Whedon, p. 407.
83 Whedon, p. 407, 408
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 33
84 Whedon, p. 408.
85 Jack W. Cottrell, "Conditional Election", em Grace Unlimited, edited by Clark Pinnock, Minneapolis:
Bethany Fellowship, Inc. 1975, p. 58
86 Cottrell, p. 58 (itálico acrescido).
87 Acaba diferindo no todo. Nota pessoal. Marthon.
88 Wiley, p. 15.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 34
89 Cottrell, p. 60.
90 Este Deus é soberano? Nota pessoal. Marthon.
91 Cottrell, p. 61.
92 E é exatamente isto o que o Arminianismo faz. Nota pessoal. Marthon.
93 Winkoop, Op.Cit. p. 87-88.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 35
"Dessa forma, devemos concordar que obras previstas, mérito ou santidade como
uma condição para a eleição seria contrário à graça. Mas devemos nós dizer o
mesmo a respeito da fé prevista? Naturalmente que não! A fé, por sua verdadeira
natureza, é consistente com a graça, seja ela prevista ou não. Se Deus pode dar
salvação sob a condição de fé post facto, então Ele pode predestinar um crente
para a salvação como um resultado de Sua presciência daquela fé"96.
É óbvio que fé não é a mesma coisa que obras na teologia Arminiana,
mas o modo como a teologia Arminiana apresenta a fé prevista, como a
causa da eleição de Deus, conduz qualquer sério e honesto estudioso da
Escritura a pensar que a fé é o fator dominante na salvação do homem,
porque a fé é uma expressão da livre decisão da vontade humana e não uma
expressão da graça de Deus. Mesmo embora os Arminianos liguem fé com
graça, a fé é, em última instância, uma opção da vontade livre do homem,
não o resultado da regeneração operada pelo Espírito Santo. Na teologia
Arminiana, Deus oferece salvação a todos os homens sem exceção, e todos
tem a potencialidade de crer em Deus, porque a todos Deus deu a
manifestação de sua graça preveniente. Então, de acordo com o bom uso da
vontade livre dos homens, alguns decidem crer em Deus. Este deu essa
graça a todos os homens, mas eles não são predestinados para crer. Eles
crêem porque eles livremente decidem fazê-lo, e por causa dessa decisão que
Deus prevê, eles são predestinados.
Os Arminianos costumam dizer que Cottrell que "Deus é soberano em
todas as coisas, mas sua soberania não absorve e cancela seus outros
atributos"97. A graça, para eles, é algo paralelo à soberania, mas não uma
expressão da soberania divina. "No conceito de graça soberana (na Teologia
Reformada), a soberania domina e sobrepuja a graça, de forma que graça
não é permitida ser graça"98. Para eles, a graça não tem nada a ver com o
poder de Deus para salvar as pessoas ou com a idéia de eleição
incondicional. Para eles, eleição não tem nada a ver com o amor gracioso de
Deus.
Na teologia Arminiana, a graça é simplesmente o amor de Deus sendo
oferecido. "A graça não quer forçar o seu caminho. Igual a Cristo, ela
permanece na porta e bate99... Mas de igual modo, se ela é por imposição
soberana, então a graça não é mais graça"100. Deus oferece graça. Isto é a
sua soberania, mas o homem toma posse da salvação de Deus de acordo
com o uso correto de sua livre e determinante vontade.
Os Arminianos crêem que a fé prevista é um dom de Deus, mas é um
dom que o homem pode rejeitar. Portanto, a fé que é uma expressão da
graça, é meramente um oferecimento, não um dom ou uma comunicação ao
homem, de tal modo que ele a recebe.
A apropriação da graça oferecida é condicionada pela disposição do
homem em aceitá-la. Porque somente alguns aceitam esta graça que é
oferecida a todos, não é explicado. A única resposta possível, na teologia
96 Cottrell, p. 66.
97 Cottrell, p. 66.
98 Cottrell, p. 66.
99 Ap 3.20.
100 Cottrell, p. 67.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 37
Arminiana, é dizer que o homem tem a livre escolha. Uma resposta diferente
dessa seria contrário ao esquema teológico deles.
Definição de eleição.
Eleição é o ato eterno de Deus pelo qual Ele, pondo o Seu coração em
algumas pessoas caídas por causa dos seus pecados, não por causa daquilo
que elas fariam mas porque Ele as amou, resolveu separá-las para a
salvação, por meio da obra redentora de Jesus Cristo e para a regeneração e
santificação do Espírito.
112 Mt 11.25-26.
113 Dt 4.37-38; 7.7-8.
114 Rm 9.11-13; Ef 1.4-5, 9-11.
115 Dt 4.37-38; 7.7-8.
116 Idem.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 43
117 Rm 9.11-13.
118 2 Tm 1.9.
119 1 Co 1.27-29.
120 At 13.46-48.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 44
pregado, e que haviam sido eleitas para a vida eterna, vieram, como
conseqüência, à fé em Cristo121.
Jesus é o doador e é aquele que leva a fé até o final122 . A fé é dom
divino, do Autor da vida, sendo, portanto, a evidência de nossa eleição, e não
a causa dela.
O arrependimento é o resultado da eleição e não a causa dela123.
de santidade em que foram criados. Sem a adição de uma bondade especial da parte de Deus qualquer
criatura pode mudar, e foi o que aconteceu com os anjos e com os nossos primeiros pais no Éden. É
próprio da criatura mudar quando não há uma atuação bondosa de Deus para a preservação no
estado de santidade.
Um anjo não eleito, portanto, é aquele que é santo por criação, e que tem a liberdade e o poder para
permanecer santo, mas que não é guardado assim por bondade extraordinária e, assim, cai do estado
em que foi criado por um ato de sua própria autodeterminação.
Os anjos não eleitos tinham força suficiente para evitar o pecado, mas não infalibilidade suficiente
para evitar o pecado e permanecerem para sempre em santidade. A possibilidade de queda houve
porque não foram confirmados em santidade. Deus apenas entregou-os à sua própria liberdade, não
dando-lhes a bondade necessária para preservá-los no estado de pureza.
A queda dos anjos é o começo do pecado no universo criado, e apresenta uma dificuldade que não é
encontrada na queda dos homens no Éden: foi uma queda sem que houvesse um tentador externo.
A queda dos anjos é alguma coisa inexplicável. A Bíblia não fornece nenhuma pitada de solução para
o problema. Como a queda de alguém santo é tornada certa pelo decreto divino é impossível
compreender! Os anjos não possuíam qualquer natureza pecaminosa que os levasse a pecar, e ainda,
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 45
porque é dito deles 'que não guardaram o seu estado original'; a outra é clara
ao falar da sua eleição. Em 1 Tm 5.21 Paulo diz: "Conjuro-te perante Deus e
Cristo Jesus e os anjos eleitos 126 , que guardes estes conselhos, sem
prevenção, nada fazendo com parcialidade".
A eleição dos anjos é de natureza bem diferente da nossa. Como
veremos adiante, os homens são eleitos para a salvação porque já são vistos
como pecadores, enquanto que os anjos são eleitos para permanecer em
santidade.
Aqueles anjos que Deus resolveu guardar do pecado e da apostasia, Ele
fez com que eles tivessem um grau da sua bondade de tal forma que eles são
conservados no estado de santidade em que foram criados. Por essa razão,
eles infalivelmente não caíram, não porque a infalibilidade era parte da
natureza deles. Essa preservação em santidade é que é entendida pelos
reformados como sendo a eleição dos anjos.
Contrariamente à dificuldade encontrada na queda dos anjos, a sua
eleição é mais fácil de entender, porque ela é a manifestação clara da
bondade de Deus para com eles. A certeza da santidade no eleito por um
decreto de Deus é muito mais compreensível, ainda. Neste casso, podemos
entender neles "Deus operando tanto o querer como o fazer, segundo a Sua
boa vontade"127. Esse decreto é sempre operado imediatamente por Deus no
coração da criatura, mas o decreto relacionado à reprovação das criaturas
não pode ser visto desta mesma maneira.
A eleição dos homens, como já foi dito acima, difere da angélica porque
ela é eleição para a santidade partindo de um estado de pecado, e não
eleição para a perseverança no estado de santidade.
A eleição humana pressupõe a queda do homem. Os homens foram
escolhidos dentre a raça caída, sempre sendo elevados em conta os pecados
deles.
O objeto da eleição dos homens tem duas características:
I. É eleição de homens caídos e arruinados.
não tinham um tentador externo. Nada explica a origem do mal no universo de Deus, a não ser o
misterioso e insondável decreto divino.
126 Não teria aqui a palavra anjo o mesmo sentido que em Apocalipse? Dúvida pessoal. Marthon.
127 Fp 2.13
128 Rm 5.8; Ef 1.4.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 46
133 George S. Bishop, The Doctrines of Grace (Grand Rapids, Baker Book Hause, 1977, p. 173.
134 Mas não faz justiça à soberania de Deus. Nota pessoal. Marthon.
135 Kenneth H. Good, God's Gracious Purpose (Grand Rapids, Baker, 1979, p. 44
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 48
à salvação do homem antes que houvesse tempo, isto é, antes que todas as
cousas houvessem sido criadas.
Há base bíblica de sobejo para que tenhamos esta verdade provada.
Vejamos alguns textos divididos sistematicamente:
136 Jr 31.3.
137 Ef 1.4; 2 Tm 2.13.
138 Mt 25.34.
139 Ap 13.8; 17.8.
140 Tt 1.2.
141 Tt 1.3.
142 1 Pe 1.19-20.
143 2 Tm 1.9.
144 2 Tm 1.10.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 49
145 "And as God Himself Is most wise, unchangeable, omniscient and omnipotent, só the election
made by Him can neither be interrupted not changed, recalled or annulled; neither can elect be cast
away, not their number diminished"(Of Divine Prdestination, article 11).
146 Rm 11.29.
147 Homer Hoekxema, The Voice of Our Fathers, (Grand Rapids, Reformed Free Publishing
Quando ensinamos sobre a eleição divina, temos que vir com a idéia de
que Deus, no Seu decreto eletivo, viu o homem como um Ser caído. A razão
simples para isso é que Deus elegeu pessoas 'para a salvação', o que implica
que elas estavam perdidas. Todos os seres humanos foram vistos num
estado de depravação e sujeitos à condenação, quando Deus os elegeu para
a vida eterna.
Não é conveniente tratar da doutrina da eleição sem esse pressuposto.
Não há como tentar tratar de um assunto soteriológico, sem levar em conta
antes o pecado.
148 Rm 9.11-13.
149 Rm 9.14.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 51
150 O primeiro dos cinco artigos Arminianos reza assim: "Que Deus, por um propósito eterno e
imutável em Jesus Cristo Seu Filho, antes da fundação do mundo, determinou, dos homens caídos, da
raça pecaminosa dos homens, salvar em Cristo, pelo nome de cristo, e através de Cristo, aqueles que,
através da graça do Espírito Santo, creriam neste Seu Filho Jesus e perseverariam nesta fé e na
obediência da fé, através desta graça, até o fim..."("Articuli Arminiani Sive Remonstrantia", Creeds of
Christendom, vol. III, by Philip Schaff,a New York, Harper & Brothers, 1877), p. 545.
151 Fred H. klooster, "The Doctrinal Deliverances of Dort", em Crisis in the Reformed Churches, essays
in commemoreation of the Great Synod of Dort, 1618-1619, editado por Peter DeJong, (Grand Rapids;
Reformed Fellowship, Inc. 1968), p. 68.
152 No artigo 7 dos Cânones de Dort, lê-se: "Eleição é o propósito imutável de Deus por meio do qual,
antes da fundação do mundo, da raça humana que havia caído de sua integridade original em pecado
e ruína, por sua própria falta. Ele tem, de acordo com o beneplácito de sua boa e livre vontade e mera
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 52
graça, escolher em Cristo para a salvação, um certo numero de homens específicos, nem melhores nem
mais dignos que outros, mas com eles envolvidos na miséria comum. Desde a eternidade Ele tem
apontado Cristo para ser o Mediador e Cabeça de todos os eleitos e o fundamento da salvação deles.
Portanto, Ele decretou dar a Cristo aqueles que estavam para ser salvos, e eficazmente chamá-los e
atraí-los em sua comunhão, através da Sua palavra e do Seu Espírito. Isto é, Ele decretou dar-lhes
verdadeira fé n'Ele, justificá-los, santificá-los e, após tê-los guardado poderosamente na comunhão do
Seu Filho, finalmente glorificá-los, para a demonstração de Sua misericórdia e para o louvor das
riquezas de Sua graça gloriosa. Como está escrito: Deus escolheu-nos em Cristo 'antes da fundação do
mundo, para que fossemos santos e inculpáveis perante Ele. Em amor nos predestinou para a adoção
de filhos em Cristo Jesus..." (traduzido da New English Translation dos Cânones de Dort", no Calvin
Theological Journal, vol. 3, 1968, p. 136-137.
153 1 Pe 2.6.
154 Ef 1.3-6.
155 2 Pe 2.6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 53
156 2 Tm 2.10.
157 Jack W. Cottrell, 'Conditional Election', Grace Unlimited, edited by Clark Pinnock (Minneapolis,
Bethany Fellowship, 1975, p. 59.
158 Cottrell, p. 55.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 54
159 Um hebraísmo é percebido no uso de uma palavra em uma língua (no caso o grego) mas com o
sentido de outra (no caso o hebraico) embutido nela. A tradução da palavra do hebraico para o grego é
absolutamente literal, mas o sentido dela não está presente na mentalidade grega, mas prevalece o uso
que o hebreu fazia dela.
160 At 2.22-23; 1 Pe 1.20.
161 1 Pe 1.1-2; Rm 8.29; 11.2.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 55
162 Observe que esse sentido do verbo 'conhecer' encontrado em Mt 1.25 é retirado do uso hebraico nos
tempos do V.T., quando do relacionamento amoroso entre casais, que é traduzido de maneiras
diferentes:
Gn 4.1 – "Coabitou ((adfy) o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz Caim; então
disse: adquiri um varão com o auxílio do Senhor".
Gn 4.17 – "E coabitou ((ad"Y) Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque. Caim edificou
uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho"(a mesma idéia no v. 25, e Gn 29.23-30).
Gn 24.16 – "A moça era mui formosa de aparência, virgem, a quem nenhum havia possuído (Hf(fde:y);
ela desceu à fonte, encheu o seu cântaro e subiu" (a mesma idéia em Gn 38.26).
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 56
163 Gn 18.19.
164 Am 3.2.
165 Dt 7.6-8a; 10.15.
166 Ex 2.23-25.
167 Sl 1.6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 57
168 Jr 1.5.
169 1 Jo 3.1.
170 Jo 17.14.
171 "Pai justo, o mundo não te conheceu (se o)uk e)/gnw); eu, porém, te conheci (se e)/gnwn), e
ovelhas sabiam quem Ele era. O que o texto quer dizer é que Jesus amava as
Suas ovelhas e Suas ovelhas O amavam, da mesma forma que havia
mutualidade de amor entre Ele e o Pai.
Jesus usou o verbo 'conhecer' no sentido hebraístico, numa passagem
extremamente forte, especialmente para aqueles que pensam
arminianamente, isto é, num amor salvador de Deus com caráter universal:
"Muitos naquele dia hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós
profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu
nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos
conheci (e)/gnwn). Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade"173.
Jesus não pode ser entendido aqui como dizendo: "Não conheço nada a
respeito de vocês", porque está totalmente evidente que Ele sabia tudo a
respeito deles – seu mau caráter, suas más obras. Ele conhecia toda a
pecaminosidade deles. Portanto, nesses versos, Ele está falando de algo
muito diferente e tremendamente forte: o significado da expressão
hebraística é: "Eu nunca tive qualquer relacionamento de amor com vocês",
ou "Eu nunca considerei vocês objetos do meu favor e amor". A Sua
referência aqui é a Seu amor salvador.
Isto posto, pergunta-se: como devemos interpretar o texto de Rm 8.29?
A presciência de 1 Pe 1.2 e Rm 8.29 é explicada, portanto, dentro dos
círculos protestantes: Arminianos e Calvinistas174, do seguinte modo:
Interpretação Arminiana de Rm 8.29.
173Mt 7.22-23.
174Toda esta parte é, praticamente sacada do livro de David N. Steele e Curtis C. Thomas, The Five
Points of Calvinism – Defined, Defended, Documented (Baker, 1971) p. 85-89.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 59
1906), p. 446.
179 Hodge, Op.Cit. p. 447.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 61
reconheceu-os como Seus, elegeu-os para vida e glória eternas". 180 Esta
interpretação que Paulo dá do seu ensino sobre a predestinação, encaixa-se
bem na mentalidade hebraica, onde o verbo deve ser entendido num sentido
de amor, sendo, pois, o amor, a base da eleição divina.
As perguntas levantadas pelas duas interpretações 181 opostas são
estas: "Deus olhou através do tempo e viu que certos indivíduos creriam e,
assim, os predestinou para a salvação sobre a base desta fé prevista"? ou
"Deus colocou Seu coração sobre certos indivíduos e, por causa do Seu amor
por eles, os predestinou para que eles fossem chamados e recebessem a fé
em Cristo pelo Espírito Santo e, assim, fossem salvos"? – Em outras
palavras, a fé do indivíduo é a causa ou o efeito da predestinação de Deus?
A resposta óbvia está nas análises feitas nos versos acima sobre o
significado hebraístico do verbo 'conhecer'. Portanto, a fé é o resultado, não a
causa do ato predestinador de Deus. Contudo, a causa do ato eletivo de
Deus é o seu amor soberano.
Quando a Bíblia fala de Deus conhecendo indivíduos particulares, ela
freqüentemente quer dizer que Deus tem consideração especial por eles, e
que eles são objetos de Sua afeição e de Seu amor.
Essa conclusão sobre o texto de Rm 8.29 combina exatamente com
outros textos da Escritura que ensinam que a base da obra eletiva de Deus
foi o Seu amor pelo pecador. Veja alguns textos que evidenciam essa
encantadora verdade. Deus não predestina simplesmente porque Ele é
soberano, mas porque Ele ama, e o seu amor é que é soberano182.
A escolha de Deus para a salvação não é simplesmente uma resolução
da sua vontade soberana, mas é a demonstração de Seu amor por criaturas
depravadas. É absolutamente verdade que Ele faz todas as coisas 'segundo o
conselho da Sua vontade', mas quando escolhe as pessoas para a vida
eterna, é porque Ele coloca o Seu coração sobre elas. Hendricksen observa
que
"Em Seu amor ilimitado, motivado por nada fora de si mesmo, Ele separou-os
para serem Seus próprios filhos... Quando o Pai escolheu as pessoas para si,
decidindo adotá-las como Seus próprios filhos, foi motivado pelo amor somente.
Por conseguinte, o que Ele fez foi o resultado não de uma absoluta determinação,
mas de um prazer supremo"183.
Observe tanto no texto de Ef 1.4-5 como em 2 Ts 2.13 que a razão
predestinadora está no grande amor de Deus.
Deus é soberano no Seu amor eletivo. Quando é dito que Ele é soberano
em sua eleição, devemos entender que Ele é soberano na escolha daqueles a
quem Ele ama. Esta espécie de amor de eleição, Ele não tem por todas as
pessoas indistintamente. A razão do Seu amor está n'Ele próprio, nunca nas
pessoas a quem amou, porque não há nada nelas que O leve a amá-las. O
que elas, na verdade fazem juz, é a condenação porque são pecadoras. Nada
nelas atrai o amor de Deus por elas. A única resposta é que a razão do Seu
180 William Hendricksen, New Testament Commentary – Romans 1-8, Grand Rapid,s Baker, 1980, p. 282.
181 Arminiana e Calvinista.
182 Ef 1.4-5.
183 William Hendricksen, New Testament Commentary, Ephesians, (Grand Rapids, Baker, 1967), p. 79.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 62
1. Proporcionar salvação186.
184 Analisar o texto de Rm 9.11-13 onde a eleição divina está intimamente relacionada com o Seu amor
soberano por Jacó.
185 A maioria dos membros de nossas Igrejas cresceu com a idéia de um amor salvador universal, isto
é, um amor que Deus dá a todos indistinta e igualmente. Segundo a teologia Arminiana, a teologia
Calvinista está totalmente contra a Escritura.
186 2 Ts 2.13.
187 At 13.48.
188 At 13.48.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 63
Deus elegeu-nos para que fossemos entregues a Jesus Cristo. Isto quer
dizer que quando Deus nos elegeu para a salvação, Ele teve que nos entregar
a Cristo para que ele fizesse uma obra redentora por nós e em nosso lugar.
189 A salvação tem a ver com obediência passiva de Cristo, que é o sofrimento da morte, enquanto que
a vida eterna tem a ver com a obediência ativa, que consiste na obediência de todas as prescrições da
lei como regra de vida. A obediência ativa é necessária em virtude da desobediência e da falha de
Adão em conseguir a vida eterna para si e para os seus descendentes. A obediência passiva é a
conseqüência do fato de Adão ter desobedecido as leis de Deus. Para que pudesse ser aceito como
substituto dos homens na cruz, Jesus teve que obedecer primeiro a todos os princípios quebrados por
Adão.
190 Ef 1.5.
191 1 Pe 1.1.
192 1 Pe 1.14.
193 Ef 1.4.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 64
Pedro, na sua carta fala de uma maneira inequívoca, mas que nem sempre é
percebido pelos que estudam esse assunto194.
Este texto nos indica que, ao eleger-nos, Deus nos entregou a Cristo
para que este morresse, derramando o Seu sangue, a fim de nos lavar e
purificar, remindo-nos de nossos pecados. Por essa razão, na Sua oração
sacerdotal, várias vezes Jesus diz 'daqueles que o Pai havia entregue a
Ele'195.
8. Tornar-nos parecidos com Jesus.
Pelo fato de termos sido entregues a Cristo Jesus pelo Pai, lavados pelo
Seu sangue, podemos ter a convicção de que a finalidade da eleição é
tornar-nos parecidos com Jesus, pois Ele nos purifica e nos torna como Ele é
na sua humanidade. A finalidade da eleição é restaurar o homem à sua
condição primeira, de santidade, igual àquela que Jesus apresentou quando
da sua encarnação. Deus restaura-nos a Sua imagem, para que sejamos
maduros, parecidos com o Filho d'Ele quanto à Sua humanidade196.
Este é o alvo de Deus na preparação dos Seus filhos: torná-los
semelhantes ao Seu Único Filho, o irmão mais velho deles. É extremamente
consolador pensar que um dia seremos feitos à imagem daquele que é nosso
salvador! E isto graças à eleição de Deus!
1. A glória de Deus197.
Deus é glorificado tanto nos que são reprovados como nos que são
objetos de sua misericórdia. Esses são os eleitos. E na eleição deles Ele é
glorificado!
194 1 Pe 1.1.
195 Jo 17.1-11.
196 Rm 8.29.
197 Rm 9.22-23.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 65
1. Eleição e fé no Calvinismo.
198 Ef 1.5-6.
199 Ef 1.11-12.
200 Steele, Op.Cit. p. 31.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 66
201 Robert Dabney, Lectures in Systematic Theology, (Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1975
edition) p. 237.
202 Rm 8.29.
203 Dabney, Op.Cit., p. 237 (ver Ef 2.8-10; At 5.31 e 2 Tm 2.25-26).
204 1 Ts 1.4-5 e 2 Ts 2.13-14.
205 Tg 2.5.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 67
pessoa sem exceção, isto é, para cada pecador no mundo em todas as épocas, por que Jesus disse aos
Seus discípulos: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele
que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele"... e "Se alguém
me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para Ele e faremos nele morada" (Jo
14.21-23). A mesma verdade qualquer pessoa pode encontrar em Pv 8.17 – "Eu amo os que me amam;
os que me procuram me acham". Contrariamente, está escrito em Sl 5.5 – "Os arrogantes não
permanecerão à tua vista; odeias a todos os que praticam iniquidade". O salmista não diz nesse texto
que Deus odeia a iniquidade, embora isso seja verdade, mas que Deus odeia os que praticam a
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 69
iniquidade. Jo 3.36 diz "que aquele que crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém
rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus". A pergunta que se faz
é: pode Deus amar aqueles que estão debaixo da Sua ira? Está absolutamente evidente que todos os
'justificados em Rm 8.33 são aqueles que recebem a manifestação do amor de Deus que está em Cristo
Jesus" (Rm 8.39). Este amor de Deus é apenas para aqueles que Ele castiga e disciplina, isto é, os que
Ele chama para serem Seus filhos (Hb 12.6). não é sem razão que Deus disse que Seu amor é soberano:
"Eu amei a Jacó, porém odiei a Esaú"(Rm 9.13). Se Deus ama todos os homens sem exceção, aqueles
textos que mostram a limitação não fazem sentido algum. Não é possível Deus atirar os Seus amados
no lago de fogo.
214214 A.W. Pink, The sovereignty of God, Grand Rapids, Baker Book House, 1977, p. 25.
215 At 15.11; Ef 2.5.
216 At 20.24, 32; 14.3.
217 Jo 1.12-13.
218 Gl 1.15; 2 Tm 1.9.
219 Rm 3.24; 5.18; Tt 3.7.
220 Ef 1.7.
221 Ef 2.8; At 18.27; Rm 4.16; Fp 1.29.
222 Rm 6.14.
223 At 14.26-27; 15.40.
224 Rm 12.6; 1 Co 3.10; Ef 3.7-8; 4.7.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 70
225 Ef 3.2-8.
226 2 Ts 2.16-17.
227 At 27.24.
228 Rm 11.5-6.
229 1 Pe 5.10.
230 Mt 20.15-16.
231 Steele, Op.Cit. p. 31.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 71
232 W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 1, New York, Charles Scribner's Sons, 1889, p. 425.
233 Rm 9.14-15.
234 O artigo 7 do primeiro cabeçalho da doutrina reza: "A Eleição é o propósito imutável de Deus por
meio do qual, antes da fundação do mundo, de toda a raça humana, que havia caído por sua própria
falta de sua integridade original, em pecado e ruína, de acordo com o seu livre beneplácito, e por mera
graça, Ele escolheu em Cristo para a salvação um certo numero especifico de homens, nem melhores
nem piores que outros, mas eles todos envolvidos em uma miséria comum". (da tradução de Anthony
Hoekema, em Calvin Theological Journal, vol. 3, 1968), p. 136-137.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 72
deles, elegendo-os para a vida eterna. Esta conclusão pode ser sacada do
ensino da Escritura de uma maneira muito clara:
a. O pecador é eleito para a salvação 235 . Salvação pressupõe perdição.
Aqueles que foram eleitos estavam perdidos em seus delitos e pecados, da
mesma forma que não foram eleitos. Eles todos mereciam condenação,
mas Deus decidiu eleger alguns deles para a salvação, Deus escolheu as
coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios236.
A eleição condicional dos Arminianos, que pressupõe apenas a
depravação parcial, torna o homem orgulhoso porque Ele não está
totalmente dependente da eleição graciosa de Deus. Mas a salvação, segundo
a Escritura, é somente para perdidos, para os sem esperança, para os
miseráveis. Por essa razão Jesus veio para 'buscar e salvar o que se havia
perdido'237.
b. O pecador é eleito para ser santo e inculpável 238 . Santidade e
inculpabilidade pressupõem corrupção em pecado. Ninguém pode ser
eleito para a santidade se eles já tivessem santidade. A santidade é o
resultado final da eleição. Hendricksen faz a seguinte observação, contra
a teologia Arminiana:
"É digno de nota especial que Paulo não diga: 'O Pai elegeu-nos porque Ele
previu que haveríamos de ser santos'... porque eleição não é considerada aos
méritos previstos no homem ou mesmo à sua fé prevista. Ela não é a raiz da
salvação, nem o seu fruto"239.
Deus viu todos os homens em corrupção e escolheu alguns da raça
caída para serem objetos do Seu imerecido favor, a fim de que fossem santos
e inculpáveis.
Portanto, a doutrina da depravação tem de ser levada em conta quando
se estuda a doutrina da eleição.
que escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós, para que vades e
o vosso fruto permaneça"241.
O homem não tem nada a ver com a eleição. Esta é uma matéria do
Deus todo poderoso somente. A responsabilidade do homem está ligada
somente em atos onde ele ativamente participa. Ele não tem nenhuma
participação em sua eleição. Ele é somente o beneficiário dela, não uma
parte cooperante nela. De um modo similar, o homem não tem qualquer
responsabilidade no ato da regeneração ou do novo nascimento. Nestas
coisas, ele é totalmente passivo, porque ele não escolhe ser gerado de novo
ou ser nascido de novo. Ele é meramente concebido e nascido. Nada mais.
Portanto, o homem não é responsável por sua eleição, mas é o objeto da
eleição divina, não a causa dela, como os Arminianos ensinam.
Os homens são responsáveis quando eles são agentes secundários na
execução histórica dos decretos divinos, mas eles não são responsáveis por
sua eleição, sendo apenas seus beneficiários.
Daane diz:
"Todas as versões arminianas da eleição ... sustentam que o pecador retém o
direito e a capacidade, contra toda proposta da graça e eleição divinos, para
rejeitar decisivamente a escolha eletiva de Deus. Isto é considerado como
liberdade autêntica. A escolha do homem é definitivamente decisiva. A graça de
Deus nunca viola a liberdade ou o direito do homem de dizer 'não' a Deus. Se
Deus, por uma ação eletiva graciosa, priva o homem pecaminoso de sua
liberdade de dizer 'não', então Deus (é dito) estaria violando a liberdade do
homem. O pecador nunca é tão sobrepujado pelo amor e graça eletiva de Deus de
forma que ele só pode se render a ela. Ao contrário, a liberdade autêntica do
pecador permanece impregnável pelo amor eletivo de Deus; ela tem o poder
direito de autodeterminação – escolher Deus como seu futuro, ou escolher um
futuro sem Deus"242.
Na teologia Arminiana o homem tem o 'privilégio' de escolher Deus. Ela
sempre ensina sobre 'liberdade autêntica' da teologia Arminiana, para
justificar a idéia de responsabilidade, comete um engano muito sério em
relação aos direitos de Deus. A teologia libertária tenta fazer justiça à
responsabilidade do homem nesta matéria, mas ao tentar fazê-lo, acaba
fazendo injustiça à liberdade de Deus de escolher pessoas.
241 Jo 15.16.
242 james daane, The Freedom of God, Grand Rapids, Eerdmans, 1973, p. 15-16.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 74
ser crida nem ensinada no meio do povo de Deus. Se por justiça entende-se
o fato de Deus dar a salvação a todos igualmente, então a doutrina da
eleição mostra que Deus é injusto, pois dá a uns e não a outros, portanto,
Deus é injusto porque não dá a todos aquilo que deveriam receber. Se justiça
exige que todos os homens sejam tratados igualmente, isto é, todos devem
receber a salvação, e não apenas alguns, então, a Escritura ensina que Deus
é injusto.
Todos os adversários da Fé Reformada fazem esta crítica ao sistema
teológico conhecido como calvinismo. Temos que trabalhar com essas
críticas colocando as definições certas para que tenhamos respostas certas.
Resposta.
243 O homem é o único devedor. Ele tem que pagar a penalidade dos pecados, recebendo a punição
que merece. Por essa razão é que a Escritura diz que „a morte é o salário do pecado‟, mas quando se
trata da vida eterna, a Escritura diz que ela é „Dom gratuito de Deus‟. (Rm 6.23).
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 75
justiça, a menos que alguém com a mente de Deus lhes ensine. É natural a
reação enfrentada por Paulo quando falou do amor soberano de Deus que
concede misericórdia a quem Ele quer. Misericórdia não é dívida de Deus,
mas é manifestada de acordo com a sua vontade soberana.
Resposta.
244 É importante que se estabeleça a diferença devida entre o livro arbítrio e a livre agencia. Livre
arbítrio é a capacidade que somente Adão teve de escolher não somente aquilo que combinava com a
sua natureza santa, mas conversamente de fazer as coisas que eram contrárias à sua natureza santa,
isto é, pecar. Esta é uma capacidade que os homens depois da queda não possuem mais. Livre agencia,
diferentemente, é a capacidade que todos os homens possuem de fazer qualquer coisa que combina
com as disposições dominantes da sua natureza. Eles fazem o que querem e o que gostam,
dependendo do estado da natureza deles. Esta capacidade é inerente ao homem desde a sua criação, é
parte essencial dele, e ele não pode deixar de tê-la sem deixar de ser o que é – homem.
245 2 Co 8.9.
246 Rm 11.5-6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 76
O que faz acepção de pessoas é aquele que, agindo como um juiz, não
trata aquelas pessoas que vêm diante dele de acordo com o caráter delas,
mas que nega a eles o que é próprio deles e que dá aos outros aquilo que não
é próprio deles. Faz acepção de pessoas aquele que trata os outros com
preconceito ou com motivos sinistros, antes do que pela justiça e pela lei247.
Os adversários do calvinismo dizem que a doutrina da eleição torna
Deus alguém que faz acepção de pessoas, isto é, que as trata de modo
diferente, tendo preferências por umas e não por outras, sendo que todas
elas são iguais. Esta acusação eqüivale a dizer que Deus é parcial.
Alguns adversários baseiam-se em dois versos da Escritura que dizem
que Deus “não faz acepção de pessoas”248.
Resposta.
É verdade que Deus não faz acepção de pessoas quando Ele está
tratando da pecaminosidade delas. O contexto de Rm 2.11 diz-nos que tanto
judeus quanto gentios, são igualmente condenáveis por estarem em débito
com a lei, seja ela escrita nos corações ou nos pergaminhos. Tanto uns como
outros são condenados por sua quebra às leis. No caso de At 10.34 é dito
que Cornélio também recebe um tratamento indiferenciado dos judeus.
Deus, quando trata da raça das pessoas, não tem nenhuma preferência.
É verdade, também, que Deus tem preferências, que Ele não trata a
todas as pessoas igualmente, no que diz respeito à salvação delas. O
favoritismo que Deus tem por algumas não tem nada a ver com o caráter
delas, mas com a Sua determinação segura de amá-las. Algumas pessoas
poderão objetar que Deus teve preferências por Israel (como raça) em relação
a outras raças. Mas a resposta é que Deus não teve afeição a Israel com
motivo nascido nesse povo, mas por motivo nascido nele próprio.
Portanto, a diferença de tratamento que Deus tem com relação às
pessoas é matéria de amor puro e soberano nascido no próprio Deus, sem
nada a ver com a raça, estado ou condição do pecador.
Quando Deus trata da nacionalidade, da raça, ou da pecaminosidade
das pessoas, Ele não faz acepção de pessoas. É isto o que a Escritura diz.
Mas quando Deus trata da redenção das pessoas, ele as discrimina não por
algo que há nelas, mas por algo que há no Seu ser. Por isso é dito que ele
'tem misericórdia de quem quer e não de quem se esforça'.
247 Ver Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, (Grand Rapids; Eerdmans, 1941), p. 263.
248 At 10.34 e Rm 2.11.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 77
Resposta.
Resposta.
depravadas dos ímpios, e as torna como Lhe apraz, de tal forma que eles tem um
desejo de realizá-las da forma que Ele planejou cumpri-las através delas"251.
É muito difícil explicar como essa ação é operada, mas não há como
fugir dessa idéia. Se o mal foge do controle de Deus, não há como vê-lo como
o Senhor da história. Sem essa capacidade de agir nas mentes dos homens
inclinando-as252 como Lhe apraz, Deus perde todo o controle e nada do que
Ele planejou se cumprirá.
A existência do pecado no mundo é um grande problema não somente
para a Teologia Calvinista, mas para todos os ramos da Teologia Cristã.
Nenhuma Teologia Cristã tem solução plena para o problema do pecado.
Todas são passíveis de crítica da parte dos ateus. Contudo, a acusação
maior tem caído contra os Calvinistas, especialmente da parte dos
arminianos, porque na sua teologia eles afirmam que Deus preordenou o
curso inteiro dos eventos do mundo. Portanto, com base nisso, Deus é o
autor do pecado.
Os arminianos podem sofrer o mesmo tipo de crítica, porque eles não
resolvem o problema do mal, também. Para eles, Deus é um espectador
passivo, que vê as coisas acontecendo com relação ao mal, e Ele não tem
absolutamente nada a ver com isso. o mal é algo que tem a ver unicamente
com a vontade livre dos homens. d apenas viu Adão fazer o que fez no Éden,
sendo surpreendido por aquela ação. Somente depois de todo o mal feito é
que Ele tomou providências para remediar a situação. Na Fé Reformada,
contudo, Deus não foi pego de surpresa, não somente porque sabe de todas
as coisas desde o princípio, mas porque a queda dos homens tem a ver com
a execução de Seus planos elaborados desde a eternidade. Se quisesse, Ele
poderia ter preservado Adão de pecar, mas dessa forma os Seus planos
eternos de salvação não se cumpririam, porque não existe salvação sem
antes haver queda.
Deus não é o autor do mal, embora o seu aparecimento tenha a ver com
o Senhor da história, que decretou o aparecimento dele. Mas a existência
real do mal apareceu unicamente através do exercício da autodeterminação
das criaturas finitas. Como Deus pode decretar o aparecimento do mal e
tornar certo o aparecimento dele na história, através do exercício livre da
autodeterminação das vontades de Suas criaturas, é algo que não nos é
revelado nas Sagradas Escrituras.
Resposta.
As ações dos homens são livres porque os homens são agentes livres. A
responsabilidade de uma ação está no fato delas serem nascidas na
autodeterminação da criatura, não no fato delas serem preordenadas. Toda
criatura age sempre conforme as disposições dominantes de sua natureza.
Ninguém comete uma ação má sem que seja uma expressão de sua vontade
que, por sua vez, age de acordo com os impulsos de sua natureza mais
íntima.
A preordenação divina é o auto pelo qual Ele torna certos os eventos
mas de tal modo que eles sempre sejam feitos de acordo com a natureza das
causas secundárias, que são os agentes racionais que possuem
autodeterminação. A preordenação não força nenhum ser racional a agir. Ela
apenas torna certo o acontecimento de um ato, mas este é praticado de
acordo com as disposições dos corações dos homens, sem que nada,
absolutamente nada de fora, os force a fazer o que fazem.
A responsabilidade de um ato não está vinculado à uma idéia de
liberdade que significa independência. A liberdade de independência não
existe. A liberdade de um ser humano está condicionada à natureza dele. Ele
só pode fazer o que está de acordo com a sua natureza. Estando de acordo
com ela, ele pode fazer o que quiser, sem ser coagido de fora por nada. Todo
homem age dessa forma, sempre concorde com as suas disposições
interiores. Nesse sentido ele é livre, portanto, um ser moralmente
responsável.
Ao contrario de todas as expectativas, a Doutrina Reformada é a que
mais enfatiza a responsabilidade moral dos homens. Esta não está vinculada
à capacidade de os homens fazerem coisas boas, mas à ordenação divina
para eles fazerem as coisas santas.
O fato de sermos eleitos de Deus deve levar todos nós a uma atitude de
santa reverência para com o Deus de toda graça e soberania. A devida
compreensão da doutrina da eleição nos leva a um senso de pequenez, de
finitude e de humildade na Sua presença. Essa humildade é sentida pelo
fato dos verdadeiros remidos serem agradecidos por terem sido destinados à
vida porque sabem que, se deixados ao seu próprio arbítrio, sem que Deus
nos trouxesse à vida, estariam trilhando ainda o caminho da morte. Eles
sabem que o merecimento deles é a morte, mas por causa da eleição são
trazidos a Cristo e por eles vive e reina. Eles sabem que se Deus não lhes
houvesse destinado à vida, eles estariam ainda totalmente depravados, ainda
rebeldes, e sujeitos à eterna condenação. Eles sabem que Deus é o autor de
todas as coisas santas e puras que eles possuem. Eles se conheciam
anteriormente, e agora sabem que estavam 'mortos nos delitos e pecados'.
Eles agora sabem que se Deus não houvesse proposto salvá-los, eles ainda
253 Cl 3.12-13.
254 1 Pe 1.5-10.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 83
estariam nas mãos da impiedade. Eles sabem que se Deus não resolvesse
elegê-los para a vida, ainda estariam debaixo dos ditames de satanás. Eles
sabem que a eleição não é matéria de mérito ou da justiça de Deus, mas Seu
grande amor por pecadores. Por essas razões, eles tem gratidão no coração
pelo amoroso decreto eletivo de Deus!
A doutrina da eleição deveria sempre ser o motivo da nossa gratidão e
dos nossos louvores! Essa doutrina exalta grandemente a graça de Deus, ao
mesmo tempo em que coloca o pecador no seu devido lugar. Ao Deus de toda
graça seja a honra e a gratidão de nosso coração!
255 Rm 8.30.
256 Cl 3.12.
257 Sl 89.30-33.
258 Fp 1.6.
259 Jo 10.28-29; Rm 8.31-39.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 84
260 1 Co 3.5-9.
261 Dn 9.2.
262 At 18.9-10.
263 Merece um exame acurado. Nota pessoal. Marthon.
264 Rm 10.12-17.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 85
A doutrina da reprovação.
Definição de reprovação.
tem sido empedernidos pelo Seu julgamento justo, e visitá-los com punição
eterna, a fim de mostrar a glória da Sua justiça"265.
Preterição.
Definição de preterição.
Esta é uma preterição que tem a ver com nações. No período do Velho
Testamento muitas nações foram preteridas no que diz respeito à revelação
divina. Elas foram deixadas sem o conhecimento do Deus verdadeiro.
Somente Israel foi objeto dessa revelação. Portanto, debaixo da economia do
Velho Testamento Deus preferiu Israel, mas não com base no que Israel
oferecia268 mas sim por amor a ele, preterindo outras nações, até o tempo da
vinda de Cristo, quando o evangelho foi pregado indiscriminadamente aos
judeus e gentios. Mas no começo do ministério de Jesus Cristo, a preterição
nacional ainda continuava269.
Então, mais tarde, exatamente após a ressurreição de Jesus, a
preterição nacional parece ter cessado, Jesus, falando de Si próprio, disse
aos seus discípulos em forma de ordenança.
"Assim está escrito que o Cristo havia de padecer, e ressuscitar dentre os mortos
no terceiro dia; e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de
pecados, a todas as nações, começando em Jerusalém"270.
271 Mt 24.14.
272 Rm 9.4-5.
273 At 8.27ss.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 89
mas falta a eles alguma obra interior do Espírito Santo no coração deles. Por
esta razão Moisés lamenta a situação do seu tempo277.
Para que alguém venha ao conhecimento salvador de Deus, é necessário
que Deus lhe dê coração novo. Se Deus omite a essa pessoa essa operação,
deixando-a entregue ao seu próprio entendimento, essa pessoa nunca amará
a Deus nem entenderá a sua palavra.
Exemplo 2278.
Este texto é citado por Paulo em Rm 9.13, causando nos ouvintes uma
revolta que fez o povo chamar Deus de injusto. Paulo argumenta com este
texto para provar a gratuidade da eleição, e também para provar a soberania
da preterição. Os edomitas, descendentes de Esaú, por razões que nos são
desconhecidas (não era o pecado de Esaú que causava a preterição, pois
Jacó era igualmente pecador, ou pior ainda que Esaú), ficaram sem o amor
redentor de Deus, assim como o seu ancestral. Mas o texto mostra
claramente, em consonância com Romanos 9, que Deus faz distinção entre
um e outro. Dá a um o seu amor gracioso e não o dá a outro. Note-se que o
contexto de Romanos é totalmente de ênfase soteriológica e pessoal.
O Novo Testamento tem outros exemplos que mostram a preterição da
graça regeneradora.
Exemplo 3.
Neste texto 279 , onde João cita Isaías, o contexto é bem diferente do
contexto que o próprio Isaías estava vivendo quando Deus lhe deu esta
terrível mensagem.
No texto de Isaías 6 a mensagem não era de salvação, mas o anúncio de
como Deus agiria ou deixaria de agir no coração do homem. Aqui em João, o
contexto é de pregação salvadora de Jesus Cristo. Embora Jesus tivesse
pregado muitas vezes e houvesse feito muitos sinais na presença dos
homens, é-nos dito que as pessoas 'não criam nele'. João, o evangelista,
citando Isaías 53.1, fala sobre a pregação do servo sofredor, que dizia:
"Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do
Senhor?" O que João está dizendo é que somente crê aquele a quem o braço
do Senhor é revelado. Somente a poucos deles o Senhor dá-se a conhecer. A
hermenêutica de João está absolutamente correta. A impotência de crer
estava no fato de serem pecadores, mas eles não podiam crer pela ausência
da obra regeneradora de Jesus Cristo sobre eles. Calvino diz: "Os homens
podem torturar-se a si mesmos tanto quanto eles queiram; todavia, a causa
da discriminação, por que Deus não revela o seu braço a todos, está
escondido no seu decreto eterno" 280 . Sem a obra do Espírito de Deus no
coração deles, capacitando-os a crer, fatalmente eles não crerão. É-nos dito
também que Deus decretou, por razões escondidas de nós, que eles não
iriam crer, para se cumprir a profecia de Isaías. Deus resolveu preteri-los,
277 Dt 5.28-29.
278 Ml 1.2-5 – Rm 9.13.
279 Jo 12.37-40.
280 Concerning the Eternal Predestination of God, p. 94.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 91
Exemplo 8290.
286 Jo 10.24-27.
287 Lc 4.25-28.
288 Lc 4.29-30.
289 Rm 9.17-22; 2 Tm 2.20.
290 Rm 11.5-10.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 93
291 Herman Hoeksema sustenta essa opinião: "O significado não é que o homem natural começa por
estar debaixo da influência da pregação da palavra por ter uma certa receptividade pelo evangelho e
pela graça de Deus, mas que agora por meio de um processo de endurecimento ele perde essa
receptividade. Este não pode ser o significado". (God's Eternal Good Pleasure, Grand Rapids,
Reformed Free Publishing Association, 1979, p. 261).
292 1 Pe 2.8-9.
293 Eles tropeçam por estarem cegos e surdos, sem qualquer luz ou guia, a despeito deles existirem.
Nota de aula.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 94
294 Mt 11.21-24.
295 Mt 11.25-27.
296 Lc 10.21-22 usa a palavra 'exultou'.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 95
Causa da preterição.
Condenação.
Definição de condenação.
É um ato pelo qual Deus traz as pessoas, que foram deixadas nos seus
próprios pecados, à punição, por causa dos seus pecados.
Exemplos de condenação.
Exemplo 1299.
Exemplo 2300.
A base da condenação.
manifestar a Sua justiça. Porque Ele é justo ele não pode deixar de
manifestar justiça a merecedores da Sua condenação.
A causa da condenação.
Características da reprovação.
301 Na sua definição de Predestinação ele a chamou de 'o decreto eterno de Deus...'(Institutas, III, 21.5).
302 Institutas, III, 23.7.
303 Klooster, p. 59.
304 Klooster, p. 83; Shedd, p. 441.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 98
Segundo Calvino, Paulo deixa claro que 'os reprovados são levantados
para que por eles glória a Deus possa ser manifesta'307. A Escritura indica,
em Pv 16.4, que o 'Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o
perverso para o dia da calamidade'. Não há nada neste mundo sem
propósito. Todas as coisas são acontecidas no universo de Deus para que
Ele, em última instancia, seja glorificado na manifestação dos Seus
atributos.
1. Quando Deus deixa o pecador no jeito em que ele está, sem conceder-lhe
a graça regeneradora, o atributo da Sua soberania é glorificado. Jesus
Cristo glorificou a soberania de Seu Pai quando este deixou de
revelar-se salvadoramente a alguns homens, omitindo-lhe a graça
regeneradora;
2. Quando Deus endurece o pecador, tirando dele a Sua influência
restringente e santificadora, fazendo-o afundar em seus pecados, Ele
manifesta a glória do Seu poder. Foi exatamente isso o que ele disse em
Rm 9.16-18.
305 Institutas, I, 3.5. Ver também John Calvin, Concerning Eternal Predestination, (London: James
Clarke & Co. Limited, 1961, edition translated by J.K.S. Reid), p. 97.
306 Ef 2.1-5.
307 Institutas, III, 22.11.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 99
Assim como Ele usa o Seu poder para colocar um novo coração,
vencendo todas as indisposições dos homens contra Si, Deus também usa o
Seu poder para fazer com que os homens sejam diminuídos na Sua
presença. Deus mostrou a farão que Ele era poderoso, e que farão não tinha
poder nenhum. E o modo de Deus mostrar o Seu poder foi deixar os homens
nas suas próprias imundícies, o que a Escritura chama de 'endurecer' o
coração. Fazendo isso com Faraó, o nome de Deus foi conhecido de toda a
terra.
3. Quando Deus deixa o pecador nos seus pecados, sem mostrar-lhe a
misericórdia, punindo-o, portanto, o atributo da Sua justiça é glorificado.
Calvino enfatizou enormemente a glória da justiça divina. Ele disse:
"Onde você ouve a glória de Deus mencionada, pense da Sua justiça. Pois
o que quer que mereça ser louvado deve ser justo" 308. A destruição do
ímpio, que tem a ver com a Sua justiça, tem i propósito da manifestação
da glória de Deus! Comentando sobre Pv 16.4, Calvino disse: 'Visto que a
disposição de todas as coisas está nas mãos de Deus; visto que a decisão
de salvação ou da morte descansa no Seu poder, Ele assim ordena por
Seu plano e vontade que entre os homens alguns são nascidos e
destinados para a morte certa desde o ventre, que glorifica o Seu nome
pela própria destruição deles'309.
Tanto a salvação como a condenação final do homem não são um fim
em si mesmos, mas todas as coisas existem para a glória de Deus seja
manifesta em toda a sua plenitude.
312 Rm 8.30.
313 At 20.20-27.
314 Mt 11.25-27.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 102
'Para nós, recusar pregá-la é ser falso para com nosso Senhor Jesus Cristo e
negligenciar nosso dever para com nossos semelhantes. Ignorá-la é agir
como um medico que se recusa a operar para salvar a vida do paciente pelo
simples fato de que ele sabe que a operação vai causar dor ao paciente'315.
Outros pastores não pregam porque ela vai causar muita controvérsia.
A resposta a este problema é que muitas outras doutrinas causam
controvérsia e, contudo, os pastores pregam. Não podemos evitar a oposição
das pessoas. Jesus sempre enfrentou oposição quando Ele pregou sobre a
doutrina da depravação humana e sobre a salvação. Os homens sempre
reagirão negativamente ao modus operandi de Deus. Portanto, estas coisas
não são motivo para deixarmos de pregar privada e publicamente esta
importante matéria da Escritura.
Uma coisa é extremamente necessária para o ministro que a prega: ele
deve entendê-la corretamente e crer nela de todo o seu coração. Quando ele
prega com absoluta convicção esta verdade de Deus, o seu povo será
impactado com sua mensagem. Deus haverá de abençoar honrando a
pregação fiel de sua verdade.
CAPÍTULO 2.
A DOUTRINA DA CRIAÇÃO.
316 Hb 11.3.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 104
b. A idéia da criação.
equivalente a dizer que o mundo veio à existência sem uma causa. Contudo, a Escritura afirma que a
vontade de Deus é a causa da existência de todas as coisas (ap 4.11). Se a frase latina ex nihilo nihil fit
(do nada, nada se faz) é tomada como que significando que não há nenhum efeito sem causa, sua
verdade pode ser admitida, mas não pode ser considerada como uma objeção válida contra a doutrina
da criação do nada. Por causa da confusão do significado da palavra 'nada', é preferível falar da
criação causada sem o uso de material preexistente (Berkhof, Teologia Sistemática, 157).
323 Sl 104.130; Is 65.18.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 105
'plasso'). Todas estas três palavras são encontradas juntas no mesmo verso
de Isaías 45.7.
Definição.
A criação pode ser definida, num sentido bem estrito, como 'aquele livre
ato de Deus através do qual Ele, de acordo com a sua soberana vontade e
para a Sua própria glória, no começo deu origem, ao universo visível e
invisível, sem o uso de material preexistente e, assim, tudo veio à existência,
distinto dele próprio e, todavia, sempre dependente dele'324. Contudo, como a
Escritura usa o verbo 'bara' como um significado secundário, como sendo a
criação com material preexistente, alguns teólogos ampliam a definição de
criação, dizendo: "A criação é aquele ato pelo qual Deus produz o mundo e
tudo o que nele há, parcialmente vindo do nada e parcialmente do material
já existente pelo Seu próprio poder, para a manifestação da Sua glória, Seu
poder, Sua sabedoria e bondade'325.
Deus se dirige a Ciro dizendo que não há nenhum outro Deus além d'Ele.
Após essa afirmação ser dita várias vezes no capitulo 45 de Isaías, Deus diz
a Ciro: "Eu fiz a terra, e criei nela o homem; as minhas mãos estenderam os
céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens" 328 . No meio das
nações pagãs em que vivia Israel, o profeta jeremias sentiu-se obrigado a
alertar o povo de Israel a tomar partido do verdadeiro Deus, apelando para o
fato d'Ele ser criador329. Foi exatamente esse Deus que Paulo apresentou aos
idólatras atenienses, quando afirmou que Ele é o Criador de todas as cousas,
contrastando-o com os outros deuses que não eram nada330. Os verdadeiros
crentes nunca tiveram problemas com Deus na sua função de criador.
Sempre o reconheceram como o criador de todas as cousas. O rei Ezequias,
como representativo desses crentes, afirmou: "Ó Senhor dos Exércitos, Deus
de Israel, que estás entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus
de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra"331.
328 Is 45.12.
329 Jr 10.10-11.
330 At 17.
331 Is 37.16.
332 Jo 1.3.
333 1 Co 8.6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 107
334 Cl 1.16-17.
335 Hb 1.2.
336 Jó 26.13.
337 Jó 33.4.
338 Sl 104.30.
339 Is 40.12-13.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 108
340 Ap 4.11.
341 Rm 11.36.
342 Gn 1.1.
343 Sl 90.2; 105.25; Mt 19.4-8; Mc 10.6; Jo 17.5; Hb 1.10; Ap 17.8).
344 Is 42.5; At 17.24; Sl 90.2; 102.25-27; 103-15-17.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 109
Esta questão tem sido muito debatida entre os teólogos. Não se tem
chegado a um consenso, mas há duas opções básicas a respeito dos
propósitos definidos da criação.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 110
345 Sl 19.1.
346 Is 43.7; 60.21; 61.3; Rm 11.36; 1 Co 15.28; Ef 1.5-14; Cl 1.16.
347 Pv 16.14.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 111
1. Respeito348.
2. Obediência.
4. Adoração349.
O fato de Deus ser criador nos conduz imediatamente à idéia de que Ele
deve ser adorado e servido. Por essa razão, o salmista nos exorta de uma
maneira muito feliz 350 . Esta é uma conclusão não somente razoável, mas
extremamente significativa. Essa foi a primeira reação da criatura ao ter
conhecimento de Deus. A adoração da criatura é uma atitude inescapável.
Se, por razões de perversão ética a criatura não adora o verdadeiro Deus, ela
tende a adorar a alguém que esteja no lugar dele. Isto está claro no
ensinamento de Paulo em Rm 1. Ali ele mostra que é natural aos homens
adorar algo que é maior do que ele. É parte de nossa natureza, como seres
criados, buscar e adorar o Criador. A adoração é um elemento próprio de
criaturas racionais, mas o grande problema é que essas criaturas são
depravadas e até sua adoração é afetada enormemente pela queda de Adão,
dirigindo-se por uma perspectiva distorcidamente pecaminosa. Isto quer
dizer que os homens, por si mesmos, não são confiáveis em matéria de
adoração. Por causa de seus pecados, eles acabam adorando a criatura ao
invés do criador. Por essa razão, é que necessitamos da ajuda do próprio
Deus para que a nossa adoração lhe seja aceitável.
Como seres criados, não temos opção. A adoração é alguma coisa que
lhe devemos. É inescapável em nós adorar ao Deus criador e lhe prestar toda
honra e louvor que Ele merece. Como criaturas redimidas que somos, nós,
os cristãos devemos prestar a Deus uma adoração em 'espírito e em
verdade', como Cristo preceitua, a fim de que Deus aceite o nosso culto. O
culto é uma dívida das criaturas e, mais especialmente ainda, das criaturas
redimidas. Somente estas é que podem e devem tributar a Deus um ato de
adoração verdadeira ao verdadeiro Deus.
348 Is 45.9.
349 Sl 95.6.
350 Sl 95.6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 112
Cosmogonias em contraste.
A. Cosmogonia evolucionista.
353 Henry Morrys, What Is Creation Science? (Master Books, 1987), p. 192.
354 M.R. DeHaan, Gênesis and Evolution, (Grand Rapids, Zondervan, 1962), p. 14.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 114
B. Cosmogonia criacionista.
355 O budismo, confucionismo, taoísmo, xintoísmo, Shamanismo, etc. que são religiões centradas no
homem, todas elas adaptam-se de alguma forma ao sistema Darwiniano nos seus sistemas
cosmogônicos. O mesmo pode ser dito de religiões pseudo-intelectuais do ocultismo, como o
espiritismo, feitiçaria, astrologia, teosofia, e todos os outros cultos orientais, como Hare Krishna, por
exemplo. (Morris, p. 136).
356 M. DeHaan, p. 14.
357 Morris, p. 147.
358 Morris, p. 147.
359 Morris, p. 147.
360 Morris, What Is Creatino Science? (Ele Cajon, CA: Master Books, 1987), p. 257 em diante.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 115
Cosmologia bíblica.
361 Convém lembrar que há certas religiões menores que possuem alguma ligação com a literatura do
Velho Testamento, como o judaísmo e o islamismo. Em algum sentido, elementos do islamismo
aceitam certas verdades do livro de Gênesis e, que, portanto, possuem adeptos de uma cosmogonia
criacionista. Mesmo nessas duas religiões a cosmogonia criacionista torna-se prejudicada e diluída,
porque há já muitos elementos de comprometimento com o evolucionismo.
362 Hb 11.3.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 116
O fiat da criação.
365 Ec 3.14.
366 Há vários textos da Escritura que assinalam esse ato completo realizado no passado: Ne 9.6; Sl 95.6;
Is 40.26; 45.18; Jo 1.10; At 17.24-25; Hb 1.10; Ap 4.11.
367 Textos indicam que Deus preserva o universo que Ele próprio criou: Ne 9.6; Hb 1.3.
368 Sl 78.69; 148.3-6; Ec 1.4; 3.14; Jr 31.35-36; Dn 12.3.
369 Morris, p. 145.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 118
As leis da termodinâmica370.
370 A palavra termodinâmico é composta de duas palavras gregas que indicam a idéia de 'poder de
aquecer' ou 'poder de calor'. 'O termo em si mesmo apareceu no começo da revolução industrial.
Quando os homens descobriram que o calor poderia ser convertido em energia mecânica, então
inventaram o primeiro motor a vapor, nossa era moderna de ciência e tecnologia havia nascido... Os
princípios que foram, então, desenvolvidos, para quantificar a conversão de calor em energia foram
chamados os princípios da termodinâmica". Morris, p. 185.
371 Morris, p. 186.
372 Isaac Asimov, "In The Game of Energy and Thermodynamics, You Can't Even Break Even",
Deus criou tudo que havia de ser criado, inclusive a energia. Agora tudo é
acrescentado, porque tudo o que Ele criou foi 'muito bom'.
b. Asimov também diz que 'ninguém sabe porque energia é conservada'. A
Escritura e a Teologia Calvinista são fartas de razões porque a energia é
conservada. Tudo é renovado no universo pelo poder sustentador de
Deus. A criação em si mesma não é independente. Só Deus tem aseidade
(independência) ou auto-existência sem necessidade de manutenção. Ele
é independente, mas sua criação não. Ela precisa ser sustentada,
portanto, toda a energia dela é mantida pelo poder sustentador de Deus.
Há vários textos bíblicos que estão relacionados à primeira lei 374 .
Portanto, esta primeira lei 'ensina conclusivamente que o universo não
criou-se a si mesmo e nem poderia fazê-lo. Por esta razão, a ciência não pode
saber nada a respeito da origem de todas as coisas'375.
A segunda lei da termodinâmica.
374 Textos que indicam a preservação de Deus da criação terminada: Ne 9.6; Sl 148.6; Is 40.26; Cl 1.17;
Hb 1.3; Tg 1.17; 2 Pe 3.7.; textos que indicam a permanência das espécies de organismos vivos criados:
Gn 1.11; 1.25; 1 Co 15.37-39; Tg 3.12; textos indicando a completação da obra quanto à sua
permanência: Ec 1.9-10; Ec 3.14-15; Is 40.12.
375 Albert Sippert, From Eternity to Eternity (Minnesota: Sippert Publishing Company, 1989). 254.
376 Albert Sippert, From Eternity to Eternity (Minnesota: Sippert Publishing Company, 1989). 254.
377 Ibid., 254.
378 Albert Sippert, From Eternity to Eternity (Minnesota: Sippert Publishing Company, 1989). 253.
379 Asimov, p. 8.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 120
Um outro modo de afirmar esta segunda lei, então, é: "O universo está
constantemente ficando mais desordenado". Visto deste modo podemos ver a
segunda lei ao redor de nós. Temos que trabalhar duro para arrumar um
quarto, mas se deixado a si mesmo, ele se torna uma bagunça novamente e
muito rápida e facilmente. Mesmo se entrarmos nele, ele se torna
empoeirado e malcheiroso. Quão difícil é manter as casas, o maquinário, e
nossos próprios corpos trabalhando em perfeita ordem. Quão fácil é para
eles tornarem-se deteriorados. De fato, não temos que fazer nada, e tudo se
deteriora, entra em colapso, se quebra, cai em desuso, tudo por si mesmo – e
isto é de que trata a Segunda Lei"380.
"Uma aplicação superficial desta segunda lei implicaria numa morte
futura do universo (não sua aniquilação, mas uma cessação de todos os
processos e desordem máxima), visto que o universo está agora
inexoravelmente caminhando para aquela direção" 381 . Os cientistas todos
concordam que os astros celestes estão se apagando pouco a pouco e, num
determinado tempo, todos eles terão um fim, tomando uma forma mais fria,
porque a energia está sendo dispersa. Nenhum cientista sério discorda
dessas idéias. Portanto, a segunda lei descoberta já no século passado é uma
verdade que mostra que o universo teve um começo, sendo, portanto, criado.
Houve um tempo quando ele foi cheio de absoluta energia. A segunda lei da
termodinâmica nos leva a essa conclusão lógica e correta. Contudo, este
universo ainda não se desfez por causa de uma intervenção sobrenatural de
um Deus que tem controle sobre todas as coisas que criou.
As leis da termodinâmica e a providência de Deus.
Dia virá quando Deus vai anular a segunda lei da termodinâmica. Deus
vai restaurar todas as coisas na recriação deste universo. Essa lei da
deterioração existe enquanto a terra está no estado de maldição em que
Deus a colocou por causa do pecado, mas não será para sempre assim. Ap
22.3 diz que na nova terra 'nunca mais haverá qualquer maldição'. Isto é
porque Deus disse a João: "Eis que faço novas todas as coisas. E
acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras" 383 . A
segunda lei da termodinâmica desaparecerá porque Deus haverá de livrar a
terra do cativeiro da corrupção, restaurando todas as coisas para o deleite de
sua criatura.384
Deus não deixará que o universo se deteriore, como predizem os
cientistas. Ele governa tudo de forma que nada do universo haverá de se
desfazer, porque ele não está entregue a si mesmo. Deus cuida dele. No final,
quando tirar toda a maldição, então renovará tudo para a liberdade da glória
dos filhos de Deus. Deus intervirá miraculosamente pondo um fim no estado
presente de coisas, criando os novos céus e a nova terra.
As leis da termodinâmica e a criação de Deus.
criou nada físico, e desde então, nada foi destruído. A segunda lei é
meramente o reconhecimento da degeneração e da deterioração e morte que
foi imposta pelo Criador, por causa do pecado. A ciência não crê nestas
coisas, mas é o que a Escritura afirma sobre essas duas antigas leis da
termodinâmica.
A primeira lei está na Escritura de maneira clara. Depois da criação
nada mais foi criado e nada foi destruído. A despeito da maldição, Deus
ainda preserva387.
A primeira lei também está patente nas Escrituras. Embora a criação
tenha sido 'muito boa'388, Deus 'amaldiçoou a terra' por causa do homem, e
a princípio da deterioração ou degeneração começou389.
Escrevendo aos Romanos, Paulo fala que 'sabemos que toda a criação a
um só tempo geme e suporta angústias até agora 390'. Pedro diz que 'toda
carne é erva, e toda a sua glória como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a
sua flor'391. De maneira profética Isaías diz: "os céus desaparecerão como o
fumo, e a terra envelhecerá como um vestido, e os seus moradores morrerão
como mosquitos 392 ". Da forma em que agora existem 'os céus e a terra
passarão'393.
Textos que indicam o declínio dos organismos vivos.
390 Rm 8.22.
391 1 Pe 1.24; ver também Sl 102.25-26; Hb 1.10-11.
392 Is 51.6.
393 Mt 25.35.
394 Jó 14.1-2; Sl 103.15-16; Ec 3.19-20; 1 Pe 1.24-25.
395 Sl 90.9-10; Is 40.30-31; Rm 7.24.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 124
evolucionistas não podem fugir da idéia de que a vida advém de algo que não
seja vivo. Thomas Huxley, um evolucionista, afirmava que a 'vida está
emergindo da matéria sem vida', mas foi forçado a aceitar que isto havia
acontecido por um ato de fé 396 . Esse é um contra-senso de Huxley. O
evolucionismo elimina a fé, mas esta é levada em conta porque eles não
podem explicar como a vida surge daquilo que não é vida.
Com base nesta lei científica, como podem os evolucionistas explicar
como o primeiro ser vivo começou a existir, a não ser por outra vida?
Certamente eles não tem fundamento científico para crer que a natureza ou
as primeiras coisas vivas mostram de modo contrário à lei da biogênese397.
Hexameron.
396 Philip Edgcumbe Hughes, Christianity and The Problems of Origins (Biblical and Theological
Sutides), Philadeplhia, Penn: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1964), 17.
397 Albert Sieppert, From Eternity to Eternity, 254.
398 Teologia Sistemática, 179-180. Edição castelhana.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 125
409 OBS. O aparecimento da luz antes do aparecimento do sol, é uma das provas mais fortes de que o
autor dessa narrativa foi instruído nesse ponto. Isto foi revelado a ele. Bem antes das modernas
investigações científicas, esta aparente colocação errada da luz antes do sol foi considerada absurda e
estranha para o cético, e todavia, singular para o crente. O fato de o sol e a luz aparecerem no terceiro
dia, crescendo sem o sol visível no céu, aumentava a dificuldade. Mas a teoria da geologia remove a
dificuldade, e corrobora com Moisés. De acordo com a geologia, houve um longo período quando
aquele primeiro oceano tinha águas tépidas, quando a atmosfera era um lusco-fusco úmido, quente e
fazia germinar como no tempo da estação chuvosa nos trópicos. A conseqüência era que crescia uma
vegetação da qual o extrato de carvão é agora e exemplo.
410 OBS. Um processo atmosférico similar pode ser percebido, em menor escala, na formação e no
clarear de um 'fog'.
411 Compare com 2 Pe 3.5.
412 Gn 1.1.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 127
413 Gn 1.24-31.
414 Gn 1.1.
415 Toda esta argumentação acima a favor dos dias da criação como sendo longos períodos de tempo é
defendida por W.G.T. Shedd, em sua Dogmatic Theology, vol. 1 (Nashville: Thomas Nelson
Publishers, edição 1980), p. 475-484, e todo esse pensamento é sustentado, com algumas variantes,
produto de estudos científicos mais recentes, por outros teólogos e cientistas cristãos contemporâneos.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 128
Há algumas razões 417 pelas quais devemos crer nos seis dias como
sendo literais, e a terra como sendo uma criação relativamente recente.
Razões históricas.
416 Paul A. Zimmermam, "Can We Accept Theistic Evolution?" em A symposium on Creation, editado
por Henry Morris (Grand Rapids, Baker Book House, 1968), 78.
417 Henry Morris, Creation and the Modern Christian, (Califórnia: Master Book Publishers, 1985), p.
40-46.
418 O Instituto Cristão de Pesquisa (ICR – Institute of Christian Research) é talvez o maior deles
atualmente, que pugna pelo criacionismo e tem influenciado na criação de muitos outros institutos ao
redor do mundo.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 129
419 Mc 10.6.
420 Ex 20.8-11.
421 Ex 31.17.18.
422 Gn 1.31.
423 Henry T. Morris, The Biblical Basis for Modern Science (Baker, 1985), p. 135.
424 Morris, p. 50.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 130
425 O termo 'Divindade' aparece três vezes na Escritura (At 17.29; Rm 1.20 e Cl 2.9), e sempre conota a
idéia da essência daquilo que é divino, isto é, daquilo que faz com que Deus seja o que é.
426 Morris, p. 54.
427 Morris, p. 54.
428 Morris, p. 54.
429 Morris, p. 54.
430 Neste ponto, há que reconhecer que os teólogos e filósofos da Idade Média, os Escolásticos,
desenvolveram o método para se chegar ao conhecimento dos atributos de Deus. Uma das regras é o
da Via Causalitatis. É bem verdade, também, que é um método que parte do conhecido para o
desconhecido, do homem para Deus, mesmo embora se reconheça que a revelação da natureza é
básica para esse entendimento.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 131
mas uma Causa. O teísmo dos monoteístas, portanto, é o único que faz
justiça à doutrina da Primeira Causa na filosofia e na ciência.
Deus é o autor de toda a realidade, isto é, àquilo que corresponde à
realidade. A doutrina da Trindade 'não é somente revelada na Escritura, mas
está intrínseca na verdadeira natureza das coisas como elas são. Visto que
Deus é o Criador e Sustentador de todas as coisas, é também razoável
encontrar um testemunho claro de Seu caráter embutido na estrutura da
criação"431.
Natureza divino-humana de Cristo.
Geofísica bíblica432.
Astronomia bíblica.
Paleontologia bíblica.
Os fósseis animais.
Uma descrição desta matéria é muito extensa e por demais técnica para
tratarmos neste pequeno espaço. A tendência dos paleontologistas, no
estudo dos fósseis, é admitir mais recentemente uma espécie de evolução
mais abrupta, substituindo a lenta e gradual dos neo-Darwinistas. Mesmo
assim, esses paleontologistas estão laborando sem qualquer evidência
possível de ser provada.
O estudo dos fósseis animais não dão qualquer prova eminentemente
científica de que mudanças essenciais aconteceram na vida deles. As
Escrituras, embora não tenham sido escritas com um propósito científico,
dão-nos algumas informações que não podem ser ignoradas. Afinal de
contas, o Deus e Pai de Jesus Cristo não costuma nos enganar, mesmo em
matérias não tecnicas como a da reprodução dos animais. O escritor de
Gênesis, tratando do aparecimento da geração dos animais, por dez vezes no
seu primeiro capítulo, usa a expressão 'segundo a sua espécie'. O processo
genético-reprodutivo dos animais, como apresentado pelas Escrituras,
impede qualquer noção de transmutação evolutiva de uma espécie para
434 Stephen Jay Gold, "The Return of Hopeful Monsters", Natual History, 76 (June-july 1977).
435 Steven M. Stanley, The New Evolutionary Timetable: Fossils, Genes and the Origen of Species
(New York, Basic Books, 1981), prefácio.
436 Morris, The Biblical Basis for Modern Science, 338.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 133
outra. A palavra 'espécie' como usada na Escritura (em hebraico }im) pode
não ser equivalente ao que os cientistas modernos entendem, mas ela não
permite qualquer variacao numa espécie, pois o texto da Escritura diz que
cada espécie produz segundo a sua espécie. Genética e paleontologicamente
não há ainda nenhuma evidência científica inequívoca de que
'microevolução' (isto é, 'variação') transgrida mesmo as fronteiras das
espécies 437 . As espécies são da forma em que Deus as criou, para que
cumprissem os propósitos determinados por ele. Ele é poderoso para fazer
aquilo que ele prescreveu para que as espécies fizessem. As mutações das
espécies podem levar à conclusão de que Deus não foi suficientemente capaz
de levar a cabo os seus propósitos originais na criação. Se houvesse
qualquer prova eminentemente científica, ainda poderíamos pensar nessa
possibilidade, mas esses ensinos evolucionistas ficam mais na área das
hipóteses, com as quais não podemos trabalhar com confiança. Além disso,
a cada período de estudo nessa área da paleontologia, alguns estudiosos
aparecem anulando a 'verdade' anterior, propondo uma nova. Como se pode
confiar em conclusões quando elas são mudadas constantemente? Ao
menos, a verdade de Deus não muda. Ela permanece eternamente!
Os fósseis humanos.
443 2 Pe 3.6.
444 Morris, The biblical basis for modern science, 458.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 136
Etnologia bíblica.
449 Gn 10.6-20.
450 Sl 106.21-22.
451 Gn 10.21.31.
452 as disciplinas universitárias como arqueologia, antropologia cultural, lingüística, história natural e
demografia são altamente relacionadas com a etnologia, ou seja, o estudo das raças.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 138
453 Henry Morris, The Biblical Basis for Modern Science, (Grand Rapids, Baker, 1991), 449.
454 Ibid, p. 449-451.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 139
"Se a raça humana tem milhões de anos de idade, porque não há nenhum registro
histórico anterior a 3500 aC. e porque esses registros aparecem em numerosos
lugares ao mesmo tempo, em muitas linguagens diferentes ao redor de todo o
mundo? A escrita começou simultaneamente em 3000 a 4000 aC. na
Mesopotâmia, Egito, nos vales Indus e em outros lugares. Nesse tempo esses
registros mostram que o homem já era altamente avançado e civilizado"455.
Os egípcios, no vale do Nilo, vieram a possuir seus registros a partir de
3000 a 2800 aC. Um cientista evolucionista, para justificar os muitos
milhões de anos de existência das raças, incluindo a cultura egípcia,
escreveu: "Estas coisas, das quais pensamos como essenciais para a nossa
verdadeira definição de civilização parecem ter aparecido com a rapidez de
um nascimento do sol, no vale do Nilo, entre 3000 e 2800 aC. Foi muito
difícil, após meio milhão de anos de existência semiconsciente, o homem
saltou para uma consciência plena de si mesmo e de seus arredores no
decurso de cerca de 200 anos. A ciência tem descoberto uma evidência
fascinante dos fragmentos da vida civilizada em muitas outras terras, mas o
Egito foi o primeiro grande berço da civilização"456. Kenneth Clark não pode
fugir do seu evolucionismo que tem que durar milhões de anos, mas não
pode explicar a rapidez do aparecimento de uma civilização como a do Egito,
por exemplo. É espantoso como essas civilizações antigas vieram a construir
pirâmides 457 , tendo uma arquitetura extremamente avançada 458 ,
ferramentas precisas, uma matemática altamente desenvolvida, medicina
adiantadíssima para a época459, além de um conhecimento fantástico sobre
astronomia460. A pergunta que podemos fazer, diante de tal quadro é: Como
essa civilização veio a florescer abruptamente, sem ter qualquer história
precedente? A única explicação que nos é possível é a que a Escritura nos
observar como elas foram não somente transportadas de regiões muito distantes (pois ali não há tais
pedras), mas também como elas foram engenhosamente colocadas umas sobre as outras de forma tão
matematicamente calculadas. Sippert diz que a pirâmide de Gizé tem 'cerca de 2.000.000 de blocos de
granito e pedra calcaria, cada uma delas pesando de duas a sete toneladas, originando mais de 201
degraus, em toda a sua estrutura. Ela contém mais pedras do que todas as catedrais, igrejas e capelas
construídas na Inglaterra desde os dias de Cristo". (From Eternity to Eternity, 24).
458 Além da arquitetura 'faraônica' do Egito, as outras civilizações possuíram arquitetura fabulosa. É o
caso dos sumérios. "suas maiores obras foram seus enormes templos, chamados ziggurats, que eram
adornados com colunas retangulares.
459 As técnicas de embalsamento dos corpos, usada pelos egípcios, é um mistério mesmo para a
medicina de hoje. Com toda a tecnologia moderna não podemos ir além da tecnologia avançada dos
egípcios, que viveram cerca de 3000 anos de Cristo.
460 Há indicações de que os sumérios e seus sucessores, os babilônicos, conheciam muito mais sobre
astronomia do que conheciam os povos que vieram depois deles. Os babilônicos conheciam os
planetas, e há fortes evidências de que eles conheceram algo sobre quatro satélites do planeta Júpiter,
e sete do planeta Saturno. Não se sabe se eles possuíam telescópios, como os conhecemos hoje, mas
certamente possuíam ferramentas para observar o firmamento e ver neles coisas que a olho nu não
podem ser vistas. Isto é espantoso nessa época da história humana. Somente com um conhecimento
adquirido no período imediatamente após o dilúvio, certamente concedido por Deus (ver Sippert,
From Eternity to Eternity, 26-27).
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 140
Demografia bíblica.
464Gn 6.5.
465Leon Morris, "World Population and Bible Cronology", no livro Scientific Studies in Special
Creation, editada por Walter W. Lammertz (Philipsburg, New Jersey, Presbyterian and Reformed
Publishing Co. 1971), 200.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 142
466 Henry Morris, The troubled Waters of Evolution, (San Diego, Califórnia: Creation Life Publishers,
1974), p. 148.
467 Sl 127.3-5; 128.1-6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 143
Lingüística bíblica.
468 Ex 4.11-12.
469 Morris, The Biblical Basis for Modern Science, 428.
470 George G. Simpson, "Biological Nature, p. 477 (citado por Morris, The Biblical Basis for Modern
Science, p. 428).
471 Ibid.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 144
472 Gn 2.20.
473 Gn 11.1-6.
474 Gn 11.4.
475 Gn 11.7.
476 Gn 10.31-32.
477 Gn 11.2.
478 Sippert, From Eternity to Eternity, 26.
479 Sippert, 22.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 145
II. Incorpóreos: Jesus disse que Ele era homem, mesmo após a sua
ressurreição, e não um espírito, com carne e osso487. Por serem seres
espirituais e incorpóreos, segue-se que eles são invisíveis (ta\
ao)/rata 488 ) e, portanto, imperceptíveis aos nossos sentidos. Embora
eles sejam comparados ao vento e às labaredas de fogo 489 , não se
segue que sejam corpóreos. Um ser corpóreo não pode ocupar mais de
um lugar ao mesmo tempo. Contudo, a Escritura diz que muitos deles
podem estar, ao mesmo tempo, no mesmo espaço limitado 490 , mas
nunca ao mesmo tempo em vários lugares. Eles tem uma presença
definida no espaço, nunca uma presença circunscrita (como os corpos
físicos) ou repletiva (como Deus).
Contudo, devemos nos lembrar que, para comunicar-se com os homens
(com finalidade de revelação redentora ou de juízo), eles tomaram formas
corporais, o que os teólogos chamam de angelofania491 (aparência de anjo).
Gn 19.1-8 mostra que os anjos tomaram forma de homem, comeram,
falaram e andaram. Essas atividades, contudo, não indicam que essas sejam
funções vitais para eles, mas apenas circunstanciais. A forma que eles
tiveram foi somente temporária, nunca definitiva, como a dos homens
comuns. Muitos homens de Deus, na Escritura, viram anjos: Jacó os viu em
sonhos492; José o viu em sonho493, os pastores viram anjos494, Paulo parece
ter visto um anjo 495. A idéia de anjos alados, como os vemos na tradição
eclesiástica, não é escriturística, embora os querubins e serafins que
estavam no trono tenham se mostrado alados496.
487 Lc 24.39.
488 Cl 1.16.
489 Sl 104.4; Hb 1.7.
490 Lc 8.30.
491 ou angeofania.
492 Gn 28.12.
493 Mt 1.20.
494 Lc 2.8-15.
495 At 27.23-24.
496 Is 6.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 147
1. Seu número.
2. Sua ordem.
4. Vigilantes510.
Há, todavia, alguns nomes específicos dos seres celestiais, que
expressam algum tipo de organização, embora seja impossível uma
classificação exata de poder e autoridade. Agostinho disse:
"Eu firmemente creio que há lugares, domínios, principados e poderes nos
arranjos celestiais, e sustento com fé firme que há diferença entre eles. Mas
embora você possa desprezar-me por pensar que sou um grande professor, eu
não sei nada sobre o que eles são, nem a diferença entre eles"511.
Portanto, podemos apenas nomear as diferentes classes de seres
celestiais e suas variadas funções, embora não conheçamos as reais
diferenças entre eles.
Querubins.
Destes a Escritura fala bastante. É dito que eles fazem muitas coisas, e
seu contato com os homens é constante. Os querubins guardam a entrada
do Paraíso 512 . Muitas vezes eles se dirigiram a Ezequiel, com mensagem
reveladora. A forma deles, isto é, a forma com que se apresentaram aos
homens, pode ser vista por muitos na confecção de ouro dos querubins da
arca do propiciatório 513 ; como os serafins, eles também ficam em algum
lugar perto do trono de Deus514.
Serafins.
510 Dn 4.13-17.
511 Citado por Turretin, p. 551.
512 Gn 3.24.
513 Ex 25.17-22; Hb 9.1-5.
514 Sl 80.1; 99.1; Is 37.16.
515 2 Cr 3.10-14; Ez 10.5.8.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 149
516 Ez 10.16-22.
517 Jó 1.14; 1 Sm 11.3.
518 Ag 1.13; Ml 2.7; 3.1.
519 A palavra hebraica para 'anjo' é :\a):lam (Ml 3.1) que significa 'mensageiro'.
520 Mt 11.10; Mc 1.2; Lc 7.24-27; Gl 4.14).
521 Lc 1.19.
522 Ap 5.11.
523 Lc 1.19-38.
524 Dn 8.15-16; 9.21.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 150
a. Parece-nos que a Escritura diz que eles vivem sempre ocupados com a
tarefa da adoração. Esta tarefa parece que cabe mais aos serafins 527 .
525 Berkhof, p. 173. (ver também Ef 3.10 onde 'principados e autoridades' são seres que residem no céu
(a)rxai=j kai\ tai=j e)cousli/aij e)n toi=j e(pourani/oij)
526 Hb 1.14.
527 Is 6.3.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 151
Parece-nos que os anjos (que não são uma raça) são uma sociedade
celestial bem ordenada fazendo algo em favor uns dos outros. O texto de
Isaías 6.3 diz que os 'serafins clamavam uns para os outros: Santo, Santo,
Santo...'- o que parece indicar que um ajudava ao outro no louvor a Deus.
Este é um tipo de ministração543. Parece que não há mais nada relatado na
Escritura que eles fazem em favor deles mesmos.
3. Com relação ao mundo.
528 Ap 4.6-10.
529 Ap 5.11-14; 7.11-12.
530 Ap 4.11.
531 Ap 5.7-14.
532 Sl 103.20-21; Sl 148.2; Lc 2.13-14; Ap 7.11-12.
533 Citado por Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, vol. 1 (New Jersey: Puritan &
556 Gn 16.7-12.
557 Gn 32.1.
558 Dn 10.10-21.
559 1 Rs 19.5-7.
560 Mt 28.5-10.
561 Lc 22.43.
562 Sl 34.7, 91.11; Mt 18.10; Gn 19.15-17; Dn 3.23-25; Dn 6.22; At 5.19; 12.7.
563 Sl 37.4.
564 Sl 91.11.
565 Turretin argumenta: "Este texto mostra que os anjos são dados como guardiões às crianças não
menos que aos adultos, mas não pode ser deduzido disto que um anjo particular ou peculiar é
concedido às crianças individualmente, como guardas perpétuos. Terminantemente não é dito que um
anjo de cada uma destas crianças está diante da face de Deus, mas é dito de um modo não definido
que 'seus anjos, não importa se muitos anjos para uma criança ou um anjo para muitas crianças'.
(Elenctic Theology, p. 559).
566 Turretin argumenta contra a teoria romana do anjo da guarda, comentando este texto: 1 não é a voz
da Escritura, mas de alguns que falam como judeus; são convertidos de fato, mas não ainda
suficientemente instruídos na doutrina cristã... (um argumento perigoso, ao meu ver. N.P.); 2 Se as palavras se
referem a um anjo, pode ser entendido que um anjo estava com ele, mas não que houvesse um
guardião particular e perpétuo que lhe havia sido dado (versos 7-8)" (Elenctic Theology, p. 559).
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 154
CAPÍTULO 3.
A DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA.
Providência e criação.
Providência e decreto.
Providência e eleição.
a. Conceito deísta.
571 Rm 8.29-39.
572 Berkower, p. 39 (ver CFW, cap. V).
573 Berkhof, Teologia Sistemática, p., 197.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 156
b. Conceito panteísta.
Os elementos da providência.
I. Preservação.
2. A preservação é só imediata.
577 Cocceius afirma que 'preservação é uma especiede criação continuada' (Joahannes Cocceius, Suma
Theologiae ex Scriptura Repetita – Amsterdam, 1965, 28.9); Amesius afirma que 'preservação não é
nada mais do que uma espécie de creation cintinuata' (Glielmus Amesius, Medulla Theologica –
Amsterdam, 1634, 1.19.18). Essa idéia dos teólogos do século XVII tem sido rejeitada pelos teólogos
reformados posteriores, como Charles Hodge (Systemtic Theology, vol. 1, p. 577), Louis Berkhof
(Teologia Sistemática, p. 201), Barth, etc.
578 Charles Hodge, Systematic Theology (Eerdmans, 1981), vol. 1, p. 575.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 159
Deus criou e preserva todos os animais, não deixando que eles venham
a ser extintos. É o equilíbrio das espécies587. Deus preserva mediatamente
quando Deus aos animais o poder de auto-propagação. Hodge diz: "que
todas as criaturas, sejam plantas ou animais, em seus diversos gêneros,
continuam em existência não por qualquer princípio inerente de vida, mas
pela vontade de Deus"588.
O salmo 104.24-27 mostra de maneira absoluta clara, como Deus tem
cuidado dos animais irracionais, preservando-lhes a vida589.
Os chamados salmos da natureza não são uma elegia à natureza, mas
ao Deus que a formou e a preserva. Tanto a criação como a providência
mostram o poder de Deus590.
3. Preservação do homem.
579 Jó 26.12.
580 Jó 37.10-13.
581 Sl 19.4-6.
582 Sl 104.2-4, 19.
583 Sl 104.5-10.
584 Sl 104.11-12, 16-18, 20-22, 25-29.
585 Sl 104.13-15, 23.
586 Gn 1.21-22.
587 Mt 10.29.
588 Hodge, vol. 1, p. 575.
589 Sl 104.11-12, 16-18, 20-22, 25-29.
590 Sl 19.33; 89; 104 e 148.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 160
Estes são o objeto principal da obra de Deus, pois eles estão numa
relação pactual de amor.
"A palavra hebraica shamar significa 'guardar, preservar, proteger'. Ela é o verbo
teológico central usado para descrever as fidelidades de Yahweh aos seus servos
e aparece em várias passagens597. Essa palavra anuncia as boas novas de Yahweh
que é o supremo Guardador e preservador dos Seus servos"598.
A preservação da vida pessoal deles é também obra de Deus599. E isto
Ele faz amorosamente com aqueles que já estão dentro da relação pactual,
dentro da esfera da redenção, e com aqueles que estão para se tornar Seus
filhos. É nesse sentido que podemos entender a obra preservadora de Deus
com finalidade soteriológica.
Tudo o que Deus faz aos do 'seu povo', Ele faz por causa do pacto que
Ele estabeleceu. Portanto, os Seus eleitos Deus sustenta, preserva e,
finalmente, os leva a Cristo Jesus e Sua eterna glória.
591 Lc 21.18.
592 Gn 1.28.
593 Is 41.4.
594 Benjamin Wirt Farley, The Providence of God, Baker, 1988, p. 36.
595 Sl 104.13-15, 23.
596 At 17.25-28.
597 Gn 28.15; Nm 6.24, Js 24.17; Sl 16.1`; 91.11.
598 Farley, p.35.
599 Jó 10.12; Sl 121.5-8.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 161
II. Governo.
Nos dias atuais há uma certa indisposição em aceitar Deus como rei do
universo. A monarquia está fora de moda, e a realeza de Deus também tem
sido desprezada, mesmo na teologia. Muitos preferem tratar do amor e da
paternidade de Deus antes do que de Sua realeza governamental. Todavia, a
Escritura é extremamente clara, tanto no Antigo Testamento como no Novo
Testamento, quando fala de Deus como Rei de todo o universo.
Há muitos textos na Escritura que descrevem Deus como Rei de toda a
terra604, reinando sobre todas as nações605. Ele é Rei e também é chamado
"Senhor dos Exércitos606", e, por essa razão, tem todas as coisas em Suas
mãos.
O conceito de Deus como Rei Universal não se limita simplesmente ao
VT, mas é também presente no NT607. A expressão 'Senhor do céu e da terra'
também está presente no NT608, 'Rei dos reis, Senhor dos senhores609'.
Como Rei do universo, portanto, Seu governo é invencível. Ele tem tudo
nas mãos, e realiza todos os seus propósitos porque quebra toda a
resistência que os homens Lhe fazem. Como Ele faz isso? Deus tem a parte
mais íntima dos poderosos deste mundo nas suas mãos. Ele executa todos
os Seus propósitos através da instrumentalidade das pessoas em
autoridade610. Mesmo os elementos mais poderosos da natureza estão sob o
governo de Deus611 e nada impede a realização daquilo que Ele determinou.
600 Hb 2.14.
601 Berkhof, p. 206.
602 Farley, p. 42.
603 Berkouwer, p. 93.
604 Sl 47.7-8.
605 Jr 10.7.
606 Jr 46.18; 48.15; 51.57).
607 Mt 5.35.
608 Mt 11.25; At 17.24.
609 1 Tm 6.15.
610 Pv 21.1.
611 Sl 93.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 162
Como Deus age e tudo chega exatamente onde Ele determinou? É Deus
o autor dos males que há no mundo, inclusive os morais? Como podemos
combinar a Sua natureza com o que acontece no mundo? Ele opera sozinho?
É necessário que se entenda o governo de Deus teologicamente, isto é,
objetivando um fim. Seu governo é uma presença real entre os homens e Sua
atividade continuada, que tem um curso histórico, caminha para o seu
cumprimento final. Deus dirige a nossa história, e nós somos os seus
agentes. É aqui que entra o difícil problema do concursus613.
3. Concursus.
Características do concursus.
615 Como as da criação natural e criação espiritual, por exemplo, onde Deus age sem o concursus de
Suas criaturas racionais.
616 1 Co 12.6.
617 Ef 1.11.
618 Dt 8.18.
619 Fp 2.13.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 164
620 At 17.28.
621 D.A. Carson, How Long, O Lord? (Grand Rapids, Baker Book House, 1990), p. 205.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 165
A participação de Deus não tem sido um problema nas ações boas dos
homens, sejam eles eleitos ou não. Os crentes não tem muitas dúvidas sobre
o fato de Deus participar nas ações boas dos homens, especialmente se eles
crêem na 'depravação total' do homem. Crendo nisto eles raciocinam
corretamente: 'se Deus não operar no homem, o homem não fará nada bom'.
Como a história do mundo é feita de atos maus e bons, temos que
admitir que a providência divina trata dessa concorrência, aliás muito
desejada e bem-vinda.
Vejamos a base bíblica para este tópico.
Não existe incompatibilidade entre soberania de Deus e liberdade do homem, quando liberdade é
622
poder agir segundo a sua própria natureza. Estas duas coisas andam juntas. Deus é soberano e o
homem livre. Anotação de aula. Marthon.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 166
Por atos 'bons' dos homens maus, eu quero dizer atos que são
considerados aceitáveis por nós e qualificados como que trazendo
conseqüências boas 629 , embora nem sempre os atos sejam nascidos em
motivos puros630. Por 'homens maus' refiro-me aos não-regenerados, os que
ainda não experimentarão a graça renovadora de Deus e que, no entanto,
fazem coisas aos nossos olhos aceitáveis e justas, embora nunca meritórias.
623 Por bons entenda-se eleitos e regenerados, e por maus entenda-se não-regenerados.
624 Fp 2.13.
625 Gl 5.13 e 1 Pe 2.16.
626 Anthony Hoekema, Created in God's Image, (Eerdmans, 1986), p. 236.
627 Fp 2.12.
628 2 Co 7.1.
629 Como o espiritismo. Nota de aula.
630 Temos responsabilidade por nossas ações, causadas pela velha natureza, derrotada mas não
extirpada.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 167
O exemplo de Ciro, o rei da Pérsia: este era um homem ímpio que veio a
fazer alguma coisa 'boa', isto é, algo que trouxe um enorme beneficio para o
povo que estava no cativeiro. Deus sempre usa homens ímpios para
cumprirem propósitos redentores para com seu povo.
Nos capítulos 41 a 51 de Isaías, nós só vemos Deus falando em
libertação, redenção, salvação. Eles estão entre os textos mais lindos da
Escritura631.
Esta é uma atividade redentiva, e esta atividade de é vista claramente
quando Ele levantou Ciro para completar Sua tarefa de restaurar o povo que
estava no cativeiro632.
No cap. 45 Deus então mostra como Ele conduziu Ciro no cumprimento
dos Seus planos. Veja, passo a passo, a atividade de Deus através de um rei
ímpio, o rei da Pérsia. Ciro era um dualista, que cria num Deus do bem e
outro do mal. Mas Deus lhe mostra que só há um Deus e que este tem o
governo da história do mundo, e que faz todas as coisas que lhe apraz633.
Ciro recebe a ordem de Deus e o acompanhamento de Deus em todas as
suas atividades más para abater as nações e sua atividade boa de libertar o
povo de Israel. Ciro liberta o povo, constrói a cidade e faz o povo voltar para
a terra. Os propósitos redentivos de Deus são cumpridos através da
atividade de um homem ímpio que recebe toda a assistência divina para
realizar tudo o que quer.
Estes eram filhos de Jacó, filhos que tiveram seus nomes dados às 12
tribos de Israel que vieram a existir subseqüentemente. Seus nomes são
citados freqüentemente na Escritura como nomes representativos de coisas
espiritualmente significativas. Nesse sentido, eles são aqui considerados
como 'bons', não que necessariamente suas vidas sejam moralmente boas.
Eles eram separados para Deus, 'santos', como a Escritura costuma
634 Gn 37.1-36.
635 Gn 41.37-57 a 44.
636 Gn 45.5-8.
637 Gn 50.15-21.
638 Carson, p. 206.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 169
Exemplo de Nabucodonosor.
639 Jr 52.4-30 e leia todo o livro Lamentações de Jeremias, e observe as barbaridades cometidas contra
Judá.
640 Jr 25.9. Servo pode ser designativo de alguém que alegremente obedece uma ordem de Deus, e
também pode ser designativo daquele que é o instrumento da execução da vontade de Alguém maior.
Esse segundo caso é o de Nabucodonosor.
641 Jr 25.9-11.
642 Pv 21.1.
643 Jr 25.12-14.
Teontologia, II, Rev. Heber Carlos de Campos. 170
pecaminosa 648 . Deus decretou a morte de Jeroboão, por causa dos seus
pecados. Arranjou alguém para fazer isso, e o considerou responsável por
seus atos. Isso mostra que a preordenação divina, que Seus arranjos para
levar a cabo a Sua ordenação isentam o homem de responsabilidade. Uma
coisa não elimina a outra. Mas Deus sempre considera os homens
responsáveis pelos seus atos, mesmo que Ele participe, de alguma forma, em
ação providencial, naqueles atos para a consecução de Seus planos.
Na verdade não há duas forças ou dois poderes trabalhando
paralelamente, o poder de Deus e o poder dos homens, que agem
voluntariamente. Não. Deus exerce o Seu governo também através de causas
secundárias. "O governo de Deus é executado e manifestado através da
atividade humana" 649 , mas a atividade humana, que inclui a
responsabilidade dos agentes, é extremamente importante para a
consecução do plano maior de Deus.
Exemplo de Roboão.
Conclusão.
Deus não poderia governar se não fosse Deus. E não há Deus sem
onipotência. Este atributo lhe dá as condições para executar tudo aquilo que
planejou.