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18/03/2022 12:02 Evento 149 - SENT1

Ainda, ressaltou o Relator que “(1) é possível a exigência


- no edital no concurso público - de avaliação psicológica quando
houver previsão legal nesse sentido; (2)  em regra, não compete ao
Poder Judiciário se intrometer no critério de correção de provas de
concurso público, sendo, contudo, lícita sua atuação para, com
lastro em prova técnica conclusiva, remediar erro da banca
avaliadora na realização de prova de forma objetiva;  (3) a
realização de novo exame  psicológico  em candidato à cargo em
concurso público fere o princípio da isonomia; e (4) é concebível o
questionamento em juízo, por meio de prova pericial, do resultado
obtido por meio da avaliação psicológica, desde que o reexame seja
restrito ao das fichas técnicas do exame primitivo,  e não do
candidato”. (Grifou-se)

Nesse feito, a leitura efetuada por este Juízo é de que não


cabe a esta Vara de Direito Militar e  nem mesmo ao profissional
nomeado, analisar o acerto ou desacerto da escolha dos testes adotados
para determinadas características, mas tão somente se eles foram
aplicados de maneira escorreita.  

Repisa-se, assim, que a escolha do perfil profissiográfico e


dos testes a serem manejados pela Banca Examinadora estão
circunscritos a discricionariedade administrativa e não podem ser
discutidas judicialmente. Subsiste, assim, a possibilidade de analisar
eventuais erros de correção da Banca Examinadora. 

Sobre o tema, verifica-se que a perita nomeada por este


Juízo identificou erros de correção nos testes elaborados:

Diante dos resultados apresentados, bem como da análise das


respostas aos quesitos das partes, constatou-se que: 

1) Todos os testes aplicados estão de acordos com as normas


estabelecidas pelo Conselho Federal de Psicologia e encontram-se
com seu parecer Favorável. 

2) Foram encontrados problemas ou erros na correção dos utilizados


aplicados no candidato em tela.

3) Não ocorreu análise conjunta e dinâmica do resultado dos testes. 

4) Existe discrepância entre o construto descrito no manual do teste


utilizado para aferir a característica Perseverança e a descrição de
tal característica constante no Perfil Profissiográfico. 

5) O Laudo entregue pela banca examinadora não atende a todos os


requisitos solicitados na Resolução CFP 06/2019 . 

6) A característica Perseverança não foi avaliada  (Evento 51 -


Grifou-se)

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No caso em apreço, é de se frisar que desde o primeiro


laudo pericial anexado aos autos, a experta frisou a existência de afronta
as  normas do Conselho Federal de Psicologia, principalmente no que
concerne à falta de análise conjunta dos testes efetuados pelo candidato. 

A perita, em diversas oportunidades, reiterou que na


atualidade  não há um teste validado pelo SATEPSI que avalie a
característica perseverança e que  as evidências de validade do teste o
são para a avaliação do construto impulsividade (Evento 51, quesito 3 e
4, fls. 12/13)

No entanto, a despeito da argumentação da profissional,


não foi apresentado uma  conclusão quanto à (in)aptidão do autor,
prevalecendo, até o laudo pericial de Evento 51, a inaptidão do
candidato, em virtude da ausência de erros de correção nos testes.

Amparando-se nessa linha de raciocínio e na ausência de


conclusão acerca da (in)aptidão do postulante, intimou-se a experta para
complementar o laudo outrora anexado ao feito e apresentar um parecer
que permitisse a este Juízo uma decisão assertiva sobre a demanda em
tela.  

Em nova manifestação, a experta dirimiu:

"Como podemos observar, o construto escolhido para avaliar a


característica Perseverança, não se atém a esta característica
unicamente como descrito no perfil profissiográfico. [...]

Em tal crivo de correção consta as características avaliadas, os testes


que as avaliaram, o resultado esperado e o resultado obtido. Não
consta em documentos entregues a esta perícia, a análise conjunta
dos resultados de acordo com a Resolução CFP 02/2016, Art. 2º: II -
à luz dos resultados de cada instrumento, proceder à análise conjunta
destes de forma dinâmica, a fim de relacioná-los à profissiografia do
cargo, às características necessárias e aos fatores restritivos e/ou
impeditivos para o desempenho do cargo. 

Orientada por esta Resolução, foram examinadas cautelosamente as


fichas primitivas e manuais dos demais testes psicológicos utilizados
para este certame, tendo em vista que submeter o candidato em tela a
uma nova avaliação psicológica é inviável e incoerente, pois fere o
princípio de isonomia.

[...] Diante do exposto, pode-se observar que de acordo com a


recorreção do teste psicológico ESAVI, para a característica
Perseverança, o candidato em tela atingiu a pontuação 13, sendo que
a pontuação solicitada se dá no intervalo de 15 a 37 pontos. Porém,
cabe novamente afirmar que o manual deste teste não permite que ele
seja utilizado para avaliar tal característica. 

Assim, o candidato consta como reprovado na característica


Perseverança analisada pelo teste ESAVI5 , quando correlacionado a
outro teste utilizado no certame, que avalia o que descreve a mesma

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característica (Perseverança), neste caso o NEO PIR 2 , o candidato


apresentou resultados condizentes com o esperado, e dentro da
dimensão solicitada pelo perfil profissiográfico. 

Sendo assim, o candidato anteriormente identificado, encontra-se


APTO .[...] (Evento 140 - grifado)

Sobre o tema, é essencial a transcrição do excerto acima,


uma vez que o mesmo permite a percepção de que o laudo está
circunscrito aos meandros definidos pelo Tema 21. No caso, a expert foi
clara em destacar que não procedeu uma nova avaliação psicológica e
utilizou apenas das fichas técnicas primitivas efetuadas pelo autor. 

O que se interpreta do laudo pericial anexado  é que não


sendo o teste condizente com a avaliação do construto, com base nas
próprias fichas técnicas primitivas e nos outros testes já efetuados pelo
candidato, é possível mensurar a contemplação ou não da característica
discutida nos autos.

Nesse ponto, é interessante esclarecer que as conclusões da


experta estão consubstanciadas na  Resolução 02/2016 do Conselho
Federal de Psicologia. Veja-se:

Art. 2º: II - à luz dos resultados de cada instrumento,


proceder à análise conjunta destes de forma dinâmica, a fim de
relacioná-los à profissiografia do cargo, às características
necessárias e aos fatores restritivos e/ou impeditivos para o
desempenho do cargo.

Com base em tal normativa, a perita concluiu seu parecer


dirimindo que ao se analisar de modo  dinâmico os testes efetuados na
ocasião do concurso, o autor está apto para prosseguir no certame. É de
se sublinhar que de nada adianta todos os testes aplicados estarem  de
acordo  com as normas estabelecidas pelo Conselho Federal de
Psicologia, se a própria aplicação dos testes contrapôs preceitos e
resoluções previstas pelo Conselho de Classe.

Sobre as conclusões exaradas pela expert, convém


salientar que o emprego de análise conjunta  dos procedimentos
avaliativos constou desde o Edital de abertura do certame. Observe-se: 

11.2. O objetivo da avaliação psicológica é identificar


aspectos psicológicos do candidato para fins de prognóstico do
desempenho das atividades relativas ao cargo de Oficial da Polícia
Militar de Santa Catarina,  através do emprego de um conjunto de
procedimentos objetivos e científicos.

Ora, sendo assim, é notável que a perícia está respaldada


nos mesmos critérios previstos no Edital e que a análise
da  expert  nomeada foi ao encontro das Normativas e Resoluções do

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Conselho Federal de Psicologia. No  caso, insta salientar que a perita


observou afronta as próprias normativas técnicas previstas pelo CFP.

Nessa toada, a manifestação anterior do Órgão (CFP) foi


derruída pelos dois laudos periciais anexados aos autos e pela clareza
nos argumentos da experta, a qual foi inequívoca ao atestar a aptidão do
autor.

Nesse sentido, já decidiu o Tribunal de Justiça


Catarinense:

APELAÇÕES CÍVEIS E REEXAME NECESSÁRIO.


CONCURSO PÚBLICO. AGENTE E ESCRIVÃO DA POLÍCIA
CIVIL. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. RECLAMO DE AMBAS
AS PARTES. EXAME PSICOLÓGICO. CANDIDATO
REPROVADO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS
OBJETIVOS PREVIAMENTE FIXADOS.
EXCEPCIONALIDADE QUE PERMITE A AVALIAÇÃO DO
TEMA PELO PODER JUDICIÁRIO. PROVA PERICIAL QUE
ATESTA A APTIDÃO.  Na linha da orientação jurisprudencial do
Superior Tribunal de Justiça, "a legalidade do exame psicotécnico
em provas de concurso público está condicionada à observância de
três pressupostos necessários: previsão legal, cientificidade e
objetividade dos critérios adotados, e possibilidade de revisão do
resultado obtido pelo candidato" (Agravo Regimental no Recurso
Especial n. 1.352.415/DF, rel. Min. Humberto Martins, j. 4-6-2013).
Com isso, sendo irregular a exclusão no certame e demonstrado que
o candidato encontrava-se habilitado para o exercício do cargo, há
de ser considerado apto para prosseguir nas demais etapas. [...]
APELOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS; REMESSA
OFICIAL CONHECIDA, COM MANUTENÇÃO DO JULGADO.
(TJSC, Apelação Cível n. 0027805-30.2011.8.24.0023, da Capital, rel.
Odson Cardoso Filho, Quarta Câmara de Direito Público, DJe. 02-08-
2018).

Portanto, sabe-se que nos termos do art. 5º, inciso XXXV,


da Constituição Federal, as decisões administrativas estão expostas ao
controle judicial, mesmo porque não são infalíveis. Elas, todavia, têm
um fator negativo em face de conclusões havidas sob o contraditório,
visto que o laudo assim elaborado e vindo de pessoa desinteressada do
resultado da causa se qualifica pela imparcialidade. Logo, mesmo que o
Juízo  não esteja adstrito ao que foi exposto pela perita que foi por ele
indicado, o natural é que se dê a ela uma força de persuasão maior.

Apesar de ser regra geral a de que não cabe ao Poder


Judiciário o reexame das decisões administrativas tomadas pela banca
examinadora de Concurso Público, caso manifesta a ilegalidade do ato
praticado por esta, impõe-se ao magistrado o  exame  da matéria, sob
pena de omissão na prestação jurisdicional.

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No caso em comento, em observância as declarações


explicitadas pelo  expert  do Juízo, em detrimento das considerações
efetuadas pela banca examinadora,  clara está
a aptidão do candidato para prosseguir no certame. 

Ante o exposto,  JULGAM-SE  PROCEDENTES  os


pedidos  formulados  por  ANTONIO MATHEUS ROCHA
MALLMANN, para se determinar: a) a anulação do ato que considerou
o autor  inapto na etapa psicológica; b)  a reclassificação
do  demandante  no certame,  observando-se os demais critérios
editalícios.

Destaca-se que o ingresso no curso de formação respectivo


depende da aprovação do candidato em todas as etapas do certame, bem
como figurar em classificação final dentro do número de vagas previstas
no Edital.

  Condena-se  a parte ré ao pagamento  dos  honorários


advocatícios arbitrados em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), nos
termos do artigo 85, § 2º e 8º do CPC. A Fazenda Pública é isenta do
pagamento de custas processuais.

EXPEÇA-SE  o alvará para o pagamento da perita. Os


dados bancários da expert constam ao Evento 30.

Intime-se o Comandante Geral, pelo  Eproc, na qualidade


de interessado.

Sentença sujeita ao reexame necessário.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Após o trânsito em julgado, arquivem-se.

Documento eletrônico assinado por JOAO BATISTA DA CUNHA OCAMPO MORE, Juiz
de Direito, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A
conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, mediante o preenchimento do código verificador
310023529389v16 e do código CRC 495cd174.

Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): JOAO BATISTA DA CUNHA OCAMPO MORE

Data e Hora: 31/1/2022, às 19:0:38

1. "Realização de novo exame psicotécnico em candidato que teve o primeiro teste anulado
por ausência de objetividade dos critérios de correção estabelecidos no edital”
2. "Súmula Vinculante 44: “Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de
candidato a cargo público”
 
5002337-85.2019.8.24.0091 310023529389
.V16

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