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priadora, a forma política, final- maio de 1871, pela primeira vez
mente descoberta, com a qual se
realiza a emancipação econômi- “[A Comuna] foi essencialmente um governo COMUNA na história, trabalhadores e tra-
balhadoras tomaram o poder
DE PARIS
ca do trabalho”. da classe operária, o produto da luta da classe do Estado e demonstraram, na
Queremos também fazer pre- produtora contra a apropriadora, a forma prática, ser possível inaugurar
sente a prática que nos possibili- política, finalmente descoberta, com a qual se uma nova forma de organização
tará derrubar o domínio do ca- realiza a emancipação econômica do trabalho” social e política. Duramente re-
pital e construir uma sociedade primida pelas classes dominan-
em que “sejamos tudo, ó produ- Karl Marx tes francesas, essa experiência
tores”: a partir da organização, proletária de 72 dias, conhecida
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Os limites da Comuna
Esses líderes da Comuna tinham origens políticas diver-
sas. Havia seguidores de Louis Auguste Blanqui, de Pierre-
-Joseph Proudhon e de Louise Michel; apenas alguns eram
seguidores de Marx e integravam a Internacional. A partir
de seus vários pontos de vista, os membros da Comuna de-
mandaram uma série de reformas, mas o que lhes faltava era
um programa de ação amplo e claro.
A falta de tal programa ficou evidente em relação ao
Banco da França. Conforme registra Lissagaray, “Desde 19
de março, os diretores do Banco esperavam todos os dias
o confisco de seu cofre”. Centenas de milhões de francos
estavam em seu túmulo, uma riqueza tão grande que os
banqueiros não podiam sequer imaginar transferi-la para os
confins seguros do território da contrarrevolução em Versa-
lhes. A pressão foi tanta que, no dia 23 de março, o diretor
do banco, Gustave Rouland, fugiu de Paris. Ele deixou o
banco nas mãos do vice-diretor, Alexandre de Plœuc. De
Plœuc entendeu os limites dos líderes eleitos da Comuna,
muitos dos quais ficaram deslumbrados com os dados e nú-
meros que ele divulgou. Ele liberou pouco dinheiro para a
Comuna, “franco a franco”, mesmo sabendo que o banco ti-
nha riqueza suficiente para expandir o trabalho da Comuna
e consolidá-la contra o fracasso.
Charles Beslay, membro da Associação Internacional de
Trabalhadores e integrante mais antigo do governo da Co-
muna de Paris, foi falar com de Plœuc, que lhe disse que o
banco detinha a “fortuna de seu país” e deveria ser tratado
como sacrossanto, mais precioso do que a propriedade das
igrejas que haviam sido expropriadas. Beslay voltou às pres-
sas para seus camaradas no Hôtel de Ville com essa nota de
rendição: “O Banco da França é a fortuna do país; sem ele,
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Esmagar o Estado
A reverência ao Banco da França veio com a crença nas
estruturas do Estado francês. Em 12 de abril de 1871,
Marx lembrou a Kugelmann o que ele havia dito em O 18
Brumário de Luís Bonaparte; a saber: que após a Revolução
de 1789, a próxima tentativa de criar uma revolução “não
será mais, como antes, de transferir a máquina burocrática
militar de uma mão para outra, e sim de esmagá-la” (Marx,
1997, p. 310, grifo do autor).
A rigidez de classe se calcificou nas instituições do Estado,
hábitos dos funcionários tão lamentáveis quanto as regras e
regulamentos dos escritórios. Em 72 dias, essas mudanças
não poderiam ser implementadas, mas a Comuna sequer
tentou. Após sua queda, Marx escreveu à Internacional:
“Mas a classe operária não pode apossar-se simplesmente
da maquinaria de Estado já pronta e fazê-la funcionar para
os seus próprios objetivos” (ver adiante, p. 56). Essa máqui-
na acabará sendo o Cavalo de Troia da contrarrevolução,
advertiu, já que não se dobrará à vontade popular, indepen-
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Revolução interrompida
Quando os trabalhadores tomaram Paris, eles não con-
fiscaram o Banco da França. Tampouco reuniram suas con-
sideráveis forças e marcharam sobre Versalhes para forçar a
rendição do governo burguês. Tendo permitido que a ad-
ministração de Adolphe Thiers permanecesse no comando,
a Comuna de Paris deu início à sua própria destruição. Isso
deixou Marx furioso em meados de abril, poucas semanas
depois do início da Comuna. Ele escreveu a Kugelmann no
dia 12 de abril de 1871:
Se eles forem derrotados, apenas se poderá censurar seu ‘bom
caráter’. Eles deviam ter marchado imediatamente sobre Ver-
salhes depois que Vinoy, primeiro, e em seguida a seção rea-
cionária da Guarda Nacional de Paris se retiram. O momento
preciso foi perdido por causa de escrúpulos de consciência.
Eles não queriam começar a guerra civil, como se esse nocivo
aborto Thiers já não a houvesse iniciado com sua tentativa de
desarmar Paris. (Marx, 1997, p. 310-311)
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Referências
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