Você está na página 1de 84

1ª Edição

2014
Revisão: Sandra Morais Ribeiro dos Santos
Todos os direitos de publicação desta obra
pertencem ao autor

Organização e Edição: Neemias Bezerra


Capa e Arte Final: Júlio Ferraz
Revisão: Sandra Morais Ribeiro dos Santos
Impressão e Acabamento: Markplast

1ª Edição: 2014

ISBN: XXXX

Proibida a reprodução total ou parcial sem


prévia autorização. A violação dos direi-
tos do autor (Lei n. 9610/98) é crime esta-
belecido pelo artigo 184 do código penal.
A LOUCURA DESEJÁVEL

Cresci sendo chamado de louco.


Lembro que minhas três irmãs, volta e
meia, faziam referência a mim com a se-
guinte expressão: “o mano é louco”. Sin-
ceramente? Não lembro a origem ou ra-
zão disso. O preocupante? Nunca me senti
louco. E sempre ouvi dizer que quem é
louco não sabe que é louco.
Na escola, muitas vezes fui conside-
rado louco, mas continuava me sentindo
normal. No fundo, se ser normal era ser o
que eu via em meus colegas e amigos, eu
preferia ser louco mesmo.
Cheguei à idade adulta. Exerci uma
função na qual se espera uma postura
equilibrada, “certinha” e lúcida. Entre-
tanto continuei a ser considerado louco.
Meus amigos se referiam a mim com cari-
nho e admiração: “Ele é louco!” Meus de-
safetos, se referiam a mim com desdém:
“Ele é louco!”.
Porém pergunto, que tipo de loucu-
ra eu “sofro”? Sempre fui muito franco
e direto, costumando dizer o que penso.
Somado a isto, nunca tive medo de me
expor, deixando transparecer meus senti-
mentos e emoções. Quando estou alegre,
minha alegria é evidente e contagiante,
mas quando sofro, faço-o com intensida-
de. Quando gosto de alguém, gosto mes-
mo; quando não gosto, bem, não mando
recado.
Outra de minhas loucuras é que tam-
bém sempre amei aventuras. Uma vez, fui
de Anastácio (MS) a Belo Horizonte (MG)
de carona. Mais de 1.600 quilômetros.
Na minha adolescência, eu e um amigo,
Élton, viajamos mais de 2.000 quilôme-
tros em um Maverick movido a gás, que
não possuía nenhum documento e ne-
nhum de nós dois era habilitado. Minha
última: Agora, aos 47 anos de idade, per-
corri 1.323 quilômetros em uma moto 125
cilindradas. Foram dois dias em estradas
movimentadas, cheias de serras e curvas,
com um frio intenso, chuva, em uma moto
pequena, desconfortável, mas me diverti
muito. Quando terminei a viagem, postei
uma foto da moto em uma rede social e
os dois primeiros amigos que comentaram
o feito se referiram a mim como “louco”
e “maluco”. Talvez eu seja mesmo.
Mas, o que é loucura afinal de con-
tas? A loucura ou insânia é segundo a psi-
cologia uma condição da mente humana
caracterizada por pensamentos consi-
derados anormais pela sociedade. É re-
sultado de doença mental, quando não
é classificada como a própria doença. A
verdadeira constatação da insanidade
mental de um indivíduo só pode ser feita
por um especialista em psicopatologia.
Algumas visões ou correntes sobre
loucura defendem que o sujeito não está
doente da mente, mas pode simplesmen-
te ser uma maneira diferente de ser jul-
gado pela sociedade. Na visão da lei civil,
a insanidade revoga obrigações legais e
até atos cometidos contra a sociedade ci-
vil com diagnóstico prévio de psicólogos,
julgados então como insanidade mental.
Uma definição interessante de lou-
cura é apresentada por Ambrose Bierce:
Louco (adjetivo): afetado por um alto
grau de independência intelectual. Gos-
tei mais desta definição.
Lembra quando estudamos Histó-
ria, do nome de Erasmo de Rotterdam?
Do seu livro e principal obra, O Elogio
da Loucura? Escrito em 1509 e publicado
dois anos depois em Paris, que enfureceu
os teólogos da época e alcançou status de
best-seller: foram 40 edições e cerca de
doze traduções somente durante o perío-
do de vida de Erasmo (1469-1536).
“O Elogio da Loucura” satiriza tudo:
o conhecimento, as instituições, o cle-
ro, as profissões, os governantes. Nele, a
Loucura, que fala na primeira pessoa, faz
o seu próprio elogio e se diz na origem
de todas as coisas, colocando-se também
como geradora da própria Humanidade,
já que é necessário que o homem fique
tomado por ela se quiser tornar-se pai,
pois somente a Loucura justifica a desen-
freada perseguição do macho atrás da
fêmea, da qual ele idealiza a carne e os
sentimentos.
E é ainda a Loucura que faz com que
o homem se escravize pelo casamento à
monogamia para satisfazer um capricho
tão passageiro e somente uma mulher
dominada pela Loucura consentiria em se
submeter ao dever conjugal, às dores do
parto e às dificuldades com a educação
dos filhos. Assim, é da Loucura, tempe-
rada com o riso, o prazer e a embriaguês
amorosa, que nascem os seres humanos,
desde os monarcas, filósofos e sacerdotes
até o mais comum dos camponeses.
E continua Erasmo de Rotterdam a
fazer o elogio da deusa Loucura e suas
companheiras: a Adulação, a Volúpia, o
Amor-Próprio, o Esquecimento, a Irrefle-
xão, a Delícia, o Prazer-da-Mesa e o Sono
-Profundo. Critica a Sabedoria, afirmando
que se a razão governasse o mundo não
existiria a coragem. Submete todos à
verruma da sua pena: filósofos, médicos,
teólogos, monges, frades, inquisidores,
cardeais e papas, sem esquecer os reis,
juntamente com a corte.
Mas, existe algo que pode ser con-
siderada Loucura Desejável? O que seria
essa loucura, o que a caracterizaria?
SUMÁRIO

13
I - Capacidade de não viver em
conformidade com o sistema
27
II - A capacidade de dizer o que pensa

37
III - Capacidade de não
reprimir seus sentimentos

49
IV - Capacidade de ser autêntico

57
V - Capacidade de ser criativo e inovador

69
VI - A loucura das loucuras

75
VII - Adoráveis loucos na história
da humanidade e seus ditos

80
Precisa-se de loucos

83
Concluindo
Delvacyr Costa

I. CAPACIDADE DE NÃO VIVER EM


CONFORMIDADE COM O SISTEMA

Eugéne Ionesco, dramaturgo romeno


e “pai do teatro do absurdo”, disse que:
“Pensar contra a corrente de seu tempo é
heróico; dizê-lo é uma loucura”.
O sistema no qual estamos inseridos,
seja ele familiar, social, político, religio-
so ou cultural, impõe formas. Todas as
conhecem e todos – quase sem exceção
– as seguem. Deixar de seguir uma dessas
regras é loucura, pelo menos aos olhos
dos demais seguidores do sistema. Poucos
ousam discordar, a maioria se acomoda
sem maiores questionamentos íntimos ou
público. É a filosofia popular do “sempre
foi assim”, “as coisas sempre acontecem
desse jeito”, “nunca alguém fez de outra
forma”.
Quem discorda do sistema é taxa-
do de louco. Quem não se conforma é
pressionado a se conformar e não causar
problemas. Quem continua a discordar é
perseguido pelos que se enquadram nele.
13
A Loucura Desejável

Por isso, os que ousam pensar diferente,


pensam de si para si mesmos. Se o disse-
rem, certamente estarão cometendo uma
grande “loucura”.
Somos seres únicos. Nenhum de nós
é igual ao outro. Nem mesmo os gêmeos
são idênticos. Algo os diferencia. Mas vi-
vemos em um mundo que quer nos mas-
sificar, nos robotizar, age como se tivés-
semos sido produzidos em série. Exige a
uniformidade. Quem ousa ser diferente,
torna-se louco.
Um desses loucos, Bob Marley, dis-
se certa feita: “Criticam-me por ser di-
ferente, mas rio deles por serem todos
iguais, e loucos como eu vivem pouco,
mas vivem como querem pois não me im-
porta se não houver o amanhã, me deram
a vida e não a eternidade...”.

As regras da normalidade que a lógi-


ca impõe sobre os normais são as incon-
formidades dos loucos na tentativa de so-
bressaí-las, de ignorá-las.
Os grandes nomes da história da hu-
manidade são os de homens e mulheres
que ousaram desafiar o sistema. Quem se-
14
Delvacyr Costa

guiu o sistema nunca se destacou, nunca


fez nada relevante, e não teve seu nome
destacado na História.
Veja, por exemplo, o caso do Físico,
Matemático e Astrônomo, Galileu Galilei.
Nascido na Itália no ano de 1564, foi um
dos principais representantes do Renasci-
mento Científico dos séculos XVI e XVII. O
“sistema” até aquele momento seguia as
afirmações de Aristóteles de que a Terra
era o centro do Universo. Galileu foi o pri-
meiro a contestá-lo. A partir da informa-
ção da construção do primeiro telescópio
na Holanda, Galilei construiu a primeira
luneta astronômica e, com ela, pode ob-
servar a composição estelar da Via Lác-
tea, os satélites de Júpiter, as manchas
do Sol e as fases de Vênus. Esses achados
astronômicos foram relatados ao mundo
através do livro Mensageiro das Estrelas,
em 1610.
Por causa da “loucura” de sua vi-
são heliocêntrica, Galilei foi chamado a
Roma, onde estava sendo acusado de he-
rege. Suas descobertas iam contra o siste-
ma da época, por isso eram consideradas
loucas e heréticas. Condenado pelo Tri-
bunal da Inquisição foi obrigado a assinar
15
A Loucura Desejável

um decreto onde declarava que o sistema


heliocêntrico era apenas uma hipótese,
uma teoria. Para salvar sua vida, ele assi-
nou, mas em 1632 ele voltou a defender o
sistema heliocêntrico e deu continuidade
aos seus estudos.
Indo contra o sistema, que tinha suas
“verdades” fundamentadas em Aristóte-
les, Galileu Galilei levantou sérios ques-
tionamentos e fez profundas indagações,
que provocaram discussões e terminaram
por estabelecer novas “verdades” e um
novo sistema.
Em 1642, Galilei morre tendo suas
convicções científicas condenadas pela
Igreja Católica (“dona” do sistema e da
verdade), e suas obras censuradas e proi-
bidas. Apenas em 1983, a Igreja Católica
o absolveu das acusações e da condena-
ção.
Uma de suas famosas frase foi: “To-
das as verdades são fáceis de entender,
uma vez descobertas. O caso é descobri
-las”. O grande problema é que o sistema
não tem interesse em descobrir verdades
que acabam indo contra esse mesmo sis-
tema, que o questionam, que o “deses-
16
Delvacyr Costa

tabilizem”. Uma das melhores maneiras


de se manter qualquer sistema é impe-
dir a descoberta da verdade. E somente
os “loucos” ousam desafiar o sistema em
busca da verdade, apenas uma dose ainda
maior de “loucura” é capaz de anunciar a
verdade que o sistema tenta manter es-
condida.
Antes de Galilei, outro “louco” (que
influenciou Galilei em seus estudos), cha-
mado Nicolau Copérnico, já havia ques-
tionado o sistema geocêntrico. O sistema
filosófico, astronômico e religioso do Sé-
culo XV aceitava o geocentrismo, confor-
me estruturado por Aristóteles e Ptolo-
meu. Esse sistema cosmológico afirmava
que a Terra era esférica (e nessa afirma-
ção estava correta), mas afirmava tam-
bém que a Terra estaria parada no centro
do Universo (no que estava totalmente
equivocado), enquanto os corpos celestes
orbitavam em círculos concêntricos ao
seu redor. Em 1537, esse sistema foi aba-
lado por Copérnico, que começou a di-
vulgar um modelo cosmológico em que os
corpos celestes giravam ao redor do Sol
e não da Terra. Era algo completamente
revolucionário, uma verdadeira loucura.

17
A Loucura Desejável

Copérnico escreveu um livro “Das Revolu-


ções das esferas Celestes”, a respeito do
qual ele mesmo fala: “quando dediquei
algum tempo à idéia, o meu receio de ser
desprezado pela sua novidade e o apa-
rente contra-senso quase me fez largar a
obra feita”.
Como Copérnico tinha por base ape-
nas suas observações dos astros a olho nu
e não tinha possibilidade de demonstra-
ção da sua hipótese, muitos homens de
ciência acolheram com ceticismo as suas
idéias. Apesar disso, o trabalho de Co-
pérnico marcou o início de duas grandes
mudanças de perspectiva. A primeira, diz
respeito à escala de grandeza do Univer-
so: avanços subsequentes na astronomia
demonstraram que o universo era muito
mais vasto do que supunham quer a cos-
mologia aristotélica quer o próprio mo-
delo copernicano; a segunda diz respeito
à queda dos graves. A explicação aristo-
télica dizia que a Terra era o centro do
universo e, portanto, o lugar natural de
todas as coisas. Na teoria heliocêntrica,
contudo, a Terra perderia esse status o
que exigiu uma revisão das leis que go-
vernavam a queda dos corpos, e mais tar-
de, conduziu Isaac Newton a formular a
18
Delvacyr Costa

lei da gravitação universal.


Mas, esse livro não é um tratado de
astronomia, e sim, uma reflexão (ou seria
um devaneio) sobre a loucura. O que que-
ro enfatizar é que o sistema impõe for-
mas, regras e “verdades”, que não devem
ser questionadas; mas sempre aparece
um “louco” para ir contra o sistema e,
questionando-o, viver de forma contrária
ao sistema estabelecido.
O sistema legal norte-americano
discriminava os negros. Os transportes
públicos, restaurantes, teatros, escolas,
banheiros públicos e uma série de outros
estabelecimentos, ou não aceitavam ne-
gros, ou possuíam lugares separados para
negros e brancos. Em 1955, uma negra,
Rosa Parks, recusou-se a ceder seu lugar
no ônibus para uma branca, em Montgo-
mery, e é presa por esse “crime”. Lidera-
dos por Martin Luther King Jr., os negros
organizam um boicote aos ônibus de Mon-
tgomery, que durou um ano e dezesseis
dias, até que a Suprema Corte dos Esta-
dos Unidos tornou ilegal a discriminação
racial nos transportes público.
Martin Luther King organizou e lide-
rou marchas a fim de conseguir o direito
19
A Loucura Desejável

ao voto, o fim da segregação, o fim das


discriminações no trabalho e outros di-
reitos civis básicos. A maior parte destes
direitos foi, mais tarde, agregada à lei es-
tado-unidense com a aprovação da Lei de
Direitos Civis (1964), e da Lei de Direitos
Eleitorais (1965).
Embora o sistema legal fosse segre-
gacionalista e nenhum negro, em são juí-
zo tivesse a coragem de se levantar con-
tra ele, Luther King o fez. Sua “loucura”
foi desafiar o sistema discriminatório,
mesmo sendo, repito, absolutamente le-
gal. Pagou um alto preço por sua loucura;
no dia 4 de abril de 1968, em Memphis,
foi assassinado.
Entre suas mais famosas frases en-
contramos:
“É melhor tentar e falhar, que
preocupar-se e ver a vida passar. É
melhor tentar, ainda que em vão que
sentar-se, fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que
em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que
em conformidade viver”.
“A covardia coloca a questão: ‘É se-

20
Delvacyr Costa

guro?’
O comodismo coloca a questão: ‘É
popular?’
A etiqueta coloca a questão: ‘é ele-
gante?’
Mas a consciência coloca a questão,
‘É correto?’
E chega uma altura em que temos
de tomar uma posição que não é
segura, não é elegante, não é popu-
lar, mas o temos de fazer porque a
nossa consciência nos diz que é essa
a atitude correta.”
E muitas vezes seguir a nossa cons-
ciência pode parecer, ou mesmo ser, lou-
cura para os demais que buscam seguran-
ça, comodismo ou etiqueta.
Verifica-se uma mudança quan-
do a gente deixa de crer naquilo que
em outro tempo pôde ser verdadei-
ro, mas agora se converteu em falso,
quando retira seu apoio a institui-
ções que em outro tempo lhe podem
ter servido, mas que agora já não
servem; Quando se nega submeter-
se ao que uma vez pareceu ser um
jogo limpo, mas que agora já não é.
Tais mudanças, quando se verificam,
21
A Loucura Desejável

são o resultado de uma verdadeira


educação.
Deixar de crer, naquilo em que se
creu, retirar o apoio a instituições, deixar
de submeter-se, não é apenas mudança;
em muitos casos – diria que na maioria
deles – é loucura. Uma loucura não ape-
nas desejável, mas necessária.
Em certa ocasião, Luther King disse:
“...nós adotamos neste mundo moderno
é uma espécie de relativismo ético. (...)
E desde que todo mundo esteja fazendo
isto, isto deve ser o certo. Uma espécie
de interpretação numérica do que é o cer-
to.” E ir contra esse relativismo, ir con-
tra essa maioria é algo completamente
louco, que pode custar muito caro, mas,
em muitos casos é também, algo absolu-
tamente desejável e necessário.
Flávio Vidal diz que, “a verdade sur-
ge das loucuras e devaneios, de poucos
que ousam construir uma idéia fora dos
padrões”. Os poucos sempre são os loucos
enquanto a maioria sempre se considere
correta, ajuizada e sã.
Raphael Furlan faz uma pergunta
respondida por ele mesmo: O que nós so-
22
Delvacyr Costa

mos? Somos apenas loucos vivendo em um


mundo insano, na qual a hipocrisia gover-
na cada vez mais enquanto valores éticos
antigos continuam sendo esquecidos.
Fui criado em um sistema “religioso
denominacional” onde uma série de pe-
cados foi determinada, não pelas Escri-
turas Sagradas, mas pela liderança. Jogar
futebol, usar bermudas, usar barba e/
ou cabelos compridos (para os homens),
usar calças compridas, cortar o cabelo ou
usar maquiagem (para as mulheres) eram
pecados passíveis de punição, mascarada
com o nome de “disciplina”. Quando al-
guém infringia as regras e cometia algum
desses “pecados” era tachado de rebel-
de. Era um ato de rebeldia agir de forma
contrária ao sistema. E quando alguém
questionava o sistema, além de rebelde,
era ímpio, descrente, desviado... no fun-
do, no fundo mesmo... louco. Todo rebel-
de é “louco”.
Então eu comecei a ler o Livro Sa-
grado, e comecei a perceber que aqueles
pecados não eram pecados bíblicos, eram
apenas pecados institucionais. Comecei a
questionar as autoridades denominacio-
nais. Foi-me sugerido que “ficasse quieto
23
A Loucura Desejável

e me conformasse com as regras. As coisas


eram daquele jeito e continuariam a ser.
‘Todos’ pensavam do mesmo jeito, todos
concordavam. Somente os rebeldes, os
loucos, seriam capazes de questionar e
discordar da sã doutrina”. Descobri duas
coisas: primeira, quando todos pensam a
mesma coisa, na verdade, ninguém está
pensando. Segunda, aquele sistema não
era lugar para um maluco como eu. Não
havia lugar para mim; minha loucura era
evidente e destoava da “sanidade” de to-
dos os demais. Acabei saindo, procurando
um sistema “menos são, menos saudá-
vel”. (Não tive como não sorrir aqui sozi-
nho...). Já dizia Nélson Rodrigues: “Toda
unanimidade é burra. Quem pensa com a
unanimidade não precisa pensar.”
O sistema, seja ele qual for, mas-
sifica, uniformiza e conforma. A loucura
é, quase sempre, acompanhada, ou pelo
menos se torna evidente através de um
sentimento de inconformidade. Na déca-
da de 1960, quando os jovens de cabe-
los longos começaram a falar em fazer a
paz, em fazer amor, muita gente não os
entendeu. Era uma época de guerras, de
conflitos armados, de Guerra Fria, de es-

24
Delvacyr Costa

cândalos políticos, de frustração e decep-


ções com a igreja-religião ou pelo menos
com os representantes da mesma. Infeliz-
mente esses jovens enveredaram por um
caminho de sexo, drogas e rock’n’roll, e
foram discriminados e perseguidos. Dos
três as drogas são verdadeira loucura,
verdadeira insanidade, no mau sentido
da palavra, ou uma loucura má, oposta
à loucura desejável. Mas seu sentimento
de inconformidade era legítimo. Sua re-
beldia tinha razão de ser. Um movimento
que criou milhares de “malucos beleza”
por todo o mundo, um bando de loucos
que correram o mundo atrás de seus so-
nhos e ideais e buscou criar sociedades
alternativas, mas que com o tempo aca-
baram se mostrando tão cheias de erros
e regras quanto à sociedade da qual eles
pretendiam fugir.
A loucura desejável é a capacidade
de não viver de acordo com o sistema.
Não se trata de um ato de simples rebel-
dia pela própria rebeldia. Não se trata da
filosofia atribuída à Guevara: “Si hay go-
bierno soy contra”. É muito mais do que
isso, é ir contra se o sistema for injusto.
É ir contra, se para seguir o sistema seja

25
A Loucura Desejável

necessário violar a própria consciência.


Ir contra o sistema sempre será loucura,
mas em muitos casos, uma loucura dese-
jável.

26
Delvacyr Costa

II. A CAPACIDADE DE DIZER


O QUE PENSA

“Para criar inimigos


não é necessário declarar guerra
Basta dizer o que pensa”
Martin Luther King

Na atualidade tem se falado muito


em assertividade. Palestras são profe-
ridas e seminários e cursos ministrados.
Uma das qualidades esperada, desejada
ou mesmo, exigidas, do candidato a qual-
quer vaga é que seja assertivo. Mas, o
que é assertividade?
O Dicionário Informal define da se-
guinte forma:

Capacidade de dizer o que pen-


sa, no momento certo, sem ofender,
magoar ou agredir quem o ouve. Ca-
pacidade de intervir adequadamen-

27
A Loucura Desejável

te numa situação que pode levar a


conflito.
E, continua, exemplificando:

Exemplo do uso da palavra


Assertividade:
O fato de uma pessoa ter  as-
sertividade permite que fique bem
consigo própria (porque diz o que
pensa) e, simultaneamente, os ou-
tros que a ouvem não ficam zanga-
dos porque são levados a perceber o
ponto de vista dessa pessoa. 
Deseja-se de todos uma postura as-
sertiva, mas a pergunta é: Estamos pre-
parados para isso? A assertividade que se
espera, causa o efeito desejado?
Creio que não. Nem sempre as pes-
soas estão dispostas a ouvir o que pensa-
mos, não importa a maneira que nos ex-
pressamos. Se o que pensamos se choca
com o que a outra pessoa pensa, o conflito
quase sempre é inevitável. Outras vezes,
a pessoa se cala, não reage, não discute,
mas se fecha e deixa de dizer o que pensa
e se recusa – ostensiva ou discretamente –
a dialogar ou cooperar, conforme o caso.
28
Delvacyr Costa

Na década de 1990, Daniel Goleman


cunhou a expressão “Inteligência Emocio-
nal”, que significa a capacidade de sentir,
entender, controlar e modificar o estado
emocional próprio ou de outra pessoa de
forma organizada. A partir de então o
meio empresarial ou corporativo procura
gestores e colaboradores dotados de Inte-
ligência Emocional. Testes são elaborados
e aplicados para se descobrir qual o nível
ou cociente de Inteligência Emocional do
candidato.
A psicóloga e psicodramista Saskia
Andrade de Vasconcelos fala da Inteligên-
cia Emocional como Competência Pro-
fissional e diz que faz parte dela saber
“formar um vocabulário para os senti-
mentos”, “falar efetivamente de senti-
mentos” e “declarar suas preocupações
e sentimentos sem ira nem passividade”.
Mesmo que consigamos fazer as coi-
sas da forma que Goleman e Saskia di-
zem que devem ser feitas, as pessoas
não estão preparadas para esse tipo de
atitude. Ou seja, as pessoas, na sua ab-
soluta maioria, não são assertivas e nem
emocionalmente inteligentes. E quando
encontram alguém assim, além de adjeti-
29
A Loucura Desejável

vá-la pejorativamente (louco, polêmico),


se afastam ou partem para uma reação
nada assertiva ou inteligente.
No meio no qual vivi a maioria de
meus anos, criei a fama de polêmico.
Certa vez, conversando pela primeira vez
com um indivíduo, ele iniciou a conversa
com: “sei que você é um cara extrema-
mente polêmico”. Na verdade nunca me
considerei polêmico e nunca provoquei
discussões por simples prazer à arte de
polemizar. Eu apenas sempre disse o que
penso. De forma clara, direta e objetiva.
Mesmo que isso fosse contra o consenso.
Mesmo que isso não fosse popular. Mesmo
que isso fosse potencialmente perigoso
para a unidade ou estabilidade do gru-
po. Nunca tive medo de manifestar mi-
nha opinião. E se manifestar opinião ou
sentimentos é ser polêmico, sou obrigado
admitir que a fama me faz jus.
O interessante, é que os “certinhos”
procuram usar os loucos como voz. Na
maioria das vezes eles não possuem a
coragem de dizer o que pensam ou sen-
tem, mas esperam ansiosamente que um
“louco” o faça por eles. Participei certa
feita de um congresso, no qual o preletor
30
Delvacyr Costa

principal estava falando algo inadmissível


no meio no qual se encontrava. Conster-
nado, um amigo meu, muito certinho,
muito equilibrado e com absoluta sanida-
de mental, emocional e espiritual, saiu
do seu lugar e aproximou-se de mim su-
plicando: “Delva, por favor, fala alguma
coisa. Levante e diga que não concorda.
Confronta esse cara!” Acho que na oca-
sião meu “nível de insanidade” (rsrsrsrs)
não estava no ápice aquele dia e acabei
me calando e, logo depois, me retirando
do auditório, exatamente por discordar
do quê e da forma que as coisas estavam
sendo colocadas.
A maioria não tem coragem de dizer
o que pensa. E não gosta quando “loucos”
dizem coisas que vão contra seus pensa-
mentos, opiniões e sentimentos. Mas tor-
cem desesperadamente para aparecer
um louco qualquer e representá-los quan-
do alguém influente ou eminente diz algo
com o qual eles não podem concordar. E,
ironicamente, quando esse “louco” apa-
rece, eles ou dão um apoio discreto ou
comentam a exaustão à “loucura” come-
tida.
Em sua coluna Direto ao Ponto, na
31
A Loucura Desejável

Revista Veja de 09 de setembro de 2010,


Augusto Nunes declara: “O cérebro não é
dividido em compartimentos estanques.
Quem é incapaz de dizer o que pensa não
sabe pensar”. Então, se a maioria é in-
capaz de dizer o que pensa e não sabe
pensar, quem pensa, na realidade, são os
“loucos”. E se os “loucos” pensam é por-
que não são tão loucos assim.
O filtro que divide as idéias pensadas
daquelas que ganham voz é indispensá-
vel no dia-a-dia. Dizendo tudo o que pen-
sa, é difícil manter o emprego, segurar o
namoro e até preservar os amigos. Mas o
contrário disso também não é nada sau-
dável. “Quem abre mão de falar o que
pensa não se deixa conhecer”, afirma a
psicóloga Madalena Cabral Rehder, coor-
denadora do Núcleo de Especialização em
Psicodrama e Sociodrama de Santo André
e Região.
A timidez e a vontade de agradar
são, em geral, as justificativas usadas pe-
los indivíduos que, quase sempre, ficam
quietos o máximo possível. A estratégia,
contudo, acaba pondo em risco o conví-
vio social, ameaçado pela dificuldade de
entender os desejos dessas pessoas e pela
32
Delvacyr Costa

aparente falta de interesse que elas apre-


sentam nas relações (afinal, expressão e
participação andam de mãos dadas na
maioria das vezes). “Deixar de expressar
o que pensa é omitir-se perante a vida”,
diz a psicóloga.
Sem dúvida, há quem nasça com um
temperamento mais reservado, precisan-
do sentir confiança no ambiente antes de
manifestar opiniões. Não há problema
nenhum nisso, aliás, é até saudável e
evita constrangimentos. Isso porque essa
avaliação funciona como uma espécie de
vacina contra comentários que não são
adequados para o momento (seja pela
superficialidade, seja pelo julgamento
precipitado).
Mas não pense que se furtando de
falar você consegue desenvolver essa ha-
bilidade. Expressar bem os seus pensa-
mentos e opiniões requer aprendizagem,
com exercícios frequentes e de dificulda-
de variável. Soltar o verbo entre amigos,
por exemplo, tende a ser bem mais sim-
ples do que relatar a seu chefe sua insa-
tisfação no trabalho.
Só lembrando que a comunicação é
33
A Loucura Desejável

uma via de mão dupla: é importante falar


e também ouvir, com o máximo de trans-
parência possível, evitando questões mal
resolvidas. Aprender a se comunicar de
forma espontânea e com criatividade fa-
vorece o crescimento pessoal e profissio-
nal. As pessoas entendem as suas ações
e, portanto, conseguem confiar mais em
você graças à intimidade que é partilhada
pouco a pouco.
Em entrevista a revista Lola, em
agosto de 2011, Marcia Tiburi declarou:

Hoje, as pessoas estão muito


conservadoras. Fiz um debate e as
pessoas disseram que eu era muito
corajosa. Por quê? Não tem mili-
co na parada, não tem ninguém me
proibindo de falar o que penso. Não
vou ser cassada. A ditadura acabou
e as pessoas continuam com medo
de falar. Têm medo de que o outro
vá fazer cara feia, de perder o es-
paço no jornal, o cliente, o convite
para a festa. Nem entre amigos as
pessoas têm coragem de dizer o que
pensam. Parece que têm que viver
agradando. A vida assim, sem au-

34
Delvacyr Costa

tenticidade, vale a pena? Se eu não


puder ser quem eu sou, valeu viver?
Para mim, não. [...]
Com isso tudo, não estou dizendo
que devemos sair por aí dizendo tudo o
que sentimos ou pensamos de qualquer
maneira e a qualquer pessoa. Olhe o
que diz Marcia Tiburi: “Seria amedronta-
dor um mundo onde fosse possível expor
tudo. Confio muito na força da intimida-
de, da privacidade, do caráter secreto
da vida”. O que insisto em dizer é que a
maioria das pessoas não diz o que pensa
ou sente, e quando alguém tem a cora-
gem de fazer – mesmo que de forma as-
sertiva, inteligente e educada – é taxado
de louco. Sendo assim, prefiro a loucura.

35
Delvacyr Costa

III. CAPACIDADE DE NÃO REPRIMIR


SEUS SENTIMENTOS

Somos criados para reprimir emo-


ções. Num mundo machista, desde pe-
quenos os meninos ouvem de pais, mães,
tias, irmãos mais velhos, madrinhas e uma
série de mal informados mas bem inten-
cionados amigos: “homem não chora”.
Vivemos num mundo de emoções repri-
midas. Em algumas famílias aprende-se
desde criança, que a simples manifesta-
ção de emoções é um sinal de fraqueza.
Aprende-se que não pode, ou é errado,
chorar, rir muito alto, sentir raiva, ou
seja, a pessoa registra em sua mente que
não deve expressar nenhum tipo de senti-
mento, e em casos mais graves, aprende
também a não se permitir sequer sentir.
Tudo aquilo que tentamos reprimir
em nós, torna-se mais forte. Esta é uma
das leis básicas da existência: a de que a
repressão gera uma força antagônica ain-
da maior. E a prova disso é que quanto
mais reprimimos nossos reais sentimen-
tos e desejos, mais intensamente eles
37
A Loucura Desejável

tentarão se manifestar, seja através de


estresse emocional ou, num estágio mais
avançado, de uma doença criada no cor-
po físico.
Mas, dirão alguns, nem sempre a
vida nos permitirá manifestar todos os
nossos sentimentos, então, como fazer?
Não reprimir significa reconhecer. Ainda
que a expressão seja impossível, o impor-
tante é que tenhamos a consciência do
processo, pois só assim, reconhecendo
-o, teremos o poder de decidir como li-
dar com aquela situação. Mesmo que não
possamos dar vazão ou exteriorizar ple-
namente nossos sentimentos, precisamos
deixar que eles se tornem conhecidos por
nós. Muitos seres humanos passam a vida
tentando negar o que sentem, até mesmo
para si próprios.
Racionalizam as emoções, tentando
ignorá-las, pois olhar para elas muitas ve-
zes requer coragem. O importante é ter
sempre em mente que podemos ser es-
tranhos para o restante do mundo, mas
nunca para nós mesmos. 
Somente aquele que se conhece em
profundidade e tem a coragem de admi-
tir, reconhecer e aceitar todos os seus
38
Delvacyr Costa

sentimentos e emoções, mesmo aqueles


não tão bonitos, que seria preferível ig-
norar, pode experimentar a totalidade de
seu ser.
Deixar transparecer o que sente e o
que pensa, seja qual for o sentimento e
risco que pode correr, é uma forma cor-
reta de viver. Se reprimir os sentimentos
perde todo o prazer na vida, perde todo o
entusiasmo e tornar-se-á frustrado. Des-
perdiçará igualmente grande parte da
sua vida e depois, continuará a reprimir-
se cada vez mais por se dar conta desta
situação. Por isso, reprimir os sentimen-
tos é um tóxico, envenena o ser, faz mal
à sua saúde e pode até causar doenças
graves.
Também existem os sentimentos ne-
gativos, as mágoas, que são guardados
por muito tempo sem exteriorizá-los ou
tratar deles.
Muita gente fica remoendo a má-
goa e prefere reprimir a dor por medo
de expor os sentimentos ou por não con-
seguir colocar para fora toda a angústia
que está ali martelando sem parar e aca-
ba não percebendo que estocar mágoas e
sofrimentos faz mal para a saúde e para
39
A Loucura Desejável

o coração. 

“Nosso organismo não foi feito para


guardar mágoas e sentimentos ruins. Tan-
to o corpo quanto a mente vão pesando
na medida em que eles se acumulam e
uma hora a panela de pressão transborda
na tentativa de aliviar o sofrimento. É um
processo natural”, explica a psicóloga e
coordenadora do Setor de Gerenciamento
de Qualidade de Vida da Unifesp, Denise
Diniz.

O grande problema é que na hora da


explosão, a pessoa se sente tão sufocada
que sai atirando para todos os lados ma-
goando as pessoas que estão ao seu redor
sem perceber. É preciso tempo e paciên-
cia para aprender a lidar com os senti-
mentos sem ferir as pessoas e nem a si
mesmo. 

Estocar mágoas e sofrimentos faz


mal para a saúde e para o coração. Quem
cala consente a dor.
Os sentimentos ruins são frutos de
expectativas frustradas. Colocamos no
outro ou naquela oportunidade a respon-
sabilidade de resolver nossos problemas

40
Delvacyr Costa

como se eles não fossem consequências


dos nossos próprios atos, daí a mágoa e o
ressentimento. 
Na medida em que não extravasamos
este sentimento e vamos dando a ele uma
conotação negativa maior do que de fato
ele deveria ter, sufocamos nossos limites
emocionais e daí aparecem os sintomas
físicos. Todos nós criamos expectativas
sobre a vida e toleramos até certo limite
algumas frustrações. Quando elas extra-
polam este limite, que é pessoal, e nos
fazem sofrer, significa que algo está em
desequilíbrio e é preciso resolver.
O problema é que a maioria das pes-
soas acha que resolver os ressentimentos
é resolver com o outro aquilo que está
pendente. O que deve ser feito mesmo,
porém, antes disso, é preciso entender o
que de fato te fez mal e porque ganhou
tamanha dimensão na sua vida para daí
buscar o equilíbrio. 
Por que não consigo expressar meus
sentimentos? 

Muita gente costuma guardar a má-


goa e os sentimentos ruins por não con-

41
A Loucura Desejável

seguir extravasar, daí vem a tristeza e


a angústia. Isso acontece porque temos
temperamentos e limites diferentes fa-
zendo com que alguns levem sem trau-
mas as decepções do dia a dia, enquanto
outros guardam e fiquem remoendo as
dores. 

É algo muito pessoal a forma que


cada um reage às adversidades. Se você é
tímido, reage de um jeito; se é inseguro,
age de outra maneira. O importante
nesta questão é perceber que quem cria
a conotação negativa que gera a mágoa
e o ressentimento somos nós. A pessoa
pode até ter errado com você, mas a
intensidade disso na sua vida quem dá é
você mesmo. 

Sentimento reprimido = saúde em


perigo

Segundo a psicóloga da Unifesp, a dor


emocional se torna física quando a inten-
sidade que damos ao fato que nos magoa
chega a interferir na atividade cerebral
de modo a dificultar o envio de estímulos
nervosos responsáveis pela execução de
algumas funções de nosso organismo. “O
cérebro deixa de comandar alguma fun-
42
Delvacyr Costa

ção e o corpo reage sinalizando onde está


o problema”, explica. 

“A gente se adapta às novas situa-


ções, isso é um processo natural, porém,
quando algo nos machuca a ponto de ex-
trapolar nossos limites, a dor emocional
bloqueia alguma função física que já é
propensa a ter problemas ou intensifica
os sintomas de alguma doença já existen-
te”, explica Denise. 

Os sintomas emocionais podem aco-


meter três áreas interdependentes das
nossas vidas de modo a influenciar umas
às outras de acordo com a origem do pro-
blema emocional. Quando a pessoa tem
uma doença que tem origem emocional,
dificilmente consegue desempenhar com
total desenvoltura suas atividades sociais
e começa a dar sinais físicos. É um con-
junto de fatores que se somam e vão se
acumulando. Quando o corpo reage com
sintomas de alguma doença é porque a
pessoa extrapolou seu limite emocional e
o organismo responde tentando eliminar
a dor. 

Sintomas que podem estar relacio-


nados à dor reprimida:
43
A Loucura Desejável

- Físicos: úlcera, hipertensão, aler-


gias, asma, estresse, e a longo prazo,
câncer.

- Psíquicos: irritabilidade, ansieda-


de, agressividade, nervosismo. 

- Sociais: queda de desempenho no


trabalho, tendência ao isolamento, apa-
tia, conflitos domésticos, dentre outros.

Colocar em pratos limpos

É muito comum ouvirmos as pessoas


dizendo que se temos um problema com
alguém é melhor resolver e conversar
para não guardar mágoa porque isso faz
mal, porém, esta máxima nem sempre é
a melhor opção para quem sofre com o
problema. 

De acordo com Denise Diniz nem


sempre as pessoas conseguem lidar com
a dor que sentem. “Além disso, conver-
sar com o outro que os magoou significa
trair seus valores morais e isso as maltra-
ta mais do que a mágoa ou a dor reprimi-
da”, explica ela. Nestes casos, é melhor
trabalhar para que ela supere a dor e siga
em frente. 

44
Delvacyr Costa

Extravasar sim! Magoar não

Uma hora você estoura! Pois é, isso


não é o problema. O grave é quando você
o faz e desconta nos outros as dores que
são suas, magoando as pessoas ao seu re-
dor. Para evitar que isso aconteça a psicó-
loga dá algumas dicas: 

1. Aceite que algo lhe incomoda sem


medo de expor seus sentimentos, assim
você não intensifica a dor remoendo má-
goa dos outros.

2. Detecte o que de fato lhe fez mal


para não sair atirando para todos os la-
dos. 

3. Não crie expectativas em relação


ao outro para não se decepcionar depois.
Só você pode curar sua dor, não adianta
achar que o outro vai te livrar do sofri-
mento. 

4. Busque em você e na sua vida to-


dos os recursos que possam lhe ajudar a
superar esta dor: amigos, praticar espor-
tes, terapia, entre outros. Se pergunte
quais destas possibilidades fariam mais
efeito na hora de trabalhar a dor que

45
A Loucura Desejável

está te maltratando e corra atrás dela.


Nem sempre o que lhe indicam é o melhor
para você e, às vezes, uma conversa fran-
ca com um amigo, com um sacerdote, é
mais útil do que uma consulta.

5. Trabalhe sua autoestima: As pes-


soas te maltratam se você deixa que isso
aconteça. É você quem escolhe as rela-
ções que quer estabelecer com as pes-
soas, por isso, em vez de culpar o outro
pelo seu sofrimento, olhe para si mesmo
e se ajude.

6. Perdoe. Perdoar não é esquecer o


que te fez mal e sim superar e se libertar
daquele sentimento ruim; só nos curamos
quando viramos a página e, para isso, é
preciso disposição e paciência. Não dá
para achar que superou só porque você
quer se sentir assim, tem que ser sincero
para ser verdadeiro.

 É preciso deixar claro que


controlar é muito diferente de reprimir
sentimentos. Reprimimos quando não
nos permitimos identificar o que estamos
sentindo, e controlamos quando, apesar
de identificarmos, conseguimos obter
o controle deste sentimento. O mais
46
Delvacyr Costa

saudável é controlar e nunca reprimir,


mas infelizmente, a maioria das pessoas
reprime e aliena-se do que sente,
distanciando-se cada vez mais de seu ver-
dadeiro eu e, em consequência, de suas
reais necessidades e do que a faz feliz.

Os normais (ou os mentalmente


sãos), nos ensinam que não devemos de-
monstrar nossos sentimentos e reprimir
nossas emoções. Os loucos, não possuem
essa preocupação, eles vivem intensa-
mente seus sentimentos e extravasam
suas emoções. Talvez por isso mesmo que
os loucos são felizes. A loucura me per-
mite viver, viver intensa e apaixonada-
mente, apesar das críticas e dos olhares
e comentários impiedosos dos demais. Os
normais, via de regra sobrevivem. Eu sou
louco, quero é viver!
Para finalizar esse capítulo, alguns
pensamentos sobre loucura, emoções e
sentimentos:
“Minha maior loucura é quando co-
loco a razão para sufocar meus próprios
sentimentos!” (Camila Alves)
“Errado não é fazer loucuras por
amor, é não amar por medo de fazer lou-

47
A Loucura Desejável

curas.” (Marcos Túlio Godoi)


“Nossas loucuras são as mais sensa-
tas emoções. Tudo que fizemos e faremos,
deixaremos de presente para aqueles que
tentarem ser como a gente. Loucas sim,
mas loucas felizes!” (Jayne Azevedo e Ca-
mile Marinho)
“Os amantes não veem as mais belas
loucuras que cometem.” (William Shakes-
peare)
“Você disfarça, a vida toda você dis-
farça. Para não parecer fraco, para não
parecer louco.” (Tati Bernardi)
“Seja ridículo, mas seja feliz e não
seja frustrado. Pague mico, saia gritando
e falando o que sente, demonstre amor.
Você vai descobrir mais cedo ou mais tar-
de que o tempo pra ser feliz é curto, e
cada instante que vai embora não volta
mais. Não se importe com a opinião dos
outros. Antes ser um idiota pra as pessoas
do que infeliz para si mesmo.” (Arnaldo
Jabor)

48
Delvacyr Costa

IV. CAPACIDADE DE SER AUTÊNTICO

O que você acha dos cortes e pen-


teados de cabelo do jogador de futebol
Neymar? Eu pessoalmente acho ridículos.
Mas, uma coisa não posso negar, ele tem
personalidade, ele é autêntico. Mas exis-
tem milhões de adolescentes - e outros
jogadores de futebol já adultos - que o
imitam.
Ainda no mundo do futebol, um joga-
dor cria uma comemoração diferente ao
fazer um gol, na rodada seguinte, outros
- às vezes algumas dezenas - estão fazen-
do exatamente a mesma coisa. Exemplo
clássico: a música interpretada por Mi-
chel Teló “Assim você me mata” virou hit
de comemoração no mundo inteiro. Onde
fica a autenticidade?
Num mundo cheio de imitações ba-
ratas, ser autêntico parece um pouco lon-
ge da realidade. Se você decidir descobrir
o que o mundo pensa de verdade sobre
você, você precisa começar a encontrar
o “seu eu”.
49
A Loucura Desejável

1. Passe um tempo pensando em


quem você realmente é. Não o que você
usa de fachada antes de entrar num de-
terminado grupo de pessoas, nem a ima-
gem que você passa para sua família e
seus amigos próximos. Fique só e medite
sobre você mesmo. Quem é você quando
está sozinho? Aqui está a chave de tudo.
Tente meditar. Esse tempo ocioso
não só faz você relaxar como diminui os
níveis de estresse, além de proporcionar
uma clareza mental que você não tinha
antes.
2. Liberte-se imediatamente do que
a sociedade diz que é aceitável. Todos os
dias, vemos imagens do que é considerado
“certo” ou “ok”. Só que isso constante-
mente muda (o que prova que o “certo”
ou “ok” não existe realmente). Para ser
você, pare de tentar viver de acordo com
esse padrão inexistente. Não existe mais
essa de ser “Mauricinho” ou “Patricinha”,
atleta ou seja lá o que for só por ser. Não
tem mais essa de usar uma calça de grife
só por causa da grife. Você precisa achar
um motivo melhor do que esse!
Esqueça esses planos de fazer parte
50
Delvacyr Costa

de um seleto grupo ou classe social. Se o


seu eu autêntico é o que eles procuram,
você será convidado mais cedo ou mais
tarde, quando tiver estabelecido sua ver-
dadeira identidade.
3. Faça uma lista das verdades so-
bre si mesmo. Infelizmente, no mundo
de hoje, somos tão bombardeados com
o que a sociedade espera de nós que às
vezes nós nem sequer sabemos quem
somos. Passamos anos (às vezes décadas,
às vezes vidas inteiras) nos moldando
para encaixar nas ideias alheias do que
devemos ser, enterrando quem realmente
somos sob camadas de futilidades e
máscaras. Reserve um minuto para
escrever como você realmente se sente.
Pode ser as coisas que você faz, o jeito
que você é ou as coisas que você pensa –
que pode ser qualquer coisa, desde que
seja verdade.
Quando você tiver uma lista com
dezenas de coisas (tão simples quanto
“eu sou mais feliz usando chinelos” ou
“eu gosto mais de aventura do que ou-
tra coisa”), grude-a em algum lugar pelo
qual você constantemente passa. Então,
quando você fizer um comentário ou
51
A Loucura Desejável

quando for repassar o seu dia, cheque se


seu comportamento está alinhado ao que
você realmente é. Provavelmente você
descobrirá algumas coisas que você diz
ou pensa que não são reais.
4. Pense sobre sua história e cul-
tura familiar. Nem sempre gostamos de
onde viemos, mas não há como escapar
da influência da nossa história sobre
quem e o que somos. Muitas pessoas gas-
tam muito tempo e esforço para escapa-
rem de seu passado, como alterar a grafia
dos seus nomes para soarem mais politi-
camente corretos ou pagar montanhas de
dinheiro para que pessoas façam uma re-
modelação cultural nelas. De onde você
veio? Afinal, você foi moldado pelos seus
pais, que foram moldados por seus avós.
Pense no seguinte:
- Sua criação. Quais são suas lem-
branças mais vívidas? Como sua criação
diferiu das outras pessoas?
- Sua região. Como ela te moldou?
Que hobbies e traços de personalidade
você tem hoje por causa dela?
- Suas preferências. Quais delas são

52
Delvacyr Costa

compartilhadas com sua família? Quantas


você tem por causa da sua família?
5. Saia dos joguinhos sociais ime-
diatamente. É fácil pensar que somos
honestos e sinceros. Porém, para rela-
cionarmos perfeitamente com os outros,
Com os outros, precisamos estar em jo-
guinhos nas nossas interações cotidianas.
Uma pequena mentira que contamos à fu-
lana sobre como as pessoas gostam dela,
a maneira dissimulada como pedimos um
favor a alguém só porque achamos falta
de educação pedir favores, etc. Não esta-
mos sendo nós mesmos – estamos sendo o
que as pessoas querem que devemos ser.
Temos que cortar isso fora.
Os dois principais problemas são pu-
xa-saquismo e omissão. Se você sacrifica
sua felicidade para agradar os outros,
você se encaixa no primeiro. Se você evi-
ta dizer ou fazer as coisas simplesmente
porque as pessoas desaprovarão ou fica-
rão constrangidas, você é o segundo. As
vozes dentro de nossas cabeças que nos
proíbem das coisas não somos nós – são
uma parte inorgânica de nós que nos foi
ensinada.

53
A Loucura Desejável

Precisamos definir o que é ser au-


têntico. Isso pode não ser tão fácil como
parece, considerando a imensa influência
que a mídia tem sobre todos nós. Claro
que todos nós somos indivíduos únicos,
porém, poucas pessoas resistem à in-
fluência da mídia e à pressão de colegas
para se encaixar na média. Considerando
que é tão difícil, preciso definir o que é
ser “autêntico” para mim. O bom disso
tudo é que eu posso escolher.
Ser autêntico significa ir atrás do seu
próprio estilo? Significa dizer tudo que
vem à mente? Significa mostrar suas emo-
ções, sejam quais forem? Significa ignorar
o que é popular? Há várias abordagens a
esse respeito – qual mais tem a ver comi-
go?
Ser autêntico significa também ser
honesto. Isso é difícil. É claro que, para
ser autêntico, você tem que ser hones-
to. Mas como ser honesto num mundo tão
melindroso?
Vivemos num mundo em que os mé-
dicos não podem nem mesmo dizer aos
pacientes que eles estão obesos. Então,
como fazer isso?
54
Delvacyr Costa

Vamos pegar o exemplo clássico: “Tô


parecendo gordo com isso?” Em vez de di-
zer sem rodeios, “Está, sim.”, tente algo
como: “Sim, as listras não caem bem.”
Você está sendo honesto (as listras defini-
tivamente não caem bem), mas também
está focando em algo, em vez da pessoa.
Diga não à mentira, à falsidade rei-
nante, à corrupção social e política e a
todo e qualquer tipo de desonestidade.
Jamais seremos autênticos sendo deso-
nestos.
Não faça da vida uma competição.
Não há necessidade de provar algo quan-
do se conversa com alguém. Quando al-
guém começar a tirar onda, não morda
a isca. Ele está simplesmente propondo
um joguinho de falsidade, o que mostra
total falta de auto-estima. Que vergonha.
Resista ao impulso de superá-lo. A falsida-
de dos outros, suas histórias fantásticas e
fantasiosas, seus devaneios de divindade
ou poder não podem abalar nossa auten-
ticidade e lavar-nos a tentar competir
com isso.
Infelizmente, muitos de nós caímos
na tentação de nos parecer os maiorais
55
A Loucura Desejável

quando conhecemos alguém. Nós quei-


mamos totalmente o filme ao nos mostrar
cheios de nós mesmos ou sermos fanfar-
rões, contando sobre nossas conquistas.
As interações não devem funcionar assim.
Na próxima vez que alguém disser: “Aca-
bei de ser promovido”, apenas felicite-o
e siga em frente. Isso é tudo que se pre-
cisa fazer.
Exerça sua personalidade e viva do
seu jeito. Sabe aquele cara que entra na
sala e incendeia o ambiente? Aquele cuja
paixão e jeito de ser é contagiante? Isso
é ser autêntico. É ele mesmo 100%. Essa
parada é poderosa. Você pode causar o
mesmo impacto, desde que de forma au-
têntica.

Esteja ciente de que nem todos


apreciarão sua autenticidade, e alguns
podem achá-lo ingênuo, simplório, fraco
ou louco. E daí?

56
Delvacyr Costa

V. CAPACIDADE DE SER
CRIATIVO E INOVADOR

O Jornal Folha de São Paulo, do dia


3 de janeiro de 2014, estampa uma man-
chete muito interessante:

Cientistas encontram possível liga-


ção entre criatividade e loucura
Destaco do texto o que se segue:

Pessoas criativas são muitas ve-


zes tomadas por loucas e isso,
talvez, tenha algum fundamen-
to científico. Pesquisadores da
Universidade Harvard e da Uni-
versidade do Texas, nos EUA,
descobriram um elemento co-
mum à criatividade e a desequi-
líbrios mentais: a maior predis-
posição a estímulos externos.
Segundo os cientistas, que pu-
blicaram seu estudo na edição
de setembro da revista “Jour-
nal of Personality and Social
57
A Loucura Desejável

Psychology”, pessoas criativas


estão mais receptivas a estímu-
los externos que as outras. Em
doenças como esquizofrenia,
essa mesma característica se
apresenta em seus estágios ini-
ciais de desenvolvimento.
Mecanismo mental
Nos animais e nos seres hu-
manos, existe um mecanismo
inconsciente chamado de “ini-
bição latente”. Essa faculdade
permite ignorar estímulos ex-
ternos que a vivência desses
indivíduos tenha demonstrado
serem inúteis ou irrelevantes
a suas necessidades. Por testes
psicológicos, os pesquisadores
conseguiram demonstrar que as
pessoas criativas têm baixos ní-
veis de inibição latente.
“Isso significa que indivíduos
criativos continuam em conta-
to com a informação extra que
chega constantemente do meio
em que eles estão”, diz um dos
coautores do estudo, Jordan
58
Delvacyr Costa

Peterson, da Universidade do
Texas.
“Uma pessoa comum classifica
um objeto e o esquece, mes-
mo que esse objeto seja muito
mais complexo e interessante
do que ela possa perceber. A
pessoa criativa, por outro lado,
está sempre atenta às novas
possibilidades.”
É de conhecimento comum o fato
de que muitos dos gênios da história
da humanidade tinham algum tipo de
transtorno psíquico. Einstein e Newton,
por exemplo, eram esquizofrênicos.
Podemos citar ainda outros gênios de
várias áreas da ciência e da arte, como
Van Gogh, que era bipolar. Ao que parece,
a genialidade e a real criatividade são
privilégios dos que moram no limbo da
racionalidade: nem completamente
loucos, nem totalmente lúcidos. Os
criativos utilizam mais o lado direito
do cérebro, responsável por conexões e
análises aleatórias, enquanto os racionais
usam mais o lado esquerdo, incumbido do
pensamento lógico e fundamentado.

59
A Loucura Desejável

Alguns estudos científicos  aponta-


ram a presença de duas cópias de uma
mutação do gene da esquizofrenia como
contribuinte para a criatividade. Pessoas
com tal característica apresentaram me-
lhores resultados em alguns testes. Ape-
sar disso, ainda não há provas suficientes
para estabelecer esta conexão.
O que importa é que agora você tem
mais um argumento na hora que seus ami-
gos o chamam de louco. Ah, e esta teoria
é um reforço ao estereótipo de malucos
aos que trabalham com criatividade em
geral, como músicos, escritores e outros
doidos mais.
Na história da humanidade não raro
foram pessoas que ao surpreender com
sua originalidade foram acusados de lou-
cura.
Uma pessoa que tem suas habilida-
des mentais destacadas e um brilhantis-
mo excepcional, normalmente são in-
sensíveis às limitações da mediocridade
e emocionalmente muito sensíveis na
área social, o que origina quase sempre o
nome de louco.

60
Delvacyr Costa

Agora a questão, louco por quê? Só


porque foi agraciado com um nível de ra-
ciocínio bem acima da média? Como nem
tudo é perfeito, o gênio louco também
tem suas qualidades e seus defeitos como
todo mundo e nada mas que isso.
Nos dias em que vivemos, a criati-
vidade mais parece uma loucura do que
uma capacidade normal do espírito livre.
Queiramos ou não, somos condicionados
às circunstâncias sócio geográficas e lin-
guísticas. Nosso comportamento e nos-
sas escolhas, na maioria das vezes, não
provêm de nós. São provocados em nós.
São condicionados. Até a emoção, como
já falamos, considerada manifestação
espontânea, muitas vezes está sujeita a
regras sociais que controlam sua expres-
são. Nesse sentido é que o filósofo Scho-
penhauer dizia que “o homem pode fazer
o que quer, mas não querer o que quer”.
Enquanto Einstein afirmava ter certeza de
que os “seres humanos não são livres em
seus pensamentos, sentimentos ou ações;
estão presos aos seus limites, como as es-
trelas em seus movimentos”.
Primeiro, o capitalismo selvagem
assassinou o conhecimento e a beleza,
61
A Loucura Desejável

esmagando professores e artistas. Agora,


a globalização matou o indivíduo, impon-
do uma tendência de se igualar à maio-
ria. Essa maioria globalizada não tem um
jeito humano de ser, mas sim um jeito
americano de existir: competitivo, con-
sumista, superficial. Hipnotizados, esses
robôs se autoconsideram bem-sucedidos.
O programa norte-americano se alimenta
de suas almas, comanda suas falas e seus
atos.
Sem dúvida, somos condicionados
pelo meio natural e, cada vez mais, pelo
meio cultural americano. O condiciona-
mento geográfico é natural e inevitável.
Porém, o condicionamento cultural é
ideológico e pode ser filtrado pelo discer-
nimento e livre arbítrio, base rebelde de
toda criatividade.
Seres inteligentes e criativos enca-
ram o não-convencional como desafio e
originalidade, e não como obstáculo para
socialização. Para a psicanalista Anna
Freud, filha do pai psicanálise Sigmund
Freud, “mentes criativas são conhecidas
por resistir a todos os tipos de mau trei-
namento cultural”.

62
Delvacyr Costa

Infelizmente, ontem e hoje, a edu-


cação escolar mais encarcerou talentos
do que libertou, mais deformou seres
criativos do que formou. Ainda hoje, no
mundo da educação, o melhor aluno não
é o questionador ou o criativo, mas o obe-
diente ou mais servil, que facilmente se
transforma em escravo. A sociedade, ao
mesmo tempo em que valoriza a criativi-
dade, privilegia os conformistas, estimula
a memorização, a resposta única e o ex-
cesso de regras. Quem não abaixa a cabe-
ça está fora do bom-senso estabelecido,
está fora da norma. Na escola este é o
aluno anormal, o aluno-problema.
Na escola e na sociedade parece só
haver espaço para “normopatas”, que
têm sua identidade e interioridade engo-
lidas pela função social. Segundo o poe-
ta Décio Pignatari, “todos nós criamos,
mas a (des)educação que recebemos nos
orienta no sentido da descriação, no sen-
tido de permanecermos apenas ao nível
da competência”. Talvez por isso, muitos
gênios são péssimos alunos (se não eles
morrem de loucura ou depressão).
Gênios são péssimos alunos...

63
A Loucura Desejável

Richard Wagner, um dos três maiores


músicos do século 19: foi desde a infância
um aluno negligente, que se irritava com
os acadêmicos. Tornou-se músico como
autodidata, estudando detalhadamente
as obras de Beethoven.
Stanley Kubrick, – diretor dos filmes
“Laranja Mecânica” e “2001 - Uma Odis-
seia no Espaço”, obras-primas do cinema:
era famoso na adolescência pelo seu total
desinteresse pela escola. Kubrick ganhou
muito dinheiro jogando xadrez e pôquer.
Humberto Mauro, autor de clássicos
do cinema brasileiro declarou certa vez:
“Nunca abri um livro de cinema para es-
tudar. Curso de brasileiro é olhar: olhou,
viu, fez”. Humberto também fez teatro
amador, estudou mecânica por conta pró-
pria e foi pioneiro do radioamadorismo.
Carlos Drummond de Andrade, um
dos três maiores poetas brasileiros foi
expulso de um colégio de Nova Friburgo
(RJ), aos 17 anos, depois de um desenten-
dimento com o professor de português.
José de Alencar, arredio à vida estu-
dantil escolar, aos 21 anos viveu uma fase

64
Delvacyr Costa

de recolhimento e estudo na qual cuidou


de expandir sua cultura literária, lendo
os clássicos da literatura universal, os
filósofos, os historiadores, além dos cro-
nistas do Brasil colonial. Familiarizou-se
com Balzac, Chateaubriand, Victor Hugo,
Dumas e Byron, desenvolvendo em seu
espírito a ideia de uma identidade nacio-
nal, que expressou em sua literatura.
Émile Zola, principal escritor da lite-
ratura naturalista muitas vezes tirou nota
zero em literatura francesa e foi reprova-
do em alemão e retórica, quando estuda-
va no Liceu St.Louis.
Confúcio – filósofo chinês – não ad-
quiriu seus conhecimentos em escolas;
todavia, tornou-se o homem mais culto
da China, no século 6 a.C. Seus ensina-
mentos exerceram enorme influência
sobre toda a cultura da China e da Ásia
oriental, por mais de dois mil anos.
Precisamos desesperadamente des-
ses loucos criativos e inovadores. Apesar
de todo avanço tecnológico e científico,
vivemos rodeados por mesmice, medio-
cridade e plágio.

65
A Loucura Desejável

Algumas citações sobre o assunto:

“Precisamos fazer algo quando as


pessoas acham a idéia louca. Quando
acham que é uma boa idéia é porque já
há alguém a fazer isso.” (Hajime Mitari)
“Só os loucos são capazes de criar.
Os normais apenas copiam.” (Desconhe-
cido)
“Os grandes pensadores sempre fo-
ram tratados como loucos, quando deve-
riam ser recebidos com gênios.” (Tales
Dejard de Mendonça)
“Não existe um grande gênio sem
uma pitada de loucura.” (Aristóteles)
“Os loucos abrem os caminhos que
depois emprestam aos sensatos.” (Carlo
Dossi)
“A genialidade é uma variedade da
loucura.” (Carlo Dossi)
“Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou
sonho no começo. Nada do que o homem
fez no mundo teve início de outra manei-
ra, mas tantos sonhos se realizaram que
não temos o direito de duvidar de ne-
66
Delvacyr Costa

nhum” (Monteiro Lobato)


“Como posso querer que meus ami-
gos entendam as coisas loucas que pas-
sam pela minha cabeça, se eu mesmo,
não entendo?” (Salvador Dali)
“Loucura é querer resultados dife-
rentes fazendo tudo exatamente igual!”
(Albert Einsten)
“Dizem que de louco todo mundo
tem um pouco. Então considerando que
muitos surpreendam-se comigo, de louco
eu devo ter um muito. E quer saber? Hei
de ter então muito mais. Ninguém se des-
taca nessa vida sendo igual a todo mun-
do.” (Augusto Branco)

67
Delvacyr Costa

VI. A LOUCURA DAS LOUCURAS

No primeiro século de nossa era, um


pequeno país foi marcado por guerras e
revoltas sangrentas. Um país extrema-
mente religioso, mas marcado pelo fana-
tismo. Diversos “Messias”, enviados por
Deus haviam surgido, conquistado segui-
dores, incitado rebeliões e perecido atra-
vés da espada romana.
Então surge um novo personagem no
cenário. Dizem que é Rei, mas nasceu na
periferia, mais especificamente em um
estábulo e não no palácio. Seu pai não
é Rei, na verdade nem seu pai é; ape-
nas assumiu a paternidade e registrou-o
como seu filho, por amor a uma jovem
pela qual era apaixonado, e que apare-
ce grávida dizendo que o filho é de Deus.
Loucura né?
Ele passa sua vida como exilado num
país vizinho e depois na obscuridade em
uma pequena cidade, trabalhando na car-
pintaria de “seu pai”. Aos 30 anos, dei-
xa sua cidade, seus familiares, vizinhos e
69
A Loucura Desejável

amigos e parte para uma grande aventu-


ra. Dizendo-se Mestre, enviado por Deus,
o Verdadeiro Messias, começa a desafiar
homens para que o sigam. Cria uma es-
cola filosófico-religiosa no estilo peripa-
tético (sem sede, sem campus, sem sa-
las de aulas – um bando de vagabundos
perambulando pelas ruas das mais diver-
sas cidades, e pelas estradas e campos,
conversando, filosofando, ensinando suas
doutrinas e atraindo novos seguidores).
Loucura? A coisa pode ficar, e fica bem
pior.
Dizendo ser filho de Deus, afirma
que conheceu Abraão (o pai da raça), só
que Abraão morreu 1.700 anos antes de
seu nascimento. Ele não se submete a re-
gras, principalmente às religiosas. Aliás,
ele sempre bate de frente com os reli-
giosos. Geralmente os ofende ou coloca
apelidos pejorativos: raça de víboras, se-
pulcros caiados, filhos do diabo, etc. Ele
comete loucuras inimagináveis: conversa
em público com prostituas, tem encon-
tros intencionais em lugares ermos com
mulheres de reputação altamente duvi-
dosa; ele come na casa dos corruptos de
colarinho branco. Nos dias de hoje ele

70
Delvacyr Costa

seria amigo dos condenados no Mensa-


lão sem problema algum. Faz questão de
frequentar as suas casas e aparecer nas
fotos das colunas sociais ao lado deles.
Ele atrai multidões com seus feitos mi-
raculosos, mas a religião oficial diz que
é charlatanismo e engano. Ele não tem
poderes sobrenaturais, é apenas um ilu-
sionista. Ele despreza a religião, e blasfe-
ma contra o Todo-poderoso ao dizer que
é seu filho e enviado por ele à terra. Seus
próprios irmãos o desprezam, dizem que
ele é completamente maluco, e zombam
dele. Só sua mãe, coitadinha, parece
acreditar nele. Mas nem mesmo a ela ele
parece respeitar. Quando ela pede sua in-
tervenção numa festa de casamento ele
diz que não é problema dele; num de seus
cultos sensacionalistas ela o chama, e ele
diz que não vai.
Não podemos esquecer da ocasião
que ele invade o templo judaico e coloca
para correr com um chicote na mão os
vendedores de imagens, santinhos, lem-
brancinhas, fitinhas e outros badulaques
religiosos cujo comércio era oficial e au-
torizado pelo Sumo Sacerdote.

71
A Loucura Desejável

Sua relação com a política também


era explosiva e complicada. Chamou o
presidente de raposa em rede nacional.
Era visto com os representantes da po-
tência invasora e dominante, inclusive
elogiando-os repetidas vezes. Dizia-se
Rei. Mas se chegasse perto do palácio
real seria preso e acusado de terrorismo.
Não tinha postura e sua ética política era
questionável.
E seus seguidores? Um bando de ma-
lucos. Ele reúne a turma que fugiu da es-
cola. Iletrados, incultos, semialfabetiza-
dos e problemáticos. Um grupo estranho
e heterogêneo. Tem o filiado do PC do B
chamado Simão Zelote e o filiado ao DEM,
por nome Mateus. Ele junta um corinthia-
no e um palmeirense na mesma torcida.
São homens de notória instabilidade emo-
cional. Um dia querem invocar um poder
divino para fazer chover fogo do céu so-
bre uma cidade que não os recebe, e logo
após, fogem apavorados pelo meio das
árvores do Ibirapuera de Jerusalém. São
homens egoístas, que brigam por posição
no grupo e no “reino vindouro”. Amam
apaixonadamente seu Messias, mas o
abandonam rapidamente quando as coi-

72
Delvacyr Costa

sas ficam perigosas.


Ele foi chamado repetidas vezes
de louco, de lunático e até de possuído
por demônios. Foi mal interpretado, foi
odiado, caluniado e zombado. Foi traído
por um de seus seguidores que recuperou
temporariamente sua “sanidade” e o en-
tregou aos homens de bem da nação. Foi
cuspido, impiedosamente espancado e
terminou seus dias pendurado numa cruz,
a mais ultrajante e cruel forma de suplí-
cio conhecida e usada pelos romanos.
Qual a razão disso tudo? A loucura. A
sua loucura. Os certos, os sãos, os sensa-
tos jamais o entenderam. Bendita loucu-
ra. Divina loucura. Adorável loucura. De-
sejável loucura. Ah, se todos os homens
fossem completa e irremediavelmente
afetados pela loucura de Jesus de Naza-
ré.

73
Delvacyr Costa

VII. ADORÁVEIS LOUCOS NA HISTÓRIA


DA HUMANIDADE E SEUS DITOS

“E aqueles que foram vistos dançan-


do foram julgados insanos por aqueles
que não podiam escutar a música.” (Frie-
drich Nietzche)
“Um mal não é um mal para quem
não o sente; Que te importa se todos te
vaiam se tu mesmo te aplaudes?” (Erasmo
de Rotterdan)
“Loucura é só uma questão do ponto
de vista.” (Johnny Depp)
“Queria ter a certeza de que apesar
de minhas renúncias e loucuras, alguém
me valoriza pelo que sou, não pelo que
tenho. E que esse alguém me peça para
que eu nunca mude, para que eu nunca
cresça, para que eu seja sempre eu mes-
mo.” (Mário Quintana)
“Gênios fazem bombas, matemáti-
cos contas. Mas o que fazem os loucos?
São felizes, pois vivem como querem.”
(Robert Santos)

75
A Loucura Desejável

“Todo homem tem suas loucuras - e


frequentemente elas são as coisas mais
interessantes que ele tem.” (Josh Billin-
gs)
“Loucura, é achar que loucos, são
aqueles que fazem coisas, que a socieda-
de pré-define como loucura, quando na
verdade loucos, são vocês, que se julgam
tão normais.” (Nicolly Carias)
“Quem vive sem loucura não é tão
sensato como pensa.” (Duque de La Ro-
chefoucaild)
“A arte de ser louco é jamais come-
ter a loucura de ser um sujeito normal.”
(Raul Seixas)
“As grandes obras deste mundo fo-
ram sempre realizadas por loucos”.
(Jacques Anatole France)
“A imperfeição é bela, a loucura é
genial e é melhor ser absolutamente ridí-
culo que absolutamente chato.” (Marilyn
Monroe)
“Loucura é qualidade. Só os loucos
possuem uma visão perfeita do mundo.
Eles enxergam o que os anormais seres
humanos não conseguem ver. Eles aplau-
76
Delvacyr Costa

dem o que para os estranhos não há graça.


Eles são loucos e os estranhos são apenas
humanos.”(Keidy Lee Jones)
“A pior das loucuras é, sem dúvida,
pretender ser sensato num mundo de doi-
dos.” (Erasmo)
“A loucura é diagnosticada pelos
sãos, que não se submetem a diagnóstico.
Há um limite em que a razão deixa de ser
razão, e a loucura ainda é razoável. So-
mos lúcidos na medida em que perdemos
a riqueza da imaginação.” (Carlos Drum-
mond de Andrade)
“Sou louco porque vivo em um mun-
do que não merece minha lucidez.” (Bob
Marley)
“Falo a língua dos loucos, porque
não conheço a mórbida coerência dos lú-
cidos.” (Luís Fernando Veríssimo)
“Para tornar a realidade suportável,
todos temos de cultivar em nós certas pe-
quenas loucuras.” (Marcel Proust)
“Preferi sempre a loucura das pai-
xões à sabedoria da indiferença.” (Ana-
tole France)

77
A Loucura Desejável

A loucura é o sonho de uma única


pessoa. A razão, é sem dúvida, a loucura
de todos. (André Suarés)
“Eu não sou louco, É o mundo que
não entende minha lucidez.” (Raul Sei-
xas)
“Consegui meu equilíbrio cortejan-
do a insanidade.” (Renato Russo)
“Todos têm o seu método tal como
todos têm a sua loucura; mas só conside-
ramos sensato aquele cuja loucura coin-
cide com a da maioria.” (Miguel Unamuo-
no)
“Tolice é viver a vida assim, sem
aventura... deixa ser, pelo coração. Se é
loucura então melhor não ter razão...”
(Lulu Santos)
“A loucura, objeto dos meus estu-
dos, era até agora uma ilha perdida no
oceano da razão; começo a suspeitar que
é um continente.” (Machado de Assis)
“Odeia-se aquele que é livre, 
porque perturba o descanso 
das pessoas rotineiras.
78
Delvacyr Costa

O louco é insuportável,
porque vive perdido
na liberdade total”.
(Valter da Rosa Borges)

79
A Loucura Desejável

Precisa-se de loucos

De loucos uns pelos outros! Que em


seus surtos de loucura tenham habilidades
suficientes para agir como treinadores de
um mundo melhor. Que olhem a ética, o
respeito às pessoas e a responsabilidade
social não apenas como princípios organi-
zacionais, mas como verdadeiros compro-
missos com o universo.
Precisa-se de loucos de paixão. Não
só pelo trabalho, mas principalmente por
gente, que vejam em cada ser humano
o reflexo de si mesmo, trabalhando para
que velhas competências deem lugar ao
brilho no olhar e a comportamentos hu-
manizados.
Precisa-se de loucos de coragem
para aplicar a diversidade em suas fileiras
de trabalho, promovendo igualdade de
condições sem reservas, onde as minorias
possam ter seu lugar, em um ambiente
de satisfação e crescimento pessoal, in-
dependente do tamanho do negócio, seg-
mento ou origem do capital.

80
Delvacyr Costa

Precisa-se de loucos visionários que,


além da prospecção de cenários futuros,
possam assegurar um novo amanhã, crian-
do estratégias de negócios que estejam
intrinsecamente ligadas à felicidade das
pessoas. Primeiro a gente é feliz, depois
a gente faz sucesso, não se pode inverter
esta ordem.
Precisa-se de loucos pelo desconhe-
cido que caminhem na contramão da his-
tória, ouvindo menos o que os gurus tem
a dizer sobre mobilidade de capitais, tec-
nologia ou eficiência gerencial e ouvindo
mais seus próprios corações. Precisa-se
de loucos poliglotas que não falem in-
glês, espanhol, francês ou italiano, mas
que falem a língua universal do amor, do
amor que transforma, modifica e melho-
ra. Palavras não transformam empresas e
sim atitudes.
Precisa-se simplesmente de loucos
de amor. De amor que transcende toda a
hierarquia, que quebra paradigmas; Amor
que cada ser humano deve despertar e
desenvolver dentro de si e pôr a serviço
da vida própria e alheia; Amor cheio de
energia, amor do diálogo e da compreen-
são, amor partilhado e divino, do jeito
81
A Loucura Desejável

que Deus gosta.


As organizações precisam urgente-
mente de loucos, capazes de implantar
novos modelos de gestão, essencialmen-
te focados no SER, sem receios de serem
chamados de insanos, que saibam que a
felicidade consiste em realizar as grandes
verdades e não somente em ouvi-las… Ou
resgatamos a inocência perdida ou tere-
mos que desistir de vez da condição de
HUMANOS. Qual vai ser a sua atitude?
Rivalcir Liberato

82
Delvacyr Costa

Concluindo

Bem... cheguei até aqui. Entre deva-


neios e divagações, filosofando e falando
como gente normal. Meio sem rumo, sem
um destino certo. Comecei a escrever,
sem saber se iria terminar. Pretendia, ini-
cialmente, apenas viajar comigo mesmo,
refletir a minha loucura, procurar minha
sanidade e verificar se ela existe e se vale
a pena ser vivida.
Mas fui avançando, devagar. Paran-
do muitas vezes. Em alguns momentos
desistindo da caminhada, em outros me
empolgando com o que escrevia. Li, reli,
cortei, acrescentei, divaguei um pouco
mais. Ri sozinho muitas vezes. Achei gra-
ça de mim, de minhas loucuras e de mi-
nhas ideias. Cheguei até aqui.
Minha insanidade nata não me per-
mite aprofundar o assunto, e mesmo eu
não desejei isso, acho que estragaria a
beleza da loucura. Mas a verdade é que
cheguei até esse ponto que considero fi-
nal e satisfatório.
83
A Loucura Desejável

Desejei compartilhar com vocês es-


ses pensamentos malucos. Espero que sir-
vam para alguma coisa, no mínimo, para
arrancar alguns sorrisos. Obrigado por me
acompanhar nessa breve caminhada.
E, se isso te fizer bem, seja bem vin-
do ao maravilhoso e admirável mundo da
Loucura Desejável.

84

Você também pode gostar