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DOI: 10.1590/1413-81232021269.2.

31192019 3409

Desigualdades regionais e o papel dos recursos federais no SUS:

POLÍTICA DE SAÚDE, IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS HEALTH POLICY, IMPLEMENTATION OF PRACTICES


fatores políticos condicionam a alocação de recursos?

Regional inequalities and the role of federal resources in the SUS:


do political factors affect the allocation of funds?

Gregory dos Passos Carvalho (http://orcid.org/0000-0003-3173-9732) 1

Abstract The research problem in this paper is Resumo O presente trabalho apresenta como
a discussion of the political factors affecting the problema de pesquisa a discussão de fatores po-
allocation of federal resources in the SUS (Uni- líticos enquanto condicionantes na alocação de
fied Health System) and its effects on regional recursos federais no SUS e seus efeitos nas desi-
inequalities in Brazil. The main objective was to gualdades regionais. Tem como objetivo princi-
explore the influence of political factors as criteria pal explorar a interveniência de fatores políticos
for the distribution of federal funds, considering como critérios na distribuição de recursos federais,
the regional inequalities of the country. A mixed considerando as desigualdades regionais no país.
method was used by collecting quantitative data Utilizou-se método misto, por meio de coleta de
to study the allocation of resources for each unit dados quantitativos para se estudar a alocação dos
of the Federation, from 2003 to 2017, in search of recursos para as unidades da federação entre 2003
outliers, which require more in-depth explanation e 2017, em busca de casos emblemáticos (outliers)
based on qualitative research methods. The fuzzy- que demandem explicações mais profundas com
set QCA software was applied in the qualitative base em métodos qualitativos. Aplicou-se o méto-
research phase for identification of technical and do fuzzy-set QCA na etapa qualitativa de pesqui-
political conditions, where required and/or suf- sa para identificação de condições técnicas e polí-
ficient, for an atypical distribution of resourc- ticas, enquanto necessárias e/ou suficientes, para
es from one year to another. The quantitative uma distribuição atípica de recursos de um ano
analysis demonstrated the decrease of regional para o outro. Como resultado, a análise quanti-
inequalities in allocation of resources to States in tativa demonstrou a diminuição das desigualda-
the North and Northeast. However, when study- des regionais na alocação de recursos de média e
ing the constraints of the distribution of the funds alta complexidade para estados das regiões Norte
for the States of these regions, qualitative analy- e Nordeste. Porém, ao estudar as condicionantes
sis demonstrated the influence of political factors da distribuição dos recursos para os estados dessas
on the allocation of resources, rather than purely regiões, a análise qualitativa demonstrou a influ-
technical factors. ência de fatores políticos, e não somente fatores
Key words Political factors, Resource allocation técnicos.
1
Instituto de Ciência
Política, Universidade de in health, Political science, Data analysis, Qual- Palavras-chave Fatores políticos, Recursos finan-
Brasília. Prédio IPOL/IREL itative comparative analysis ceiros em saúde, Ciência política, Análise de da-
- IPOL, UNB Área 1. 70904- dos, Análise qualitativa comparativa
970. Brasília DF Brasil.
gcarvalho.pol@gmail.com
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Carvalho GP

Introdução técnicas de estatística descritiva, será avaliado o


padrão da distribuição de recursos ao longo de
O presente trabalho traz à tona o debate acerca da 15 anos (2003 a 2017), “clusterizando”as UFs
possibilidade de fatores políticos serem critérios conforme elas recebam mais ou menos recursos
para distribuição dos recursos federais a estados federais, além de avaliar avariação percentual
e municípios no Sistema Único de Saúde (SUS). de um ano para o outro para a identificação de
Recentemente, um estudo sobre transferên- eventuais outliers. Observando-se a identificação
cias de recursos no SUS identificou alinhamento de outliers, esses serão mais bem estudados por
partidário entre prefeitos e o presidente da Repú- meio de análise comparada qualitativa, especifi-
blica como fator estatisticamente significante na camente com o método fuzzy-setQCA, que pos-
alocação de recursos para municípios, indicando sibilita a identificação de condições necessárias e/
que a distribuição de recursos do SUS possa ser ou suficientes para explicação de um fenômeno
explicada por fatores políticos1. Porém, para a li- em estudo. Em suma, os achados a partir dos mé-
teratura especializada em transferências intergo- todos quantitativos apontarão os casos que de-
vernamentais, os critérios de partilha dos recur- mandarão análises mais profundas com base em
sos do SUS estruturados a partir dos anos 1990 métodos qualitativos.
colocariam a saúde em situação distinta do que A segunda e próxima seção apresentarão a
ocorre nas transferências voluntárias da união discussão teórica em torno do tema transferên-
(TVUs) – essas sim possuindo um considerável cias intergovernamentais no Brasil, consideran-
componente político na sua alocação2,3, em que do a literatura da ciência política e também as
emergem a influência de fatores vinculados ao discussões específicas da saúde. A terceira seção
presidencialismo de coalizão e às eleições. apresentará as considerações metodológicas ge-
Em decorrência dessa distinção, praticamen- rais. Uma quarta seção realizará a análise quan-
te não há discussão acerca de fatores políticos in- titativa e discutirá os seus resultados. A quinta
fluenciarem na alocação de recursos do SUS. Po- seção, a partir dos dados extraídos da primeira
rém, deve-se destacar que a literatura no campo análise, aplicará o método qualitativo e então dis-
da saúde indica que os critérios de distribuição cutirá os seus achados. Por fim, uma sexta seção
de recursos previstos nos marcos legais do SUS, realizará um balanço geral dos resultados iden-
que contribuiriam para diminuição das desi- tificados.
gualdades regionais e maior transparência, ainda
não foram efetivamente implementados, seja por Discussões sobre transferências
motivações operacionais ou mesmo por falta de intergovernamentais no Brasil e na saúde
vontade política4.
Diante dessas divergências e tomando por Quando se estuda as TVUs, grupo em que
base os achados de efeitos políticos na alocação as transferências legais do SUS não se enqua-
de recursos do SUS1 e a ausência de aplicação dos dram, artigos que partem de referenciais teó-
critérios dispostos nos marcos legais4, pode-se re- ricos da ciência política discutem quais fatores
considerar a distinção entre as TVUs e as transfe- políticos estão associados à alocação de recursos
rências do SUS, tema esse ainda incipiente e que federais para os demais entes da federação2,3,5,6.
pode ser mais bem estudado. Identificam-se a distribuição de recursos fede-
Dito isso, este trabalho apresenta como pro- rais prevalente em anos eleitorais, indicando-o
blema de pesquisa a discussão de fatores po- como recurso de estratégia eleitoral, e também
líticos enquanto condicionantes na alocação a relação entre número de parlamentares aliados
de recursos federais no SUS e seus efeitos nas do governo federal na bancada estadual e uma
desigualdades regionais. Assim, tem-se como maior chance de se obter recursos2. Identifica-
objetivo principal explorar a interveniência de se também como significante o alinhamento de
fatores políticos como critérios na distribuição prefeitos com o partido do presidente3. Outro fa-
de recursos federais no SUS, considerando as tor político identificado é a relação com eleições
desigualdades regionais no país. Em síntese, será municipais5.
realizada a aplicação de método misto, tendo Essas análises possuem um olhar centrado
como objeto de análise a alocação dos recursos nas TVUs. Outra publicação, ao estudar valores
do bloco da média e alta complexidade em saúde, atípicos no total de todos os recursos correntes
dada a representatividade desse grupo de ações e por habitante transferidos entre 1985 e 2004 (e
serviços no total dos recursos do SUS transferi- não somente TVUs), também conclui que crité-
dos para as unidadesda federação4. Por meio de rios políticos se sobrepõem a critérios de equida-
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de, observando-se o efeito prevalente de bancada residente, não haveria grandes distorções12, e em
estadual aliada do governo federal frente a variá- outros casos haveria uma queda na desigualdade
veis de redução das desigualdades regionais6. de distribuição de recursos entre municípios, in-
Por fim, um outro estudo, que observa es- clusive com queda do coeficiente de Gini, especi-
pecificamente municípios e as transferências do ficamente nos recursos do PAB13.
SUS, identifica como significante o alinhamento Em complemento, deve-se se questionar a
partidário entre prefeito e presidente da Repú- real capacidade de o Ministério da Saúde dimi-
blica, além de considerável relação entre receita nuir as desigualdades regionais, especialmente
municipal e maior volume de recursos federais em um contexto em que as ações de MAC são
transferidos, apontando um efeito não desejável dependentes da existência de prestadores pri-
no que se refere à redução de desigualdades re- vados, esses em geral concentrados em municí-
gionais1. pios com renda mais elevada14. Nesse contexto,
Nesse ponto, observando-se especificamente a alocação de recursos de MAC está relacionada
a saúde, há um conjunto de temas a ser consi- à série histórica do gasto em serviços ambulato-
derado. Inicialmente, cabe destacar a discussão riais e hospitalares e, mesmo com os mecanismos
de redução das desigualdades regionais que se regulares fundo a fundo, reproduz as condições
relaciona a aspectos das relações federativas e da do passado, privilegiando a capacidade de oferta
coordenação de políticas públicas em contextos de serviços e não atacando as desigualdades, in-
de descentralização política. Em teoria, nos pro- clusive não havendo espaço para regulamentação
cessos de descentralização política a coordenação do artigo 17 da Lei Complementar nº 141/2012,
federativa surge como relevante na expectativa que estabelece critérios mais equitativos de alo-
de se garantir a redução de inequidades e de- cação de recursos, com foco nas necessidades de
sigualdades regionais, destacando-se o uso de saúde15.
instrumentos como as transferências intergover- Destaca-se que a alocação de recursos con-
namentais7. A princípio, a redistribuição de re- forme a legislação federal não vem sendo cum-
cursos financeiros federais poderia servir ao pro- prida desde os anos 1990 quando se observa a
pósito de equalizar desequilíbrios da federação Lei nº 8.080/1990, que já teria apontado critérios
brasileira, sejam eles verticais ou horizontais8. para alocação equitativa, e a Lei nº 8.142/1990,
Para exemplificar, teria ocorrido um conjun- que prevê a distribuição per capita4. Haveria na
to de avanços na redução das desigualdades re- prática um conjunto de dificuldades para se ope-
gionais no SUS no início dos anos 2000, em que racionalizar as bases legais do SUS, como ques-
a distribuição mais equitativa de recursos estava tões operacionais, falta de priorização ou mesmo
no centro das estratégias de financiamento utili- vontade política12. Outro impeditivo seria a au-
zadas pelo Ministério da Saúde9. Os avanços na sência de recursos adicionais para que uma even-
redistribuição de recursos entre estados, obser- tual redistribuição possa ser realizada sem perda
vando valores per capita, teriam ocorrido tanto financeira para nenhum ente federado¹². Haveria
no piso de atenção básica (PAB) quanto nas ações também limitações considerando-se o contexto
e serviços de média e alta complexidade (MAC) de disparidades socioeconômicas relevantes no
– essa última corresponde a quase 70% do total país, que impactaria a possibilidade de prestação
dos recursos federais transferidos4,10. De fato, ao dos serviços de saúde em determinadas localida-
observar os dados apresentados, constata-se uma des16.
considerável variação positiva na alocação de re- Nesse cenário, diversos critérios, definidos
cursos de MAC para os estados antes menos fa- por portarias do Ministério da Saúde, são utili-
vorecidos, ainda que estados das regiões Norte e zados para as transferências do SUS, no vácuo
Nordeste figurem com os menores per capitas9. do que é disposto em lei, e essa enormidade de
Entretanto, é preciso destacar que não há regras tornaria inclusive o acompanhamento e
consenso sobre a redução das desigualdades, e a compreensão dos repasses uma tarefa comple-
uma publicação sistematiza amplamente a diver- xa17. Em consulta às normativas vigentes, quase
gência de entendimentos acadêmicos relacionada 1.200 artigos estabelecem incentivos e condicio-
à alocação de recursos no SUS8. Como exemplo, nam os repasses de recursos às estratégias defi-
a depender do período e dos recursos estudados, nidas nacionalmente18. O elevado arcabouço
tem publicação que indica maior necessidade de normativo levaria também a contradições, onde
se estabelecer uma alocação mais equitativa11. Por convivem incentivos explícitos que buscam uma
outro lado, quando se observa recursos por re- maior eficiência alocativa e produtiva e a redu-
gião geográfica comparativamente à população ção de desigualdades, mas também incentivos
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implícitos que contradizem esses objetivos, per- aconselhável na tradição quantitativa23, sendo
petuando desigualdades, especificamente na mais recomendada as técnicas qualitativas22.
MAC14,19. É nesse contexto que, inesperadamente, Dito isso, e considerando como problema de
nas palavras dos autores do artigo identificado, pesquisa a discussão de fatores políticos enquanto
fatores políticos poderiam explicar a alocação de condicionantes na alocação de recursos federais
recursos no SUS – notadamente, o alinhamento no SUS e seus efeitos nas desigualdades regionais,
partidário entre Presidência da República e pre- as questões deste artigo são: quais fatores (técni-
feituras1. Nesse tema, é preciso considerar aspec- cos e/ou políticos) são condições necessárias e/ou
tos do modelo presidencialista multipartidário suficientes para a alocação atípica de recursos no
brasileiro, em que a necessidade de se construir SUS para uma ou mais UFs? Fatores políticos po-
apoio político é exercida considerando diversos dem ser considerados como condições necessá-
instrumentos: alocação de recursos financeiros, rias e/ou suficientes? Há interação entre diversos
estabelecimento de acordos sobre políticas públi- fatores, sejam eles políticos ou técnicos?
cas e, mais recentemente, discussões relacionadas A identificação de casos atípicos será reali-
à nomeação para cargos públicos com o objetivo zada por meio de análises quantitativas, consi-
de viabilizar direcionamento de recursos para re- derando os dados do Fundo Nacional de Saúde
dutos políticos de um partido ou de um político (FNS), montando um banco com o total de re-
em específico por meio do controle de poucos passes realizados para cada uma das 27 Unidades
cargos estratégicos20. Adiciona-se nessa discussão da Federação (UF) ao longo de 15 anos (2003 a
a noção de que muitas das decisões políticas são 2017) e observando-se especificamente os repas-
tomadas não pelo ministério temático, mas no ses associados ao chamado bloco da média e alta
chamado núcleo da Presidência da República20. complexidade, por se tratar do maior volume
Feitas essas considerações, a discussão aqui de recursos repassados aos estados e municípios
proposta de estudar os fatores que condicionam (quase 70%) e por não ter tido em sua história a
a alocação de recursos do SUS demanda uma implementação direta de critérios populacionais
agenda robusta de pesquisa que possa compre- ou ponderados por condições socioeconômicas,
ender a presença de fatores políticos permeando como é o caso do PAB. Não serão considerados
essa distribuição. os repasses de MAC advindos de emendas parla-
mentares (que a partir de 2015 puderam comple-
mentar os recursos federais de MAC de estados e
Aspectos metodológicos municípios).
Para melhor compreensão da alocação de
Quanto aos aspectos metodológicos, o presente recursos em MAC ao longo dos anos serão reali-
trabalho optou por realizar uma combinação de zadas duas análises no software R24: clusterização
métodos do tipo explicação sequencial²¹. A ideia dos casos e identificação de casos outliers.
central é, a partir de uma análise quantitativa Em suma, para cada ano os valores de repas-
inicial, identificar casos atípicos no recebimento ses serão corrigidos com o IPCA, considerando-
de recursos federais. Feito isso, tentará identificar se o ano de 2017. A partir daí, será calculado o
possíveis condições necessárias e suficientes para per capita da distribuição de recursos para cada
esse fenômeno, considerando técnicas qualitati- uma das 27 unidades da federação, dividindo-se
vas. o valor total de repasses do MAC pela população
A opção de dedicar parte desse estudo a uma IBGE de cada UF em cada ano em questão.
análise mais específica de outliers no recebimento Em seguida será realizada uma análise com
de recursos emerge da necessidade de se reconsi- base no método k-means de clusterização dos
derar a distinção entre as TVUs e as transferên- casos, ano a ano, separando-os em três grupos:
cias do SUS, indicando-se uma análise explorató- per capita mais baixo, per capita mais elevado
ria acerca de eventuais condicionantes políticos e per capita intermediário. Isso ajuda a identi-
na alocação de recursos do SUS. O uso de casos ficar eventuais UFs que possuem um per capita
atípicos é adequado para a realização de análises mais elevado ao longo dos 15 anos, outros que
exploratórias e construção de teorias, observan- possuem per capita mais baixo e também aqueles
do-se o que se chama de tipos ideais, que inclusi- que possuem oscilação ano a ano, contribuindo
ve ajudam a refinar e testar modelos estatísticos para observar as desigualdades no país ao longo
futuros22. Não serão utilizadas técnicas quantita- do período estudado.
tivas para análise de causas de situações atípicas Posteriormente, será calculada a diferença em
por entender que essa não é uma escolha muito termos percentuais da variação do per capita do
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MAC de cada estado de um ano para o outro. As- e “1”, oferecendo uma vantagem de enquadra-
sim, por meio de técnicas de estatística descritiva, mento dos casos às condições, conforme graus
será avaliado o padrão da distribuição de casos de pertencimento (mais próximo de “1” ou mais
(variação percentual do per capita do MAC de próximo de “0”), chamado de fuzzy-set QCA25.26.
um ano para o outro) e identificação de eventuais Com isso, permite-se descrição e análise de
outliers em cada ano separadamente, observando relações lógicas embutidas em tabelas verdade,
todas as UFs por meio de gráfico boxplot. Assim, em que ferramentas set-theoretic (teoria de con-
ao final desse processo, tem-se a identificação de juntos) permitem avaliar relações entre condi-
outliers, que seriam UFs que tiveram variação do ções e resultados sob a ótica de necessidade e su-
per capita do MAC de um ano para o outro fora ficiência22. Nesse tipo de análise pode surgir, por
do padrão de cada ano. exemplo, uma condição que isoladamente não é
Após esse exercício de natureza quantitativa, suficiente para explicar um fenômeno mas que,
será realizada a análise qualitativa desses dados, numa combinação de condições, é parte necessá-
observando-se os casos outliers para identificar ria para que essa combinação seja suficiente – o
fatores técnicos e/ou políticos que expliquem que se chama de “INUS condition”22,26.
o aumento atípico no recebimento de recursos. Na análise QCA as condições (variáveis expli-
Entre as possibilidades metodológicas de natu- cativas) serão trabalhadas para cada UF e ano de
reza qualitativa, entende-se que a técnica quali- análise, conforme o Quadro 1, que sistematiza a
tative comparative analysis (QCA), mais especi- condição, o seu indicador, como ele será visuali-
ficamente o seu desdobramento fuzzy-set QCA, zado nos resultados da análise, a referência teóri-
adequa-se bem aos propósitos e à versatilidade ca e a sua operacionalização.
exigida neste estudo. No que se refere ao resultado estudado (variá-
No debate metodológico da ciência política, vel dependente), esse será trabalhado de maneira
pode-se atribuir aos métodos qualitativos uma dicotômica, em que 1 corresponde aos casos que
orientação matemática implícita, que envolve a se enquadrem como outliers e 0 corresponde aos
análise de necessidade e suficiência de condições casos que não forem enquadrados como outliers.
para um determinado fenômeno em estudo, em Conforme a lógica de análise do método fuz-
que a técnica QCA retrata mais evidentemente zy-set QCA (teoria dos conjuntos), analisam-se:
esses aspectos matemáticos22. Trata-se de uma a) condições causais compartilhadas por casos
técnica versátil, desenvolvida inicialmente para com o mesmo resultado, ajudando a avaliar con-
aplicações com número de casos pequeno e mé- dições necessárias (aquelas que são requisitos ou
dio (entre 15 e 50 casos)25. Com a evolução do indispensáveis para que determinado resultado
método, o mesmo pode ser aplicado para um nú- aconteça); b) casos com as mesmas condições
mero grande de casos26. Trata-se, ainda, de uma causais, observando em que nível eles compar-
técnica exploratória/interpretativa, questões es- tilham o mesmo resultado, o que ajuda a avaliar
sas que refletem a lógica e o espírito da pesqui- condições suficientes (aquelas que asseguram ou
sa qualitativa26 e que se relaciona aos objetivos geralmente levam a determinado resultado).
e perspectivas deste trabalho. Sua aplicação será Existe um conjunto de recomendações para
desenvolvida também por meio do software R27. a realização das análises de necessidade e sufici-
Cabe esclarecer que, diferentemente das técni- ência de condições que serão consideradas nesse
cas quantitativas, a questão-chave do QCA não é o trabalho29,30. Cabe registrar que uma condição,
quão forte é uma variável, mas sim como diferen- ou mesmo uma combinação de condições (pre-
tes condições isoladamente ou combinadamente ceito de complexidade causal), só será conside-
explicam o fenômeno em estudo, fazendo emergir rada suficiente quando a sua associação com o
aspectos de multiplicidade e complexidade cau- enquadramento outlier – consistência da relação
sais26. De modo complementar, o método permite – assumir valor maior ou igual a 0,75 (em uma
qualificar cada caso em estudo e, considerando a escala de 0,0 a 1,0). Isto é, ao observar casos sob
combinação de condições, obtém-se um conheci- a mesma condição, no mínimo três quartos dos
mento mais aprofundado dos casos estudados26 – casos deverão ser outliers para que ela seja consi-
aspectos típicos das pesquisas qualitativas22. derada suficiente.
Para viabilizar esse tipo de análise, o método Para análise de necessidade, o valor de consis-
QCA trabalha tanto com lógica binária, para va- tência deve ser mais rígido e será considerado o
lorar cada condição analisada, isto é, as condições valor 1,0. Isso significa dizer que, para uma con-
assumem valores “0” ou “1” de maneira dicotô- dição ser considerada necessária, todos os casos
mica, quanto com valores de associação entre “0” outliers devem possuir essa condição. Pondera-se
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Quadro 1. Condições (variáveis explicativas) consideradas na análise fuzzy-set/QCA


Condição Indicador/fonte Interpretação Referências Operacionalização
1. Condição Taxa de mortalidade infantil CONDSAU (taxa Maior taxa de Para as condições 1, 2, 3, 4
de saúde (menores de 1 ano) por mais elevada) mortalidade infantil e 6, o valor da taxa/número
(fator 1.000 nascidos vivos no ano implicaria receber absoluto/porcentagem de
técnico) anterior. Fonte: PROADESS/ condsau (taxa mais mais recursos1 cada UF, para cada ano, será
Fiocruz. baixa) agregado ao das demais UFs
2. Economia Renda média domiciliar per ECON (valor mais Maior renda estudadas em quatro clusters,
(fator capita no ano anterior. Fonte: elevado) implicaria em receber a partir da técnica k-means
técnico) PROADESS/Fiocruz. mais recursos5 em software R: i) valores
econ (valor mais mais elevados; ii) valores
baixo) intermediários a elevado;
3. Percentagem do gasto OFERT (valor mais Maior capacidade iii) valores intermediários
Capacidade público estadual em saúde elevado) de gasto com receita a baixos; e iv) valores mais
de oferta em relação à soma de gasto própria implicaria baixos. Em seguida, os casos
(fator total (recursos federais e ofert (valor mais receber mais serão calibrados em escala
técnico) locais) no ano anterior. Fonte: baixo) recursos1,4 de 0,0 a 1,0, sendo que os
Elaboração do autor a partir agregados aos dois extremos
do PROADESS/Fiocruz (i e iv) assumirão valor
4. População Percentual da população não POPSUS (valor Maior população de 0,95 a 10, e .00 a 0,05,
SUS- coberta por planos e seguros mais elevado) SUS dependente respectivamente. Os demais
dependente de assistência suplementar à implicaria receber casos serão distribuídos entre
(fator saúde no ano anterior. Fonte: popsus (valor mais mais recursos 12 0,05 e 0,95.
técnico) Elaboração do autor a partir baixo) Assume-se que o valor do
do PROADESS/Fiocruz. ano anterior repercutirá na
alocação do ano seguinte. Ex.:
5. Histórico UF fazer parte de grupo de HISTOR (condição Menor volume de
taxa de mortalidade infantil
de MAC per UFs com menor MAC per presente) MAC per capita
2016 será utilizada para se
capita capita no ano anterior. Fonte: no ano anterior
avaliar o efeito da condição
(fator FNS. histor (condição implicaria receber
de saúde na alocação de
técnico) ausente) mais recursos9
recursos em 2017.
6. Votação Diferença percentual de votos VOT (diferença Melhor votação do
presidencial válidos entre o vencedor mais elevada) candidato vencedor
Para as condições 5, 7, 8, 9
(fator e o segundo colocado nas na eleição presidencial
e 10, a operacionalização se
político) eleições anteriores. Fonte: vot (diferença mais anterior implicaria
dará de maneira dicotômica,
TSE. baixa) receber mais recursos2
onde 1,0 é aplicado quando
7. Governador da UF ser GOV (condição Governador alinhado a condição está presente e
Governador alinhado com coalizão do presente) com governo federal 0,0 quando a condição está
Alinhado governo federal. Fonte: TSE implicaria receber ausente.
(fator e publicação que sistematiza gov (condição mais recursos2,5
político) coalizões28. ausente) Obs.: Em relação a troca
8. Ministro Ministro da Saúde no ano MINIST (condição Ministro de origem de comando no governo
da Saúde de anterior ser político da UF presente) de uma dada UF federal em 2016, para
origem da analisada. Fonte: Ministério implicaria receber efeitos das variáveis 6, 7,
UF da Saúde. minist (condição mais recursos20 9 e 10, considera-se no
(fator ausente) ano de 2016 o governo
político) Dilma. Já no ano de 2017,
9. Bancada Maioria da bancada da UF SEN (condição Bancada estadual considera-se o governo
do Senado no Senado (dois ou três presente) do Senado alinhada Temer, e especificamente a
alinhada senadores) ser alinhada com governo federal variável 6 será tratada com o
(fator coalizão do governo federal. sen (condição implicaria receber valor oposto ao trabalhado
político) Fonte: TSE e publicação que ausente) mais recursos² nos anos de 2015 e 2016,
sistematiza coalizões28. em virtude de a coalizão
10. Prefeito Prefeito da capital da UF ser PREF (condição Prefeito de (capital) de governo de Temer ser
de capital alinhado com coalizão do presente) alinhado, município composta por partidos que
alinhado governo federal. Fonte: TSE com renda mais formavam a coligação nas
(fator e publicação que sistematiza pref (condição elevada14, implicaria eleições de 2014 que ficou em
político) coalizões28. ausente) receber mais recursos1 segundo lugar.
Fonte: Elaborado pelo autor.
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que a análise de necessidade é um pouco mais mais alto em 2017. O mesmo aconteceu com DF
complexa e exige também observar a noção de em 2009 e TO em 2005. Por fim, no ano de 2003,
relevância enquanto condição necessária. Não há o menor per capita era do AM, no valor de R$
um parâmetro bem definido sobre valor mínimo 2,61, enquanto o maior era RJ, com R$ 156,77. Já
de relevância, pois isso depende do objeto em em 2004, o menor per capita de MAC era ES, com
análise. Como este trabalho opta por fazer uma R$ 27,74, e o maior era SP, com R$ 168,13. Em
análise centrada nos casos outliers (são os casos 2005, o menor per capita era RR, com R$ 90,44,
mais extremos possíveis), é de se esperar valores e o maior era RS, com R$ 165,61. E, para compa-
relativamente baixos de relevância, sem que isso rar, em 2017, o menor per capita é AM, com R$
prejudique a discussão proposta. Se o valor de 140,98, e o maior é RN, com R$ 271,84. Por fim,
relevância da necessidade assumir valor maior registra-se que o maior per capita de MAC regis-
que 0,5, a condição será de fato considerada ne- trado foi em 2014 em PE, no valor de R$ 321,93.
cessária. Se assumir valor abaixo de 0,5, será fei- Considerando as informações da Tabela 1 é
ta ponderação, exigindo-se cautela na leitura do inegável que houve uma profunda redistribui-
resultado, mas sem que isso elimine automatica- ção desses recursos, especialmente envolvendo
mente a possiblidade de ser condição necessária. estados do Norte e Nordeste. A diferença entre
Por fim, como pode haver mais de uma condição os valores mais baixos e mais altos diminuíram
ou uma combinação de condições associando re- consideravelmente ainda nos primeiros anos de
sultados de suficiência e necessidade (preceito de análise, entre 2003 e 2005. Selecionando-se al-
multiplicidade causal), se for necessário fazer se- guns dados emblemáticos, em 2014 e 2017 esta-
leções, será escolhida a configuração com maior dos da região Nordeste apresentam os maiores
valor de cobertura, e que esteja condizente com o valores de per capita. Ao longo dos diversos anos,
esperado a partir do referencial teórico e, conse- TO em 2005 e RN em 2017 saíram diretamente
quentemente, disposto no Quadro 1. do grupo de menor per capita para o de maior per
Dito isso, serão rodados três modelos. Um capita. Dessa forma, pelos menos no que se refere
para todos os casos em análise. Outro moderan- à alocação de recursos federais, houve uma consi-
do os casos pela região geográfica, e por último derável diminuição das desigualdades regionais.
um terceiro modelo moderando o fator tempo, Observando-se agora o Gráfico 1, do tipo
até por conta de se esperar diferentes contextos boxplot, nota-se a variação percentual do per ca-
políticos ao longo dos anos de análise. pita de MAC a partir de 2004 em relação ao ano
anterior, quando podemos identificar a existên-
cia de outliers (bolinhas brancas) em todos os
Resultados da análise quantitativa anos, com exceção de 2011, que na verdade regis-
trou um outlier de redução de recursos.
A Tabela 1 apresenta os valores de MAC per ca- Em síntese, é evidente a discrepância da va-
pita corrigidos para o ano de 2017, considerando riação per capita em 2004 (em relação ao ano de
uma série histórica de 15 anos, já classificando os 2003), pois existem três outliers cujas variações
casos a partir da técnica k-means de clusterização destoam de todos os demais outliers dos anos
ano a ano, conforme per capita mais elevado (cé- observados. Para facilitar a identificação dos ca-
lulas pretas), per capita mais baixo (células cin- sos outliers, a Tabela 2 sistematiza os valores de
zas) e per capita intermediário (células brancas) variação em termos percentuais, destacando os
Inicialmente, já se pode identificar que exis- outliers que tiveram variações positiva para rece-
tem UFs que ao longo de toda a série histórica bimento de recursos (células sombreadas de pre-
aparecem no grupo de per capita mais elevado: to) e negativa (redução de recursos, com células
RS e MS. Por outro lado, AM é o único estado sombreadas de cinza).
que sempre figurou no grupo de per capita mais Complementando a análise boxplot com a
baixo. Comparativamente, se considerarmos os Tabela 2, observa-se 22 casos outliers de variação
últimos dez anos da série histórica (2008 a 2017), positiva (aumento no recebimento de recursos
pode-se somar no grupo do per capita mais ele- fora do padrão) de 2004 a 2017. Desses 22, so-
vado PE e, no grupo do per capita mais baixo, PA mente dois não envolvem UFs das regiões Norte e
e MA. Se consideramos apenas os últimos cinco Nordeste. Foram ES, em 2005, que conforme da-
anos (2013 a 2017), AC, TO e PR também se so- dos da Tabela 1 teve o menor per capita de 2004,
mam ao grupo do per capita mais elevado. e DF, em 2009. Dessa forma, quando observamos
Outro destaque é que RN sai diretamente do especificamente UFs do Norte e Nordeste, apenas
grupo do per capita mais baixo para o per capita PA, AL, BA e CE não tiveram ampliação de recur-
Carvalho GP
3416

Tabela 1. Valor (R$) de MAC per capita (valores constantes para 2017) – 2003 a 2017.

UF 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
RO 76,39 99,98 102,40 111,00 136,31 146,66 165,69 165,77 181,58 180,60 183,58 209,92 215,08 205,58 216,02
AC 17,40 98,36 106,29 109,29 134,08 149,25 194,50 190,67 218,93 281,24 291,43 285,54 288,22 258,78 244,47
AM 2,61 77,63 96,72 106,00 127,41 137,33 155,60 163,03 166,29 181,38 153,66 164,99 160,40 154,84 140,98
RR 37,48 90,44 90,07 97,79 119,20 151,36 189,46 186,45 178,07 203,76 195,16 200,95 219,31 210,25 227,33
PA 83,52 92,73 98,12 105,54 127,27 136,79 141,42 151,53 151,38 171,75 167,37 178,34 162,99 137,65 142,40
AP 5,35 75,59 97,26 129,25 200,33 212,78 214,71 201,80 204,21 264,68 255,69 247,92 221,96 162,89 158,11
TO 12,12 28,46 144,81 155,70 204,77 209,70 270,64 282,26 254,59 249,30 275,42 261,53 261,91 251,29 254,58
MA 71,11 77,30 110,74 118,85 139,80 152,27 150,57 158,37 177,04 186,54 184,13 171,53 154,85 158,69 158,90
PI 64,62 102,79 124,93 132,57 156,86 174,01 186,04 196,47 208,15 213,45 200,88 207,58 200,03 237,65 232,16
CE 116,73 125,80 126,14 136,42 172,95 185,63 193,36 207,60 220,83 234,70 228,32 240,85 235,01 216,48 220,31
RN 70,01 129,59 127,31 136,85 169,00 169,92 190,64 242,63 256,95 259,63 229,46 237,75 211,52 180,16 271,84
PB 112,85 122,03 127,03 139,44 168,81 175,42 180,31 210,03 213,22 228,54 210,04 225,00 205,21 189,13 197,61
PE 29,54 74,90 138,72 168,84 213,87 220,68 251,03 261,16 280,43 315,93 304,04 321,93 293,86 242,06 246,54
AL 116,48 124,29 123,79 138,74 178,75 168,69 193,74 219,67 239,93 250,41 243,07 262,29 254,90 238,67 242,57
SE 107,47 116,86 120,77 138,85 188,60 199,59 197,94 239,74 245,50 303,07 270,28 269,07 243,52 216,64 213,77
BA 36,84 121,96 124,38 144,59 181,39 201,93 212,11 234,67 245,61 243,29 207,61 221,38 207,78 195,91 193,97
MG 119,12 130,35 134,16 148,43 167,23 174,95 200,51 213,09 226,23 238,10 227,85 250,50 235,13 211,84 213,65
ES 18,95 27,74 127,40 135,20 163,81 171,53 199,58 199,57 201,65 214,99 213,73 225,95 215,43 197,62 200,29
RJ 156,77 161,04 155,58 177,20 196,10 191,81 202,21 218,02 236,32 244,79 239,63 252,60 232,37 221,09 214,02
SP 82,26 168,13 163,21 194,46 259,36 219,68 221,88 236,77 242,13 242,42 224,19 243,11 237,57 219,85 219,25
PR 141,06 154,50 159,73 170,76 198,78 200,55 217,63 238,97 253,44 267,69 252,61 268,97 261,00 239,71 250,28
SC 120,80 127,87 129,68 141,18 164,60 175,57 208,17 214,73 213,95 217,51 225,07 243,50 239,01 219,14 211,68
RS 100,64 164,61 165,61 177,09 214,77 221,09 228,78 249,33 267,37 294,31 267,95 290,82 252,46 230,76 229,12
MS 136,48 144,02 152,91 177,88 225,13 227,64 249,28 261,84 288,51 306,32 296,31 314,76 283,95 241,81 247,24
MT 110,19 120,17 119,82 126,04 149,89 161,48 170,44 178,29 185,53 226,14 212,61 223,72 220,46 201,79 194,43
GO 123,96 126,31 128,79 135,26 163,77 171,75 185,68 191,39 210,47 206,27 204,94 219,82 216,46 197,23 196,56
DF 135,43 139,86 142,81 149,08 169,09 164,94 226,99 231,51 230,55 250,28 212,35 208,20 186,78 171,95 162,49
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Fundo Nacional de saúde (FNS).
3417

Ciência & Saúde Coletiva, 26(Supl. 2):3409-3421, 2021


relação ao ano anterior
Variação MAC per capita (%) por UF

2500
anterior
2000
UF em
porano

1500
Capita (%)ao
Perrelação

1000
Variação MACem

500
0

ANO.I ANO.II ANO.III ANO.IV ANO.V ANO.VI ANO.VII ANO.VIII ANO.IX ANO.X ANO.XI ANO.XII ANO.XIII ANO.XIV
2004 a 2017
2004 a 2017

Gráfico 1. Variação MAC per capita (%) por UF em relação ao ano anterior – 2004 a 2017.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tabela 2. Diferença MAC per capita (%) em relação ao ano anterior (valores constantes).
UF 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
RO 30,87 2,43 8,39 22,80 7,59 12,98 0,05 9,54 -0,54 1,65 14,35 2,45 -4,42 5,08
AC 465,26 8,07 2,82 22,69 11,32 30,32 -1,97 14,82 28,46 3,62 -2,02 0,94 -10,21 -5,53
AM 2878,79 24,59 9,59 20,20 7,78 13,31 4,77 2,00 9,08 -15,28 7,37 -2,78 -3,47 -8,95
RR 141,28 -0,40 8,56 21,90 26,97 25,17 -1,59 -4,49 14,42 -4,22 2,97 9,13 -4,13 8,12
PA 11,03 5,82 7,56 20,59 7,48 3,38 7,15 -0,10 13,45 -2,55 6,55 -8,61 -15,55 3,45
AP 1313,31 28,66 32,89 55,00 6,21 0,91 -6,01 1,20 29,61 -3,40 -3,04 -10,47 -26,61 -2,94
TO 134,76 408,81 7,52 31,52 2,41 29,06 4,30 -9,80 -2,08 10,48 -5,04 0,14 -4,06 1,31
MA 8,70 43,27 7,32 17,63 8,92 -1,12 5,18 11,79 5,36 -1,29 -6,84 -9,72 2,48 0,13
PI 59,06 21,54 6,11 18,32 10,93 6,91 5,60 5,94 2,55 -5,89 3,34 -3,64 18,81 -2,31
CE 7,77 0,27 8,15 26,77 7,33 4,16 7,37 6,37 6,28 -2,72 5,49 -2,42 -7,89 1,77
RN 85,08 -1,76 7,50 23,49 0,54 12,19 27,27 5,90 1,04 -11,62 3,62 -11,03 -14,83 50,89
PB 8,14 4,10 9,77 21,06 3,91 2,79 16,48 1,52 7,19 -8,10 7,12 -8,79 -7,84 4,48
PE 153,58 85,19 21,72 26,67 3,19 13,75 4,04 7,38 12,66 -3,76 5,88 -8,72 -17,63 1,85
AL 6,70 -0,40 12,08 28,84 -5,63 14,85 13,38 9,22 4,37 -2,93 7,91 -2,82 -6,37 1,63
SE 8,73 3,35 14,97 35,83 5,82 -0,82 21,12 2,40 23,45 -10,82 -0,45 -9,49 -11,04 -1,32
BA 231,09 1,98 16,25 25,45 11,32 5,04 10,64 4,66 -0,94 -14,66 6,63 -6,14 -5,71 -0,99
MG 9,42 2,93 10,64 12,66 4,62 14,61 6,27 6,17 5,25 -4,31 9,94 -6,14 -9,90 0,85
ES 46,42 359,22 6,12 21,16 4,71 16,35 0,00 1,04 6,62 -0,59 5,72 -4,66 -8,27 1,35
RJ 2,73 -3,39 13,90 10,66 -2,19 5,42 7,82 8,39 3,59 -2,11 5,41 -8,01 -4,85 -3,20
SP 104,39 -2,93 19,15 33,37 -15,30 1,00 6,71 2,26 0,12 -7,52 8,44 -2,28 -7,46 -0,27
PR 9,53 3,39 6,90 16,41 0,89 8,52 9,81 6,05 5,63 -5,64 6,48 -2,96 -8,16 4,41
SC 5,85 1,42 8,87 16,59 6,66 18,57 3,15 -0,36 1,67 3,47 8,19 -1,84 -8,31 -3,40
RS 63,57 0,61 6,93 21,28 2,94 3,48 8,98 7,23 10,08 -8,96 8,54 -13,19 -8,59 -0,71
MS 5,52 6,17 16,33 26,56 1,12 9,50 5,04 10,19 6,17 -3,27 6,23 -9,79 -14,84 2,24
MT 9,06 -0,29 5,20 18,92 7,73 5,55 4,61 4,06 21,89 -5,98 5,22 -1,45 -8,47 -3,65
GO 1,90 1,96 5,03 21,07 4,88 8,11 3,08 9,97 -2,00 -0,64 7,26 -1,53 -8,88 -0,34
DF 3,27 2,11 4,39 13,43 -2,46 37,62 1,99 -0,42 8,56 -15,16 -1,96 -10,29 -7,94 -5,50
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Fundo Nacional de saúde (FNS).
3418
Carvalho GP

sos a ponto de serem enquadrados como outliers UF analisada ou prefeito da capital da UF ser ali-
em toda a série histórica. Por outro lado, se ex- nhado com a coalizão do governo federal. Ponde-
cluirmos da série histórica o ano de 2004, que até ra-se que o valor de relevância dessa configuração
mesmo no Gráfico 1 destoa de todos os demais é de 0,272, exigindo um pouco mais de cautela
anos, AM se soma às demais quatro UFs e não para considerar de fato esse conjunto de condi-
figura como outlier de 2005 a 2017. ções como necessário para uma UF ser outlier.
Dessa forma, evidencia-se que a alocação atí- De toda forma, como apontado na metodologia,
pica de recursos (outliers) envolve especialmente sendo o foco da análise os casos extremos mais
estados das regiões Norte e Nordeste, chamando emblemáticos, considera-se razoável que os valo-
a atenção o fato de que, entre 2005 e 2017, das 16 res de relevância sejam baixos.
UFs dessas regiões, apenas cinco não aparecem Em complemento, nesse primeiro modelo
como outlier, enquanto AP, RN, RR e TO apare- foi possível identificar uma condição suficiente,
cem mais de uma vez como outliers. isto é, basta ela está presente para que uma UF
Enfim, para compreender melhor o que ex- se torne outlier no recebimento de novos recur-
plica esse fenômeno de alocação atípica de recur- sos de MAC. A condição em questão é MINIST
sos do SUS, especificamente de MAC, a próxima (ministro da Saúde ser político da UF analisada
seção objetivará dar respostas observando a asso- no ano anterior). Dois casos estão relacionados
ciação de casos outliers com condicionantes téc- a essa condição: PE em 2005 e PI em 2016. Esse
nicas e políticas. Dada a representatividade das achado por si só já demonstra ser possível que
regiões Norte e Nordeste nesse fenômeno, esse um ministro da Saúde direcione novos recursos
estudo optará por fazer a análise fuzzy-set/QCA para seu reduto político, apontando que as trans-
centrada nas 16 UFs dessas regiões entre 2005 e ferências do SUS estão sujeitas a explicações po-
2017, excluindo-se da próxima análise os estados líticas, e não só técnicas – resultado alinhado a
do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e também os da- discussões recentes da ciência política20.
dos de 2004, dada a inegável discrepância desse No M1 não se identificam condições suficien-
ano, que se relaciona a um nível de per capita tes para os demais 15 casos outliers, reforçando a
muito abaixo de todas as demais UFs em 2003, necessidade das análises seguintes que moderam
como é o caso de AM (R$ 2,61). Isso posto, no ano os dados pelas questões geográficas e temporais.
de 2004, observando-se os casos outliers, nota-se No M2.1, região Nordeste, identificam-se como
um considerável foco na redução das desigualda- condições necessárias as mesmas do M1. Quanto
des regionais, destacando-se um fator técnico: a às condições suficientes, além dos casos condi-
defasagem em relação às demais UFs do país. cionados por MINIST, aparece como condição
suficiente no caso do RN em 2017 a combinação
HISTOR*popsus*SEN, que representa uma inte-
Resultados da análise qualitativa ração entre fatores técnicos e políticos: histórico
de MAC per capita e bancada do Senado alinha-
A Figura 1 sistematiza os achados das oito aná- da, além de um valor baixo de população SUS-
lises realizadas: toda a amostra (M1); região dependente (o que pode estar mais relacionado
Nordeste (M2.1); região Norte (M2.2); primei- indiretamente a um elevado nível socioeconômi-
ro mandato do presidente Lula (M3.1); segundo co). Observa-se que o sinal * significa multiplica-
mandato de Lula (M3.2); primeiro mandato da ção, portanto esse tipo de configuração deve ser
presidente Dilma (M3.3); segundo mandato de lido considerando todas as três condições juntas
Dilma (M3.4); e o ano de 2017, com o presidente (não são três condições alternativas, mas apenas
Temer (M3.5). uma para o resultado encontrado). Dessa forma,
Ao todo, sete outliers dos 17 puderam ser ex- a leitura da combinação pode ser: em contextos
plicados pela análise de condições suficientes. No de baixo valor de população SUS-dependente, o
que se refere às análises de necessidade, em todos histórico defasado de MAC, juntamente com a
os modelos foram identificadas condições neces- bancada do Senado alinhada, é uma combinação
sárias, tendo duas com relevância de necessidade suficiente para que uma UF seja outlier. No M2.2,
maior que 0,7. região Norte, como condição necessária surge a
Observando-se o Modelo 1 (M1), identificam- configuração SEN ou PREF. E como condição
se como condições necessárias HISTOR, MINIST suficiente, a combinação de fatores técnicos e
ou PREF, isto é, uma UF fazer parte de grupo de políticos HISTOR*sen*PREF*vot, sugerindo a
UFs com menor MAC per capita no ano anterior, importância de prefeito de capital alinhado para
ministro da Saúde no ano anterior ser político da o caso do TO em 2005.
3419

Ciência & Saúde Coletiva, 26(Supl. 2):3409-3421, 2021


M1: TODOS OS CASOS (17 outliers) M2.1: NORDESTE (08 outliers) M2.2: NORTE (09 outliers) M3.1: LULA I (04 outliers)

Condições Condições Condição necessária


necessárias* necessárias* e relevante
Condições necessárias* HISTOR ou HISTOR
SEN ou PREF
HISTOR ou MINIST MINIST ou PREF
ou PREF
Condições suficientes Condições suficientes
HISTOR*sen*PREF*vot Condições suficientes
MINIST 02 casos (PE-2005; PI-2016)
Condição suficiente 01 caso (TO-2005) MINIST 01 caso (PE-2005)
HISTOR*popsus*SEN 01 caso
MINIST 02 casos (PE-2005; PI-2016) HISTOR*sen*vot 01 caso (TO-2005)
(RN-2017)

M3.2: LULA II (05 outliers) M3.3: DILMA I (04 outliers) M3.4: DILMA II (03 outliers) M3.5: TEMER (01 outlier)

Condições necessárias* Condições Condições necessárias Não há como avaliar


condsau ou OFERT necessárias* e relevantes condições necessárias,
HISTOR ou POPSUS HISTOR ou MINIST pois trata-se de apenas
um caso
Não foram identificadas Condições suficientes Condições suficientes
condições suficientes econ*HISTOR*SEN*PREF MINIST 01 caso (PI-2016) Condições suficientes
01 caso (AP-2012) CONDSAU*HISTOR*PREF HISTOR*popsus*SEN*pref
02 casos (RR-2015; MA-2016) 01 caso (RN-2017)

* condições necessárias, mas com valor de relevância relativamente baixo (ver discussão).

Figura 1. Resultados das análises de condições necessária e suficientes para os oito modelos testados, na forma de
conjuntos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao avaliar os casos moderando-se pelo fator recebimento de recursos novos. E já no segundo


tempo (e mandato dos presidentes da República), mandato de Dilma, observa-se uma combinação
cabe destaque que no M3.1, governo Lula 1, HIS- de fatores técnicos e políticos como condições
TOR figura como condição necessária com rele- necessárias para ser outlier. No geral, destacam-
vância considerável de 0,714. Nos modelos 3.2 e se como condições necessárias (isto é, são requi-
3.3, Lula II e Dilma I, respectivamente, aparecem sitos para que uma UF seja outlier) especialmente
configurações necessárias com outros fatores téc- HISTOR e MINIST.
nicos, OFERT ou condsau e HISTOR ou POPSUS. No que se refere às condições suficientes (isto
Já no segundo mandato de Dilma (M3.4), surge a é, a presença de determinada condição inevitavel-
interação entre variáveis técnicas e políticas como mente leva uma UF a ser outlier), destaca-se MI-
condições necessárias e relevantes, HISTOR ou NIST como sendo a única condição que sozinha
MINIST, com relevância de 0,828. assegura o enquadramento de UFs como outlier.
No que se refere a condições suficientes, mo- Outra condição relevante é HISTOR, que em
derando-se os achados pelo fator tempo, iden- conjunção com condições políticas, especialmen-
tificam-se explicações para sete dos 17 outliers. te SEN e PREF, explica todos os outros outliers
São os dois casos já explicados pela condição desse trabalho, sugerindo o enquadramento com
MINIST; o caso do TO em 2005, com fator téc- o que se chama de “INUS condition”22,26, ou seja,
nico HISTOR*sen*vot; e outros quatro casos uma condição que sozinha não garante que uma
combinando condições técnicas e políticas: AP UF seja outlier mas, essa mesma condição, sendo
em 2012, econ*HISTOR*SEN*PREF; RR em parte necessária de uma combinação de condi-
2015 e MA em 2016 com a mesma combinação ções suficientes. Isso demonstra a relevância da
de condições suficientes no segundo governo da combinação de fatores técnicos e políticos para
presidente Dilma, CONDSAU*HISTOR*PREF; e explicar a alocação atípica de recursos.
o caso do RN em 2017, no governo Temer, com Dessa forma, os achados da presente análise
HISTOR*popsus*SEN*pref. demonstram que fatores políticos, e não só técni-
Em síntese, nos dois mandatos de Lula e no cos, são relevantes para explicar a alocação de re-
primeiro de Dilma, prevalecem fatores técnicos cursos no SUS, em especial ministro da Saúde ser
como condições necessárias para ser outlier no de origem da UF beneficiada e bancada do Sena-
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Carvalho GP

do e prefeito de capital alinhados. Isso indica que terveniência de fatores políticos condicionando a
os condicionantes identificados nesse estudo, so- alocação de recursos. Destaca-se o resultado en-
bretudo os dois últimos, não são tão dissociados contrado em que um político da região Norte ou
daqueles que explicam as TVUs2,5,6 e também re- Nordeste ser ministro da Saúde assegura o dire-
forçam os achados de estudos no campo da saúde cionamento de novos recursos, de forma atípica,
em que fatores políticos explicam a distribuição para o seu reduto político – achado possível de
de recursos para municípios1. No mais, o achado ser observado, dado o foco de análise qualitativa
da relevância do cargo de ministro da Saúde está em casos outliers. Ao mesmo tempo, é relevante a
bem alinhado com as discussões mais recentes da identificação da distribuição de recursos do SUS
ciência política sobre o uso de cargos estratégicos estar condicionada à combinação de fatores téc-
para direcionamento de recursos20. nicos e políticos – outro aspecto observado em
decorrência da análise qualitativa empreendida.
Por outro lado, o foco nos casos outliers
Conclusão permitiu tão somente uma análise exploratória
acerca dos efeitos de condicionantes políticos na
Em suma, entende-se que o presente trabalho alocação de recursos do SUS, o que contribui
cumpre seu papel ao explorar a dimensão de fa- na proposição de hipóteses e reflexões teóricas.
tores políticos como condicionantes dos repasses Portanto, futuras pesquisas nessa temática são
de recursos federais do SUS, demonstrando que desejáveis, especialmente considerando outros
os critérios de repasses de recursos da saúde não objetos de análise, tais como observação de casos
são tão dissociados das transferências voluntárias que não sejam extremos, outras regiões geográ-
quanto poderia se imaginar. ficas além de Norte e Nordeste e também aná-
Em que pese ter ficado claro na análise quan- lises sobre investimentos, políticas e programas
titativa que a alocação de recursos diminuiu con- específicos do Ministério da Saúde, podendo-se
sideravelmente as distorções de valores per capita avaliar o efeito de eventuais fatores políticos nos
dos recursos de MAC para estados das regiões resultados na saúde da população – aspecto, por
Norte e Nordeste, reduzindo as desigualdades re- exemplo, que seria bem relevante.
gionais, ficou notória na análise qualitativa a in-
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Ciência & Saúde Coletiva, 26(Supl. 2):3409-3421, 2021


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