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Índice

Pág.
Introdução
Capítulo I – CARACTERIZAÇÃO GERAL DA CIDADE DA PRAIA
I.1 – Organização Espacial da Cidade da Praia
I.2 – Algumas Considerações Teóricas

Capítulo II – A PROBLEMÁTICA DA POBREZA NA CIDADE DA PRAIA


II.1 – Descrição da Realidade Praiense
II.1.1 – Grupos em situação de pobreza
II.2 – Causas da Pobreza na Cidade da Praia
II.3 – Manifestações da Pobreza na Cidade da Praia

Capitulo 3 – ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POBREZA NA


PRAIA
III.1 – Cartografia do Nível de Conforto e da Taxa de Desemprego por Bairros
III.2 – Distribuição Espacial da Pobreza na Cidade da Praia: Identificação dos
bairros mais pobres
III.3 – Análise das Consequências da Distribuição Espacial da Pobreza

Capítulo IV – PROPOSTA DE ESTRATÉGIAS DE ACÇÃO PARA A


REDUÇÃO DA POBREZA
IV.1 – Justificação
IV.2 – Acções em Favor de Grupos Sociais mais Atingidos pela Pobreza
IV.2.1 – Objectivos
IV.2.2 – Grupos alvo prioritários
IV.2.3 – Estratégias
IV.2.4 – Principais Actividades a Desenvolver e Resultados Esperados

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

BIBLIOGRAFIA
ANEXOS

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Introdução

A dura realidade da pobreza foi abordada na Cimeira Mundial para o


Desenvolvimento Social de Copenhaga em 1995.
Hoje, dados cruéis revelam-nos a situação mundial. A cada minuto há mais 47
pobres no mundo, mais 25 milhões de pessoas por ano, 1300 milhões de indivíduos
dispõem de pouco mais de 1 dólar por dia e 60% da população mundial, nada mais do
que 3300 milhões de pessoas, têm um rendimento diário de 2 dólares americanos.
Perante um quadro que talvez Da Vinci tivesse dificuldade em pintar reuniram-se
vários países do mundo na capital dinamarquesa à procura de uma luz para dar brilho ao
olhar baço das crianças dos países pobres, principais vítimas da pobreza. Elas são
atingidas pela subnutrição e doenças exactamente quando se estão a formar física e
intelectualmente. Estudos revelam que 160 milhões de crianças do mundo sofrem de
subnutrição e 110 milhões estão fora do ensino.
O encontro de Copenhaga constituiu um marco determinante para a tomada da
consciência global do fenómeno crescente e intolerável da pobreza que atinge grande
parte da Humanidade.
Os países comprometeram-se a erradicar a pobreza «como imperativo ético, social,
político e moral da espécie humana» e reconheceram o desenvolvimento centrado no
homem como chave para o obter.
Procurando cumprir o voto tomado, Cabo Verde, como signatário da Declaração de
Copenhaga, estabeleceu no Plano Nacional de Desenvolvimento a redução da pobreza
como um dos objectivos fundamentais da política de desenvolvimento do país. Um
programa maior dá corpo a este objectivo e integra a dimensão pobreza nas políticas e
estratégias de desenvolvimento, o Programa Nacional de Luta contra a Pobreza –
PNLP.
Segundo estudos realizados em 1993 com base no inquérito às despesas das
famílias de 1988/89 a pobreza constitui um fenómeno expressivo em Cabo Verde, sendo
que a nível nacional 30% da população era considerada pobre e destes, 14% era
considerada muito pobre.
Estudos recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), com base no inquérito
às despesas das famílias de 2000/01, confirmam a realidade da pobreza em Cabo Verde.

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Resultados publicados recentemente mostram-nos que hoje cerca de 36% dos agregados
familiares residentes em Cabo Verde são pobres e destes 20% são muito pobres.
Nota-se que a percentagem de pobres aumentou (de 30% para 36%), e também a
gravidade da pobreza, pois o número dos muito pobres aumentou em número de 6 por
cada 100 indivíduos, embora seja lógico considerar que houve alteração de parâmetros
considerados no inquérito de 1993.
O cenário acima tem fortes repercussões na ilha de Santiago, a maior e mais
populosa ilha de Cabo Verde, com 28% da superfície do arquipélago e mais de 50% da
população do país. O nível da pobreza em Santiago está dentro da média nacional, quer
pelo indicador geral (37%), quer pelo indicador dos muito pobres (20%) ou ainda pela
gravidade da pobreza. Devido à sua expressão populacional Santiago alberga perto de
45% dos pobres cabo-verdianos e 41,5% dos muito pobres.
A cidade da Praia, capital de Cabo Verde e principal núcleo populacional da ilha,
com cerca de 94161 habitantes (área urbana) tem visto a sua população aumentar
significativamente, pois continua sendo o lugar de maior preferência migratória do país.
Estima-se hoje que mais de metade das migrações internas em Cabo Verde são feitas em
direcção à cidade da Praia. Trata-se na maior parte dos casos de migrações de
populações camponesas, que procuram uma saída para a situação da pobreza. Na
realidade assiste-se à transferência da pobreza para esta cidade aumentando assim a sua
quota-parte na formação nacional.
Assim, a cidade conheceu um ritmo de crescimento demográfico explosivo, o qual
terá induzido a um crescimento urbanístico igualmente explosivo mas também
desordenado, de tal forma que o planeamento urbano tem sido ultrapassado e os
serviços essenciais de água, saneamento do meio, energia eléctrica e outros são
permanentemente saturados. Crescem bairros espontâneos na periferia da cidade que
constituem as principais zonas de concentração da pobreza.
Nestes bairros predominam situações de grave carência social, como por exemplo:
desemprego, a promiscuidade, a falta de condições habitacionais, a carência do
abastecimento de água, a insalubridade do meio ambiente, que por si só acarretam
outros problemas como abandono escolar, delinquência juvenil, prostituição, droga e
outros caminhos obscuros que podem levar mesmo à morte.

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É no contexto acima descrito que nos propomos realizar este trabalho que
pretende ser uma ferramenta de luta contra a pobreza na cidade da Praia, cooperando
assim para se alcançar o objectivo proposto no Plano Nacional de Luta contra a
Pobreza, que é o de promover a redução sustentada e durável da pobreza no país.
Assim sendo para sua realização traçamos os seguintes objectivos:
 Analisar o impacto da pobreza na vida das populações desta cidade;
 Relacionar o fluxo migratório em direcção à cidade com o actual nível de
pobreza que apresenta;
 Verificar o reflexo da pobreza no ordenamento do território;
 Analisar a distribuição espacial da pobreza na cidade da Praia;
 Identificar os bairros mais afectados pela pobreza;
 Propor acções que poderão integrar um plano de combate à pobreza;

Metodologia

Para a realização deste trabalho utilizou-se a seguinte metodologia:


Realizámos uma pesquisa bibliográfica: levantamento de toda a bibliografia já
publicada, em forma de livros, publicações avulsas referente ao assunto, na tentativa de
conhecer o que já se tem feito sobre a temática em estudo e sobretudo de
familiarizarmo-nos com os conceitos utilizados relativos a este tema.
Seguiu-se uma pesquisa documental com a finalidade de obter informações,
dados estatísticos publicados pelo INE que julgamos pertinentes para elaboração do
trabalho.
Prosseguiu-se à análise estatística dos mesmos de modo a se conseguir uma
visão da pobreza no nosso país, no concelho da Praia e mais concretamente na área
urbana deste concelho. Esta pesquisa foi completada com algumas entrevistas.
Foram realizadas visitas de campo. Visitámos os diferentes bairros da cidade
onde pudemos constatar in loco realidades descritas neste trabalho.
No último capítulo aplicamos métodos cartográficos, para cartografar os níveis
de conforto e das famílias e a taxa de desemprego dos bairros e a partir dai fazer uma
análise da distribuição espacial da pobreza. Como geógrafos consideramos que os dados
geográficos tornam-se mais significativos quando observados num contexto espacial,

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deste modo socorremo-nos da cartografia para visualizar a distribuição do fenómeno no
espaço.
Por fim procedeu-se à redacção do trabalho, que se estrutura em quatro partes
fundamentais:
O primeiro capítulo debruça sobre a caracterização da cidade da Praia, pois
julgamos necessário, para analisar a distribuição espacial da pobreza, conhecer a
organização espacial da cidade e as principais características dos bairros. Ainda neste
capítulo tecemos algumas considerações sobre o conceito pobreza.
No segundo capítulo fez-se uma abordagem da problemática da pobreza na
cidade da Praia. Tentou-se descrever a realidade da pobreza observada e foram
identificados os grupos em situação de pobreza. Dedicamos algum tempo à análise das
causas e manifestações da pobreza na cidade da Praia.
O terceiro capítulo abarca a análise da distribuição espacial da pobreza na cidade
da Praia. Neste capítulo identificamos e caracterizamos os bairros definidos como os
mais pobres da cidade com base em duas cartas temáticas: uma sobre o nível de
conforto das famílias e outra sobre a taxa de desemprego por bairros. No final deste
assunto aparece a abordagem das consequências da distribuição espacial da pobreza.
No quarto capítulo apresentamos uma proposta de estratégias ou acções que
poderão integrar um Plano de Acção de Luta contra a pobreza para a cidade da Praia.
Neste plano apresentamos como estratégias actividades que podem ser desenvolvidas
com vista a reduzir os níveis da pobreza urbana. Finalmente deixamos as principiais
conclusões e recomendações que julgamos serem oportunas para se combater a pobreza
na cidade da Praia.

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CAPÍTULO I

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA CIDADE DA PRAIA

I.1 Caracterização Geral da Cidade da Praia

I.1.1 Organização espacial da cidade

I.2 Algumas considerações teóricas

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I.1 Caracterização Geral da Cidade da Praia

Elevada à categoria de cidade em 29 de Abril de 1858, a cidade da Praia, capital


da República de Cabo Verde, fica situada a sul da ilha de Santiago a tem hoje
aproximadamente 42Km² de superfície e uma população de cerca de 10.000 habitantes.
A cidade estende-se a norte até a Achada de S. Filipe, a este até a Achada de
Água Funda. A sul confronta-se com o mar e a oeste com a Ribeira de Palmarejo
Grande.
O seu crescimento tem sido fruto de um êxodo rural expressivo, de migrações de
outras ilhas e também do continente africano e de um crescimento natural sustentado,
traduzindo-se numa taxa anual de crescimento demográfico de 4.5 %. Este rápido
crescimento da cidade teve reflexos na forma de ocupação de espaço, provocou por um
lado, a densificação do tecido urbano antigo com a construção de equipamentos, infra-
estruturas públicas e privadas, alojamentos de pequenas empresas e serviços a pequenos
comerciantes entre outros e, por outro lado o surgimento e alastramento de construções
espontâneas nas zonas periurbanas. Gera-se assim uma rápida proliferação de bairros
degradados densamente povoados e desprovidos, na sua grande maioria, de infra-
estruturas e equipamentos básicos.
Hoje, as novas urbanizações do Palmarejo a oeste e Achada S. Filipe a norte
vêm emprestar um novo ar de graça à cidade com construções de médio e alto
«standing».
A situação socio-económica da cidade é caracterizada pela existência de uma
actividade industrial incipiente baseada numa zona franca recém constituída, na
existência de pequenas empresas com algum dinamismo, numa actividade informal
muito dinâmica e criadora de emprego e nos serviços de uma forma geral.
A estrutura produtiva não consegue gerar empregos suficientes para absorver a
mão-de-obra disponível. A elevada taxa de fecundidade associada à queda acentuada da
mortalidade traduz-se num crescimento populacional acima das reais possibilidades da
cidade, com consequências negativas nas condições de vida das populações.
Nesta óptica a construção de uma base produtiva sólida e a formação técnico
profissional constituem, entre outros, eixos privilegiados de combate ao desemprego,
cuja taxa é de 26%, e condição necessária para o desenvolvimento local.

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A fraca capacidade de intervenção do Município em matéria de saneamento
básico, aliado ao problema de atitudes e comportamentos negativos face à questão do
lixo urbano, nomeadamente e sobretudo nos bairros degradados, fazem com que haja
ainda problemas sérios relacionados com a protecção ambiental, de onde se destacam:
insuficiência de redes de saneamento de águas residuais e de drenagem de águas
pluviais; insuficiência de infra-estruturas de preservação do ambiente em matéria de
águas usadas e resíduos sólidos; mais de metade da população da cidade vive em
habitações sem condições higiénico-sanitárias; e limitada capacidade de resposta dos
serviços de produção e distribuição de água e gestão dos sistemas de saneamento. Estas
preocupações constituem hoje uma das prioridades essenciais das autoridades públicas e
não só.

I.1 Organização espacial da cidade

Para se fazer uma análise da distribuição espacial da pobreza na cidade da Praia


julgamos conveniente conhecer como a cidade se encontra organizada no espaço e que
características os bairros apresentam.
A cidade da Praia apresenta uma morfologia acidentada, assim como toda a ilha,
dominada por «achadas» ou superfícies aplanadas de altitudes compreendidas entre 30 e
80 metros com vertentes acentuadas. A cidade é recortada por uma série de vales que
confluem em duas ribeiras principais: a Ribeira de Trindade e a Ribeira de Palmarejo.
Os «plateaus» são as zonas urbanas mais individualizadas da cidade, o restante
da ocupação faz-se nas zonas intermédias dos vales, em áreas frequentemente
impróprias devido ao perigo das enchentes e deslizamentos, sendo geralmente ocupadas
por construções clandestinas.
Segundo o censo de 2000 a cidade apresenta-se dividida em 38 bairros. Mas para
realização deste trabalho ignoramos esta divisão por alguns inconvenientes que
apresenta e passamos a considerar como bairros áreas residenciais de ocupação formal,
espontânea ou mista, servidos por algumas infra-estruturas e equipamentos básicos e
com uma população residente superior a 100 habitantes.
Para a caracterização da malha urbana praiense tomaremos o critério utilizado
pelo Plano Director Municipal, que considera como área de referência as respeitantes às

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designações mais tradicionais, evitando as subdivisões dentro do mesmo bairro e
combinando-os com as informações disponíveis no último censo. Deste modo, a partir
do centro urbano histórico do Plateau pode-se descrever a cidade por zonas urbanas
distintas com características geográficas e demográficas próprias.

1-Plateau
Criado a partir de um traçado ortogonal, com função de capital em diversos
períodos históricos, o Plateau da cidade da Praia é uma área de concentração de
actividades as mais diversas tais como: Governamentais, Serviços Públicos, Militares,
Comerciais e de Serviços e ainda de Habitação.
Apresenta uma população residente de 1 216 habitantes, maioritariamente
adulta.
O nível de alfabetização é satisfatório, atendendo a que dos residentes com mais
de 15 anos 881 são alfabetizados.
Os indivíduos em idade activa são em número de 569, apresenta uma taxa de
desemprego de 11.2%, pois 505 dos seus efectivos activos se encontram ocupados.
Por se tratar de um bairro central as habitações mostram um aspecto conservado,
o nível de vida das populações é considerável.

Apresenta, no entanto algumas dificuldades urbanas, funcionais e ambientais


como tráfego, produção de lixo, incompatibilidade de funções, atendendo ao número
de pessoas que se deslocam à cidade diariamente e devido à concentração de funções
neste espaço.

2- Fazenda
Deixando o Plateau pela rampa norte chegamos à Fazenda. Este bairro
desenvolveu-se ao longo de vários eixos de ligação com o interior da ilha de
Santiago. É predominantemente residencial.

A população residente é de 2 025 indivíduos de ambos os sexos, sendo formada


em grande parte por efectivos em idade adulta.

Do total da sua população activa 84 efectivos encontram-se sem emprego o que


lhe confere uma taxa de desemprego de 8,7%.A maioria da população trabalha fora

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do bairro. Todavia este bairro acolhe algumas actividades comerciais e estruturas de
prestação de serviços e ainda pequenas oficinas mecânicas.

As construções são de bom nível o que revela um nível de conforto satisfatório,


o que aliás é confirmado por dados do INE, que afirma que dos 501 agregados
familiares, 257 tem um nível de conforto alto e 158 muito alto.

3-Vila Nova / Calabaceira / Safende


Continuando a avançar para a zona norte da cidade, saindo da Fazenda temos os
bairros de Vila Nova, Calabaceira e Safende, que devido à continuidade espacial e
proximidade geográfica que apresentam convém agrupá-los.
Estes bairros têm uma origem comum que é a ocupação espontânea ao longo dos
eixos viários de comunicação com o interior da ilha.
O primeiro assentamento foi Vila Nova. Uma vez esgotadas as possibilidades
técnicas da via que passa pelo centro do bairro, criou-se como alternativa, uma outra via
com melhores condições, possibilitando a expansão das construções aparecendo por
conseguinte os bairros de Calabaceira e Safende.
À medida que se fazia a consolidação do primeiro foram implantados
equipamentos públicos e vias de penetração, permitindo uma melhoria no padrão de
vida dos seus habitantes. Hoje estes bairros continuam a crescer pelas encostas e no
leito da ribeira, constatando-se que quando se afasta da via principal a qualidade do
ambiente se degrada. As habitações são espontâneas e carecem de condições mínimas
de habitabilidade.
No seu conjunto apresentam uma população residente de 13 886 habitantes
(sendo 4 270 da Calabaceira, 4 235 de Safende e 5363 da Vila Nova). A população
activa é no seu conjunto de 5 272 efectivos dos quais 758 se encontra sem emprego
perfazendo uma taxa de desemprego de 14.4%.

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Ultimamente, no âmbito do PDSS (Projecto de Desenvolvimento do Sector
Social), o Alto Safende foi dotado de um espaço infantil de lazer e um jardim infantil
enquanto que Vila Nova viu a conclusão do Centro Social «Armindo Lálá».

4- Monte Agarro
Prosseguindo para norte passa-se primeiro por Monte Agarro chegando-se
depois a Achada S. Filipe.
Monte Agarro é um bairro recente e de acordo com o censo de 2000 a população
residente é de 1 054 habitantes distribuídos por 242 agregados familiares.
Devido ao seu aparecimento recente carece de infra-estruturas e equipamentos
básicos, contudo beneficia das que servem o bairro de Achada S. Filipe.
Este assentamento continua a crescer, principalmente com população imigrante
apresentando uma taxa de desemprego de 17,9%. O nível de conforto das famílias se
distribui entre muito baixo para um total de 106 agregados familiares e alto para 27 dos
agregados familiares residentes neste bairro.

5- Achada São Filipe


Achada S. Filipe, por sua vez, encerra duas realidades distintas: uma área
inicialmente de ocupação espontânea ao longo da via principal de acesso ao interior;
uma área planificada, infra estruturada localizada à frente da primeira e em processo de
ocupação. Procura-se neste momento integrar estas duas realidades urbanas distintas.
Este bairro tem uma população de 2 649 indivíduos, sendo a maioria da
população com idade compreendida entre 15 e 49 anos, mas com uma percentagem
significativa de efectivos com menos de 15 anos. Portanto uma população jovem.
Como os outros bairros este também é afectado pelo problema do desemprego
tendo uma taxa considerável de 19%.
Segundo o INE a maioria dos agregados familiares (263) possui um nível de
conforto muito baixo e 122 agregados nível baixo. Isto revela difícil condição de vida.

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6- Ponta d`Água/Achadinha Pires
Ainda na parte norte da cidade encontramos o bairro de Ponta d‘Água. Este foi
inicialmente de ocupação espontânea e tem como continuidade o núcleo denominado de
Achadinha Pires.
Ponta d´Água desenvolveu-se posteriormente ao longo de uma via estruturada
após as primeiras ocupações e paralelamente desenvolveram-se duas situações: uma
ocupação planificada e outra espontânea que leva mais tarde ao aparecimento de
Achadinha Pires.
É servido por alguns equipamentos, nomeadamente um Centro Comunitário e
escolas. Encontram-se as edificações de médio a bom nível, sobretudo ao longo da via
estruturante e de baixo nível no restante da área.
A sua população, incluindo Achadinha Pires, é de 6 661 habitantes, tendo a
maioria um nível de conforto muito baixo o que demonstra dificuldades relativas às
condições de habitabilidade e não só.
Do total da sua população activa (2436) mais de metade se encontra
desenvolvendo alguma actividade (considerado pela INE como ocupados). O número de
idosos é considerável.
Ultimamente este bairro tem sofrido algumas melhorias, no concernente à
pavimentação e melhoramento das vias e construções de novos edifícios altos à entrada
do bairro.

7- Lém Cachorro/ Paiol/ Coqueiro/ Castelão


Este conjunto fica na parte Este da cidade da Praia e formou-se a partir do
núcleo inicial do Paiol, ramificando-se numa direcção, a de Lém Cachorro, ao longo do
canal de drenagem de águas pluviais e noutra direcção para as margens da estrada de
acesso a São Francisco, resultando nos bairros de Coqueiro e Castelão, sucessivamente.
Têm em comum a ocupação espontânea.
Segundo a Câmara Municipal (Gabinete de Urbanismo) Lém Cachorro e Paiol
têm as suas capacidades de expansão espacial esgotada, procedendo-se, no momento, a
uma densificação em altura para acompanhar certamente a evolução crescente da
população. No entanto a ocupação continua a ser feita nos bairros de Castelão e

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Coqueiro, espontaneamente ao longo do leito da ribeira e pelas encostas sem se
considerar o risco de cheias ou deslizamentos.
A população deste conjunto é de 6 590 habitantes sendo 3 260 para Coqueiro/
Castelão, 2 083 para Lém Cachorro e 1 247 para Paiol. Os efectivos com menos de 15
anos são em número de 2 641 o que representa 40% da população residente do conjunto.
Portanto, uma população bastante jovem e provavelmente inactiva e que requer
investimentos em termos de equipamentos sociais sobretudo para a formação e
ocupação dos tempos livres.
Deste conjunto Lém Cachorro é o bairro que apresenta maior taxa de
desemprego, 20.4%, pois dos seus 828 indivíduos activos, 169 encontram-se sem
emprego. Segue-se depois Paiol com 19.7% e Coqueiro/ Castelão com 13.1%. Convém
realçar que grande parte dos agregados familiares é chefiada por mulheres.
Estes bairros apresentam um índice de deterioração ambiental acentuado e
condições de higiene precárias, pois o lixo é deitado a céu aberto ao longo do leito da
ribeira de S. Filipe onde ficam Castelão e Coqueiro e ao longo do canal de drenagem
onde se localizam Paiol e Lém Cachorro, representando um alto grau de perigo para a
saúde pública, isto pode estar relacionado com o aumento das construções que surgem
espontaneamente sem que os serviços de saneamento possam responder, embora
ultimamente tenha melhorado com o aumento do número de contentores e maior
frequência na recolha do lixo.

8- Achada Mato/Covão Mendes


Ainda do lado este da cidade aparece o planalto de Achada Mato e o vale
contíguo de Covão Mendes.

Este planalto ainda com espaços disponíveis foi recentemente loteado, mas
carece de infra-estruturas e equipamentos básicos. Todavia sofreu durante o ano
transacto uma extensão e melhoramento da sua rede viária principal. As habitações,
na sua maioria surgiram espontaneamente, são moradias de um único
compartimento, sem acabamento.

A parte mais densa carece de um arruamento. Destacam-se alguns


equipamentos como o centro sociocomunitário construído recentemente, a unidade

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sanitária de base e o complexo Nova Apostólica, que se ocupa de educação pré-
escolar das crianças do bairro.

O abastecimento de água às populações é feito por dois chafarizes públicos,


sendo a ligação domiciliária praticamente inexistente.

Na vertente Este vão surgindo espontaneamente construções clandestinas que


preenchem o aglomerado de Covão Mendes.

O conjunto Achada Mato/ Covão Mendes tem um total de 592 residentes


equivalentes a 129 agregados familiares. Com uma população bastante jovem
apresenta uma taxa de desemprego de 15.9% uma vez que possui um total de 172
efectivos sem emprego para o total da população activa. O nível de conforto das
famílias situa-se entre muito baixo (76 agregados) e baixo (38 agregados).

9- Achada Grande Frente /Achada Grande Trás


Do lado sudeste da cidade, mesmo sobre o mar, emerge o planalto onde ficam os
assentamentos de Achada Grande Frente e Achada Grande Trás separadas por uma via
pavimentada e pelo aeroporto Francisco Mendes.
Estes bairros em conjunto albergam funções aeroportuárias, industriais, de
armazenamento e habitacionais. Ultimamente têm sofrido acções de extensão da rede
viária e abertura do parque industrial de Achada Trás, o que provocou uma
intensificação das actividades industriais.
No âmbito do PDSS receberam recentemente (2001/2002) um centro social
multifuncional e um mercado. Parte das habitações carecem de instalações sanitárias e
enfrentam grandes problemas de abastecimento de água. Achada Grande Frente tem
uma população de 4 404 habitantes distribuídos por 925 agregados familiares, sendo a
maioria efectivos com idade compreendida entre 15-64 anos. Achada Grande Trás
apresenta uma população residente de 2 060 indivíduos maioritariamente do sexo
feminino. A população é bastante jovem pois dos 2 060 habitantes 1 014 tem idade
inferior a 15 anos.
Dos 1 295 agregados familiares que fazem parte deste conjunto 388 apresentam
um nível de conforto muito baixo, 329 baixo e 398 têm um nível médio.

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Nestes bairros dominam aspectos eminentemente rurais (criação de animais nas
habitações) e ainda convém realçar que no assentamento de Achada Grande Trás grande
parte dos chefes de família tem como principal actividade a pesca. O desemprego tem
afectado particularmente este conjunto, pois é o que apresenta as taxas mais elevadas
comparando com outros bairros da cidade, sendo de 24.4% e 28.6% para Achada
Grande Frente e Achada Grande Trás respectivamente.

10- Lém Ferreira


Na vertente oeste do planalto de Achada Grande até à via de acesso ao Porto da
Praia fica o bairro de Lém Ferreira que também engloba o núcleo populacional de Praia
Negra.
Este bairro tem crescido na vertente em direcção a Achada Grande Frente, mas
ultimamente tem esgotado as possibilidades de expansão sobre o solo pelo que o seu
crescimento se vem dando em altura.
As construções que surgiram nas encostas são espontâneas formando um
emaranhado de casas sem ruas traçadas, sem acesso à água canalizada além de outras
dificuldades. A acumulação de lixo nas encostas é uma realidade visível.
A nível demográfico apresenta uma população de 1 474 habitantes
maioritariamente adulta. O número de alfabetizados é considerável na medida em que
apresenta 787 indivíduos alfabetizados o que daria uma percentagem de 53.4% sobre o
total da sua população.
De acordo com dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística do grupo
de 292 agregados familiares, 101 apresenta um nível de conforto alto e 17 médio.
No concernente ao desemprego este bairro apresenta uma taxa de 22.1% pois
dos 642 efectivos activos, 142 se encontram desempregados.
Lém Ferreira apresenta alguns problemas urbanos, o tráfego por exemplo, como
resultado da proximidade das vias de acesso ao Porto da Praia e ao aeroporto que
servem a ilha. Se considerarmos ainda a Praia Negra como área complementar deste
bairro, devemos realçar a grande degradação ambiental que sofreu.

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11- Chã de Areia
Deixando Lém Ferreira pela Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria
em direcção à parte oeste da cidade, chegamos primeiramente a Chã de Areia. Este
pequeno bairro de 36 agregados familiares com 149 habitantes, desenvolveu-se ao longo
do eixo viário então existente e que veio a ser alargado e melhorado para facilitar o
acesso ao Plateau e demais bairros, concebendo grande acessibilidade ao mesmo.
Actualmente a sua ocupação prossegue pela encosta do planalto de Achada de
Santo António. Domina ainda neste bairro edifícios antigos, alguns em mau estado de
conservação, que anteriormente estavam ligados as antigas instalações portuárias que ali
funcionavam.
Devido à exiguidade populacional a sua taxa de desemprego é reduzida (7,8%)
relativamente aos outros bairros e o nível de conforto da população situa-se entre alto e
muito alto para a maioria dos agregados familiares.

12 – Prainha / Quebra-Canela
Prosseguindo pela orla costeira, na parte sudoeste da cidade sobressai o bairro de
Prainha.
Este bairro ocupa uma orla marítima limitada, densificada a partir dos anos
oitenta com algum prejuízo ambiental para a localidade. Actualmente a disponibilidade
de áreas de habitação está esgotada.
Possui uma população de 238 habitantes distribuídos por 78 agregados
familiares com nível de conforto entre alto e muito alto, o que revela condições de vida
satisfatórias.
A taxa de desemprego é a menor de entre os bairros que compõem a cidade da
Praia.
Quebra Canela fica um pouco mais a Oeste, possuindo algumas habitações
individuais e um total de 8 residentes, segundo os dados de 2000.
O desemprego é nulo portanto se se associar a pobreza ao desemprego pode-se
afirmar que ali a pobreza é inexistente.

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13- Achada de Santo António
Até 1975, a ocupação da Achada de Santo António se definia entre o limite
superior da encosta de Sudeste e a área da Marconi, com edificações de baixo padrão.
Posteriormente a sua ocupação baseou-se num plano elaborado em 1970/80 e que
previa, na zona interior, um sub-centro como alternativa às actividades terciárias
concentradas no Plateau.
No momento, este bairro ocupa uma posição central entre as zonas de ocupação
anterior (Plateau, Fazenda, etc.) e as zonas de expansão a norte e noroeste (Palmarejo e
áreas contíguas). Tem sido alvo de variadas intervenções, sobretudo na área de
ocupação inicial com a finalidade de dotar o bairro de infra-estruturas básicas e
equipamentos necessários ao bem-estar da população residente, o que tem reflectido na
melhoria do padrão das edificações e no aumento da densificação.
É um bairro muito grande, densamente povoado, apresenta subdivisões
notoriamente demarcadas pelo nível (padrão) das construções: referimo-nos à secção do
Brasil, Quelém e «Cobom» que se distinguem claramente de Meio de Achada.
É o mais populoso bairro da cidade, quando consideramos os bairros
individualmente, sem as associações que temos estado a fazer. A sua população é de 12
496 habitantes para um total de 2 893 agregados familiares, são maioritariamente
adultos (7 593), embora a percentagem de indivíduos com menos de 15 anos seja
significativa, isto é, de 34.6%. Curiosamente é o bairro que a seguir à Achadinha maior
número de idosos apresenta. A taxa de alfabetização é razoável.
O nível de conforto das famílias está entre médio e alto (1699 agregados),
embora tenha uma taxa de desemprego de 15.6%.

14- Tira Chapéu


Este bairro é constituído por duas zonas distintas. A primeira de uso
predominantemente industrial conhecida como Tira Chapéu Industrial tem um total de
2039 residentes e 483 agregados familiares, pois no prosseguimento surge o
assentamento recente de Bela Vista até próximo de Terra Branca. A Segunda zona, a
mais antiga, apresenta uma população de 5 163 habitantes para 1 112 agregados.
Este bairro tem sofrido melhorias consideráveis no seu aspecto físico, mas ainda
enfrenta problemas resultantes da ocupação de uma área privilegiada para uso

17
residencial com fábricas e oficinas que pensamos poderem ser transferidas para a zona
industrial de Achada Grande Trás. Enfrenta ainda problemas relacionados com o
saneamento do meio, principalmente nas áreas de Fontom e Casa Lata, onde apesar da
existência de contentores os moradores persistem em deitar o lixo nas ruas. Nota-se que
geralmente é neste bairro que aparecem os primeiros casos de doenças ligadas ao
problema de saneamento, nomeadamente cólera e paludismo.
O bairro de Tira Chapéu, segundo dados da INE, apresenta uma taxa de
desemprego de 19%. Do total dos agregados familiares, 358 apresentam um nível de
conforto muito baixo, 322 baixo e 254 médio. Apenas 137 apresentam um nível alto e
21 muito alto.

15-Palmarejo
Do lado Oeste da cidade da Praia destaca-se o bairro de Palmarejo. Este bairro
começou a ser ocupado na década de 80 e o seu assentamento actual resulta de dois
momentos distintos de ocupação: uma área inicialmente espontânea e, posteriormente,
um bairro habitacional infra estruturado contíguo, que neste momento está a ser
ampliado com novos espaços habitacionais numa área sobranceira ao mar.
As duas áreas albergam populações com nível de renda diferentes, o que se
traduz em padrões idílicos diferentes. A zona de ocupação recente dispõe de todas as
infra-estruturas e serviços urbanísticos enquanto a área antiga carece dos mesmos.
Ultimamente este bairro tem recebido alguns equipamentos como por exemplo
escolas de Ensino Secundário e Superior.
O bairro tem um total de 4 375 habitantes. Os efectivos com 15 anos e mais
alfabetizados é considerável (2 182) e a sua taxa de desemprego é de 14%.
Apresenta um nível de vida, sobretudo na área planificada, elevado para a
realidade praiense, reflectindo-se nos tipos de habitação desta área. O nível de conforto
dos agregados familiares distribui-se da seguinte forma: dos 1 079 agregados 362
apresentam um nível muito baixo, 164 baixo, 162 médio e 389 de nível alto.
Por último gostaríamos de referir que, à entrada deste bairro, concretamente no
vale de entrada desenvolvem-se construções clandestinas com nível de vida diferente da
população da área planificada, que merece a atenção das autoridades competentes.

18
16- Terra Branca
Deixando Palmarejo na direcção Este encontramos o bairro de Terra Branca.
Predominantemente residencial, surgiu da necessidade de alojar uma população recém
chegada à Praia, logo após a independência. Continua com a mesma função, mas tem
crescido em direcção ao sopé de elevação ao fundo do bairro.
Com edificações de bom padrão construtivo alberga uma população de 2 386
residentes em 593 agregados. Destes, 214 apresenta um nível de conforto muito alto e
286 alto. Os restantes se distribuem entre médio e muito baixo.
O desemprego também afecta este bairro, embora em menor escala, se
comparado com os outros bairros, pois apresenta uma taxa de 6.2%.
Terra Branca apresenta alguns problemas, como por exemplo a necessidade de
funções complementares e maior acessibilidade tendo em conta que possui uma única
entrada/saída veicular. Relativamente ao saneamento o bairro não enfrenta muitas
dificuldades, pois possui recolha periódica de lixo e a maioria das habitações se
encontra ligada à rede de esgotos.

17- Várzea da Companhia


O bairro da Várzea da Companhia localiza-se a este de Terra Branca e possui
uma população de 3 236 habitantes distribuídos por 720 agregados familiares. Este
bairro tem vindo a crescer para o interior e tem tingido a encosta da Terra Branca.
É um dos bairros da cidade com grande problema de drenagem das águas pluviais,
tendo merecido ultimamente intervenções que atenuaram este problema.
O saneamento é um outro problema deste bairro, pois as valas de drenagem das
águas pluviais são utilizados como depósito de lixo.
Apresenta uma população bastante jovem, como aliás acontece em todo o país.
O nível de conforto das famílias mostra-se regularmente distribuído entre o nível
muito baixo e alto, sendo 160 do nível muito baixo, 168 do nível baixo, 193 médio e
163 alto.
O desemprego afecta com alguma incidência a população da Várzea, atendendo
que apresenta uma taxa de 21.5% para um total de 2 405 indivíduos em idade activa.
Apesar da fraca infra estruturação do bairro, este apresenta alguns equipamentos,
nomeadamente um centro de saúde e de assistência social que concorre para a melhoria

19
do nível de vida da população. Todavia considera-se que é um bairro com alguns
problemas sociais graves.

18-Achadinha
Deixando o bairro da Várzea da Companhia na direcção Este, deparamo-nos
com o bairro de Achadinha, o segundo mais populoso da cidade, de acordo com o censo
de 2000.
Este bairro desenvolveu-se na encosta apresentando alguma organização na zona
central, designado de Bairro Craveiro Lopes e também no limite da zona baixa ao longo
da Avenida Cidade de Lisboa. É densamente ocupado, assistindo-se pontualmente uma
densificação em altura.
A ligação com as demais zonas urbanas é feita por duas vias estruturadas com
acesso à Avenida Cidade de Lisboa. As vias de circulação interna são um pouco
desestruturadas, mas vêm sendo melhoradas paulatinamente.
A nível populacional apresenta um conjunto de 10 134 habitantes distribuídos
por 2 374 agregados familiares e uma taxa de desemprego de 18.1%. As famílias deste
bairro apresentam um nível de conforto distribuído da seguinte forma: 271 dos
agregados tem nível muito baixo, 357 baixo, 559 médio, 870 alto e 287 muito alto.
O bairro possui alguns equipamentos básicos, nomeadamente um centro de
saúde que presta serviços elementares à população do local e de arredores, mas enfrenta
alguns problemas como por exemplo o abastecimento de água e do saneamento do
meio.

19- Achada Eugénio Lima


A norte de Achadinha, concretamente no planalto cuja encosta Achadinha se
desenvolveu está o assentamento de Eugénio Lima. Este ocupa uma área que se
desenvolveu em torno da estrutura do Quartel e de uma via pavimentada com
características estruturante, ao longo do qual surgiram as edificações com alguma
organização. Todavia no interior do bairro a ocupação é um tanto desorganizada e vai-se
estendendo pelas encostas com edificações precárias em termos de estrutura e dimensão
espacial, estando sujeitas a grandes riscos de deslizamento. A acessibilidade a tais
edificações é dificultada por ravinas sucessivas.

20
Achada Eugénio Lima é composta por 1 617 agregados familiares que albergam
uma população de 6 810 habitantes. A sua população activa ronda 3 510 efectivos que
são afectados por uma taxa de desemprego de 17.8%. Os residentes deste bairro
usufruem de alguns equipamentos (escolas, posto de polícia, mercado) que contribuem
para uma melhoria do seu nível de vida.
O nível de conforto das famílias concentra-se principalmente entre muito baixo
(692) e baixo (428), os restantes 355 são do nível médio e alto.
Deve-se realçar a necessidade que se faz sentir da complementaridade de
equipamentos comunitários e quem sabe a transferência do Quartel para outro espaço
devido à incompatibilidade das funções militares e residenciais.

20- Pensamento
Ao longo da via de acesso à Trindade desenvolveu-se o bairro de Pensamento,
limitado de um lado pela encosta de Eugénio Lima e de outro lado pela Ribeira de
Pensamento.
Percorrendo o bairro pela via que a atravessa tem-se a sensação de alguma
organização ao longo da mesma, mas no interior, que se estende pela encosta, nota-se
claramente um adensamento desordenado.
O bairro possui um centro comunitário onde funciona um jardim infantil e um
centro da assistência a idosos. Possui ainda uma escola do EBI e um campo de futebol.
Um número reduzido de habitações possui água canalizada (ao longo da via) e o
resto se abastece como pode. Este bairro enfrenta alguns problemas de saneamento,
nomeadamente o lixo que é depositado no leito da ribeira apesar da existência de
contentores colocados pela via e espalhados entre as casa onde o acesso permite.
Pensamento tem um total de 2 059 habitantes que formam 501 agregados
familiares. O nível de conforto destas famílias se distribui entre muito baixo 247,
baixo119 e médio 80. Apenas 53 agregados possuem um nível alto e nenhum o nível
muito alto. O desemprego afecta este bairro na ordem dos 17.4% da população em idade
activa.
21- São Pedro/ Latada

21
Este conjunto surge na década de oitenta e cresceu ao longo da ribeira e da
estrada de acesso à Trindade, encontrando-se neste momento em franco processo de
densificação com construções inacabadas dominando a paisagem.
A população local, um total de 1 676 residentes, enfrenta algumas dificuldades
de abastecimento de água e de saneamento. O acesso ao bairro que anteriormente
constituía um problema foi melhorado recentemente com a construção de um passadeira
submersível.
O bairro carece de equipamentos básicos como escolas, unidade sanitária de base
entre outros.
O desemprego atinge uma taxa de 15.2%, pois dos 624 efectivos activos 95
encontram-se sem ocupação.
Acredita-se que os agregados familiares carecem de algum conforto, atendendo a
que mais de metade dos mesmos (252) tem um nível de conforto muito baixo e 71
baixo. Apenas 39 apresentam um nível médio, 14 alto e 1 muito alto perfazendo um
total de 377 agregados familiares.
Acreditamos que com este conhecimento dos bairros fica facilitada, em certa
medida, a tarefa de analisar a distribuição da pobreza nesta cidade, embora enfrentando
a grande dificuldade da não existência de estudos concretos da pobreza a nível dos
bairros da cidade da Praia.
Apresentamos a seguir um quadro síntese com as principais características dos
bairros que acabamos de descrever, também um mapa possibilitando uma visão
conjunta dos bairros e que permite estabelecer relações espaciais entre eles.

Quadro I: Características Gerais dos Bairros da cidade da Praia

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Bairros População Taxa de Nível de conforto por agregado População
residente desemprego familiar alfabetizada
(%) Muito Baixo Médio Alto Muito (%)
Baixo Alto

Plateau 1210 11.2 1 17 39 171 134 9.5


Fazenda 2025 8.7 10 17 59 257 158 13.8
Calabaceira 4270 13.8 332 169 230 158 20 23.5
Safende 4235 14.7 443 259 181 87 3 25.3
Vila Nova 5363 14.6 260 295 345 279 35 21.8
Achada S. Filipe 2649 19.5 263 122 92 78 1 26.1
Monte Agarro 1054 17.9 106 63 46 27 0 19.8
Ponta d’Água 6661 18.8 486 356 320 149 0 22.9
Lém Cachorro 2053 20.4 101 122 118 99 14 23.0
Paiol 1247 19.7 37 60 92 101 14 16.4
Castelão/ Coqueiro 5343 13.1 330 150 144 89 22 23.7
Achada Mato – 592 15.9 76 38 9 5 0 S/ dados
Covão Mendes
A. Grande Frente 4404 24.4 212 231 326 148 0 21.5
A. Grande Trás 2060 28.6 176 98 72 24 0 25.6
Lém Ferreira 1474 22.1 49 46 71 101 25 21.8
Chã D’Areia 149 7.8 1 4 8 12 11 S/ dados
Prainha – Quebra 238 4.5 2 0 2 13 61 S/ dados
Canela
A. Stº António 12496 15.6 286 338 665 1034 543 18.8
Tira Chapéu 5163 19.0 358 322 254 137 21 27.7
Palmarejo 4375 14.0 362 164 162 389 2 22.4
Terra Branca 2386 6.2 22 15 56 286 214 13.5
Várzea 3266 21.5 160 168 193 163 35 19.6
Achadinha 10134 18.1 271 357 559 870 287 17.8
A. Eugénio Lima 6810 17.8 692 428 355 139 0 25.2
Pensamento 2059 17.4 247 119 80 53 0 25.2
S.Pedro - Latada 1676 15.2 252 71 39 14 1 32.9
Fonte: INE – Censo 2000

23
I.2 Algumas considerações teóricas
No sentido geral o conceito de pobreza restringe-se à capacidade de apropriação e

retenção de bens e serviços sendo o rendimento um critério fundamental na definição


da pobreza.
Historicamente, a definição da pobreza é marcada por estimativas que
consideram critérios nutricionais, como proposto por Rowntree em 1901, critérios
macroeconómicos de renda, como PIB (1960), culminando em 1970 na ideia de
privações relativas redefinidas por Towsend em 1979 considerando a relatividade das
condições de sobrevivência oferecidas por diferentes sociedades.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 1997, a pobreza tem
muitas faces. É mais do que baixo rendimento. Ela reflecte também a educação e saúde
escassas, a privação de conhecimento e comunicação, a falta de condições para exercer
os direitos humanos e políticos e a ausência de dignidade, confiança e respeito próprio.
Se se centrasse o desenvolvimento humano no alargamento das escolhas, a
pobreza significaria, nesse caso, a negação das oportunidades e escolhas mais
fundamentais para o desenvolvimento humano, como sendo viver uma vida longa e
saudável, beneficiar de liberdade, dignidade, etc.
A pobreza tem muitas dimensões. Há quem considere que as novas formas de
pobreza surgiram devido às mutações das estruturas económicas, sociais e demográficas
das sociedades. Por causa das várias faces que a pobreza apresenta torna-se um pouco
difícil definir o pobre ou a pobreza.
Para a maioria dos países a definição da pobreza baseia-se no rendimento ou no
consumo. Apesar do rendimento focar uma dimensão importante da pobreza, dá apenas
uma imagem parcial das muitas formas de destruição de vidas humanas pelo fenómeno
da pobreza. Tentaremos de seguida analisar três perspectivas utilizadas para definir a
pobreza:
Perspectiva do rendimento
«Uma pessoa é pobre se e só se o seu nível de rendimento se situar abaixo da linha
de pobreza definida». PNUD 1997 Muitos países adoptaram linhas de privação de
rendimentos, que lhes permitem controlar o processo de redução da incidência da
pobreza. Esta linha é muitas vezes definida em termos de posse de rendimento
suficiente para uma quantidade determinada de alimentos.

24
Perspectiva das necessidades básicas
«Pobreza é privação das condições materiais para uma satisfação minimamente
aceitável das necessidades humanas, incluindo a alimentação» PNUD 1997. Este
conceito vai então muito além da falta de rendimento privado, inclui nesta óptica as
necessidades de saúde e educação básicas, do emprego, etc.
Perspectiva das necessidades
«Pobreza representa ausência de algumas capacidades básicas para funcionar»
PNUD 1997. Pobre seria uma pessoa que tivesse falta de oportunidades para realizar
alguns níveis mínimos aceitáveis desses funcionamentos. Refere-se às funções
relevantes, desde físicas como estar bem alimentado, estar vestido adequadamente, estar
abrigado da morbilidade prevenível, até realizações sociais mais complexas como sendo
a participação na vida da comunidade.
Estas três perspectivas integram-se para representar a pobreza vivida por um
indivíduo.
Como foi referido anteriormente, a pobreza ultrapassa a simples privação de
rendimento e toca as próprias realizações do indivíduo enquanto ser social. Neste
sentido para realização deste trabalho adoptamos o conceito de pobreza apresentado no
Relatório do Desenvolvimento Humano de 1997, que a seguir transcrevemos:

«A pobreza é mais do que a privação de rendimentos. A pobreza é reflectida


na falta de acesso à saúde, à educação, ao conhecimento, à informação e
comunicação e à incapacidade de exercer os direitos humanos e políticos.»

Fala-se também de pobreza absoluta e de pobreza relativa.


Tomando como referência o relatório anteriormente citado, a pobreza absoluta
refere-se a uma medida absoluta das condições necessárias mínimas, enquanto que a
pobreza relativa se refere a uma comparação com a grande parte dos membros da
comunidade. Por exemplo, quanto ao rendimento, uma pessoa é considerada
absolutamente pobre se o seu rendimento for inferior ao rendimento definido pela linha
de privação de rendimento definido pelo seu país ou tomada como referência, enquanto
que é relativamente pobre aquele que pertencer a um grupo de rendimento baixo,
relativamente a outro da mesma comunidade.

25
Referimo-nos, algumas vezes, à linha de pobreza ou de privação de rendimento,
por isso julgamos conveniente esclarecer o significado destas expressões. Existem duas
linhas de pobreza aceites pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e
geralmente usadas pelos países:
Linhas de pobreza para comparação internacional
Utilizada pelo Banco Mundial para comparações internacionais e assumida por
vários países, a linha de pobreza para comparação internacional é de um dólar por dia,
embora para a América Latina e Caraíbas esta linha seja de dois dólares diários e para
os países industrializados se usa a linha correspondente à linha de pobreza dos Estados
Unidos, que é de 14.4 dólares dia.
Linhas de pobreza nacionais
São linhas adoptadas pelos países em desenvolvimento. Estabelecem linhas de
pobreza utilizando, na sua generalidade, o método da pobreza quanto à alimentação.
Estas linhas indicam a insuficiência de recursos económicos para satisfazer as
necessidades básicas mínimas em alimentação.
De acordo com o que acabamos de referir, um indivíduo que numa dada
conjuntura socio-económica seja considerado pobre, noutra pode não se enquadrar na
definição de pobre.
Ultimamente temos assistido a um aumento do número absoluto de pobres,
inclusive nos países industrializados. Dados revelam que nesses países cerca de 100
milhões de pessoas vivem abaixo do limiar de pobreza. É caso para perguntar: Os
critérios utilizados para definir um pobre num desses países são os mesmos usados para
um país subdesenvolvido? Provavelmente não.
Em Cabo Verde é considerado pobre aquele que dispõe de menos de um dólar
USD por dia para viver. É pertinente realçar que há um número considerável de pessoas
que vive com cerca de 0.5 dólar americano por dia.
Para o caso concreto da cidade da Praia, mais do que uma definição baseada no
critério financeiro, pensamos ser de todo conveniente falar-se de uma caracterização
qualitativa que defina o perfil do fenómeno pobreza, com vista a visualizar a
propagação de pobres no contexto global da cidade da Praia. Seguindo esta óptica de
raciocínio e de análise, um praiense pobre é aquele que depende do Estado ou de outrem
para a sua subsistência, isto é, sem emprego ou trabalho remunerado.

26
No concernente às famílias, a aplicação deste conceito é um pouco mais
complexo, pois não existe um estudo sério que determine, com rigor necessário, o que é
uma família pobre no meio urbano. Todavia pensamos não estar muito longe da
realidade ao afirmarmos que uma família pobre é aquela em que o somatório dos
proventos do agregado familiar é sempre inferior ao custo das necessidades básicas que
ela tem para sobreviver.

27
Capítulo II

A PROBLEMÁTICA DA POBREZA NA CIDADE DA PRAIA

II.1 Descrição da Realidade Praiense

II.1.1 Grupos em situação de pobreza

II.2 Causas da Pobreza na Cidade da Praia

II.3 Manifestações da Pobreza na Cidade da Praia

28
A problemática da pobreza na Cidade da Praia

II.1 Descrição da realidade praiense

Os dados disponíveis, relativamente a migração da população, mostram uma


clara tendência para o reforço da urbanização. Assim a população urbana nacional
passou de 26% em 1980 para 44% em 1990 e ainda para 53.9 % em 2000.
Estes números são reveladores do fenómeno do êxodo crescente das populações
rurais para as periferias dos centros urbanos à procura de oportunidades de
sobrevivência, particularmente no sector informal e na construção civil.
Se à luz dos Programas Municipais de Luta contra a Pobreza se pode deduzir que
a incidência da pobreza no mundo rural se terá mantido ou mesmo agravado em virtude
da seca, trabalhos recentes confirmam uma nítida tendência para a transferência da
pobreza para os centros urbanos, Praia e Mindelo e também para as vilas sedes, pela via
do êxodo rural que se tem claramente acentuado nos últimos anos.
A tendência para a urbanização da pobreza através da mobilidade espacial dos
pobres rurais é fonte de grandes problemas, alguns já citados neste trabalho. Falamos de
construções clandestinas, urbanização caótica, pressão e saturação das infra-estruturas
de base como a água, o saneamento, recolha dos dejectos sólidos, a energia, etc, e
também o aumento do nível de delinquência.
O aumento de pobres na cidade da Praia não se deve unicamente ao êxodo rural,
convém lembrar que a capital do país continua sendo o centro de maior preferência
migratória a nível nacional.
A população da cidade cresce segundo uma taxa anual de 4.5 % resultante de um
êxodo rural expressivo, de um crescimento natural sustentado, mas também de
migrações de outras ilhas ou outros concelhos e ultimamente pele chegada de indivíduos
do continente africano.
A tabela que a seguir apresentamos dá-nos uma breve idéia do movimento
migratório em direcção ao concelho da Praia. Importa referir que apenas 13% da
população do concelho vive nas zonas rurais.

29
Quadro - II: Saldo migratório entre Praia e os outros concelhos

Concelho de residência Concelho da Praia


Ribeira Grande 44
Paúl 37
Porto Novo 33
S. Vicente 211
S. Nicolau 9
Sal -323
Boa vista -79
Maio -99
Tarrafal 87
Santa Catarina 866
Santa Cruz 703
S. Domingos 400
S. Miguel 361
Mosteiros 49
S. Filipe 472
Brava 84

Saldo migratório 2855


Fonte: INE, censo 2000

Pode-se reparar que o saldo migratório é sempre positivo em relação a quase


todos os concelhos, com excepção dos concelhos de Sal, Boa Vista e Maio.
A imagem que a Praia nos oferece nos dias de hoje denuncia os efeitos e as
consequências de um desenvolvimento intenso no tempo e no espaço, consequência de
um êxodo rural contínuo, de crescimento natural acentuado reforçado pelas imigrações.
A cidade vive uma fase de grande expansão e profunda transformação que nem
sempre é acompanhada por uma evolução da sua organização física e melhoria dos seus
bairros periféricos.

30
A busca da qualidade urbana e melhoria das condições de vida da classe mais
desfavorecida deveria caracterizar as grandes transformações com as quais a cidade é
obrigada a confrontar-se em coerência com as mudanças económicas em curso.
Considera-se que as construções clandestinas e os bairros degradados
representam cerca de 60% do tecido urbano da cidade e é onde vive a maioria dos
pobres e muito pobres urbanos, segundo o estudo de 1993.
Até algum tempo atrás existiam dois tipos de pobres na cidade da Praia: aqueles
que nasceram e sempre viveram na cidade e os migrantes de outros concelhos que
procuram na capital do país melhores oportunidades de promoção social e condições de
vida que não têm nos seus locais de origem. De entre estes últimos, uma percentagem
grande é composta por camponeses que abandonaram o campo, vítimas da seca crónica
que assola o país e que constitui um entrave ao desenvolvimento da agricultura, do
emprego e rendimento rurais. A seca constitui um factor preponderante no agravamento
da pobreza. Ultimamente com a criação da zona franca da comunidade da África
Ocidental assistimos uma imigração de indivíduos deste continente que na sua grande
maioria passam a integrar também o lote dos pobres residentes na cidade da Praia.
Os pobres constituem o grupo social mais desfavorecido da cidade e estão
localizados essencialmente nos bairros degradados, assim designados por causa da
ausência de planos de urbanização ou de loteamento e de infra-estruturas sociais
básicas. Podemos afirmar que a concentração da pobreza nestes bairros periféricos
espontâneos é particularmente gritante. Com efeito as construções clandestinas,
residências construídas em locais não adequados, com um número elevado de famílias
em relação ao número de cómodos, sem acesso à água, energia, saneamento e outros
serviços mínimos são características dessas populações pobres, cujos hábitos e costumes
são eminentemente rurais agravando os problemas de gestão urbana com consequências
nas suas próprias condições de vida.

II.1.1Grupos em situação de pobreza


Para definir os grupos em situação de pobreza podemos considerar alguns critérios:
a) Sexo
As relações de género desequilibradas, colocam as mulheres, em posição de
desigualdade para a participação activa na vida económica. As mulheres apresentam as

31
mais elevadas taxas de analfabetismo, estão sobrecarregadas com os trabalhos
domésticos e com a educação das crianças, sofrem com os preconceitos mais diversos e
são as mais pobres.
Todas as análises da pobreza em Cabo Verde parecem concordar sobre o facto de a
pobreza atingir de forma particular as mulheres, na verdade há mais probabilidade de se
ser pobre quando se é mulher e muito mais ainda quando se é mulher-chefe de família.
Dados do inquérito às despesas das famílias de 2000/2001 mostram que a pobreza
continua acentuada entre as famílias chefiadas por mulheres. De cada 100 agregados
familiares chefiados por mulheres 32 são pobres e 16 muito pobres.
A pobreza na Praia, como no resto do país, atinge particularmente as mulheres,
nomeadamente as chefes de família. As famílias chefiadas por mulheres são geralmente
numerosas e as mais pobres.

Quadro – III: Incidência da pobreza nos agregados familiares por sexo do chefe

Sexo do Chefe Total dos pobres Muito pobres Peso dos muito Não pobres
(%) (%) pobres (%) (%)
Masculino 26.0 14.2 54.5 74.0
Feminino 31.9 16.1 50.5 68.1
Masculino e 28.6 15.0 52.5 71.4
Feminino
Fonte: INE Cabo Verde – IDRF 2001-2002

b) Vulnerabilidade social
Para além das mulheres, a pobreza está particularmente circunscrita a
determinados grupos: os designados vulneráveis
O grupo dos vulneráveis é integrado por idosos, portadores de deficiência
inactivos, doentes acamados permanentes, crianças de e na rua e crianças mal nutridas.
São grupos sociais mais pobres e desfavorecidos da população.
São indivíduos que comprovadamente não podem por si só, assegurar a sua
subsistência. Por esta razão integram o grupo dos pobres.
Actualmente este grupo representa mais de 20 000 pessoas com rendimento
inferior a 50$00/dia, ou seja, aproximadamente 0.5 dólar US/dia. A subsistência deste

32
grupo social é muitas vezes assegurada pelo Estado, Municípios, ONG‘s e Associações
Comunitárias através de atribuição de subsídios pecuniários e/ou géneros alimentícios.

c) Desemprego
Tudo leva a crer que o desemprego continua sendo uma determinante da
pobreza. Segundo o Instituto Nacional de Estatística pelo menos 46% dos agregados
familiares chefiados por desempregados são pobres e destes 26% são muito pobres.
O desemprego constitui uma das grandes consequências de um sistema
produtivo estruturalmente incapaz de atender à demanda crescente de mão-de-obra,
sobretudo numa conjuntura de crescimento demográfico significativo e de refracção da
emigração, como é caso da cidade da Praia. Os desempregados, que são geralmente
indivíduos sem qualquer qualificação profissional, são maioritariamente jovens em
busca do primeiro emprego e mulheres. Constituem principais integrantes da pobreza
em Cabo Verde.
O concelho da Praia regista uma taxa de desemprego de 18% (ver documento em
anexo). Este grupo é constituído, como se disse anteriormente, por jovens e mulheres.
Sendo particularmente directa a relação desemprego/pobreza, compreende-se facilmente
que a pobreza tenha uma grande incidência nessa franja da população.

II.2 Causas da pobreza na Cidade da Praia

A pobreza em Cabo Verde é de natureza fundamentalmente estrutural. As razões


profundas da pobreza estão enraizadas nos desequilíbrios estruturais que encontram
explicação primeira na fraqueza da base de recursos exploráveis e aos quais não se pôde
dar resposta adequada ao longo da história do que veio a ser um país independente, há
apenas trinta anos.
Existe claramente um desequilíbrio estrutural entre a população e o sistema
produtivo nacional, baseado na exploração de recursos naturais escassos e em equilíbrio
precário.
A forte pressão sobre a base de recursos tem causado ainda um desequilíbrio do
meio ambiente, o que surge também como causa profunda da pobreza ao fragilizar ainda
mais essa base e colocar em perigo a sustentabilidade da sua exploração a longo prazo.

33
Os factores supra mencionados constituem constrangimentos de peso ao
desenvolvimento do país e induzem a uma economia caracterizadamente
desequilibrada: desequilíbrio entre a produção e consumo, desequilíbrio entre a
importação e exportação, desequilíbrio entre a oferta e a procura de trabalho.
O alto índice de desemprego aparece como causa principal da pobreza. Situação
agravada pela elevada taxa de fecundidade, aliada a uma baixa taxa de escolarização, de
formação profissional e uma taxa de analfabetismo considerável, pois quanto mais baixo
for o nível de instrução mais difícil será encontrar um emprego, sendo deste modo
maior a probabilidade do indivíduo integrar o lote dos pobres. Basta ver que 46 de cada
100 agregados familiares de chefes desempregados são pobres sendo que quase a 60%
destes últimos são muito pobres. Segundo o INE o nível de incidência da pobreza é
menor entre os agregados de chefes com trabalho ou reformado.
O retrato atrás feito reflecte em grande parte a situação da cidade da Praia como
maior pólo de atracção e concentração populacional de Cabo Verde.
Considera-se que a pobreza na cidade da Praia é também de natureza
fundamentalmente estrutural encontrando-se ligada à fraqueza da base produtiva e às
próprias características da economia. A estrutura produtiva não consegue gerar
empregos suficientes para absorver a mão-de-obra disponível. Elevada taxa de
fecundidade conjugada com a mortalidade em queda acentuada traduz-se num ritmo de
crescimento populacional acima das reais possibilidades da cidade, com consequências
graves nas condições de vida das populações.
Na cidade da Praia o fluxo e refluxo dos níveis da pobreza estão, por um lado,
ligados à dinâmica económica e, por outro lado, à situação do mundo rural tanto na sua
dimensão regional (ilha de Santiago) como nacional. A falta e a precariedade do
emprego levam à privação da principal fonte de rendimento das famílias urbanas.
Acresce que, se no campo a solidariedade familiar e social pode suprir determinadas
carências familiares, funcionando como uma rede de protecção social, na cidade ou no
meio urbano este tipo de solidariedade tende a desvanecer-se devido às mudanças de
valores e padrões de vida e de relacionamento social, consequência de profundas
transformações ocorridas nos últimos tempos na nossa sociedade.
Uma outra causa principal da pobreza na cidade da Praia reside no baixo nível de
escolaridade/instrução. Já se disse que quanto mais baixo for o nível de instrução maior

34
probabilidade a pessoa terá de integrar o lote dos pobres. Neste particular o
analfabetismo constitui um importante factor de pobreza. O baixo nível de instrução e
escolaridade, a ausência de qualificação profissional adequada às exigências do
mercado de trabalho condicionam sobremaneira o acesso ao emprego e ao auto
emprego. Para além do mais, o nível de instrução influencia fortemente o
comportamento e as atitudes, podendo ter um impacto negativo na saída da pobreza. Por
exemplo as mulheres com mais filhos são as que apresentam mais baixo nível de
escolaridade e são também, em geral, as mais pobres.
Pelo que ficou dito atrás, podemos afirmar ainda que, apesar da pobreza na Praia
ser de natureza estrutural encontrando-se ligada à fraqueza da base produtiva local e às
próprias características da economia urbana, ela é agravada por fenómenos conjunturais
como as secas que periodicamente assolam o país e que alteram grandemente a
configuração, a extensão e a profundidade da pobreza, promovendo a transferências dos
pobres afectados para a periferia da cidade da Praia.

II.3 Manifestações da pobreza na cidade da Praia

«A pobreza é mais do que a privação de rendimentos. A pobreza é reflectida na falta


de acesso à saúde, à educação, ao conhecimento, à informação e comunicação e à
incapacidade de exercer os direitos humanos e políticos.» (PNUD 1997)

É na privação das condições de vida que as pessoas podem ter que a pobreza se
manifesta. Ela pode envolver não só a ausência das condições para o bem-estar material,
mas também a negação de oportunidades para uma vida aceitável.
Ser pobre não é apenas um problema de falta de rendimentos, embora a questão
financeira assuma uma importância particular. A pobreza manifesta-se nas diversas
esferas da vida de um indivíduo. Ser pobre significa viver numa situação de privação
permanente de satisfação das necessidades básicas tais como a alimentação, saúde,
habitação e saneamento básico, água potável, de acesso à educação, à informação e à
participação e de meios que conferem um modo de vida digno e durável.
Atendendo às várias dimensões da pobreza torna-se necessário ao investigador
aproximar-se das populações para se aperceber da dura realidade que a pobreza acarreta.

35
Pode-se afirmar que a pobreza na cidade da Praia manifesta-se nas suas diversas
dimensões: nas condições de habitabilidade, na saúde, na educação, entre outras formas.
A pobreza na Praia é particularmente visível nos bairros periféricos da cidade. Estes
constituem as principais zonas de concentração da pobreza. Devido às condições em
que tais bairros apareceram, encontram-se, na sua grande maioria, desprovidos de infra-
estruturas e equipamentos básicos.
Condições de habitabilidade degradantes, traduzidas em habitações sem energia,
sem água (ver gráfico1) ou sistemas de saneamento, com números de cómodos
insuficientes em relação ao número do agregado familiar (ver gráfico2), constituem
manifestações evidentes da pobreza. Os dados disponíveis em relação a este aspecto
permitiu-nos elaborar os gráficos que a seguir apresentamos dando uma visão das
condições de vida das populações:

Fig.1 Famílias em função do tipo de abastecimento de água

Pode-se ver no gráfico da figura1 que apenas 24% das famílias estão ligadas à
rede pública de abastecimento de água. As restantes famílias procuram outras formas de
abastecimento, como se vê no gráfico.

36
Fig.2 Famílias em função do número de divisões no alojamento

A insuficiência das estruturas de esgoto, a inexistência de planos sanitários


completos, a inexistência, em certos bairros, de sanitários públicos, a insuficiência de
chafarizes no abastecimento de água bem como a insuficiência nos cuidados primários
de saúde, caracterizam o saneamento do meio na cidade e determinam em certa medida
a saúde das populações destes bairros.

Fig.3 Famílias em função da posse de casa de banho no alojamento

De acordo com estes dados podemos ver que 44,6% das famílias não possuem
casa de banho no alojamento, concluindo portanto que isto acarreta consequências para
o saneamento do meio. Por outro lado a percentagem de família que não possui formas
de evacuação de águas residuais é elevada (ver gráfico 4) agravando ainda mais a

37
situação de saneamento do meio acarretando muitas vezes consequências para a saúde
das populações dos bairros da cidade.

Fig.4 Famílias segundo o modo de evacuação das águas residuais

A tuberculose é um dos problemas mais preocupantes desta cidade. As doenças


transmissíveis por água inadequada ao consumo assumem valores de certa forma
preocupantes. As doenças diarreicas, as infecções respiratórias agudas e as deficiências
nutricionais são problemas que se prendem à deficiência de saneamento, água,
habitação, formação e informação.
Como resultado destas condições a Praia, como concelho, apresenta os piores
indicadores de mortalidade infantil e de mortalidade de crianças menores de cinco anos
de idade de todo o país, superado apenas pelo concelho de Tarrafal.
Um outro fenómeno preocupante relacionado com a pobreza e que começa a
ganhar contornos evolutivos consideráveis no tecido socio-económico urbano consiste
no surgimento de meninos de e na rua, oriundos de famílias pobres. Estas, muitas vezes,
incentivam a saída das crianças de casa para ajudar os pais (muitas vezes mães solteiras)
na busca de rendimentos para a sobrevivência da família, ou então saídos de famílias
desestruturadas. Um levantamento feito pelo Instituto Cabo-verdiano de Menores (ICM)
nos municípios de Praia, Mindelo e Sal dá-nos os seguintes resultados:

38
Quadro – IV: Crianças de rua por centros urbanos

Centros Nº de Sexo Frequência Tipos de Uso de


urbanos crianças Escolar Actividades Substâncias
de rua psicotrópicas
M F Sim Não Venda Lavagem
de carros
Praia 274 190 83 124 150 151 28 39 235
Mindelo 122 95 27 65 60 51 17 32 90
Sal 45 41 4 13 29 2 3 13 32
Total 441 326 115 202 239 204 48 84 357
Fonte: ICM 2001

Da análise de quadro IV verificamos que existe um número significativo de


crianças de rua nos três centros urbanos. Para muitos de nós, que diariamente cruzamos
com estas crianças, elas não passam de meninos de rua. Mas olhando mais de perto
percebemos que são vítimas da pobreza, privados dos seus direitos mais elementares
como por exemplo a educação. Reflectem ainda outro problema que é do abandono
escolar e sem instrução tornam-se não só vítimas, mas mais tarde focos reprodutores da
pobreza.
Inseridos nas estratégias familiares ou individuais de sobrevivência dedicam-se
às mais diversas actividades, algumas pouco dignas. Do estudo feito destacam-se duas
actividades: venda e lavagem de carros. Ainda no mesmo quadro podemos ver que estas
crianças estando nas ruas tornam-se vitimas de males sociais como por exemplo o uso
de drogas.

39
Capítulo III

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POBREZA NA

CIDADE DA PRAIA

III.1 Cartografia do Nível de Conforto e da Taxa de

Desemprego

III.2 Distribuição Espacial da Pobreza na Praia:

Identificação dos Bairros mais pobres

III.3 Análise das Consequências da Distribuição Espacial da

Pobreza

40
Análise da Distribuição Espacial da Pobreza na Cidade da Praia

A pobreza não está uniformemente distribuída no espaço nacional; Santo Antão


(54%), Fogo (43%) e Brava (41%) são as ilhas com maior índice de pobreza. Pelo seu
peso populacional (54.4% da população residente) a ilha de Santiago é a que mais
contribui para a formação da pobreza nacional.
Ainda se nota desigualdade na distribuição da pobreza entre o meio rural e
urbano. Dados indicam que a pobreza em Cabo Verde é um fenómeno eminentemente
rural, tanto na sua incidência como na contribuição nacional (cerca de 70% dos pobres
vive no campo). Apesar deste facto a crescente urbanização da população, que de 1990
a 2000 terá passado de 47% a 53.9%, mostra claramente uma transferência da pobreza
do meio rural para o meio urbano sob o impulso do êxodo rural.
A cidade da Praia, que continua sendo o lugar de maior preferência migratória
do país, assiste a um aumento do seu nível de pobreza. Também para o caso da Praia a
pobreza não é uniformemente distribuída no espaço, ela concentra-se com maior
incidência nos bairros periféricos da cidade.
Apesar de não haver um estudo estatístico específico que comprove esta
realidade, a afirmação é partilhada pelas autoridades municipais e organismos que
actuam na luta contra a pobreza por exemplo a CITY HABITAT, e pela análise que
fizemos de vários indicadores: nível de conforto das famílias, taxas de desemprego,
dimensão das habitações, percentagem de famílias ligadas à rede pública de
abastecimento de água etc. conseguimos comprovar esta realidade e cartografar os
bairros mais afectados pela pobreza na cidade da Praia.
O crescimento urbanístico da cidade da Praia surge como consequência de um
crescimento natural explosivo, mas também do fluxo migratório em direcção à cidade.
O êxodo rural tornou-se expressivo nos últimos anos, reforçado por uma forte imigração
das ilhas. Este aumento populacional provocou um crescimento urbanístico acelerado,
desordenado de tal forma que o planeamento urbano tem sido ultrapassado e os serviços
essenciais de água, de saneamento do meio, de energia eléctrica são permanentemente
saturados. Deste modo, actualmente distinguem-se realidades urbanas diferentes na
cidade: uma Praia consolidada, constituída por bairros minimamente infra estruturados e
urbanizados, de acesso facilitado; uma Praia emergente com bairros que estão a sofrer

41
acções de infra estruturação e dotados de alguns equipamentos; e finalmente uma Praia
periférica constituída por um lado por bairros novos e planificados, mas grande parte
por bairros de construções maioritariamente clandestinas.1
Os bairros que tem surgido clandestinamente são habitados por indivíduos que
vieram do interior da ilha de Santiago, de outras ilhas e ultimamente do continente
africano. Acederam à capital do país à procura de melhores oportunidades de promoção
social, condições de vida que não têm nos seus locais de residência.
Neste panorama resolvemos destacar os bairros que consideramos mais pobres
no conjunto dos bairros da cidade. Para se fazer esta identificação consideramos alguns
critérios, pois como atrás referimos não existe um estudo específico sobre a pobreza
nesta cidade. Consideramos critérios como o nível de conforto das famílias, que
englobas diversas variáveis como mais à frente descrevemos, a taxa de desemprego, o
tipo de construções dominante dos bairros, as condições de saneamento do meio e a
existência de infra-estruturas e equipamentos básicos observados durante as visitas aos
bairros.
Para o nível de conforto das famílias seguimos os dados da INE. Para a definição
do nível de conforto foi constituído um índice de conforto com base num conjunto de
variáveis ligados ao fenómeno da pobreza crónica como sendo:
1. Bens: a posse rádio, televisor, leitor de videocassete, frigorífico e automóvel;
2. Acesso a infra-estruturas e serviços: água para uso doméstico, fonte de
energia para iluminação e para a preparação dos alimentos;
3. Condições de alojamento: posse de casa de banho, número médio de
pessoas por quartos de dormir e dimensão das habitações.
O índice de conforto varia de 1 a 100 sendo que agregados cujo índice é inferior
ou igual a 20 foram classificados como possuindo um nível de conforto muito baixo.
Os cujo índice de conforto é superior a 20 e inferior ou igual a 40 tem um nível de
conforto baixo, sendo assim médio os cujo índice é superior a 40 e inferior ou igual a
60, alto os de índice superior a 60 e inferior ou igual a 80 e muito alto os de índice
superior a 80 e inferior ou igual a100.
Importa ainda referir que pelo custo e pela contribuição próprios para o conforto
e bem estar da família decidiu-se atribuir não o mesmo peso a todas as variáveis, por

1
Consultar doc. em anexo

42
exemplo a posse de um de televisor não deve pesar o mesmo que a posse de um
automóvel.

III.1 Cartografia do nível de conforto e das taxas de desemprego

Fig. 5 – Bairros da Cidade da Praia em função do nível de conforto


dos agregados familiares

43
Para a elaboração da Carta da figura 2 consideramos o nível de conforto dos agregados
familiares dos bairros agrupados em três categorias:
Categoria I – Bairros com mais de 50% dos agregados familiares situados entre
os níveis de conforto muito baixo e baixo (Achada S. Filipe, Achada Mato, Achada
Grande Trás, Calabaceira, Castelão, Coqueiro, Eugénio Lima, Lém Cachorro, Monte
Agarro, Pensamento, Ponta D’Água, Safende e São Pedro\Latada). Destacamos a
situação de Achada S. Filipe que apesar de se situar neste nível possui uma franja
considerável com nível de conforto alto resultante da ocupação recente da área
planificada.
Categoria II – Bairros com mais de 50% dos agregados familiares situados
entre os níveis de conforto médio e alto (Achada S. António, Achada Grande Frente,
Achadinha, Lém Ferreira, Palmarejo, Paiol e Vila Nova). Nesta categoria gostaríamos
de observar a situação dos bairros de Palmarejo e Achada Santo António que
apresentam percentagem razoável de agregados familiares com nível de conforto alto
(36.2%) e onde a combinação do nível de conforto médio/alto supera muito pouco a
combinação alto/muito alto.
Categoria III – Bairros com mais de 50% dos agregados familiares situados
entre os níveis de conforto alto e muito alto (Plateau, Fazenda, Chã D’Areia, Prainha,
Quebra Canela e Terra Branca)
A carta seguinte (fig.3) apresenta a distribuição da taxa de desemprego por
bairros da cidade da Praia. Para cartografar estas taxas tivemos que agrupar os bairros
em quatro grupos segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística:

44
Quadro VI: Distribuição das taxas de desemprego por grupos de bairros

Agrupamento das Taxas Frequência Bairros


0-5 1 Prainha/Quebra Canela.
5-10 3 Fazenda, Chã D’Areia, Terra Branca.
10-15 6 Plateau, Calabaceira, Castelão/Coqueiro, Palmarejo,
Safende, Vila Nova.
15-20 11 Achada S. António, Achada Mato/Covão Mendes,
Achada S. Filipe, Achadinha, Eugénio Lima, Monte
Agarro, Paiol, Ponta D’Água, Pensamento,
S.Pedro/Latada, Tira Chapéu.
20-25 4 Lém Ferreira, Lém Cachorro, Achada G. Frente,
Várzea
Maior ou igual a 25 1 Achada Grande Trás

45
Fig. 6 – Bairros Cidade da Praia em função das taxas de desemprego

III.2 Distribuição espacial da pobreza na cidade da Praia:


Identificação dos bairros mais pobres

Perante estas duas distribuições (do nível de conforto e das taxas de


desemprego) podemos identificar os bairros mais afectados pela pobreza na cidade da
Praia, cruzando estas duas variáveis com outras informações recolhidas durante as
visitas de campo, entrevistas e dados do INE relativamente a outros aspectos destes
bairros nomeadamente acesso a energia, água potável etc. também apresentados neste
trabalho, pois a pobreza nestes bairros também é notória:

46
a) Na forma de ocupação do espaço: residências maioritariamente clandestinas,
construídas em locais inadequados, geralmente encostas ou leito das ribeiras, ausência
de arruamento, espaços de lazer ou equipamentos sociais básicos;

b) Na dimensão das habitações: as habitações são de modo geral de


compartimento único, portanto com número de cómodos insuficiente para a dimensão
do agregado familiar, quase sempre elevado, geralmente não apresentam as condições
sanitárias mínimas.

c) Na dificuldade de acesso à água potável, energia eléctrica e principalmente


nas condições de saneamento do meio: como referimos no primeiro, ponto as
construções surgem clandestinamente de forma espontânea na orla do núcleo citadino
existente, não obedecem a nenhum princípio de planeamento, por conseguinte são
desprovidos de água canalizada ou energia eléctrica, formam um emaranhado de casas
que dificulta a colocação de contentores públicos porque o acesso não permite a recolha
do lixo pelos camiões municipais, esta situação aliado a um problema de atitudes e
comportamentos negativos face a questão do lixo urbano resulta em condições
ambientais degradantes, acarretando consequências para a saúde dos seus habitantes.
Assim sendo, da análise feita podemos identificar como sendo os mais pobres os
seguintes bairros: Achada Mato/Covão Mendes, Achada Grande Trás,
Castelão/Coqueiro, Pensamento, Ponta D’Água/Achadinha Pires, Safende e Tira
Chapéu.

47
Fig.7 Bairros mais afectados pela pobreza na cidade da Praia

Apesar do quadro acima descrito a pobreza não é exclusiva destes bairros,


encontramos franjas da pobreza em bairros como Achada Santo António ou mesmo
Plateau.
Achada Santo António apresenta faixas de pobreza na área do «Brasil» e de
«Cobom», áreas identificadas com base nos critérios de identificação dos bairros pobres
por nós definidos e confirmados pelo número de indivíduos que recebem Pensão Social
Mínima do Governo através dos serviços da Câmara Municipal. Devemos esclarecer
que a pensão social mínima beneficia pessoas pobres sem rendimento ou incapacitados
fisicamente.

48
O bairro do Plateau também apresenta uma franja da pobreza, na área conhecida
por Ponta Belém, onde o aspecto das moradias e as condições de saneamento do meio
falam por si, ainda pode-se salientar a zona antiga de Achada S. Filipe e todo o vale do
Palmarejo.

III.3 Análise das consequências da distribuição espacial da


pobreza na Praia

Uma das maiores e mais notória consequência da pobreza manifesta-se na forma


de organização do espaço, esta organização resultante da pobreza muitas vezes persiste
como vector de proliferação da mesma.
Principais consequências da pobreza no espaço percebe-se no surgimento e
alastramento de construções espontâneas nas zonas peri-urbanas, gerando uma rápida
proliferação de bairros degradados densamente povoados e desprovidos de infra-
estruturas e equipamentos básicos e que actualmente representa mais de 60% do tecido
urbano da cidade.
A rapidez de proliferação destas construções ultrapassa a capacidade de
planeamento urbanístico das autoridades responsáveis, provocando transformações no
ambiente com consequências visíveis nos dias de hoje.
Como factor de pobreza (fraco poder económico das famílias) as habitações são
construídas sem atender às regras mínimas de organização espacial ou de planeamento e
de saneamento o que acarreta problemas à qualidade ambiental dos bairros e dificulta a
intervenção do Município em matéria de saneamento. Dos 1500 fogos existentes na
cidade apenas 1200 se encontram ligados à rede pública, 500 possuem fossas sépticas e
os restantes não dispõem de nenhum sistema de evacuação de dejectos.
A organização espacial reflecte-se na vida social e económica destes bairros.
Como surgem espontaneamente não são dotados de infra-estruturas e equipamentos
sociais mínimos que possam garantir uma boa integração social e económica dos seus
habitantes o que pode acarretar práticas e comportamentos inadequados e aumentar a
gravidade da pobreza.
As infra-estruturas constituem um dos elementos chave na redução da pobreza,
pois normalmente actuam como catálises ao desenvolvimento e aumentam o impacto

49
das intervenções para melhoria do acesso dos pobres aos outros recursos: naturais,
humanos e financeiros.
Toda esta situação de precariedade afecta com maior gravidade a camada
infantil. As famílias são geralmente numerosas e em muitos casos chefiadas por
mulheres/mães cujos filhos pertencem a progenitores diferentes, que não assumem a
paternidade, pelo que as crianças são muitas vezes empurradas para a rua em busca da
própria subsistência. O trabalho infantil, a prostituição, a prática do furto e de roubo
podem desenvolver-se como forma de garantir ou de aumentar o rendimento familiar.
Este quadro é agravado pelo insucesso destas crianças nas escolas que leva ao abandono
escolar e à dedicação a uma vida na rua.
Pelo que atrás ficou dito a pobreza não afecta apenas a organização do espaço
urbano e a qualidade ambiental, mas também é um fenómeno causa-efeito na vida
socioeconómica das pessoas. Reconhecemos ainda que o factor cultural contribui
sobremaneira para o estado da pobreza e estamos conscientes de que uma mudança de
mentalidade poderia contribuir para melhorar este estado.

50
CAPÍTULO IV

PROPOSTA DE ESTRATÉGIAS DE ACÇÃO PARA A

REDUÇÃO DA POBREZA

IV.1 Justificação

IV.2 Acções em Favor dos Grupos Sociais mais Atingidos

pela Pobreza

IV.2.1 Objectivos

IV.2.2 Grupos alvo prioritários

IV.2.3 Estratégias

IV.3 Principais Actividades a Desenvolver e Resultados

Esperados

51
Proposta de Estratégias de Acção para a Redução da Pobreza

IV.1 Justificação
A pobreza e a exclusão social fazem parte das grandes preocupações actuais da
Humanidade e dos desafios do futuro, deixando de ser vistas como situações anómalas e
secundárias. Durante muito tempo tinha-se como certo que o crescimento, associado à
ideia de desenvolvimento teria como consequência inevitável e automática a redução da
pobreza, pelas maiores oportunidades de emprego, consumo e riquezas criadas, pois a
pobreza era vista apenas como ausência de riqueza.
Todavia diversos relatórios das mais variadas organizações dão conta de um
mal-estar crescente, associado à constatação de que os problemas de pobreza se têm
agravado nas últimas décadas, não só pela persistência e agravamento das formas
tradicionais, como também com novas manifestações e modalidades. Não é portanto de
se estranhar que as Nações Unidas tenham decidido considerar 1997-2007 como década
de eliminação de pobreza.
Em Cabo Verde também a situação se tem agravado, bastando comparar
resultados obtidos do IDRF de1993 com os resultados de 2001/02.
A pobreza abrangia 30% da população cabo-verdiana dos quais 14% era
considerada muito pobre. Para 2001/02 cerca de 36% da população residente em Cabo
Verde é pobre e destes 20% é muito pobre. Portanto visivelmente a pobreza aumentou e
segundo a INE as desigualdades entre as condições de vida das pessoas acentuaram-se.
Para o caso concreto da cidade da Praia, principal centro populacional do país, a
situação não difere do resto do país. Ao longo deste trabalho estivemos a analisar e
ficou comprovada a concentração da pobreza nesta cidade principalmente nas zonas
periféricas, pelo que propomos apresentar algumas acções que poderão integrar um
plano de luta contra a pobreza com a finalidade de contribuir para a diminuição
progressiva da pobreza urbana que afecta, com particular incidência, os grupos socais
mais desfavorecidos e carenciados da cidade.
As acções que ora propomos surgiram no decurso da realização deste trabalho.
As pesquisas que realizámos permitiram compreender, até certo ponto, as manifestações
e a gravidade da pobreza nos bairros da cidade e capacitou-nos no sentido de propor

52
algumas soluções que julgamos necessárias para atenuar a incidência da pobreza nesta
cidade.

IV.2 Acções em favor dos grupos sociais mais atingidos pela


pobreza

IV.2.1 Objectivos

Objectivos gerais
O Plano Nacional de Desenvolvimento estabeleceu a redução da pobreza como
um dos objectivos fundamentais da política de desenvolvimento do país, reconhecendo
que esta redução deve se promover de forma sustentada e durável.
As estratégias de acção que apresentamos pretendem contribuir para a redução
da pobreza na cidade da Praia e consequentemente em Cabo Verde. Visa contribuir para
a melhoria da capacidade de resposta dos pobres face à pobreza e promover uma
inserção social dos afectados pelo fenómeno pobreza.
Objectivo específico
O objectivo específico desta proposta de acções em favor de grupos sociais mais
atingidos pela pobreza na cidade da Praia é o de identificar formas de redução
substancial da pobreza urbana através da promoção de actividades que permitam a
inserção progressiva e segura dos pobres na economia urbana e no processo de
desenvolvimento da cidade.

IV.2.2 Grupos alvos prioritários deste plano

Ao analisarmos a problemática da pobreza na cidade da Praia nós identificamos


os grupos em situação de pobreza e que foram já caracterizados neste trabalho. A
proposta que agora deixamos pretende atingir estes indivíduos:
- Desempregados, particularmente aqueles que não possuem nenhuma
qualificação profissional.
- Crianças, adolescentes e jovens em idade escolar.

53
- Mulheres, sobretudo as chefes de família.

IV.2.3 Estratégias

A redução substancial da pobreza na cidade da Praia, que esta proposta tem em


vista, exige o conhecimento da situação da pobreza nesta cidade, por isso propomos
como estratégia principal a elaboração de um estudo que visa a identificação dos pobres
na cidade.
A importância de um estudo desta natureza reside no facto de contribuir de
forma decisiva para o diagnóstico da situação de pobreza na cidade e igualmente para o
apuramento das causas dos problemas sociais mais graves ligados à pobreza e em
função disto concorrer para a definição de políticas mais adequadas e justas de combate
à pobreza. Além de que este estudo pode ainda assumir o mérito de constituir uma base
fundamental para avaliação das políticas de combate à pobreza em curso.
Propomos ainda o envolvimento da sociedade civil nas políticas de combate à
pobreza. Numa sociedade cada vez mais universal é imperioso corrigir as assimetrias e
promover igualdade de oportunidades, não só pelo Estado, mas também pela sociedade
civil, designadamente através da participação directa das pessoas, envolvendo-as e co-
responsabilizando-as na prossecução de políticas de combate à pobreza, ao mesmo
tempo que se lhes confere autonomia e se promove a redução da pobreza.
O estabelecimento de parcerias de cooperação entre a cidade da Praia e outros
organismos revela-se também uma estratégia inevitável na luta contra a pobreza.

IV.2.4 Principais actividades a desenvolver e resultados


esperados

Face ao carácter multidimensional da pobreza não bastam apenas vontades para


resolver os problemas que a pobreza acarreta, são necessárias acções a favor dos grupos
sociais mais desfavorecidos com vista a minimizar e quiçá eliminar os efeitos da
pobreza na vida destes indivíduos. Neste sentido identificámos um conjunto de
actividades que a seguir propomos e os resultados que esperamos se possam alcançar
com implementação destas actividades.

54
Proposta de Actividades:
 Capacitar os pobres e aumentar as suas possibilidades de concorrer
no mercado de trabalho
Tudo leva a crer que o desemprego ou a precariedade do emprego constitui uma
determinante da pobreza, sobretudo para o desempregado sem qualquer qualificação
profissional.
Para fazer face a este facto propomos a promoção de formações
técnicoprofissionais à semelhança das formações ministradas pela antiga Escola de
Formação de São Jorginho, permitindo aos pobres obter uma qualificação técnica e
profissional, garantindo sua inserção vantajosa no mercado de trabalho e emprego.
Esta actividade visa a promoção socioprofissional dos pobres em especial jovens
e mulheres. Pode-se priorizar a formação de jovens com o Ensino Secundário
incompleto ou completo, mas sem possibilidades de prosseguir os estudos ou ainda
indivíduos que não possuem condições de acesso a outras formações. Também
propomos a realização de vários cursos de formação profissional para mulheres sem
qualificação profissional.
Como resultado desta actividade espera-se ter indivíduos capacitados
profissionalmente e ver aumentadas as possibilidades de concorrerem no mercado de
trabalho.

 Melhorar o acesso dos pobres à Educação


«De acordo com informações disponíveis, os indicadores de acesso e
participação no sistema de ensino mostram que Cabo Verde se encontra bem
posicionado quando comparado com países de sua sub-região, tendo atingido os
principais objectivos traçados nas conferências das Nações Unidas. No entanto, estes
sucessos não podem esconder problemas e debilidades do sistema e que atingem
particularmente camadas populacionais mais pobres, designadamente em termos de
falta de qualidade e de equidade em termos regionais, penalizando as comunidades
pobres e encravadas». PND 2002-2005

A Educação é tida como outra das determinantes da pobreza, constituindo


também uma porta de saída. Segundo alguns dados a incidência da pobreza reduz-se

55
para metade quando se passa de população analfabeta para população com nível de
instrução primária e considera-se que a relação entre educação e pobreza forma um
ciclo vicioso: as pessoas são pobres porque não puderam investir ou investiram pouco
em si próprias e por outro lado como pobres têm escassos recursos para aplicar na sua
formação.
Assim sendo propomos a criação de serviços de apoio a famílias pobres com
filhos em idade escolar ou que frequentem centros de formação. Os apoios podem ser
prestados de diversas formas: apoio financeiro para pagamento das propinas escolares,
uma vez que em conformidade com a lei vigente já não existe isenção de propinas;
apoio em material escolar diversos; apoio a alunos com problemas comportamentais,
reduzindo a possibilidade de expulsão e abandono escolar.
Este serviço de apoio faria um trabalho conjunto com o ICASE, reforçando a
luta contra a pobreza na cidade da Praia, uma vez que o ICASE actua a nível nacional.
O resultado preconizado com esta actividade é, naturalmente ter o acesso dos pobres à
educação melhorado.

 Promover o desenvolvimento do associativismo comunitário,


principalmente no seio das mulheres
A criação de Associações Comunitárias ou o reforço das existentes é proposto
atendendo avaliação do trabalho que têm prestado às comunidades envolventes, visa
também responsabilizar as comunidades na luta contra a pobreza combatendo até certo
ponto a herança sociocultural, caracterizada pela dependência das pessoas em relação ao
Estado.
Estas associações devem agregar sobretudo mulheres que se dedicam a
actividades tradicionais e que geram algum rendimento para o agregado familiar, pois
sabe-se que as mulheres constituem 52% da população da Praia e figuram entre as
camadas mais pobres da população.
As associações constituem focos de divulgação de informações, fornecem
orientações diversas e podem promover formações e organizar actividades que visam
sensibilizar seus associados no combate à pobreza.
Como resultados esperamos ter comunidades mais activas, informadas e
envolvidas na luta contra a pobreza.

56
 Melhorar as condições habitacionais e os espaços urbanos envolventes
Como anteriormente foi referido o rápido crescimento da cidade da Praia teve
reflexos na forma de ocupação do espaço. Este crescimento provocou a densificação do
tecido urbano antigo e o surgimento e alastramento de construções espontâneas nas
zonas peri-urbanas formando bairros degradados densamente povoados e desprovidos
de infra-estruturas e equipamentos básicos.
Sabe-se que no âmbito do PDSS vários bairros foram dotados de alguns
equipamentos e outros foram alvo de alguma infra-estruturação. Reconhecemos aqui a
necessidade de se acelerar a infra-estruturação dos bairros como meio de combate à
pobreza, propomos também realizações de actividades que visem o melhoramento das
habitações dos mais pobres em cada bairro e sugerimos melhoramento dos espaços
urbanos dotando-os minimamente de infra-estruturas sociais ligados ao abastecimento
de água e energia eléctrica, saúde e educação e sugerimos ainda, para melhoramento do
saneamento, melhor distribuição de contentores e recolha regular do lixo.
Os resultados destas actividades serão obviamente ter pobres com condições
habitacionais melhoradas e espaços urbanos melhorados.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

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Conclusões
Ao longo da realização deste trabalho conseguimos chegar a determinadas
conclusões.
Constatámos que a pobreza é um fenómeno multifacetado, que ela é mais do que
privação de rendimentos. A pobreza reflecte-se na falta de acesso à saúde, à educação,
ao conhecimento, à informação e comunicação e manifesta a incapacidade de os
indivíduos exercerem os direitos humanos e políticos.
Verificamos que a pobreza é uma realidade na cidade da Praia, que como
principal centro migratório de Cabo Verde, vê os seus níveis de pobreza aumentados
com a transferência dos pobres do interior da ilha e das outras ilhas do arquipélago para
a cidade. Como no resto do país, a pobreza nesta cidade ataca principalmente os
desempregados, as mulheres, sobretudo as chefes de família e os incapacitados.
A transferência da pobreza para a cidade da Praia tem o seu reflexo no
ordenamento do território. Influi no crescimento desordenado da cidade originando
bairros sem qualquer condições para habitação. Estes bairros tornam-se então em focos
de reprodução de pobreza.
Durante a realização deste trabalho concluímos que a pobreza distribui-se pelos
bairros periféricos da cidade e de entre estes se destacam: Achada Mato/ Covão
Mendes, Achada Grande Trás, Safende, Castelão/ Coqueiro, Pensamento e Tira Chapéu
sobretudo na área de Casa Lata e Fonton. Estas localidades têm merecido a atenção dos
organismos que actuam na luta contra a pobreza. São bairros onde a manifestação da
pobreza é patente na forma de ocupação do espaço, no tipo de construções, no acesso
aos serviços sociais mínimos, na taxa de desemprego e no modo de vida dos seus
habitantes.
Concluímos também que a luta contra a pobreza enquanto tal é uma tarefa de
todos: poder público, organizações não governamentais, associações diversas e de cada
cidadão em particular. Neste sentido deixamos a nossa colaboração através deste
trabalho e nas estratégias de acção proposto no capítulo quatro , contribuindo ainda com
algumas recomendações que acreditamos serem válidas para combater a pobreza nesta
cidade concedendo aos pobres oportunidade de terem uma vida digna.

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Recomendações
As principais recomendações que gostaríamos de deixar se encontram
incorporadas, em parte, na proposta de acções para a redução da pobreza na Praia
apresentadas no capítulo quatro: «Principais actividades a desenvolver e resultados
esperados», os quais passamos a indicar resumidamente:
- Capacitar os pobres e aumentar as suas possibilidades de concorrerem no
mercado de trabalho.
- Melhorar o acesso dos pobres à Educação.
- Promover o desenvolvimento do associativismo comunitário, principalmente
no seio das mulheres.
- Melhorar as condições habitacionais dos pobres e as áreas urbanas envolventes.
Além destas actividades nós gostaríamos de deixar as seguintes recomendações
que talvez possam constar no próximo Plano Municipal de Luta Contra a Pobreza:

Estudo Estatístico da pobreza


Primeiramente gostaríamos de recomendar um estudo estatístico que incida
sobre a pobreza e a localização da pobreza no tecido urbano praiense. Este estudo
poderá facilitar a tarefa de identificação e contagem dos pobres na cidade. Um estudo
com estas características contribuirá para informação, clarificação e esclarecimento dos
diversos agentes que actuam na luta contra a pobreza e por fim constituirá uma base
concreta para elaboração ou definição de políticas adequadas de combate à pobreza.

Centro de acolhimento de adolescentes e jovens


A criação de um centro de acolhimento de adolescente e jovens, à semelhança da
antiga Granja da Achada de São Filipe será uma aposta na luta contra a pobreza, pois
temos vários exemplos de jovens que conseguiram vencer com o apoio prestado por esta
instituição. Sem contar que a existência de uma instituição como esta trará consigo a
possibilidade da redução das crianças de rua que se mostra uma das consequências
preocupantes da pobreza.

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Investimentos em centros de formação profissional
Esta recomendação vai no sentido de se fazerem investimentos em centros de
formação profissional municipal que poderá acolher numa primeira fase jovens do
município e posteriormente jovens de outros municípios. Esta recomendação vem a
propósito da forte relação existente entre a pobreza e o desemprego. Grande parte dos
pobres é desempregada e destes mais de 50% não possuem qualquer qualificação
profissional.

Infra-estruturação dos bairros


Considera-se que as infra-estruturas têm grande impacto na redução da pobreza.
O impacto das infra-estruturas na redução da pobreza é melhor entendido quando o
conceito de pobreza é visto não só como falta de rendimentos suficientes, mas também
como a falta de acesso aos cuidados básicos de saúde, de educação, água, saneamento, à
comunicação, informação e ao exercício dos direitos fundamentais do Homem. Neste
sentido, convém reforçar a importância da infra-estruturação dos bairros onde domina a
pobreza sobretudo no domínio da educação e da saúde, mas gostaríamos de realçar a
necessidade de se rentabilizar as infra-estruturas e os equipamentos existentes, referimo-
nos principalmente aos centros sociais multifuncionais que já foram construídos e
alguns só abriram no dia da inauguração.

Realização de jornadas municipais da juventude


Ainda deixamos nas recomendações a sugestão de realização de jornadas
municipais da juventude para os jovens do município da Praia, incluindo provas
desportivas, intercâmbios com jovens de outros municípios, debates e mesas redondas
abordando temas diversos entre os quais a problemática da pobreza e o papel da
juventude no combate da mesma.

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Bibliografia

BUREAU INTERNACIONAL DO TRABALHO (BIT) – A luta contra a pobreza e


exclusão social em Portugal: Experiências do Programa Nacional de Luta contra
a Pobreza. BIT 2003

CÂMARA MUNICIPAL DA PRAIA – Esquema estrutural do Plano Director


municipal – Cenários de Desenvolvimento. PND MAIO 1998

CÂMARA MUNICIPAL DA PRAIA – Programa Municipal de Luta contra a


Pobreza, Praia, 1997.

DIRECÇÃO GERAL DO PLANEAMENTO – Plano Nacional de Desenvolvimento


2002-2005, VOL. I E II.

ESTIVIL, Jordi – Panorama de Luta Contra a Exclusão Social: Conceitos e


Estratégias, BIT 2003.

GABINETE DA SECRETARIA DE ESTADO PARA A POBREZA – Programa


Nacional de Luta Contra a Pobreza: Documento Quadro, 1997.

INE (Instituto Nacional de Estatística) – Censo 2000.

PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) – Relatório de


Desenvolvimento Humano 1997, ed. Trinova Editora, Lisboa 1997.

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