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Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Meestre, e como aló foi Álvoro
Paaez e muitas gentes com ele. (Lisboa vai ser alvo de um grande alvoroço)
(Pajem grita que matam o mestre até à casa de Álvaro Pais- plano preparado pelo pajem,
Álvaro Pais e Mestre de Avis)
E assi chegou a casa d’Alvoro Paaez (personagem individual) que era dali grande
espaço. As gentes que esto ouviram, saiam aa rua veer que cousa era( primeira reação
do povo- evidencia a sua curiosidade e quando souberam do que se tratava ficaram
furiosos); e começando de falar uũs com os outros, alvoraçavom-se nas
vontades(enraiveciam-se), e começovam de tomar armas cada uũ como melhor e mais
asinha (depressa) podia. Álvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa na
cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duũ cavalo que
anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele (povo), braadando a quaes
quer que acha dizendo:
A gente começou de se juntar a ele- Álvaro Pais (sensações visuais), e era tanta
que era estranha cousa de veer. Nom cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom
lugares escuros, desejando cada uũ de seer o primeiro(a chegar ao local para evitar a
morte do mestre como forma de lhe mostrar o amor que lhe têm); - e preguntando uũs
aos outros quem matava o Meestre, nom minguava quem responder que o matava o
Conde Joam Fernandez (conde andeiro), per mandado da Rainha (Leonor Teles).
E per vontade de Deos (predestinação divina o mestre não é assassinado e chega a ser rei)
todos feitos duũ coraçom com talente de o vingar (todos tinham a mesma vontade) ,
como forom aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, com
espantosas palavras começarom de dizer:
Ali eram ouvidos braados de desvairadas (diversas) maneiras. Taes i havia que
certeficavom que o Meestre era morto (muitas pessoas estavam convencidas que o
mestre estava morto) , pois as portas estavom çarradas, dizendo que as
britassem(arrombassem) (porque queriam ver o mestre e vingarem-se dos assassinos)
pera entrar dentro- pleonasmo- repetição da mesma ideia por palavras ou expressões
diferentes, de modo a realça-la,e neste caso realça a ideia de contade/fúria de entrar no
paço real e vingarem-se) e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
Deles braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços,(a
fúria era tanta que houve quem pediu lenha para pôr fogo ao Paço e matar os
assassinos) e queimar o treedor e a aleivosa. Outros se aficavom pedindo escaadas pera
sobir acima-pleonasmo, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arriodo
atam grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem determinavom neũa cousa.
E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles pera u homees e
molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha, outras tragiam
carqueija(consciência popular:envolvia homens e mulheres no alvoroço) pera acender o
fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo muitos doestos contra a
Rainha.
De cima nom minguava quem bradar que o Meestre era vivo, e o Conde Joam
Fernandez morto(plano do mestre cumprido- elimininar o conde e ter o apoio do povo);
mas isto nom queria neuũ crer, dizendo:
E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em crença que o Meestre era
morto, que taes havia i que aperfiavom que nom era aquele; porem conhecendo-o todos
claramente, houverom gram prazer, quando o virom, e deziam uũs contra os outros:
-Ó que mal fez! Pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a
aleivosa com ele! Creedes em Deos-(predestinação divina), ainda lhe há de viinr e alguũ
mal per ela. Oolhae e vede-pleonasmo que maldade tam grande, mandarom-no (-mestre
de avis) chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui per traiçom. Ó aleivosa!
Já nos matou uũ senhor, e agora nos queria matar outro: leixae-a ca ainda há mal
d’acabar por estas cousas que faz.(a revolta do povo contra a rainha continua e acusam-
na de ter morto d. fernando e agora querer matar o mestre)
-Ó senhor!(apóstrofe) Como vos quiserom matar per traiçom, beento seja Deos
que vos guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá
mais. (ideia de predestinação divina, frase exclamativa- pedem para o mestre sair do
local)
- que nos mandaes fazer, Senhor? Que querees que façamos?(-o povo ainda
pensava em vingança)
E el lhe respondia, aadur podendo seer ouvido, que lho gradecia muito(mestre
agradeceu mas não era preciso mais nada), mas que por estonce nom havia deles mais
mester. E assi encaminhou pera os Paaços do Almirante u pousava o Conde dom Joam
Afonso irmão da Rainha com que havia de comer( deixaram o local e houve dispersão e
vão para os pacos do almirante onde está o irmão da rainha). As donas da cidadde, pela
rua per u el la, saiam todas aas janelas com prazer dizendo altas vozes:
-Mantenha-vos Deos, senhor Beento seja Deos que vos guardou de tamanha
traiçom, qual vos tiinham bastecida!
E indo assi ataa entrada do Ressio, e o Conde viinha com todolos seus, e outros
boos da cidade que o guardavom, assi como Afons’Eanes Nogueira e Martim Afonso
Valente, e Estevam Vaasquez Filipe, Alvoro do Rego,-enumeração e outros fidalgos, e
quando vio o Meestre ir daquela guisa,( todos eram conhecedores do plano e apoiavam a
subida do mestre ao troono) foi-o abraçar com prazer e disse:
- Mantenha-vos Deos, Senhor. Sei que nos tiraste de grande cuidado,mas vós
mereciees esta honra melhor que nós. Andae, vamos logo comer.
- Nom curees disso, Senhor, se o matarem, quer o matem quer nom(é indiferente
matar o bispo); ca posto que ele moira, nom minguará (faltará) outro Bispo portuguees
que vos serva melhor que ele.