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Capítulo 11

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Meestre, e como aló foi Álvoro
Paaez e muitas gentes com ele. (Lisboa vai ser alvo de um grande alvoroço)

(Pajem grita que matam o mestre até à casa de Álvaro Pais- plano preparado pelo pajem,
Álvaro Pais e Mestre de Avis)

O page(empregado) do Meestre que estava aa porta, como (assim que) lhe


disserom que fosse pela vila segundo já era percebido (preparado), começou d’ir
rijamente (rapidamente) a galope em cima do cavalo em que estava, dizendo altas vozes,
braadando pela rua: (sensações auditivas para relatar com expressividade os
acontecimentos)

- Matom o Meestre! Matom o Meestre nos paços da rainha! Acorre (socorrei-


presente do imperativo) ao Meestre que matam! (frase impetativa)

E assi chegou a casa d’Alvoro Paaez (personagem individual) que era dali grande
espaço. As gentes que esto ouviram, saiam aa rua veer que cousa era( primeira reação
do povo- evidencia a sua curiosidade e quando souberam do que se tratava ficaram
furiosos); e começando de falar uũs com os outros, alvoraçavom-se nas
vontades(enraiveciam-se), e começovam de tomar armas cada uũ como melhor e mais
asinha (depressa) podia. Álvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa na
cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duũ cavalo que
anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele (povo), braadando a quaes
quer que acha dizendo:

- Acorramos (conjuntivo) ao Meestre, amigos (povo) apóstrofe , acorramos ao


Meestre, ca filho é del-Rei dom Pedro. (frase imperativa) – pede incentivo e colaboração
daqueles que estão na rua.

E assi braadavom el- Álvaro Pais e o Page indo pela rua.

Soarom as vozes do arroido (ruído) pela cidade ouvindo todos


braadar(sensações auditivas) que matovam o Meestre; e assi como viúva que rei nom
tinha,(comparação) e como se lhe este ficara em logo de marido, se moverom todos com
mão armada, correndo a pressa pera u (onde) deziam que se esto fazia, por lhe darem
vida e escusar morte. (o povo não deixava matar o mestre e queria evitar a sua morte)
Alvoro Paaez nom quedava (parava) d’ir pera alá, bradando a todos:

- Acorramos (P. conjuntivo) ao Meestre, amigos (-vocativo), acorramos ao


Meestre que matam sem por quê!

A gente começou de se juntar a ele- Álvaro Pais (sensações visuais), e era tanta
que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom
lugares escuros, desejando cada uũ de seer o primeiro(a chegar ao local para evitar a
morte do mestre como forma de lhe mostrar o amor que lhe têm); - e preguntando uũs
aos outros quem matava o Meestre, nom minguava quem responder que o matava o
Conde Joam Fernandez (conde andeiro), per mandado da Rainha (Leonor Teles).

Fim da parte 1- Apelo do Pajem e de Álvaro Pais, movimentação do povo ao local


onde supostamente estão a matar o mestre. Mestre está a ser assassinado no Paço Real pelo
Conde Andeiro a mando da Rainha.
Descrição e narração de acontecimentos

E per vontade de Deos (predestinação divina o mestre não é assassinado e chega a ser rei)
todos feitos duũ coraçom com talente de o vingar (todos tinham a mesma vontade) ,
como forom aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, com
espantosas palavras começarom de dizer:

- U matom o Meestre? Que é do Meestre? Quem çarrou estas portas? (– frases


imperativas e curtas que revelam o desespero e a ansiedade do povo)

Ali eram ouvidos braados de desvairadas (diversas) maneiras. Taes i havia que
certeficavom que o Meestre era morto (muitas pessoas estavam convencidas que o
mestre estava morto) , pois as portas estavom çarradas, dizendo que as
britassem(arrombassem) (porque queriam ver o mestre e vingarem-se dos assassinos)
pera entrar dentro- pleonasmo- repetição da mesma ideia por palavras ou expressões
diferentes, de modo a realça-la,e neste caso realça a ideia de contade/fúria de entrar no
paço real e vingarem-se) e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.

Deles braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços,(a
fúria era tanta que houve quem pediu lenha para pôr fogo ao Paço e matar os
assassinos) e queimar o treedor e a aleivosa. Outros se aficavom pedindo escaadas pera
sobir acima-pleonasmo, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arriodo
atam grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem determinavom neũa cousa.
E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles pera u homees e
molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha, outras tragiam
carqueija(consciência popular:envolvia homens e mulheres no alvoroço) pera acender o
fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo muitos doestos contra a
Rainha.

De cima nom minguava quem bradar que o Meestre era vivo, e o Conde Joam
Fernandez morto(plano do mestre cumprido- elimininar o conde e ter o apoio do povo);
mas isto nom queria neuũ crer, dizendo:

-Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.(o povo não acreditava que o mestre


estava vivo e o conde andeiro morto)

Entom os do Meestre(aliados do mestre) veendo tam grande alvoroço como este,


e que cada vez se acendia mais, disserom que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas
gentes, doutra guisa poderiam quebrar as portas, ou lhe poer o fogo, e entrando assi
dentro per força, nom lhe poderiam depois tolher de fazer o que quisessem.

Ali se mostrou o Meestre(o mestre mostou-se da janela), a ũa grande janela que


viinha sobre a rua onde estava Alvoro Paaez e a mais força de gente, e disse:

- Amigos (vocativo, apostrofe), apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos


graças.-predestinação divina (uso do discurso direto)

Fim da 2ªparte, deslocamento do povo ao Paço da Rainha e concentração em frente ao


Paço.

E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em crença que o Meestre era
morto, que taes havia i que aperfiavom que nom era aquele; porem conhecendo-o todos
claramente, houverom gram prazer, quando o virom, e deziam uũs contra os outros:

-Ó que mal fez! Pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a
aleivosa com ele! Creedes em Deos-(predestinação divina), ainda lhe há de viinr e alguũ
mal per ela. Oolhae e vede-pleonasmo que maldade tam grande, mandarom-no (-mestre
de avis) chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Ó aleivosa!
Já nos matou uũ senhor, e agora nos queria matar outro: leixae-a ca ainda há mal
d’acabar por estas cousas que faz.(a revolta do povo contra a rainha continua e acusam-
na de ter morto d. fernando e agora querer matar o mestre)

E sem duvida se eles entrarom dentro (-pleonasmo), nom se escusara (salvaria) a


Rainha de morte(se o povo lá entrasse nem a rainha nem os seus aliados sobreviviam), e
fora maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar. O Meestre
estava aa janela, e todos oolhavam contra ele dizendo:

-Ó senhor!(apóstrofe) Como vos quiserom matar per traiçom, beento seja Deos
que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá
mais. (ideia de predestinação divina, frase exclamativa- pedem para o mestre sair do
local)

E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo. Veendo el


estronce que neũa duvida tinha em sua segurança, deceo afundo(-pleonasmo) e
cavalgou com os seus(-aliados) acompanhado de todolos outros que era maravilha de
veer. Os quaes mui ledos arredor dele,bradavam dizendo:

Fim da 3ª parte- aclamação do mestre de avis

- que nos mandaes fazer, Senhor? Que querees que façamos?(-o povo ainda
pensava em vingança)

E el lhe respondia, aadur podendo seer ouvido, que lho gradecia muito(mestre
agradeceu mas não era preciso mais nada), mas que por estonce nom havia deles mais
mester. E assi encaminhou pera os Paaços do Almirante u pousava o Conde dom Joam
Afonso irmão da Rainha com que havia de comer( deixaram o local e houve dispersão e
vão para os pacos do almirante onde está o irmão da rainha). As donas da cidadde, pela
rua per u el la, saiam todas aas janelas com prazer dizendo altas vozes:

-Mantenha-vos Deos, senhor Beento seja Deos que vos guardou de tamanha
traiçom, qual vos tiinham bastecida!

Ca neuũ por estonce podia outra cousa cuidar.

E indo assi ataa entrada do Ressio, e o Conde viinha com todolos seus, e outros
boos da cidade que o guardavom, assi como Afons’Eanes Nogueira e Martim Afonso
Valente, e Estevam Vaasquez Filipe, Alvoro do Rego,-enumeração e outros fidalgos, e
quando vio o Meestre ir daquela guisa,( todos eram conhecedores do plano e apoiavam a
subida do mestre ao troono) foi-o abraçar com prazer e disse:

- Mantenha-vos Deos, Senhor. Sei que nos tiraste de grande cuidado,mas vós
mereciees esta honra melhor que nós. Andae, vamos logo comer.

E assi forom pera os Paaços u posava o Conde.

E estando eles por se assentar aa mesa, disserom ao Meestre como os da cidade


queriam matar o Bispo(estava do lado da rainha e dos castelhanos), e que faria bem de
lhe ir acorrer, e o Meestre quisera aló ir. (havia gente decidida a matar o bispo)

Disse estonce o Conde:

- Nom curees disso, Senhor, se o matarem, quer o matem quer nom(é indiferente
matar o bispo); ca posto que ele moira, nom minguará (faltará) outro Bispo portuguees
que vos serva melhor que ele.

Ao dito do Conde cessou o Meestre de sua boa vontade(o mestre aceitou o


conselho do conde), e o Bispo foi morto desta guisa que se segue.

Fim do capítulo:4ªa parte- dispersão e viagem até aos Paços do almirante

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