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GOVERNANÇA DE

TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO

Izabelly Soares de Morais


Objetivos da
governança de TI
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Relacionar a governança corporativa com a governança de TI.


„„ Descrever as normas da governança de TI.
„„ Reconhecer as boas práticas da governança de TI.

Introdução
A governança de TI engloba diversos aspectos de uma organização. Dessa
forma, possui diversas métricas e metodologias. Você já se perguntou
quais são os objetivos de uma governança no setor tecnológico de uma
empresa? Perceba que esse contexto envolve a execução de vários pro-
cessos simultaneamente.
Neste capítulo, aprenderemos sobre os objetivos que norteiam a
governança de TI, que é responsável pela gestão dessas atividades. Você
entenderá a relação existente entre o âmbito corporativo e a governança
e também as normas e boas práticas que compõem esse contexto.

Princípios da governança de TI e da governança


corporativa
O termo “governança de TI” tem suas origens no conceito de “governança
corporativa”, mas não devemos confundi-los. Além disso, a “governança de
TI” relaciona-se com a “Gestão/gerenciamento de TI”, porém, elas não são
a mesma coisa. Para melhor entendermos semelhanças, diferenças e inter-
-relacionamento do significado desses termos, seguem algumas definições.
“A Governança de TI tem como foco o direcionamento e monitoramento das
práticas de gestão e uso da TI de uma organização, tendo como indutor e
principal beneficiário a alta administração da instituição.” (BRASIL, c2017).
2 Objetivos da governança de TI

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) (c2017):

[...] governança corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas,


monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprie-
tários, Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle. As boas
práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações
objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o
valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para
sua longevidade.

Ainda de acordo com IBGC, os princípios da governança corporativa são


(INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, c2017):

„„ transparência: obrigação e desejo de informar resultados e ações.


„„ equidade: tratamento igual para todos os acionistas.
„„ prestação de contas: os agentes da governança corporativa prestam
contas e são responsáveis pelos seus atos e omissões.
„„ responsabilidade corporativa: os agentes de governança devem zelar
pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade,
incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição
dos negócios e operações.

Essas características podem ser visualizadas com mais clareza na Figura


1, a seguir.
Objetivos da governança de TI 3

Figura 1. Dimensões da governança.


Fonte: Santos e Baruque (2010, p. 17).

A representação gráfica mostrada na Figura 1 destaca claramente os ob-


jetivos da governança de TI, começando com o alinhamento de TI com os
objetivos de negócio, em que [...] o alinhamento requer que os executivos de
negócio (CEO) e de TI (CIO) assumam as responsabilidades de distribuir os
benefícios e investimentos feitos em TI entre as áreas corporativas, propiciando
a obtenção de vantagens competitivas e gerando novas oportunidades de ne-
gócio.” (ZVIRAN, 1990 apud AUDY; BRODBECK, 2003, p. 16). Justamente
por essa possibilidade, os executivos de TI têm considerado o alinhamento
entre as estratégias de negócio e a TI um dos objetivos mais importantes da
área. O impacto da TI na performance dos negócios foi vastamente discutido
durante a última década. Pesquisadores das áreas de negócio e TI realizaram
diversos estudos examinando as necessidades e os benefícios do alinhamento
da TI com o restante dos negócios (AUDY; BRODBECK, 2003, p. 16).
Devemos lembrar que, “[...] diferentemente do gerenciamento de TI, que
tem como foco o fornecimento de serviços e produtos de TI internos e o ge-
renciamento das operações de TI no presente, a governança de TI concentra-se
no desempenho e na transformação para atender demandas atuais e futuras
do negócio da corporação e do cliente” (TOMIATTI, 2012, p. 17). Um dos
outros pontos principais é o uso dos recursos de TI, os quais são aplicados,
obviamente, em um contexto corporativo, em que seu maior objetivo é o de
4 Objetivos da governança de TI

agregar valor ao negócio. Ou seja, tais meios são utilizados visando o lucro
e o desenvolvimento dos processos com transparência diante de todos os
envolvidos na corporação.
Na era tecnológica em que vivemos, a competitividade se torna bem mais
acirrada e não compreende apenas a produtos, mas afeta diretamente as me-
todologias de gestão utilizadas nas empresas. Desse modo, a governança de
TI ajuda a gerir os riscos tanto do negócio quanto do uso inadequado dos
recursos tecnológicos dentro da corporação pois a adequada utilização da TI
traz diversos benefícios, contudo, em contrapartida, se houver mau uso dos
recursos, o risco pode ser incalculável.
O valor agregado ao negócio também pode ser bem relevante, uma vez
que, com a devida gestão e alocação de recursos específicos, a empresa deixa
de gastar seus recursos com atividades infundadas e que não trazem tantos
aspectos positivos para o negócio.

A governança depresarial é um sistema pelo qual as entidades são dirigidas e con-


troladas. Os problemas referentes à governança não podem ser resolvidos sem a
TI, uma vez que o negócio é altamente dependente da tecnologia. A governança
depresarial deve, portanto, dirigir e contribuir para o estabelecimento da governança
de TI. A TI, por sua vez, pode influenciar as oportunidades estratégicas da empresa,
fornecendo informações valiosas para a elaboração de planos estratégicos. Dessa
forma, a governança de TI ajuda a empresa a tirar o máximo proveito da informação
e é vista como um fator propulsor da governança depresarial (SANTOS; BARUQUE,
2010, p. 17).

As metas da governança de TI
Dentro da execução de seus objetivos, a governança de TI traz algumas regras
básicas consideradas boas práticas.
De acordo com Fernandes e Abreu (2012, p. 15), o principal objetivo da go-
vernança de TI é alinhar a TI aos requisitos do negócio, considerando soluções
de apoio, assim como a garantia da continuidade dos serviços e a minimização
da exposição do negócio aos riscos de TI. Para os autores, desdobrando esse
objetivo principal, podemos identificar outros propósitos da governança de
TI, descrito a seguir (FERNANDES; ABREU, 2012).
Objetivos da governança de TI 5

„„ Promover o posicionamento mais claro e consistente da TI em relação


às demais áreas de negócios da empresa:

A TI deve entender as estratégias do negócio e traduzi-las em planos


para sistemas, aplicações, soluções, estrutura organizacional, processos e
infraestrutura, desenvolvimento de competências, estratégias de sourcing e
de segurança da informação, etc.

„„ Possibilitar o alinhamento e a priorização das iniciativas de TI com a


estratégia do negócio:

O que foi planejado para acontecer deve ser priorizado, tendo em vista as
necessidades do negócio e as restrições de capital de investimento. A priori-
zação gera um portfólio de TI que faz a ligação entre a estratégia e as ações
do dia a dia.

„„ Promover o alinhamento da arquitetura de TI, sua infraestrutura e


aplicações às necessidades do negócio, em termos de presente e futuro:

Isso significa que se deve implantar os projetos e serviços planejados e


priorizados.
Providenciar a implantação e melhoria dos processos operacionais e de
gestão necessários para atender aos serviços de TI, conforme padrões que
estejam em conformidade com as necessidades do negócio:
A execução dos projetos e serviços de TI deve ser realizada de acordo com
processos operacionais (execução propriamente dita) e de gestão (planejamento,
controle, avaliação e melhoria), que devem estar inseridos em uma estrutura
organizacional, que, por sua vez, deve conter competências em pessoas e
ativos usados para operar os processos.

„„ Prover a TI da estrutura de processos que possibilite a gestão do seu


risco e compliance para a continuidade operacional da empresa:

Os processos definidos, tanto operacionais como gerenciais, devem con-


siderar a mitigação de riscos para o negócio (p. ex., processos de segurança
da informação, gestão de dados e aplicações, etc.).

„„ Promover o emprego de regras claras para as responsabilidades sobre


decisões e ações relativas à TI no âmbito da empresa:
6 Objetivos da governança de TI

É necessário identificar as responsabilidades sobre decisões acerca de


princípios de TI, arquitetura de TI, infraestrutura de TI, necessidades de
aplicações, investimentos, segurança da informação, estratégia de fornece-
dores e parcerias, além de colocar em funcionamento um modelo de tomada
de decisão correspondente.
Conforme o Board Briefing on IT Governance (IT GOVERNANCE
INSTITUTE, 2003), o Banco de Assentamentos Internacionais (BIS) de-
fine a governança como arranjos que abrangem o conjunto de relações
entre a gestão da entidade e seu órgão de governo, seus proprietários e
suas outras partes interessadas, as quais devem fornecer a estrutura da
seguinte maneira:

„„ definição dos objetivos gerais da entidade;


„„ estabelecimento do método a ser usado para atingir os objetivos;
„„ descrição da maneira como o desempenho será monitorado.

Como o objetivo da governança de TI é dirigir os esforços de TI. O de-


sempenho atende aos seguintes objetivos:

„„ alinhamento da TI com a empresa e realização dos benefícios definidos;


„„ uso da TI para permitir que a empresa explore oportunidades e maxi-
mize os benefícios;
„„ emprego responsável dos recursos de TI;
„„ gerenciamento apropriado de riscos relacionados à TI.

No geral, a governança de TI abrange gerenciamento de recursos, em


que todos os stakeholders definem um alinhamento estratégico, que gera
valor de Tecnologia da Informação e, consequentemente, um gerenciamento
de riscos e performance. Ou seja, esse gerenciamento agrupa todos esses
contextos em um só, que é o da governança definida de acordo com o
âmbito do negócio.

Podemos definir stakeholder como qualquer pessoa envolvida no projeto, seja gerente,
cliente, usuário, desenvolvedor, designer. Por esse motivo, o termo é muito comum
no contexto tecnológico.
Objetivos da governança de TI 7

Regulamentos e boas práticas da governança


A garantia da execução das políticas e convicções das empresas possui relação
com a gestão de risco e o controle interno das organizações. De acordo com
Fernandes e Abreu (2012, p. 27), o principal modelo norteador da estruturação
de sistemas de controles internos e de gestão de risco é o COSO - The Com-
mittee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (Comitê
das Organizações Patrocinadoras). Os autores citam as seguintes informações
sobre este comitê (FERNANDES; ABREU, 2012).

„„ O COSO é uma entidade sem fins lucrativos dedicada à melhoria dos


relatórios financeiros através da ética, efetividade dos controles inter-
nos e governança corporativa, a qual foi criada por iniciativa do setor
privado para estudar as causas de ocorrências de fraudes em relatórios
financeiros e contábeis e desenvolver recomendações para empresas
de capital aberto e para instituições de ensino (ibdem).
„„ Em 1992, o COSO publicou um trabalho intitulado Internal Control
Integrated Framework (Controle Interno – Um Modelo Integrado),
que se tornou referência para as organizações do mundo todo para a
estruturação de seus sistemas de controle interno. De acordo com o
COSO (COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF THE
TREADWAY COMMISSION, 2012), o controle interno é um processo
efetuado pelo conselho de administração, executivos ou qualquer outro
funcionário de uma organização, com a finalidade de possibilitar o
máximo de garantia nas seguintes categorias:
■■ eficiência e eficácia das operações - salvaguarda de seus ativos e
prevenção e detecção de fraudes e erros;
■■ confiabilidade das demonstrações financeiras - exatidão, integridade
e confiabilidade dos registros financeiros e contábeis;
■■ conformidade com as leis e regulamentos vigentes - aderência às
normas administrativas, às políticas da empresa e à legislação à
qual está subordinada.

Em 2012, o comitê realizou a revisão e atualização da publicação. Os


requisitos para controle interno efetivo aplicados em um sistema eficaz de
controle interno fornecem segurança razoável e alcançam os objetivos de uma
entidade. Uma vez que o controle interno é relevante tanto para a entidade
quanto para suas subunidades, um sistema efetivo de controle interno pode
estar relacionado a uma parte da estrutura organizacional. É um sistema de
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controle interno que reduz, para um nível aceitável, o risco de não atingir um
objetivo relacionado a uma, duas ou todas as três categorias. Dessa forma,
está determinado a ser efetivo. A alta administração e o conselho dos diretores
passam a ter uma segurança razoável quanto à organização que:

„„ alcança objetivos operacionais quando padrões e critérios são estabe-


lecidos por legisladores, reguladores e ajustes padrão;
„„ entende até que ponto as operações são gerenciadas de forma eficaz e
eficiente quando os padrões externos não existem;
„„ prepara relatórios de acordo com regras, regulamentos e padrões esta-
belecidos por legisladores, reguladores e configurações padrão, e tem
seus objetivos especificados e políticas relacionadas com o intuito de
cumprir as leis e regulamentos aplicáveis.

Nós cidadãos estamos sujeitos ao cumprimento de diversas regras, so-


ciais, morais e até determinadas pelo Estado. Para ter controle das transações
financeiras e de negócios, as empresas passam por diversas normas regula-
mentadoras as quais visam ao controle das organizações em todos os seus
pontos de funcionamento.
A seguir, estão listados outros marcos regulatórios no contexto da gover-
nança de TI.

„„ Sarbanes-Oxley (SOX): surgiu em meados de agosto de 2002 com o


intuito de dar suporte a investidores da bolsa de valores, com o objetivo
de evitar fraudes contábeis.
„„ Basileia II: envolve o capital mínimo das instituições. o Banco Central
é regulamentador desse marco no Brasil. O termo “Basileia” se refere a
uma cidade na Suíça, situada em um ponto financeiramente estratégico.
„„ ISO/IEC 38.500 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
NICAS, 2009, p. 7): propõe um modelo para governança de TI que
prevê a gestão da TI por meio de três atividades principais –avaliar o
uso corrente e futuro da TI; dirigir a preparação e implementação de
planos e políticas para assegurar que o uso da TI cumpra os objetivos
empresariais; e monitorar a conformidade com as políticas e com o
desempenho, em relação ao que foi planejado.

Essas normas possuem relação com a tecnologia da informação devido à


necessidade do alinhamento estratégico, além de estar sempre em correlação
com recursos tecnológicos. Dessa forma, esses marcos afetam diretamente
Objetivos da governança de TI 9

o âmbito tecnológico da organização. Devemos lembrar que elas não são as


únicas existentes, mas possuem importância suficiente para serem referen-
ciadas neste capítulo.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO/IEC 38500:2009:


governança corporativa de tecnologia da informação. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.
AUDY, J. L.; BRODBECK, Â. F. Sistemas de informação: planejamento e alinhamento
estratégico nas organizações. Porto Alegre: Bookman, 2003.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Governança de TI. Brasília, DF: TCU, c2017. Dispo-
nível em: <http://portal.tcu.gov.br/comunidades/governanca-de-ti/entendendo-a-
-governanca-de-ti/>. Acesso em: 27 out. 2017.
COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF THE TREADWAY COMMISSION.
Internal control: integrated framework. [S.l.]: COSO, 2012. Disponível em: <https://
ce.jalisco.gob.mx/sites/ce.jalisco.gob.mx/files/coso_mejoras_al_control_interno.
pdf>. Acesso em: 30 out. 2017.
FERNANDES, A. A.; ABREU, V. F. Implantando a governança de TI: da estratégia à gestão
de processos e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2012.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Governança corporativa.
São Paulo: IBGC, c2017. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/inter.php?id=18161>.
Acesso em: 30 out. 2017.
IT GOVERNANCE INSTITUTE. Board briefing on IT governance. 2. ed. Rolling Meadows:
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Acesso em: 30 out. 2017.
SANTOS, L. C.; BARUQUE, L. B. Governança de tecnologia da informação. Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2010.
TOMIATTI, T. S. Governança de TI. 2012. Monografia–Faculdade de Tecnologia de São
Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.fatecsp.br/dti/tcc/tcc00048.
pdf>. Acesso em: 30 out. 2017.

Leituras recomendadas
MANSUR, R. Governança de TI verde: o ouro verde da nova TI. São Paulo: Ciência
Moderna, 2011.
MARINHO, A. Objetivos da governança de TI. São Paulo: Govern@nça & Tecnologia
da Informação, 2010. Disponível em: <http://amarinhoti.blogspot.com.br/2010/05/
objetivos-da-governanca-de-ti.html>. Acesso em: 30 out. 2017.

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