01 - Petiçao Inicial Regressiva - Fausto X Luciana

Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo
PJe - Processo Judicial Eletrônico
22/02/2022
Número: 5030037-19.2021.8.08.0024
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: Vitória - Comarca da Capital - 6º Juizado Especial Cível
Última distribuição : 22/12/2021
Valor da causa: R$ 44.000,00
Assuntos: Acidente de Trânsito, Cobrança de Aluguéis - Sem despejo, Tutela de Urgência
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
FAUSTO QUEIROS DE SA (REQUERENTE) LIVIA NOGUEIRA ALMEIDA (ADVOGADO)
MILENA SPINASSE SCARPATI (ADVOGADO)
LUCIANA DE OLIVEIRA ROCHA (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11216 22/12/2021 16:34 01 - Petiçao Inicial Regressiva - Fausto x Luciana Petição inicial (PDF)
046
EXCELENTÍSSIMO SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO
____ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE VITÓRIA/ES.
FAUSTO QUEIROS DE SÁ, brasileiro, divorciado, administrador, portador da

Carteira de Identidade RG: MG 2.995.900 SSP-MG e do CPF 036.063.306-42,
residente e domiciliado à Rua Aleixo Netto, 807, apto 1202, Praia do Canto,
Vitória-ES, vem a presença de V. Exa., por intermédio de suas advogadas e
bastante procuradoras (doc. 01), que ao final subscrevem, com escritório
profissional a Av. Nossa Sra. da Penha, 565, Ed. Royal Center, sala 506, Santa
Lucia, Vitória - ES, CEP: 29056-250 / tel.: (27) 99937-7195 e (27) 99900-
2606, em nome de quem devem ser direcionadas as publicações e
intimações, vem à elevada presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente:
AÇÃO DE REGRESSO DE INDENIZAÇÃO

C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAIS
Em face de LUCIANA DE OLIVEIRA ROCHA, brasileira, solteira, bancária,

inscrita no CPF/MF sob o nº 041.204.656-32, residente e domiciliada na Rua
Dionísio Abaurre, 45, ap. 501, Jardim Camburi, Vitória/ES – CEP: 29.090-
630, telefone (27) 99875-2709, pelas razões fáticas e jurídicas a seguir
expostas.
Assinado eletronicamente por: MILENA SPINASSE SCARPATI - 22/12/2021 16:34:12 Num. 11216046 - Pág. 1
https://sistemas.tjes.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21122216341245500000010813572
Número do documento: 21122216341245500000010813572
I. DOS FATOS
O Requerente figurou como fiador em CONTRATO DE LOCAÇÃO DE IMÓVEL

RESIDENCIAL E MOBÍLIA POR PRAZO DETERMINADO COM FIADOR ( Doc.
02), firmado entre a Requerida e Alita Scárdua Delbone. 2
Em virtude do inadimplemento contratual, o Requerente foi judicialmente

demandado juntamente com a Requerida por intermédio do processo judicial
n.º 024.08.025826-2 (5014000-14.2021.8.08.0024) - anexo. Contudo, ante
a dificuldade de localização da Requerida, a mesma foi excluída do pólo
passivo da demanda.
Conforme se extrai da sentença infra, o Autor fora então condenado (fls.

17/18):
3
A condenação já transitada em julgado, totalizava em 05/10/2021, o valor

de R$ 69.279,00 (sessenta e nove mil, duzentos e setenta e nove reais),
sobre o qual sobreveio condenação em 20% a título de multa.
Na data de 13 de dezembro, as partes firmaram um acordo:
4
5
Tendo em vista o compromisso firmado, o Autor realizou o depósito de R$

20.000,00 (vinte mil reais), conforme comprovante infra:
6
O acordo fora devidamente homologado em sentença proferida ao dia

15/12/2021:
7
8
Não é demais mencionar que o processo em comento tramitou por mais de

13 (TREZE) anos. No período em comento, o Autor sofreu inúmeras
constrições judiciais, em suas contas bancárias, imóvel que sequer o
pertencia, além da penhora de quotas da sociedade empresária em que é
parte.
Por fim, a magistrada determinou, “a quitação integral da dívida, com

incidência das multas e demais encargos, no prazo de 72 (setenta e duas)
horas, sob pena da efetivação das medidas coercitivas previstas no art. 139,
IV do CPC, como suspensão de CNH, retenção/bloqueio de passaporte
e bloqueio de cartões de crédito, sem prejuízo de expedição de
certidão de dívida para inscrição de seus dados nos órgãos de
proteção ao crédito e Cartórios de Protesto, que desde já aplico, para o
caso de não pagamento imediato da obrigação. (STJ REsp 1.854.289).”
Determinou ainda, a expedição de “carta precatória/mandado de intimação e

penhora para a empresa LEXMARK, com endereço à Rua do Rocio, 430, 1ª
andar, Vila Olimpia, São Paulo/SP CEP 04552-906, bem como ofício à
Controladoria Geral da União (R. Pietrângelo de Biase, nº 56, 4º andar,
Centro de Vitória/ES, CEP 29010-921), determinando que informem a este
Juízo se a empresa OFFICE TECH TECNOLOGIA LTDA (CNPJ Nº
07.366.769/0001-77) possui créditos a receber, discriminando a origem do
crédito, valores e forma de pagamento, devendo ser reservada a quantia
atualizada do débito, a ser indicada pela parte credora, e disponibilizada em
conta judicial
vinculada ao presente feito”. In verbis: 9
Como se vê, além do prejuízo material, o Autor foi submetido a inestimável

dano moral, decorrente do inadimplemento da Requerida.
Diante do exposto, não lhe resta outra alternativa que não se valer do
Judiciário.
II. DO DIREITO
II.1 DO DIREITO DE REGRESSO
É regra geral no direito civil brasileiro que o causador de um dano a outra

pessoa tem a obrigação de repará-lo por meio de indenização. Se a ofensa
tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Mas quando o verdadeiro culpado pelo dano é alguém que não foi atingido
na ação de indenização, contra ele cabe a chamada ação regressiva.
A ação regressiva é fundada no direito de uma pessoa (direito de regresso)

de haver de outrem importância por si despendida ou paga no cumprimento 10
de obrigação, cuja responsabilidade direta e principal a ele pertencia.
A ação tem por objetivo reaver a soma despendida nessa reparação da

pessoa cujo dano foi por ela, individualmente, causado.
Portanto, a legislação brasileira, em especial o Código Civil, prevê o direito

do fiador de buscar a satisfação de seu crédito mediante a oposição de ação
pertinente, eis que, tendo pagado valores decorrentes do contrato de
aluguel, sub-roga-se nos direitos do credor.
O Direito de regresso decorre do artigo 831 do Código Civil Brasileiro:
" Art. 831 - O fiador que pagar integralmente a dívida

fica sub-rogado nos direitos do credor; mas só poderá
demandar a cada um dos outros fiadores pela
respectiva quota."
No caso dos autos, o Autor figurou como fiador em contrato de locação de

imóvel firmado entre a Ré e Alita Scardua Delbone.
Em virtude do exposto, fora condenado nos autos do processo judicial n.º

024.08.025826-2 (5014000-14.2021.8.08.0024) ao pagamento de alugueis
e demais consectários.
Na data de 13 de dezembro de 2021, o Autor firmou acordo para com os

sucessores de Alita Scardua Delbone, tendo convencionado ao pagamento de
R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), na forma seguinte:
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O acordo em comento foi devidamente homologado sem sentença proferida

ao dia 15 de dezembro de 2021.
Conforme se verifica do comprovante infra, o Autor realizou o pagamento da

entrada, no importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) na data de
15/12/2021:
Assim, é inquestionável o Direito de Regresso que tem o Autor contra
a parte Ré, por ele afiançada.
Consabido ainda que no Direito das Obrigações o pagamento com sub- 12
rogação é um instrumento jurídico utilizado para se efetuar o pagamento de

uma dívida, substituindo-se o sujeito da obrigação, mas sem extingui-la,
visto que a dívida será considerada extinta somente em face do antigo
credor, mas permanecendo os direitos obrigacionais do novo titular do
crédito.
Trata-se, portanto, do instituto da sub-rogação, prevista no artigo 349 do

Código Civil, que dispõe:
" A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos,

ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à
dívida, contra o devedor principal e os fiadores ."
Ressalte-se que a sub-rogação opera-se de pleno direito, conforme

menciona o disposto no artigo 346, III do mesmo Diploma Legal:
" Art. 346 - A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em

favor:
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era
ou podia ser obrigado, no todo ou em parte."
Foi o que o julgou o Superior Tribunal de Justiça em 16 de maio de 2017,

no Recurso Especial n° 1.00.000 OAB/UF, pois subindo os autos ao STJ
através de recurso especial, o relator do caso, Min. Marco Aurélio Bellizze,
sustentou que
"ocorrendo a sub-rogação do fiador nos direitos do

credor, em razão do pagamento da dívida objeto de
locação, permanecem todos os elementos da obrigação
primitiva, inclusive o prazo prescricional, modificando-
se tão somente o sujeito ativo (credor), e, também, por
óbvio, o termo inicial do lapso prescricional, que, no
caso, será a data do pagamento da dívida pelo fiador, e
não de seu vencimento".
Eis que o vínculo permanece o mesmo, alterando-se apenas o credor, que 13
passa ser o fiador que pagou a dívida, sub-rogando-se no crédito originário.
Conforme se detrai da parte final do precedente colacionado, tratando-se

de pretensão de ressarcimento em ação regressiva proposta por quem
pagou a obrigação contra aquele a quem se atribua a efetiva
responsabilidade em indenizar, o dies a quo ao prazo prescricional coincide
com a data do pagamento da obrigação, o que se infere desde a teoria
da actio nata, segundo a qual o prazo da prescrição tem início no momento
em que o titular de um direito esteja autorizado postulá-lo em Juízo.
A esse respeito, eis a jurisprudência:
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO

DE RESPONSABILIDADE CIVIL. CELEBRAÇÃO DE ACORDO
ENTRE O SEGURADO E O AUTOR DA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS. PARCELAMENTO DA DÍVIDA. AÇÃO
REGRESSIVA DE COBRANÇA DE SEGURADO CONTRA A
SEGURADORA.
PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. DATA DE PAGAMENTO DA
ÚLTIMA PARCELA DO ACORDO.
I - O pressuposto lógico do direito de regresso é a satisfação
do pagamento da condenação ao terceiro, autor da ação de
indenização proposta contra o segurado. Não há que se falar
em ação regressiva de cobrança sem a ocorrência efetiva e
concreta de um dano patrimonial.
II - O prazo prescricional subordina-se ao principio da actio
nata: o prazo tem início a partir da data em que o credor
pode demandar judicialmente a satisfação do direito.
III - Sob essa ótica, na ocorrência de acordo celebrado após
trânsito em julgado de condenação judicial em ação
indenizatória por danos materiais sofridos por terceiro, o
termo inicial do prazo prescricional nas ações regressivas de
cobrança de segurado contra seguradora é a data de
pagamento da última parcela do acordo.
IV - Somente a partir do adimplemento da obrigação,
que ocorreu com o pagamento da última parcela, é que
a recorrida, na condição de segurada, passou a ser
credora da seguradora, surgindo daí o direito ao
ressarcimento, contra a recorrente, do numerário que
despendeu para adimplir a dívida.
V - Desse modo, tendo sido a última parcela paga em
23.07.2001 e a presente ação proposta em 01.04.2002, não
se confere a prescrição.
Inexiste, portanto, ofensa ao art. 178, § 6º, II, do CC/16.
VI - Por fim, não se conhece do recurso especial com base na
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alínea c do permissivo constitucional, pois não há a
comprovação da similitude fática entre os acórdãos trazidos
à colação, elemento indispensável à demonstração da
divergência. A análise da existência do dissídio é inviável,
porque foram descumpridos os arts. 541, parágrafo único,
do CPC e 255, §§ 1º e 2º, do RISTJ.
Recurso especial não provido.
(REsp 949.434/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 18/05/2010, DJe 10/06/2010)
– grifei.
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL.

SEGURO. AÇÃO REGRESSIVA. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL.
OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. ADIMPLEMENTO. SÚMULA 83/STJ.
AGRAVO IMPROVIDO.
1. O termo inicial da contagem do prazo prescricional
para a ação de regresso por culpa exclusiva de terceiro
é a data do adimplemento da obrigação, data em que
se efetiva o dano patrimonial e exsurge para o
interessado o direito ao ressarcimento. Precedente
específico desta Terceira Turma: REsp n. 949.434/MT,
Relatora a Ministra Nancy Andrighi, DJe de 10/6/2010.
2. (...).
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no AREsp 644.963/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe
25/05/2015) – grifei.
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE

DE TRÂNSITO. AÇÃO REGRESSIVA DE COBRANÇA AJUIZADA
PELO SEGURADO EM FACE DA SEGURADORA. PRESCRIÇÃO
AFASTADA. PRESCRIÇÃO. Com base em jurisprudência do
colendo STJ, adota-se como termo inicial para contagem da
prescrição, nos casos de ação de regresso do segurado contra
seguradora, a data do efetivo pagamento. Prescrição
afastada. (...). APELO PARCIALMENTE PROVIDO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70067217158, Décima
Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Pedro Luiz Pozza, Julgado em 25/02/2016)
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.

AÇÃO REGRESSIVA DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS. RESPONSABILIDADE DO EX-SÓCIO RETIRANTE.
PRESCRIÇÃO. A prescrição de reparação civil rege-se pelo
prazo de três anos previsto no artigo 206, § 3º, V, do Código
Civil, possuindo como marco inicial, no caso de ação
regressiva, a data do efetivo prejuízo, assim
considerada a data do pagamento . Inocorrência da
prescrição. (...). APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível
Nº 70070792619, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira
Rebout, Julgado em 23/02/2017)
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE

REGRESSO. (...). PRESCRIÇÃO. AUSÊNCIA. MARCO INICIAL.
15
PAGAMENTO. (...). 2. Ausência de prescrição. Ação
regressiva. Marco inicial da contagem do prazo é a data
do pagamento. Precedente do STJ. (...). REJEITADAS AS
PRELIMINARES. RECURSO DA CORRÉ LAFARGE
PARCIALMENTE PROVIDO. DEMAIS APELAÇÕES
DESPROVIDAS. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70066950304,
Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 02/06/2016)
Assim, in casu, o prazo prescricional deve ser contado a partir do término

dos pagamentos realizados pela parte Autora.
Imperioso registrar que a ausência de quitação integral do acordo não impede

o ajuizamento da ação de cobrança.
Embora a Lei disponha que o Autor se sub-roga nos direitos do credor, em

relação às parcelas do acordo já quitadas, em se tratando de obrigação de
trato sucessivo, incluem-se na condenação as parcelas que se vencerem no
curso do processo.
Consoante inteligência do art. 323 do CPC,
Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de

obrigação em prestações sucessivas, essas serão
consideradas incluídas no pedido, independentemente
de declaração expressa do autor, e serão incluídas na
condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor,
no curso do processo, deixar de pagá-las ou de
consigná-las.
A esse respeito, vasto repertório jurisprudencial:
AÇÃO DE REGRESSO. Locação. Fiança. Acordo judicial feito

pelo fiador para pagamento parcelado de dívida do afiançado.
Inocorrência de assunção de dívida muito superior à devida.
Elevado valor do acordo que decorre do parcelamento
concedido. Possibilidade de quitação antecipada pelo
locatário a qualquer momento. Ademais, alegação de que,
ainda não quitado integralmente o acordo, não é possível a
cobrança. Inadmissibilidade. Autor que se sub-rogam nos
direitos do credor, em relação às parcelas do acordo já
quitadas. Inteligência do art. 831 do CC. Em se
tratando de obrigação de trato sucessivo, incluem-se
na condenação as parcelas que se vencerem no curso
16
do processo (CPC, art. 323). Recurso desprovido. (TJ-SP -
AC: 10027996820208260302 SP 1002799-
68.2020.8.26.0302, Relator: Milton Carvalho, Data de
Julgamento: 14/06/2021, 36ª Câmara de Direito Privado,
Data de Publicação: 14/06/2021)
AÇÃO DE REGRESSO. Locação. Fiança. Acordo judicial feito

pelo fiador para pagamento parcelado de dívida do afiançado.
Alegação de que, ainda não quitado integralmente o acordo,
não é possível a cobrança. Inadmissibilidade. Autores que se
sub-rogam nos direitos do credor, em relação às parcelas do
acordo que já quitaram. Inteligência do art. 831 do CC. Em se
tratando de obrigação de trato sucessivo, incluem-se na
condenação as parcelas que se vencerem no curso do processo
(CPC, art. 323). Precedentes. Recurso parcialmente provido.
(TJSP; Apelação Cível 1015637-38.2018.8.26.0003; Rel.
Milton Carvalho; 36ª Câmara de Direito Privado; j.
23/01/2020) (grifo não original).
LOCAÇÃO DE IMÓVEL. NÃO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO

DE PAGAR ALUGUÉIS E ACESSÓRIOS. ACORDO JUDICIAL
FIRMADO ENTRE LOCADOR E FIADORES. PARCELAMENTO DA
DÍVIDA. OBRIGAÇÕES DE TRATO SUCESSIVO. DIREITO DE
REGRESSO. RECONHECIMENTO. Admite-se o ajuizamento da
ação de regresso dos fiadores contra o afiançado para
reembolso das parcelas vencidas e vincendas pagas por conta
de parcelamento de dívida em acordo judicial firmado entre
locador e fiadores. Recurso desprovido (TJSP; Apelação nº
9076920-81.2008.8.26.0000; Rel. Gilberto Leme; 27ª
Câmara de Direito Privado; j. em 15/05/2012) (grifo não
original).
Mas não apenas aquilo que foi pago até o ajuizamento da ação, como também
tudo o que se vencer no curso do processo deve compor a condenação, uma
vez que quando a obrigação é de prestações periódicas, elas serão
consideradas incluídas no pedido e constarão automaticamente da
condenação, nos termos do artigo 323 do Código de Processo Civil.
Deste modo, todas as parcelas do acordo que se vencerem no curso da ação

de regresso, cujo pagamento esteja comprovado nos autos, também se
incluem na condenação.
II.2 DO DANO MORAL
O art. 832 do Código Civil brasileiro estabelece que:
Art. 832. O devedor responde também perante o fiador por

todas as perdas e danos que este pagar, e pelos que sofrer 17
em razão da fiança.
Contemplando o direito à reparação do dano causado a requerente, o Código

Civil nos artigos 186 e 927 garantem o ressarcimento pelos abalos causados,
cometendo assim ato ilícito, conforme dispõe o mesmo:
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo Único. Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
Nenhuma dúvida resta, depois da exposição dos fatos, que o Autor foi exposto
a uma situação constrangedora em decorrência do inadimplemento
contratual da parte Ré.
A conduta negligente da Ré em não cumprir com o contrato de locação

firmado, resultou em transtornos, constrangimentos e inúmeros
aborrecimentos ao Autor.
O Autor teve sua vida financeira tumultuada durante 13 (treze) anos!
No período em comento, o Autor sofreu incontáveis constrições judiciais em

suas contas bancárias, penhora de imóvel que sequer o pertencia, além da
penhora de quotas da sociedade empresária em que é parte.
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Penhora sobre imóvel que não o pertencia desde 2012:
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Penhora das quotas sociais de sociedade empresária em que é parte:
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Por fim, a magistrada determinou, “a quitação integral da dívida, com

incidência das multas e demais encargos, no prazo de 72 (setenta e duas)
horas, sob pena da efetivação das medidas coercitivas previstas no art. 139,
IV do CPC, como suspensão de CNH, retenção/bloqueio de passaporte
e bloqueio de cartões de crédito, sem prejuízo de expedição de
certidão de dívida para inscrição de seus dados nos órgãos de
proteção ao crédito e Cartórios de Protesto, que desde já aplico, para o
caso de não pagamento imediato da obrigação. (STJ REsp 1.854.289).”
Determinou ainda, a expedição de “carta precatória/mandado de intimação e
penhora para a empresa LEXMARK, com endereço à Rua do Rocio, 430, 1ª
andar, Vila Olimpia, São Paulo/SP CEP 04552-906, bem como ofício à
Controladoria Geral da União (R. Pietrângelo de Biase, nº 56, 4º andar, 29
Centro de Vitória/ES, CEP 29010-921), determinando que informem a este

Juízo se a empresa OFFICE TECH TECNOLOGIA LTDA (CNPJ Nº
07.366.769/0001-77) possui créditos a receber, discriminando a origem do
crédito, valores e forma de pagamento, devendo ser reservada a quantia
atualizada do débito, a ser indicada pela parte credora, e disponibilizada em
conta judicial vinculada ao presente feito”. In verbis:
Como se vê, além do prejuízo material, o Autor foi submetido a inestimável

dano moral, decorrente do inadimplemento da Requerida.
Com efeito, no caso concreto, denota-se que o descumprimento contratual

por parte da Requerida gerou frustração e aborrecimentos a Autora que
extrapolam o mero desconforto, fugindo a normalidade da vida cotidiana.
Em que pese o Autor ter livremente assumido o ônus de se tornar fiador, o
direito pátrio rege-se pelo princípio da boa-fé objetiva, segundo o qual as
partes possuem o dever de agir com base em valores éticos e morais da
sociedade. Desse comportamento, decorrem outros deveres anexos, como
lealdade, transparência e colaboração, a serem observados em todas as fases 30
do contrato.
A doutrina e a jurisprudência vem juntas, abrindo caminho dia-a-dia no tema,

para fortalecer a indenizabilidade do dano moral e, assim, não permitir que
seja letra morta o princípio consagrado honeste vivere, neminem laedere
("viver honestamente e não lesar a ninguém").
No caso em apreço, a Ré praticou ato ilícito consubstanciado no

descumprimento do contrato de aluguel firmado para com Alita Scardua
Delbone.
Em virtude do exposto, sujeitou a parte autora a 13 (treze) anos de tensões,

aborrecimentos, transtornos e constrangimentos – configurando inegável
dano moral.
O nexo causal entre a conduta da Ré e o dano moral sofrido pelo Autor é

manifesto, haja vista que fora o inadimplemento da Ré o único causador dos
danos causados ao Autor.
Pelo exposto, a Ré deve ser condenada ao pagamento de indenização por

danos morais.
III. DA TUTELA DE URGÊNCIA
Conforme dispõe o art. 300, do Código de Processo Civil, são dois os

requisitos, não cumulativos, para a concessão da tutela de urgência, quais
sejam: quando houver elementos nos autos que evidenciem a probabilidade
do direito reclamado (fumus boni iuris) e/ou houver perigo de dano ou risco
ao resultado útil do processo (periculum in mora).
Reproduzindo-se o referido dispositivo legal:
"Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver

31
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo".
Em relação à probabilidade do direito, Luiz Guilherme Marinoni assevera que

a probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela
dos direitos é a probabilidade lógica - que é aquela que surge da confrontação
das alegações e das provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo
provável a hipótese que encontra maior grau de confirmação e menor grau
de refutação nesses elementos. O juiz tem que se convencer de que o direito
é provável para conceder tutela provisória."(in"Novo Código de Processo
Civil Comentado", 1ª ed., Editora Revista dos Tribunais, p. 312).
Quanto ao perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, leciona

Araken de Assis que o perigo hábil à concessão da liminar reside na
circunstância que a manutenção do 'status quo' poderá tornar inútil a garantia
(segurança para a execução) ou a posterior realização do direito (execução
para segurança)" (in "Processo civil brasileiro", volume II: parte geral:
institutos fundamentais: tomo 2, 1ª edição. Editora Revista dos Tribunais, p.
417).
No caso em análise a probabilidade do direito é indiscutível. Conforme

vasto conjunto probatório, o Autor foi fiador em CONTRATO DE LOCAÇÃO DE
IMÓVEL RESIDENCIAL E MOBÍLIA POR PRAZO DETERMINADO COM FIADOR (
Doc. 02), firmado entre a Requerida e Alita Scárdua Delbone. Em virtude do
inadimplemento contratual, o Requerente foi judicialmente demandado por
intermédio do processo judicial n.º 024.08.025826-2 (5014000-
14.2021.8.08.0024) e condenado. Recentemente firmou acordo homologado
nos autos do processo em comento, o qual totaliza R$ 40.000,00 (quarenta
mil reais). Assim, na forma do artigo 831 do Código Civil Brasileiro, sub-
roga-se nos direitos do credor.
No que atine ao perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo,
ambos se mostram presentes.
Conforme sentença extraída da Ação Trabalhista - Rito Ordinário, n.º

0001643-89.2017.5.17.0004, promovida pela Ré em face de Itau Unibanco 32
S.A, em sentença proferida ao dia 07 de dezembro de 2021, a Exma. Sra.
Dra. Juíza do Trabalho julgou parcialmente procedente reclamação:
É evidente que até a conclusão do presente processo é possível que a Ré já

tenha recebido e consumido o quantum total, fato que poderá ocasionar a
frustração da presente ação de cobrança.
No que atine ao bloqueio cautelar de valores, dispõe a jurisprudência:
"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE RESCISÃO

DE CONTRATO C/C COBRANÇA E INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL - LIMINAR DE ARRESTO ANTES DE REGULAR CITAÇÃO
- POSSIBILIDADE - PRESENÇA DOS REQUISITOS. Para a
concessão da medida liminar de arresto devem ser atendidos
os requisitos gerais das medidas cautelares (fumus boni iuris
e periculum in mora), e, ainda, os requisitos particulares da
medida, que, segundo o art. 814 do CPC são, a prova literal
de dívida líquida e certa e prova documental ou justificação de
algum dos casos mencionados no art. 813. Estando presentes
os requisitos, a determinação para bloqueio de ativos
financeiros - arresto do devedor, antes de sua regular citação,
é perfeitamente possível, uma vez que visa resguardar a
efetividade da ação, atendendo, ainda, aos princípios da
economia e celeridade do provimento jurisdicional". (TJMG, AI
n. 1.0115.15.001270-2/001, 13ª Câmara Cível. Rel. Des. José
de Carvalho Barbosa, J. 25-08-2016).
"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA CAUTELAR

INOMINADA INCIDENTAL. AÇÃO DE COBRANÇA. AÇÃO DE
CONISGNAÇÃO EM PAGAMENTO. BLOQUEIO DE VALORES.
33
PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. RECURSO
PROVIDO. - O deferimento de medida liminar em ação cautelar
deve dar-se em caráter excepcional, diante das nuances do
caso concreto. - Estando demonstrada, pelo requerente, a
plausibilidade do seu direito, bem como a possibilidade de que
a demora do processo principal poderá comprometer a eficácia
da tutela jurisdicional postulada, causando-lhe lesão grave e
de difícil reparação, deve ser deferida a liminar pretendida".
(TJMG, AI n. 1.0092.14.001498-3/001, 5ª Câmara Cível. Rel.
Des. Moacyr Lobato, J. 16-03-2016).
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE COBRANÇA - TUTELA

DE URGÊNCIA - BLOQUEIO DE VALORES VIA BACENJUD - ART.
300 DO CPC/15 - PROBABILIDADE DO DIREITO E PERIGO DE
DANO DEMONSTRADO - DEFERIMENTO. - Conforme dispõe o
art. 300, do novo CPC, são dois os requisitos, não cumulativos,
para a concessão da tutela de urgência, quais sejam: quando
houver elementos nos autos que evidenciem a probabilidade
do direito reclamado (fumus boni iuris) e/ou houver perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo (periculum in
mora). Restando comprovados mencionados requisitos, deve
ser concedida a tutela de urgência. (TJ-MG - AI:
10000160797536001 MG, Relator: Valdez Leite Machado,
Data de Julgamento: 04/07/0017, Câmaras Cíveis / 14ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 07/07/2017)
Na forma dos julgados supra, estando demonstrado, pelo requerente, a

plausibilidade do seu direito, bem como a possibilidade de que a demora do
processo principal poderá comprometer a eficácia da tutela jurisdicional
postulada, causando-lhe lesão grave e de difícil reparação, deve ser deferida
a liminar pretendida.
A teor do exposto, presentes os requisitos autorizadores, requer que V. exa.

se digne a determinar, em sede de tutela cautelar, o bloqueio do crédito que
a ré tenha perante Itau Unibanco S.A, nos autos do processo 0001643-
89.2017.5.17.0004, até o valor de R$ 40.000,00, que deverão ser
depositados em Juízo.
IV. DOS PEDIDOS
Pelo exposto requer-se a Vossa Excelência:
a) A citação da Ré, preferencialmente por telefone (27 99875- 34
2709), na forma do PROVIMENTO Nº 63/2021 do TJ/ES, de 05 de Novembro

de 2021, para que querendo e podendo, conteste a presente peça exordial,
sob pena de revelia e de confissão quanto à matéria de fato.
b) A dispensa da audiência de conciliação, nos termos do artigo 319,
inciso VII, do Código de Processo Civil;
c) presentes os requisitos autorizadores, requer que V. exa. se digne
a determinar, em sede de tutela cautelar, o bloqueio do crédito que a ré
tenha perante Itau Unibanco S.A, nos autos do processo 0001643-
89.2017.5.17.0004, até o valor de R$ 40.000,00, que deverão ser
depositados em Juízo;
d) Que, ao final, se julgue procedente a presente ação, condenando
a Ré ao pagamento/restituição do valor despendido que equivale a R$
20.000,00 (vinte mil reais), além das parcelas que vierem a se vencer no
decorrer do presente processo (art. 323 do CPC), devidamente atualizados
e corrigidos até a data do pagamento.
e) A condenação da Ré nas despesas, custas prosseguias e
honorários advocatícios em 20% do valor da condenação.
f) Requer sejam deferidos os benefícios da Gratuidade de Justiça ao
Requerente nos termos do artigo 98 e seguintes do CPC, por não ter
condições de arcar com a custa, despesas do processo e honorários sem o
sacrifício da própria subsistência, eis que pobre no sentido legal do termo,
conforme se faz provas pelos documentos anexos na oportunidade.
Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas em

Direitos permitidos, sobretudo a documental, testemunhal, depoimento
pessoal das partes, perícias e demais provas que se fizeram necessárias,
bem como pela juntada de novos documentos (artigo 369 do CPC).
Dá-se a causa o valor de R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil reais),
para fins de alçada.
Nestes Termos. 35
Pede e espera deferimento.
Vitória/ES, 22 de dezembro de 2021.
MILENA SPINASSE SCARPATI LIVIA NOGUEIRA ALMEIDA

OAB/ES 19.035 OAB/ES 18.483

01 - Petiçao Inicial Regressiva - Fausto X Luciana

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Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo

PJe - Processo Judicial Eletrônico

FAUSTO QUEIROS DE SÁ, brasileiro, divorciado, administrador, portador da

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Em virtude do inadimplemento contratual, o Requerente foi judicialmente

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