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As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar uus com os
outros, alvoraçavom-se nas voontades, e começavom de tomar armas cada uu como melhor e mais
asinha1 podia. Alvoro Paaez que estava prestes2 e armado com ua coifa na cabeça segundo usança
5 daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duu cavalo que anos havia que nom cavalgara; e
todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava dizendo:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca3 filho é del-Rei dom Pedro.
E assi braadavam el e o Page indo pela rua.
10 Soaram as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre; e assi
como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de marido, se moverom todos com
mão armada, correndo a pressa pera u deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar4 morte.
Alvoro Paaez nom quedava5 d’ir pera alá, braadando a todos:
15 – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas
ruas principaes, e atrevessavom logares escusos6, desejando cada uu de seer o primeiro; e
preguntando uus aos outros quem matava o Meestre, nom minguava7 quem responder que o matava
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o conde Joam Fernandez, per mandado da Rainha.
E per voontade de Deos todos feitos duu coraçom com talente8 de o vingar, como forom aas
portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, com espantosas palavras começarom de
dizer:
– U9 matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Teresa Amado (ed.),
Lisboa, Comunicação, 1980, pp. 96-97.

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asinha: depressa; escusar: livrar; minguava: faltava;
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prestes: pronto; quedava: deixava; talente: vontade;
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ca: porque; escusos: escondidos; u: onde.

1. De entre as hipóteses a seguir apresentadas (A ou B), seleciona a que corresponde ao título do


capítulo a que pertence o excerto transcrito. Justifica a tua opção, com base em dois elementos
do texto.
Hipótese A – Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi
Alvoro Paaez e muitas gentes com ele.
Hipótese B – Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de
Castela pôs cerco sobr’ela.

2. Explicita os argumentos utilizados por Álvaro Paes para mobilizar a população de Lisboa para a
defesa do Mestre. Apresenta, para cada um dos argumentos, uma transcrição pertinente.

3. Transcreve:

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a) a comparação que, entre as linhas 8 a 11, destaca o alvoroço e o desespero do povo face à
crise da sucessão.
b) a metáfora que, entre as linhas 17 a 19, evidencia a consciência coletiva do povo.

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