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FICHAMENTO DO LIVRO
OS CLÁSSICOS DA POLÍTICA
Fortaleza
2019
1. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù.
● "Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo" (Do contrato
social, livro 3, cap. IV).
● Maquiavel passou sua infância e adolescência. Sua família não era nem aristocrática, nem
rica. Seu pai, advogado, como um típico renascentista, era um estudioso das
humanidades, tendo se empenhado em transmitir uma aprimorada educação clássica para
seu filho. Apenas em 1498, quando já tinha 29 anos, tem-se a primeira notícia de Nicolau
exercendo um cargo de destaque na vida pública. (p. 13)
● Deste retiro forçado nasceram as obras do analista político. Como o próprio Maquiavel
afirmava, são textos que resultam de sua experiência prática e do convívio com os
clássicos. O príncipe data dos anos de 1512 a 1513; Os discursos sobre a primeira década
de Tito Lívio, de 1513 a 1519; o livro sobre A arte da guerra, de 1519 a 1520; e, por
último, sua História de Florença, de 1520 a 1525. Depois da redação de O príncipe, a vida
de Maquiavel é marcada por uma contínua alternância de esperanças e decepções. (p. 14)
● De fato, sua preocupação em todas as suas obras é o Estado. Não o melhor Estado, aquele
tantas vezes imaginado, mas que nunca existiu. Mas o Estado real, capaz de impor a
ordem. (p. 16)
● Maquiavel provoca uma ruptura com o saber repetido pelos séculos. Trata-se de uma
indagação radical e de uma nova articulação sobre o pensar e fazer política, que põe fim à
idéia de uma ordem natural e eterna. A ordem, produto necessário da política, não é
natural, nem a materialização de uma vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo de
dados do acaso. (p. 17)
● Guiado pela busca da "verdade efetiva", Maquiavel estuda a história e reavalia sua
experiência como funcionário do Estado. Seu "diálogo" com os homens da antigüidade
clássica e sua prática levam-no a concluir que por toda parte, e em todos os tempos, pode-
se observar a presença de traços humanos imutáveis. (p. 18)
● Daí afirmar, os homens "são ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os perigos,
ávidos de lucro" (O príncipe, cap. XVII).
● O poder político tem, pois, uma origem mundana. Nasce da própria "malignidade" que é
intrínseca à natureza humana. (p. 20)
● A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que,
embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de
● Hobbes é um contratualista, quer dizer, um daqueles filósofos que, entre o século XVI e o
XVIII (basicamente), afirmaram que a origem do Estado e/ou da sociedade está num
contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização — que
somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de
convívio social e de subordinação política. (p. 44)
● Hobbes deduz que no estado de natureza todo homem tem direito a tudo: “direito de
natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que cada
homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de
sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que
seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.”
(Ibidem, cap. XIV, p. 78.)
● O indivíduo hobbesiano não almeja tanto os bens (como erradamente pensa o comentador
Macpherson), mas a honra. Entre as causas da violência, uma das principais reside na
busca da glória. (p. 49)
● “Quando os homens se batem por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma
diferença de opinião, e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a
suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua nação, sua profissão
ou seu nome". (Ibidem, cap. XIII, p. 75.)
● O homem hobbesiano não é então um homo oeconomicus, porque seu maior interesse
não está em produzir riquezas, nem mesmo em pilhá-las. O mais importante para ele é ter
os sinais de honra, entre os quais se inclui a própria riqueza (mais como meio, do que
● Mas o poder de Estado tem que ser pleno. Hobbes desenvolve essa idéia, e monta um
Estado que é condição para existir a própria sociedade. A sociedade nasce com o Estado.
(p. 51)
● Nesse Estado, em que o poder é absoluto, que papel caberão à liberdade e à igualdade,
estes grandes valores que aprendemos a respeitar? Hobbes desmonta o valor retórico que
atribuímos a palavras capazes de gerar tanto entusiasmo — e, dirá ele, tanta ambição,
descontentamento e guerra. A igualdade, já vimos, é o fator que leva à guerra de todos.
Dizendo que os homens são iguais, Hobbes não faz uma proclamação revolucionária
contra o Antigo Regime (como fará a Revolução Francesa: "Todos os homens nascem
livres e iguais..."), simplesmente afirma que dois ou mais homens podem querer a mesma
coisa, e por isso todos vivemos em tensa competição. E a liberdade? Hobbes vai defini-la
de modo que também deixa de ser um valor. (p. 55)
● Locke nasceu em 1632 no seio de uma família burguesa da cidade de Bristol. Seu pai, um
comerciante puritano, combateu na guerra civil nas fileiras do exército do Parlamento. (p.
67)
● Em 1689-90 publica suas principais obras: Cartas sobre a tolerância, Ensaio sobre o
entendimento humano e os Dois tratados sobre o governo civil. (p. 68)
● O Primeiro tratado é uma refutação do Patriarca, obra em que Robert Filmer defende o
direito divino dos reis com base no princípio da autoridade paterna que Adão,
supostamente o primeiro pai e o primeiro rei, legará à sua descendência. De acordo com
essa doutrina, os monarcas modernos eram descendentes da linhagem de Adão e
herdeiros legítimos da autoridade paterna dessa personagem bíblica, a quem Deus
outorgara o poder real. (p. 68)
● O Segundo tratado é, como indica seu título, um ensaio sobre a origem, extensão e
objetivo do governo civil. Nele, Locke sustenta a tese de que nem a tradição nem a força,
mas apenas o consentimento expresso dos governados é a única fonte do poder político
legítimo. Locke tornou-se célebre principalmente como autor do Segundo tratado, que, no
plano teórico, constitui um importante marco da história do pensamento político, e, a
nível histórico concreto, exerceu enorme influência sobre as revoluções liberais da época
moderna. A exposição que se segue é uma síntese da teoria política desenvolvida no
Segundo tratado, considerado por Norberto Bobbio como a primeira e a mais completa
formulação do Estado liberal. (p. 68)
● O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Como a
terra fora dada por Deus em comum a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à
matéria bruta que se encontrava em estado natural o homem tornava-a sua propriedade
privada, estabelecendo sobre ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os
outros homens. O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da
propriedade. (p. 69)
● A concepção de Locke, segundo a qual "é na realidade o trabalho que provoca a diferença
de valor em tudo quanto existe", pode ser considerada, em certa medida, como precursora
da teoria do valor-trabalho, desenvolvida por Smith e Ricardo, economistas do
liberalismo clássico. (p. 69)
● Com traços de enciclopedismo, várias disciplinas lhe atribuem o caráter de precursor, ora
aparecendo como pai da sociologia, ora como inspirador do determinismo geográfico, e
quase sempre como aquele que, na ciência política, desenvolveu a teoria dos três poderes,
que ainda hoje permanece como uma das condições de funcionamento do Estado de
direito. (p. 89)
● Montesquieu introduz o conceito de lei no início de sua obra fundamental, O espírito das
leis, para escapar a uma discussão viciada que, dentro da tradição jurídica sua
contemporânea, ficaria limitada a discutir as instituições e as leis quanto à legitimidade
de sua origem, sua adequabilidade à ordem natural, e a perfeição de seus fins. Uma
discussão fadada a confundir, nas leis, concepções de natureza política, moral e religiosa.
(p. 90)
● Com o conceito de lei, Montesquieu traz a política para fora do campo da teologia e da
crônica, e a insere num campo propriamente teórico. Estabelece uma regra de imanência
que incorpora a teoria política ao campo das ciências: as instituições políticas são regidas
por leis que derivam das relações políticas. (p. 91)
● O objeto de Montesquieu é o espírito das leis, isto é, as relações entre as leis (positivas) e
"diversas coisas", tais como o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio,
as relações entre as classes etc. Montesquieu tenta explicar as leis e instituições humanas,
sua permanência e modificações, a partir de leis da ciência política. (p. 91)
● No governo republicano o regime depende dos homens. Sem republicanos não se faz uma
república. Os grandes não a querem e o povo não sabe mantê-la. Trata-se de um regime
muito frágil, porque repousa na virtude dos homens. (p. 93)
● “Este filho de relojoeiro, já pela sua condição social, não iria encontrar um caminho
muito fácil pela frente, se quisesse ingressar no mundo das letras, dominado, na sua
maioria, por pensadores como Voltaire, cuja linhagem era a de uma burguesia bem
abastada, que freqüentavam os famosos "salões" da época e não dispensavam uma certa
proximidade da corte. Rousseau será sempre avesso aos salões e às cortes. Será um
filósofo à margem dos grandes nomes de seu século, mas nem por isso estaria afastado
das polêmicas e chegou até a contribuir, a convite de Diderot, para a grande
Enciclopédia, com artigos sobre música e economia política.” (As Confissões, p. 20)
● Os temas mais candentes da filosofia política clássica, tais como a passagem do estado de
natureza ao estado civil, o contrato social, a liberdade civil, o exercício da soberania, a
distinção entre o governo e o soberano, o problema da escravidão, o surgimento da
propriedade, serão tratados por Rousseau de maneira exaustiva. (p. 149)
● Suas obras mais importantes são Contrato social e o Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens, porque constituem uma unidade temática
importante e porque os demais escritos, de certa maneira, aprofundam e explicitam as
questões que já haviam sido abordadas naquelas duas obras. A chave para se entender a
articulação entre essas duas obras está no primeiro parágrafo no capítulo I, do livro I, do
Contrato: "O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado”. (p. 150)
● Nesta obra, o objetivo de Rousseau é o de construir a história hipotética da humanidade,
deixando de lado os fatos, procedimento semelhante ao que outros filósofos já haviam
feito no século XVII. Espinosa e Hobbes tomaram de empréstimo, da geometria, o
método para a análise dos problemas da moral e da política. (p. 150)
● “Comecemos por afastar todos os fatos, pois eles não dizem respeito à questão. Não se
devem considerar as pesquisas, em que se pode entrar neste assunto, como verdades
históricas, mas somente como raciocínios hipotéticos e condicionais, mais apropriados a
esclarecer a natureza das coisas do que a mostrar a verdadeira origem e semelhantes
àqueles que, todos os dias, fazem nossos físicos sobre a formação do mundo.” (Discurso
sobre a desigualdade, p. 16)
● Tal é a condição primeira de legitimidade da vida política, ou seja, aquela que marca a
sua fundação através de um pacto legítimo, onde a alienação é total e onde a condição de
todos é a de igualdade. Este processo de legitimação, da fundação do corpo político,
deverá estender-se também para a máquina política em funcionamento. Não basta que
tenha havido um momento inicial de legitimidade. É necessário que ela permaneça ou
então que se refaça a cada instante. (p. 151)
● Para Rousseau, antes de mais nada, impõe-se definir o governo, o corpo administrativo
do Estado, como funcionário do soberano, como um órgão limitado pelo poder do povo e
não como um corpo autônomo ou então como o próprio poder máximo, confundindo-se
neste caso com o soberano. Se a administração é um órgão importante para o bom
funcionamento da máquina política, qualquer forma de governo que se venha a adotar
terá que submeter-se ao poder soberano do povo. (p. 152)
Conclusão
Rousseau trouxe ao mundo inúmeras obras de extrema importância, que vão da música à
política, passando pela produção de peças de teatro e pelo belíssimo romance que é A nova
Heloísa. Também escreveu o testemunho de sua vida nas páginas de sua autobiografia “As
confissões”. Fora suas obras em outros âmbitos do conhecimento, seus escritos sobre passagem
do estado de natureza ao estado civil, o contrato social, a liberdade civil, o exercício da
soberania, a distinção entre o governo e o soberano, o problema da escravidão, o surgimento da
propriedade, são tratados de maneira brilhante por Rousseau.
Com posição de destaque sobre suas obras e contribuições a filosofia política clássica,
também lhe foi atribuído o título de patrono da Revolução Francesa, uma das mais importantes
revoluções da história.
Suas obras mais importantes são Contrato social e o Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens, porque constituem uma unidade temática
importante e porque os demais escritos, de certa maneira, aprofundam e explicitam as questões
que já haviam sido abordadas naquelas duas obras. A chave para se entender a articulação entre
essas duas obras está no primeiro parágrafo no capítulo I, do livro I, do Contrato: "O homem
nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado”.
Nesta obra, o objetivo de Rousseau é o de construir a história hipotética da humanidade,
deixando de lado os fatos, procedimento semelhante ao que outros filósofos já haviam feito no
século XVII. Espinosa e Hobbes tomaram de empréstimo, da geometria, o método para a análise
dos problemas da moral e da política. Rousseau também defende a ideia de que a sociedade
corrompe o homem.