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DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS

ÁREA DISCIPLINAR DE PORTUGUÊS, FRANCÊS E ESPANHOL


Ano letivo 2021/2022
TESTE DE AVALIAÇÃO SUMATIVA DE PORTUGUÊS
10º B Janeiro de 2022

Grupo I - EDUCAÇÃO LITERÁRIA (100 pontos)

Leia com muita atenção os excertos a seguir apresentados e organize as suas respostas de forma bem estruturada.

Excerto A

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi Alvoro
Paaez1 e muitas gentes com ele.

O Page do Meestre que estava aa porta, como2 lhe disserom que fosse pela vila segundo
já era percebido3, começou d’ir rijamente a galope em cima do cavalo em que estava, dizendo
altas vozes, braadando pela rua:
– Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Mestre que
5 matam!
E assi chegou a casa d’ Alvoro Paaez, que era dali grande espaço.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar uũs
com os outros, alvoraçavom-se nas voontades4, e começavom de tomar armas, cada uũ como
melhor e mais asinha5 podia. Alvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa6 na
10 cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duũ cavalo que anos
havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava
dizendo:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca7 filho é del-Rei dom Pedro.
E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
15 Soaram as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre;
e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo 8 de marido, se
moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u9 deziam que se esto fazia, por lhe
darem vida e escusar morte. Alvoro Paaez nom quedava10 d‘ ir pera alá11, braadando a todos:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
20 A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom
cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando cada uũ de seer o
primeiro; e preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava 12 quem
responder que o matava o Conde Joam Fernandez13, per mandado da Rainha.
E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom14 com talente15 de o vingar, como
25 forom16 aas portas do Paço que eram já çarradas, ante que chegassem, com espantosas
palavras começarom de dizer:
– U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o
Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem 17 pera entrar
30 dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
Deles18 braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar
o treedor19 e a aleivosa20. Outros se aficavom21 pedindo escaadas pera sobir acima, pera
veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam
uũs com os outros, nem determinavom neũa cousa. E nom soomente era isto aa porta dos

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35 Paços, mas ainda arredor deles per u homeẽs e molheres podiam estar. Ũas viinham com
feixes de lenha, outras tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos
Paaços com ela, dizendo muitos doestos22 contra a Rainha.

Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes
(textos escolhidos), ed. Revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992 [1980], pp. 95-96.

1
burguês bastante rico, padrasto de João das Regras, que fora chanceler-mor dos reis D. Pedro e D.
Fernando; abandonou este cargo com o pretexto de doença; mas, segundo Fernão Lopes, ter-se-ia
afastado da corte, envergonhado com a desonra de
D. Fernando, ocasionada pelo licencioso comportamento da rainha; tornou-se o chefe da insurreição
em 1383; 2 quando; 3 combinado; 4 alvoraçavom-se nas vontades: revoltavam-se; 5 depressa; 6 parte da
armadura que defendia a cabeça; 7 porque; 8 em lugar de; 9 onde; 10 não parava; 11 lá; 12 não faltava; 13
Conde João Fernandes Andeiro, nobre galego, amante da rainha e por ela nomeado conde de Ourém;
14
todos feitos duũ coraçom: todos animados pela mesma coragem; 15 desejo; 16 como forom: logo que
chegaram; 17 arrombassem; 18 alguns deles; 19 traidor; 20 adúltera; alusão a D. Leonor Teles.; 21 insistiam;
22
insultos.

1. Esclareça a intenção subjacente às palavras proferidas pelo “Page do Meestre”.

2. Indique as medidas tomadas pelo povo assim que chegou aos paços da rainha.

3. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Na folha de respostas coloque a letra e o número correspondente.

A afirmação da consciência coletiva é visível neste excerto no facto de o povo


a. _______. Esta posição é salientada pelo uso de recursos expressivos como a
b. ______, visível em expressões como c. ______.

a. b. c.
1. ter tomado consciência da 1. personificação 1. “e per voontade de Deos todos feitos
traição iminente. 2. antítese duũ coraçom”
2. se ter unido na defesa dos 3. metáfora 2. “desejando cada uũ de seer o
interesses do reino. primeiro”
3. ter acorrido às ruas para 3. “que se nom entendiam uũs com os
denunciar o plano de Álvaro outros”
Pais.

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Excerto B

Das tribulações1 que Lixboa padecia per mingua2 da mantimentos

Estando a cidade assi cercada na maneira que já ouvistes, gastavom-se os mantiimentos cada vez
mais, por as muitas gentes que em ela havia, assi3 dos que se colherom4 dentro, do termo5, de homeẽs
aldeãos com molheres e filhos, come dos que veerom na frota do Porto; e alguũs se tremetiam6 aas
vezes em batees e passavom de noite escusamente7 contra8 as partes de Ribatejo, e metendo-se em
5 alguũs esteiros9, ali carregavom de triigo que já achavom prestes10, per recados que ante mandavom.
E partiam de noite remando mui rijamente, e algũas galees11 quando os sentiam viinr remando, isso
meesmo remavom a pressa sobre eles; e os batees por lhe fugir, e elas por os tomar, eram postos em
grande trabalho.
Os que esperavom por tal triigo andavom per a ribeira12 da parte de Exobregas13, aguardando
10 quando veesse, e os que velavom, se viiam as galees remar contra 8 lá, repicavom14 logo por lhe
acorrerem15. Os da cidade como16 ouviam o repico, leixavam o sono, e tomavom as armas e saía
muita gente, e defendiam-nos aas beestas se compria17, ferindo-se aas vezes dũa parte e doutra;
[…]
Em esto gastou-se18 a cidade assi apertadamente19, que as pubricas esmolas começarom
15 desfalecer20, e neũa geeraçom21 de pobres achava quem lhe dar22 pam23; de guisa24 que a perda
comum25 vencendo de todo a piedade, e veendo a gram mingua2 dos mantiimentos, estabelecerom
deitar fora as gentes minguadas26 e nom perteencentes27 pera defensom; e esto foi feito duas ou
tres vezes, ataa28 lançarem fora as mancebas mundairas29 e Judeus e outras semelhantes, dizendo
que pois30 taes pessoas nom eram pera pelejar31, que nom gastassem os mantiimentos aos
20 defensores; mas isto nom aproveitava cousa que muito prestasse. […]
Como nom lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que o Meestre mandou saber em
certo pela cidade que pam havia per todo em ela, assi em covas 32 come per outra maneira, e
acharom que era tam pouco que bem havia mester33 sobr’elo conselho?

LOPES, Fernão, 1980. Crónica de D. João I (textos escolhidos; apresentação crítica, seleção, notas
e sugestões para análise literária de Teresa Amado). Lisboa: Seara Nova / Editorial Comunicação (pp. 193-195)

1. tribulações: adversidades, aflições; 2. mingua: falta; 3. assi: tanto; 4. colherom(-se): recolheram(-se); 5. termo:
limite, referência à área do concelho de Lisboa; 6. se tremetiam: se metiam dentro; 7. escusamente: secretamente;
8. contra: para, em direção a; 9. esteiros: braços estreitos de rio; 10. prestes: pronto; 11. galees: galés (dos
castelhanos); 12. ribeira: margem; 13. Exobregas: Xabregas, localidade de Lisboa; 14. repicavom: tocavam (os sinos);
15. acorrerem: socorrerem; 16. como: assim que; 17. se compria: se era necessário; 18. gastou-se: consumiu-se; 19.
apertadamente: desesperadamente; 20. desfalecer: faltar; 21. geeraçom: família; 22. dar: desse; 23. pam: pão; 24.
guisa: modo, maneira; 25. a perda comum: as privações comuns a todos; 26. minguadas: carentes, miseráveis,
deficientes; 27. nom perteencentes: incapazes; 28. ataa: até; 29. mancebas mundairas: prostitutas
(amantes/raparigas mundanas); 30. pois: já que; 31. pelejar: lutar. 32. covas: silos, celeiros subterrâneos; 33. mester:
necessidade.

4. Mostre como, no contexto das «tribulações» vividas na capital, se evidencia a consciência coletiva.
Fundamenta a tua resposta com elementos textuais.

5. Refira o valor expressivo da interrogação retórica presente no último parágrafo.

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II – LEITURA E GRAMÁTICA (60 pontos)

Leia o texto e, nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Cada vez mais pessoas, em todo o mundo, recebem a sua informação pelas redes sociais. Muitas
delas escolhem o que veem de acordo com as fontes da sua preferência, sejam jornais, rádios ou canais
de televisão, sites que consideram dignos de confiança. Muitas outras abrem apenas as notícias que lhes
parecem interessantes, seja por terem um título chamativo que despertou a sua curiosidade ou porque
5 dizem algo com que concordam.
A cada dia que passa, num tempo de mudança política rápida, a informação disponível parece infinita,
o mundo parece estar todo num telemóvel. Por contraintuitiva que possa parecer, esta ideia torna a
importante tarefa de nos informarmos cada vez mais árdua, em particular por se ter tornado tão difícil
distinguir a verdade da mentira.
10 E isso é importante? Se pensarmos nas notícias como a ferramenta que nos ajuda a tomar decisões,
sim, é. E muito. As notícias devem dizer-nos o que está a acontecer e porquê, permitindo-nos assim
formar opiniões e agir, em sociedade, de acordo com as nossas opiniões. Se a informação que temos é
falsa, as nossas opiniões serão frágeis, e quando muitas opiniões se baseiam em falsidades, em
preconceitos, em erros e falácias, a nossa vida comum – a democracia – está em risco. Numa era digital,
15 em que mais e mais pessoas se informam a cada segundo, é fundamental sabermos distinguir uma notícia
de um boato, bem como termos a capacidade de avaliar criticamente a informação que recebemos.
Só o Facebook tem mais de 2,3 mil milhões de utilizadores, entre os 7,5 mil milhões de seres humanos
que vivem no planeta, o que significaria que quase um terço da população tem uma conta nesta rede
social, se tomarmos como boa a ideia (errada) de que um utilizador é sempre uma pessoa. Seja como for,
20 é muita gente, em particular se considerarmos que o país mais populoso do mundo, a China, não permite
a sua utilização.
Em Portugal, há seis milhões de contas, o suficiente para que uma eficaz campanha […] consiga ter
efeitos sobre a maioria da população.
E isso deve preocupar-nos. Porque, na verdade, é o nosso nome que aparece quando sociabilizamos
25 online. É a cada um de nós que cabe, antes de partilharmos qualquer coisa nas redes sociais ou de
difundirmos qualquer informação a quem nos está mais próximo, fazer a pergunta certa: «Isto é
verdadeiro ou falso?» A falsidade deixa rasto. Quantas vezes pensámos: «Nunca ouvi falar deste site ou
da pessoa que publica esta história.», «Nenhum jornal deu esta notícia.», «O endereço (URL) e o formato
da notícia são estranhos.», «Há tantos erros na escrita, parece tradução automática.», «Não há citações
30 de nenhuma pessoa.», «A notícia está anunciada de forma estranha: ‘Clica aqui e vais ver uma coisa
extraordinária’.», «As imagens parecem fabricadas.».
Se aprendermos a ler a informação a que somos diariamente expostos – e que procuramos, também
–, seremos mais capazes de a filtrar e escolher. Para percebermos se uma história é parcial, devermos
saber colocar-nos algumas questões no momento da leitura: se a história só mostra as coisas de uma
35 perspetiva; se a notícia sugere que os leitores façam alguma coisa, ou pensem de determinada forma; se
o título é enganador – sim, é parcial.
A informação verdadeira procura chegar à verdade – não à verdade filosófica, mas àquela
aproximação que nos é útil para sabermos mais, razão pela qual as notícias se
baseiam em factos.

PENA, Paulo, 2019. Fábrica de Mentiras. Viagem ao mundo das fake news. Lisboa: Objetiva (pp. 20-21)

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1. De acordo com os dois primeiros parágrafos, a quantidade de informação atualmente disponível
(A) promove a qualidade da informação.
(B) compromete a identificação de dados fidedignos.
(C) simplifica o acesso à verdade.
(D) facilita o reconhecimento de factos incorretos.

2. Ao utilizar a interrogação retórica, na linha 10, o autor


(A) solicita uma informação.
(B) reforça uma opinião.
(C) introduz uma ideia nova.
(D) reformula um pedido.

3. De acordo com o autor, a responsabilidade pela divulgação de informações falsas é


(A) exclusivamente das redes sociais.
(B) individual.
(C) de aproximadamente um terço da população mundial.
(D) dos criadores de notícias parciais.

4. A expressão «verdade filosófica» (linha 37) sugere


(A) imparcialidade.
(B) factualidade.
(C) obrigatoriedade.
(D) subjetividade.

5. A palavra «a» na expressão «a ler» (linha 32) classifica-se como


(A) determinante.
(B) pronome.
(C) conjunção.
(D) preposição.

6. A forma verbal presente em «ou pensem de determinada forma» (linha 35) encontra-se no
(A) presente do indicativo.
(B) pretérito imperfeito do conjuntivo.
(C) presente do conjuntivo.
(D) pretérito perfeito do indicativo.

7. O antecedente do pronome «que» (linha 4) é


(A) “título”.
(B) “chamativo”.
(C) “título chamativo”.
(D) “notícias”.

8. Na frase «As notícias devem dizer-nos o que está a acontecer e porquê, permitindo-nos assim formar opiniões e
agir.» (linhas 11-12) o verbo «permitir» classifica-se como
(A) transitivo direto e indireto.
(B) transitivo direto.
(C) transitivo indireto.
(D) intransitivo.

9. Identifique as funções sintáticas desempenhada por:

a) “infinita” (linha 6);


b) “quando socializamos online” (linhas 24-25).

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10. Classifique as orações presentes em cada alínea:

a) “que consideram dignos de confiança” (linha 3);


b) “que os leitores façam alguma coisa” (linha 35).

Grupo III –PRODUÇÃO ESCRITA (40 pontos)

Observe a pintura de Cândido Portinari.

Os Retirantes (1994), Cândido Portinari (1903-1962), Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Faça uma apreciação crítica desta pintura, num texto de 120 a 150 palavras, considerando, entre outros que julgue
pertinentes, os seguintes aspetos.
• Apresentação dos elementos que integram a imagem.
• Sentimentos transmitidos.
• Impacto.
• Pertinência da imagem em relação ao capítulo 148 da Crónica de D. João I de Fernão Lopes.

Deverá exprimir a sua opinião (positiva ou negativa) na introdução do texto. A fundamentação da opinião expressa
deverá ocorrer associada à exploração dos elementos constantes da pintura.

COTAÇÕES
Item / Cotação em pontos Total
Grupo 1 2 3 4 5 100
I 20 20 20 20 20
Grupo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 60
II 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6
Grupo 40
III Item único
200 pontos

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