Você está na página 1de 7

INTRODUÇÃO:

As intoxicações, razoavelmente comuns na medicina veterinária, são classificadas como


agudas ou crônicas. A rapidez do aparecimento dos sinais clínicos e sua intensidade
determinam, em parte, as medidas profiláticas e terapêuticas. Como freqüentemente o
histórico é insuficiente e trata-se de situação de emergência, deve ser instituído um
tratamento sintomático, priorizando as medidas terapêuticas mais importantes para a
sobrevivência do animal.

De maneira geral as intoxicações agudas atacam principalmente os sistemas nervoso,


cardiovascular, digestivo (incluindo fígado) e renal. No seu tratamento, devem ser incluídas
as seguintes medidas:

• Instituir terapêutica de emergência;

• Estabelecer um diagnóstico clínico;

• Aplicar drogas que atuem como antídotos;

• Confirmar rapidamente o agente tóxico e determinar sua fonte;

• Prevenir contra eventuais conseqüências da intoxicação (profilaxia).

II. TERAPIA DE EMERGÊNCIA:

1. PREVENÇÃO DAS CONVULSÕES:

• Anestesia (ligeira) com barbitúricos de ação ultra-curta, como por exemplo o tiopental
sódico (Thionembutal, 25 mg/kg). Deve-se lembrar que os barbitúricos são depressores
respiratórios, sendo contra-indicados nas intoxicações com sintomatologia respiratória;

• Administração de diazepan (Valium, até 2,0 mg/kg), que atua como anticonvulsivante
(droga de escolha no status epilepticus), tranqüilizante e relaxante muscular;

• Glicerilguaiacolato (exclusivamente para eqüinos), diluindo-se 50 g em 500 ml de soro


glicosado e administrando-se na dose de 110 mg/kg;

• Associação de relaxante muscular (xilazina = Rompum) com diazepan.


2. MANUTENÇÃO DA RESPIRAÇÃO:

Nas intoxicações que determinam comprometimento respiratório, podem ocorrer dispnéia,


taquisfigmia e cianose. Podem ser utilizados:

• Estimulantes do centro respiratório: Cloridrato de doxapran (3-5 mg/kg/IV);

• Broncodilatadores: Aminofilina, na dose de 10 mg/kg/PO ou IV;

• Oxigenioterapia: Utilizar a 30-40%, num fluxo inicial de 10 l/min., continuando com 5


l/min. A umidificação deve ser de 40 a 60%.

• Desobstrução das vias respiratória.

3. REPOSIÇÃO HIDROELETROLÍTICA:

• Transfusão sangüínea, numa dose variável de acordo com o quadro, mas geralmente em
torno de 10-20 ml/kg;

• Expansores plasmáticos, como o Haemacel (Observação importante: Não deve ser usado em
portadores de insuficiência renal);

• Fluidoterapia, às vezes acompanhada de suplementação de bicarbonato de potássio,


principalmente quando há diarréia.

4. CORREÇÃO DA DISFUNÇÃO CARDÍACA:

Terapia de emergência cardiovascular deve ser instituída sempre que o animal apresentar
sinais gravesrelacionados a este sistema. As principais drogas utilizadas são:

• Epinefrina: É indicada na parada cardíaca, por seus efeitos cardioestimulantes e


vasopressores. A injeçãointra-cardíaca só deve ser feita em casos de extremos, pois pode
causar lacerações das coronárias e do músculo cardíaco e tamponamento por
hemopericárdio. Para cães, usa-se 0,1-0,5 ml de solução 1:1.000,diluído em 5-10 ml de salina
e administrado IV ou intracardíaco;

• Isoproterenol: Tem seu uso questionado por alguns autores, porque a vasodilatação
periférica por eleproduzida pode agravar alguns casos. Dose: diluir 1 mg em 250 ml de
glicose a 5% e administrar 0,01-0,04µg/kg/min.;

• Sulfato de atropina: Combate o bloqueio vagal e previne bradicardias severas. Dose:


0,02-0,05 mg/kg/IV ouIM;

• Gluconato de cálcio a 10%: Prolonga a contração do miocárdio. Administrar 5-10 ml


lentamente, por via IVou intracardíaca (cães);

• Propranolol: Usado principalmente nas intoxicações resultantes de mordidas de cães em


sapos, deve serevitado em pacientes asmáticos ou com outra doença das vias respiratórias.
Dose: 0,25-0,75 mg/kg/IV;

• Aminofilina: Além do efeito broncodilatador, tem também um certo estimulante do


miocárdio.

Atenção: Ventilação adequada, hidratação e equilíbrio ácido-básico são necessários para uma
funçãocardiovascular normal. A ressuscitação bem sucedida pode requerer a administração
de grandes volumes delíquidos e agentes vasopressores para restaurar o volume sangüíneo
circulante e o retorno venoso. Doses de 40-80 ml/kg de Ringer-lactato têm sido sugeridas por
alguns autores, mas estas podem predispor ou agravar edemaspulmonares. Recomenda-se
então doses de 10-20 ml/kg quando houver hipovolemia ou uma respostavasoconstrictora
incompleta a agentes vasopressores.

5. CONTROLE DA DOR:

Podem ser utilizados analgésicos como dipirona, codeina, meperidina ou morfina,


dependendo da intensidade da dor. Em situações de emergência, pode-se usar a xilazina.

6. OUTRAS MEDIDAS:

a) Controlar eventuais hemorragias,

b) Combater a hipotermia com cobertores, aquecedores ou administração de Ringer ou


enemas aquecidos

III. MÉTODOS DE DETOXICAÇÃO:

1. ELIMINAÇÃO DA FONTE DO TÓXICO:

Evitar exposição adicional,

Retirar os animais intoxicados do local (pasto, curral, canil ou outro).

Trocar utensilios, água e comida,.


Evitar que outros animais possam ter contato com secreções/excreções dos doentes, como
fezes, vómitos e outros

2, REDUÇÃO DA ABSORÇÃO DO TOXICO:

a. EMESE:

Se a ingestão do toxico foi recente, boa parte do mesmo pode ainda estar no estómago Nestes
casos, o uso de eméticos pode ser tentado naquelas espécies onde ha facilidade e segurança
na indução do vômito, ou seja, carnivoros e suinos

Deve-se lembrar que o uso de emeticos e expressamente contra indicado em casos de


ingestão de agentes corrosivos ou hidrocarbonetos voláteis e outros produtos de destilação de
petróleo, pacientes com alterações da consciencia e toxicos que podem causar convulsões.

b. LAVAGEM GÁSTRICA:

Em grandes animais, devido às suas particularidades anatômicas, as lavagens gástricas têm


pouco ou nenhum efeito. Sua utilização fica, portanto, restrita quase que exclusivamente aos
carnívoros. Para sua realização, as seguintes normas devem ser seguidas:

Se o animal estiver inconsciente ou anestesiado, fazer entubação endotraqueal para prevenir


aspiração de conteúdo gástrico e certificar-se que a sonda está corretamente inserida no
estômago (animais inconscientes perdem os reflexos protetores da traquéia),

Antes da lavagem, sedar o animal (exceto, obviamente, aqueles que já têm alterações de
consciência);

. Utilizar uma sonda lubrificada de maior calibre possivel, para evitar a obstrução por
particulas do conteúdo gastrico.

Manter o animal com a extremidade anterior mais baixa que a região abdominal;

Introduzir 10 ml/kg de água filtrada ou solução fisiológica mornos e retirar em seguida,


repetindo-se várias vezes até que o líquido saia claro (minimo de 10-15 lavagens),

Fazer a última lavagem com uma solução de carvão ativado (1 g de carvão para 5-10 ml de
água), na dose de 2-8 ml/kg.
c. TRANSFORMAÇÃO DO TOXICO EM FORMA INABSORVIVEL:

A transformação em forma inabsorvivel evita que eventuais restos do tóxico possam ser
absorvidos pelo trato digestivo. Podem ser usados os seguintes métodos:

• Complexação: Consiste na formação de um precipitado ou complexo insolúvel do toxico.


Dentre as várias drogas utilizadas, pode-se citar:

Sulfatos de chumbo, bário ou magnésio;

Ion cálcio, indicado na complexação de ánions como oxalatos ou taninos

◆ Agentes quelantes (p. ex. EDTA e penicilamida), que formam complexos com metais
pesados.

Na falta de outras drogas, pode-se usar a água albuminosa constituida por 4 claras de ovo
batidas em 1 litro de agua.

Ionização: Altera-se o pH do tóxico, evitando sua absorção pela membrana Dependendo do


agente. promove-se uma alcalinização ou acidificação do conteúdo digestivo

Adsorção: Constitui um processo de captação fisica das moléculas do tóxico que,


incorporadas a um carreador não absorvível, são eliminadas sem serem absorvidas do trato
intestinal. O mais eficiente e barato adsorvente é o carvão ativado.

Observação: Nas emergências, pode ser usado um antídoto "caseiro", formulado à base de 2
partes de pão torrado (queimado) e pulverizado, 1 parte de leite de magnésia e 1 parte de chá
forte.

d. CATÁRTICOS:

O uso de catárticos é indicado para se acelerar o processo de eliminação do restante do tóxico


que eventualmente permaneça no trato gastrointestinal. Alguns cuidados devem ser seguidos
no uso destas drogas:

De maneira geral, usa-se um catártico salino ou um laxante emoliente (óleo mineral);

O uso de catárticos imitantes é desaconselhado naqueles casos onde o tóxico pode ter
provocado lesões na mucosa gastroentérica. Nestes casos, preferir sempre o óleo mineral;

Os catárticos salinos são especialmente indicados em intoxicações por glicosídeos


cianogênicos;

Em ruminantes, dependendo da natureza do tóxico, condições da exposição e valor do


animal, a rumenotomia pode ser a melhor indicação, pois o esvaziamento completo do rúmen
é muito difícil de ser obtido através de catárticos.

e. REDUÇÃO DA ABSORÇÃO PELA PELE:

Nas intoxicações onde o agente é aplicado pela via cutânea (p. ex ectoparasiticidas), banhos
copiosos e corte de pelo dos animais podem evitar que haja continuidade no processo de
absorção do tóxico.

f. ENEMAS:

Os enemas podem ser úteis na eliminação de resíduos tóxicos da porção final do trato
gastrointestinal.

3. INATIVAÇÃO E ELIMINAÇÃO DE TÓXICOS ABSORVIDOS:

A terapia com antídotos visa anular os efeitos do tóxico já absorvido. Os mecanismos de ação
são variáveis:

O antidoto pode se complexar com o tóxico, tomando o inerte. Ex. Metais pesados formam
quelatos com o EDTA e o arsênico se complexa com o dimercaprol,

A transformação metabólica do tóxico é acelerada pelo antídoto. Ex: Os íons nitrito e


tiossulfato se unem ao ácido cianidrico para formar a cianometaemoglobina e o tiocianato. O
antídoto bloqueia a formação de um metabólito tóxico a partir de um precursor menos tóxico,

O antídoto acelera a excreção do tóxico. Ex: O íon sulfato acelera a eliminação do excesso de
cobre em ruminantes;

O antídoto compete com o tóxico por receptores essenciais. Ex: A vitamina K compete com
os cumarínicos pelos receptores que interferem na formação do complexo protrombina. Neste
caso, o antídoto é classificado como fisiológico ou competitivo, pois antagoniza o tóxico sem
ficar em contato com ele;

Os receptores responsáveis pelo efeito tóxico são bloqueados pelo antídoto. Ex.: Efeito
antimuscarínico da atropina frente aos inibidores das colinesterases;
O antídoto pode restaurar as funções normais e reparar ou superar o efeito do tóxico. Ex.:
Azul de metileno na correção da metaemoglobina.

Os antídotos empregados nas principais intoxicações que ocorrem em medicina veterinária


são:Ácidos, Óxido de magnésio,Álcalis, Ácido acético, Alcalóides, Permanganato de
potássio, Uréia, Ácido acético, О Arsênico, Dimercaprol, tiossulfato de sódio,
Barbitúricos,Doxapram, anfetaminas,Carbamatos,Atropina, Organofosforados, Atropina,
Organoclorados, Pentobarbital, Cobre, Molibdênio, ferroprussiato, Cumarínicos, Vitamina K,
Ácido cianidrico, Nitrito e tiossulfato de sódio, Chumbo, EDTA cálcico e penicilamina,
Mercúrio, Nitratos/Nitritos, Dimercaprol e tiossulfato de sódio, Azul de metileno, ácido
ascórbico, Estricnina, Benzodiazepínicos

4. ELIMINAÇÃO DO TÓXICO JÁ ABSORVIDO

O aumento da eliminação do tóxico já absorvido pode ser obtido através dos seguintes
recursos:

Aumento da diurese, através de diuréticos osmóticos (manitol) ou de alça (furosemida); •


Mudança do pH da urina: acidificação com cloreto de amônio para tóxicos ácidos e
alcalinização com bicarbonato de sódio para os básicos;

• Diálise peritoneal.

Você também pode gostar