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M
2020
Universidade do Porto
Novembro 2020
ii
AVISOS LEGAIS
iii
AGRADECIMENTOS
iv
RESUMO
v
ABSTRACT
Research about the nature of the types of errors in Portuguese language is scarce.
Given that the Portuguese orthographic system is very complex, identifying difficulties
and orthographic errors is of great relevance. The main goal of this study was to explore
the relationship between orthographic errors in dictation and essays, comparing students
in different grades and their errors. For that, 933 Portuguese students from 2nd grade (n
=297), 4th grade (n =302) and 6th grade (n =334) performed one dictation task and one
wrote an opinion essay. The errors in these tasks were classified in three types:
phonetically inaccurate, phonetically accurate and stress mark. The results have shown
correlations between the same sort of orthographic errors in tasks for phonetically
inaccurate errors in 2nd and 4th grades, and phonetically accurate errors in 2nd grade.
Furthermore, there were more orthographic errors in dictation than in essays and a
decreasing trend in phonetically inaccurate and accurate orthographic errors throughout
the school years. Currently, the analysis in orthographic errors is a requirement trend in
the scientific community. The discoveries in this study support that trend, and are in line
with the results reported in the literature.
vi
RESUMÉ
Les travaux de recherches sur la nature des différents types d’erreurs en langue
portugaise sont rares. Puisque le système orthographique portugais est complexe, identifier
ses difficultés et les fautes d’orthographe est extrêmement pertinent. L’objectif principal de
la présente étude est fondé sur l’analyse de l’association entre les erreurs d’orthographiques
dans des dictées et des rédactions, en comparant des élèves de différentes années scolaires
et le type d’erreurs comises. Pour ce faire, 933 élèves portugais en 2ème année (n= 297),
4ème année (n= 302) et 6ème année (n= 334) ont rédigé une dictée ainsi qu’une
argumentation.Les erreurs dans ces deux travaux on été codifiées en 3 catégories : manque
de précision phonétique, phonétiquement précis, accentuation. Les résultats ont démontré
des corrélations entre le même type d’erreurs orthographiques dans les travaux pour des
erreurs « manque de précision phonétique » en 2ème et 4ème années et des erreurs
« phonétiquement précises » dans la 2ème année. D’autre part, l’analyse démontre que plus
de fautes d’orthographes étaient présentes dans la dictée que dans les rédactions et on
observe une diminution progressive des erreurs orthographiques phonétiquement imprécises
et précises dans toute la scolarité. Actuellement, les analyses d’erreurs orthographiques ont
une tendance à être exigeantes dans la communauté scientifique, les conclusions de cette
étude, soutiennent généralement cette tendance, en plus d’être alignées sur les résultats
préexistants en littérature.
vii
INDICE
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
2. MÉTODO ............................................................................................................... 17
3. RESULTADOS ...................................................................................................... 19
4. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 23
5. CONCLUSÃO........................................................................................................ 25
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 26
viii
Índice de Tabelas e Figuras
Tabela 2: Correlações entre erros ortográficos nas tarefas de ditado e escrita de texto por
ano ....................................................................................................................................... 21
Figura 1: Ilustração da interação do ano de escolaridade vs. tipo de erros vs. tarefas .... 23
ix
Índice de Abreviaturas
x
1. INTRODUÇÃO
Ao contrário do que acontece com a linguagem oral, a linguagem escrita implica uma
aprendizagem formal, havendo a necessidade de se recorrer a estratégias de ensino que sejam
adequadas para a promoção do desenvolvimento da escrita (Horta & Martins,
2004). Martins (1996) define a escrita como sendo um sistema específico que recorre à
comunicação através de símbolos gráficos. Ou seja, a escrita é uma atividade caracterizada
por ter um carácter voluntário e consciente, pressupondo uma simulação de uma situação de
comunicação (Martins, 1996). Gelb (1973, cit in Silva 2003) classificou taxonomicamente
os sistemas de escrita, tendo distinguido quatro tipos de sistemas: os sistemas logográficos,
os sistemas de escrita logosilábicos, os sistemas de escrita silábicos e as escritas alfabéticas.
Os sistemas logográficos recorrem à utilização de signos para a representação de
palavras. Já os sistemas de escrita logosilábicos utilizam tanto signos logográficos como
signos silábicos. Os sistemas de escrita silábicos usam signos que representam as sílabas de
uma determinada língua. Por fim, o sistema que interessa para o presente trabalho, o
alfabético, que utiliza signos que codificam os fonemas de um determinado idioma (Silva,
2003). Os sistemas alfabéticos são, então, constituídos por fonemas representados por
grafemas, sendo que, para compreender este sistema de escrita é imprescindível que se
consiga distinguir as várias letras assim como saber e compreender as diferenças entre os
vários caracteres utilizados (Martins & Niza, 1998). Os sistemas alfabéticos são bastante
comuns na Europa e em países que têm como línguas oficiais as línguas europeias,
nomeadamente o Continente Americano, Oceânia e África. Na Ásia predominam
maioritariamente sistemas logográficos, como por exemplo o chinês e o japonês.
11
correspondem fonemas e vice-versa. Uma importante classificação da ortografia dos
sistemas alfabéticos prende-se com a natureza dessa correspondência. Assim, a ortografia
pode ser transparente (também referida como superficial) ou opaca (também conhecida por
profunda) (Fayol & Jafrré, 1999). Diz-se que um sistema ortográfico é transparente quando
a correspondência entre o grafema e o fonema é regular, ou seja, a um só grafema
corresponde apenas um fonema, assim como a um fonema apenas existe a correspondência
de um grafema Em comparação, um sistema ortográfico pode ser classificado como opaco
quando um fonema pode ser associado por dois ou mais grafemas (Fayol & Jaffré, 1999).
São exemplos de ortografias transparentes o finlandês, italiano, húngaro, existindo
correspondência de um para um entre a unidade gráfica e a unidade sonora. Já a língua
inglesa é um bom exemplo de uma ortografia opaca. Por exemplo, o grafema complexo <ou>
do inglês corresponde a muitos fonemas diferentes: /a/ em “rough”, /u/ em “you” e /au/ em
“out”, verificando-se que a correspondência grafema-fonema é inconsistente e ambígua,
havendo correspondência de uma unidade gráfica para muitas unidades sonoras.
Relativamente ao português, este é classificado como como uma ortografia intermédia,
possuindo características opacas e características transparentes.
De acordo com Morais (1998), a língua portuguesa apresenta três tipos de relações
regulares: as diretas, contextuais e morfológico-gramaticais. As relações diretas dizem
respeito a uma ortografia transparente, ou seja, a cada letra corresponde apenas um som,
assim como ao contrário, independentemente da sua posição na palavra, como é o caso das
letras “b”, “d”, “f”, “p”, “t” e “v”, onde a relação entre os grafemas e os fonemas são diretas
(Meireles & Correa, 2005). No caso das relações regulares contextuais, a escrita correta da
palavra é definida tendo em conta o contexto onde a palavra aparece, ou seja, a posição que
a letra ocula na palavra ou a letra que se lhe segue (Morais, 1998). Meireles e Correa (2005)
a presentam o exemplo da letra “m”, que confere a nasalização da sílaba das letras “p” e “b”,
como se pode verificar nas palavras “bomba” ou “tampa”, enquanto que nos outros casos
essa nasalização é dada pela letra “n”, como se pode verificar nas palavras “santa” ou “tinta”.
Já as relações regulares morfológico-gramáticas dizem respeito aos casos em que há a
necessidade de recorrer à gramática, especialmente à morfologia, para se escrever
corretamente uma palavra. Por exemplo, na escolha do sufixo “esa” ou “eza”. Se se está
perante um adjetivo derivado de um substantivo, a palavra será escrita com “s”, como é o
caso da palavra “portuguesa”. Se a palavra em causa deriva de um adjetivo, esta será escrita
com a letra “z”, como é o caso da palavra “certeza” (Meireles & Correa, 2005).
12
Contudo, além das relações regulares, é ainda de referir a presença de inconsistências
na escrita da língua portuguesa. Palavras inconsistentes são aquelas em que a
correspondência grafema-fonema não se baseia em qualquer regra. Nas palavras cuja escrita
é inconsistente, esta não pode ser resolvida pela descodificação fonológica, nem pelo
contexto, nem por regras ortográficas genéricas, sendo, deste modo, necessário o
conhecimento específico da palavra em causa para que seja possível escrevê-la corretamente.
Assim, no caso das inconsistências a escrita vai depender totalmente de uma representação
gráfica de qualidade da palavra em questão, não sendo, deste modo, proceder à sua correta
escrita recorrendo a uma simples codificação fonológica, ou seja, pela conversão fonema-
grafema (Apell, 2011). A palavra “gente” é um bom exemplo de uma inconsistência da
escrita, em que a letra “g” é lida com o som “j”. O nome “Joana” pode também ser
considerada uma palavra inconsistente, uma vez que o “o” é lido como “u”.
14
nos primeiros anos do ensino primário.
O presente estudo tem como base o Modelo de Dupla Via, que defende que são duas
as vias para a aquisição da leitura: a via sublexical ou fonológica e a via lexical ou
ortográfica, sendo que o acesso a cada via vai depender das características psicolinguísticas
do estímulo, da familiaridade e do comprimento do estímulo (Barry, 1994). Este modelo
permite categorizar os erros de ortográfica em foneticamente imprecisos ou erros
foneticamente precisos (Treiman & Bourassa, 2000). O erro foneticamente impreciso denota
uma incompatibilidade entre a grafia da palavra e como esta é soletrada, soletrar a palavra
casa (casa) /rka.z / como cassa /rka.s/ resultando assim em uma pronúncia que não coincide
com a palavra pretendida. Os erros foneticamente precisos a estrutura fonológica prevalece,
no entanto, a a interpretação da palavra é utilizada, como por exemplo inadequada (casa ou
caza resulta na mesma pronúncia /rka.z /, mas a segunda forma é ortograficamente incorreta).
Assim, estes erros podem sinalizar dificuldades na utilização das vias ortográficas. Erros
foneticamente imprecisos indicam que os soletradores não estão a utilizar estratégias
baseadas em sons, enquanto erros foneticamente precisos sugerem uma utilização correta da
rota montada, mas uma falha na utilização de um procedimento ortográfico baseado no
léxico. Do ponto de vista do desenvolvimento, não é, portanto, surpreendente que erros
foneticamente imprecisos diminuam ao longo da escolaridade, do que por outro lado, em
que a maior parte dos erros ortográficos sejam foneticamente precisos (Bahr et al., 2012;
Protopapas et al., 2013). Tal como proposto nas teorias de Ehri (1986) há uma progressão de
estratégias baseadas no som para estratégias ortográficas ao longo do desenvolvimento,
sendo, portanto, esperado mais erros foneticamente imprecisos nos alunos mais jovens e uma
percentagem mais elevada de erros foneticamente precisos e erros nas marcas de tensão
(Bahr et al., 2012).
15
(Bigozzi et al., 2017; Graham et al., 1997; Limpo & Alves, 2013).
A avaliação da ortografia aparece como sendo uma importante ferramenta para o
ensino da ortografia uma vez que permite que os professores façam o diagnóstico da
aprendizagem por parte dos seus alunos, permitindo que este desenvolva estratégias
adequadas para que estes sejam capazes de desenvolver os seus conhecimentos ortográficos
da forma mais correta possível. O ditado aparece como um método de avaliação de fácil
aplicação e com bons resultados para o diagnóstico da ortografia dos alunos. Como refere
Sousa (2014, p. 117):
“o ditado é uma das tarefas que permitem observar as zonas de dificuldades dos
alunos, no que ao registo diz respeito. Ao observar as hesitações, as dúvidas e os
erros, aluno e professor podem ter uma visão mais próxima do que está a ocorrer no
processo de aprendizagem e quais as áreas da língua e/ou da escrita que causam
mais problemas. Visto desta forma, o ditado pode ser usado como um meio para
analisar as dificuldades dos alunos e uma plataforma para planear o ensino”.
Apesar de aparentemente parecer, o ditado não é uma tarefa simples uma vez que,
um ditado perfeito, implica o conhecimento profundo do sistema alfabético em causa, com
todas as suas regras e convenções, sendo que a aprendizagem destas é geralmente um
processo moroso e complexo (Estrela & Sousa, 2011). Contudo, a ortografia também pode
ser avaliada no contexto de produção textual. Neste tipo de tarefa, o conhecimento da
ortografia surge associado a outro tipo de saberes que vão desde o conhecimento dos
objetivos da tarefa, dos contextos, da intencionalidade, até aos conhecimentos de tópico, de
género, etc. Por isso, a realização da escrita de texto proporciona aos alunos a oportunidade
para pensarem criticamente e para tomarem posição face ao mundo, construindo uma voz.
Deste modo a produção de textos escritos diversos, tanto os ditados como a escrita
de texto, têm a capacidade de melhorar a produção e a compreensão a respeito do que se
escreve. No ato de escrever, a criança vai, efetivamente, pensar e tentar ligar a letra que quer
utilizar na palavra que vai escrever, fazendo isso através do som. Quando ocorrem dúvidas
relativamente à letra que correspondentes ao som que ouvem podem, então, ocorrer os erros
ortográficos, uma vez que as crianças não conhecem todas as normas que regem a ortografia
(Morais, 2003). Deste modo, a escrita de textos é uma boa forma de avaliar o conhecimento
ortográfico das crianças, uma vez que, ao analisar os seus erros ortográficos é possível
analisar as representações que estas possuem sobre a escrita, permitindo deste modo o
desenvolvimento de estratégias por parte dos professores para resolver esses erros.
16
2. MÉTODO
2.1 Participantes
Tabela 1
2.2 Instrumentos
A recolha de dados foi efetuada através dos alunos que frequentavam a escola no
dia da coleta de dados. Importa, ainda aferir que alunos sem NEE (Necessidades
Educativas Especiais) foram também incluídos.
17
Através da aplicação de ditados e também com a realização de correspondências
relacionadas com o contexto da ação, as crianças têm a capacidade de aprender,
consistentemente, as características ortográficas de uma palavra, fazendo-a corresponder,
também, a um som específico. A partir do terceiro ano, o ensino da ortografia e das
correspondências fonoaudiológicas sofre uma redução, sendo que o foco da aprendizagem
passa para a consolidação as complexidades ortográficas, como o caso das inconsistências e
dos acríticos, através de, por exemplo, exercícios como a realização de composições.
18
no 2ª ano e também palavras menos sensíveis as diferenças entre os anos em análise. O
desempenho da lista de 56 e 16 palavras apresenta uma correlação alta e forte (r= .84), de
acordo coma base de dados de Alves e Limpo (2015). Há ainda que referir que, da lista de
16 palavras selecionadas, metade era de alta frequência e a outra metade de baixa e média
frequência, incluindo palavras bi e trissilábicas de 4 a 7 letras.
2.6 Fiabilidade
3 RESULTADOS
19
Tabela 2
Correlações entre erros ortográficos nas tarefas de ditado e escrita de texto por ano
Total Foneticamente impreciso Foneticamente impreciso Erro de acentuação
Ditado Escrita texto Ditado Escrita texto Ditado Escrita texto Ditado Escrita texto
2º Ano
Total
Ditado 0.23 0.73 0.28 0.30 0.14 −0.41 −0.04
Escrita de texto 0.15 0.64 0.17 0.74 −0.16 0.45
Foneticamente impreciso
Ditado 0.33 −0.18 0.02 −0.52 −0.14
Escrita de texto −0.08 0.09 −0.21 0.01
Foneticamente preciso
Ditado 0.25 −0.26 0.18
Escrita de texto −0.10 0.16
Erros de acentuação
Ditado −0.06
Escrita de texto
4º Ano
Total
Ditado 0.22 0.58 0.27 0.71 0.15 0.34 0.12
Escrita de texto 0.20 0.57 0.07 0.75 0.09 0.80
Foneticamente impreciso
Ditado 0.25 0.14 0.17 −0.17 0.08
Escrita de texto 0.17 0.27 0.02 0.30
Foneticamente preciso
Ditado 0.04 −0.11 0.02
Escrita de texto 0.04 0.28
Erros de acentuação
Ditado 0.12
Escrita de texto
6º Ano
Total
Ditado 0.09 0.57 0.09 0.55 0.17 0.73 0.22
Escrita de texto 0.02 0.11 0.12 0.27 0.04 −0.26
Foneticamente impreciso
Ditado 0.07 0.12 0.06 0.09 0.11
Escrita de texto 0.05 0.08 0.07 −0.06
Foneticamente preciso
Ditado 0.06 0.11 −0.12
Escrita de texto 0.18 0.03
Erros de acentuação
Ditado 0.19
Escrita de texto
Tabela 3
Medidas M DP M DP M DP
Percentagem de erros
72.85 16.77 47.25 15.96 33.31 14.15
ortográficos no ditado (total)
Percentagem de erros
13.05 10.96 11.31 16.40 1.73 5.92
ortográficos em texto (total)
21
Figura 1
Ilustração da interação do ano de escolaridade vs. tipo de erros vs. tarefas
45
40
Percentagem de erros na pronúncia
25 Erros de acentuação
22
tripla, F(4,1860) = 64.17, p < .001, ƞp² = .12, ilustrada na figura 1 e decomposta com análises
de efeitos simples.
Relativamente aos anos foram encontradas diferenças entre todos eles para todos os
tipos de erros em ambas as tarefas: Fs (2,930) > 17.55, ps < .001, ƞp² > .04. Ao mesmo
tempo, as comparações realizadas demonstram que a percentagem em relação à existência
de erros foneticamente imprecisos e erros foneticamente precisos, em ambas as tarefas, são
significativamente diferentes entre os três anos (ps < .001, exceto para diferenças nas
percentagens de erros foneticamente imprecisos em ditados realizados pelo 4º e a 6º ano,
p=.20), sendo que, os alunos do 2º ano apresentam mais erros e os alunos do 6º ano menos
erros. O padrão dos resultados foi diferente para os erros relacionados com os erros de
acentuação: na escrita de texto, os alunos do 4º ano produziram mais erros do que os alunos
do 2º ano, que, comparativamente, produziram mais erros do que os alunos do 6º ano (ps
<.001); já em ditados, os alunos do 4º ano produziram mais erros que os alunos do 2º e do
6º ano ps <.001), não se tendo verificado uma diferença estatisticamente significativa entre
estes dois anos (p =.78).
Este estudo teve como objetivo analisar os tipos de erros ortográficos dados por
alunos portugueses do 2º, 4º e 6º anos em diferentes tarefas de escrita, como é o caso dos
ditados e escrita de texto.
Em função das formas diferentes de avaliar a ortografia, percebe-se que existem
diferenças marcantes entre o 2º e 4º anos e o 6º ano. Importante destacar que ditados são
palavras impostas e a escrita de texto permite uma maior facilidade podendo o aluno escolher
de seu repertório, sendo que esta progressão de acertos também se apresenta de acordo com
a evolução acadêmica. As diferenças verificadas entre a realização de ditados e de escrita de
textos podem também explicar o facto de, consistentemente e de forma transversal a todos
os anos e também tipos de erros, se terem encontrado mais erros nos ditados
comparativamente com os erros encontrados nas escritas de texto. Tal resultado vai de
encontro a outros estudos já realizados, sintetizados por Graham e Santangelo (2014), que
mostraram que as crianças parecem ser bastante efetivas no que toca à seleção de palavras
que sejam capazes de soletrar, tendo encontrado baixas percentagens de erros nas escritas de
texto (média de 8% para toda a amostra).
Nesta pesquisa, constatou-se que os alunos do 6º ano, apresentaram erros na ordem
de 33% das palavras ditadas, ainda não dominam as complexidades do sistema de escrita da
língua portuguesa o que demonstra a necessidade de ensino continuado e sistemático,
baseado na prática para que tivessem domínio completo da escrita em seu nível acadêmico.
O erro foneticamente impreciso e preciso no estudo numa tendência decrescente não
foi, no entanto, observado para os erros relacionados com a acentuação, mais frequente em
alunos do 4º ano, que tiveram maior índice de erros nos ditados que na escrita de textos.
Estudos já realizaram mostraram as dificuldades que as crianças apresentam relativamente a
essa característica particular da escrita (Defior et al., 2009). Como amostra, tornou-se uma
característica em destaque que denota o resultado de como são desenvolvidos as práticas
instrucionais e o posterior desempenho dos alunos.
No conjunto de alunos participantes, o maior índice de erros girou em torno dos de
acentuação e foneticamente precisos (Bahr et al., 2012) e os menos frequentes, os
foneticamente imprecisos, entendendo-se que com a aprendizagem de estratégias tendo
como base a fonética, ocorre nas primeiras fases do desenvolvimento da linguagem (Ehri,
1986; Treiman & Bourassa, 2000). Relativamente à acentuação de facto, há estudos que já
realizaram e mostraram as dificuldades que as crianças apresentam relativamente a essa
24
característica particular da escrita (Defior et al., 2009). Os erros de acentuação podem ser
indicativos de um pobre conhecimento e dificuldades em mapear a ortografia e a prosódia
(Defior et al., 2012; Gutiérrez-Palma et al., 2019).
Nos ditados observou-se uma maior frequência nos erros foneticamente precisos
quando comparados com os erros foneticamente imprecisos, sugerindo, deste modo, um
sucesso generalizado no que concerne a um modo previamente definido para escrever as
palavras mais uma capacidade menor do que a desejável para se utilizar procedimentos de
escrita baseados na ortografia. O resultado indica que o ensino da escrita direcionada ainda
precisa de processos de desenvolvimento que efetivamente o torne bem-sucedido.
5. CONCLUSÃO
25
6. REFERÊNCIAS
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