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ARTIGOS ORIGINAIS

TEMA DA ARVORE E ESQUIZOFRENIA

por ELSO ARRUDA e LIETTE V. FRANCHI

(Comunicação ao 2.0 Congresso Internacional de Psiquiatria)

Zurich 1957.

A freqüência com que os esquizofrênicos utilizam o tema da


árvore em seus desenhos e pinturas, bem como as características peculia-
res dessas produções, nos levaram a investigar mais de perto êsse grupo
de doentes através do mesmo tema. Dessa investigaçao resultou, não
só um melhor conhecimento da psicologia da pessoa esquizofrênica como
também, a convicção de que é cada vez maior a necessidade de um
perfeito entrosamento entre a psicologia e a psiquiatria clínica com
objetivos práticos de diagnóstico e de pesquisa. Aliás, êsse entrosamento
vem sendo procurado com grande afinco, ultimamente, a ponto de no
XI Congresso Internacional de Psicotécnicos (1953) vários trabalhos
importantes terem sido apresentados versando, particularmente, sôbre
a importância da pesquisa psicológica para a psiquiatria clínica. Acredi-
tamos que nossa pesquisa seja uma contribuição de real interêsse para
êsse entrosamento, a ponto de não nos parecer demasiadamente ousada
a afirmativa de que já temos em mãos um método simples e eficiente
de diagnóstico clínico-psicológico que deve ser introduzido na semio-
técnica psiquiátrica.
A análise das produções espontâneas e dos desenhos solicitados
(de acôrdo com os conhecimentos inicialmente evidenciados por K. Koch
e por nós ampliados no setor psiquiátrico) permitiu o levantamento
de um grupo de características que, pelo seu caráter objetivo, nos pare-
cem suficientemente nítidas e freqüentes para serem pràticamente utili-
zadas como elementos de um método de diagnóstico clínico-psicológico.
A partir do levantamento dêsses dados, podemos concluir (com Koch)
que a árvore é um ótimo tema para a projeção da personalidade, bem
como afirmar o mesmo com relação à personalidade esquizofrênica.
O homem mentalmente são, bem como o doente esquizofrênico, a tal
ponto com ela se identificam, que através do seu desenho podemos
inferir dados seguros sôbre sua maneira de ser, as condições de maior
ou menor comprometimento de sua personalidade, seu comportamento
perante o mundo e, até, sôbre provável atividade delirante.
Antes de descrever os dados que extraímos de nossa pesquisa,
queremos chamar a atenção para algumas observações que reputamos
importantes:
2 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

1- No grupo de doentes estudados, há um enriquecimento do mate-


rial analisável, se é facultado usar côres nos desenhos (lápis de
côr, tintas) e dada a possibilidade de desenhar o que quiserem,
desde que a composição inclua o tema da árvore.
2 - O conhecimento e a habilidade artística podem influir na apre-
sentação da produção, interferindo na projeção da personalidade
através do desenho da árvore. Nesse caso é necessário conseguir
uma maior quantidade de trabalhos do indivíduo e reportar-se a
outros elementos, tais como, o caráter irreal, o forte sombrea-
mento, os simbolismos, os dizeres, etc. (Fig. 3).
3 - Indivíduos que antes da doença nunca haviam se dedicado a ativi-
dades artístico-plásticas, passam com freqüência a se manifestar
dessa maneira e chegam mesmo a composições belíssimas, perfei-
tamente enquadráveis dentro das concepções artísticas. A doença
parece liberar certos planos da personalidade que antes jaziam
inativos, em latência, ou eram reprimidos por fatôres da vida em
sociedade, ou exagerada autocrítica (Fig. 2).
4 - Julgamos ter em mãos, não apenas um meio de diagnóstico
"a posteriori" (complementar da clínica), mas um método psico-
lógico sUlficientemente objetivo e consistente para um diagnóstico
"a priori" (anterior ao exame clínico) do transtôrno esquizo-
frênico e da repercussão do mesmo sôbre a personalidade do
indivíduo.
5 - Em alguns dos nossos casos, o diagnóstico de esquizofrenia foi feito
em primeiro lugar pelo teste da árvore, aplicado com objetivos
de seleção profissional. A clínica confirmou posteriormente os
diagnósticos (Figs. 8, 9, ll-A, ll-B e 15).

Em pesquisa anterior já havíamos feito/uma apuração prelimi-


nar relativa às características que ressaltavam do grupo de esquizo-
fênicos então estudados juntamente com doentes neuróticos, orgâni-
cos e maníaco-depressivos. Chamáramos a atenção para o fato de que
os esquizofrênicos antropomorfizam a árvore com freqüência (Fig. 5),
fato raramente observado em normais e acrescentam acessórios alta-
mente simbólicos, reveladores de seu estado d'alma. Alguns doentes
senham formas humanas cefalopódicas ou árvores com fôlhas ou raízes,
apenas. Obtivemos também um perfil da personalidade esquizofrênica
partindo de dados estatisticamente significativos: Regularidade e este-
reotilpia (79,9%) indicadores de prisão a esquemas fixos, regressão
emocional, desadaptação, rigidez, diminuição do sentido de realidade
e vida instintiva (Figs. 4, 12 e 15); presença de claro-escuro ou escure-
cimento total ou parcial da árvore (63 %), indicadoras de angústia,
indecisão, incerteza e forte influência de estados inconscientes; tronco
e base alargada (54%), indicando retardamento, dificuldades vitais,
necessidade de apóio; falta de harmonia das ramificações, galhos ou
troncos cortados, podados, arrancados (49 %) (Fig. 6), indicando desar-
monia, desadaptação, falta de confiança em si mesmo, trauma psíquico;
alteração do esquema da árvore, formas impróprias, antropomorfiza-
ção, animação, "cefalopodismo", simbolizações (33 %) reveladores de
perda da graça, sensações corporais anormais, modificações de esquema
corporal (projetivamente revelados), simbolismos inconscientes, extra-
TE~A DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 3

vagância e derreísmo (Figs. 5, 7, 11, 14 e 15). Formas que lembram os


"x-ray men" de Cunningham Dax e que cabem dentro do que nós deno-
minamos "fenômeno da transparência", foram observados com freqüên-
cia entre os esquizofrênicos estudados (Fig. 13).
Todavia, após essas investigações preliminares parciais, tendo
prosseguido no estudo, agora do grupo esquizofrênico isolado, chegamos
à conclusão de que dados ainda mais interessantes poderiam ser desta-
cados, que não só confirmavam a significância das características acima
assinaladas, como também punham em destaque outras ainda mais
interessantes. A freqüência das características (pela primeira vez, por
nós destacadas) de tal forma avultava com o desenvolvimento da pes-
quisa que chegamos à conclusão ser possível um diagnóstico da síndro-
me esquizofrênica, apenas utilizando o tema da árvore. Assim, além
daquelas características assinaladas acima, aparecem com uma notável
freqüência traços que se revelaram "patológicos" e poderão ser consi-
derados típicos do grupo de esquizofrênicos. (+) Há, no entanto, traços,
assinalados com (++) que, embora pouco freqüentes são, mesmo isola-
damente, suficientes para fazer em esquizofrenia.

TRAÇOS PATOLóGICOS CARACTERíSTICOS

1) Tronco ou galho excessivamente longo - (+) (Figs.


1 e 3) ............................................. . 14,2%
2) Tronco sinuoso e retorcido - (++) (Fig. 9) ......... . 18,5%
3) Lesões e mutilações no tronco, arrancamentos - (+)
(Fig. 2) ........................................... . 45,7%
4) Desarmonia e deformação - (+) (Figs. 2, 5, 10, 11 e 15) 58,6%
5) Linha da terra com traços mal ordenados - (+) ..... . 14,2%
6) Raízes excessivas - (++) (Fig. 14) ................ . 5,7%
7) Raizes vermiculares - (+) (Figs. 13 e 9) ............ . 20%
8) Galhos flutuantes - (+) (Fig. 13 ................... . 12,8%
9) Ramos excessivamente longos - (+) (Figs. 1 e 3) ... . 65,7%
10) Galhos retorcidos e sinuosos - (+) (Figs. 9 e 6) ..... . 25,7%
11) Galhos com deformação (grossos demais, grossos cf por-
ções finas, etc.) - (+) (Figs. 11 e 13) .............. . 64,3%
12) Galhos e ramos vermiculares - (++) (Figs. 1 e 9) 12,8%
13) Galhos angulosos (com quinas) - (++) (Fig. 14) ....
14) Lesões, mutilações e arrancamentos nos galhos - (+)
(Figs. 2 e 6) ....................................... . 84,3%
15) Galhos com espinhos longos e afilados - (++) (Figs.
1, 8 elO) ......................................... . 24,2%
16) Excesso de galhos - (+) .......................... . 21,4%
17) Ausência de copa - (+) ........................... . 15,7%
18) Ramos pequenos nas extremidades de galhos muito gros-
sos - (++) (Figs. 1 e 9) ......................... . 15,7%
19) Ramos de dimensões e formas diversas na mesma árvore
- (+) (Figs. 1 e 6) ................................ . 17%
20) Ramos ponte agudos afilados - (++) Figs. 1 e 8) ... . 5,7%
21) Fõlhas ponte agudas com ou sem nervura nítida - (+)
(Figs. 8 e 9) ...................................... . 25,7%
4 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

22) Fruto presente, isolado, mas de tamanho desproporcio-


nal- (++) ...................................... . 3%
23) Fôlhas enormes isoladas ao lado de outras pequenas
- (++) ....... '" ............................... . 7%
24) Desarmonia no todo - (+) (Figs. 1 e 9) ............. . 45%
25) Perspectiva extravagante, concepção extravagante -
(+) (Figs. 7, 10, 11 e 15) ........................... . 48,7%
26) Desobediência às leis da gravidade - (++) (Figs. 1 e 7) 17%
27) Incoerência - (+) (Figs. 7, 10, 11 e 15) ............. . 38,5%
28) Perda do esquema da árvore - (++) (Figs. 10, 11 e 15) 14,2%
29) Árvore invertida - (++) .......................... . 3%
30) Antropomorfismo, cefalopodismo, árvore com forma ani-
mal - (++) (Fig·s. 5 e 11) ......................... . 12,8%
31) Grande número de acessórios simbólicos - (+) ..... . 20%
32) Transparência - (++) (Figs. 13) .................. . 14,2%
33) Formas amebóides, pseudopódicas - (+) (Fig. 15) ... . 5,7%
34) Interrupção, interceptação - (++) ................ . 7,1%
35) Caráter fantástico e irreal - (+ +) (Figs. 5, 10, 11 e 15) 35,7%
36) Subdivisões sucessivas - (+) (Fig. 14) .............. . 60%
37) Estratificação - (++) (Figs. 1, 4 e 12) ............. . 6,5%
Finalizando, queremos salientar que além de permitir uma obje-
tiva caracterização do grupo de doentes estudados o tema da árvore
também nos serviu para estabelecer um perfil psicológico do esquizo-
frênico que confirma e esclarece a psicopatologia clínica:
1- há um afastamento da realidade; passa a valer para o doente
um mundo fantástico e irreal onde as coisas perdem as devidas
proporções, ou se invertem, ou se transformam; então suas rea-
ções apresentam-se em função dessas concepções e conseqüentes
vivências;
2- há acentuada regressão da vida afetiva; daí a agressividade osci-
lante, os impulsos, o esquematismo, a perda do juízo crítico, a
ausência de autocontrôle e o desinteresse pelas normas ético-
sociais;
3 - a angústia, a dificuldade de se relacionar com o ambiente, o igno-
rar o grupo social, a concepção do mundo que o cerca como algo
pressionante, árido, instável, contra o qual ou se lança como um
inimigo, ou é esmagado ,como um ser sem fôrças para superar tais
condições - são também evidentes. (*)

Assim, o conjunto expressa uma personalidade incoerente, discor-


dante, desarmônica e a-social.
Em seguida apresentamos desenhos de alguns dos casos estuda-
dos e sua interpretação psicológica.
(*) - Um estudo estatístico mais minucioso está sendo feito,
utilizando o material desta pesquisa.
TEMA DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 5

CASO 1 (Fig. 1)
F.: Esquizofrênico tratado.
Descrição: Duas árvores pintadas a "crayon" sôbre uma grande
fôlha de papel. Uma delas esta colocada à direita e tem um tronco
deformado, chanfrado. Além disso é desarmoniosa e estranha. Galhos
muito longos com pequenas ramificações nas pontas dos ramos. A 2. a
árvore da esquerda, que representa uma palmeira mexicana tem as
palmas em leque, dispostas ao redor de um centro de longos filetes
em forma de espinhos os quais saem da periferia das palmas.
As 2 árvores são sombreadas.
Características: Escurecimento das árvores. Base do tronco na
beira inferior do papel.
Incoerências: Galhos excessivamente longos, em desacôrdo com
os demais cruzamentos de uma árvore pelos galhos da outra.
Transparência e centripetismo.
Adição - um galho adicionado a outros galhos arqueados; galhos
pendentes. Ramificações finas nas extremidades dos galhos grossos.
Fôlhas ponteagudas.
Interpretação: Personalidade desarmônica agressiva, angustiada,
revelando além disso sinais degenerativos. Incoerência quanto ao com-
portamento social.

Fig. 1
6 ARQUlVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

CASO 2 (Fig. 2)
Kohler. Esquizofrênico.
Descrição: O enfêrmo desenhou uma paisagem de côr sombria
e triste na qual se destaca uma árvore cujo tronco está quebrado ao
meio, violentamente.
A parte do tronco que está fixa ao solo se mantém erguida por
uma forquilha; a parte arrancada está caída para o lado esquerdo
e uma ponta de galho não a deixa cair totalmente ao chão.
Características: Colorido sombrio e triste. Paisagem árida. Estra-
tificação. Tronco quebrado e arrancado, galhos caídos; galhos quebra-
dos, demonstrando arrancamento de pedaços.
Extremo dos galhos estraçalhados. Forquilha feita de galhos.
Escurecimento do céu.

Fig. 2

Interpretação: Personalidade fortemente traumatiza.d!l, .que. so-


freu as violências do ambiente, o qual perturbou seu equil1bno vl~a~.
Necessidade de apoiar-se em algo _por temor de sossobrar.. Agre~slvl­
dade contra o meio hostil. Depressao e falta de esperança. SImbolIsmo.
Observação: O próprio enfêrmo deu uma interpretação de seu
desenho que julgamos extremamente importante, motivo pelo qual a
transcrevemos ipsis ver bis:
TE~A DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 7

"Quando desenhei esta árvore estava pensando no assunto que


fracassou (plano para organizar o turismo nacional). Foi um bilhete
em branco. Houve um fracasso neste assunto. Não foi elaborado nem
divulgado. Quando pensava nisto pintei a guache esta árvore. Tive a
idéia de desenhar uma árvore quebrada porque representa um sonho
fracassado, não realizado.
O sentimento que tinha nesse momento me fêz pintar uma árvore
sêca, partida, porque hoje sou um alienado e antes não era; não posso
realizar um sonho dêstes. Escolhi a árvore porque admiro a natureza
vegetal, admiro a forma das raízes, a ramagem.~'
Para representar o sentimento de fracasso e também de ser alie-
nado fiz uma árvore sêca, partida, que nunca mais crescerá, pois sem-
pre serei um alienado.
O fundo do desenho: sem gôsto, não pensei em nada. As côres:
terra, campos verdes, a sociedade lá adiante, que eu vejo desde aqui
com horizonte, claro para ela, sociedade."
CASO 3 (Fig. 3)
N. Ch.: Esquizofrênico crônico, tratado. Desenhou, em dois dias,
a lápis, a produção seguinte:
Bosque cerrado, escuro, onde penetram alguns raios de luz. Atra-
vessa-o um caminho natural f~ ~ iiift8. ~i'4Eiaàe i't6 àeSefifte.
Arvores caídas de um lado da estrada, galhos caídos e inclinados para

Fig. 3
8 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

a esquerda. Maior ênfase da árvore da direita cujos ramos se inclinam


para a árvore da esquerda.
Características: Forte escurecimento do desenho.
Linhas fortemente traçadas.
Zonas de claridade (claro-escuro).
Galhos excessivamente longos.
Inclinação para a esquerda.
Arvore com chanfradura.
Isolamento, solidão.

Interpretação: Angústia, vIvencia de solidão, fuga do ambiente


atual, para refugiar-se no passado, como se procurasse novamente a
proteção inicial da vida. Porém, êsse apoio também parece que lhe falta.
"Ferida" na consciência (Koch).
CASO 5 (Fig. 4)

Fig.4

S. Ch.: Esquizofrênico. Neste trabalho há diversas faixas com


várias tonalidades, a saber: vermelho, verde, lilás forte, marrom, alaran-
jado e prêto, formando um fundo sôbre o qual se destacam 3 árvores
idênticas, totalmente verdes. O colorido é feito a lápis com acentuação
dos traços, que dão a impressão de infantilidade.
TEMA DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 9

Características: Repetição dos traços.


Regularidade na disposição.
Troncos grossos e longos com copas bastante pequenas.
Copas em circunferência, completamente cerradas.
Base do tronco bem próximo ao bordo inferior do papel.
Interpretação: Esta parece ser uma fase mais avançada do estado
do pacíente. Aqui a regularidade se vai acentuando e a fuga para o
aspecto geométrico se faz mais evidente. As árvores se tornam mais
estereotipadas.
CASO 5 (Fig. 5)
S. Ch.: Segundo desenho (feito a guache) do mesmo doente
da fig 4.

Fig. 5

Descrição: Igual ao anterior apresenta um caráter fantástico.


No fundo escuro destacam-se figuras fantasmagóricas cefalopódicas,
que gradualmente vão perdendo sua aparência semi-humana para ter-
minar no desenho de uma árvore, a qual se poderia considerar como
o ponto final dessa transformação. O chão esta inclinado e lembra um
pedaço de caminho. No extremo esquerdo, se aprecia uma parte mais
clara com um jôgo de côres que sugerem chamas.
10 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

Características: Caráter fantástico das figuras.


Colorido escuro e impressionante do desenho.
Cefalópodos.
Figuras semi-humanas.
Identificacão homem - árvore.
Incoerências.
Interpretação: Personalidade expressando angústia vital, Vlven-
cia de irrealidade, sentimento "de transformação e deformação do
eu" (?); incoerência intrapsíquica e onirismo, simbolismo. Modificações
do esquema corporal.
CASO 5 (Fig. 6)
S. Ch.: Outro desenho.
Descrição: Em uma fôlha grande de papel branco, o doente dese-
nhou uma árvore cujo tronco côr-de-café termina no bordo inferior
do papel, cercado por uma ilha de terra vermelha. O tronco sofre um
arrancamento à direita, continuando mais fino à esquerda - alargan-
do-se bastante e encurvando-se, finalmente, para a direita. Galhos des-
proporcionados, às vêzes mais grossos, outras vêzes mais finos, de côr
verde, destacam-se no desenho. Aparecem subdivisões sucessivas com
raminhos e fôlhas nas extremidades. Do lado esquerdo da árvore, cai
um galho de côr alaranjada, cheio de fôlhas verdes, que chega até ao
nível da terra.
Características: Desarmonia no todo. Tronco no extremo inferior
do papel. Tronco largo e desproporcional. Tronco fendido (um pedaço
arrancado) e curvo. Galhos desproporcionais, muito caídos, donde saem
outros finos. Galhos pendentes, sinuosos, em direções opostas. Ramüi-
cações nas extremidades dos galhos. Simbolismo. Incoerência.
Interpretação: Trata-se de uma personalidade pouco harmoniosa,
pouco coerente, subjetiva, sem capacidade crítica, com traços degene-
rativos e primitivismo.

CASO 5 (Fig. 7)

S. Ch.: Esquizofrênico crônico, tratado. Primeiro desenho.


Descrição: Desenho feito a guache. Representa uma árvore esque-
mática de ramos grossos cortados e desproporcionais, sôbre os quais
se encontra uma casa em posição estranha que parece ter sido lançada
ali por um furacão. A posição da casa não obedece às leis da lógica e
da gravidade, parecendo que vai cair a qualquer momento. Chama a
atenção o fato de a porta da casa estar desenhada no chão e bastante
distante da árvore, em lugar onde possivelmente estêve a casa, anterior-
mente. Ao fundo do desenho aparece um astro (Sol? Lua?) sôbre um
colorido escuro. O quadro foi feito quase que totalmente à base da côr
amarelo-forte (estilo Van Gogh).
TEMA DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 11

Fig.6
12 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

Características: Galhos podados; galhos desproporcionais.


Falta de lógica.
Caráter fantástico.
Colorido forte; côres extravagantes.
Esquematismo; simbolismo.
Interpretação: Personalidade que pauta sua visão do mundo no
irrealismo e no fantástico, ao mesmo tempo que revela incoerência,
fragmentação das atitudes do mundo. Simbolismos e onirismo que se
expressam nitidamente. Atitude de fuga e defesa.
Forte traumatismo psíquico.

Fig. '7

CASO 10 (Fig. 8)
Propositus 385 (ISOP)
Ao fazer-se a prova da árvore descobriram-se sinais patológicos
que de acôrdo com nossa experiência estão ligados à esquizofrenia.
Descrição: Primeira árvore: tronco grosso, sinuoso e alargado
na base. No centro do tronco um ôco alargado. Os galhos principais
grossos; dêles partem outros mais finos em cujas pontas estão desenha-
dos traços que dão a impressão de grandes e afiados espinhos (como
nos cáctus).
TEMA DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 13

Segunda árvore: desarmônica, o tronco fino, sombreado por com-


pleto, partindo de cada lado dois galhos muito grandes, que se bifurcam
sucessivamente. Das pontas dos ramos secundários saem grandes espi-

Fig 8
14 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

nhos. No lado esquerdo da árvore aparecem três raminhos com fôlhas,


apresentando-se em um dêles uma fôlha maior qualificada pelo Pro de
"fenômeno". Chama a atenção as fôlhas ponteagudas e a árvore em
forma de tridente (sinal de agressividade).
Características: Galhos secos desprovidos de fôlhas.
Desproporção entre as partes da árvore; incoerência.
Tronco e galhos sombreados.
Fôlhas de ponta afilada.
Imperfeita a linha de terra (feita por traços incoordenados);
galhos com espinhos; forma de tridente da árvore.
Interpretação: Personalidade que mostra sinais de desajustamen-
to e traços degenerativos, com dificuldade anormal para relacionar-se
com o ambiente. Sentimento de solidão. Tendência a fugir do mundo por
mórbida desconfiança; grande agressividade; regressão da vida afetiva;
simbolismo; atividade delirante (comprovada na entrevista psiquiátrica
posterior). Traços indicadores de sadismo.
CASO 14 (Figos. 9 e 9-A)
Wilson, N.: Recorreu ao ISOP.
Esquizofrênico (parafrenia).
Extensa atividade delirante.
Fêz o teste da árvore (2 árvores).

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Fig.9
TE~A DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 15

Fig. 9-A
Descrição: Na 1.a árvore o tronco é fino, sinuoso e sombreado.
Os galhos são finos e longos; nêles se inserem fôlhas ponteagudas.
As raízes de tipo capilar aparecem sob a linha do solo, como se a terra
fôsse transparente (Fig. 9).
16 ARQUlVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

A 2. a árvore apresenta maior desarmonia; tem o tronco forte-


mente sinuoso, chegando a formar uma curva. Grandes galhos, acen-
tuadamente arqueados se inserem diretamente no tronco; dêsses galhos
saem pequenas ramificações, sendo que um dêsses pequenos ramos está
contornado por uma alipse formando uma espécie de grande fôlha que
se destaca do resto.
Raízes capilares longas aparecem, por transparência do solo.
O tronco termina na beira do papel; há anéis em tôrno dêle e uma
nítida separação entre a base do tronco e as raízes. (Fig. 9-A).
Características: Galhos desproporcionalmente longos; contorsão
e flutuação. Arqueamento; interseção rude e direta dos galhos. Nervu-
ras das fôlhas nitidamente desenhadas. Fôlhas de pontas afiladas.
Modificação de um tipo de desenho por outro, com uma linha
de separação fortemente acentuada.
Galhos vermiformes; excesso de galhos. Estereotipia (ramos).
Deformação e simiosidade do tronco. Transparência (as raízes apare-
cem sob a terra). Falta de proporção entre as 2 árvores.
Interpretação: Trata-se de uma personalidade desarmônica (de-
sarmonia essa que já se manifesta em nível profundo) sensitiva e auto-
referente, preocupada consigo mesma. Difíceis contactos com o meio
ambiente contra o qual reage e ao qual deseja dominar. Vários dos
caracteres anteriores, segundo nossa pesquisa, são patológicos: galhos
excessivamente longos e com um arqueamento sui-generis; desarmonia
do todo; incoerências; transparência; algumas fôlhas extremamente
ponteagudas.
(CASO 30 (Figs. 10 e 11)
R. H., foi submetido a provas psicológicas três meses antes de
sofrer um ataque esquizofrênico. Buscava então orientação profissional.
Descrição: Aplicado o teste da árvore, encontramos dados bas-
tante interessantes. O primeiro desenho (feito em 27 minutos) ainda
conserva a forma de uma árvore grande que se inclina da esquerda
para a direita; sua base descança no extremo inferior do papel. Apre-
senta uma copa feita com linhas rápidas, várias vêzes remarcadas e
dando a impressão de uma folhagem agitada pelo vento furioso de um
vendaval. A copa cai sôbre o tronco que a sustenta; êste apresenta
caracteres que parecem nós de galhos cortados (fig. 10).
A segunda árvore já não é árvore. Sôbre um fundo todo raiado
e em desordem, desenhou o Pr. uma forma estranha que lembra as
costas nuas de um homem, com um braço comprido e grosso, mas muti-
lado. O modo como o desenho está colocado lembra os desenhos anatô-
micos com as massas musculares visíveis (fig. 11).

Características: Tempo de execução muito grande. Traçado repe-


tido e rebuscado. Tendência iterativa. Concepção e perspectiva do dese-
nho estranhas, estravagantes. Antropomorfismo. Incoerência. Traçados
flutuantes.
'rEMA DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 17

Interpretação: Parece tratar-se de uma pessoa intensamente de-


sorientada que se sente como se fôsse um joguete de elementos que
não pode superar. Ainda se mantém estruturado, apesar das dificulda-
des de contacto com o fundo exterior. No teste que demonstra o nível
mais profundo (2. a árvore) deixa ver claramente que há uma fuga do
pensamento (Sprunghaftigkeit), concepções estranhas de objetos que
o rodeiam, formas delirantemente vividas, completamente diversas do
normal; incapacidade de levar até o fim e em forma objetiva uma tarefa
que lhe seja imposta.

Fig. 10
18 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

Fig. 11
CASO 32 (Fig. 12)
H. L.: Esquizofrênico paranóide, crônico. Lobotomizado.
Descrição: Desenho feito a guache que mostra aglomeração de
fôlhas grandes e ponteagudas, vermelhas, de contornos verdes que fazem
pensar em uma plantação de tulipas (o doente é descendente de holan-
deses). O chão foi substituído por quadrados de diversas côres e o céu
desenhado em estratos de coloridos diversos, entre os quais sobressai
o azul. (Nota: Esta tendência a desenhar quadrados aparece nos dese-
nhos de outros doentes, em particular nos mais demenciados.)
Características: Aglomeração.
Tendência à estratificação e a formar quadrados.
Esquematismo.
Fôlhas de grande tamanho e ponteagudas.
Regularidade e estereotipia.
Interpretação: Personalidade reduzida aos modos esquemáticos
de expressão; à estereotipia e estratificação, resultantes de demencia-
ção e organicidade. Revela agressividade e atividade delirante.
Nota: Da observação clínica constam: impulsos agressivos e ativi-
dade delirante (perseguição e influência).
TE~A DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 19

Fig. 12

CASO 38 (Figs. 13 e 14)


Descrições: Indivíduo do sexo masculino, com 42 anos que pro-
curou o ISOP para fazer orientação global. O teste de Koch, por êle
realizado, foi bastante expressivo de sua situação psíquica. A primeira
figura de árvore demonstra: um tronco que se vai afinando, com base
excessivamente larga. O tronco está todo raiado, raias que se prolon-
gam até abaixo da linha do solo, dando assim a impressão de raízes
finas e de seios lenhos os "visíveis" (fig. 13).
A 2.a árvore está formada por esferas superpostas que vão dimi-
nuindo de tamanho, progressivamente. Os galhos se formam de peque-
nas circunferências de tamanho igual, colocadas de modo a formarem
ângulos e outras formas geométricas. Da esfera maior, que forma a
base da árvore, partem linhas verticais até o bordo inferior do papel,
dando a aparência de raízes (fig. 14). Interpretações e comentários ao
lado de cada desenho.
Características: Formas estranhas; ângulos formados por encon-
tros de linhas; fuga ao tema; incoerência; concepção sui-generis; pre-
sença de comentários explicativos; galhos grandes, sinuosos, arqueados,
cortados. Tronco cuneiforme, com raias. Base do tronco alargada. Raízes
visíveis abaixo da linha do solo.
Conclusões: Evidentemente se trata de um indivíduo afastado
da realidade objetiva, reagindo fora das pautas normais e que apresenta
traços paranóides. Seu conceito do mundo circundante aparece muito
alterado pela situação decorrente de seu comprometimento psíquico.

Fig. 13
TE~A DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 21

Fig. 14
CASO 47 (Fig. 15)
Pro 247 (do ISOP)
Procurou o ISOP para fazer orientação profissional. Trata-se de
jovem de 20 anos com estudos secundários completos e em quem foi

Fig. 15
TE]dA DA ÁRVORE E ESQUIZOFRENIA 23

aplicado o teste de Koch. No desenho da 2. a árvore aparece uma forma


estranha suz-generis. O primeiro desenho também é visto em uma pers-
pectiva singular.
Características: Forma estranha, sui-generis. Formações tenta-
eulares, grandes e flutuantes. Pequeno ponto central enegrecido. Exa-
gêro nas minúcias. Preocupação com o centro (mesopetismo). Incoerên-
cia. Traços "degenerativos" (fig. 15).
Interpretação: Personalidade angustiada, inquieta, insegura,
preocupada consigo mesmo, de fracas capacidade crítica e objetividade.
A execução do teste demonstra que partindo de um tema dado, o pro-
posztus se afasta para reagir de acôrdo com um mundo fantástico inte-
rior. Traços de obsessividade. Problemática sexual. Teste patológico.
O Pro necessita orientação e assistência psiquiátrica.
Entrevista psiquiátrica (posterior ao teste): Revelou: "Persona-
lidade esquizopática, derreista e autista com fortes traços compulsivos;
preocupações metafísicas e religiosas. Há indícios de esquizofrenia
incipiente. "

Les AA., apres l'application du test de Koch dans un groupe


de schizophrenes (116 arbres étudiés et l'examen des productions artis-
tiques ou non, de ces malades qui contenaient le theme ae l'arbre) sont
arrivés à des conclusions fort intéressantes qui ont permis la confir-
mation du test de Koch comme une ressource diagnostique de la mala-
die et la mise en évidence d'innombrables maniféstations de la persona-
lité schizophrénique.
La prédominance de certains méchanismes de défense et d'expres-
sio de la personnalité (la projection, la symbolization, l'agglutination,
la stylisation, l'identification et la substitution) a été objectivement
révélée.
Les schizophrenes étudiés ont anthropomorphisé l'arbre avec une
notable fréquence et l'ont accrúe, parfois, d'accessoires hautement sym-
boliques et révélateurs de leur état d'âme au moment de l'épreuve ou
de faire de la peinture. Les études de Jung ont été confirmées par les
obsérvations de l'auteur. Quelques malades déssinent des formes humai-
nes céphalopodiques ou des arbres avec feuillage et racines, seulement.
Les AA. ont obtenu aus~i un profil de la personnalité schizophré-
nique, à partir des données statistiquement significatives et révélées
par le theme de l'arbre - Régulanté et stéreotypie (79,9%) indica-
trices d'un attachement à des schêmes fixes, régression émotionnelle
désadaptation, rigidité, diminuition du sens de réalité, vie instinctive:
Présence du "chiaro-oscuro", avec obscurcissement total ou partiel de
l'arbre (63%); anxieté, indécision, incertitude et influence, tres forte
d'états inconscients. Tronc à base élargie (54%): rétardement, ditti~
24 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

cultés vitables, besoin d'appui. Manque d'harmonie des ramifications,


branches ou troncs coupés, taillés, arrachés (49%): disharmonie, désa-
daptation, manque de confiance en soi même, trauma psychique. Alté-
ration du schême de l'arbre, formes impropres, anthropomorphisation,
animation, céphalopodes, accesoires symboliques (33%): perte de grâce,
sensations corporelles anormales et le schême corporel projectivement
révélé; anthropomorphisation et formes céphalopodiques, ralliées a des
perturbations de la cénesthesie, de l'image du corps, enfin, de la per-
sonnalité psychophysique. Formes avec le phénomene de "transparence"
ou que ressemblent a des "X ray men" et a des arbres "radiographiées",
ont été observées. Apl'es ces recherches préliminaires, une autre investi-
gation a indiqué qu'il était possible la mise en évidence des certains
traits "pathologiques" propres de la schizophrénie. Une rélation de ces
traits est presentée. D'apres ces traits, il est possible, non seulement
le diagnostique "a priori" de la syndrome schizophrénique, mais aussi,
la détel'mination d'un profil psychologique qui est une vraie confirma-
tion et un éclaircissement de la psychopathologie clinique de la
schizophrénie.

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