Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
OS
SABORES
DA NOSSA
TERRA
Uma viagem ao
património gastronómico
do Oeste, do Ribatejo,
do Ribatejo Norte,
da Charneca Ribatejana
e da Península de Setúbal
OS
SABORES
DA NOSSA
TERRA
Uma viagem ao
património gastronómico
do Oeste, do Ribatejo,
do Ribatejo Norte,
da Charneca Ribatejana
e da Península de Setúbal
1
A gastronomia e o vinho, como seu natural parceiro, de produção e o conhecimento sobre a origem do
constituem hoje, reconhecidamente, um dos mais que comemos e proporcionamos a quem nos visita,
importantes produtos da oferta turística nacional, facilmente perceberemos a importância de defender
com evidentes, e crescentes, reflexos nas economias os nossos produtos, a nossa gastronomia e os nossos
regionais. vinhos como factores de riqueza regional e nacional.
Conscientes desta realidade, cinco Associações de Algumas receitas quase esquecidas e produtos em
Desenvolvimento das regiões do Oeste, Ribatejo, e vias de desaparecer têm vindo a ser recuperados
Península de Setúbal decidiram promover, em parce- e redescobertos ou mesmo descobertos por novas
ria, este livro dedicado à culinária e aos produtos das gerações que, mais informadas, optam pelo que tem
respectivas regiões. mais sabor e garante melhor qualidade de vida.
Depois do trabalho de pesquisa junto de autarquias e Pretende-se com esta publicação promover a utili-
outras fontes locais, selecionaram-se vinte receitas e zação preferencial de produtos regionais, isolados
produtos de cada espaço geográfico de actuação, da ou integrados na confecção culinária, o que, para
respectiva associação. além de garantir maior autenticidade e sabor à oferta
gastronómica, contribui para o desenvolvimento da
Como é habitual, muitas das receitas recolhidas economia local.
apresentam mais do que uma versão, com maiores
ou menores diferenças, e quase sempre reclaman- Compete ao consumidor insistir na procura, como
do-se de que “esta é que é a verdadeira”, numa clara forma de estimular a oferta.
demonstração do valor atribuído às tradições. Sem
surpresas, muito do conhecimento já se perdeu, o
que valoriza ainda mais a informação que se recupe-
ra nesta e noutras publicações.
3
5
7
PORTUGAL
Oeste, Ribatejo Norte, Ribatejo,
Charneca Ribatejana e Península de
Setúbal
9
INTRODUÇÃO
Entramos num restaurante à procura de emoções. Os territórios envolvidos apresentam inúmeros recur-
Quando nos sentamos à mesa, esperamos que a sos. Não só os produtos alimentares de excelência e
ementa tenha um prato genuíno e que a sugestão as tradições gastronómicas, mas também os agentes
de um vinho realce os seus sabores, como se ambos económicos, cada vez mais interessados em associar
fossem um só, numa união perfeita e harmoniosa. a sua promoção às tradições e às heranças culturais.
Quando somos servidos, os aromas invadem o nosso Deste encontro, emerge a genuinidade e a diferen-
espírito. Os olhos brilham e a boca saliva, com a ciação da oferta turística. O presente livro pretende
vontade urgente de iniciarmos a primeira garfada e o ser uma descoberta surpreendente do mundo da
primeiro brinde. gastronomia, da cultura e da história do Vale do Tejo.
Esperamos que todos os leitores sintam o desejo de
Gostos e sabores, histórias e tradições, emergem no experimentar e de conhecer as receitas e os vinhos
nosso imaginário, revisitam a nossa memória. E no seleccionados, e que partam à descoberta destas
fundo da alma escutamos: “Estes são nossos, são regiões singulares.
produzidos na nossa terra, foram acarinhados pelos
nossos produtores e pelos nossos chefes, foram con- Um agradecimento especial à Entidade Regional de
feccionados com a mestria de anos de sabedoria e Turismo da Região de Lisboa, que apadrinhou este
experiência”. Algumas receitas carregam séculos de projecto desde o primeiro momento, sempre presen-
existência, trazem consigo histórias e memórias que te, sempre atenta e interessada, defensora e pro-
surgem enquanto conversamos. Pensamos…Espero motora da gastronomia local além-fronteiras. Uma
voltar um dia…Sozinho, em família ou com alguém saudação aos Municípios, Confrarias Gastronómicas,
especial… Comissões Vitivinícolas Regionais e Escolas de
Hotelaria e Turismo, pela colaboração, pelos es-
À volta da mesa, cinco Grupos de Acção Local da re- clarecimentos e pelo acolhimento, e também aos
gião do Vale do Tejo – ADIRN, ADREPES, APRODER, produtores, aos pescadores, aos cozinheiros e aos
CHARNECA RIBATEJANA e LEADEROESTE – deci- chefes que todos os dias trabalham para termos à
diram desenvolver um projecto de cooperação finan- mesa produtos de elevada qualidade, perpetuando a
ciado pelo PRODER – Programa de Desenvolvimento nossa identidade gastronómica local. Esperamos que
Rural, com o objectivo de fazer renascer o receituário sejam cada vez mais.
do Oeste, da Península de Setúbal e do Ribatejo,
dando a conhecer as suas origens históricas, reve- Bem comido, a minha alma de nada quer saber.
lando as suas influências, inventariando os produtos E nem os maiores desgostos a conseguem comover.
locais utilizados e o modo como são confeccionados. Molière
11
INDÍCE
15 RIBATEJO NORTE 63 RIBATEJO 111 CHARNECA RIBATEJANA 163 PENÍNSULA DE SETÚBAL 213 OESTE
24 Sopa de Nabos com 72 Sopa de Peixe do Rio 122 Sopa de Feijão com 172 Sopa Caramela 226 Caldeirada à Nazarena 269 Notas
Feijão 74 Sopa de Coelho Couve 174 Enguias Fritas com 228 Ensopado de Enguias 272 Associações
26 Sopa de Lagostins 76 Caldeirada à Fragateiro 124 Sopa de Feijoca com Favas de Coentrada 230 Lagosta Suada à Moda Promotoras
28 Sopas de Verde 78 Tiborna de Bacalhau Massa 176 Arroz de Lamejinhas de Peniche 276 Bibliografia
30 Enguias do Boquilobo 80 Lapardana 126 Sopa da Pedra 178 Lamejinhas com Cebola 232 Codorniz Recheada com 279 Ficha Técnica
32 Ensopado de Enguias 82 Magusto 128 Requentado 180 Espetadas de Ostras Couve e Chouriço
34 Migas de Bacalhau 84 Enguias à Paúl 130 Açorda de Sável 182 Choco Frito à 234 Cavacas das Caldas
36 Chícharos com 86 Cabrito Assado no Forno 132 Ensopado de Enguias Setubalense 236 Cornucópias
Bacalhau Assado 88 Carne de Porco à Feira 134 Cabrito Assado no Forno 184 Polvo no Forno 238 Trouxas de Ovos
38 Caldeirada de Peixe do dos Santos à Moda do Ribatejo 186 Caldeirada à Fragateiro 240 Pão-de-Ló de Alfeizerão
Rio 90 Favas com Entrecosto 136 Cabrito com Grelos à da Moita 242 Sardinhas Doces da
40 Lampreia de Sangue 92 Galo com Nozes Moda da Azinhaga 188 Caldeirada de Alcochete Nazaré
42 Açorda de Sável 94 Naco de Boi com Vinho 138 Arroz de Bucho 190 Caldeirada à 244 Mimosos do Bombarral
44 Frango na Púcara à Tinto 140 Migas de Batata com Sesimbrense 246 Pastel de Feijão
Templários 96 Torricado Carne de Porco 192 Massa de Safio 248 Bruxas de Arruda
46 Cabrito Assado com 98 Arrepiados de Almoster 142 Favas com Entrecosto 194 Favas à Pameloa 250 Uvada
Batatas e Grelos 100 Celestes de Santa Clara 144 Feijoada à Lavrador 196 Lebre à Ti Zé da Avó 252 Bolo dos Generais
48 Friginada 102 Queijadinhas de 146 Lebre com Couve e 198 Farrafuza 254 Aguardente DOC
50 Broinhas de Alcanena Azambuja Feijão Branco 200 Farinha Torrada Lourinhã
52 Bolos de Cabeça 104 Pão-de-Ló de Rio Maior 148 Arroz de Castanhas 202 Fogaças de Alcochete 256 Licor de Ginja
54 Tigeladas de Ferreira do 106 Caspiadas 150 Morcelas de Arroz 204 Fogaças de Palmela 258 Maçã de Alcobaça
Zêzere 108 Queijo Maçussa Grelhadas 206 Tortas de Azeitão 260 Pêra Rocha
56 Merendeiras 152 Túberas Mexidas com 208 Queijo de Azeitão 262 Mel de Montejunto
58 Fatias de Tomar Ovos 210 Moscatel de Setúbal e 264 Carapau Seco e Enjoado
60 Figuinhos de Torres 154 Patudos Moscatel Roxo
Novas 156 Pudim de Pão
158 Broas de Batata Doce e
Amêndoa de Benavente
160 Carne de Toiro Bravo
13
RIBATEJO
NORTE
15
Na extensão do panorama ribatejano, conseguimos abraçar três paisagens distintas: a Lezíria, a Charneca e o
Bairro. A Lezíria é a planície que o Tejo rasga, lisa, verde, à espera que o rio alastre para que tudo se torne água,
nateiro, vida. A Charneca estende-se do Tejo até ao Alentejo, e esse espraiar faz-se de solos arenosos onde lançam
raízes os sobreiros que em tanto enriquecem a região. Por último, o Bairro, a margem direita do rio que se impõe,
chão de oliveiras, de figueiras, de vinha, numa vista que abarca serras rochosas e vales frondosos rasgados pelo Tejo
e pelos seus afluentes, Zêzere, Nabão, Almonda e Ocreza. Estamos no Ribatejo Norte, território dos Cavaleiros do
Templo, devotos, em armas, a Cristo, e dos peregrinos de Nossa Senhora de Fátima. Terra de contrastes, abençoada
por solos generosos, por água em fartura, mas também por rudeza e austeridade, com um património religioso,
arquitectónico e artístico de valor incalculável.
Alcanena Ferreira do Zêzere
Desconfia-se que se deve aos mouros os primeiros Foi em 1159 que D. Afonso Henriques doou aos
indícios de trabalhos de curtimentos de pele nesta Templários o termo de Ceras, território que hoje
zona; certo é que, nos finais do Século XVIII, este já inclui cerca de metade da área do concelho. Anos
era um ofício relevante numa comunidade economi- mais tarde, em 1190, já no reinado de D. Sancho I, o
camente viva. Data de 1792 o alvará de D. Maria I a monarca legou a Pedro Ferreiro várias herdades na
Manuel Francisco Galveias para o assentamento, em região, como recompensa dos serviços prestados na
Alcanena, da Fábrica de Sola, Atanados e Bezerros, luta contra as hordas sarracenas. Senhor de vastas
a segunda instalação industrial do género no País. propriedades, o besteiro do rei, Pedro Ferreiro, atri-
O brasão real que assinala a licença régia resistiu ao buiu foral a Vila Ferreiro, futura Ferreira do Zêzere.
tempo, e é hoje uma testemunha em pedra do valor Em 1319, estas terras já se encontravam nas mãos
que esta actividade já detinha nessa época. Sabe-se dos cavaleiros do Templo.
que a indústria de curtumes foi prosperando ao lon-
go de oitocentos anos. Em 1867, contavam-se na fre- Toda esta região é ilustrada por uma paisagem
guesia 472 fogos, o dobro do número existente cem admirável que desde há muito impressiona artistas e
anos antes. A afluência e a fixação de operários foi viajantes. A célebre Estalagem dos Vales, hoje desa-
crescendo à medida que o investimento em unidades parecida, foi tecto de ilustres figuras das artes como
fabris ia aumentando, e essa cada vez maior afluên- o pintor José Malhoa e o actor Taborda. D. Carlos I
cia de trabalhadores foi deixando marcas nos usos chegou a pernoitar no modesto albergue. Foi lá que
e nos costumes regionais. A gastronomia também Alfredo Keil escreveu “A Portuguesa”, adoptada como
foi influenciada por estes homens que, por serem de hino nacional em 1911. Com o Zêzere a serpentear
uma classe mais remediada, sempre souberam tirar pelos vales, o rio tomou lugar nas mesas da zona. Os
o melhor partido dos recursos que tinham à mão. lagostins, antes uma praga, hoje são um interessante
contributo para a gastronomia local.
17
Ourém Tomar Torres Novas Vila Nova da Barquinha
Terra de velhos pergaminhos, Ourém já era citada no Gualdim Pais, figura de referência para os naban- O concelho de Torres Novas desenha-se com a ajuda Campos bem cultivados na terra fértil da lezíria, oli-
Século XII, quando ainda era conhecida por Abdegas. tinos, era Mestre da Ordem dos Templários quan- da Serra d’Aire, a Norte, da Serra dos Candeeiros, a vais que se sucedem, as águas do Tejo a recortarem
Com a expulsão dos árabes do território pelas forças do estes monges guerreiros ajudaram D. Afonso Oeste e das terras do Paúl, a Sul. A cidade propria- as fundações do castelo de Almourol e a correrem
de D. Afonso Henriques, o topónimo foi alterado para Henriques a tomar Santarém. O monarca, agra- mente dita assenta nas margens do rio Almonda sem tréguas, assim é a paisagem de Vila Nova da
Aurem, que viria a dar em Ourém. Frei Bernardo de decido, doou aos cavaleiros do Templo o castelo e firma-se nas colinas que o dominam. O castelo, Barquinha. Erguido num afloramento granítico, num
Brito, na “Crónica da Ordem de Cister”, tem uma ver- e as terras de Ceras, a que mais tarde se juntou o orgulhosamente altaneiro, sobressai do casario que rochedo de cerca de 18 metros acima da linha de
são bem mais poética acerca do nome do concelho. de Almorol e o de Pombal. Esta era, na altura, uma se multiplicou à sua sombra e é uma prova inequívo- água, Almourol é uma fortaleza única cuja história
Conta que, no distante dia de São João de 1158, João zona devastada pela guerra, quase deserta pelas co da antiguidade desta terra. No fio da História, fo- remonta à ocupação sarracena da Península. Hoje é
Henriques, um cristão que participou na tomada do desafortunadas consequências das lutas com os ram-se cruzando por aqui vários povos e credos, dos um monumento único no panorama nacional e um
castelo de Alcácer do Sal, raptou uma princesa árabe sarracenos, um território pronto a ser apaziguado e gregos aos cartagineses, dos romanos que conquis- verdadeiro ex-libris do concelho.
e escondeu-a num recanto da Serra de Aire. Fátima, desenvolvido por estes guerreiros que levavam a cruz taram a Lusitânia, aos godos, suevos e alanos que
uma moura de coração doce, apaixonou-se pelo de Cristo ao peito. Como o castelo de Ceras era uma expulsaram de novo os latinos, até que chegaram os William Grant, viajante irlandês que se aventurou por
seu sequestrador e converteu-se ao cristianismo, ruína desolada, o Mestre Gualdim Pais construi num árabes escorraçados daqui por D. Afonso Henriques terras lusas em plenas guerras napoleónicas, des-
mudando o nome para Oureana. O lugar onde o casal morro das margens do Nabão o castelo que havia de nos alvores da nacionalidade. De lá até hoje, o conce- creve assim a sua passagem pela região: Por todos
se refugiou na serra viria, segundo Frei Bernardo de ser cabeça da melícia. A fortaleza tomou o nome de lho foi-se desenvolvendo. No Século XVI era uma das os lados aparecia uma diversidade de bosques (...) e,
Brito, a adoptar o nome cristão da princesa, dando Tomar, assim como a vila que ia crescendo aos seus vilas mais povoadas do reino e, após os infortúnios para fechar e dar vida à cena, surgia na parte detrás
origem a Ourém, a vila de Oureana. pés. Hoje, quase todo o grande acervo patrimonial do das invasões francesas e das lutas liberais, a região uma linda aldeia onde quase todos eram pescadores.
concelho está relacionado com a Ordem do Templo ganhou fôlego abraçando a revolução industrial que Isto oferecia a vista mais formosa que tínhamos visto
Com a erradicação dos sarracenos desta região, D. e com a sua sucessora Ordem de Cristo. Das muitas agitava a Europa. Tornou-se um importante centro desde que tínhamos deixado Lisboa. Esta imagem pi-
Afonso Henriques entregou à Ordem de Cister uma edificações, há uma que se destaca, o Convento de fabril com a criação de várias fábricas de fundição, toresca destaca a importância da pesca nesta região,
boa parcela de terras. Os monges instalados no Cristo, incontornável e de visita obrigatória. Raul de fiação, de serralharia, unidades que empregavam ocupação ancestral das gentes da terra, habituadas
Mosteiro de Tomareis amanhavam os solos e tor- Proença escreveu: Se Guimarães foi o berço dinástico muita gente. A primeira fábrica de papel da Renova à presença líquida do curso do rio. No Século XIX,
naram-se um motor impulsionador da economia da de Portugal, o símbolo da reconquista nacional (…) foi aqui inaugurada em 1818. as dificuldades em tirar do oceano sustento obriga-
zona. O vinho, elemento tão simbólico na Eucaristia, está em Tomar, no monumento que transplantou para ram muitos pescadores do litoral a tentar a sorte no
foi um dos produtos a que a Ordem se dedicou com uma das fronteiras de Portugal do Século XII uma A agricultura, tão importante para a subsistência Tejo. Alguns instalaram-se no concelho, construindo
cuidado. Apreciado por toda a região, os monges evocação do Templo da Cidade Santa, enriquecido de das gentes, sofreu uma alteração no início do Século aldeias piscatórias e aproveitando em muito a abun-
transmitiram aos habitantes da zona o seu método policromias e oiros ardentes. XX, com a plantação massiva de figueirais em Torres dância dos recursos naturais fornecidos pelos três
de produção de vinho. Novas, como alternativa à vinha. Augusto Durão rios que banham a região: o já referido Tejo e os seus
A herança da Ordem ainda hoje persiste e vai muito Alves, na monografia “Torres Novas Ontem e Hoje”, afluentes Zêzere e Nabão.
Actualmente, este vinho palhete, cujo método de além da pedra e da arte. A gastronomia também a em 1942, já referia várias especialidades à base de
vinificação conta com oitocentos anos de história, lembra com as famosas fatias de Tomar, um doce figo, sublinhando que o mais característico e regional Se o peixe de rio sempre fez parte da mesa dos ha-
constitui uma das muitas ofertas genuínas e de conventual que, segundo a lenda, era o preferido dos é o Doce de Figo, rústico, apetitoso e apresentado bitantes da região, o azeite, desde o Século passado,
qualidade disponíveis na «Ucharia do Conde», um monges. Tal como manda a tradição, exorbita na em cestinhas de verga. Este fruto também originou tornou-se um produto vital para a economia local,
espaço de promoção dos produtos locais situada no quantidade de ovos e açúcar, verdadeiros potencia- uma aguardente muito apreciada na região. tendo-se multiplicado lagareiros e lagares por todo o
edifício da antiga prisão, no bonito Centro Histórico dores do pecado da Gula. concelho.
de Ourém.
19
GASTRONOMIA
REGIONAL
Alcanena Tomar
Morcela de arroz grelhada, farinheira, sopas de feijão Bolas de carne ou enchidos, bacalhau à Nabão,
com couves e de nabos com feijão, massa de baca- lampreia com molho de sangue, almôndegas de
lhau, migas de bacalhau, cachola, cabrito guisado, lebre à D. Henriqueta, couves à D. Prior, cabrito à
favas guisadas com carne de porco e iscas de porco Templários, frango na púcara à Templários, frango à
à Ti Violeta. Nos doces, destacam-se as rocas, as freire de Cristo, vaca de molho de bruxa e feijoada de
broinhas de Alcanena, as rabichas e as broas de mel. caracóis. Nos doces, os bolos de cama ou, sugestiva-
O vinho, os vinagres e os licores da serra de Santo mente, os beija-me depressa, e também os caladi-
António fazem igualmente parte da oferta de sabores nhos, estrelas de Tomar, queijadas de gila, pudim da
deste concelho. sogra, rosas de Tomar, pastelinhos de Santa Marta,
broinhas do convento e as cornucópias.
Ferreira do Zêzere
Queijo das Areias, omelete de lagostim, lagostim de Torres Novas
capote, peixinhos da horta, sopas de lagostim, de Ovos cá do sítio, petingas no forno, morcela de arroz,
fava ou de abóbora, achigã frito com arroz de tomate sopa de couve com feijão à moda de Riachos, sopa
e migas, risoto de lagostim, coelho na abóbora, leitão de fressura à moda de Riachos, crescidos das couves
à ferreirense ou cabrito assado com grelos. Nos do- com feijão, migas à Manuel Pescador com enguias
ces é difícil resistir às tijeladas, aos bons maridos e no espeto, enguias do Boquilobo, cabrito assado com
boas esposas, às estrelinhas do Zêzere, às queijadas batatas e grelos, migas de bacalhau, requentado com
de queijo, aos bolinhos dos santos, às migas doces bacalhau assado ou petingas fritas. Nos doces, fi-
ou à mousse de fava. guinhos de Torres Novas, figos de capa rota, doce de
amêndoa, bolinhos de farinha de milho, bolos de ca-
Ourém beça ou bolos de noivos, palitos de Sabóia e sopapos.
Farinheira branca, broa da Freixianda, merendeiras
salgadas, morcela de arroz, papas de milho com Vila Nova da Barquinha
abóbora, sopas de verde, sopa de bacalhau, sopas de Molhata de enguias, peixinhos do rio de escabe-
feijão ou de azeite, mexudas ou esparregado, chí- che, sopa de peixes do rio, sopa de peixe à Sol Tejo,
charos com bacalhau assado, friginada ou tachada, caldeirada de peixe do rio, barbos de molhata, fataça
carneiro à Vale Travesso e coelho à bruxa. Nos doces, na telha, açorda e sopa de sável, arroz de lampreia
destacam-se as merendeiras doces, o bolo de arco, e cabrito frito da Praia do Ribatejo. Nos doces, o
de cabeça ou de festas e os bolinhos dos santos. destaque vai para o pirilau do Padre Ambrósio, mas
é difícil resistir também ao bolo de noz, ao bolo de
Natal, às velhozes e ao doce de pão.
21
AGENDA
GASTRONÓMICA
Fevereiro Outubro
Mostra da Lampreia, em Tomar Todos com o Feijão... Feijão com Todos, em Tomar
Feira dos Frutos Secos, em Torres Novas
Março
Feira dos Produtos da Terra, em Ourém Novembro
Mês do Sável e da Lampreia, em Vila Nova da Festival Migas com Todos, em Ferreira do Zêzere
Barquinha (Mar./Abr.) Festival Gastronómico da Cachola e da Morcela, em
Alcanena
Abril Prova do Azeite, em Vila Nova da Barquinha (Nov./
Festival de Lagostins do Rio, em Ferreira do Zêzere Dez.)
De Tomar e dos Conventos – Doçaria Tomarense, em Festival do Chícharo, em Bugalhos, Alcanena.
Tomar
De Fevereiro a Novembro, jantares temáticos men-
Maio sais na “Ucharia do Conde”, em Ourém
Vai à Fava - Festival Gastronómico da Fava, em
Ferreira do Zêzere
Congresso da Sopa, em Tomar Vinhos da Região
Festival de Cozinha Medieval, Festa Templária, em Os vinhos produzidos nesta região integram a
Tomar Comissão Vitivinícola Regional do Tejo. Excepção
Feira d’Época, em Vila Nova da Barquinha para o município de Ourém, que integra a Comissão
Vitivinícola Regional de Lisboa.
Junho
Festival Gastronómico Coisas d’Ovo, em Ferreira do
Zêzere
Festival do Azeite e das Ervas Aromáticas, em
Alcanena
Feira Medieval, em Torres Novas
Festa dos Tabuleiros, em Tomar (de 4 em 4 anos, em
Jun./Jul.)
Julho
Festas do Almonda, em Torres Novas
Agosto
Festival Gastronómico da Enguia, em Boquilobo,
Torres Novas
23
SOPA DE NABOS
COM FEIJÃO
25
SOPA DE
LAGOSTINS
27
SOPAS
DE VERDE
29
ENGUIAS
DO BOQUILOBO
31
ENSOPADO
DE ENGUIAS
33
MIGAS
DE BACALHAU
35
CHÍCHAROS COM
BACALHAU ASSADO
37
CALDEIRADA
DE PEIXE DO RIO
39
AÇORDA
DE SÁVEL
41
LAMPREIA
DE SANGUE
43
FRANGO NA PÚCARA
À TEMPLÁRIOS
45
CABRITO ASSADO
NO FORNO
47
FRIGINADA
49
BROINHAS
DE ALCANENA
51
BOLOS
DE CABEÇA
53
TIGELADAS DE
FERREIRA DO ZÊZERE
55
MERENDEIRAS
57
FATIAS
DE TOMAR
59
FIGUINHOS
DE TORRES NOVAS
61
RIBATEJO
63
Por onde passa, o Tejo é o centro de tudo. É o rio que marca o tempo, que condiciona a vida, que fertiliza os solos.
Esta importante corrente de água influencia tudo à sua volta, e a sua importância ultrapassa em muito os estritos
limites das suas margens. Nos invernos rigorosos, o seu leito adensa-se, invade campos, lugares, vilas. Apesar dos
prejuízos, a população agradece: as cheias trazem com elas abundância, bons anos agrícolas e um espectáculo de
rara beleza, concretizado na grandiosidade da paisagem espelhada. Nestes solos ubérrimos, terra afamada de vinho,
também pastam manadadas de gado bovino e cavalar. O cavalo e o toiro de lide fazem parte do imaginário desta
região, e os dois encontram-se cara a cara na, por aqui, mais celebrada das festas, a tourada. Esta é uma tradição
que remonta a outros séculos e que está fortemente enraizada no modo de ser ribatejano.
Azambuja Cartaxo
Nas voltas da História, Azambuja começou por O “Pátio das Cantigas”, uma das mais célebres
ser um lugar habitado por romanos que, em 711 da comédias portuguesas, vive da riqueza dos diálogos
nossa era, foi tomado pelos sarracenos, a quem carregados de duplo sentido. Num deles, Evaristo,
deve o topónimo que significa “oliveira brava”. Os papel desempenhado por António Silva, informa que
cristãos acabaram por prevalecer quando D. Afonso as dessincronizações do seu fígado obrigam-no a ir
Henriques, com os seus ímpetos conquistadores, a águas para o Cartaxo. O ébrio Narciso, encarnado
subjugou os mouros da região em 1147. Desses tem- por um brilhante Vasco Santana, responde “Águas
pos remotos da reconquista até hoje, Azambuja foi do Cartaxo para o fígado? Hum. Compreendi-te”. No
prosperando. O concelho, predominantemente rural, ano em que o filme estreou, em 1941, esta graça era
mantém com o rio, que lhe impõe a fronteira a Sul, imediatamente compreendida pela plateia, já que,
uma estreita relação. Várias comunidades piscatórias para o público em geral, Cartaxo era sinónimo de
fixaram-se nas margens do Tejo. Algumas, vindas da vinho. Desde os finais do Século XIX que esta região
costa Atlântica nos finais do Século XIX, construíram se tornou num importantíssimo centro vinícola. Em
as curiosas casas palafitas que actualmente ainda se meados do século passado, saíam daqui milhões de
podem encontrar, aqui e ali, ao longo do curso do rio. litros de vinho para o ultramar. Actualmente, a quan-
Esta profunda ligação com a terra e com o Tejo re- tidade deu lugar à qualidade. Em 2002, o Cartaxo
flecte-se na gastronomia tradicional, onde é visível a adoptou a designação de «Capital do Vinho», com o
criatividade das suas gentes no aproveitamento dos objectivo de preservar a forte ligação do concelho à
recursos disponíveis. É daqui o queijo de Maçussa, o produção vitivinícola. Este município é um dos fun-
único chèvre produzido em Portugal de forma artesa- dadores e principal impulsionador da Associação de
nal, que conquista espaço, nomeadamente, entre os Municípios Portugueses do Vinho, que, desde a sua
chamados produtos «gourmet». fundação, aqui tem a sua sede.
65
RIO MAIOR SANTARÉM
Elevada a vila em 1836 e a cidade em 1985, Rio Maior Miguel Torga afirmou: O Ribatejo deve ser visto das
é sede de um concelho que alia uma entroncada Portas do Sol de Santarém, num dia de cheia, ou das
tradição agrícola aos progressos da industrialização. bancadas duma praça de toiros, numa tarde de Verão.
Em tempos, foi um grande centro mineiro, tendo sido Num dia de cheia, porque o Tejo hipertrofiado mar-
as suas reservas de linhite uma das maiores do País. ca-lhe exactamente a extensão e os toiros, porque é
Hoje, possui indústrias alimentares, de madeiras e no redondel que se precisa a sua íntima significação.
de cerâmica, mas é o sal que verdadeiramente se Com efeito, o concelho de Santarém deve primeiro
destaca neste panorama. ser conhecido do alto da antiga alcáçova. As Portas
do Sol são uma entrada directa para o céu, para o
É difícil imaginar, mas as marinhas de Rio Maior têm Tejo e para os campos, para esse horizonte rasgado
mais de oito séculos de história. Data de 1177 o mais que se alcança da muralha, que um dia foi defensiva,
antigo documento que se conhece que menciona Rio mas que hoje, feita mirante, nos lança para a mais
Maior e este é o comprovativo da venda, por parte maravilhosa das vistas. Santarém é tudo quanto
de Pêro d’Aragão, de uma vasta área de terreno, que se consegue alcançar daqui: é o olival que lança
abarca o poço e as Salinas de Rio Maior, à Ordem raízes na terra do bairro, é o toiro bravo que pasta
do Templo. O poço original, entretanto, secou com a no campo, o cavalo que é desbastado no picadeiro,
abertura de um novo. Diz a tradição que este último a vinha que é vindimada, o solo que é amanhado, e
foi descoberto por uma pastora que apascentava é o rio, o sempre presente Tejo, que alimenta tudo à
uns animais. Quando a sede apertou, recorreu a uma sua passagem. Mas é muito mais do que isto, é um
poça que encontrou por entre uns juncos. A água lugar cheio de história, de cultura e de património.
que lhe chegou à boca tinha um gosto desagradavel- Conhecida como a “Capital do Gótico”, em Santarém
mente salgado e, quando mais tarde comentou em proliferam vestígios deste estilo arquitectónico em
casa o ocorrido, o pai e os vizinhos apressaram-se a igrejas, campanários, conventos.
cavar a zona.
Nesta cidade, chegaram-se a contar cerca de dezas-
É de destacar que o sal das marinhas do concelho seis mosteiros o que, indiscutivelmente, contribuiu
tem a particularidade curiosa de ser extraído da água muito para a qualidade da doçaria tradicional. As
de poços, alimentados pelas correntes de água que Broas e as Queijadinhas do Céu do Convento de São
atravessam a extensa e profunda jazida de sal-gema. Domingo das Donas, as Celestes do Convento de
Talvez por isso, o produto daqui obtido seja consi- Santa Clara e os Arrepiados do Mosteiro de Almoster
derado superior em qualidade e mais forte que o sal da Ordem de Cister são disso só um exemplo. É
marinho comum. Assim, um bom gastrónomo não também incontornável a associação de Santarém ao
vai a Rio Maior sem de lá trazer uns Queijinhos de Festival Nacional de Gastronomia que ali se realiza
Sal. A sua forma cilíndrica característica é conse- desde 1981 com o objectivo de promover os produtos
guida moldando o sal com sinchos e depois cozido e as tradições do concelho.
em forno de lenha. Para os usar, basta raspá-los com
uma faca.
67
GASTRONOMIA AGENDA
REGIONAL GASTRONÓMICA
Setembro
Feira Nacional da Cebola, em Rio Maior
Outubro
Festival Nacional de Gastronomia, em Santarém
Paraísabor, em Vale do Paraíso, Azambuja
Festa das Vindimas, em Aveiras de Cima, Azambuja
69
71
SOPA DE PEIXE
DO RIO
73
SOPA
DE COELHO
Para a excelência desta Sopa de Coelho, confeccionada A carne de coelho merece ser apreciada com vinhos
com o coelho doméstico alimentado a erva e a hortaliça, tintos elaborados, finos e elegantes, de preferência
concorrem também os produtos hortícolas de qualidade de safras mais antigas e com estágio em madeira.
e o vinho da região, que tão bem combinam com a sua Escolha um vinho da Região Tejo com aroma elegan-
carne suculenta. te e corpo macio, que se enquadre bem com o sabor
único desta carne.
75
CALDEIRADA
À FRAGATEIRO
77
TIBORNA
DE BACALHAU
79
LAPARDANA
81
MAGUSTO
83
ENGUIAS
À PAÚL
85
CABRITO ASSADO
NO FORNO
87
CARNE DE PORCO
À FEIRA DOS SANTOS
89
FAVAS COM
ENTRECOSTO OU
APORCALHADAS
91
GALO
COM NOZES
93
NACO DE BOI
COM VINHO TINTO
95
TORRICADO
97
ARREPIADOS
DE ALMOSTER
99
CELESTES DE
SANTA CLARA
101
QUEIJADINHAS
DE AZAMBUJA
103
PÃO-DE-LÓ
DE RIO MAIOR
105
CASPIADAS
107
Produto Regional
QUEIJO DE
MAÇUSSA
Os verdadeiros apreciadores de queijo mas, so- da sua empresa familiar de fabrico de queijos,
bretudo, os que gostam de chèvre, já ouviram falar, Adolfo Henriques realizou um sonho: lançou o livro
certamente, do Queijo de Maçussa. Trata-se de um de receitas “Puro Chèvre – receitas com queijo de
queijo de pasta mole e sabor intenso, de origem cabra “Granja dos Moinhos”, no qual colaboraram
francesa, o único produzido artesanalmente em sessenta chefes, cujas criações incluem, como
Portugal com leite de cabra. Para a sua identifica- ingrediente, o Queijo de Maçussa, o que constitui
ção, usa o nome da aldeia de Maçussa, no conce- uma clara demonstração do reconhecimento na-
lho de Azambuja. cional já alcançado por este produto regional.
O queijo designado “Granja dos Moinhos” é pro- Este é, seguramente, mais um exemplo de como
duzido numa pequena empresa criada em 1977 a dedicação, o empenho e o rigor permitiram criar
por Adolfo Henriques, com a ajuda da mãe, e na em Portugal este produto de excelência, valorizan-
qual trabalham regularmente três pessoas, numas do a actividade rural e os sabores genuínos, usando
antigas instalações agrícolas que já pertenciam à técnicas de produção cujo resultado final rivaliza
família. Lançar-se neste nicho não foi tarefa fácil. com o melhor chèvre originário do sul de França.
Para manusear os bolores, teve de frequentar um
curso no Laboratório Nacional de Engenharia e
Tecnologia Industrial, que ainda hoje o apoia atra-
vés do fornecimento de fermentos lácteos. Depois,
importou um pequeno rebanho de cabras suíças
da raça Saanen para lhe fornecerem o leite, mas
actualmente adquire-o também a vários produto-
res da região.
109
CHARNECA
RIBATEJANA
111
“Os variados tapizes de flores, nas grandes relvas; os novilhos brincalhões, os toiros bravos a pasto. (...) os
barcos do Tejo como prata fundida, em várias e caprichosas voltas, formando canais, lagos e ínsuas, bordadas de
salgueiros recurvos; o sol (...) a inundar aquelas campinas, onde a profusão de floritas de diversas cores apresentam
cambiantes vários, e nas alturas, atravessando o azul transparente, com o seu voo sereno e largo, a cegonha, solícita
amiga do lavrador!” Foi com estas palavras que o poeta e bon vivant Raimundo Bulhão Pato recordou a paisagem
ribatejana nas suas memórias. Dificilmente conseguiríamos fazer melhor retrato. Tal como as palavras do ensaísta
sugerem, estamos numa terra pintada de fertilidade em tons de verde, território do toiro bravo e do celebrado cavalo
Lusitano, animal tão estimado por aqui que se tornou símbolo da região.
ALMEIRIM ALPIARÇA
Terra de caça abundante, Almeirim atraiu desde cedo Elevada à condição de vila em 1906, Alpiarça é
reis e nobres. D. João I fundou o Paço Real e, durante desde há muito uma terra profundamente ligada ao
a Dinastia de Aviz, este foi destino apetecido dos so- trabalho dos campos e à produção agrícola. Grandes
beranos portugueses e da sua corte. O Tejo enchia- senhores fixaram-se nas suas cercanias, desenvol-
-se de bergantins e de batéis engalanados transpor- vendo o território e apostando na riqueza do solo. O
tando todos quantos se encontravam inscritos nos imponente palácio da Quinta da Lagoalva é disso
livros de moradia de corte; a aldeia ganhava vida e testemunho, assim como a Casa dos Patudos com
tornava-se palco de intrigas cortesãs e de assuntos o risco de Raul Lino e mandada construir por José
de estado. As vicissitudes do tempo e a inconstância Relvas, lavrador e político defensor da causa republi-
dos homens votaram à ruina este palácio do qual cana nos alvores do século XX. O edifício foi legado
hoje não sobra pedra sobre pedra. Mas, em meados à vila pelo seu proprietário e a sua visita vale bem a
do século XIX, o concelho encontrou um novo fulgor viagem. A vocação agrícola do concelho é visível até
com a constituição de grandes casas agrícolas em- para o mais distraído viajante. À beira das estradas
penhadas em modernizar o panorama rural e a tirar que cruzam a região, avistam-se grandes extensões
partido do potencial agrícola da região. Muitas delas de terra trabalhada, vinhas que se intercalam com
ainda hoje resistem, como a quinta do Casal Branco campos de milho, numa paisagem onde, aqui e ali, se
e a da Alorna. Actualmente, Almeirim é reconhecido pode encostar à berma e provar uma fresca talhada
pela excelência dos produtos da terra, especialmente de melão vendida de baixo de um rudimentar cha-
o vinho e o melão, e pela superioridade das carnes péu-de-sol pelas mãos do próprio produtor. A gastro-
de porco, nomeadamente dos enchidos, ingrediente nomia do concelho orgulha-se de manter a tradição,
fundamental para o mais apreciado prato da região: mas hoje procura também criar novas propostas com
a Sopa da Pedra. base nos produtos locais.
113
BENAVENTE CHAMUSCA CORUCHE GOLEGÃ
Entalado entre o Tejo e o Alentejo, rasgado pelo Augusto Pinho Leal, na sua monumental obra A afición corre nas veias dos coruchenses. A festa É assim todos os anos: as ruas enchem-se de gente,
Sorraia, Benavente é o concelho da lezíria riba- “Portugal Antigo e Moderno”, refere que, em 1590, a brava é parte integrante da cultura deste concelho de amazonas de jaquetas bordadas, de cavaleiros
tejana, terra de toiros e de cavalos. Coudelarias e Chamusca não era mais do que uma quinta de Ruy e, por aqui, é vivida com enorme entusiasmo. Daqui com mazzantinis à banda, o ar satura-se com o
ganadarias famosas fixaram-se nesta região, entre Gomes da Silva, cavalheiro que passou à história saíram grandes nomes do toureio nacional, entre os aroma das castanhas assadas e, nas casetas que se
elas a Companhia das Lezírias, em Samora Correia, com o título fulgurante de príncipe de Eboli, a terra quais o cavaleiro e ganadeiro David Ribeiro Telles, erguem no Largo do Arneiro, criadores e convida-
e a Palha, na Quinta da Adema, no Porto Alto. Nas onde Cristo parou. Este filho da terra partiu muito que é hoje o patriarca de uma família totalmente dos brindam com água-pé à beleza e à aptidão do
margens dos rios, milhares de hectares de pastagens cedo para Madrid e lá, gozando de uma boa estre- devotada à tauromaquia. Lusitano. Estamos em Novembro, por alturas do São
alimentam inúmeras cabeças de gado, mansas e la, teve um brilhante destino político no reinado de Martinho, na Feira Nacional do Cavalo. Aqui celebra-
bravas, lideradas pelo senhor da lezíria, o campino. Filipe II. Valido do rei, conseguiu que, a seu pedido, o O panorama da região é dominado pela vasta lezíria -se a actividade equestre em geral e o Puro-sangue
De barrete verde, colete encarnado, meia branca e o soberano elevasse a sua terra a vila. Mas, antes disso, alimentada pelo rio Sorraia, onde cresce o melhor Lusitano, o mais antigo cavalo de sela do mundo,
ferro da casa ao peito, o campino forma uma unidade sabe-se que a região já era povoada, pelo menos nas arroz de Portugal. O verde dos arrozais alterna, em particular, numa tradição que remonta ao século
com a sua montada e vai comandando a manada fases finais do Neolítico, como provam as necrópoles muitas vezes, com extensas áreas de montado de XVIII, ao tempo do Marquês de Pombal. Já nessa
brandindo o pampilho. Este homem conhece cada que se vão descobrindo nas imediações, e que a cul- sobro, uma paisagem que evoca já um pouco o altura, esta feira, na Golegã, era um importante pólo
animal desde que nasce até ao dia em que triunfa tura romana também por lá passou, testemunhada vizinho Alentejo. De facto, o concelho de Coruche, de atracção para os melhores criadores de cavalos.
na arena ou que é conduzido para abate e é uma por vestígios de uma antiga estrada do império. embora tenha o coração no Ribatejo, não deixa de No século XIX, instalaram-se nas cercanias da vila
figura incontornável nas inúmeras festas tradicio- ter um pé no Alentejo. No livro “Coruche à Mesa e grandes lavradores que ajudaram a desenvolver o
nais. Anualmente, o povo sai à rua para acompanhar Parece que, com as suas barcaças, a Chamusca tam- outros Manjares”, José Labaredas caracteriza assim potencial agrário do território. Alguns deles, tal como
com entusiasmo os jogos de cabrestos e a picaria à bém era um importante porto de passagem, vocação a gastronomia da região: a nossa mesa tradicional Carlos Relvas, Ruy d’Andrade na quinta da Cardiga,
vara larga, espectáculos típicos desta região. Assim, que deixou de fazer sentido com a construção da sua entronca numa comum matriz transtagana pois nos e Rafael José da Cunha, na Quinta da Broa, entraram
não surpreende que na gastronomia se destaque o ponte em ferro, em 1909, conseguida graças à acção arrimamos fraternalmente ao Alentejo, colhendo e para a história pelo seu importante legado. Herdeiro
Cozido Bravo à Ribatejana e, com o que sobra do persistente de um notável político da terra, João adaptando alguns dos mais saborosos nacos da sua de Rafael José da Cunha, Manuel Tavares Veiga
cozido, as empadas de corno. Joaquim Isidro dos Reis. lavra. dedicou-se com rigor e minúcia ao apuramento da
raça portuguesa e juntamente com Ruy d’Andrade
Grande parte desta região pertenceu, desde D. João Bafejada pela natureza, toda a região é composta Cortiça, agricultura e gado bovino são as grandes e com o filho deste, Fernando Sommer d’Andrade,
IV, à Casa do Infantado, criada a favor de seu filho, por terrenos muito férteis e produtivos. Assim, todo riquezas da região. A Comissão Europeia aprovou em desenvolveram as duas correntes de sangue mais
o Infante D. Pedro. Com as guerras liberais, acabou este território tem uma forte ligação à agricultura e 2013 o registo da “Carne de Bravo do Ribatejo”, como importantes dos Lusitanos: a Andrade e a Veiga.
por ser extinta com base na Carta de Lei de Março à criação de gado, sendo o concelho muito ligado às produto de Denominação de Origem Protegida. Para Assim, não é de estranhar que, pela sua história e
de 1836. Por decreto, a Rainha D. Maria II autorizou a suas tradições tauromáquicas e a vila da Chamusca usar esta designação, a carne tem de ser proveniente cultura, a Golegã tenha ganho o estatuto de “Capital
venda em hasta pública das vastas propriedades que muito orgulhosa da sua bonita praça de toiros, um da desmancha de carcaças de bovinos inscritos no do Cavalo”. Mas se a tradição e os desportos eques-
compunham as Lezírias do Tejo. dos edifícios mais emblemáticos da terra. Livro Genealógico Português dos Bovinos da Raça tres dominam o concelho, os campos da Golegã,
Brava de Lide, criados segundo os moldes tradicio- pontilhados de milharais, searas e olivedos, também
Quase todas estas terras, formadas sobretudo por Na gastronomia, a memória também se impõe. Com nais na área geográfica de produção definida. Assim, não são esquecidos. Estas são terras fecundas que
aluviões, são muitíssimo férteis e revelam-se um um magnífico património religioso, os doces con- recentemente, Coruche decidiu apostar na promoção anualmente se transformam em alimento.
solo perfeito para a produção de tomate, milho ou ventuais perpetuam o saber das monjas. Hoje, estas da Carne de Toiro Bravo, investindo na recuperação
arroz, produtos sempre presentes na gastronomia da delícias, saturadas de ovos e açúcar, destacam-se e de receitas e no aparecimento de novas propostas
região. justificam, sem dúvida, uma visita. gastronómicas.
115
SALVATERRA DE MAGOS
Aqui o Tejo adelga-se, passa em suaves curvas de
serpente, enlaça os mouchões dispersos e lá longe,
branca, Salvaterra acena-nos. Nas águas, um grupo
de homens arranca enguias à lama, projectando-as
ao ar para serem apanhadas. O rio oferece alimento
e presenteia os pescadores com um pitéu que, por
estes lados, ascendeu à realeza. O concelho, com a
preocupação de resgatar tradições culinárias, atri-
buiu-lhe o título de «Rainha do Tejo».
117
GASTRONOMIA
REGIONAL
Almeirim Chamusca Golegã
Sopa da pedra, sopa de feijão, requentado, puré de Farinheira frita, morcelas de arroz grelhadas, sopa Farinheira frita, pataniscas, petinguinha albarda-
tomate, massa à Barrão, bacalhau com molho de de sável, caldeirada de feijão-verde, tomatada, da, cagarrinhas com feijão, favas no azeite, sopa
alho, magusto com bacalhau assado, caldeirada couve a soco com bacalhau assado, cabrito assado aporcalhada, sopa de feijão com carne, alaparda-
à pescador de Almeirim, lebre com couve e feijão no forno à moda do Ribatejo, feijoada à lavrador, na, canelos, requentado com peixe frito, sável de
branco, favas com enchidos de Almeirim, cacho- cachola e estamenha. Nos doces, trouxas de ovos, escabeche, enguias no espeto, massa com baca-
la de porco, chispe com batata frita. Nos doces, peixe doce, queijinhos de amêndoa, lampreia de lhau e cabrito com grelos à moda da azinhaga. Nos
bolo finto de Almeirim, bolinhos de limão, broas ovos, bichanas, corações de noiva, ferraduras, cha- doces, arroz-doce, bolos de noiva, merendeiras de
de Almeirim, espera-marido, pés de abóbora e muscos, arroz-doce, velhoses, broas, toucinho do abóbora, toureiros, trouxas de ovos e velhoses. A
velhozes. Destaque para as saborosas caralhotas e céu, belhoses, bolos e rabanadas de mel e migas indústria de vinagres da Golegã já tem projecção
o famoso melão. doces. nacional e internacional e a sua importância levou
ao aparecimento de uma proposta de requeijão
Alpiarça Coruche com vinagre.
Bolo de sardinha, favas só com ovo, sopa da Espargos ou túberas com ovos, migas de espargos,
matança ou três por um, tomatada com sardinha, sopa rica de bacalhau do Couço, açorda de baca- Salvaterra de Magos
miga fervida com bacalhau, carneiro à moda de lhau à moda de Coruche, açorda de sável. Carne Tripa temperada, sopa camponesa, de ossos, de
Alpiarça, favas com entrecosto, molhinhos guisa- de toiro bravo (várias propostas), arroz de entre- feijoca com massa e de pão. Enguias de caldeirada,
dos e papas de abóbora com carnes grelhadas. Nos costo, migas de batata com entrecosto, borrego no de ensopado, fritas com arroz de feijão e outras
doces, Patudos, pão-de-ló de Alpiarça, quadra- forno e cabrito frito à lavrador. Nos doces, Areias propostas, tradicionais ou de autor, decorrentes
dinhos de Alpiarça, broas de Alpiarça, ferradura do Sorraia, Bolo de batata-doce, Bolos fintos, Bolo do mês da enguia. Entrecosto à lavradora, galinha
ou bolos de noivos e esses de amêndoa. A torta de nozes, Bolinhos de pinhão, Nógado de pinhão e assada no forno de pão, perna de cabrito no forno
de melão e a mousse de melancia são reflexos da mel, Queijadas e Pinhoadas em flor de laranjeira. e sarrabulho à moda da Glória do Ribatejo. Nos
tradicional produção destes dois frutos. doces, enguias doces, bolo de amêndoa, papos
de anjo, pudim de pão, sonhos, bolos de mel e
Benavente arroz-doce branco e os barretes da Cabana dos
Empadas de corno, túberas fritas com carne, torri- Parodiantes, que ficaram famosos em todo o País
cado do campino, sopa de bacalhau, sopa de car- graças aos Parodiantes de Lisboa, programa de rá-
dos com feijão, sopa de feijão verde com segurelha, dio muito apreciado nos finais do século passado.
enchidos, açorda de ovas de saboga, molhata de
peixe, tomatada de peixe, cozido bravo à ribatejana,
borrego grelhado, cabrito no forno com massa de
catalão, molhata ou migas com entrecosto. Nos
doces, bolo podre ou bolo Gungunhana, bolo de
chocolate de Benavente, broas fritas de Benavente,
broas de batata-doce e amêndoa e doce de tomate.
119
AGENDA
GASTRONÓMICA
Fevereiro Novembro
Four Weeks- Sopa da Pedra, em Almeirim Feira Nacional do Cavalo e Feira de S. Martinho, na
Golegã
Março
Mês da Enguia, em Salvaterra de Magos 40 dias após a Páscoa, Semana da Ascensão, na
Chamusca
Maio
Sabores do Toiro Bravo, em Coruche
Mostra de Gastronomia Ribatejana e Salão do Vinho, Vinhos da Região
do Vinagre e do Azeite do Ribatejo, na Golegã Os vinhos produzidos desta região integram a
Comissão Vitivinícola Regional do Tejo.
Junho
Festas da Sardinha Assada, em Benavente
Festas da Cidade (com tasquinhas), em Almeirim Confrarias
Confraria Gastronómica de Almeirim
Julho Confraria Gastronómica do Toiro Bravo
Festival do Melão, em Alpiarça Confraria do Torricado com Bacalhau
Festival de Gastronomia da Lezíria Ribatejana, em Confraria da Enguia
Samora Correia, Benavente
Festas da Sardinha Assada, em Barrosa, Benavente
Agosto
Festas da Sardinha Assada, em Benavente
Setembro
Festival da Sopa da Pedra e do Petisco, em Almeirim
Alpiagra – Feira Agrícola e Comercial de Alpiarça, em
Alpiarça
Feira Anual e Tasquinhas, em Benavente
Outubro
Jornadas de Gastronomia, em Coruche
121
SOPA DE FEIJÃO
COM COUVE
123
SOPA DE FEIJOCA
COM MASSA
125
SOPA
DA PEDRA
127
REQUENTADO
129
AÇORDA
DE SÁVEL
131
ENSOPADO
DE ENGUIAS
133
CABRITO ASSADO
À MODA DO RIBATEJO
135
CABRITO COM
GRELOS À MODA
DA AZINHAGA
137
ARROZ
DE BUCHO
139
MIGAS
DE BATATA COM
CARNE DE PORCO
143
FEIJOADA
À LAVRADOR
145
LEBRE COM COUVE
E FEIJÃO BRANCO
147
ARROZ
DE CASTANHAS
149
MORCELA DE ARROZ
GRELHADA
151
TÚBERAS MEXIDAS
COM OVOS
153
PATUDOS
155
PUDIM
DE PÃO
Pelo sabor que reaviva memórias de quem já o provou Este pudim pode ser acompanhado por um dos vi-
ou de quem dele ouviu relatos familiares, pode afirmar- nhos generosos da região Tejo. Os seus aromas ricos
se que o Pudim de Pão é, de facto, um doce de tradição. e complexos ligam na perfeição com a doçura desta
sobremesa.
157
BROAS DE AMÊNDOA
E DE BATATA-DOCE
DE BENAVENTE
159
Produto Regional
CARNE DE TOIRO
BRAVO
A carne de touro bravo tem um enorme potencial na alimentação factores de crescimento, apresenta um
gastronomia portuguesa pois, desde sempre, os ani- grão muscular fino e delicado, e, quando a carne
mais bravos, tal como a caça, são preferidos para a devidamente maturada é sujeita a manipulações
alimentação pelos bons gastrónomos. Ora os bovinos culinárias, exibe aroma e sabor de excelência.”
de raça brava, oriundos sobretudo do Ribatejo, são
criados em grandes espaços livres, em regime exten- Ligeiramente mais rija que outros tipos de carne, a
sivo, alimentando-se em total liberdade de produtos de toiro bravo é ideal para estufar ou cozer e, quando
naturais. Como consequência, apresentam um sabor grelhada, deve ser servida mal passada, ou ao ponto.
mais intenso, mas não artificial, de consistência tenra
e suculenta, embora com uma aparência mais escura Em Novembro de 2013, com a designação de “Carne
do que a dos animais criados em regime intensivo. de Bravo do Ribatejo”, conquistou a Denominação de
Origem Protegida (DOP).
Por desconhecimento, muitas vezes a cor mais escu-
ra leva a que erradamente esta carne seja preterida
por outras mais rosadas, embora com processos de
criação eventualmente duvidosos. A sua associação
às touradas é incorreta, pois a carne normalmente
comercializada não é proveniente de animais de lide.
161
PENÍNSULA
DE SETÚBAL
163
Serra, montado, vinha, salinas, praia, mar, rios, estuários: a riqueza desta região reside na diversidade da paisagem
e dos recursos naturais. A linha determinada por Alcochete, Moita e Montijo risca-se paralelamente ao Tejo e
todo o ritmo e modo de vida desta região são determinados por esta corrente de água. Palmela, Setúbal e Sesimbra
formam, nesta zona, um grupo com características diversas. Destacam-se pelo vinho, pela relação com o mar e
pela a interacção com o Sado e com o Tejo. Mas, apesar das suas particularidades, estes seis concelhos formam uma
unidade muito própria com tradições e uma história comum. Antiga terra dos cavaleiros da Ordem de Santiago da
Espada, este é um território que pode ser avistado do alto, do cimo de uma das torres de menagem dos vários castelos
que os monges Espadatários legaram à posteridade. Rica em património natural e cultural, esta é uma região que
merece ser visitada com tempo.
ALCOCHETE MOITA
São quilómetros de água que correm à nossa frente: A vila da Moita deve a sua origem ao grupo de pes-
o Mar da Palha impõe os seus horizontes enquanto soas que, no princípio do século XIV, escolheu esta
espelha a vila que se aninhou nas suas margens. zona, situada num dos esteiros da margem Sul do
Alcochete escolheu bem a sua localização. A situa- rio Tejo, para se instalar. Gente simples, dedicou-se
ção privilegiada parece ter atraído desde cedo as a tirar da natureza meios de sustento e, à base do
populações. Encontraram-se sinais de actividade hu- seu suor, foi desenvolvendo a região. Situada muito
mana com cerca de dez mil anos e sabe-se, que mais perto da capital, este lugar foi atraindo pessoas e,
tarde, os romanos andaram por aqui, assim como os no ano de 1691, foi elevada a vila por D. Pedro II. O
árabes que, para além de deixarem vestígios arqueo- concelho tinha como principais actividades a pesca,
lógicos, imprimiram a sua presença no topónimo. a extracção de sal e a agricultura. Em meados do
Com a reconquista, este território foi doado à Ordem século passado, as suas salinas faziam parte, com as
de Santiago de Espada. Nesta terra de Comenda, marinhas de Alcochete, do Barreiro e do Montijo, do
o povo provou ser gente de trabalho árduo: no solo, centro de sal mais importante de Portugal.
o arado, no rio, o leme, e onde a terra e a água se
encontram, o engenho das salinas. Povo de afición e de fé, mantém as suas tradições
com devoção. Leva muito a sério a temporada brava
Hoje o concelho modernizou-se, mas empenha-se na e vive com veneração as Festas de Nossa Senhora
preservação das tradições ligadas ao mundo rural, da Boa Viagem que juntam na terra milhares de visi-
ao montado e ao toiro bravo, assim como ao Mar da tantes para verem passar os barcos engalanados que
Palha e ao rio Tejo; costumes que se reflectem na formam a procissão no Tejo. O convívio natural com
oferta gastronómica, tanto no recurso a produtos o rio está presente em tudo, incluindo na gastrono-
hortícolas locais como na variedade e qualidade dos mia, em que grande parte dos pratos típicos tem o
produtos do rio. sabor da pesca.
165
MONTIJO PALMELA SESIMBRA SETÚBAL
À distância de um olhar estende-se a toalha azul Da torre de menagem do Castelo de Palmela parece Mar e montanha enfrentam-se; num medir frontal de (…) Solo providencialmente prendado de tudo, e
do Tejo recortada, ao longe, pela mancha urbana que se alcança Portugal todo. A paisagem altera-se forças, moldam este pedaço de terra ímpar. A vila de donde, ainda há dois dias, um insigne poeta dina-
da capital. Este é o horizonte da cidade do Montijo, a um voltar de cabeça, aos nossos olhos chega o Sesimbra organiza-se longitudinalmente: para um marquês, o nosso amigo Andersen, estacionado aí
estrategicamente plantada com os pés na água. céu, o mar, o Tejo, o Sado, as vilas, os campos, num lado, o Atlântico, para o outro, a avenida, ponto de depois de percorrida a Europa, me escrevia que tinha
Mas se a sede do concelho convive de perto com o horizonte que se vai fazendo ilimitado. O escritor chegada do xadrez das ruas. Casas de pescadores, encontrado o Paraíso Terreal. É com estas palavras
rio, parte das suas freguesias nem o vislumbram. O Carlos Malheiro Dias não hesita em afirmar que armazéns das armações, velhos barracões de salga que, nos alvores do século XIX, António Feliciano de
município é territorialmente descontínuo, estando este é o castelo mais grandioso do País e que o seu e fábricas de conservas convivem de perto com Castilho descreveu Setúbal apoiado nas impressões
geograficamente dividido em duas partes: a ociden- panorama é superior pela variedade dos aspectos, aos urbanizações recentes e com unidades hoteleiras do autor da “Pequena Sereia” e do “Patinho Feio”. A
tal, onde se encontra a sede do concelho, com uma que se disfrutam na Pena, em Sintra, e das portas de construídas para albergar a leva de turistas e de beleza desta região foi sempre muito admirada. Raul
área mais pequena e ribeirinha; e a oriental, interior, Coimbra, no Buçaco. Enquanto o visitante se perde veraneantes que, em meados dos anos sessenta do Proença , um século mais tarde, destacou a graça e a
com uma vocação essencialmente agrícola. Estas na amplitude da paisagem que se vai estendendo século passado, começaram a invadir a povoação. opulência dos seus campos, a largura e beleza do seu
regiões intervaladas apresentam uma variedade de à sua frente, apercebe-se de, para lá da vila que se rio, os panoramas que abre vastos, a sua luz admi-
paisagens e de hábitos que, todas juntas, conferem fixou na sombra das muralhas, vastas áreas de vinha Sesimbra, desde sempre, foi terra de pescadores e rável que nos transporta, o encanto das suas praias
riqueza e diversidade ao concelho. riscam a verde os campos. mesmo as freguesias rurais do município dependiam abrigadas pela serrania, a proximidade da Arrábida
dos humores das marés para sobreviver. Virado para (…), tudo isso faz de Setúbal um ponto de paragem
Em tempos, parte destas terras estava coberta de Este é um concelho que mantém a tradição rural e o oceano, o concelho sempre dele se alimentou e por obrigatório. Estas são palavras datadas mas, hoje,
talhos de salinas, estirados pelas vastas planícies. vitivinícola. Pensa-se que já no distante segundo mi- ele se sustentou. As artes da pesca fizeram prosperar apesar da industrialização, o concelho mantém um
O sal saía daqui em faluas carregadas de grandes lénio a.C. os tartéssios andavam na região a negociar a indústria de conservação de pescado, que já existia encanto muito próprio e a baía de Setúbal faz parte,
quantidades para abastecer as cozinhas de Lisboa. vinho. Seguiram-se os fenícios, os gregos, os roma- nesta zona há cerca de dois mil anos e que, no século desde 2002, do restrito “Clube das Mais Belas Baías
Com o advento dos frigoríficos, a procura deste nos, povos que se foram sucedendo e que viriam a XVI, teve um papel de destaque no abastecimento do Mundo”, um grupo constituído por cerca de três
produto passou a ser cada vez mais para a confec- consolidar, a aperfeiçoar e a modernizar a técnica de das caravelas que partiam à descoberta do Mundo. dezenas de enseadas em diferentes países do globo.
ção dos alimentos e menos para a sua preservação. cultivo da vinha. Daí até aos nossos dias, muito foi Nos princípios do século XX, a sardinha começou a
Houve uma progressiva quebra de procura e, em mudando e progredindo. Nos finais do século XIX, o escassear no Mediterrânio e na costa atlântica fran- As praias, o clima, a beleza das paisagens alimentam
meados do século passado, a decadência do negócio vinho de Palmela era reconhecido em Portugal e na cesa, o que fez com que Portugal se tornasse o prin- o turismo, mas este concelho é muito mais do que
ditou o seu abandono. Felizmente, o solo abençoado Europa, recebendo já nessa altura inúmeras distin- cipal centro piscatório dessa espécie. Nessa altura, um destino balnear. Setúbal foi, desde de sempre,
deste concelho oferece muito mais do que chão sal- ções e hoje, em pleno século XXI, a aposta na ex- instalaram-se em Sesimbra numerosas fábricas de uma comunidade piscatória. Em tempos chegou a
gado. Esta região já foi considerada um dos maiores celência é ainda mais firme. Nos últimos anos, uma conservas. O rebentar da II Guerra Mundial favore- ser um dos principais portos de pesca em Portugal
centros corticeiros do País, a floricultura representa, evolução na qualidade dos vinhos tranquilos - tinto, ceu a procura de conservas para alimentar as tropas. e também o mais importante centro de produção de
só na flor de corte, 75% da produção nacional e a branco e rosé - e generosos - Moscatel de Setúbal e Após este período áureo, o negócio começou a entrar conservas de peixe. A forte industrialização deixou
suinicultura, principalmente na transformação de Moscatel Roxo - traduziu-se em inúmeros prémios, em decadência, até desaparecer. De qualquer forma, consequências mas, hoje, as águas do “Rio Azul”, já
carnes, continua a ter um importante papel na eco- a nível nacional e internacional. A Associação de falar em gastronomia de Sesimbra é falar em peixe, despoluídas, permitiram o regresso dos golfinhos, a
nomia local. Municípios Portugueses do Vinho nomeou Palmela principalmente no espadarte e no peixe-espada desova de espécies que fazem as delícias dos gastró-
como a “Cidade do Vinho 2009” e a Rede Europeia preto, mas sem esquecer as tradições – muitas ainda nomos e, também, as famosas ostras do Sado.
Todas estas condições, a criação de suínos, a de Cidades do Vinho atribuiu-lhe o título de “Cidade vivas – das zonas rurais.
proximidade do rio e as tradições agrícolas, deixam Europeia do Vinho 2012”.
naturalmente marcas muito visíveis nos hábitos
alimentares dos habitantes do concelho.
167
GASTRONOMIA
REGIONAL
Alcochete Palmela
Caldeirada à fragateiro, linguadinhos fritos, amêijoas Queijo de Azeitão e manteiga de ovelha, sopa cara-
alcochetanas, massa de choco, canivetes, berbigão mela, sopa de favas, sarrafusca, favas à palmeloa,
e camarão do rio, sopa alcochetana, sopa adubada lulas recheadas à moda de Palmela, galinha acereja-
de feijão, sopa de ossos carregados, sopa de peixe, da, coelho à camponesa de Palmela, pombo estufa-
tortilha alcochetana, lebre à ti Zé da Avó e raposo. do, cozido de capado. Nas sobremesas, pêra cozida
As batatas ensalsadas, herança dos salineiros, são em moscatel, fogaças de Palmela, suspiros, carolinos,
servidas nalguns restaurantes, embora enriquecidas. pudim de abóbora e arroz-doce com leite de ovelha.
Na doçaria, destacam-se as fogaças, que resultam Destaque para a maçã riscadinha (DOP), o vinho de
de uma promessa dos marítimos a Nossa Senhora Palmela (DOP), o moscatel de Setúbal e o moscatel
da Atalaia, e o arroz-doce alcochetano, confecciona- roxo.
do sem ovos e servido às fatias.
Sesimbra
Moita Peixes grelhados, espadarte, peixe-espada preto em
Caldeirada à fragateiro, massinha da caldeirada, filetes ou com ervilhas, caldeirada de Sesimbra ou
ensopado de enguias, massa de peixe, arroz de peixe, caldeirada de sardinhas, choquinhos à-pé-descalço,
e lamejinhas com cebola. Dos campos, vem a farra- cademontes e sopa de peixe ou só de carapaus. Na
fuza, à base de tomate, e a sopa de saramagos, uma doçaria, destaque para a farinha torrada, os zimbros,
erva espontânea. Nos doces, o arroz-doce caramelo e as catarinas, os almirantes e um licor, o Velho do Mar,
as ferraduras, o doce tradicional da Moita. que se tornou conhecido na década de 50 do século
passado, e também queijo da Azóia, pão caseiro de
Montijo Alfarim e da Azóia, mel e maçã camoesa ou férrea da
Sopas de ossos, de abóbora ou de tomate, ervilhas Azóia.
com língua de porco fumada e ovos escalfados, bifes
de porco à moda do Montijo, perna de porco assada Setúbal
no forno e carne de porco com enguias, enguias fri- Caldeirada, cavalas no molho, peixe à pescador,
tas com favas de coentrada, com arroz de pimentos choco frito, polvo no forno, peixe assado, como
ou com açorda, ensopado de enguias, caldeirada à salmonetes à setubalense, carapau manteiga, mas-
pescador, massinha de safio e arroz de amêijoas. Nos sacotes e alcorrazes, duas espécies piscícolas que
doces, o destaque vai para o bolo de vinagre, o bolo aqui ganham estas designações, e a sardinha, eleita
de milho, as queijadinhas de leite, os Franciscos da uma das 7 maravilhas da gastronomia. As ostras,
Atalaia, as broas de Canha e os aldeanos. que voltaram aos bons restaurantes da cidade, de
Portugal e de França. Na doçaria, destacam-se tortas
de Azeitão, esses de Azeitão, amores de Azeitão e
pudim Osório e os D. Filipes. Refira-se, ainda, o quei-
jo de Azeitão (DOP) e o Moscatel de Setúbal (DOC).
169
AGENDA
GASTRONÓMICA
Fevereiro Novembro
Festival do Choco, em Setúbal Semana Gastronómica Sabores de Outono, em
Sesimbra
Março Festival do Salmonete, em Setúbal
Festival da Caldeirada, em Setúbal
Dezembro
Abril Fim-de-semana gastronómico do Alcorraz, em
Festival do Queijo Pão e Vinho, na Quinta do Anjo, Setúbal
Palmela
2ª feira de Páscoa, Círio dos Marítimos, com leilão de
Maio Fogaças, em Alcochete.
Mostra de Vinhos de Marateca e Poceirão, em
Fernando Pó, Palmela
Festival Ibérico do Vinho, em Setúbal Vinhos da Região
Fim-de-Semana Gastronómico da Cavala, em Setúbal Os vinhos produzidos nesta região integram a
Comissão Vitivinícola Regional da Península de
Junho Setúbal.
Quinzena do Peixe-Espada Preto, em Sesimbra
Festas Populares de São Pedro, no Montijo
Festival da Sardinha, em Setúbal Confrarias
Confraria Gastronómica de Palmela
Agosto Confraria do Queijo de Azeitão
Festival do Marisco, em Setúbal Confraria do Peixe de Setúbal
Festas do Barrete Verde e das Salinas, em Alcochete Confraria do Moscatel de Setúbal
Festival do Carapau, em Setúbal Confraria do Periquita
Confraria dos Amigos da Bacalhôa Vinhos de
Setembro Portugal
Festas das Vindimas, em Palmela Confraria dos Amigos de J. P. Vinhos
Quinzena Gastronómica do Espadarte, em Sesimbra Ordem dos Enófilos de Santiago
Festival da Ostra, em Setúbal
Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem e Feira
Comercial e Industrial, na Moita
Feira Nacional do Porco e da Salsicharia, no Montijo
171
SOPA
CARAMELA
173
ENGUIAS FRITAS
COM FAVAS DE
COENTRADA
175
ARROZ
DE LAMEJINHAS
177
LAMEJINHAS
COM CEBOLA
179
ESPETADAS
DE OSTRAS
181
CHOCO FRITO
À SETUBALENSE
183
POLVO
NO FORNO
185
CALDEIRADA
À FRAGATEIRO
187
CALDEIRADA
DE ALCOCHETE
189
CALDEIRADA
À SESIMBRENSE
191
MASSA
DE SAFIO
193
FAVAS À
PALMELOA
195
LEBRE À
TI ZÉ DA AVÓ
197
FARRAFUZA
199
FARINHA
TORRADA
201
FOGAÇA
DE ALCOCHETE
203
FOGAÇA
DE PALMELA
205
TORTA
DE AZEITÃO
207
Produto Regional
QUEIJO
DE AZEITÃO
Corria o ano de 1830 quando Gaspar Henriques do leite e o fabrico do produto, bem como a própria
de Paiva, vindo da sua Beira natal, se instalou em rotulagem.
Azeitão. A abundância de pastagens e o clima
ameno levaram-no a dedicar-se à produção de queijo Apesar do nome de Azeitão, actualmente já são pou-
de ovelha, a exemplo do que se fazia na Serra da cas as unidades de produção de queijo fixadas nesta
Estrela. Mas o queijo que fabricou revelou-se diferen- vila, estando os principais produtores concentrados
te do esperado, com um sabor característico graças na Quinta do Anjo, próximo de Palmela. Não obstan-
à flora da serra da Arrábida que alimenta os animais te, o Queijo de Azeitão continua a ser uma referência
e à utilização de uma variedade de flor de cardo, gastronómica da Península de Setúbal, tanto no País
espontânea no sul do País, a cynara cardunculus, como no estrangeiro e, recentemente, tem vindo a
para a coagulação do leite, que ainda hoje é feita em ser usado com grande sucesso na composição de
enormes potes de barro vidrado. O resultado é um criativos pratos de autor.
queijo de pasta semi-mole ou amanteigada, branca
ou ligeiramente amarelada, com a forma de um ci- Para este tradicional e muito apreciado produto re-
lindro achatado, podendo pesar 100 ou 250 gramas. gional da Península de Setúbal, nada melhor do que
Tem um tempo de cura de vinte dias e, durante este harmonizá-lo com um clássico da região, um vinho
período, é virado e lavado sempre que necessário, monovarietal da casta Castelão, a mais plantada
para que a crosta fique lisa e limpa. O segredo do na Região, que proporciona vinhos concentrados,
seu fabrico foi transmitido a vários proprietários intensos na cor e no aroma, em que se destaca fruta
de rebanhos de ovelhas, nos concelhos de Palmela, vermelha madura e especiarias.
Sesimbra e Setúbal, que, em conjunto, possuiam
cerca de 5000 animais, e que se dedicaram tam-
bém a produzir, em queijarias artesanais, o Queijo
de Azeitão, como foi desde cedo designado um dos
mais apreciados queijos nacionais. Estes concelhos
correspondem à área geográfica de produção, que
actualmente constitui a região demarcada do queijo
de Azeitão. O uso da Denominação de Origem, insti-
tuída em 1986, obriga a que o queijo seja produzido
de acordo com as regras estipuladas no caderno de
especificações, o qual inclui as condições de pro-
dução de leite, a higiene da ordenha, a conservação
209
Produto Regional
MOSCATEL DE SETÚBAL
E MOSCATEL ROXO
As uvas da casta Moscatel de Setúbal, originária do entre 17º e 18º C e uma cor que vai do topázio claro
Médio Oriente e introduzida em território peninsular ao topázio queimado.
na época do Império Romano, constituem a base do
prestigiado vinho Moscatel de Setúbal, cuja fama São dois os tipos de Moscatel de Setúbal, o branco
além-fronteiras terá começado na segunda metade e o roxo, respectivamente designados “Moscatel de
do século XIV, quando Ricardo II de Inglaterra se Setúbal” e “Moscatel Roxo”. Estas designações só
tornou um importador assíduo deste vinho. Também podem ser atribuídas aos vinhos DOC Setúbal elabo-
Luís XIV, o “Rei Sol”, no século XVII, consta que rados com, pelo menos, 67% de mosto proveniente
não dispensava nas festas de Versailles este vinho destas castas. Estes vinhos podem ser colocados no
generoso. mercado a partir dos dois anos de idade e ostentar
na rotulagem o ano de colheita ou as indicações “10
Ao longo dos séculos, a casta sofreu diversas mu- anos de idade”, “20 anos de idade”, “30 anos de ida-
tações e, actualmente, existem três variedades de de” e “Mais de 40 anos de idade”, desde que o vinho
uvas Moscatel em Portugal. A variedade Moscatel em causa ou cada uma das parcelas do lote que o
de Setúbal é a mais plantada em Portugal, e a sua originou, tenha, no mínimo, a idade indicada. A casta
produção concentra-se na Península de Setúbal, cujo Moscatel Roxo, apesar de cultivada em pequena
clima ameno permite a maturação ideal dos bagos, quantidade, permite obter um vinho de produção
que ficam com uma cor dourada, variando entre o limitada, mas de grande qualidade, constituído por,
topázio claro e o âmbar. É a que apresenta maior pelo menos, 85% de mosto desta casta. O designa-
concentração e riqueza de compostos aromáticos, tivo “Superior” é atribuído a vinhos com um mínimo
dos quais se destacam casca e flor de citrinos, mel, de cinco anos de idade e que tenham obtido, na
tília, rosa, líchias, pêra, tâmaras e passas de uva. câmara de provadores, a classificação de qualidade
destacada.
Apesar da sua produção ser bastante anterior, em
1908, foi instituída a Região Demarcada do Moscatel Por ocasião do primeiro centenário da criação da
de Setúbal, cuja área geográfica abrange os con- Região Demarcada do Moscatel de Setúbal, em
celhos de Palmela, Setúbal e parte do concelho de 2008, foi fundada a Confraria do Moscatel de
Sesimbra. Setúbal, com o objectivo de defender, valorizar e pro-
mover o Moscatel de Setúbal. Foi também desenha-
A partir destas uvas, é produzido o Moscatel de do um copo específico e lançado um lote especial de
Setúbal, com Denominação de Origem Controlada, Moscatel de Setúbal, comemorativos da efeméride47.
vinho licoroso, com uma graduação que se situa
211
OESTE
213
Encravada entre a vastidão do oceano e as encostas da Serra do Montejunto, a região Oeste estende-se aos
solavancos entre vales e colinas que ligam a costa marítima ao mundo rural. Aqui o mar e a terra fundem-se numa
mancha verde, salpicada, aqui e ali, por lugares, aldeias, vilas ou cidades que testemunham no litoral uma vocação
piscatória e, caminhando mais para o interior, a aptidão agrícola das suas gentes. Os hábitos do dia-a-dia e
aquilo que homem foi conseguindo tirar do chão e das águas determinaram as tradições gastronómicas desta região,
reflectindo a proximidade do mar assente numa forte componente rural. Assim, os pratos típicos tanto podem
deliciar os apreciadores de carne e dos sabores da terra como os que pendem para os paladares marítimos dos peixes e
dos mariscos.
ALCOBAÇA ALENQUER
Nascida entre os vales do rio Alcoa e do rio Baça, Conta-se que nos tempos agitados da
Alcobaça deve a sua fama ao magnífico mosteiro Reconquista, D. Afonso Henriques encontrou por
fundado, aquando da Reconquista, por D. Afonso estas paragens um aliado inesperado. Do alto
Henriques. Entregue aos monges de Cister, os reis das muralhas, apareceu-lhe um cão com a chave
que sucederam ao “Conquistador” foram doando do castelo na boca e rapidamente lha fez chegar
à Ordem novas terras, concessões e regalias, insti- às mãos. O rei, surpreendido, tomou a atitude
tuindo-lhe um imenso território: o célebre domínio por ordem e exclamou “Alão quer!” e, sem perder
dos treze Coutos de Alcobaça. Os monges, além mais tempo, tomou a fortaleza enquanto, sem o
da sua actividade religiosa e cultural, ensinaram saber, baptizava o local. Lendas à parte, Alenquer
técnicas agrícolas graças às quais arrotearam é uma povoação antiquíssima que nos oferece
terras, secaram pauis e organizaram explorações, uma grande diversidade de paisagens invulgares
tendo criado, praticamente, a partir do nada, uma e uma riqueza agrícola de grande significado. As
região agrícola que se manteve até hoje. Se é velhas quintas solarengas, os bons vinhos brancos
incalculável o valor do legado da Ordem de Cister e tintos e a serra do Montejunto proporcionam, a
para o desenvolvimento agrícola da região, menor poucos quilómetros de Lisboa, produtos de grande
também não é a sua herança no que se refere às qualidade. Todo o concelho mantém fortes tradi-
tradições culinárias. Do convento de Cós, funda- ções agrícolas, sobretudo nos pomares de vários
do no século XIII pelo abade de Alcobaça, saíram frutos e nas vinhas. Localizada numa alcantilada
das mãos das freiras Bernardas uns verdadeiros colina, partindo do topo de um outeiro em direc-
milagres de ovos e açúcar, doces ainda hoje capa- ção ao vale, a vila conquistou há muito o título de
zes de fazer qualquer um cair no pecado da gula “Presépio de Portugal”. Anualmente, a Sagrada
e celebrados todos os anos no Mosteiro de Santa Família, pastores, anjos e os Reis Magos, em
Maria de Alcobaça, na Mostra Internacional de tamanho gigante, garantem o seu lugar numa das
Doces Conventuais. encostas da povoação.
215
ARRUDA DOS VINHOS BOMBARRAL CADAVAL CALDAS DA RAINHA
Situada num vale fértil e ameno, a vila de Arruda dos Se se der o caso de chegar ao Bombarral de com- Segundo reza a história, terá vindo de Espanha o Conta a tradição que a Rainha D. Leonor, mulher de
Vinhos guarda nas suas paredes o eco das histórias boio, quando se vir na estação, vai ser imediata- hábito de consumir bebidas geladas ou de saborear D. Jão II, deslocando-se das suas terras de Óbidos
antigas. Ao precorrermos o emaranhado de ruas mente atraído pelo azul e branco dos seus azulejos. uma “nevada”. Esta moda, importada da corte de D. para a Batalha, passou por um local onde algumas
que riscam a vila, é possível ir encontrando na sua Pintados em 1930 pelo artista plástico Jorge Pinto, Filipe II, rapidamente foi absorvida pela elite mais pessoas se banhavam numas poças de água quente
topomínia sugestões à presença de velhos paços ou estes painéis ilustram o modo de vida das gentes da endinheirada. Com efeito, a incapacidade técni- e de cheiro intenso e desagradável. Informada de que
de um castelo mouro. Em 1172, D. Afonso Henriques terra, indiscutivelmente ligadas à terra e ao vinho. Ali ca de produzir gelo artificialmente fazia com que eram doentes que ali procuravam remédio milagroso
doou a povoação à Ordem Religiosa e Militar de estão as mulheres a limpar as cepas, os homens a este fosse um produto considerado de luxo e só ao para os seus males, também quis experimentar os
Santiago que muito fez pelo crescimento da região. pulverizar a vinha, a fazer a vindima, a pisar as uvas… alcance das bolsas mais abonadas. Em pleno século efeitos e, entusiasmada com os resultados, determi-
O convento no Sítio do Vilar, destinado a acolher as O pintor passou para o azulejo um ofício que todos XVI, sem as modernas tecnologias de refrigeração, o nou, para que os tratamentos fossem feitos de forma
mulheres dos Cavaleiros que partiam para Sul na os naturais da zona conhecem e muitos dominam. recurso à neve e ao gelo da Serra da Estrela cons- condigna, que ali se construísse um hospital, que
altura da Reconquista, foi um verdadeiro motor de Com efeito, já vem de longe a herança vitivinícola tituía a única alternativa possível. O percurso até à ficou concluído em 1488. À sua volta foi crescendo
desenvolvimento rural da zona. Estas senhoras, para do concelho. Inserida numa fértil região agrícola, capital era longo e complicado e, como a procura uma povoação, que recebeu o nome de Caldas da
além da oração, dedicavam-se à exploração agrícola, produto do trabalho dos monges de Alcobaça, de por parte da nobreza deste bem gelado parecia Rainha, aliando as águas quentes, calda, à sua fun-
através do arrendamento de terras, promovendo, foreiros, de colonos e de agricultores, esta zona, não abrandar, tentou encontrar-se um recurso mais dadora, a Rainha. No século XVIII, sob o patrocínio
deste modo, a dinamização da agricultura, especial- situada numa planície de aluvião bastante fértil na prático para a sua comercialização em Lisboa. A do Rei D. João V, assíduo frequentador do hospital
mente o cultivo da vinha, dadas as características margem esquerda do rio Real, goza há muito de Quinta da Serra, no concelho do Cadaval e no alto do termal, este foi completamente reconstruído. Sob a
excepcionais para este tipo de actividade. Ainda hoje, terras de grande qualidade. No início do século XX, Montejunto pareceu ser a melhor solução. Localizado administração de Rodrigo Berquó, o hospital trans-
nas aldeias, nos casais e nas quintas do conselho tra- os vinhedos preenchiam a maior parte da paisagem a cerca de 40 quilómetros da capital e próxima do formou as Caldas da Rainha no centro termal em
balham-se afincadamente os campos e preparam-se e tinham ganho quase o estatuto de monocultura. O rio Tejo, então via de acesso privilegiada, este lugar moda nos finais do século XIX e início do século XX,
os vinhedos para as célebres e fartas colheitas de vinho era, nessa altura, o principal meio de ocupação apresentava grandes vantagens. Mas para a escolha quando a vila se tornou cidade.
Outono que tão bem tipificam e enchem esta terra da maior parte da população, tanto como associados terá sido determinante o microclima da região que
de cor. Deste longo ritual de labor e de sabedoria da Adega Cooperativa do Bombarral, que alimentou proporcionaria temperaturas negativas durante um Centro de uma região onde a agricultura ocupa um
resulta, anualmente em Novembro, a Festa da Vinha. anos a fio os circuitos de produção do Vinho Verde grande período do ano. Foi então construído, já no lugar de destaque, a sua Praça é, diariamente, palco
comercial e da aguardente para o Vinho do Porto, reinado de D. João V, um inovador complexo indus- de um mercado de produtos hortícolas, que os pro-
Uma vez que esta região possui, desde muito cedo, como na qualidade de trabalhadores das grandes trial planeado para a produção regular de gelo, com dutores expõem para regalo dos olhos de fregueses
terrenos bastante férteis para o cultivo de produtos casas, como a Pereira Bernardino, a José Berardo, a todo o sistema de produção, transformação, armaze- e de forasteiros que ali afluem para compras ou para
vinícolas, o vinho, marca desta zona, vinculou-se Patuleias e Patuleias, a Sá Dias e Filho, a Abel Pereira namento, transporte e distribuição estudado. Este foi visita. Às cores e aos cheiros da fruta e da hortaliça
com naturalidade à toponímia, tal como a arruda, um da Fonseca… Grandes viticultores, reconhecendo o um feito notável, único na Europa. No final do século junta-se a policromia das bancas da cerâmica cal-
arbusto do sul da Europa muito abundante nesta re- potencial das vinhas do concelho, investiram na re- XIX, com o advento dos frigoríficos, o negócio come- dense, que conta na sua história com nomes famo-
gião, teve a honra de ter gerado o nome da povoação. gião, compraram terras, ergueram adegas e construí- çou a decaír. Actualmente, a recuperada Real Fábrica sos como Maria dos Cacos, Manuel Mafra e, sobre-
Esta planta, com capacidades curativas e terapêu- ram destilarias. Hoje, muitas destas quintas produto- do Gelo foi transformada em núcleo museológico e tudo, Rafael Bordallo Pinheiro. A sua fábrica, fundada
ticas, permitiu a difusão de alegações a bruxaria e a ras de vinho da região, como a Quinta do Sanguinhal, o concelho do Cadaval já não se dedica ao frio. Hoje em 1884, laborou durante mais de 100 anos. Já no
curandices, tendo sido criado, provavelmente pelas a Quinta das Cerejeiras, a Quinta dos Louridos, são a pêra rocha, o mel e outros produtos rurais que século XXI, após um período de decadência, sofreu
alusões a feitiçarias, um doce designado “Bruxas da fazem parte da Rota dos Vinhos do Oeste. fazem as delícias de Lisboa e de outras urbes. um novo impulso, voltando a apresentar as típicas
Arruda”. loiças ao lado de peças inovadoras.
.
217
LOURINHÃ NAZARÉ ÓBIDOS PENICHE
Em Março de 2014, todos os grandes meios de Existem duas Nazarés. Uma é feita de pescadores, O recorte da marulha vê-se de longe. Altaneira, esta Os bandos das gaivotas, o cheiro intenso da maresia,
comunicação, de Washington a Hong Kong, noti- de homens do mar, de mulheres vestidas de preto, linha defensiva hoje protege uma das jóias do turis- o vento na cara, provam-nos que estamos em terra
ciaram a descoberta de um novo dinossáurio. Os gente com os olhos, o coração e o sustento postos mo nacional: cerca de 14 hectares de história viva e atlântica. De facto, a vitalidade e a força das gentes
fósseis do Torvosaurus Gurneyi, um parente do no oceano revolto. A outra é uma babel composta preservada por uma faixa de pedra antiga. Do alto de Peniche encontram-se todas no mar. Estaleiros,
famoso Tyrannossaurus Rex, foram encontrados na por uma população flutuante que aflui aqui, vinda das suas torres, avista-se o concelho. Daqui entre- empresas de pesca, conservas, tudo o que se liga à
Formação da Lourinhã, numa área onde se encontra do mundo, à procura da onda gigante perfeita que ve-se o casario disperso, os campos arados, a lagoa, vida marítima assume uma legitimidade e um vigor
um tipo de rochas ideais ao processo de fossilização. irá constar num famoso livro de recordes, ou de um baptizada com o nome da vila, o oceano, ao longe, a que o turismo ainda não conseguiu alterar. Uma
Este primo do T-Rex, oitenta milhões de anos mais bonito tom de pele conseguido num areal a perder provar a escolha privilegiada deste local que parece autenticidade bem visível a quem, em dia de semana,
velho, pode ter atingido os dez metros de compri- de vista e potenciado pelo ar saturado de iodo. Estas ter tudo: porto de mar, terras férteis e o sistema lagu- se passeie pela zona portuária. A descarga do pesca-
mento e ter pesado entre quatro a cinco toneladas; duas realidades encontram-se quando os habitantes nar costeiro mais extenso da costa portuguesa. Aqui, do é um espectáculo único, com gestos e linguagens
com estas medidas, os paleontólogos acreditam que locais se esmeram na hospitalidade: nos restauran- ainda hoje se capturam espécies como o robalo, o muito próprios, que, embora tenha sofrido trans-
este era o maior predador terrestre da Europa do tes servem com orgulho os pratos confeccionados linguado, a solha, a tainha, a amêijoa, o berbigão, o formações com o progresso, mantém um pitoresco
seu tempo, o Jurássico Superior. Os vestígios deste com o pescado do dia, nas ruelas abrem as suas ca- mexilhão, o camarão, o polvo e a enguia que muito intemporal. Ali descansa já em caixas o pescado
enorme animal encontram-se num pequeno museu sas ao turismo numa oferta expressa de Chambres, influenciam a oferta gastronómica da região. acabado de apanhar, brilham ao sol as sardinhas, as
no centro da vila Lourinhã, mantido por um grupo de Rooms e Zimmer. lagostas, as raias, os búzios, debaixo do olhar guloso
arqueólogos que conseguiram reunir um espólio hoje Desde cedo que as condições geográficas favorá- das gaivotas.
considerado como uma das maiores colecções de O turismo e a pesca são as actividades que fazem veis foram reconhecidas pelos povos que por aqui
fósseis de dinossáurios do Jurássico Superior. O mu- pulsar a vila. Quando Ramalho Ortigão publicou passaram e se fixaram. Ao povoamento neolítico Com uma grande tradição nas artes da pesca, a
seu, para além do núcleo de Paleontologia, também “As Praias de Portugal - Guia do Banhista e do sabe-se que se seguiram, mais tarde, os romanos, os gastronomia de Peniche oferece, naturalmente, uma
possui outros dedicados à Arte Sacra e à Etnologia Viajante” em 1874, já a Nazaré era destino de férias visigodos e os árabes. D. Afonso Henriques, depois grande variedade de pratos de peixe e marisco. A
e, numa rápida visita, podemos perceber que, para principalmente occupada pelos banhistas das Caldas de conquistar Lisboa, dedicou-se a submeter as re- Avenida do Mar e o Largo da Ribeira são os dois
além dos animais já pisarem esta terra há tempos e pessoas d’aquellas redondezas da Extremadura : giões vizinhas. Óbidos caíu nas mãos lusas em 1148. locais da cidade onde se acotovela uma grande
imemoriais, também o ser humano deixou por aqui Pombal, Leiria, Torres Novas, Santarém. Com o tem- No século XIV, esta terra já afirmava a sua importân- parte dos restaurantes, especializados, claro está, na
pegadas antigas. po, internacionalizou-se. Em 2011, o surfista ameri- cia. Poucas eram as povoações que, naquela altura, confecção irrepreensível do maior tesouro da região,
cano Garrett McNamara levou esta faixa costeira às apresentavam uma área tão extensa intramuros . o peixe fresco. Mas, se por aqui o fruto do mar é rei,
Romanos primeiro, depois Árabes, por fim Cristãos: bocas do mundo, depois de ter cavalgado uma onda Depois, com o andar da História, foi perdendo peso, noutros pontos da cidade e um pouco por todo o
o clima e a qualidade do solo parecem ter atraído de quase 30 metros e, imediatamente, a Nazaré mas talvez tenha sido isso que a salvou. O progresso concelho, as propostas culinárias passam, também,
pessoas desde cedo ao concelho. A sua localização tornou-se destino de peregrinação do amante deste das Caldas da Rainha, que lhe roubou toda a impor- pela riqueza agrícola das vastas e férteis zonas
privilegiada, protegido pelo Montejunto e delimitado desporto radical de qualquer parte do globo. Mas, tância, preservou esta vila acastelada de inovações rurais, mostrando que a região de Peniche é pintada
pelo Cabo Carvoeiro, consegue condições metrológi- esta ondulação furiosa que hoje fascina os turistas do ‘fácies antigo’ , fazendo dela (...) um museu. Assim a muitas cores.
cas abençoadas. Esta é uma terra com muita pesca, foi, desde há séculos, motivo de temor e de luto para se escreveu, em 1955, no inventário da Academia de
carne, fruta e marisco, em especial a lagosta. A sua a população que dependia do mar para viver. Apesar Belas-Artes e, actualmente, por se tratar de uma jóia, De qualquer forma, a vastidão do azul do oceano
aguardente, embora já seja por aqui uma tradição do risco, a pesca, a transformação do pescado, o muito temos que agradecer ao progresso não ter pode dominar o verde dos campos. Mas a relação
com mais de duzentos anos, conseguiu ter região pitoresco processo da seca e a venda de peixe, são, conseguido ultrapassar as muralhas. com o mar não se limita à pesca: o desporto náutico,
demarcada em 1992. ainda hoje, a principal actividade da população. principalmente o surf, já ganhou relevância e hoje
Peniche é conhecido como a «Capital da Onda».
219
SOBRAL DE MONTE AGRAÇO TORRES VEDRAS
Nas histórias das famílias antigas do concelho ainda Cidade com pergaminhos antigos, a história de
pairam as sombras das Guerras Napoleónicas, ocor- Torres Vedras é pródiga em acontecimentos. D.
ridas há dois séculos. Nas narrativas populares que Afonso Henriques conquistou-a aos mouros em
recordam esses tempos idos, há sempre um tesouro 1147, mas foi só em 1250 que D. Afonso III doou aos
escondido, ouro emparedado, faqueiros de prata homens e vassalos do povoado carta de Foral. Foi
enterrados, mas também há a lembrança de casas por aqui que D. João I encetou a campanha de África,
destruídas, arquivos incendiados, paços devastados… quando, em 1413, reuniu o conselho para discutir
Estes relatos reflectem uma época de susto, feita de os planos de Ceuta. Na Restauração, em 1640, foi
saque e de medo. das primeiras povoações das imediações de Lisboa
a sacudir o domínio filipino, mas é, sem dúvida, no
O concelho de Sobral de Monte Agraço é justamente período negro das Invasões Francesas que Torres
reconhecido por ser lugar proeminente das “Linhas Vedras se destaca.
de Torres” durante a Terceira Invasão Francesa.
Depois da incursão do General Junot, em 1807, e O Marechal Massena acabado de entrar em Portugal
da de Soult, em 1809, o Marechal Massena, um avançava a passos largos para a capital. Com
dos mais admirados militares de França, avançava Lisboa como objectivo, foi saqueando o que pôde
pelo território português à frente do maior exército pelo caminho. Massena só soube da construção
invasor que até à época tinha entrado por Portugal. das Linhas de Torres quando com elas se deparou.
Estávamos em 1810. Vindas do norte, as tropas Com os seus homens exaustos, não tentou forçar
francesas foram avançando para as linhas defensivas a passagem sobre esta faixa de defesa da capital.
de Torres Vedras, construídas com o objectivo de es- Esperou por reforços e, rendido às evidências, retirou
tancar as hostes inimigas antes de estas chegarem para a região de Santarém. Assim, começava aqui
a Lisboa. Sir Arthur Wellesley, primeiro Duque de o malogro da Terceira Invasão Francesa e assistia-
Wellington, comandante supremo das forças luso- se ao inicio da progressiva perda de hegemonia do
-britânicas montou o seu quartel-general na Quinta império Napoleónico na Europa. Os Portugueses,
dos Freixos, nas imediações de Sobral de Monte agradecidos, entre outras homenagens que presta-
Agraço. William Beresford, comandante-em-chefe do ram a Wellington, deram-lhe o título de marquês de
Exército Português, instalou-se por perto, na Quinta Torres Vedras.
Nova de Nossa Senhora. É fácil imaginar como o
impacto destas movimentações e destes aconteci- Mas a importância deste concelho vai muito além
mentos afectaram esta terra predominantemente destes feitos bélicos. Desde há séculos que estas
rural. Com efeito, a agricultura foi sempre o factor de terras férteis, abastecem de produtos hortícolas a ca-
desenvolvimento da região, situação que, apesar de pital e fornecem a base de uma cozinha rural muito
ter decrescido nos últimos anos, ainda garante bons interessante, valorizada pela riqueza do que a vasta
produtos e a base da gastronomia local. costa atlântica dá.
221
GASTRONOMIA
REGIONAL
223
AGENDA
GASTRONÓMICA
Março Novembro
Festival Internacional de Chocolate, em Óbidos Mostra Internacional de Doces Conventuais, em
Quinzena da Aguardente DOC Lourinhã, na Lourinhã Alcobaça
Feira de Todos os Santos, em Sobral de Monte
Abril Agraço
Festival das Sopas e do Petisco, em Labrugeira, Festa da Vinho e do Vinho, em Arruda dos Vinhos
Alenquer
Na 5ª feira da espiga, Festa do Pão, Artesanato e
Maio Sabores, em Sobral de Monte Agraço
Mês da Gastronomia, em Arruda dos Vinho
Quinzena do Polvo, na Lourinhã
Mostra Gastronómica da Região Ribeirinha do
Concelho de Alcobaça, em Cela Velha, Alcobaça Vinhos da Região
Os vinhos produzidos nesta região integram a
Julho Comissão Vitivinícola Regional de Lisboa
Feira das Tasquinhas Rurais, em Peniche
Agosto
Festival do Vinho Português e Feira Nacional da Pêra Confrarias
Rocha do Oeste, no Bombarral Confraria da Pêra Rocha
Aljubarrota Medieval, em Alcobaça Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da
Expotur, nas Caldas da Rainha Lourinhã
Tasquinhas, em Valado dos Frades, Nazaré Confraria dos Enófilos da Estremadura
Feira das Tasquinhas, em Famalicão, Nazaré
Setembro
Feira do Arroz-Doce, no Paúl, Torres Vedras
Concurso de Gastronomia, nas Caldas da Rainha
Outubro
Feira das Tasquinhas, em Sobral de Monte Agraço
Festa das Adiafas e Festival Nacional do Vinho Leve,
no Cadaval
Festival da Codorniz, no Landal, nas Caldas da
Rainha
Feira de S. Simão, em Alcobaça
225
CALDEIRADA
À NAZARENA
227
ENSOPADO
DE ENGUIAS
. 229
.
LAGOSTA SUADA À
MODA DE PENICHE
231
CODORNIZ RECHEADA
COM COUVE E
CHOURIÇO
233
CAVACAS DAS
CALDAS
235
CORNUCÓPIAS
237
TROUXAS
DE OVOS
239
PÃO-DE-LÓ DE
ALFEIZERÃO
241
SARDINHAS DOCES
DA NAZARÉ
243
MIMOSOS DO
BOMBARRAL
245
PASTÉIS DE
FEIJÃO
247
BRUXAS DE
ARRUDA
249
UVADA
251
Produto Regional
BOLO DOS
GENERAIS
As ambições de Napoleão Bonaparte eram muito aliadas, numas instalações agrícolas cedidas, para o
claras quando em 1807 expediu as suas legiões para efeito, pelos proprietários. Pediu então à sua anfitriã
solo português. Aliado à coroa espanhola, pretendia que lhe confeccionasse o seu bolo preferido. Consta
dividir o reino de Portugal de modo a, indirectamen- que o General, ao provar o bolo, terá exclamado que
te, atingir os interesses comerciais do Reino Unido. era o mais saboroso que jamais havia provado. Tal
Com a estratégia montada e com o mapa do terri- elogio deve-se, certamente, ao facto de os ingredien-
tório luso riscado pelas linhas estabelecidas pelo tes serem produzidos nesta região do Bombarral,
Tratado de Fontainebleau, que o fragmentavam em Oeste de Portugal, cujo microclima específico influi
três novas unidades políticas em benefício de Maria nas suas características, tornando-os únicos.
Luísa, filha de Carlos IV de Espanha, de Manuel de
Godoy, seu primeiro-ministro, e do império francês, o A Casa Agrícola J. Nicolau, à qual, há muitos anos,
general Jean-Andoche Junot, ao comando das tropas foi confiada esta receita por um descendente directo
gaulesas, cruzou a fronteira portuguesa a 20 de dos proprietários das instalações onde decorreu
Novembro. A fraca resistência que as hostes inva- a célebre reunião, situadas perto da povoação da
soras encontraram no terreno permitiu que Lisboa Roliça, tenta reproduzir artesanalmente e o melhor
caísse dez dias mais tarde. que sabe este maravilhoso bolo que, dados os factos,
considera parte da história e do património cultural
Foi no início de Agosto de 1808 que as tropas desta região.
inglesas, chefiadas por Sir Arthur Wellesley, futuro
duque de Wellington, desembarcaram na Figueira da Esta é uma receita registada, por essa razão só é
Foz para, juntamente com a resistência portuguesa, possível referir os ingredientes utilizados: mel, ovos,
fazer frente às forças ocupantes. Informado do de- manteiga, açúcar, farinha, cerejas, pêras, passas de
sembarque, Junot enviou o General Delaborde para uva, miolo de pinhão, miolo de noz, miolo de amên-
impedir o avanço inimigo. O corpo expedicionário doa, arrobe de uva, laranja, limão, vinhos licorosos,
de Wellesley rumou para Sul e, no dia 16 de Agosto, fermento de pão.
perto da povoação da Roliça foram avistadas as
primeiras tropas francesas.
253
Produto Regional
AGUARDENTE DOC
LOURINHÃ
255
Produto Regional
LICOR DE GINJA
OU GINGINHA
Pensa-se que a ginja, também conhecida por Este licor encontra a sua origem, provavelmente,
cereja ácida, é procedente da Ásia Menor, sendo na actividade doceira e licoreira dos conventos, no
já comum em Portugal nos séculos XV e XVI. José século XVII, e a sua popularidade e consequente
Leite de Vasconcelos relata na sua obra “Etnografia comercialização estará relacionada, no caso de
Portuguesa” uma passagem de Ruy Fernandes, Óbidos, com o início do turismo nos anos 60 do
do século XVI, referindo as ginjas garrafais de século XX. Por iniciativa de um comerciante de nome
Lamego, o que testemunha a sua presença nos Montez, propriatário de uma loja de antiguidades e
hábitos alimentares dos portugueses por alturas velharias, foi inaugurado o primeiro bar na vila, o “Ibn
do Renascimento. Este pequeno fruto redondo, de Errik Rex”, ponto de encontro da classe abastada da
cor vermelha, com sabor agridoce, é produzido, região, que promoveu o Licor de Ginja a bebida da
em Portugal, essencialmente na região Oeste. As casa, com grande adesão por parte dos apreciadores.
árvores, de nome ginjeiras, entram em produção ao Rapidamente a oferta alargou-se a outros bares que,
fim do quarto ou quinto ano de plantação, alcançan- entretanto, abriram e passaram a competir entre si,
do a produção máxima entre o sétimo e o décimo em busca da «melhor Ginja».
ano, período em que, em pomares bem cuidados, os
ginjais, podem ser colhidos 10 a 15 quilos de gin- Já em Alcobaça, surgiu na década de 20 do século
jas por árvore. A floração da ginjeira, que no Oeste passado o ainda hoje famoso Licor de Ginja M.S.R.,
ocorre normalmente em Fevereiro, justifica passeios a partir das iniciais do nome de Manuel de Sousa
só para admirar as lindíssimas imagens proporcio- Ribeiro, seu criador. Esta variedade é comercializada
nadas pelas manchas de flores brancas. A colheita, numa peculiar garrafa de forma cónica, que foi dese-
realizada em Junho, durante cerca de vinte dias, deve nhada no início da década de 30 do século passado,
ser manual e mantendo inteiro o pedúnculo do fruto. registando imediatamente um grande sucesso, o que
Como indicadores da melhor data para a colheita, constituiu um importante contributo promocional.
podem ser utilizados dois critérios: a cor dos frutos, Num folheto de promoção, a empresa destacava
vermelha em toda a superfície, ou o seu nível de que esta Ginja é ”a melhor, por ser fabricada com a
açúcar, medido por um refractómetro. essência do próprio fruto”, o que leva a crer que, já na
altura, se produziam licores de ginja com corantes.
Alcobaça e Óbidos são as grandes referências geo-
gráficas da produção de Licor de Ginja, ou Ginjinha, De Alcobaça ou de Óbidos, «com ou sem elas», a
como também é conhecida esta bebida, que é já um Ginja do Oeste ganhou já um lugar de destaque
atractivo turístico nos dois destinos da região Oeste, entre as bebidas tradicionais portuguesas58.
mas também na Baixa da cidade de Lisboa.
257
Produto Regional
MAÇÃ DE
ALCOBAÇA
A história agrícola da região de Alcobaça começa Alcobaça, Golden Delicious, Granny Smith e Reineta
em 1154, com a doação, por D. Afonso Henriques, à Parda. A sua produção obedece a uma estratégia
Ordem de Claraval, das terras onde foi construído o inovadora, racional e controlada, que permite me-
Mosteiro de Santa Maria. Provavelmente, os primei- lhorar a qualidade, proporcionar segurança alimen-
ros monges já teriam encontrado campos cultivados tar e contribuir para o equilíbrio ecológico do meio
por populações autóctones, mas com pouco signifi- ambiente. Assim, o combate às pragas e às doenças
cado. Desde o início da sua instalação no Mosteiro, das árvores é feito através de meios de luta cultural,
os monges de Cister terão reconhecido nas terras biotécnica e biológica, alternativos ao uso de pestici-
da região, situada entre a serra e o mar, condições das, respeitando o ciclo natural da vida, o ambiente e
atmosféricas óptimas para o cultivo de maçãs. Esta a saúde do consumidor.
tradição de séculos fez com que Alcobaça ficasse co-
nhecida como “terra de maçãs”, produto que impreg- A maçã é colhida normalmente entre os finais de
nou a cultura das suas gentes. Curiosamente, a área Agosto e meados de Outubro e, para além dos habi-
ocupada pelos Coutos de Alcobaça é sensivelmente tuais processos de embalamento e de comercializa-
igual à que hoje se indica como delimitação para a ção da fruta, são várias as empresas da região que
produção da Maçã de Alcobaça. têm procurado inovar na oferta de maçã no mercado,
criando novas formas de consumo deste produto,
Actualmente, a Maçã de Alcobaça é uma das como sumos naturais, purés, maçã fatiada, compo-
riquezas da região e encontra-se sob Indicação tas, tarte de maçã.
Geográfica Protegida, que abrange cerca de catorze
concelhos, mas a esta é a mais famosa das maçãs
portuguesas incluídas nesta distinção. A existência
de um sistema de controlo e certificação garante
que só podem beneficiar do uso da IGP as maçãs
obtidas em pomares para o efeito autorizados pela
Associação dos Produtores da Maçã de Alcobaça
(APMA), devendo os produtores obedecer a um con-
junto de requisitos. Qualificada pela União Europeia
e pelo Ministério da Agricultura em 1994, esta maçã
possui características únicas, com um sabor agrido-
ce e um aroma intenso. Apresenta-se nas variedades
Royal Gala, Delicious, Jonagold, Fuji, Casanova de
259
Produto Regional
PÊRA ROCHA
De acordo com a tradição, foi em 1836 que Pedro a diversos pratos salgados, nomeadamente de caça.
António Rocha identificou, numa sua propriedade em No campo das sobremesas, as mais conhecidas são
Sintra, uma pereira diferente, cujos frutos eram de as chamadas «peras bêbedas», cozidas em calda
uma qualidade invulgar e aos quais deu a designação açucarada, feita com os mais diversos tipos de vinho,
de Pêra Rocha, a partir do seu próprio nome. Como a que pode ser tinto, branco, Porto, Moscatel…
região Oeste se mostrou particularmente apta para
o seu cultivo, foi-lhe atribuída a Denominação de Para conservação, deve ser guardada no frigorífico,
Origem Protegida (DOP), delimitando uma área geo- na prateleira inferior, dentro da gaveta de frutas e
gráfica com um saber-fazer reconhecido, na qual se vegetais. Se o período de conservação for superior a
concentra a produção desta variedade de pêra. Aqui, dez dias, não se deve misturar com outros frutos, tais
destaca-se o concelho do Cadaval, com uma área como bananas ou kiwis, porque acelera a maturação
de cultivo de 2073 hectares, e o do Bombarral, com das outras frutas.
uma área plantada de 1934 hectares. Pertence a esta
região a responsabilidade de exportação de mais de
50000 toneladas de Pêra Rocha para toda a Europa,
Canadá e Brasil. É colhida normalmente em Agosto.
261
Produto Regional
MEL DO
MONTEJUNTO
A Serra de Montejunto foi a primeira área de pai- descongestionar as vias respiratórias. Mas, em geral,
sagem protegida de âmbito regional em Portugal. a sua textura é líquida, de um castanho muito claro,
Localiza-se no concelho do Cadaval, a norte do entre o amarelo e o dourado.
concelho de Alenquer. É um verdadeiro ecossiste-
ma de montanha, que conserva ciosamente as suas O Mel foi utilizado como adoçante desde a
lendas, como a crença em lobisomens, e as suas Antiguidade, só começando a ser suplantado pelo
tradições, como a actividade ancestral da apicultura. açúcar no século XVI, com a introdução da cultura
A produção de mel na Serra já se encontra registada da cana-do-açúcar. Mas hoje em dia continua a ser
nas alcavalas dos forais que os povos de Montejunto apreciado, não apenas pela sua riqueza em termos
tinham que pagar, o que permite calcular a importân- nutricionais, mas também pela sua versatilidade na
cia que o mel assumia na economia da região, a par culinária e na doçaria.
dos cereais, do vinho e do gado.
Guardado fora do frigorífico e em locais sem humi-
Os apicultores da Serra de Montejunto dividem o dade conserva-se durante muito tempo.
terreno em Serra de Baixo e Serra de Cima. Durante
o Inverno, em que os dias são mais curtos, mais frios
e há mais vento, as abelhas que habitam as colmeias
da Serra de Cima trabalham menos e a quantidade
de Mel recolhida das plantas típicas do topo da serra,
como o alecrim, é em menor quantidade.
263
Produto Regional
PEIXE SECO
OU ENJOADO
Apesar de ser uma das principais imagens turísticas O Peixe Enjoado é preparado da mesma maneira,
da Nazaré relacionadas com a vida dos pescadores mas passa apenas um dia ao sol, ficando apenas
e suas famílias, o peixe preparado ao ar e ao sol da meio seco ou enjoado. A espécie mais utilizada
praia é um produto pouco conhecido dos gastróno- para esta secagem é o carapau de tamanho médio.
mos em geral, sendo os nazarenos e os que habi- Acompanha com batata cozida e é regado com azei-
tualmente com eles convivem à mesa quem o sabe te e vinagre ou com uma cebolada.
apreciar, pois os restaurantes apostam pouco na sua
inclusão nas ementas. É a sul da praia, quase em frente ao Centro Cultural
da Nazaré, que se encontra o “estindarte”, ou seja,
A tradição de secar o pescado em excesso é de ori- o estendal de secagem de pescado, onde as várias
gem desconhecida, mas antigamente seria a melhor peixeiras secam e vendem directamente, tanto aos
maneira de conservar o peixe para os dias de es- locais como aos visitantes, o peixe ali exposto.
cassez. Era desta forma que as peixeiras garantiam
sustento para as famílias, num procedimento que O Peixe Seco tem um grande potencial gastronómi-
também lhes permitia ter peixe para vender noutros co, podendo ser comido cru, cozido, com batatas às
mercados. rodelas, sobre um refogado ou, melhor ainda, leve-
mente aquecido nas brasas, temperado com azeite,
Na Nazaré, distinguem-se duas formas de seca- vinagre e alho migado e comido sobre fatias de pão.
gem: o Peixe Seco e o Peixe Enjoado, com carate- Com este peixe, faz-se ainda um outro prato típico
rísticas de preparação e de consumo relativamente e muito apreciado na Nazaré, a Sopa de Carapaus
diferentes. Secos.
265
267
FONTES
1. Manuel P. das Neves, Sabores da Região Leiria-Fátima 32. Maré Cheia n.º 16 – Abril de 2005
2 Fonte: Câmara Municipal de Torres Novas / restaurante 33 Celeste Cavaleiro, Idem
Zé das Enguias, do Boquilobo 34. Celeste Cavaleiro, Idem
3. Isabel Amado, Nas cozinhas das avós,1993 35 Celeste Cavaleiro, Idem
4. Fonte: Junta de Freguesia da Serra 36. Maré Cheia n.º 8 – Agosto de 2004
5. Manuel P. das Neves, Sabores da Região Leiria-Fátima 37 Odília Costa Pina, Eu…A Culinária Tradicional de
6. Ana Soeiro (coord.), Produtos Tradicionais Portugueses Alcochete, Apresento-me
7. Fonte: Câmara Municipal de Torres Novas 38 Celeste Cavaleiro, Idem
8. Fonte: Adega do Cocharradas / J.F. do Cartaxo 39. Celeste Cavaleiro, Idem
9. Fonte: Confraria da Gastronomia do Ribatejo 40. Celeste Cavaleiro, Idem
10. Fonte: APRODER 41. Odília Costa Pina, Idem
11. Fonte: Confraria Gastronómica do Ribatejo 42. Maré Cheia n.º 5 – Maio de 2004
12. Felícia Costa; António José Costa e Silva, Rio Maior: 43. Fonte: Câmara Municipal de Sesimbra
Sabores da Terra 44. Celeste Cavaleiro, Idem
13. Fonte: APRODER 45. Fonte: Câmara Municipal de Palmela (Lourdes
14. Fonte: Confraria da Gastronomia do Ribatejo Machado)
15. Felícia Costa; António José Costa e Silva, Idem 46. Ana Soeiro (coord.), Idem
16. Fonte: Confraria da Gastronomia do Ribatejo 47. Fonte: Comissão Vitivinícola Regional da Península de
17. Fonte: APRODER Setúbal
18. Fonte: Câmara Municipal da Azambuja 48. Fonte: Câmara Municipal da Nazaré
19. Fonte: APRODER 49. Fonte: Câmara Municipal de Óbidos
20. José Labaredas, Coruche à Mesa e Outros Manjares 50. Fonte: Câmara Municipal de Peniche
21. Fonte: Câmara Municipal de Almeirim / José Manuel 51. Receita criada pelo Chefe Luis Tarenta da Escola de
Toucinho Hotelaria e Turismo do Oeste - Caldas da Rainha
22. Fonte: Câmara Municipal de Salvaterra de Magos 52. «101 receitas experimentadas» - MAM
23. Augusto do Souto Barreiros, Azinhaga: Livro de Horas 53. António Rosado Silva (chef Silva), Doçaria Conventual
24. José Labaredas, Idem na Mostra de Alcobaça / Pastelaria Alcoa
25. Fonte: Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim 54. Casimiro de Almeida, Roteiro Cultural da Região de
26. José Labaredas, Idem Alcobaça
27. Fonte: Câmara Municipal de Alpiarça 55. Maria de Lurdes Modesto, Cozinha Tradicional
28. Fonte: Câmara Municipal de Salvaterra de Magos Portuguesa
29. Fonte: Câmara Municipal de Palmela / Chefe Helder 56. Fonte: Pastelaria Flamingo
Martins 57. Paulo Moreiras, Justino Sobreiro e Gonçalo Lopes, O
30. Fonte: Câmara Municipal do Montijo elogio da Ginja
31. Celeste Cavaleiro, Sabores da Costa Azul: Gastronomia 58. Fonte: Câmara Municipal da Nazaré
de uma Região
269
271
ASSOCIAÇÕES
PROMOTORAS
Associação para o Associação para a Promoção Associação para a Associação para o
desenvolvimento integrado do Desenvolvimento Rural Promoção Rural Desenvolvimento Rural
do Ribatejo Norte do Ribatejo da Charneca Ribatejana da Península de Setúbal
A Associação para o Desenvolvimento Integrado do A APRODER , constituída em Dezembro de 1991, de acordo Em 9 de Agosto de 1994, na vila de Coruche, e por vontade A ADREPES é uma associação de direito privado, sem fins
Ribatejo Norte foi constituída em 3 de Setembro de 1991 com os seus Estatutos, tem como objectivo geral promover de quatro associações fundadoras, foi lavrada a escritura lucrativos, que tem como objectivo a promoção e a realiza-
por dezanove entidades que assinaram a escritura pública o território da sua zona de intervenção, especificamente: de constituição da Associação para a Promoção Rural da ção do desenvolvimento rural na Península de Setúbal.
desta associação. A ADIRN é uma entidade de direito pri- prestar assistência técnica; promover e executar acções de Charneca Ribatejana, no sentido lato de um mais harmo- Foi fundada em 27 de Novembro de 2001 por um conjunto
vado e sem fins lucrativos que, apoiada nos conhecimentos formação; divulgar informação; motivar e apoiar iniciativas nioso e acelerado desenvolvimento rural. de onze entidades, públicas e privadas, representativas das
e experiência dos seus associados, desenvolve projectos e tendentes à criação e ao desenvolvimento de pequenas e Hoje, um total de dezassete entidades colectivas constitui a populações e dos produtores locais, que se constituíram em
iniciativas que têm em vista o desenvolvimento integrado e médias empresas, artesanato e serviços de apoio em zonas nossa parceria numa mesma vontade de tudo fazer por um Grupo de Acção Local (GAL) e, simultaneamente, também
amel horiada sc ondiçõesdev idada p opulaçãor esidente. rurais; promover o turismo rural; fomentar a valorização território de 3.029 km2 e com 117.785 habitantes (Censos em núcleo fundador da ADREPES.
A actividade da ADIRN tem-se direccionado essencial- e a certificação de produtos agrícolas, agro-alimentares, flo- de 2011). A sua actividade tem decorrido no âmbito de diversos
mente para a gestão de programas de desenvolvimento restais e outros produtos tradicionais da região; constituir- Desenvolvendo-se em 26 freguesias de sete concelhos - programas comunitários, merecendo destaque o EQUAL e
local que privilegiam a área do turismo, a valorização dos se como entidade gestora do programa de Ligação Entre Almeirim, Alpiarça, Benavente, Chamusca, Coruche, Golegã o Leader +.
produtos locais e do artesanato, a preservação ambiental, a Acções de Desenvolvimento da Economia Rural, vulgo, e Salvaterra de Magos -, a nossa área de intervenção Em outubro de 2008, com a aprovação da sua Estratégia
acção social e a formação profissional. Programa LEADER, e/ou outros programas de desenvolvi- respondeu no LEADER + e, comparativamente com todas Local de Desenvolvimento, foi-lhe atribuída a gestão do
Serras rochosas, rios tranquilos, paisagens admiráveis e mento de interesse para a região, nos termos dos mesmos. as outras, ao maior investimento privado de todo o território Eixo 3 do PRODER na Península de Setúbal.
vales frondosos, vilas e cidades de encantar, monumen- Com uma área de cerca de 1.250 Km2, o território de nacional. A Península de Setúbal está enquadrada por diversas áreas
tos preciosos – eis a região do Ribatejo Norte em todo o intervenção da APRODER insere-se na região normalmen- Notável por muitas razões, a Charneca Ribatejana impres- naturais classificadas: a Norte, pelo Estuário do Tejo, a Sul,
esplendor da sua beleza e contraste. te designada por Ribatejo e é composto pelos concelhos siona pelo modo como, a dois passos de Lisboa, manteve pelo Estuário do Sado e pela Serra da Arrábida, a Oeste,
Com as Serras D’Aire e Candeeiros a ladeá-la a ocidente, de Azambuja, Cartaxo, Rio Maior e Santarém (excepto o uma vincada identidade cultural e não se deixou asfixiar pela Lagoa de Albufeira e a Este, por diversos Corredores
o tipicismo desta região revela-se em aldeias e cidades: núcleo urbano). pelo abraço da grande cidade. Ecológicos que unem Canha à Marateca, estendendo-se na
de Dornes, em Ferreira do Zêzere, a Tomar, de Vila Nova Trata-se de um território de profunda matriz rural e de Nem a estrutura empresarial e fortemente mecanizada das direcção de Sesimbra.
da Barquinha a Alcanena, de Ourém a Fátima passando grande importância do sector agrícola, tendo em conta que grandes explorações agrícolas conseguiu limitar e quebrar A Zona de Intervenção da ADREPES abrange vinte e uma
por Torres Novas, com igrejas antigas e com castelos apresenta condições de produtividade agrícola das mais a fluidez dos grandes horizontes. O céu, a água e a terra freguesias de seis concelhos da Península de Setúbal, com
misteriosos. elevadas do País. Em termos agro-florestais, assumem convivem numa rara harmonia a que nem falta o fogo das exclusão dos núcleos urbanos das freguesias de Pinhal
especial importância as fileiras do azeite, do vinho e da forjas de ferrador para perfazer os quatro elementos essen- Novo (Palmela) e N.ª Sr.ª da Anunciada (Setúbal).
floresta. No campo do turismo, o território revela um grande ciais à vida. A quem tivesse dúvidas sobre a autenticidade Concelhos: Alcochete, Moita, Montijo, Palmela, Sesimbra,
potencial de atractividade turística, nomeadamente nas deste cenário, a naturalidade com que pastam em liberdade Setúbal.
tradições ligadas ao toiro, ao cavalo e ao campino, que são os touros bravos, os cavalos Lusitanos e, nalgumas zonas,
elementos emblemáticos e identitários da região, e no vasto os cavalos do Sorraia, diz tudo: este é o seu habitat.
património existente.
Telefone: +351 249 310 040 Telefone: +351 243 333 869 Telefone: +351 243 619 060 Telefone: + 351 212 337 930
E-mail: adirn@adrin.pt E-mail: aproderstr@gmail.com E-mail: geral@charnecaribatejana.pt E-mail: adrepes@adrepes.pt
www.adirn.pt. www.aproder.pt www.charnecaribatejana.pt www.adrepes.pt
273
Leader Oeste
Associação para o Desenvolvimento e Promoção
Rural do Oeste
275
BIBLIOGRAFIA
À Descoberta de Portugal, Lisboa, Selecções do COSTA, Cincinnato da, Portugal Vínicola, Lisboa, MECO, José, SERRÃO, Vítor, Palmela His- gueses, Ministério da Agricultura, do Desenvolvi-
Reader’s Digest, 1982 Imprensa Nacional, 1900 torico-Artística, Lisboa, Edições Colibri, 2008 mento Rural e das Pescas, Secretaria de Estado
do Desenvolvimento Rural, Lisboa, 2001
ABREU, João Paulo Peres, Roteiro do viajante no COSTA, Felícia, SILVA, António José Costa e, Rio MODESTO, Maria de Lurdes, Cozinha Tradicional
continente e nos caminhos de ferro de Portugal em Maior: Sabores da Terra, Rio Maior, Câmara Munic- Portuguesa, Lisboa, Edições Verbo, 2012 SOBREIRO, Justino e LOPES, Gonçalo, Guia da
1865, Coimbra, Imprensa Universitária, 1895 ipal de Rio Maior, 1998 Ginja, Óbidos, COTHN - Centro Operativo e Tec-
MOREIRAS, Paulo, O elogio da Ginja, Vila do nológico Hortofrutícola Nacional, 2003
ALVES, Augusto Durão, Torres Novas: Ontem e FREIRE, Natércia, O Ribatejo, Lisboa, Livraria Conde, Quidnovi, 2009
Hoje, Braga, Missões Franciscanas, 1942 Bertrand, s.d. RAPOSO, Francisco Hipólito, Estremadura e Ri-
NEVES, Manuel Poças das, Sabores da Região batejo em Passeio de Braço Dado, s.l., Mobil, s.d
AMADO, Isabel, Nas Cozinhas das Avós, Mira de GAMEIRO, José, Subsísios para a História de Salva- Leiria-Fátima: Achegas para a Carta Gastronómi-
Aire, Fábrica da Igreja Paroquial, 1993 terra, Edição On-Line, 2010 ca da Rota do Sol, Leiria, Região de Turismo RATAZZI, Maria, Portugal de Relance, Lisboa,
Leiria-Fátima, 2005 Livraria Zefferino, 1881
BARREIROS, Augusto do Souto, Azinhaga: Livro HENRIQUES, Pedro Castro; COSTA-FERREIRA,
de Horas, Golegã, Câmara Municipal da Golegã e João, Lusitano, o Cavalo Ascestral do Sudoeste da ORTIGÃO, Ramalho, As praias de Portugal; guia SALVADOR, José A., RAMOS, Luís, O Livro dos
Junta de Freguesia da Azinhaga, 1995 Europa - Coudelarias de Portugal, Lisboa, Iconom, do banhista e do viajante, Porto, Livraria Universal, Vinhos, Lisboa, Editorial Fragmentos, 1989
2001 1876
BAPTISTA-FERREIRA, João Luís, MODESTO Ma- SERRÃO, Joel (dir.), Dicionário de História de Portu-
ria de Lourdes, Cogumelos - Do Campo até à Mesa, LABAREDAS, José, Coruche à Mesa e Outros Man- PATO, Raimundo Bulhão, Memórias, Lisboa, Typ. gal, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1971
Lisboa, Verbo, 2010 jares, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999 da Academia Real das Sciencias, 1894-1907
SILVA, António Rosado, Doçaria Conventual na
BELLO, António Maria de Oliveira, Culinária Portu- LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de PINA, Odília Costa, Eu…A Culinária Tradicional de Mostra de Alcobaça, Lisboa, Texto Editoras, 2004
guesa, Lisboa, Assírio & Alvim, 1996 Pinho, Portugal Antigo e Moderno; Diccionario de Alcochete, Apresento-me, Câmara Municipal de
Todas as Cidades, Villas e Freguezias de Portugal Alcochete, Alcochete, 1992
BRAVO, Pedro Núncio, Vinhas e Vinhos de Por- e de Grande Numero de Aldeias, Lisboa, Mattos
tugal, Lisboa, Livraria Popular Francisco Franco, Moreira, 1873 PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal: Lisboa e arre-
1979 dores, 1º Volume, Lisboa, Fund. Calouste Gulben-
Maré Cheia, n.º 5 – Maio de 2004 kian, 1981
BRINNEY, M., SAPIEHA, N., Casas Nobres de Por-
tugal, Lisboa, Difel, 1987 Maré Cheia, n.º 8 – Agosto de 2004 PROENÇA, Raúl, Guia de Portugal: Extremadu-
ra, Alentejo, Algarve, 2º Volume, Lisboa, Fund.
CASTILHO, António Feliciano de, Epicédio na Maré Cheia, n.º 16 – Abril de 2005 Calouste Gulbenkian, 1981
Sentida Morte da Augustíssima Senhora D. Maria I,
Rainha Fidelíssima, Lisboa, Impressão Régia, 1816 MATTOSO, José; DAVEAU, Suzanne; BELO, Du- RAMOS, Manuel João, Memórias dos Pescadores
arte, Portugal, O Sabor da Terrra, Lisboa, Circulo de de Sesimbra, Santiago de Sesimbra no Início dos
CASTRO, António Mendes Simões de, Portugal Leitores, 2010 Anos Oitenta do Séc. XX, Lisboa, Sociedade de Ge-
Pittoresco, Coimbra, Imprensa da Universidade, ografia de Lisboa, 2009
1879 MENEZES, José Luís Cardoso de (Margaride), A
Vinha no Ribatejo, Santarém, Feira Nacional da
CAVALEIRO, Celeste, ABREU, Maurício, Sab- Agrícultura,1985 SOEIRO, Ana (coord.), Produtos Tradicionais Portu-
ores da Costa Azul: Gastronomia de uma Região,
Setúbal, Estuário, 2006
277
FICHA TÉCNICA
279
281