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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Disciplina: Metodologia da História: Fontes Visuais


Professora Dra. Mara Rúbia Sant’Anna
Discente: Patrícia Carla Mucelin

AS CINCO BLOGUEIRAS NA CAPA DA GLAMOUR: ANÁLISE A PARTIR


DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO

Linha de pesquisa Linguagens e Identificações


Curso de Doutorado em História

Florianópolis - SC
2016
AS CINCO BLOGUEIRAS NA CAPA DA GLAMOUR: ANÁLISE A PARTIR
DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO

INTRODUÇÃO

Novas relações de consumo se estabeleceram entre internautas, produtores


culturais, e diversas marcas e empresas, especialmente a partir do surgimento dos blogs
de moda e beleza como uma ramificação da blogosfera. Estes blogs criam estratégias de
poder ao incentivarem um consumo que promete um estilo de vida idealizado. As
blogueiras se utilizam da moda como símbolo de prestígio social, através de postagens
que apresentam escolhas de consumo no seu cotidiano, atrelado à publicação do “look
do dia” até as viagens e participações em grandes eventos, como lançamentos de marcas
e grifes, e as semanas de moda.
A tese que estou escrevendo para o doutorado em história investiga o percurso
de cinco blogueiras brasileiras Camila Coelho, Camila Coutinho, Lala Rudge, Thássia
Naves e Helena Bordon no campo da moda e na Internet, especificamente a partir da
publicação da edição de julho de 2013 da revista Glamour, em que elas apareceram na
capa e no conteúdo da edição, conferindo notoriedade e grande visibilidade aos seus
blogs, que já eram páginas lucrativas, e que se tornaram altamente conhecidos e
divulgados. As publicações dos blogs na internet produziram novas formas de
sociabilidade justamente por meio da possibilidade de interação que ocorre no
ciberespaço1 através de discussões sobre aparência e autoestima, partindo do
compartilhamento de experiências pessoais e ao mesmo tempo, de incentivo ao
consumo dos produtos de moda a partir da divulgação publicitária de inúmeras marcas.
As blogueiras fazem uma representação de si mesmas como ídolo ideal da moda,
elas procuram estabelecer normas de comportamentos e aparência feminina que dizem
respeito ao consumo dos produtos “certos”. A fim de investigar as transformações nas
relações sociais que os blogs propiciaram a partir do compartilhamento de narrativas
pessoais, procuro analisar o processo no qual a visibilidade dos blogs de moda levou as
blogueiras a se tornarem agentes intermediários relevantes no campo da moda, ao
contribuírem para a formação de um senso estético sobre moda e beleza.

1
As interações entre internautas/leitores e as blogueiras e sua equipe ocorrem no espaço de comentários
dos blogs, através das redes sociais e por meio de comentários do Youtube.
Os assuntos como beleza, bem estar e comportamento são ferramentas de
persuasão ao consumo nos discursos das blogueiras, mas também são assuntos
relevantes para a representação das suas identidades através das suas narrativas textuais
e imagéticas, podendo gerar identificação e admiração por parte de suas leitoras e
leitores. Portanto os blogs não são apenas uma ferramenta para a construção de
discursos, mas são parte de um processo criativo que permeia um sistema de
comunicação diferenciado das demais mídias e historicamente, são plataformas com
capacidade de arquivar memórias pessoais que contribuem para o processo de
construção da personagem blogueira.
O sucesso que as cinco blogueiras atingiram, inicialmente com as suas leitoras,
se estende do universo online da internet – redes sociais e blogs – para outras mídias,
como comerciais de televisão, anúncios em revistas, dentre outras, por meio da
divulgação de grandes empresas de produtos de moda e beleza. No campo da moda,
acompanhar as novidades é sinônimo de estilo, assim, as marcas e empresas de
confecções sugerem estilos de vida através de coleções que mudam de forma constante,
e os seus consumidores afirmam sua identidade social por meio da moda (ARAÚJO,
2009). As blogueiras fazem parte desse sistema através das escolhas dos produtos
certos, a composição do vestuário fotografado/filmado dialoga diretamente com um
estilo de vida que remete à sofisticação, à beleza e à elegância como qualidades que
podem ser adquiridas através do consumo. Por meio de parcerias com empresas e grifes
da moda, as blogueiras têm possibilidade de criar o conteúdo2 de publicidade e difundi-
lo para além do espaço dos blogs, o espaço das redes sociais e do Youtube.
As blogueiras Thássia Naves, Lalá Rudge, Helena Bordon, Camila Coutinho e
Camila Coelho escrevem e produzem material fotográfico e audiovisual sobre moda e
beleza, e adquiriram um status de produtoras no campo da moda, apesar de não serem
todas elas profissionais formadas nesta área específica. Seus blogs atingiram sucesso
pelo grande número de seguidores e leitores, gerando assim, valorização e investimento
por parte de grandes marcas que contatam as blogueiras em busca de parcerias.
Portanto, as blogueiras tecem relações intermediárias com consumidores e com
empresas diversas ao divulgarem no conteúdo dos seus blogs um estilo de vida que se
sustenta no consumo dos produtos certos e procurando manter a atualização constante
desse consumo.
2
O conteúdo pode ser produzido em formato de texto, geralmente curto e informal, de imagens
fotográficas e/ou ilustrações, e em formato de vídeo. Todas as linguagens possíveis podem ser
conjuntamente agregadas em uma única postagem no blog.
Ao se utilizarem da moda como símbolo de prestígio social, as blogueiras
acabam corroborando para o fortalecimento da cultura de consumo. No livro
“Elegância, beleza e poder: na sociedade de moda dos anos 50 e 60” Sant’Anna (2014:
09) constatou que naquela época na sociedade brasileira moderna a beleza era resultante
de um consumo que era assegurado pelo domínio do poder de compra ou econômico e
demandava compra de produtos, acesso a serviços de informação, viagens e tempo para
despender com esse processo (SANT’ANNA, 2014: 229).
O parecer outro colocou-se como possibilidade aberta a todos, mas parecer outro
exige competências diversas, como as que são expressadas pelas blogueiras na criação
do conteúdo de moda, pois reside no ato de escolher, que precede o consumo e o
qualifica. Os que souberam escolher e dominar o corpo indesejado para compor a
aparência ideal sobre si mesmos, tornaram-se “exibidos enaltecidos” e acabaram por
cadenciar a hierarquização social (SANT’ANNA, 2014: 231). Na atualidade, a
repercussão dos blogs nos mostra que
A profissionalização dos blogs de moda trouxe mudanças para as pessoas que
consomem as informações de moda assim como para os produtores desse conteúdo, pois
diz respeito a um meio alternativo de comunicação com conteúdo diferenciado daquele
encontrado em editoriais de revistas de moda, no qual são tecidas relações
diversificadas, ainda que subjetivas e ainda mais efêmeras pela dispersão de conteúdo
propiciada pela internet, mas também tornam-se muito mais dinâmicas e fluídas.
Ainda que os blogs apresentem um processo comunicativo diferente das mídias
impressas, especialmente devido ao seu caráter de plataforma que permite o acesso a
diferentes conteúdos em formato audiovisual, os blogs que analisamos com o passar do
tempo se tornaram verdadeiras páginas/empresas da web. Embora esses blogs procurem
sustentar o aspecto de diário pessoal com editoriais de “look do dia” que seguem a linha
do street style, agregam em sua estrutura a categorização de conteúdos de maneira
similar ao das revistas de moda, porém com a peculiaridade de trazerem características
de pessoalidade e intimidade com as leitoras.
Por sua vez, a utilização de linguagem informal e busca da intimidade com as
leitoras são estratégias às quais a revista Glamour, em suas diversas versões
internacionais adotou ao longo dos últimos anos, como uma maneira de atender a uma
demanda específica por esse tipo de conteúdo, por parte de leitoras jovens e
sintonizadas com as publicações veiculadas nas plataformas digitais. Desta maneira, a
revista promove seu conteúdo também em formato digital, e a versão Brasileira segue
este padrão de publicação e produção de conteúdo. Outra preocupação da revista, desde
o seu lançamento, é trazer a figura das blogueiras de moda e beleza para as suas capas e
conteúdos, pois ao posicioná-las lado a lado com celebridades diversas, a Glamour
acaba conferindo às blogueiras um status de celebridades. A parceria entre a Glamour e
os blogs é evidenciada na entrevista 3 realizada pela empresária e dona da plataforma de
blogs F*Hits, Alice Ferraz, com a diretora de redação da revista Glamour, Monica
Salgado, em junho de 2012, três meses após o lançamento da primeira edição da revista
no Brasil.
Esta estratégia é uma via de duas mãos. Se por um lado a revista procura se
mostrar inclusiva ao trabalhar com blogueiras como trabalha com celebridades, mas
destacando que se tratam de mulheres comuns, ela visa atrair um público leitor
abrangente, aquele que consome os conteúdos publicados nas plataformas digitais, por
meio da revista em formato digital. Por outro lado, as blogueiras passam a se promover
através da revista Glamour, tornando-se conhecidas e divulgadas em outras mídias,
abrindo as possibilidades de seu campo de atuação. Quanto mais conhecidas elas se
tornam, mais empresas, revistas, emissoras e grifes se interessam em estabelecer
relações de parceria com elas.
Por meio das reflexões de Sant’Anna (2007, 2014), que procura mostrar que a
sociedade contemporânea é também uma sociedade da moda e da aparência, procuro
compreender de que maneira a capa da revista Glamour Brasil número 16, de julho de
2013 contribuiu para a representação de uma imagem das blogueiras de moda como
mulheres reais, e como constituiu a possiblidade de agenciamento junto às suas leitoras
ao criar um modelo idealizado da persona blogueira.

ANÁLISE DO DOCUMENTO VISUAL

Trabalhar com imagens, obriga o historiador a percorrer o ciclo completo de sua


produção, circulação e consumo, pois as imagens em si não tem sentido, mas:
(...) É a interação social que produz sentidos, mobilizando
diferencialmente (no tempo, no espaço, nos lugares e circunstancias
sociais, nos agentes que intervêm) determinados atributos para dar
existência social (sensorial) a sentidos e valores e faze-los atuar. (...) É
necessário tomar a imagem como enunciado, que só se apreende na
fala, em situação. Daí também a importância de retraçar a biografia, a
carreira, a trajetória das imagens. (MENESES, 2003, p. 28

3
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=vYzEMpfzXgE>. Acesso em julho de 2016.
Meneses (2003, p. 30-31) propõe então, três focos estratégicos, para os quais é
preciso que o historiador que vai lidar predominantemente com a dimensão visual da
sociedade observe: o visual, que diz respeito à iconosfera e aos sistemas de
comunicação visual, bem como à produção, circulação, consumo e ação dos produtos
visuais; ao visível, que é a esfera do poder, os sistemas de controle, ou seja, o ver e ser
visto, o dar-se ou não a ver; por último, a visão que se relaciona com os papéis do
observador, modelos e modalidades do olhar, instrumentos e técnicas de observação.
Para analisar a capa de julho de 2013 da Glamour utilizei a metodologia de
Cassagne (1996) que propõe a realização de um inventário de questões que devem ser
feitas ao documento analisado, para compreender o contexto de sua elaboração, a
realizar a descrição do documento para em seguida, interpretá-lo. Procurei então, ao
lado da pesquisa sobre o autor da imagem, analisar o contexto que circunda o
acontecimento, através da análise de publicações que a própria revista realizou em
ambiente virtual antes e depois de publicar esta edição. Desta forma, o material
produzido pela Revista Glamour sobre a edição de julho de 2013 nos fornece
informações acerca das relações que são tecidas a partir da e na internet, especialmente
para atentarmos para as mudanças que foram geradas por esse processo de ganho de
visibilidade dos blogs. Após a descrição das imagens, realizamos a analise interpretativa
da imagem, levando em consideração através de Jauss as categorias fundamentais da
fruição estética e considerando o leitor intencionado de Ilser. As narrativas pessoais das
blogueiras, publicadas em seus blogs fazem a representação da personagem blogueira,
em um percurso pessoal dotado de sentido e completude, e a sua participação na capa
desta revista foi representada, especialmente pelas blogueiras mais votadas, Camila
Coelho e Camila Coutinho, como relevante para a experiência de vivenciar a
legitimação da sua profissão.

1. APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTO

1.1 NATUREZA DO DOCUMENTO

A imagem selecionada para análise aqui proposta é a capa da revista Glamour


Brasil, publicada pela editora Globo Condé Nast, de número 16, de julho de 2013:
FIGURA 1. Capa da Glamour n. 16
Fonte: VICKNEWS. Riberião Preto recebe “Tour Glamour”. Disponível em <
http://www.vicknews.com/moda/ribeirao-preto-recebe-tour-glamour/ >. Acesso em julho de 2016.

Foram produzidas duas capas desta edição, esta que é a versão presente nas
bancas e a outra é a versão para assinantes com a temática em Animal Print, porém,
mantendo disposições semelhantes entre as mulheres, as mesmas cores, fundo e as
mesmas chamadas de capa. Escolhemos analisar a versão de banca, por sua maior
visibilidade quando foi lançada. Na época de seu lançamento, custava 6 reais e
apresentando na capa, juntamente com o folder dobrado que a acompanha, a fotografia
das cinco blogueiras que são objeto da minha pesquisa para o doutorado em História: na
imagem encontram-se Camila Coelho e Camila Coutinho, no folder estão Lalá Rudge,
Thássia Naves e Helena Bordon com fotografia de Josep Ruaix Duran. Foram
publicadas duas capas da mesma edição, ambas contêm as cinco blogueiras fotografadas
por Duran, com o mesmo plano de fundo e as mesmas chamadas, o que muda são as
vestimentas das mulheres ali retratadas e a posição delas umas em relação às outras,
embora nos dois casos, Camila Coutinho e Camila Coelho continuem presentes na capa.
A fotografia foi retirada da internet, por falta de acesso à revista impressa. O
blog Vick News publicou a imagem que é uma reprodução, sem referenciar sua fonte,
em uma publicação de 04 de julho de 2013, que leva o título “Riberião Preto recebe
‘Tour Glamour’” e se refere à participação da blogueira Vick Sant’Anna no evento
promovido pela revista Glamour para divulgar a edição de julho de 2013, no espaço
Golf em Ribeirão Preto, com a presença da diretora geral da revista Mônica Salgado e
da diretora de moda Adriana Bechara. O blog apresenta também a fala de Mônica
Salgado sobre a realização desta edição da revista, porém sem citar se se trata de uma
transcrição a partir de um vídeo ou áudio, ou se parte simplesmente da livre
interpretação da blogueira sobra a palestra de Mônica Salgado. A capa da revista
impressa possui as dimensões 17x22 cm, conhecida como “travel size”, ou seja, seu
tamanho menor que a maioria das revistas da mesma categoria, permite que seja
adaptada pra bolsas e maletas femininas (ARANTES, 2014, p. 21).

1.1.2 O Contexto: A Criação

1.1.2.1 O autor

Ao analisarmos imagens como fontes para a pesquisa histórica, em especial a


fotografia, torna-se necessário compreender como se convencionou em um dado
momento, por determinado fotógrafo, representar uma realidade específica. Toda a
construção feita por ele, para construir o seu produto, a fotografia, passa pelo crivo do
seu olhar, de sua perspectiva de vida e de experiências visuais acumuladas. Por
conseguinte, através de buscas pela internet, descobri alguns dados relevantes para
compreender o autor do documento que analisamos, o fotógrafo conhecido como J. R.
Duran. O famoso fotógrafo Josep Ruaix Duran nasceu em Barcelona em 22 de julho de
1952, e foi radicado no Brasil. Nos anos 1970 tornou-se fotógrafo em a partir de 1979,
começou a fotografar para revistas como Vogue e Elle Brasil, bem como para agências
de publicidade, como DPZ, McCann, Thompson, Talent, e para clientes como Johnson
& Johnson, General Motors, Volkswagen, Souza Cruz, British American Tobacco,
dentre outros. Em 1989 mudou-se para os EUA, onde trabalhou para Haper’s Bazaar
USA, revista Elle nas edições francesa, inglesa, italiana e espanhola, na revista Man
espanhola; na revista Glamour, Mademoiselle, Taitler, Vogue alemã, e nas agências de
publicidade Grey, Saatchi & Saatchi, DDB, dentre outras.
Realizou sua primeira exposição em 1984, com o título “Beijos Roubados”, na
galeria Paulo Figueiredo em São Paulo. Sua segunda exposição, “Passageiro distante”
em ocorreu em 1994, na Galeria São Paulo. Em 2003 realizou exposição no Museu de
Arte Brasileira FAAP que contou com a curadoria do então diretor da Faculdade de
Comunicação Rubens Fernandes Junior. Foram expostas nesta ocasião, cerca de 80
fotografias, com temas diversos: a guerra de Angola, o deserto da Namíbia, as tribos dos
Masai no Kenya, briga de galos em Salvador, turistas no caribe, paisagens do Marrocos,
arquitetura, retratos diversos, viagens e personalidades famosas, afinal suas fotografias
de celebridades fizeram de Duran conhecido e respeitado na área. Foi autor também de
algumas capas “icônicas” da Playboy brasileira.
Em 1995 voltou a morar no Brasil e atualmente reside em São Paulo. Publicou
dois livros com suas fotografias e um romance chamado “Lisboa”. Publicou também
anualmente, um projeto de fotografia chamado “rev. Nacional”, com o apoio da gráfica
Burti, no qual ele compilou textos de renomados jornalistas, juntamente com os seus
melhores cliques do Brasil.
Em 2005, como resultado de uma expedição que fez à África, publicou em
2008 o caderno Etíopes, no qual ele estabeleceu uma conversa entre fotografia,
literatura e etnografia do país em guerra. Falando deste ensaio, Duran afirmou que ele,
no entanto, não se considera um documentarista, pois não tem compromisso com a
realidade, mas se preocupa com a busca estética, com um olhar da moda e com o
glamour nas imagens, procurando, ainda assim, fugir de um padrão estereotipado.
Atualmente reside em São Paulo, fotografa para revistas como Elle Brasil e Vogue,
ganhou 7 prêmios Abril de Jornalismo e realiza campanhas para diversas marcas.
A fotografia da capa que vamos analisar foi realizada por Duran, porém a
serviço da revista Glamour Brasil, ele realizou as fotografias, como veremos adiante, de
cada uma das blogueiras separadamente, para a seguir suas imagens serem justapostas
por um trabalho amador em comparação à preocupação estética de Duran, na
composição que daria resultado à capa da revista e folder. Duran realizou também as
fotografias que compõem a matéria principal da edição com as cinco blogueiras.

1.1.2.2 O Contexto: O Momento

A revista Glamour de número 16 foi publicada em julho de 2013. A revista


Glamour foi lançada pela editora Globo Condé Nast4 no Brasil em 2012, foi trazida para
o Brasil e trata-se de um periódico mensal que é vendido em 16 países, sendo campeão
de vendas na Inglaterra e na Espanha. Visava ocupar o lugar da revista Criativa, da
4
Responsável pelo editorial das revistas Casa Vogue, QG, Vogue e Vogue Passarelas.
Globo Condé Nast, que deixou de ser publicada em março de 2012 (ARANTES, 2014,
p. 14).
Trata-se de uma revista sobre moda, beleza, comportamento e celebridades que
visa um público preferencialmente feminino, de leitoras cuja faixa etária corresponda às
jovens que têm fácil acesso à internet, variando de 25 a 39 anos, com nível social entre
as classes B e A (ARANTES, 2014, p. 20). Seu público alvo:
(...) É definido como mulher independente e feliz, cronologicamente
jovem ou de coração jovem, solteira e com renda própria, que utiliza
seus rendimentos em benefício próprio. Moderna e antenada com o
que há de novo na moda e beleza, está disposta a consumir porque se
preocupa com sua aparência. Leve e cheia de energia, ela sempre
encontra uma boa maneira de ver o lado bom das coisas. (ARANTES,
2014, p. 20).

De acordo com Sisson (2015, p. 53) o público alvo da revista Glamour são
mulheres entre 20 e 40 anos. Em uma palestra sobre a chegada da revista Glamour ao
Brasil realizada em 2012, a diretora de redação Mônica Salgado afirmou a respeito do
público alvo, fazendo referencia também à participação das blogueiras de moda no geral
desde a primeira publicação no Brasil: “A Glamour é uma revista que só inclui, nunca
exclui. Não gosto de falar tanto em idade do nosso target porque idade não está só no
RG, né? E os 40 são os novos 20!” 5. Outras referências afirmam que o público alvo é
composto por uma faixa etária abaixo desta, mulheres dos 20 aos 306, 25 e 357
Veicula um conteúdo adicional nas plataformas digitais das quais faz parte,
incluindo o formato de revista digital para assinantes: possui site com notícias e
matérias diversas, associadas ou não com as publicações da revista, comunica-se
também através das diversas redes sociais das quais faz parte. A revista Glamour foi
criada em 1939 e acabou sendo publicada em 16 países, sendo que se tornou líder de
mercado na Espanha e na Inglaterra (ARANTES, 2014, p. 19).
A Glamour conta com fotógrafos renomados, como J. R. Duran e Bob
Wolfenson para realizarem a produção de imagens para suas capas (ARANTES, 2014,
p. 19). O mesmo pode-se dizer da equipe que maquia e produz as modelos, com os mais
conceituados maquiadores, cabelereiros e manicures. Em suas capas figuram atrizes e
estrelas famosas no Brasil e no exterior. É o caso da produção da edição em análise. A
capa e as fotografias da matéria foram realizadas por J. R. Duran, e a equipe que
5
Disponível em <http://revistaglamour.globo.com/Redacao/noticia/2012/06/nossa-diretora-monica-
salgado-da-palestra-no-espaco-do-fhits.html>. Acesso em julho de 2016.
6
Disponível em <http://mundodasdicas.com.br/revista-glamour>. Acesso em julho de 2016.
7
Disponível em <http://www.emfechamento.com.br/2012/04/revista-criativa-sai-de-cena-e-da-
lugar.html#.V35aYqKgTfZ. Acesso em julho de 2016.
produziu as blogueiras contou com maquiagem de Diego Américo e Leila Turgante e o
cabelo foi produzido por Marcos Proença.
No site da revista Glamour encontrei uma reportagem de maio de 2013, que fala
sobre a proposta do concurso para eleger as blogueiras que apareceriam na capa da
edição de julho daquele mesmo ano, e apresenta as cinco mulheres, com uma foto do
look do dia de cada uma e com breves descrições sobre seus perfis, como idade, lugar de
onde veio ou mora e o número de seguidores na rede social Instragram. A reportagem
descreve como seria o processo de votação online e mostra uma ilustração para explicar
como as blogueiras ficariam dispostas na capa e folder 8. O artigo também anuncia que
se trata de uma edição especial:
(...) será nossa edição de real people, ou seja, os editoriais e a capa
serão estrelados por não-celebridades e não-modelos. E para coroar
essa homenagem à mulher de verdade, como a gente e como você,
tivemos uma ideia mara: uma capa com a cinco maiores blogueiras
que este Brasil já viu!.9

Além do uso de uma linguagem informal, que tenta se aproximar daquela


utilizada pelas próprias blogueiras com o intuito de criar identificação com os leitores
que estão inteirados sobre o campo da moda e que se comunicam nas mídias sociais, o
artigo procura divulgar sua edição de julho de 2013, com o argumento de que naquela
edição apenas “mulheres reais”, assim como as suas leitoras, fariam parte dos seus
editoriais e capa. Apesar do site da revista Glamour apontar para as blogueiras como
pessoas “reais”, ou seja, não-celebridades e não-modelos, o próprio traça características
específicas das cinco blogueiras que foram escolhidas pela revista para essa votação. O
sucesso de cada uma das mulheres foi indicado pelo número de seguidores na rede
social Istagram no dia em que a matéria foi publicada, 21 de maio de 2013, e com a
pergunta “Por que a Glamour ama?”10 a revista descreve brevemente algumas
características de cada blogueira, sinalizando o tipo de conteúdo publicado por elas, no
caso das Camilas e de Thássia, e indicando uma posição privilegiada como membras da
elite, como é o caso de Helena e Lalá, que lhes confere características específicas:
1. Lalá Rudge, 23 anos, de São Paulo (SP)
www.lalarudge.com.br

8
Na capa principal sairiam as duas blogueiras mais votadas, e no folder estariam dispostas as outras três.
9
Disponível em <http://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/noticia/2013/05/vote-na-blogueira-da-capa-
camila-coelho-lala-rudge-camila-coutinho-thassia-naves-heleninha-bordon.html>. Acesso em julho de
2016.
10
Disponível em <http://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/noticia/2013/05/vote-na-blogueira-da-capa-
camila-coelho-lala-rudge-camila-coutinho-thassia-naves-heleninha-bordon.html>. Acesso em julho de
2016,
Seguidores no Instagram (@lalatrussardirudge): 310k
Por que GLAMOUR ama? Lala tem cara de princesa, cabelo de
princesa, educação de princesa, se veste como princesa e é casada com
um príncipe!

2.Thássia Naves, 24 anos, de Uberlândia (MG)


www.blogdathassia.com.br
Seguidores no Instagram (@thassianaves): 560k
Por que GLAMOUR ama? Thássia Naves é inspiração fashion top com seus
looks do dia im-ba-tí-veis. É dos maiores cases de sucesso da blogosfera.

3. Camila Coelho, 25 anos, de Virginópolis (MG)


www.supervaidosa.com
Seguidores no Instagram (@makeupbycamila): 1.1mPor que GLAMOUR
ama? Selfmade woman total, são da Cami os tutoriais de make mais
incensados da rede. Foi a primeira brasileira a atingir a marca de 1 milhão de
seguidores no Insta!

4. Helena Bordon, 25 anos, de São Paulo (SP)


www.helenabordon.com
Seguidores no Instagram (@helenabordon): 121kPor que GLAMOUR ama?
Além de linda de viver, Heleninha foi das it-girls mais clicadas da última
Paris Fashion Week. E ela é filha da Donata (diretora de estilo da Vogue),
que a gente ama!

5. Camila Coutinho, 23 anos, de Recife (PE)


www.garotasestupidas.com.br
Seguidores no Instagram (@garotasestupidas): 283kPor que GLAMOUR
ama? Camis tem um humor ácido que faz seus posts serem uma delícia de
ler. Ah, e ela cobre celebridades como ninguém!11

Este artigo foi produzido dois meses antes do lançamento da edição de julho da
revista Glamour, e que os vídeos de divulgação que acompanham esse número da
revista, divulgados no canal do Youtube da revista Glamour, foram produzidos nesse
período de tempo, o resultado da votação que elegeu Camila Coelho e Camila Coutinho
para figurarem a sua capa, pois foram divulgados no mês de junho de 2013, um mês
antes do lançamento do número em questão da revista.
O comercial com os cinco vídeos das blogueiras foi produzido como uma
maneira de divulgar a edição de julho de 2013, mas também para mostrar um clima de
celebração através das imagens de making off, nos bastidores das seções fotográficas
com as blogueiras. Todas as blogueiras são questionadas sobre o que acharam de
trabalhar com o renomado fotógrafo espanhol Josep Ruaix Duran, que costuma
fotografar “celebridades”, ao que elas relatam ser um sonho ou uma realização. O tom
de comemoração se estende para as imagens dos bastidores que se sobrepõem às falas
das entrevistas realizadas pelas blogueiras, nas quais há uma casa luxuosa como cenário,

11
Disponível em <http://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/noticia/2013/05/vote-na-blogueira-da-capa-
camila-coelho-lala-rudge-camila-coutinho-thassia-naves-heleninha-bordon.html>. Acesso em julho de
2016.
as blogueiras são vistas sendo produzidas por profissionais, fotografadas e filmadas, em
meio ao vestuário de grife. A característica de diário dos blogs, com publicações diárias
que acompanham as atividades cotidianas das blogueiras, ainda é muito valorizada, é
um dos aspectos que diferenciam os blogs das demais mídias e é um dos assuntos muito
explorados nas entrevistas que elas realizaram umas com as outras para a revista
Glamour.
Sobre a sua relação com a revista, as blogueiras Camila Coelho, Camila
Coutinho, Helena Bordon e Lalá Rudge deixaram evidente que já possuíam uma relação
com a equipe da revista, por terem participado de números anteriores a este, e é possível
perceber que a revista esteve preocupada em trazer as blogueiras para o seu conteúdo,
desde que começou a ser publicada no Brasil, reforçando e valorizando sua profissão,
visando ao mesmo tempo atrair os leitores que se encontram conectados nos blogs. A
estratégia de utilizar blogueiras no seu conteúdo é veiculada pela Glamour internacional
como é possível visualizar em seu site na internet, desta maneira, a sua versão brasileira
segue o padrão americano de produção de conteúdo. A revista procurou ressaltar o tema
da edição, de “real peaple”, no qual mulheres “reais” têm a oportunidade de serem
fotografadas e tratadas como celebridades e de aparecer no conteúdo da edição, como
uma estratégia para mostrar que valoriza as mulheres “reais”, assim como as suas
leitoras.

2. DESCRIÇÃO

2.1 DESCRIÇÃO TÉCNICA E ESTILÍSTICA

A capa se desdobra em folder, que contém a continuação da fotografia da capa


e algumas das chamadas. A imagem é lida da esquerda para a direita, não apena pelo
padrão ocidental de leitura, mas também a disposição das figuras chama o olhar para
desenvolver este percurso, no qual as blogueiras são apresentadas por ordem de
relevância, de acordo com a votação online que elegeu as blogueiras da capa. As figuras
foram colocadas sobre o slogan da revista, recurso frequentemente utilizado nas suas
capas impressas em geral, e as chamadas se encontram, por sua vez, sobre as
fotografias. Essa mescla da sobreposição dos elementos da imagem permite que ela se
torne mais dinâmica ao olhar do leitor, pois quebra a rigidez dos elementos ali
colocados. A fotografia foi construída de tal maneira que as duas figuras que aparecem
na capa, Camilas Coelho e Coutinho, se encontram separadas por um curto espaço,
suficiente para que as outras três blogueiras, na ordem Lalá Rudge, Thássia Naves e
Helena Bordon, ocupem o espaço apenas do folder ao lado. As duas figuras da capa, à
esquerda da imagem, estão mais próximas uma da outra, e seus corpos formam uma
composição harmoniosa entre si, seja pelas mãos esquerdas de ambas que vão as suas
respectivas cinturas, Coutinho leva a mão a cintura, enquanto Coelho segura a jaqueta
com a mão esquerda. As linhas diagonais traçadas pelo braço de Coutinho dialogam e se
harmonizam com a jaqueta de Coelho, que desliza sobre seu combro, formando sobre
sua cintura uma linha diagonal no mesmo sentido. As duas figuras levam uma de suas
pernas à frente, fazendo-o de maneira simétrica. A simetria da composição, dos gestos,
da altura e das cores dos cabelos transforma esta parte da fotografia em um todo, que
propositalmente corresponde às figuras centrais da fotografia.
As outras três mulheres foram fotografadas muito próximas umas das outras,
embora elas não pareçam se tocar diretamente ou propositalmente, a impressão é a de
que cada uma foi fotografada separadamente e posteriormente suas imagens foram
forçadamente juntadas na composição da capa, provavelmente um trabalho que não foi
realizado pelo renomado Duran, mas por uma equipe responsável por compor as
imagens de capa da Glamour com fotografias, título e chamadas. Os três corpos fecham
a segunda parte da composição que é mais rígida, permeada por linhas verticais, com
braços e pernas abaixados, em repouso.
Encabeçando a página, o título da revista não leva a sua cor original, o magenta
que é utilizado no seu slogan, mas adquire a cor laranja, que conjuntamente com as
chamadas, com letras também neste tom, cria uma harmonização cromática com as
cores da fotografia, nas quais predominam nudes, rosas claros, marrons e tons
acobreados, formando uma paleta quente, porém suave pela clareza das cores e brilho
das roupas das blogueiras.
A fotografia utiliza o enquadramento em plano americano, porém, o recorte da
fotografia um pouco abaixo do joelho das modelos, recurso que permite um efeito de
alongamento da silhueta das figuras, conferindo à imagem a impressão de elegância e o
efeito de personalidades magras e altas. As mulheres possuem alturas muito
aproximadas na imagem da capa, recurso utilizado também para passar a sensação de
que todas sejam pessoas altas, magras e elegantes, embora na realidade, há uma maior
diferença de tamanho entre elas, evidencia que comprova também que cada blogueira
foi fotografada separadamente e após suas imagens foram juntadas em um programa de
edição. Todas as mulheres estão em pé, e olham diretamente para a câmera, que se
encontra em sua linha do horizonte.
O plano de fundo é constituído por uma imagem manipulada digitalmente para
gerar um leve desfoque. Com o que parecem folhas de coqueiros com tons variantes de
verde, do mais escuro ao mais amarelado, sobre fundo branco, gera um efeito que
remete a um dia quente e tropical e permite também que se crie um contraste escuro
com as figuras em primeiro plano, destacando-lhes a pele clara e as roupas de festa.
As letras utilizadas na capa e nas chamadas apresentam-se, a maioria, em caixa
alta, chapadas, sem sombra e três cores predominam na composição dos textos: laranja,
branco e preto, algumas vezes utilizando também quadros de cor diferente em volta das
letras para criar um efeito. O laranja parece ser a cor principal escolhida para colorir
uma capa com tons mais neutros no geral, encontra-se no slogan da revista, na chamada
principal, em destaque pela posição logo abaixo do slogan em letras maiores que as
demais chamadas. Após a cor laranja é usada apenas em detalhes nas demais chamadas
e de maneira estratégica para criar toques ou efeitos de cor.

2.2 DESCRIÇÃO TEMÁTICA

A capa procura ser glamorosa, começa demonstrando seu intento na produção


das blogueiras. Todas vestem roupas que aparentam ser luxuosas, roupas para uma
ocasião que pede requinte, estão vestidas e produzidas para uma festa. Seus vestidos
possuem texturas que sinalizam tecidos finos e pertencentes a uma grife de moda,
embora não haja referência visível na capa sobre o nome da grife ou marca do vestuário,
em pesquisa12 posterior descobri que as blogueiras tiveram seu visual composto com o
Styling de Amanda Berndt, elas usam roupas da grife Burberry e jóias Carla Amorim.
Há um padrão estabelecido na vestimenta: quatro delas estão usando vestidos,
todos ajustados à silhueta dessas mulheres magras, conferindo-lhes elegância certeira, e
todos à altura dos joelhos, com cores claras e sutis, tecidos brilhantes: Camila Coutinho
e Thássia usam vestidos com a mesma cor e textura, aparentam ser do mesmo tecido,
embora tenham modelagens diferentes, o de Coutinho possui alças largas e um decote
em formato de coração, enquanto o vestido de Thássia possui mangas compridas, e
formato de sobretudo, fechado na frente com botões; Lalá e Thássia também parecem

12
Disponível em < http://www.vicknews.com/moda/ribeirao-preto-recebe-tour-glamour/ >. Acesso em
julho de 2016.
compartilhar do mesmo tecido, um cetim rosa claro, porém a primeira usa um vestido
tomara que caia e a segunda usa o tecido brilhante apenas na saia, enquanto que a blusa
de alças e decote em formato de coração é constituída de um tecido mais brilhante e cor
rosa levemente mais vibrante e com textura e detalhes dourados. A quebra do padrão é
instaurada na imagem pela roupa de Camila Coelho, que usa um body marrom escuro,
brilhante e texturizado, que lhe deixa as pernas malhadas à mostra. Para balancear a
nudez das pernas, a jaqueta clara/nude, curta na altura da cintura, esconde-lhe um dos
ombros e os braços, porém a quebra de padrão se estabelece quando a jaqueta desliza de
seu ombro direito, conferindo-lhe uma movimentação corporal que remete a uma atitude
mais ousada que a das demais blogueiras. Essa atitude pode ser percebida também nas
expressões faciais de cada uma delas: enquanto as Camilas sorriem um sorriso aberto e
revelador, dentes e língua a mostra, sorriso que pode ser ao mesmo sedutor e triunfante,
afinal as duas ganharam a votação online e se elegerem as blogueiras da capa, as demais
sorriem apenas com os lábios, um sorriso mais fechado, um quase não sorriso no caso
de Lalá Rudge, e Thássia sorri mais abertamente, porém só os dentes são visíveis.
Com tons de cabelo diferentes, as Camilas morenas, Lalá e Helena Loiras e
Thássia morena, seus cabelos foram modelados e penteados de maneira muito similar,
pode-se dizer que a produção da beleza das blogueiras as deixou padronizadas em
termos de cabelo e maquiagem. Todas possuem os cabelos ondulados, todos em um
comprimento médio, brilhantes e esvoaçantes, como se uma brisa movimentasse suas
mechas com o intuito de conferir um ar de glamour a todas elas. Seus cabelos foram,
também, divididos no meio para conferir-lhes simetria ao rosto. As maquiagens são
sutis, leves e neutras, todas utilizam batons em tom de rosa suave ou cor de boca,
delineadores para marcar os olhos de maneira suave e blush combinando com cada tom
de pele, para lhes conferir um ar saudável, o efeito de contorno permite afinar o rosto,
pode ter sido utilizado tanto na maquiagem quanto nos retoques posteriores da imagem
em programa de edição específico.
Acima do slogan temos os dizeres: “a revista feminina n. 1 da Europa agora no
Brasil. A chamada principal diz: “Do look do dia à capa da Glamour “, “As top 5
blogueiras do país”, e em letras maiores “Edição mulheres reais”, e por fim “lições de
moda e beleza de 36 moças como você”. Essas três chamadas parecem estar
interligadas, pelo tema que apresentam, mas também pelo proximidade de espaço entre
elas, ressaltam o tema da edição, que é “mulheres reais”, visível principalmente pelo
tamanho da fonte, muito maior que as demais chamadas. O tema se relaciona com a
votação que ocorreu em ambiente online para escolher as duas blogueiras que fariam
parte da capa da revista, assim a revista considera as blogueiras como “mulheres reais”,
ou seja, não celebridades (ao menos naquele momento), e para que duas destas cinco
selecionadas13 pela revista possam estar na sua capa, elas têm que passar por um
processo de votação que estabelece a hierarquia delas na fotografia.
As demais chamadas na ordem de leitura Ocidental, de cima para baixo e da
esquerda para a direita são: “Autoestima íntima: a ditadura da beleza chegou até a
vagina, e agora?”, “Make bom e barato: os mestres da beleza indicam 5 produtos
indispensáveis”, “Guia das dietas: tudo o que você precisa saber sobre os seis regimes
da moda”, “Garimpo no fast fashion: peças-chave com preço mínimo e máximo
impacto”. Sabe-se que a revista segue um cronograma realizado previamente para
definir o conteúdo editorial temático postado ao longo dos meses do ano, sendo que
julho apresenta sua edição de beleza (ARANTES, 2014, p. 20). As chamadas são todas
sobre moda e padrões de beleza, indicando que se trata de uma edição com tema
centrado mais em moda e beleza, e menos em comportamento ou celebridades. Por fim,
o ultimo quadro indica os nomes das blogueiras na ordem de aparição da esquerda para
a direita. Pelas chamadas é possível perceber que a revista se preocupa em chamar
profissionais especializados da moda e da beleza, para criar parâmetros que possam ser
seguidos e aprendidos pelas suas leitoras e legitimá-los.

3. INTERPRETAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO

Meneses (2003, p. 11) propõe que o estudo da visualidade seja tratado pelos
historiadores como uma dimensão mais abrangente da vida social e dos processos
sociais, e não um estudo focado apenas nas fontes visuais, ou seja, sua atenção deve se
deslocar para o campo da visualidade. Neste caso, o visual, para Meneses (2003, p. 28),
se refere à sociedade, e não às fontes para o seu conhecimento, embora no contexto
dessa pesquisa, as fontes visuais sejam privilegiadas, ou seja, o que se pretende realizar
é uma história produzida a partir da análise de documentos de qualquer tipo, porém que
pretenda examinar a dimensão visual da sociedade (MENESES, 2003, p. 28). Para
tanto, é necessário que seja definida uma plataforma de articulação em uma

13
As cinco blogueiras em questão foram selecionadas pelo sucesso que tinham através do número de
seguidores nas redes sociais e o sucesso dos seus blogs, bem como pelos contatos que possuíam, como
era o caso de Lalá, cujo pai foi vice-diretor de marketing do Itaú Unibanco, e Helena Bordon, cuja mãe
Donata Meirelles é diretora de estilo da Vogue Brasil.
problemática histórica definida pela pesquisa, e não na tipologia documental da qual ela
se utiliza, ou seja:
(...) As séries iconográficas (porque é com séries que se deve procurar
trabalhar, ainda que se possam ter imagens singulares que funcionem
como pontos de condensação de séries ideais), não devem constituir
objetos de investigação em si, mas vetores para a investigação de
aspectos relevantes na organização, funcionamento e transformação de
uma sociedade. (...). (MENESES, 2003, p. 27-28)

Joly (1996, p. 54) afirma que existem duas considerações que devem preceder a
análise de uma imagem, são elas o estudo de sua função e o contexto de seu surgimento.
Desta maneira, é possível admitir que uma imagem sempre constitui uma mensagem
para o outro, assim é necessário, para melhor compreendê-la, buscar para quem ela foi
produzida, afinal a função comunicativa da imagem é que determina em grande parte a
sua significação (JOLY, 1996, p. 55-59). Sobre a fotografia de moda, a autora aponta
suas características:
Da mesma forma, a foto de moda, imagem implicativa e portanto
conotativa, também navega entre o expressivo, manifestado pelo
“estilo” do fotógrafo, o poético, manifestado pelo trabalho com os
diversos parâmetros da imagem (iluminação, pose...) e o conotativo,
isto é, a implicação do espectador, eventual futuro comprador. (JOLY,
1996, p. 58).

Convém realizar a análise para a compreensão da mensagem da análise


conforme um motivo formado em dois momentos: no primeiro tentar levar em
consideração o contexto interno da imagem, bem como o de seu surgimento; no
segundo, a mensagem da imagem deve ser compreendida em relação às expectativas e
conhecimentos do receptor (JOLY, 1996, p. 42). Para Joly (1996, p. 49) uma boa
análise é definida pelos seus objetivos, pois o objetivo da análise é fundamental para
estabelecer as ferramentas que determinam o objeto da análise e suas conclusões. Desta
maneira, não existe um método absoluto que possa ser empregado na análise de
imagens, mas existem opções que podem ser feitas ou inventadas de acordo com a
necessidade de cada pesquisa (JOLY, 1996, p. 50). A definição dos objetivos, deve
então, justificar a análise e determinar a sua metodologia, seja ela já comprovado ou
necessite da invenção das próprias ferramentas.
A função de conhecimento da imagem se associa, de forma natural, à sua função
estética, proporcionando sensações específicas ao espectador, ou seja, é um processo de
aisthesis, ou prazer estético, ou seja, a comunicação gerada pela imagem estimula uma
expectativa específica e diferente da de uma mensagem verbal, por parte do espectador
(JOLY, 1996, p. 60).
De acordo com Iser (1996, p. 50) a obra literária tem dois polos, o polo artístico
que designa o texto criado pelo autor, e o estético que diz respeito à concretização
produzida pelo leitor. Por conseguinte, “(...) A obra literária se realiza então na
convergência do texto com o leitor; a obra tem forçosamente um caráter virtual, pois
não pode ser reduzida nem à realidade do texto, nem às disposições caracterizadoras do
leitor” (ISER, 1996, p. 50). É pela virtualidade da obra que a dinâmica se apresenta
como a condição de efeitos que podem ser provocados através da dela. Para Iser (1996,
p. 51) “(...) A obra é o ser constituído do texto na consciência do leitor”, e é justamente
a relação entre o texto e o leitor que deve ganhar primazia, ou seja, os polos não podem
ser isolados.
O que caracteriza a natureza do efeito estético é o fato de ele não se cristalizar
em algo existente (ISER, 1996, p. 52). O efeito estético pode ser definido como a recusa
à categorização ou como situação na qual o receptor se afasta de suas classificações
(ISER, 1996, p. 53). O efeito só é efeito enquanto o que é significado por ele não se
funda em nada além dele mesmo. Para Iser (1996, p. 53), devemos então substituir a
pergunta sobre o que significa a obra que por ventura analisamos, pela pergunta sobre o
que acontece com o leitor quando, através da sua leitura, ele dá vida aos textos
ficcionais.
A interpretação, portanto, acaba ganhando uma nova função, pois ao invés de
decifrar o sentido da obra, ela procura evidenciar o potencial de sentido proporcionado
pelo texto.
(...) Se o texto ficcional existe graças ao efeito que estimula nas nossas
leituras, então deveríamos compreender a significação mais como o
produto de efeitos experimentados, ou seja, de efeitos atualizados do
que como uma ideia que antecede a obra e se manifesta nela. (ISER,
1996, p. 54)

Para Iser (1996, p. 54), o texto não existe enquanto estrutura material, mas existe
na mente do leitor, através da leitura, desta maneira, o efeito estético se dá na estrutura
verbal e afetiva. O efeito estético não é o que existe de concreto no mundo, mas diz
respeito ao que acontece com o leitor a partir do contato com o texto, ou seja, o efeito e
a significação se realizam na experiência do leitor.
O leitor intencionado, proposta de Woff que Iser (1996, p. 71) discute, refere-se
à reconstrução da ideia do leitor que se formou na mente do autor. Trata-se de uma
ficção de leitor no texto que mostra as ideias do público de outras épocas e o esforço do
autor para se aproximar dessas ideias e responder a elas, definição que requer o
conhecimento do leitor do passado, bem como da história social do público, para que
seja avaliado o alcance e a função da ficção do leitor no texto, pois essa ficção permite
reconstruir o publico que o autor queria alcançar (ISER, 1996, p. 71). Na imagem do
leitor intencionado, expressavam-se as diferenças sobre as condições históricas que
influenciaram o autor no momento de produção do texto, portanto o leitor intencionado
pode nos ajudar a perceber as condições históricas da obra (ISER, 1996, p. 72).
Para Iser, “(...) a solução de conflitos só é capaz de desenvolver um efeito de
catarse ao envolver o leitor em sua realização. A obra de arte dá satisfação ao receptor
apenas quando ele participa da solução e não se limita a contemplar a solução já
formulada (...)” (ISER, 1996, p. 95). A catarse é a estrutura do efeito, decorre a partir da
solução do leitor sobre os gatilhos que foram ativados pela obra, surge a partir das
respostas que o leitor encontrou a partir do que a obra provocou. O prazer estético tende
a ser libertador, pois um dos mecanismos da catarse é o vivido que acaba sendo
repaginado com o novo sentido adquirido pelo leitor a partir do contato com a obra.
Enquanto Wolfgang Iser se referia à solução de conflitos pelo leitor, Hans Jauss
se voltava para um esquema de pergunta e resposta à obra literária, que entretanto, tem
grande aplicabilidade no uso da análise de imagens. Jauss (1979, p. 64-75) se preocupou
em fazer a historicização da palavra prazer evidenciando a importância histórico-
cultural do emprego do termo, especialmente em relação à experiência estética
elementar, desde o classicismo grego, passando pelo classicismo alemão, pelo
Renascimento, pelo Iluminismo, pelo Romantismo do século XIX, pelo materialismo
histórico de Marx, e examinando o conceito em Engels, Schiller, Brecht, Adorno,
Freud, Gadamer e Barthes.
Jauss inaugurou as vias de investigação para compreender a natureza das
relações entre obra e leitor e da experiência estética (ZILBERMAN, 1989, p. 52). Para
Jauss o significado de uma criação artística não pode ser alcançado sem ser vivenciado
esteticamente, ou seja, não há conhecimento sem prazer, forma então dois conceitos que
ocorrem simultaneamente e indicam que só se pode gostar do que se aprende, e só se
compreende o que se aprecia, de fruição compreensiva e compreensão fruidora
(ZILBERMAN, 1989, p. 53). A premissa de Jauss com a estética da recepção é a de que
a arte desempenha um papel ativo, faz história porque participa do processo de
motivação e formação do comportamento social, passa normas ao leitor que são padrões
de atuação, o leitor tende a se identificar com essas normas, que se transformam em
modelos de ação (ZILBERMAN, 1989, p. 50). O papel social da arte advém da
possibilidade de influenciar o destinatário ao veicular normas (reforça padrões vigentes
como o faz a cultura de massa) ou as criar. A arte pode se antecipar à sociedade, assim a
produção contemporânea é inovadora, rompendo com o código consagrado, possui um
caráter emancipatório. Possui natureza utópica por apresentar o que poderia ser ou ter
sido (ZILBERMAN, 1989, p. 50).
Ao enfatizar a função emancipadora da arte, a postura de Jauss se coloca como
Iluminista. Ele se filia à tradição da estética de Kant em oposição à de Hegel. Ele segue
a perspectiva da descrição de como a literatura veicula, cria ou destrói normas e verifica
a importância da identificação, condição da função comunicativa de um produto
artístico (ZILBERMAN, 1989, p. 51). De acordo com Jauss (1979, p. 75) “(...) o prazer
estético exige um momento adicional, ou seja, uma tomada de posição, que exclui a
existência do objeto e, deste modo, o converte em objeto estético. (...)”.
A experiência estética para Jauss é propiciadora da emancipação do sujeito, pode
preceder a experiência através da incorporação de novas normas e é antecipação utópica
e reconhecimento retrospectivo (ZILBERMAN, 1989, p. 54). A experiência estética diz
respeito ao sentimento de diferenciação, efeito produzido pelo reconhecimento do que
está presente e do que está ausente na imagem. Entre o produto e o consumo, o suporte
e as condições com que o produto ou imagem chegam até os seus consumidores não
podem ser desprezados.
O sujeito ao utilizar a sua liberdade de tomada de posição frente ao objeto
estético, pode gozar tanto o objeto quanto seu próprio eu e, ao realizar esta atividade, se
sente liberto da sua existência cotidiana. Desta maneira, para Jauss (1979, p. 76) “(...) o
prazer estético realiza-se sempre na relação dialética do prazer de si no prazer do outro
(...)”. Assim, “(...) O prazer estético que, desta forma, se realiza na oscilação entre a
contemplação desinteressada e a participação experimentadora, é um modo da
experiência de si mesmo na capacidade de ser outro, capacidade a nós aberta pelo
comportamento estético” (JAUSS, 1979, p; 77).
Jauss busca na tradição grega as definições para as três categorias centrais de sua
proposta de análise por meio da teoria da recepção: poiesis, aisthesis e katharsis. A
natureza libertadora da arte se explicita pela experiência estética que é composta por
essas três atividades simultâneas e complementares e sua concretização depende da
identificação do leitor. Esses são os aspectos principais da experiência estética. Essas
não são hierarquizadas entre si, mas são interativas e inacabáveis, possuem uma relação
de funções autônomas, não se subordinam uma a outra, mas podem ter relações de
sequência JAUSS, 1979, p. 81).
A poiesis remete ao prazer frente a obra que nós mesmos realizamos, diz
respeito à função da consciência produtora, pela criação do mundo como a sua própria
obra, em outras palavras, é o prazer de se sentir coautor da obra (JAUSS, 1979, p. 79-
81). A aisthesis refere-se ao prazer estético da percepção reconhecedora e do
reconhecimento perceptivo, é a função da consciência receptora, e apresenta a
possibilidade de renovar a sua percepção no que diz respeito à realidade tanto externa
quanto interna (JAUSS, 1979, p. 80-81). Já a katharsis é o prazer dos afetos provocados
pela obra capaz de conduzir o expectador à transformação de suas convicções e à
liberação de sua psique e dos interesses práticos e dos compromissos cotidianos, pois
lhe oferece uma visão mais ampla dos acontecimentos, estimula o leitor a julgá-los, isto
é, transforma a experiência subjetiva em intersubjetiva ao identificar normas de ação
predeterminadas pela obra (JAUSS, 1979, p. 80-81).
A metodologia a ser desenvolvida, partindo da teoria da recepção, implica
analisar a experiência de uma sociedade de leitores delimitada temporal e espacialmente
em sua relação comunicante, cujo cerne está vinculado a um prazer estético que se
realiza através do prazer de si no prazer no outro, balizado por estruturas culturais,
sociais e econômicas marcadas pela intertextualidade e interconicidade.

3.1 ANÁLISE CRÍTICA

3.1.1 Construção da Representação: Veracidade e Subjetividade da Representação

Boris Kossoy: As imagens-mundo afetarão a vida real, pois são feitas para
serem imitadas, consumidas na realidade material. Convivemos diariamente com elas, e
ainda que vinculadas diretamente ao mundo concreto, nos parecem ficcionais pelo que
representam: imagens da moda. São também as imagens criadas no passado, que
revivem de quando em quando, re-contextualizadas, imagens de arquivo: blogs de moda
são ótimo exemplo aqui. São representações, afinal, que produzem em nós novos
arquétipos, novos diálogos. Os produtores de imagens criam testemunhos que ainda não
o foram, documentos que virão a ser: imagens preconcebidas
A fotografia pode significar o que sobrevive daquele instante interrompido na
representação, é também a morte do objeto. Toda imagem fotográfica tem atrás de si
uma história. Para Kossoy, a representação fotográfica pressupõe que uma nova
realidade é criada em substituição daquilo que se encontra ausente.
A realidade que tomamos como documento é o objeto codificado formal e
culturalmente segundo uma construção técnica, ideológica, estética, ou seja, o
documento fotográfico não pode ser compreendido independentemente do seu processo
de construção da representação.

A suscitação possível de identificação dos leitores e leitoras dos blogs através


da análise de publicações que mostram a construção da imagem das blogueiras por meio
da tendência do street-style: como a percepção em relação ao conceito de moda vai se
modificando com as fotografias de look do dia e tendência de street-style presente nos
blogs. Os conjuntos de fotografias publicadas em cada um desses blogs expressa a
subjetividade das mulheres em seu cotidiano e ao mesmo tempo significam a própria
experiência de ser blogueira, especialmente as celebrizadas. Os cinco blogs passaram a
concentrar a maior parte de seu conteúdo em fotografias, principalmente num tipo de
postagem denominado de “look do dia” que se volta para expressar através de
fotografias das próprias blogueiras, o seu estilo e gosto pessoal, bem como demonstrar
seus conhecimentos acerca de moda, juntando dicas rápidas às composições
fotográficas. Embora as blogueiras disponham de diversos recursos para incrementar o
conteúdo, as fotografias possuem grande relevância, pois além de serem um dispositivo
que chama a atenção da audiência, as imagens de moda e beleza fazem parte de um
imaginário idealizado, de inspiração.
Por sua vez, a capa da revista Glamour de julho de 2013, juntamente com o
folder, foi produzida com o tema de mulheres reais, porém visando desconstruir o look
do dia, que é produzido pelas blogueiras em seus blogs. Isto porque elas não usam uma
composição de roupas do dia-a-dia ou para o uso no cotidiano, mas sim roupas de festa
com poucos acessórios e maquiagens neutras e suaves, unhas claras, da cor da pele. O
destaque fica nos vestidos elegantes e glamorosos, sinalizados pelo corte impecável,
texturas diferenciadas e tecidos finos. Além do mais, elas foram produzidas, e a revista
deixa muito claro, principalmente nas matérias do site e nos comerciais de divulgação
da edição, por profissionais famosos por trabalharem com celebridades como o
cabelereiro Marcos Proença e o fotógrafo J. R. Duran.
As fotografias do conteúdo e as imagens (vídeo/foto) do making off desta
edição, apresentam um clima de celebração, de luxo e glamour, divulgando um estilo de
vida idealizado e construído pela Glamour. Temos imagens das blogueiras, que estão
padronizadas, inclusive pelo uso do recorte de cada uma das fotografias e justaposição,
usando peças de grifes, famosas, rodeadas de profissionais que geralmente trabalham
com celebridades, no que parece ser um ambiente luxuoso, alugado pra realização das
fotos e vídeos. Ainda assim é perceptível que além dessa produção as imagens foram
retocadas em programa de edição para excluir as imperfeiçoes das mulheres. A intenção
foi criar uma representação de um estilo de vida que remete ao luxo, à possibilidade
dessas mulheres de serem tratadas como celebridades, um estilo de vida que permite que
elas consumam todos os produtos de moda e beleza mais “desejados” do momento,
porque estão acompanhando com as tendências de moda, e esse consumo está
diretamente relacionado com o estilo de vida idealizado que é propagado pela revista: a
revista ensina a consumir os produtos de moda para que as mulheres se tornem outras,
diferentes de si, mas ainda elas mesmas. Constrói então um universo idealizado para as
leitoras que, podem ter acesso a ele através do consumo, especialmente dos produtos
certos, ou seja, os indicados pela revista através dos especialistas de moda e beleza. Por
sua vez, a revista, através das chamadas eleva as blogueiras ao patamar de produtoras
culturais, cuja produção e conhecimento em moda, lhes conferiu grande visualidade e
consequentemente, desencadeou a sua participação neste número da Glamour, o que
confirma a intenção de parceria que a revista procurou firmar, desde que foi lançada no
Brasil com as blogueiras como agentes relevantes do mundo da moda e da beleza, como
uma estratégia de atrair um público leitor que está sintonizado com as tendências dos
blogs de moda e se mostrar inclusiva.

3.1.2 Relação com o real

De acordo com Kossoy (2005) a manipulação é inerente à construção da


fotografia. Tanto hoje, quanto no passado, nos conteúdos das fotografias se agregam
informações e interpretações de ordem cultural, ideológica, estética, técnica, etc., e
essas interpretações refletem a mentalidade dos seus criadores, em determinado
momento. Por outra via, as fotografias seguem sendo interpretadas muito depois da sua
criação, oscilando de significados conforme a ideologia e mentalidade de quem as
manipula, podendo ser escondidas ou reveladas, escancaradas. É preciso ir além,
enquanto interpretes de imagens, de pensa-las como testemunho fiel ou documento
preciso, afinal o documento fotográfico se presta tanto à denúncia social quanto à
publicidade.
É preciso que nós, enquanto historiadores, decifremos os códigos das imagens,
para compreendermos as suas realidades interiores, seus silêncios, o sentido das ideias
escondido sob a aparência das suas realidades exteriores, pois a fotografia, assim como
outras imagens diversas, pressupõe uma organização da aparência, que faz parte do
processo de construção da representação (KOSSOY, 2005). A fotografia se refere à
realidade externa dos fatos, nos dá uma visão iconográfica do objeto representado, uma
segunda realidade. A fotografia nada mais é do que um registro expressivo da aparência.
Mesmo nas imagens que nos parecem mais realistas, existem grandes
diferenças entre a imagem e a realidade que se objetou representar. Afinal, a própria
imagem é o resultado de inúmeras transposições e é por meio de um aprendizado que
podemos reconhecer nela um equivalente de realidade, isto integra as regras da
transformação. Esse aprendizado em nossa cultura muitas vezes é encarado como
natural, no entanto, desde pequenos nós aprendemos a ler as imagens como nos são
apresentadas. “O trabalho do analista é precisamente decifrar as significações que a
‘naturalidade’ aparente das mensagens visuais implica. (...)” (JOLY, 1996, p. 43).
Embora a Glamour destaque que as cinco blogueiras da edição não são
celebridades ou modelos famosas, mas sim mulheres reais, como as suas leitoras, é
possível perceber que elas não são pessoas anônimas, pois alcançaram sucesso e
visualização com seus blogs e redes sociais, e isso lhes conferiu um status, pela revista,
de cinco maiores, melhores ou mais famosas blogueiras do Brasil. Levando-se em
consideração que as suas leitoras ideais são mulheres que procuram informações de
moda na internet, pois, como já foi mencionado, a revista atua nas plataformas digitais e
possui inclusive um formato digital, a realização dessa edição partiu do princípio de que
suas leitoras eram conhecedoras dos blogs de moda e beleza, em especial dos blogs das
cinco mulheres mencionadas. Inclusive, a linguagem utilizada pela revista e sua versão
digital procura se aproximar da linguagem informal e repleta de gírias das próprias
blogueiras: trata-se de uma linguagem “descolada” e jovem, quase infantilizada. A
imagem naquele momento pretendia mostrar que a revista proporcionou a experiência
de ser capa de revista às blogueiras, que naquele momento foram tratadas como
celebridade, como ficou evidenciado nas fotografias da edição e ainda mais fortemente
nos vídeos de making off. Isso criou um efeito de representação de uma realidade
idealizada, de certa maneira, paralela à construção da representação da imagem das
blogueiras através das narrativas dos seus blogs. Para algumas das cinco blogueiras, era
a primeira vez que estreavam na capa de uma revista, porém suas trajetórias posteriores
a esse acontecimento, apontam para a grande difusão da imagem dessas mulheres,
inclusive em capas de revistas, inclusive da própria Glamour.
Os resultados dessa investigação levaram à formulação de questionamentos
específicos em relação às blogueiras estudadas: será que a essa representação das
blogueiras pela revista Glamour condiz com a construção do personagem blogueira por
cada uma das cinco mulheres em seus blogs? Ao fazê-lo, a Glamour procurou atender a
uma demanda específica por um conteúdo de moda e beleza que se reinventasse
conjuntamente com o próprio formato da revista, que é acompanhado pelo digital.

4. ALCANCE DO DOCUMENTO

4.1 INFLUÊNCIA E FUTURO

4.1.1 A difusão e seu modo

A revista foi publicada em via impressa e também digital. Para além da edição
foram produzidos cinco vídeos de divulgação da edição, que foram liberados um mês
antes da revista ser publicada, e algumas matérias no próprio site da Glamour, as
primeiras convidando os leitores para fazerem a votação online para escolher as
blogueiras da capa, e as demais falando sobre cada uma das blogueiras, após o
lançamento da revista foram publicadas também as fotografias do making off no site.
Dentre as primeiras 18 edições da Glamour no Brasil, seu número de maior sucesso foi
justamente o número 16, aqui analisado, pois refletiu num aumento de 35% a mais nos
resultados de pages view no site da revista, que as demais edições 14. Houve inclusive,
uma publicação da Glamour no site, poucos meses antes do lançamento da edição de
julho, quando a votação online ainda estava ocorrendo, mostrando o apoio de diversas
celebridades à escolha de uma das cinco blogueiras em suas redes sociais.

14
Disponível em <https://2napp.wordpress.com/2013/09/12/glamour-girls-just-wanna-have-fun/> Acesso
em julho de 2016.
4.1.2 A posteridade

Após a publicação dessa edição, as cinco blogueiras se tornaram ainda mais


conhecidas e seus blogs expandiram muito em termos de parcerias, lucros e
visualizações. Elas se tornaram celebridades, de tal maneira que vemos até hoje a
participação delas em capas de revistas, inclusive da própria Glamour.
O documento gerou repercussão, especialmente na internet, como podemos ver
em uma gama de notícias que citaram, falaram da edição número 16 da Glamour. Foram
encontrados também, trabalhos acadêmicos que se utilizam da imagem da capa da
Glamour, especialmente na área de comunicação, e que se preocupam com as relações
que a revista tece através da sua plataforma digital.

À GUISA DE CONSIDERAÇÕES FINAIS: DO INTERESSE PELO


HISTORIADOR

Ao utilizarem os blogs como acervos, os historiadores devem se tornar


responsáveis pela análise e manutenção deste material, pois os documentos digitais, de
acordo com Almeida (2011), possuem como uma de suas principais características uma
dissociação entre o suporte físico e o conteúdo informacional, disponível apenas através
de uma janela temporal restrita. Por conseguinte, o blog, não deve ser entendido como
uma fonte ou documento histórico, pois compreende uma plataforma de acesso a todo
um conjunto de fontes, constituindo acervos temáticos que se organizam de forma
inovadora para a pesquisa histórica e apresentam um conteúdo diversificado dos demais
tipos de suporte comumente utilizados pelos historiadores como fontes. Desta maneira,
o acesso ao conteúdo de um blog pode funcionar como a evocação de memórias dentro
de um grande álbum armazenado na web. É imprescindível, portanto, que a pesquisa
com essas fontes digitais específicas seja amparada pela atividade de criação de um
banco de dados digital pelo historiador. Embora seja possível guardar e acessar todos os
conteúdos dos blogs, é necessário que o pesquisador seja norteado pelos objetivos que
seu tema de pesquisa levanta para que possa dar conta de acessar, dentre tantos
conteúdos, aqueles que são pertinentes às suas questões.
A produção de material sobre moda e comportamento traz consigo uma proposta
de evidenciar a vida cotidiana das blogueiras, aonde o público e o privado se mesclam,
como já vimos nas análises das entrevistas da Glamour. Por conseguinte, utilizar a
confissão e as histórias sobre si mesmas são recursos frequentemente utilizados
conjuntamente com informações, pois a moda e o estilo pessoal caminham em conjunto
com o estilo de vida que é divulgado. “A ascensão da “narração de histórias” como um
novo fenômeno cultural ilumina o crescimento dessa cultura de massa da confissão no
início do século XXI. Apesar dos seres humanos sempre terem contado histórias, nunca
as pessoas contaram tantas histórias sobre si próprias (...)” (FREUND, 2014: 227).
De acordo com Silva (2015, p. 34) as histórias dos blogs são pensadas como
escritas de si, e desta maneira, não são tomadas nem como verdade e nem como ficção,
mas como narrativas que integram aspectos da vida vivida e da imaginação. A autora
procura evidenciar, assim, que nenhum relato escapa à ficcionalização, mesmo que se
reconheça no eu a unidade ilusória de sujeito, pois o narrador de si se constrói como um
personagem que se apresenta distanciado de um eu empírico (SILVA, 2015, p.34).
“Em relação às escritas de si na Internet, convém considerar nas análises os
possíveis deslocamentos em relação à “experiência de si como eu”, ou melhor, “à
condição de narrador do sujeito” (SIBILIA, 2008, p. 31). Essas reflexões colocam
desafios sobre a significação e interpretação do tempo pelos sujeitos do presente, da
significação da sua existência, do que é público ou privado quando se trata da
intimidade. Essas mudanças podem ser percebidas nas narrativas digitais? Deve-se
considerar aí a dimensão do descontínuo que a leitura na tela implica. Tal leitura
constitui uma das “revoluções” da cultura escrita: transformar hábitos e percepções pela
via da textualidade eletrônica.” (SILVA, 2015, p. 33)
“(...) velha necessidade que diz respeito às práticas de escritas de si:
necessidade de fixar o passado e também apreender o futuro, necessidade de tomar
distância em relação a si próprio, necessidade de arquivar a própria vida, de
testemunhar, de se inventar e reinventar.” (SILVA, 2015, p. 33-34)
“(...) Na condição de historiadora, enfrento uma dupla dificuldade: a primeira
reside no exercício de se pensar esses suportes digitais e seus conteúdos como fontes
históricas, especialmente no que se refere às questões relativas ao seu arquivo e
inscrição como documento/monumento (LE GOFF, 2003). A segunda advém das
armadilhas de se generalizar sobre o particular, posto que é inegável a singularidade de
cada narrativa pessoal. Apensar dessas dificuldades, penso que a incorporação de tais
suportes à operação historiográfica pode contribuir para os estudos sobre a história da
cultura escrita no presente, especialmente no que diz respeito as suas formas de
produção, veiculação e apropriação. Na condição de escritas de si, são fontes
inigualáveis para se refletir sobre a dimensão subjetiva do passado – neste caso,
operações de escolhas, silenciamentos e interpolações sobre a experiência da
escolarização – a partir de uma memória ao mesmo tempo individual e coletiva sobre os
exames de admissão ao ginásio. (...)” (SILVA, 2015, p. 36).
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Fábio Chang de. O historiador e as fontes digitais: uma visão acerca da
internet como fonte primária para pesquisas históricas. Aedos, n. 8, v. 3, janeiro-junho
de 2011. P. 9-30.
ARANTES, Vanessa Lima de Macedo. Estudos comparativos da identidade das
revistas em seus formatos impressos e digitais. Projeto de Iniciação Científica. São
Paulo: PIBIC. 2014.
CASSAGNE, Sophie. Le commentaire de document iconographique en histoire.
Paris: Elipses, 1996.
FREUND, Alexander. História Oral como processo gerador de dados. Tempos
Históricos, v. 17, p. 28-62, 2º Semestre de 2013. ISSN 1983-1463 (Versão Eletrônica).
FREUND, Alexander. “Os animais que confessam”: Contribuição para uma história de
longa duração da entrevista de história oral. Revista tempo e argumento.
Florianópolis, v. 06, n. 13, p. 203-239, 2014.
HINERASKY, Daniela Aline. O fenômeno dos blogs street-style: do flâneur ao “star
blogger”. Porto Alegre, 2012. Tese. Programa de pós-graduação em Comunicação
Social. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2012.
ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34,
1996.
JAUSS, Hans. O prazer estético e as experiências fundamentais da poiesis, aisthesis e
katharsis. In: LIMA, Luiz Costa (Coord.). A literatura e o leitor: textos de estética da
recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas: Papirus, 1996.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Fontes visuais, cultura visual, história visual.
Balanço provisório, propostas cautelares. Revista Brasileira de História, v. 23, n. 45,
p. 11-36, 2003.
RITCHIE, Donald. Doing Oral History: A Practical Guide. 2003. In: FREUND,
Alexander. História Oral como processo gerador de dados. Tempos Históricos, v. 17, p.
28-62, 2º. Semestre de 2013. ISSN 1983-1463 (Versão Eletrônica).
SANT’ANNA, Mara Rúbia. Elegância, beleza e poder: na sociedade de moda dos anos
50 e 60. São Paulo: Estação das letras, 2014.
SILVA, Cristiani Bereta da. Narrativas digitais sobre os exames de admissão ao ginásio:
ego-documentos e cultura escrita na história do tempo presente. Revista Tempo e
Argumento, Florianópolis, v. 7, n.15, p. 05 - 41. maio/ago. 2015.
ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. São Paulo:
Ática, 1989.
SITES CONSULTADOS

COMUNICAÇÃO Integrada. Glamour: Girls, just wanna have fun. Disponível em


<https://2napp.wordpress.com/2013/09/12/glamour-girls-just-wanna-have-fun/> Acesso
em julho de 2016.

FAAP. Museu de Arte Brasileira da FAAP apresenta exposição inédita do


fotógrafo J. R. Duran. Disponível em <http://www.faap.br/museu/expos-
anteriores.asp?Pagina=exposicao_jr>. Acesso em junho de 2016.

JRDURAN. Jrduran News. Disponível em


<http://www.jrduran.com.br/news/arquivo/2013_10.php>. Acesso em junho de 2016.

REVISTA Glamour. Vote na blogueira da capa. Disponível em:


<http://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/noticia/2013/05/vote-na-blogueira-da-capa-
camila-coelho-lala-rudge-camila-coutinho-thassia-naves-heleninha-bordon.html>.
Acesso em julho de 2016.

REVISTA Glamour. A nossa capa de julho está incrível. Disponível em


<http://revistaglamour.globo.com/Celebridades/noticia/2013/06/nossa-capa-de-julho-
esta-incrivel-quer-ter-uma-ideia-thassia-naves-camila-coutinho-helena-bordon-camila-
coelho-lala-rudge-blogueiras.html>. Acesso em julho de 2016.

REVISTA Glamour. Nossa diretora, Mônica Salgado, dá palestra no espaço do


FHits. Disponível em
<http://revistaglamour.globo.com/Redacao/noticia/2012/06/nossa-diretora-monica-
salgado-da-palestra-no-espaco-do-fhits.html>. Acesso em julho de 2016.

MUNDO das dicas. Revista Glamour. Tudo sobre a revista Glamour. Disponível em
<http://mundodasdicas.com.br/revista-glamour>. Acesso em julho de 2016.

EM Fechamento assuntos editoriais. Revista Criativa sai de cena e dá lugar à


Glamour Brasil. Disponível em <http://www.emfechamento.com.br/2012/04/revista-
criativa-sai-de-cena-e-da-lugar.html#.V35aYqKgTfZ>. Acesso em julho de 2016.
VICKNEWS. Riberião Preto recebe “Tour Glamour”. Disponível em <
http://www.vicknews.com/moda/ribeirao-preto-recebe-tour-glamour/ >. Acesso em
julho de 2016.

VIDEOS

“MESA REDONDA F*HITS com Mônica Salgado” – F*Hits – 2012. Disponível em


<https://www.youtube.com/watch?v=vYzEMpfzXgE>. Acesso em julho de 2016.

“The Big Five na Glamour: Camila Coelho” – Rodrigo Chiba e Marcelo Proença –
2013. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=1urLyQf7IbY> Acesso em
julho de 2016.

“The Big Five na Glamour: Camila Coutinho” – Rodrigo Chiba e Marcelo Proença –
2013. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=mvpw4iGpce0> Acesso em
julho de 2016.

“The Big Five na Glamour: Helena Bordon” – Rodrigo Chiba e Marcelo Proença –
2013. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=PSgqnwt0oUg> Acesso em
julho de 2016.

“The Big Five na Glamour: Lalá Rudge” – Rodrigo Chiba e Marcelo Proença – 2013.
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=B_AfMVfcPV8> Acesso em julho
de 2016.

“The Big Five na Glamour: Thássia Naves” – Rodrigo Chiba e Marcelo Proença – 2013.
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=69FeBP-QEN8> Acesso em julho
de 2016.

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