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SABEDORIA DE SALOMÃO
O título oficial do livro é Sabedoria de judaísmo, para denunciar a injustiça e a
Salomão (Sb), mas a atribuição a Salomão, alienação que é a idolatria oficial.
símbolo da Sabedoria, é de ordem literária. Apesar de tardio, o livro parece conheci-
Foi escrito, em grego (não há original hebrai- do por diversos autores do NT (Jo, Rm, Tg).
co), no século I aC, na importante colônia Não consta da Bíblia hebraica, é “deutero-
judaica de Alexandria do Egito. As prolonga- canônico” (cf. Intr. Geral).
das reflexões sobre o Egito (caps. 10–19: a
idolatria, as imagens dos filhos dos prínci- Conteúdo geral
pes que devem por todos ser venerados como
deuses etc.) não visam propriamente o tem- Pode-se dizer que o livro inteiro está cons-
po do êxodo de Israel do Egito (1250 aC), truído em torno da oração de Salomão para
mas as perseguições que estavam acontecen- adquirir a Sabedoria (cap. 9). Os capítulos
Sb do no Egito entre 140 e 80 aC, sob os reis anteriores exortam os príncipes (1,1; 6,1) a
Ptolomeu VII e VIII. É uma velada crítica adquirir esse dom, como ele mesmo o fez. E
aos sucessores de Alexandre Magno no Egito da própria oração surge, a partir do cap.
(como foi, um século antes, o livro de Daniel 10, a meditação sobre a Sabedoria de Deus
em relação aos sucessores de Alexandre na na história de Israel, em contraponto com a
Síria). O livro dirige-se tanto aos judeus idolatria e a injustiça do Egito, onde vivem
helenistas quanto aos gentios achegados ao osleitores.

1,1–8,16 8,17–19,22 10,1–19,22


Exortação aos príncipes (>1,1; 6,1) Prece para obter Meditação sobre a história,
sobre a justiça que vem a Sabedoria a Sabedoria especialmente do Egito

Temas específicos conjunto 1,16–3,12, o “justo” no tradicio-


nal sentido bíblico tem Deus por Pai e pode
– A Sabedoria como atuação onipresente contar com ele quando se trata do destino
de Deus. No ambiente egípcio (e helenista definitivo (Sb 2 chega a ser uma prefigura-
em geral), havia grande apreço pela Sa- ção de Cristo). A filosofia hedonista (apro-
bedoria, que se chamava Sofia (de onde: veitar a vida) conduz à prepotência e à vio-
filo-sofia). A autor ensina a reconhecer nas lência, como ainda hoje.
próprias tradições de Israel sobre a cria- – A vida eterna. A vida dos justos está
ção e a historia a presença desse Sofia, que nas mãos de Deus para sempre (3,1). O
não é senão a atuação e inspiração (“espí- autor não explica como, mas o afirma, para
rito”) de Deus. ensinar a fidelidade inabalável aos princí-
– A limitação do governante e a necessi- pios da justiça e da sabedoria (no sentido
dade do dom da Sabedoria. Salomão apre- da tradição de Israel).
senta-se como simples ser humano, e é por – A origem da idolatria. Com fineza psi-
isso que ele pede a Sabedoria, que é um dom cológica, descreve como uma necessidade
de Deus, para dar conta daquilo que por si humana – guardar algo do jovem falecido –
mesmo não conseguiria. É uma lição para se transforma em idolatria, imposta inclusi-
os governantes. ve a pessoas que nada tem a ver com o fale-
– O esforço para adquirir a Sabedoria. É cido… (14,15-20). Tal endeusamento, descri-
preciso madrugar por ela… (6,14). Não é to aqui com grande fineza psicológica, ocor-
fruto de passivo consumismo. re ainda hoje.
– A virtude do “justo” em oposição ao – O “Espírito” (Santo, de Deus). Estabele-
hedonismo e ao poder do mais forte. No cendo uma ponte entre a cultura hebraica
771 Sabedoria 1–2

e a grega, Sb insiste em chamar a ação inteligência ao conceito bíblico de sopro-


transformadora de Deus de “Espírito”, num dinamismo de Deus (7,22-8,1). Esse Espí-
sentido que prepara a futura terminologia rito de Deus está presente em todo o uni-
cristã. Une o conceito grego de espírito- verso (1,7).

10
A SABEDORIA E A VIDA Pois um ouvido atento escuta tudo,
e nem o resmungo das murmurações
[A justiça, fonte de vida] lhe escapa.
11
1 Acautelai-vos, pois, contra a
Amai a justiça, vós que
1 governais a terra;
pensai corretamente sobre o Senhor
murmuração inútil,
e da maledicência preservai a língua.
Não há palavra oculta que caia no vazio
e com integridade de coração procurai-o.
2
Ele se deixa encontrar pelos que não o
e a boca mentirosa mata a alma. Sb
12
Não procureis a morte com uma vida
põem à prova,
desregrada,
e se manifesta aos que nele confiam.
3 e não provoqueis a ruína com as obras
Pois os pensamentos perversos afastam
de vossas mãos.
de Deus, 13
Pois Deus não fez a morte,
e seu poder, posto à prova, confunde os
nem se alegra com a perdição dos vivos.
insensatos. 14
4 Ele criou todas as coisas para existirem,
A Sabedoria não entra numa alma que
e as criaturas do orbe terrestre são
trama o mal
saudáveis:
nem mora num corpo sujeito aos pecados.
5 nelas não há nenhum veneno mortal,
O santo Espírito da instrução foge da
e não é o mundo dos mortos que reina
astúcia,
sobre a terra,
afasta-se dos pensamentos insensatos 15
pois a justiça é imortal.
e retrai-se quando sobrevém a iniqüidade.
6
Com efeito, a Sabedoria é um espírito
[Ideologia dos ímpios: um pacto com a morte]
que ama o ser humano
16
mas não deixa impune quem blasfema Mas os ímpios chamam a morte com
com seus próprios lábios. gestos e palavras:
Pois Deus é testemunha dos sentimentos considerando-a amiga, perderam-se
dessa pessoa, e fizeram aliança com ela:
investiga seu coração segundo a verdade de fato, são dignos de pertencer ao
e mantém-se à escuta da sua língua. seu partido.
7 1
Sim, o Espírito do Senhor enche toda a terra Dizem entre si, em seus falsos
e, abrangendo tudo,
tem conhecimento de cada som.
2 raciocínios:
“Curto é o tempo de nossa vida e cheio
8
Por isso, quem fala coisas iníquas não de tédio,
pode ficar oculto e não há alívio quando chega o fim.
e a justiça vingadora não o deixará passar. Aliás, não se conhece ninguém
9
Haverá investigação sobre os planos que tenha voltado do mundo dos mortos.
2
do ímpio: De repente nascemos,
o som de suas palavras chegará até o Senhor e logo passaremos, como quem
para castigo de seus crimes. não existiu.

 1,1-15 • 1 >Sl 45,8. • 2 >Is 65,1. • 5 instrução, ou: educação (Gpaideia, conceito >helenista). Fala
do espírito/da inspiração que vem de Deus, o Santo. • 7 >Eclo 39,24[19]. • 13 >Ez 18,23.  1,16–2,11
Neste trecho reconhecemos o justo perseguido por excelência, Jesus. • 16 >Is 28,15 • 2,1 Sl 39,5-7;
Sabedoria 2–3 772

14
Fumaça é a respiração em nossas narinas Tornou-se uma censura para os nossos
e o pensamento, uma centelha ao pulsar pensamentos
do coração: e simplesmente vê-lo já é insuportável;
3 15
quando ela se apaga, nosso corpo se sua vida é muito diferente da dos outros,
tornará cinza e seus caminhos vão em outra direção.
e o espírito se dispersará como o 16
Somos por ele comparados à moeda falsa,
ar inconsistente. ele foge de nossos caminhos como de
4
Com o tempo, nosso nome cairá no impurezas;
esquecimento proclama feliz a sorte final dos justos
e ninguém se lembrará de nossas obras; e gloria-se de ter a Deus por Pai.
nossa vida passará como os traços de 17
Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz,
uma nuvem, e comprovemos o que vai acontecer
e se dissipará como a neblina com ele.
expulsa pelos raios do sol, abatida por 18
Se, de fato, é ‘filho de Deus’, Deus o
seucalor. defenderá
5
Nossa vida é a passagem de uma sombra e o livrará das mãos de seus inimigos.
Sb e nosso fim, irreversível: 19
Vamos pô-lo à prova com ofensas e
uma vez lacrada a porta, ninguém volta. torturas
6
Agora, portanto, gozemos dos bens para ver a sua serenidade e provar sua
presentes, paciência.
e aproveitemos das criaturas com ânsia 20
Condenemo-lo a morte vergonhosa,
juvenil. porque, de acordo com as suas palavras,
7
Embriaguemo-nos com o melhor vinho virá alguém em seu socorro!”
e com perfumes, 21
Tais são os pensamentos dos ímpios.
e não deixemos passar a flor da primavera. Mas eles se enganam,
8
Coroemo-nos com botões de rosas, pois a malícia os torna cegos:
antes que murchem, 22
eles não conhecem os segredos de Deus,
9
e nenhum prado fique sem provar da não esperam recompensa para a
nossa orgia. vida santa
Deixemos por toda parte sinais de alegria,
e não dão valor à honra das almas puras.
poisestaéanossaparte,esta,anossasorte. 23
10
Oprimamos o justo pobre e não Ora, Deus criou o ser humano
poupemos a viúva, incorruptível
nem respeitemos os cabelos brancos e o fez à imagem de Sua própria natureza:
24
do ancião. foi por inveja do diabo que a morte
11
Que a nossa força seja a lei da justiça, entrou no mundo,
pois o que é fraco é reconhecidamente e experimentam-na os que são do seu
inútil. partido.

[Perseguição do justo, engano dos ímpios] [Destino do justo e do ímpio]


1
As almas dos justos, porém,
12
Armemos ciladas ao justo, pois nos estorva:
ele se opõe ao nosso modo de agir,
repreende em nós as transgressões da Lei
3 estão na mão de Deus,
e nenhum tormento os atingirá.
2
e nos difama por pecarmos contra a Aos olhos dos insensatos parecem ter
nossa tradição. morrido;
13
Ele declara possuir o conhecimento de Deus sua saída do mundo foi considerada
e a si mesmo se chama de ‘filho de Deus’. uma desgraça

Jó 14,1s; Ecl 8,8. • 4 >Jó 18,17s; Ecl 1,11. • 5 volta: do Hades/Morada dos Mortos. • 6 >Is 22,13;
1Cor 15,32. • 10 >Ex 22,21. • 12 tradição, lit.: educação, >nota 1,5).  2,12-24 Os ímpios não
agüentam a vista do justo e querem suprimi-lo, mas o justo é que está certo. • 12 >Jr 11,19;
20,10-13; Jo 5,16.18. • 18 >Sl 22,9. • 19 >Is 53,7; Mt 26,67sp; 27,12sp.  3,1-11 Para o ímpio
confirma-se o pacto coma morte, enquanto o justo está na mão de Deus. 1 >Jo 20,29.
773 Sabedoria 3–4

3 15
e sua partida do meio de nós, uma Pois o fruto dos esforços pelo bem é
destruição, glorioso
mas eles estão na paz. e imperecível é a raiz da Sabedoria.
4 16
Aos olhos humanos parecem ter sido Mas os filhos dos adúlteros não
castigados, chegarão à maturidade,
mas sua esperança é cheia de imortalidade. e a descendência de um leito iníquo será
5
Tendo sofrido leves correções, aniquilada.
17
serão cumulados de grandes bens, Ainda que tenham vida longa, não serão
porque Deus os pôs à prova e os achou considerados
dignos de si. e, no fim, sua velhice será sem honra;
18
6
Provou-os como se prova o ouro na fornalha, se morrerem cedo, não terão esperança
e aceitou-os como ofertas de holocausto; nem, no dia do julgamento, consolo,
19
7
no tempo do seu julgamento hão de brilhar, pois o fim de uma geração perversa é cruel!
1
como centelhas que correm no meio da É preferível a falta de filhos,
8
palha;
vão julgar as nações e dominar os povos,
4 tendo a virtude,
pois na memória desta há imortalidade: Sb
e o Senhor será o seu rei para sempre. ela é reconhecida junto de Deus e do povo.
2
9
Os que nele confiam compreenderão Quando ela está presente, imitam-na;
a verdade, quando se retira, desejam-na;
e os que perseveram no amor descansarão coroada para sempre, triunfa,
junto a ele. ganhando o prêmio dos combates
Pois a graça e a misericórdia são para sem mancha.
3
seus santos A descendência numerosa dos ímpios,
e a visita divina é para seus eleitos. porém, será inútil:
10
Quanto aos ímpios, receberão o castigo pois, com mudas bastardas, não lançará
segundo seus pensamentos, raízes profundas
pois desprezaram o justo e se afastaram nem firmará uma base sólida.
4
do Senhor. Porquanto, se com o tempo brotar
11
Infeliz o que despreza a Sabedoria e em ramos,
adisciplina; como não tem firmeza, será abalada
vã é sua esperança, estéreis seus esforços pelo vento
e inúteis suas obras; e pela violência do vendaval será
12
suas mulheres são insensatas; seus arrancada.
5
filhos, depravados Serão quebrados seus ramos sem
e maldita é a sua descendência. desenvolver-se
e seu fruto será inútil, verde demais
[Virtude vale mais que fecundidade]
para ser comido,
não servindo para nada.
13 6
Feliz, sim, a mulher estéril, mas Pois os filhos que nascem de sonos
incontaminada, culpados
que não conheceu um leito ilegítimo: serão, no dia do julgamento,
ela terá seu fruto no julgamento de todos. testemunhas da perversidade dos
14
Feliz também o eunuco que não cometeu próprios pais.
crimes com suas mãos
nem tramou iniqüidades contra o Senhor: [Vida longa não significa nada]
7
por sua fidelidade receberá um dom especial O justo, porém, ainda que morra
e uma parte especialíssima no templo prematuramente,
do Senhor. encontrará descanso.

• 5 >2Cor 4,17. • 7 >Dn 12,3; Mt 13,43. • 8 >Dn 7,27; 1Cor 6,2; Ap 20,4-6.  3,13–4,20 Felicidade para
a estéril e o eunuco, situações de vergonha no judaísmo. O importante é a integridade de vida. • 13s Cf.
4,1. • 13 de todos, lit.: das almas. • C. 4,1 >Is 54,1*. • 3 >Is 56,3s. • 4,1 >Eclo 16,3.  4,7-20 • 7 >Is 57,1s.
Sabedoria 4–5 774

8 20
A velhice venerável não é a de uma Comparecerão medrosos, quando
longa duração prestarem conta de seus pecados,
e nem se mede pelo número de anos; mas suas próprias iniqüidades se
9
o bom senso equivale aos cabelos brancos, levantarão contra eles, para acusá-los.
uma vida sem mancha, à idade avançada.
10 [A glória dos justos e os ímpios: confronto]
Agradando a Deus, o justo é amado
porele; 1
Então o justo ficará de pé, com
vivendo entre pecadores, Deus o
transferiu para outro lugar.
5 grande confiança,
na presença dos que o oprimiram
11
Foi arrebatado para que a malícia não e desprezaram seus sofrimentos.
lhe pervertesse a inteligência, 2
Vendo-o, estes serão tomados de
nem o engano seduzisse sua alma. terrívelpavor,
12
Pois o fascínio da frivolidade obscurece espantados de ver sua salvação inesperada.
os valores verdadeiros, 3
E dirão entre si, arrependidos,
e a inconstância das paixões transtorna entre gemidos, com o espírito angustiado:
Sb a mente sem malícia. 4
“Este é aquele de quem outrora
13
Tendo alcançado em pouco tempo a zombávamos,
perfeição, a quem cobríamos de insultos.
completou uma longa carreira: Insensatos, consideramos a sua vida
14
sua alma era agradável ao Senhor, uma loucura
que por isso apressou-se em tirá-lo do e sua morte, uma desonra.
meio da maldade. 5
Como, então, agora ele é contado entre
As pessoas vêem isso e não compreendem, os filhos de Deus.
e não refletem, em seu coração, e compartilha a sorte dos santos?
15
que a graça e a misericórdia são para 6
Portanto, nós nos desviamos do caminho
os eleitos do Senhor, da verdade,
e que ele intervém em favor dos a luz da justiça não brilhou sobre nós
seus santos. e o sol para nós não nasceu;
16
Mas o justo, morto, condena os ímpios 7
ficamos enredados nos caminhos da
vivos; iniqüidade e da perdição,
e a juventude, cedo terminada, a atravessamos desertos intransitáveis
prolongada velhice do injusto. e ignoramos o caminho do Senhor!
17 8
Eles verão o fim do sábio Que proveito nos trouxe o orgulho?
e não compreenderão o desígnio de Que vantagem nos trouxe a riqueza,
Deus sobre ele, unida à arrogância?
9
nem por que o Senhor o pôs em Tudo isso passou como uma sombra,
segurança. como notícia que corre veloz,
18 10
Verão e expressarão o seu desprezo, como um navio que corta as ondas agitadas
mas o Senhor se rirá deles. sem deixar rastro de sua passagem,
19
Pois eles se tornarão, depois disto, ou o sulco de sua quilha pelas ondas.
11
cadáveres sem honra, Ou como o pássaro que voa pelos ares
objeto de opróbrio para sempre entre sem deixar sinais do seu percurso:
os mortos; a leveza do ar é açoitada pelas asas
o Senhor os precipitará de cabeça para barulhentas
baixo, sem que emitam um gemido, e rasgada com força impetuosa,
e os sacudirá de seus fundamentos. enquanto ele abre caminho, com o bater
Serão arrancados até o último, das mesmas asas,
sofrerão dor lancinante, e sua memória sem que se encontre sinal algum de
perecerá. suarota.

• 10s Alusão à história de Henoc, >Gn 5,24; Eclo 44,16; Hb 11,5.  5,1-14 • 1 >Mt 13,43. • 5 filhos de
775 Sabedoria 5–6

12
Ou como a flecha disparada contra o alvo: A iniqüidade reduzirá a deserto toda
o ar fendido logo reflui sobre si mesmo, aterra,
não se sabendo mais por onde ela passou. e a malícia derrubará os tronos dos
13
Assim também nós, mal nascemos, já poderosos.
desaparecemos,
sem conseguirmos mostrar qualquer [Que os príncipes aprendam a Sabedoria]
traço de virtude, 1
Escutai, ó reis, e compreendei;
14
e na malícia nos deixamos consumir”.
De fato, a esperança do ímpio é como
6 instruí-vos, governadores dos confins
daterra!
penugem levada pelo vento, 2
Prestai atenção, vós que dominais as
como espuma frágil que a tempestade
multidões
espalha;
e vos comprazeis nas turbas das nações!
ela se dissipa como fumaça ao vento, 3
Pois o poder vos foi dado pelo Senhor
apaga-se como a lembrança do hóspede
e a soberania, pelo Altíssimo.
de um dia!
É ele quem examinará vossas obras
e sondará vossas intenções. Sb
[A glória dos justos e a destruição da terra] 4
Apesar de estardes a serviço do seu reino,
15
Os justos, ao contrário, viverão não julgastes com retidão, nem
eternamente: observastes a Lei,
no Senhor está sua recompensa nem procedestes conforme a vontade
e por eles vela o Altíssimo. de Deus.
16 5
Por isso receberão uma coroa de honra, Por isso, ele cairá de repente sobre vós,
um diadema formoso da mão do Senhor, de modo terrível,
porque a mão de Deus os protegerá porque um julgamento implacável será
e seu braço os defenderá. feito contra os que governam.
17 6
Ele tomará como armadura o seu Ao pequeno se concede a misericórdia,
santo zelo mas os poderosos serão examinados
e armará a criação para a vingança poderosamente.
7
contra os inimigos: Porque Deus não excetuará pessoa
18
revestirá, como couraça, a justiça alguma,
e usará, como capacete, seu juízo imparcial. nem se deixará impressionar pela
19
Empunhará, como escudo inexpugnável, grandeza de ninguém:
a santidade; o pequeno e o grande, foi ele quem os fez,
20
afiará, como lança, a sua ira inflexível, e ele cuida igualmente de todos.
8
e o mundo inteiro combaterá, com ele, Aos poderosos, porém, aguarda um
contra os insensatos. julgamento severo.
21 9
Irão certeiras as rajadas de raios A vós, portanto, ó reis, dirigem-se as
e, como de um arco bem retesado, das minhas palavras,
nuvens atingirão o alvo; para que aprendais a Sabedoria e não
22
como de uma catapulta acionada pela venhais a tropeçar.
10
iradivina, Os que observam com justiça as coisas
se arremessarão granizos cheios de ira; justas serão justificados;
ferverá contra eles a água do mar e os que as aprenderem vão encontrar
e os rios transbordarão com fúria. sua defesa.
23 11
Contra eles se levantará um vento Portanto, desejai ardentemente minhas
impetuoso palavras:
e, como um redemoinho, os dispersará. amai-as, e alcançareis a instrução.

Deus, aqui: anjos. • 14 >Sl 1,4; 37,20.  5,15-23 Quando Deus expulsar a injustiça da terra, os justos viverão
eternamente. • 17-20 >Is 59,17; Ef 6,11-17; 1Ts 5,8. • 17 santo zelo, lit.: ciúme.  6,1-11 Esta exortação
aos príncipes não poupa as ameaças. • 1 >Sl 2,10 3 >Dn 2,21.37; Rm 13,1; Jo 19,11. • 6 poderosamente,
Sabedoria 6–7 776

24
[A Sabedoria sai à procura dos que a desejam] Uma multidão de sábios é a salvação
12 do mundo,
A Sabedoria é luminosa e nunca murcha.
e um rei sábio, para o povo, é garantia
Facilmente é contemplada por aqueles de segurança.
que a amam, 25
Recebei, pois, a instrução por minhas
e é encontrada pelos que a procuram. palavras
13
Ela até se antecipa, apressando-se e nelas encontrareis proveito.
a mostrar-se aos que a desejam.
14
Quem por ela madruga não se cansa, [Salomão necessita a Sabedoria, artífice de Deus]
pois a encontrará sentada à porta.
1
15 Também eu sou um mortal,
Meditar sobre ela é a perfeição do
bom senso,
e quem ficar acordado por causa dela
7 igual a todos,
do gênero daquele ser terreno que por
em breve estará seguro. primeiro foi feito.
16
Pois ela mesma sai à procura dos que Formado em carne, no seio de minha mãe,
2
dela são dignos; durante dez meses tomei consistência
Sb cheia de bondade, mostra-se a eles em seu sangue,
nos caminhos por força do sêmen viril e do prazer,
e, em cada projeto, vai ao seu encontro. companheiro do sono.
3
17
O princípio da Sabedoria é o mais Também eu, quando nasci, respirei o
sincero desejo da instrução; ar comum
a preocupação pela instrução é o amor; e, ao cair na terra, que tudo recebe de
18
o amor é a observância de suas leis; modo igual,
a observância das leis é garantia de estreei minha voz chorando, igual a todos.
4
incorruptibilidade, Envolto em faixas fui criado, entre cuidados;
5
19
e a incorruptibilidade faz estar junto nenhum rei começou a existência de
de Deus. outra maneira.
6
20
Assim, o desejo da Sabedoria conduz Para todos é uma só a entrada na vida,
ao Reino. e uma só, a saída.
7
21
Ó reis dos povos, se vos comprazeis em Por isso desejei, e foi-me dado o bom senso;
tronos e cetros, supliquei, e veio a mim o espírito
cultivai a Sabedoria e reinareis para sempre. da Sabedoria.
8
Preferi-a aos reinos e tronos
[Elogio da Sabedoria] e, em comparação com ela, julguei sem
valor as riquezas.
22
Vou, porém, dizer-vos o que é a Sabedoria 9
A ela não igualei nenhuma pedra preciosa,
e como se tenha originado, pois, a seu lado, todo o ouro é um
sem esconder-vos os mistérios de Deus: punhado de areia
investigarei desde o início do seu e, diante dela, a prata será avaliada
nascimento, como o lodo.
trazendo à luz o conhecimento que a ela 10
Amei-a mais que a saúde e a beleza,
serefere e quis possuí-la mais do que a luz,
sem desviar-me da verdade. pois seu esplendor é inextinguível.
23
Não me deixarei acompanhar pela inveja 11
Todos os bens me vieram junto com ela,
que devora, pois uma riqueza incalculável está em
pois ela não participa da Sabedoria. suas mãos.

cf. LXX; NV: sob tortura.  6,12-21 • 12 >Pr 8,17; Eclo 6,28[27]. • 16 >Pr 8,2s; Is 65,1s.24. • em cada
projeto (i.é, do sábio), antigamente traduzido: com toda providência/todo cuidado (da parte de Deus). •
17 >Pr 4,7.  6,22-25.  7,1-21 Salomão não é superior aos outros, a Sabedoria que pediu é que o torna grande.
A sabedoria faz as obras de Deus (v. 21). • 1 >Gn 2,7*; Sl 139,13-16. • terreno: alusão a Adão e adamâ
(terra); cf. Gn 2,7 nota. Tlv. uma polêmica contra os reis helenísticos do tempo do autor, que se faziam
endeusar (cf. v. 5). • 5s >1Rs 2,2. • 7 >1Rs 3,6-9.12; 5,9-14; Eclo 51,18s[13s] • 11 >1Rs 3,13; Mt 6,33p.
777 Sabedoria 7–8

12 23
E alegrei-me com todos esses bens, incoercível, benfazejo, amigo dos
pois é a Sabedoria quem os precede, homens, benigno,
apesar de eu ignorar que ela é mãe de constante, certeiro, seguro,
todos eles. que tudo pode, que tudo supervisiona,
13
Aprendi-a sem falsidade e reparto-a que penetra todos os espíritos,
sem inveja: os inteligentes, os puros, os mais sutis.
24
não escondo suas riquezas. Pois a Sabedoria é mais ágil que
14
Ela é um tesouro inesgotável para a qualquer movimento,
humanidade: e atravessa e penetra tudo por causa
os que a adquirem estão preparados para da sua pureza.
25
a amizade com Deus, Ela é o sopro do poder de Deus,
porque recomendados pelos dons uma emanação pura da glória do
da instrução. Todo-Poderoso.
15
Deus me conceda falar segundo o seu Por isso, nada de impuro pode
desejo introduzir-se nela:
26
e ter pensamentos dignos dos dons ela é reflexo da luz eterna, Sb
que recebi, espelho sem mancha do poder de Deus
pois ele é o guia da Sabedoria e imagem da sua bondade.
27
e é também quem corrige os sábios; Embora sendo uma só, tudo pode;
16
em suas mãos estamos nós e as nossas permanecendo imutável, renova tudo;
palavras, e comunicando-se às almas santas
assim como toda a Sabedoria e a através das gerações,
habilidade. forma os amigos de Deus e os profetas.
17 28
Ele me deu um conhecimento exato de Pois Deus ama tão somente
tudo o que existe, aquele que convive com a Sabedoria.
29
para eu entender a estrutura do mundo De fato, ela é mais bela que o sol
e as propriedades dos elementos, e supera todas as constelações.
18
o começo, o meio e o fim dos tempos, Comparada à luz, ela é mais brilhante:
30
a alteração dos solstícios, as mudanças pois à luz sucede a noite,
das estações, ao passo que, contra a Sabedoria, o mal
19
os ciclos do ano e a posição das estrelas, não prevalece.
20 1
a natureza dos animais e a fúria das feras, Ela se estende com vigor de uma
a força dos espíritos e os pensamentos
dos homens,
8 extremidade à outra,
e com suavidade governa todas as coisas.
a variedade das plantas e as propriedades
dasraízes. [A Sabedoria, virtude e companheira]
21
Aprendi tudo o que está oculto e tudo o 2
Eu a amei e procurei desde a juventude
que se vê,
e pretendi fazê-la minha esposa,
22pois a Sabedoria, artífice de todas as
apaixonado pela sua beleza.
coisas, mo ensinou. 3
A sua convivência com Deus realça a
sua nobre origem,
[A essência da Sabedoria]
pois o Senhor de todas as coisas a amou.
22 4
Há nela um espírito inteligente, santo, Conhecedora da ciência de Deus,
único, múltiplo, sutil, móvel, perspicaz, é ela quem seleciona as suas obras.
5
imaculado, Se a riqueza é um bem desejável na vida,
lúcido, invulnerável, amante do bem, que há de mais rico do que a Sabedoria,
penetrante, que realiza todas as coisas?

• 20 (forças) do espírito = misteriosas. • 21 >Pr 8,22-31*.  7,22–8,1 Um sopro de Deus, governando


tudo com vigor e suavidade. • 22 >Tg 3,17. • 25 >Eclo 24,5[3]. • 26 >Hb 1,3. • imagem, >Cl 1,15. • 27 >Sl
104,30 • 30 >Jo 1,5.  8,2-16 Casar com a Sabedoria! • 2 >6,12-16; Pr 7,4; Eclo 15,2. • 4 >Pr 8,27-20.
Sabedoria 8–9 778

6
E se é o bom senso que age eficazmente, PRECE PARA OBTER A SABEDORIA
quem mais que a Sabedoria é artífice de
[Introdução]
todas estas coisas que existem?
7 17
E se alguém ama a justiça, Meditando estas coisas comigo mesmo
saiba que são frutos da Sabedoria e considerando, em meu coração,
as virtudes: que a imortalidade está no relacionamento
ela ensina a temperança e a prudência, com a Sabedoria,
18
a justiça e a fortaleza, e que na sua amizade existe alegria
que são os bens mais úteis na vida perfeita,
dos homens. e riqueza inesgotável no trabalho de
8
Se alguém deseja uma vasta experiência: suas mãos;
ela conhece o passado e entrevê o futuro, considerando também que a prudência
conhece a sutileza das palavras e as vem da assiduidade em escutá-la
soluções dos enigmas, e que, na comunhão com suas palavras,
vê de antemão os sinais e prodígios está a celebridade,
Sb e os acontecimentos das circunstâncias e eu ia por toda parte, procurando
dos tempos. conquistá-la para mim.
19
9
Decidi, pois, tomá-la por companheira Fui um menino bem dotado
de minha vida, e coube-me, por sorte, uma alma boa;
20
sabendo que me seria conselheira para ou melhor, como era bom,
o bem vim a um corpo sem mancha.
21
e conforto nas preocupações e na tristeza. Sabendo, porém, que só poderia obter
10
Por causa dela serei louvado ante as a Sabedoria
multidões se Deus ma concedesse
e, apesar de jovem, serei honrado – e já era sinal de Sabedoria saber de
pelos anciãos; Quem era o dom –
11
nos julgamentos reconhecerão minha dirigi-me ao Senhor e orei,
perspicácia dizendo de todo o meu coração:
e provocarei a admiração dos poderosos.
12
Se eu me calar, ficarão esperando [Prece de Salomão pela Sabedoria]
por mim, 1
“Ó Deus de meus antepassados e
e se eu falar, hão de prestar atenção:
se prolongar minhas palavras,
9 Senhor de misericórdia,
que tudo fizeste com a tua Palavra,
porão a mão sobre a boca. 2
e com tua Sabedoria criaste o ser humano
13
Por causa dela alcançarei a imortalidade para dominar as criaturas que fizeste,
e deixarei lembrança eterna aos que 3
para governar o mundo com santidade
vierem depois de mim. ejustiça
14
Governarei os povos e exercer o julgamento com retidão de
e as nações me serão sujeitas; coração!
15
ao ouvirem meu nome, reis temíveis 4
Dá-me a Sabedoria que se assenta
se assustarão; contigo no teu trono
hei de mostrar-me bom para com o povo e não me excluas do número de teus filhos.
5
e valente na guerra. Pois sou teu servo, filho de tua serva,
16
De volta para casa, encontrarei nela o homem frágil e de vida breve,
meu descanso, e incapaz de compreender a justiça e as
pois a sua companhia não traz amargura, leis.
nem tédio a sua convivência, 6
Por mais que alguém entre os mortais
mas sim alegria e contentamento. sejaperfeito,

• 7 da Sabedoria, lit.: dos seus esforços; >Mt 11,19; tb. os frutos do Espírito, Gl 5,22. • 10s >1Rs 5;
5; 10. • 16 >Pr 3,17s.  8,17-21. • 18 prudência, cf. LXX; NV: sabedoria.  9,1-18 Esta bela ora-
ção é a parte central do livro. • 1 >Eclo 42,15. • 2 >Gn 1,28. • 3 >1Rs 3,6. • 4 >8,27-30*; Eclo 1,1.
779 Sabedoria 9–10

se lhe faltar a tua Sabedoria, os homens aprenderam o que te agrada


será considerado como nada. e, pela Sabedoria, foram salvos”.
7
Tu me escolheste para rei do teu povo
e juiz dos teus filhos e filhas;
8 MEDITAÇÃO SOBRE A HISTÓRIA
ordenaste-me construir um templo no
teu monte santo
[De Adão até a libertação do Egito]
e um altar na cidade de tua residência,
1
à semelhança da Tenda sagrada que De fato, foi ela quem protegeu aquele
9
preparaste desde o princípio.
Contigo está a Sabedoria que conhece
10 que foi modelado primeiro,
o pai do mundo,
as tuas obras quando criado sozinho;
e que estava presente quando fazias foi ela quem o libertou do seu delito
2
o mundo; e lhe deu poder para dominar todas
ela sabe o que é agradável aos teus olhos ascoisas.
3
e o que é correto conforme os teus preceitos. Afastando-se dela o injusto, na sua ira,
10
Manda-a dos teus sagrados céus arruinou-se, entre os furores de um Sb
e faze que ela venha do teu Trono glorioso, fratricídio.
4
para que me acompanhe e trabalhe comigo Quando, pela culpa humana, a terra foi
e eu saiba o que é agradável diante de ti. inundada,
11
Pois ela tudo conhece e compreende, salvou-a novamente a Sabedoria,
e me guiará com prudência em meus pilotando o justo numa frágil embarcação.
5
trabalhos, Quando as nações, pela adesão geral
protegendo-me com a sua glória. à maldade,
12
Assim minhas obras serão bem aceitas, confundiram-se a si mesmas,
governarei teu povo com justiça ela reconheceu o justo
e serei digno do trono de meu pai. e o manteve irrepreensível diante de Deus,
13
Pois qual é o homem que pode conhecer conservando-o forte, apesar de sua
o projeto de Deus? ternura pelo filho.
6
ou quem poderia imaginar o que Na destruição dos ímpios, foi ela quem
pretenda o Senhor? salvou o justo,
14
Na verdade, os pensamentos dos mortais que fugia do fogo descido sobre as
são tímidos Cinco Cidades;
7
e nossas providências incertas: como testemunha da malvadeza deles,
15
porque o corpo corruptível torna existe ainda uma terra fumegante e deserta,
pesada a alma cujas árvores produzem frutos em
e a morada terrena oprime a mente que estações incertas
pensa em tantas coisas. e, em memória de uma alma incrédula,
16
Mal podemos conhecer o que há na terra, ainda está de pé uma estátua de sal!
8
e a muito custo compreendemos Pois, desprezando a Sabedoria,
o que está ao alcance de nossas mãos; não só caíram, ignorando o bem,
quem, portanto, rastreará o que há nos céus? mas deixaram para a humanidade uma
17
Quem, pois, conheceria o teu projeto, lembrança de sua loucura,
se não lhe desses a Sabedoria de tal modo que seus pecados não
e do alto enviasses o teu santo Espírito? puderam ficar escondidos.
18 9
Só assim se tornaram retos os caminhos Aos que a respeitam, porém, a
dos que estão sobre a terra, Sabedoria livrou de suas fadigas.

• 7 >1Rs 3,13-16. • 12 meu pai = Davi. • 13 >Dt 30,12-14; Br 3,29ss. • 16 >Dt 13,11; Jo 3,12. • 17 >Sl
143,10  10,1-21 A prece transforma-se em meditação, na presença de Deus. • 1-3 Adão e Eva, Caim
e Abel, >Gn 1–4. • 4 Noé e a arca, >Gn 6–8; 1Pd 3,20s. • 5a A torre de Babel, >Gn 11. • 5b Abraão, posto
à prova no sacrifício de Isaac, >Gn 12,1-3; 22. • 6-8 Ló, salvo de Sodoma e das “cinco cidades” em redor
(Pentápole); a mulher de Ló; >Gn 19. • 9-12 Jacó, fugindo de Esaú e explorado por Labão; >Gn 27–33.
Sabedoria 10–11 780

10 21
Ela guiou, por caminhos retos, o justo Pois a Sabedoria abriu a boca dos mudos
que fugia do ódio do irmão, e tornou eloqüente as línguas das
mostrou-lhe o reino de Deus crianças.
e concedeu-lhe o conhecimento das
coisas santas: [A água, para Israel e para os egípcios]
fê-lo prosperar em seus empreendimentos 1
Pelas mãos de um santo Profeta,
11
e recompensou suas fadigas.
Esteve a seu lado contra a cobiça dos 11
2
ela conduziu a bom termo suas obras.
Eles atravessaram desertos inabitáveis
opressores
e o tornou rico; e armaram suas tendas em lugares
12
protegeu-o contra os inimigos, inacessíveis;
3
defendendo-o dos que lhe armavam ciladas; resistiram aos inimigos
deu-lhe o prêmio após uma dura batalha, e vingaram-se dos adversários.
4
para ensinar-lhe que a piedade é mais Tiveram sede e vos invocaram:
poderosa do que tudo. foi-lhes dada água de um rochedo
Sb 13
Foi também ela que não abandonou o altíssimo,
justo vendido, de uma pedra dura, o remédio para a sede.
5
mas o preservou do pecado; Assim, com aquelas coisas com as quais
14
desceu com ele à cisterna foram castigados seus inimigos,
e não o desamparou na prisão, por elas mesmas, na sua necessidade,
até trazer-lhe o cetro real eles foram beneficiados.
6
e o poder sobre os que o haviam Em lugar das águas de um rio perene,
humilhado; turvadas por sangue pútrido
7
desmascarou também os que o caluniavam – castigo pelo decreto infanticida! –
e deu-lhe uma glória eterna. tu lhes deste, de modo inesperado,
15 água abundante.
Foi ela quem libertou o povo santo, raça
8
irrepreensível, Isto, para que percebessem, com a sede
das nações que o oprimiam. que sentiram,
16
Entrou na alma do servo do Senhor, como é que castigaste seus adversários.
9
fazendo-o enfrentar, com prodígios e Ao serem assim provados, mesmo se
sinais, a reis temíveis. corrigidos com misericórdia,
17
Deu aos santos a recompensa de compreenderam como os ímpios,
seus trabalhos, julgados por tua cólera, sofriam seus
e guiou-os por um caminho maravilhoso: tormentos.
10
foi para eles abrigo durante o dia Pois aos teus filhos provaste como pai
e resplendor de estrelas durante a noite. que corrige,
18
Ela os fez atravessar o mar Vermelho, enquanto a eles castigaste como rei
conduzindo-os através das águas severo que condena.
11
caudalosas; Longe ou perto, foram atingidos por igual,
19 12
afogou seus inimigos pois dupla aflição os oprimiu
e os vomitou das profundezas do abismo. e gemiam, recordando o passado.
20 13
Por isso os justos apoderaram-se dos De fato, quando perceberam que, por
despojos dos ímpios seus próprios tormentos,
e celebraram, Senhor, vosso santo Nome, os outros estavam sendo beneficiados,
louvando em coro vossa mão vitoriosa. os injustos sentiram a ação do Senhor.

• 12 piedade: interpretação espiritual de Gn 32,23-32. • 13s José do Egito, >Gn 37-41. • 15-21 O Êxodo
e Moisés, >Ex 7–15.  11,1-14 Nesta meditação sobre o Êxodo e a Terra Prometida, o Egito é o inimigo
antigo e também o atual perseguidor da comunidade. 1ª antítese Egito-Israel (as outras seguem a partir
do cap. 16). • 1 Profeta = Moisés. • 4 >Ex 17,1-7; Nm 20,2-13. • 6 >Ex 7,17-21. • 9 O sofrimento moderado
e “pedagógico” dos israelitas (a sede) os fez compreender o castigo que sofria o Egito. • 10 A severidade
de Deus para com Israel (correção), tem outro sentido que sua atitude para com o Egito (condenação).
781 Sabedoria 11–12

14 22
Porque aquele que outrora fora rejeitado, O mundo inteiro, diante de ti,
exposto e desprezado com zombarias, é como um pequenino peso na balança,
agora, no fim dos acontecimentos, como uma gota do orvalho da manhã
o admiravam, que cai sobre a terra.
23
ao sofrerem uma sede diferente da Entretanto, de todos tens compaixão
dos justos. porque tudo podes,
e fechas os olhos aos pecados dos mortais,
[Os egípcios e os animais: moderado castigo] para que se arrependam.
24
15
Sim, amas tudo o que existe
Os pensamentos insensatos da sua e não desprezas nada do que fizeste;
iniqüidade os haviam transviado, porque, se odiasses alguma coisa, não a
a ponto de prestarem culto a mudas teriascriado.
serpentes e bichos inúteis; 25
Da mesma forma, como poderia alguma
por isso, como castigo lhes enviaste uma coisasubsistir,
multidão de mudos animais. se não a tivesses querido?
16
Assim chegaram a compreender que Ou como poderia ser mantida na
cada um é punido Sb
existência,
por aquelas mesmas coisas com as se por ti não tivesse sido chamada?
quais peca. 26
A todos, porém, tratas com bondade,
17
Não teria sido difícil à tua mão porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida!
todo-poderosa, 1
O teu espírito incorruptível
que criou o mundo da matéria informe,
soltar contra eles bandos de ursos ou 12
2
está em todos.
É por isso que corriges com carinho os
leões audazes,
18 que erram
ou feras desconhecidas, recém-criadas,
e os repreendes, lembrando-lhes seus
furiosas,
pecados,
exalando hálito de fogo, espalhando uma para que se afastem do mal e creiam
fumaça infecta, em ti, Senhor.
lançando pelos olhos relâmpagos terríveis:
19
animais capazes de aniquilá-los não [Moderação para com Canaã]
apenas com seu malefício, 3
mas de matá-los já com o seu aspecto Quanto aos antigos habitantes da
aterrador. tua santa terra,
20
Aliás, mesmo sem essas feras, tu os odiaste
4
eles poderiam sucumbir com um por causa de seus atos detestáveis:
único sopro, obras de feitiçaria e sacrifícios ímpios,
5
perseguidos pela justiça assassinatos impiedosos de crianças,
e varridos pela força do teu poder. e banquetes canibalescos de vísceras e
Entretanto, tudo dispuseste com medida, sangue humano.
número e peso. A esses iniciados em mistérios no meio
de orgias,
6
[Onipotência e amor de Deus] pais que matavam seus filhinhos indefesos,
tu os quiseste destruir pela mão de
21
Só tu podes desdobrar sempre teu nossos pais.
grande poder: 7
E assim esta tua terra, predileta entre todas,
quem, pois, poderia resistir à força do recebeu uma digna migração de filhos
teu braço? de Deus.

• 14 >Ex 1,22; 2,3  11,15-20 Como os egípcios misturam a veneração dos animais ao culto, foram
punidos através dos animais, ainda que “com moderação”, pedagogicamente... • 15ss >16,1-4. • 20c >Is
40,12; >Jó 28,25.  11,21–12,2 Deus é amigo da vida; seu grande poder se revela em abrir espaço para
a conversão e a vida. • 23 >Eclo 18,10-13[12-14]. • 26 >Ex 18,23*. • 27 fim da condenação: alguns
traduzem, em sentido conrário: a condenação suprema.  12,3-18 • 3 antigos habitantes: os cananeus.
Sabedoria 12 782

8 18
Mas, como também aqueles eram seres No entanto, dominando tua própria força,
humanos, julgas com clemência
tu os trataste com indulgência e nos governas com grande moderação:
mandando-lhes vespas, como pois, se quisesses, estaria ao teu alcance
precursoras do teu exército, fazer uso do teu poder.
com a missão de eliminá-los pouco a pouco.
9
Não porque fosses incapaz de entregar [Lição para Israel: misericórdia]
os ímpios 19
Assim procedendo, ensinaste ao teu povo
às mãos dos justos, numa batalha,
que o justo deve ser humano.
ou de exterminá-los de um só golpe,
E a teus filhos deste a confortadora
por meio de animais ferozes ou uma
esperança
palavra destruidora.
10 de que, depois dos pecados, concedes
Ao contrário, castigando-os pouco a pouco,
o arrependimento.
tu lhes davas oportunidade para se 20
Se aos inimigos dos teus servos,
arrependerem.
merecedores de morte,
Sb E isto, embora não ignorasses que eram
puniste com tanta brandura e
uma geração perversa,
indulgência
de malícia congênita, e que sua
e lhes deste tempo e lugar para se
tendência jamais haveria de mudar
11 afastarem da maldade,
porque eles eram, desde a origem, uma 21
com que cuidado julgaste teus filhos,
raça maldita.
a cujos pais concedeste juramentos
Nem tampouco era por medo de alguém,
e alianças de tão belas promessas!
que lhes concedias perdão por seus 22
Assim, pois, enquanto nos ministras
pecados.
12 a correção,
De fato, quem poderia dizer-te: “Que
castigas nossos inimigos de muitas
fizeste?”
maneiras,
ou quem ousaria opor-se à tua sentença?
para que, quando julgarmos, nos
Quem te acusaria por destruires as
lembremos da tua bondade
nações que fizeste?
e, ao sermos julgados, esperemos a tua
Quem entraria em juízo contra ti
misericórdia.
para defender esses injustos?
13
Pois não há, além de ti, outro Deus
[Conclusão sobre o culto dos animais]
que cuide de todas as coisas,
23
e a quem devas mostrar Eis por que atormentaste, através de
que teu julgamento não foi injusto. suas próprias abominações,
14
Não há rei nem soberano que possa os que levavam, na sua insensatez, uma
desafiar-te vidainjusta.
24
por causa daqueles a quem castigaste. Eles se desviaram tão longe, nos
15
Porque és justo, tudo dispões com justiça; caminhos do erro,
e consideras incompatível com o que consideravam deuses os mais vis
teu poder dentre os repugnantes animais,
condenar a quem não mereça castigo. deixando-se enganar como crianças
16
Tua força é o princípio da tua justiça, sem juízo:
25
e o teu domínio sobre todos por isso, como a crianças sem juízo
te faz para com todos indulgente. enviaste o castigo da zombaria.
17 26
Mostras a tua força Mas os que, nem com essas punições
a quem não crê na perfeição do teu poder; escarninhas, não se emendaram,
e aos que não te reconhecem experimentarão um julgamento digno
castigas o seu atrevimento. de Deus:

• 8 >Ex 23,28. • 13 >Dt 32,39; Jó 34,12-15.  12,19-27 • 22 >Mt 5,7; 7,12.  12,23-27 Deus reconhecido
783 Sabedoria 12–13

27 8
exasperados pelos sofrimentos causados Mesmo assim, nem estes têm desculpa:
9
por aqueles animais porque, se chegaram a tão vasta ciência,
que eles mesmos haviam considerado a ponto de investigarem o mundo,
deuses, como é que não encontraram mais
e vendo que por eles eram exterminados, facilmente o seu Senhor?
reconheceram como Deus verdadeiro
aquele a quem antes haviam recusado [Paródia da fabricação de ídolos]
conhecer. 10
Infelizes, porém – e sua esperança está
Por isso, chegou para eles o fim da
em coisas mortas! –
condenação.
os que chamaram deuses às obras das
mãos humanas,
[Idolatria, divinização das criaturas]
ouro e prata, invenções da arte, figuras
1
De fato, são vãs por natureza de animais,
13 todas essas pessoas
nas quais não há o conhecimento de Deus.
ou uma pedra sem valor, lavrada em
tempos antigos.
Porquanto, partindo dos bens visíveis, 11
Um lenhador artesão, por exemplo, corta Sb
não foram capazes de conhecer do bosque um tronco manejável,
Aquele que é; dele retira habilmente toda a casca
nem tampouco, pela consideração e, valendo-se da sua arte, faz com esmero
das obras, um objeto útil para a vida cotidiana;
12
chegaram a conhecer o Artífice. usando ainda dos restos da obra
2
Entretanto, tomaram por deuses, por para preparar sua comida, fica satisfeito.
13
governadores do mundo, Quanto à sobra, que para nenhum
o fogo ou o vento, ou o ar fugidio, usoéútil,
o ciclo das estrelas, a água impetuosa, madeira curva e cheia de nós,
os luzeiros do dia. vai esculpindo-a diligentemente para
3
Se, encantados por sua beleza, tomaram seu lazer
essas criaturas por deuses, e, por sua perícia, no tempo livre,
reconheçam quanto o seu Dominador é dá-lhe uma figura, assemelhando-a à
maior do que elas: imagem de um ser humano.
14
pois foi o Princípio e Autor da beleza Ou então, dá-lhe a aparência de algum
quem as criou. asqueroso animal.
4
Se ficaram maravilhados com o poder e Passa-lhe vermelhão, dá-lhe com a tinta
a energia dessas criaturas, uma cor avermelhada
concluam daí quanto mais poderoso é e encobre todos os defeitos que
aquele que as fez. nela havia.
5 15
De fato, partindo da grandeza e beleza Prepara-lhe então uma digna morada,
dascriaturas, colocando-a na parede, e afixando-a
pode-se chegar a ver, por analogia, o com ferro.
16
seu Criador. Toma precauções, ainda, para que
6
Contudo, estes merecem menor repreensão: não caia,
talvez se tenham extraviado procurando pois bem sabe que ela não pode ajudar-se:
a Deus é uma imagem, e precisa de ajuda.
17
e querendo encontrá-lo. Agora, fazendo-lhe promessas a respeito
7
Com efeito, vivendo entre as obras dele, de seus bens, casamento e filhos,
põem-se a procurá-lo, não se envergonha de falar com aquilo
mas se deixam levar pela aparência, que não tem alma,
pois são belas as coisas que se vêem! e pela saúde roga a quem é enfermo,

pelos que se desviaram.  13,1-9 É o que acontece no Egito no tempo do autor. • 1-3 >Ex 3,14*; Rm
1,20. • 6 >At 17,27. • 7 se deixam levar, NV: acreditam.  13,10-19 >Dt 4,28; Is 40,18-20; 44,6-20.
Sabedoria 13–14 784

18 9
pela vida suplica a quem é morto, Dessa forma são odiosos para Deus
para auxílio invoca uma coisa tanto o ímpio como a sua impiedade:
totalmente inútil, 10
por isso, tanto aquilo que foi feito,
pela viagem pede àquilo que nem como aquele que o fez, serão atormentados.
pode andar 11
Assim, também para os ídolos das
19
e, quanto à compra e o uso, e o bom nações haverá julgamento
êxito dos empreendimentos, porque, entre as criaturas de Deus,
pede ajuda àquilo que não tem transformaram-se em abominação
capacidade nenhuma em suas mãos. e em tentação para as pessoas,
em armadilha para os pés dos insensatos.
[Arrazoado a partir da navegação]
1
Outro, que se dispõe a navegar, [Os ídolos de forma humana]
14 ao começar a viagem por ondas
impetuosas,
12
Pois o princípio da prostituição é a
invenção dos ídolos
invoca um pedaço de lenha mais frágil e a sua descoberta foi a corrupção da vida:
Sb do que o lenho que o transporta. 13
eles não existiam desde o princípio
2
A este, a cobiça de ganhar inventou e não existirão para sempre.
e o artesão, com a sua habilidade, 14
Pela vanglória das pessoas é que essas
o fabricou. coisas foram introduzidas no mundo,
3
Mas é a tua Providência, ó Pai, que e por isso também seu fim é imediato.
segura o leme, 15
Um pai, sofrendo com o luto amargo,
porque até no mar abriste caminho manda fazer a imagem do filho que lhe
e uma rota seguríssima entre as ondas. fora prematuramente arrebatado.
4
Assim mostras que és poderoso para A seguir, começa a cultuar, como a
salvar de tudo, um deus,
mesmo se alguém se meta no mar
aquele que então havia falecido como
sem perícia.
5 simples mortal,
Tu, porém, queres que as obras da tua
Sabedoria não sejam vãs: e transmite, a seus dependentes,
por isso, as pessoas entregam suas vidas cerimônias e sacrifícios.
16
a um lenho insignificante Depois, com o andar do tempo, o iníquo
e, mesmo atravessando as ondas numa costume, afirmando-se,
balsa, conseguem salvar-se. passa a ser observado como lei
6
Também no princípio, quando pereceram e, por ordem dos soberanos, começa-se
os soberbos gigantes, a cultuar suas imagens.
17
refugiando-se a esperança do orbe Como as pessoas não podiam honrá-los
terrestre numa balsa, em presença,
esta preservou para o mundo a semente pelo fato de estarem longe,
da vida, tornaram presente a sua figura distante
sendo pilotada pela tua mão. fazendo uma imagem, visível, do rei a
7
Bendito é, pois, o lenho que se emprega quem desejavam honrar.
corretamente, Podiam assim, com seu zelo, cultuar
8
maldito, porém, aquilo que é feito por como presente
mãos humanas e aquele que o fez: aquele que de fato estava ausente.
18
este, porque o fabricou, Para o incremento desse culto,
e aquele, porque, sendo corruptível, foi a exímia diligência do artista
chamado deus! impeliu também os que não o conheciam.

 14,1-11 Sobre a madeira utilizada bem e a utilizada mal. • 2 habilidade, lit.: sabedoria. • 3 >Sl 77,20;
Is 43,16. • 5 >Sl 107,29s. • 6 >10,4*. • 7 que se emprega corretamente, lit.: pelo qual se faz a justiça
(a Cruz, segundo os Pais da Igreja! cf. Gl 3,13s). • 8 >Dt 27,15.  14,12-21 Análise da divinização
de um príncipe falecido. • 12 > Dt 31,16 12; a infidelidade à Aliança como prostituição, >Ex 34,15s.
785 Sabedoria 14–15

19 29
Porque, desejando talvez agradar àquele Porque acreditam em ídolos inanimados,
que o havia contratado, esperam não serem prejudicados ao
o artista esmerou-se, com a sua arte, jurarem falso.
30
por dar à imagem a melhor aparência Ambas as coisas, porém, lhes caberão
possível. em castigo,
20 porque pensaram mal de Deus
E uma multidão de pessoas, seduzidas
pela beleza da obra, reverenciando os ídolos
agora consideram como deus e com malícia juraram falso,
aquele que pouco antes fora honrado desprezando a santidade.
31
como homem. Pois não é o poder daqueles por
21
Tal é a ilusão da vida humana: quem juraram,
levados, quer pela fatalidade, quer pela mas a pena devida aos pecadores
submissão aos reis, que persegue sempre a transgressão
os homens deram à pedra e à madeira o dos injustos.
Nome incomunicável!
[A fidelidade em face da idolatria]
Sb
[Conseqüência da idolatria] 1
Mas tu, ó nosso Deus, és bom
22
Além disso, não bastou o terem errado 15 e verdadeiro,
és paciente e tudo governas com
sobre o conhecimento de Deus,
mas ainda, vivendo no grande conflito misericórdia.
2
da sua ignorância, Mesmo pecando, somos teus, pois
chamam de “paz” a tantos e tão acatamos o teu poder;
grandes males. mas não pecaremos, sabendo que somos
23
Porque, ou sacrificando os próprios contados como teus.
3
filhos ou fazendo sacrifícios obscuros, Conhecer-te é a justiça perfeita,
ou entregando-se a vigílias cheias da e acatar teu poder é a raiz da imortalidade.
4
loucura de ritos estranhos, Pois não fomos seduzidos pelas
24
já não conservam puros nem a vida nem invenções da perversa arte humana,
o casamento, nem pelo trabalho estéril dos pintores
mas um mata o outro à traição ou o com suas figuras lambuzadas de
ultraja com o adultério. diversas cores,
5
25
E tudo está interligado: sangue e cuja vista desperta a paixão dos insensatos
homicídio, furto e mentira, e os faz amar a forma inanimada de uma
corrupção e infidelidade, perturbação imagem morta.
6
eperjúrio, Esses amantes do mal merecem confiar
26
inversão de valores, esquecimento em tais coisas:
dos benefícios, tanto os que as fabricam, como os que
corrupção das almas, perversão sexual, as amam e adoram.
desordem nos casamentos, adultério e
[Paródia dos deuses de barro]
falta de pudor.
27 7
Pois o culto dos ídolos inomináveis Mas também o oleiro, amassando com
é o princípio, a causa e o fim de todo mal. esforço a argila,
28
Enquanto se divertem, praticam loucuras forma toda espécie de utensílios para
ou vaticinam falsidades, nossos usos;
ou vivem na injustiça e perjuram com do mesmo barro molda os que servem
leviandade. para usos nobres

• 21 Os judeus não pronunciam o nome próprio de Deus.  14,22-31 A pretensa “paz” produzida pela
idolatria. • 22 Sb foi escrito no tempo do Império Romano, que justificava seu papel de dominador
universal em nome da “paz” (cf. a “pacificação” dos índios no Brasil-colônia). O Egito dominado
pelos romanos usava os cultos idolátricos para manter o povo “em paz”. • 23 >Lv 18,21.  15,1-6
Israel é salvo pela fidelidade: “Mesmo se pecamos, acatamos teu poder”. • 1 >Ex 34,6s.  15,7-13
Sabedoria 15–16 786

e outros, para usos contrários, tudo de nem dos ouvidos para ouvir,
maneira semelhante; nem dos dedos da mão para apalpar,
o próprio oleiro é juiz do uso que deve e até seus pés são preguiçosos
ter cada um desses utensílios. para andar.
8 16
Depois, com ímpio trabalho, do mesmo Porquanto foi um ser humano
barro molda um deus falso, quem os fez,
ele, que pouco antes fora feito da terra e os modelou aquele que tem o espírito
e dentro em pouco será reduzido a ela, emprestado.
de onde veio, Ora, nenhum homem pode modelar um
quando se lhe pedir de volta a vida deus à sua semelhança:
17
emprestada. porque, sendo mortal, forja com suas
9
Sua preocupação, porém, não é a de mãos iníquas um morto!
que vai sofrer, De fato, ele é melhor do que aqueles
nem de que sua vida é breve, aos quais cultua,
mas rivaliza com os ourives e os que porquanto pelo menos vive, mesmo
Sb trabalham a prata sendo mortal,
e imita os que trabalham o bronze, ao passo que aqueles nunca viverão.
18
pondo sua glória em fabricar equívocos. No entanto, adoram até aos mais
10
Seu coração é cinza, sua esperança, vis animais
uma terra vil, os quais, quanto à bruteza, comparados
e sua vida é mais desprezível que aos outros, são ainda piores:
19
o barro. nada de belo neles se encontra, que se
11
Pois ignora aquele que o plasmou, pudesse desejar,
que nele inspirou uma alma ativa como acontece na forma exterior
e nele insuflou o espírito que faz viver. dos animais:
12
Chega a considerar nossa vida um jogo de certo modo fugiram ao louvor e à
e nossas atividades como voltadas para bênção de Deus!
o lucro;
por isso diz que se deve tirar proveito [As rãs e as codornizes]
de tudo, até do mal. 1
Por causa disso, foram
13
Bem sabe que peca, mais do que todos,
aquele que, de matéria argilosa, fabrica
16 condignamente castigados
por seres semelhantes a esses,
frágeis vasos e imagens esculpidas. sendo atormentados por uma multidão
de animais daninhos.
[Idolatria ilimitada dos inimigos] 2
Em lugar desse castigo, trataste com
14
São, pois, todos insensatos e infelizes, bondade o teu povo:
mais que a alma de uma criança incapaz segundo o desejo do que lhes apetecia,
defalar, preparaste um alimento com novo sabor,
esses inimigos do teu povo, que na sua as codornizes.
3
prepotência o oprimem. Assim aqueles, desejando ardentemente
15
Pois transformaram em deuses todos os comer,
ídolos das nações, viam transformar-se em nojo o apetite
os quais nem podem servir-se dos olhos necessário,
para ver por causa da hediondez dos animais que
nem das narinas para aspirar o ar, lhes foram enviados;

• 8 >Gn 2,7; 3,19; ironia: invertendo a criação (Gn 1,26-28), o homem faz um deus “à sua
imagem e semelhança”: de barro perecível.. • 10 >Is 44,20.  15,14-19 Crítica ao sincretismo
religioso dos egípcios. • 16 >Gn 2,7*; Sl 104,29s. • 18 >11,15; pensa especialmente em
animais que são impuros para os judeus: insetos, répteis.  16,1-4 Depois da comparação de
11,4-14 (quanto à água), a 2ª antítese Egito-Israel, quanto aos animais. • 2 >Ex 16,9-13;
787 Sabedoria 16

14
estes, porém, tendo passado breve penúria, O ser humano, porém, que mata por
saborearam um alimento diferente. maldade,
4 não pode restituir o espírito que saiu
Convinha, pois, que sobreviesse a ruína
sem remissão nem libertar a alma já recolhida.
contra aqueles que haviam exercido a tirania,
enquanto a estes apenas se mostrava [O granizo e o maná]
como seus inimigos eram exterminados. 15
Da tua mão, com efeito, é impossível
escapar:
[As feras, os insetos e a serpente de bronze] 16
os ímpios que negavam conhecer-te
5
Com efeito, quando veio contra estes o foram açoitados com a força do teu braço,
furor cruel das feras, sofrendo a perseguição de chuvas
e começaram a morrer pelas mordidas estranhas e saraivas e tempestades,
de cobras venenosas, e sendo consumidos pelo fogo.
17
a tua ira não perdurou para sempre. O que, porém, era admirável é que na
6
Pois foram atribulados por pouco tempo, água, que tudo apaga,
para advertência, o fogo ficava mais forte: Sb
recebendo logo um sinal de salvação pois o orbe é vingador dos justos!
18
para se lembrarem do mandamento Algumas vezes abrandava-se a chama
da tua Lei. para que não queimasse os animais
7
De fato, quem se voltava era curado, enviados contra os ímpios,
não por aquilo que via, mas isto para que, ao ver o fenômeno,
mas por ti, salvador de todos. eles soubessem
8 que estavam sendo perseguidos pelo
E nisto mostraste a nossos inimigos
juízo de Deus.
que és tu quem liberta de todo mal. 19
9 Outras vezes, até no meio das águas
Quanto àqueles, as mordidas de o fogo ardia acima da sua força habitual,
gafanhotos e moscas os matavam, para consumir os produtos de uma
e não se encontrou remédio para terra ímpia.
preservar sua vida, 20
Em contrapartida, nutriste o teu povo
pois eram dignos de serem exterminados com um alimento de anjos:
desse modo; de graça lhes enviaste, do céu, um pão
10
aos teus filhos, porém, já preparado,
nem os dentes de dragões venenosos contendo em si todo sabor
os venceram, e satisfazendo a todos os gostos.
pois a tua misericórdia, intervindo, 21
Este teu sustento manifestava aos filhos
os curou. a tua doçura;
11
A fim de se lembrarem das tuas palavras pois, adaptando-se ao desejo de quem
eles eram picados mas, logo, salvos, o comia,
para que, não caindo no profundo convertia-se naquilo que cada um queria.
esquecimento da morte, 22
A neve e o gelo suportavam o fogo e
não ficassem excluídos da tua ação não se derretiam,
benfazeja. para que eles soubessem que o fogo,
12
De fato, não foi erva nem pomada ardendo no granizo e refulgindo
que os curou, na chuvarada,
mas a tua Palavra, Senhor, que tudo cura! acabava com os frutos dos inimigos;
13
Pois tu tens poder de vida e de morte, 23
e o mesmo fogo também se esquecia
levas às portas da morte e de lá trazes da sua força,
devolta. para que os justos pudessem alimentar-se.

Nm 11,10-32.  16,5-14 3ª antítese Egito-Israel (depois de 11,4ss e 16,1ss). • 5-7 >Nm


21,4-9; Jo 3,14-17. • 9 >Ex 8,16-20; 10,4s. • 12 >Sl 107,20. • 13 >Dt 32,39; 1Sm 2,6*.
 16,15-29 4ª antítese Egito-Israel. • 16 >Ex 9,24s; Sl 78,47s. • 20 >Ex 16; Sl 78,25; 105,40.
Sabedoria 16–17 788

24
Assim a criação, servindo a ti, seu Criador, e espectros lúgubres, de semblante triste,
redobra suas forças para atormentar lhes apareciam.
5
os injustos Nenhum ardor de fogo podia
e se abranda em benefício dos que fornecer-lhes luz,
confiam em ti. nem as límpidas chamas dos astros
25
Por isso, transformando-se então podiam iluminar aquela noite horrenda.
6
totalmente, Aparecia-lhes somente um fogo
ela se punha ao serviço da tua graça, repentino, que incutia medo
que a todos alimenta, e, apavorados com aquela visão que
segundo a vontade daqueles que de ti não se via,
a pediam. imaginavam ser piores as coisas que
26
E assim teus filhos queridos se viam.
7
aprenderam, Senhor, Tinham sido deixados de lado os
que não é a produção de frutos que artifícios da magia,
alimenta as pessoas, e pela Sabedoria gloriosa foi-lhes dado
Sb mas a tua Palavra, que sustenta os que um castigo degradante.
8
crêem em ti. Pois aqueles que prometiam banir das
27
Aquilo que pelo fogo não podia ser almas enfermas
consumido, os temores e as perturbações,
imediatamente, aquecido por um sofriam agora com um temor ridículo.
9
mínimo raio de sol, se desfazia. De fato, embora nada de perturbador os
28
Isto, para que ficasse evidente que é devesse amedrontar,
preciso antecipar-se ao sol assustados com a passagem dos animais
para bendizer-te e, desde o nascer da e com o silvo das serpentes morriam
luz, prestar-te adoração. de medo:
29
Pois a esperança do ingrato se fundirá afirmavam que não percebiam o próprio ar,
como a geada do inverno do qual, no entanto, ninguém
e se perderá como água que escorre. absolutamente pode fugir.
10
A maldade, ao ser condenada, dá
testemunho do seu próprio medo,
[As trevas e a coluna luminosa]
pois a consciência perturbada sempre
1
São grandes e inenarráveis os presume coisas cruéis.
17 teus julgamentos;
por isso, os que não tinham a instrução
11
Aliás, o medo não é outra coisa
senão a falta dos socorros que vêm
se extraviaram. da reflexão:
2 12
De fato, quando os iníquos se persuadiram quanto menor é a íntima esperança
de poder dominar a nação santa, dessa ajuda,
perceberam que jaziam cativos das trevas, tanto maior parece a ignorância da causa
agrilhoados a uma longa noite, do tormento.
13
encerrados em suas casas, Eles, porém, naquela noite
fugitivos da perpétua providência. verdadeiramente insuportável,
3
E quando pensavam estar escondidos em saída das cavernas da insuportável
seus obscuros pecados, região dos mortos,
sob o tenebroso véu do esquecimento, dormindo o mesmo sono,
14
foram dispersados sofrendo pavor horrível, ora eram agitados pelos monstros dos
perturbados até pelas sombras. fantasmas,
4
Pois nem a caverna que os abrigava ora desfaleciam como se entregassem
preservava-os do medo, oespírito:
porque ruídos que desciam até eles os um medo repentino e inesperado se
perturbavam, derramava neles.

• 24s >5,17; Sl 104,27s.  17,1–18,4 5ª antítese Egito-Israel. • 1 >Rm 11,33-35*. • 2 >Ex 20,21-23
789 Sabedoria 17–18

15 4
Por isso, se algum deles ali caísse, Aqueles, de fato, mereciam estar
era mantido preso num cárcere sem grades. privados de luz
16
Quer se tratasse de um camponês ou e sofrer o cárcere das trevas,
de um pastor de ovelhas, por terem mantido presos teus filhos,
ou de um trabalhador ocupado nas lides pelos quais começava a ser dada ao
do campo, mundo a luz incorruptível da Lei.
sofria uma necessidade inescapável,
pois todos estavam presos por uma [A morte dos primogênitos e a libertação]
mesma cadeia de trevas. 5
17
Fosse o vento soprando, ou o suave Quando intentaram matar os filhinhos
canto dos pássaros dos justos
entre os espessos ramos das árvores, – um dentre eles tendo sido libertado,
ou o ritmo da água correndo com ímpeto, depois de exposto –
ou o som seco das rochas que em compensação por eles, arrebataste
desmoronavam, uma multidão de filhos
18
ou a corrida invisível dos animais e os destruíste juntos na água Sb
que saltitavam, impetuosa.
6
ou o rugido dos animais ferozes Aquela noite fora antes conhecida por
que bramiam, nossos pais
ou o eco que reboava da cavidade a fim de que, sabedores dos juramentos
dos montes, em que tinham crido,
tudo os fazia desfalecer de terror. se mostrassem mais confiantes.
7
19
Entretanto, o orbe terrestre inteiro era Ela foi acolhida pelo teu povo como
iluminado por uma luz fúlgida, salvação dos justos,
enquanto se mantinha sem impedimento mas também como extermínio dos
em seus trabalhos. injustos:
8
20
Somente sobre eles pesava uma noite assim como puniste os adversários,
profunda, assim também nos engrandeceste,
imagem das trevas que haviam chamando-nos a ti.
9
de recebê-los: Em segredo, os filhos justos dos bons
eles próprios, aliás, eram mais pesados ofereciam sacrifícios
para si mesmos que as próprias trevas. e, de comum acordo, estabeleceram
1
Para teus santos, porém, a luz estaleidivina:
18 era fulgurante.
Aqueles lhes ouviam a voz, mas não
que os santos haveriam de acolher da
mesma forma bens e perigos,
viam sua figura; já antecipadamente entoando os hinos
e os exaltavam, por não terem sofrido de seus pais.
10
as mesmas coisas. Entretanto, ressoava o clamor dissonante
2
Também lhes agradeciam porque, dos inimigos,
tendo sido antes prejudicados, não e se difundia o som lamentoso dos que
se desforravam; choravam seus filhinhos.
11
e pediam perdão porque, anteriormente, Com o mesmo castigo foi atingido o
os haviam oprimido. servo e o senhor,
3 o homem do povo sofrendo de modo
Assim, providenciaste uma coluna
ardente de fogo semelhante ao rei:
12
como guia para o caminho desconhecido, da mesma forma todos, com o mesmo
e um sol inofensivo para a sua gloriosa tipo de morte,
peregrinação. contavam mortos inumeráveis.

• 20 >18,1. • C. 18,1-3 >Ex 10,23; 13,21s.  18,5-19 6ª antítese Egito-Israel. A morte dos primogênitos
é o castigo do genocídio cometido pelos egípcios. • 5 >Ex 1,22–2,10; 12,29s; 14,26-28. • 10s >Ex 11,5s.
Sabedoria 18–19 790

22
Já não bastavam os vivos para sepultá-los, E assim venceu a Ira, não pela força corporal
porque a um só momento fora exterminada nem pelo poder da armadura,
a parte melhor da sua geração. mas pela Palavra submeteu o Castigador,
13
E eles, que descriam de tudo por causa recordando os juramentos e as alianças
dos seus malefícios, dos antepassados.
23
agora, na matança dos seus primogênitos, Como já em multidão caíssem, mortos,
deviam confessar que esse povo é filho uns sobre os outros,
de Deus! ele interveio e sustou a arremetida da Ira,
14
De fato, quando um tranqüilo silêncio barrando-lhe o caminho que levava aos
envolvia todas as coisas que ainda viviam.
24
e a noite chegava ao meio do seu curso, Na sua veste sacerdotal estava representado
15
a tua Palavra todo-poderosa, vinda do todo o orbe terrestre,
céu, do seu trono real, as façanhas dos patriarcas, no entalhe
precipitou-se, como guerreiro impiedoso, das quatro ordens de pedras,
ao meio de uma terra condenada ao e a tua Majestade, no diadema da
Sb extermínio. sua cabeça.
25
Levando o teu decreto irrevogável como Diante dessas coisas, o Exterminador
espada afiada, parou e delas teve medo;
16
ela encheu tudo de morte a simples amostra da tua Ira já era
e, mesmo estando sobre a terra, atingia suficiente.
o céu.
17
Então, de repente, a visão de sonhos [Egito, Israel e o mar Vermelho]
1
terríveis os perturbou Sobre os ímpios, porém, abateu-se
18
e lhes sobrevieram inesperados temores,
enquanto, arrojados para um lado e para
19 até o fim uma cólera implacável.
Pois Deus sabia com antecedência o que
o outro, semimortos, iriam fazer
2
patenteavam a causa da morte de que De fato, após permitirem que os
morriam. justos saíssem
19
Pois as visões que os perturbavam e depois de os despedirem com grande
advertiam-nos antecipadamente, insistência,
para que não perecessem ignorando a iriam mudar de idéia e os perseguiriam.
3
causa dos males que sofriam. Assim, enquanto estavam ainda de luto
e chorando junto aos túmulos dos mortos,
[A intervenção de Aarão] tomaram outra resolução absurda
20
e, aos que haviam suplicado para que
É verdade que também aos justos feriu partissem,
uma provação mortal perseguiam agora como fugitivos.
e aconteceu no deserto a morte de 4
Uma fatalidade merecida os arrastava
uma multidão, a tal extremo:
mas a tua ira não perdurou por infundiu neles o esquecimento do que
muito tempo. acontecera,
21
Pois um homem irrepreensível apressou-se para assim acrescentar aos seus tormentos
em lutar por eles o castigo que faltava.
sobraçando o escudo do seu ministério: 5
Enquanto, pois, o teu povo experimentava
a oração e a propiciação pelo incenso. uma caminhada maravilhosa,
Ele resistiu à Ira e pôs fim à fatalidade, eles mesmos encontrariam uma morte
demonstrando que era teu servo. fora do comum.

• 13 >Dt 1,31; Os 11,1. • 14 A noite da libertação de Israel do Egito; >Ex 11,4; 12,19. • 15 >Ap
19,11-15.  18,20-25 Israel tem o sacerdócio aarônico para interceder junto a Deus. • 20 >Nm
17,6-15; 1Cor 10,8. • 22-25 O Castigador é a personificação da ira (v. 23.25) de Deus; cf. v.
25, o Exterminador”. • 24 >Ex 28,17ss.36.  19,1-12 7ª antítese. • 2 >Ex 11,1; 14,5-9.
791 Sabedoria 19

6 14
Então, a criação inteira, obediente às Houve quem não acolhesse visitantes
tuas ordens, desconhecidos;
foi de novo remodelada em cada espécie outros reduziram à escravidão esses
de seres, como no princípio, hóspedes que lhes faziam bem.
para que teus filhos fossem 15
E não só isto: se ainda se aguarda
preservados ilesos. julgamento contra aqueles
7
Apareceu a nuvem para dar sombra que receberam com hostilidade a
ao acampamento, estrangeiros,
e a terra enxuta surgiu da água que 16
quanto mais contra os que atormentaram
antes havia: com cruéis sofrimentos
no mar Vermelho abriu-se um caminho aqueles a quem tinham recebido
desimpedido com alegria
e as ondas violentas se transformaram e que haviam participado dos mesmos
num campo verdejante . direitos!
8 17
Por aí passaram, com toda a nação, Por isso, foram feridos de cegueira
os que por tua mão eram protegidos, como aqueles, à porta do justo, Sb
contemplando teus prodígios admiráveis. quando, envolvidos em densas trevas,
9
Como cavalos bem nutridos cada qual procurava a direção da sua casa.
e como cordeiros correndo aos saltos,
glorificavam a ti, Senhor, seu libertador. [Conclusão. Nova harmonia]
10
Lembravam-se ainda do que acontecera 18
no seu exílio, Assim, os elementos entre si se
quando a terra, em vez de outro gênero harmonizavam,
de animais, produzira moscas, como na harpa, onde os tons mudam
e o rio, em vez de peixes, expelira a natureza do ritmo,
multidão de rãs. conservando, todavia, a mesma sonoridade.
11
Mais tarde viram também nova espécie É o que se pode deduzir, com certeza,
de pássaros, da simples observação dos fatos:
19
quando, levados pelo apetite, pediam animais terrestres transformavam-se
manjares de banquete: em aquáticos,
12
para satisfazer ao seu desejo, e os que nadavam saltavam para a terra;
20
do mar subiram para eles as codornizes. na água, o fogo excedia sua própria força,
e a água esquecia seu poder de extinção.
21
[O pecado do Egito supera Sodoma]
Por outro lado, as labaredas não
consumiam a carne
13
Sobre os pecadores, porém, caíram os dos frágeis animais que andavam entre elas,
castigos de raios violentos, nem derretiam aquele alimento de
não sem as advertências que antes lhes imortalidade,
tinham sido feitas; semelhante ao gelo e fácil de se desfazer!
mas sofriam justamente por causa de 22
Em tudo, Senhor, engrandeceste o
suas próprias maldades, teu povo:
por terem praticado a mais detestável falta tu o honraste e não o desprezaste,
de hospitalidade. assistindo-o em todo tempo e lugar!

• 7 >Ex 14,19-22. • 9 >Ex 15.  19,13-17 • 13 Ex 19,18. • 14 Jz 19,15-30; Gn 47,25. • 15 Receber os


estrangeiros faz parte da piedade de Israel, e é o contrário daquilo que os egípcios estão fazendo com
os judeus de Alexandria. • 17 >Gn 19,11; Ex 10,21-23. • casa, lit.: porta.  19,18-22. • 21 imortalidade,
em gr.: ambrosia (LXX). • 22 >Is 45,17.25.

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