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Manual de Electrotecnia

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9.1 Resistência, reactância e impedância. Definições.


Se realizarmos a experiência de verificação da lei de Ohm mas aplicando agora grandezas alternadas, chegaremos à
conclusão que se mantém constante o quociente U / I. A este cociente chamaremos de impedância do circuito ao qual
aplicamos a tensão alternada e que se representa por Z. A sua unidade é igualmente o Ω -Ohm.

Assim, a lei de Ohm assume a forma, que é designada por Lei de Ohm generalizada.

U=Z.I

A diferença entre Z e R deve-se ao facto de Z depender da frequência. Assim, em corrente alternada, a relação entre a
tensão e a corrente depende, para uma dada frequência, da impedância Z e ângulo de desfasamento ϕ.
Por definição designar-se-á:

Æ Z.cos ϕ - por resistência R

Æ Z.sen ϕ - por reactância X

Figura 9.1 - Representação gráfica da resistência e reactância

De seguida, estudaremos os circuitos em que surgem correntes alternadas sinusoidais, que são formadas por
resistências, bobinas e condensadores. Veremos, em primeiro lugar, os circuitos ideais, ou seja, os constituídos
apenas por resistências, por bobinas puras ( sem resistência) e por condensadores puros ( sem resistência de perdas).

Tal não acontece na realidade. No entanto, algumas destas três grandezas, que formam os elementos reais
( resistência, reactância indutiva e reactância capacitiva ), assumem valores tão baixos que podem ser desprezar-se
face aos restantes. É o caso, por exemplo, das lâmpadas de incandescência, que podem, sem grande errro, ser
consideradas como resistências puras.

9.2 Circuito puramente resistivo


Ao aplicarmos uma tensão alternada sinusoidal à resistência puramente óhmica, qual será a forma de onda da
corrente no circuito?

Aplicando a Lei de Ohm aos sucessivos instantes e uma vez que Z = R (pois o circuito é considerado um circuito ideal
e, desta forma a outra componente da impedância, ou seja a reactância, será nula), facilmente se verifica:

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 135


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Æ Á medida que a tensão aumenta, a corrente também aumenta já que se relacionam pela Lei de Ohm;
U = R . I.

Æ Quando a tensão aplicada muda de polaridade, também a intensidade de corrente muda de sentido.

Figura 9.2 - Resistência pura alimentada em corrente alternada

Logo as curvas representativos da tensão e corrente estão em fase , ou seja, a um máximo da tensão
corresponde um máximo da corrente, o mesmo sucedendo para os zeros.

Figura 9.3 - Representação algébrica, vectorial e cartesiana da tensão e respectiva corrente numa resistência puramente
óhmica.

EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO PURAMENTE RESISTIVO

1. Considere o divisor de tensão da figura seguinte, com uma carga de 15 KΩ. Sendo: u = 2 2 .sen.ω.t .

Figura 9.4 - Circuito em analise


Determine:
1.1 I1 máx, I2 máx e I3 máx.
1.2 Os valores eficazes das correntes.
1.3 Uab, Ubc, UABmáx. e UBCmáx.

Página 136 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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9.3 Circuito puramente capacitivo


Como será o comportamento do condensador ao ser-lhe aplicada uma tensão alternada sinusoidal?
A lâmpada inserida no circuito da figura brilha constantemente. A justificação reside na carga e descarga do
condensador, existindo uma corrente no circuito.

Figura 9.5 - Condensador alimentado a corrente alternada

De que dependerá então a intensidade de corrente num circuito capacitivo? Iremos verificar esta questão, recorrendo a
uma alimentação não sinusoidal, para uma mais fácil compreensão.
Começaremos por analisar a influência da frequência no valor da intensidade de corrente.
Pela verificação da figura que se segue, podemos constatar que no circuito com frequência mais elevada, o valor
médio da corrente é mais elevado, pois a tensão é invertida antes que a corrente tenha tempo de atingir um baixo valor
durante a carga do condensador.
Para a baixa frequência, o valor médio da corrente, é inferior á situação anterior, pois a corrente de carga, antes da
tensão se inverter, tem tempo de atingir valores reduzidos.

Figura 9.6 - Resposta de um condensador a uma onda rectangular de diferentes frequências

Deste modo, e para determinada capacidade, a corrente média no circuito será tanto maior quanto maior for a
frequência da tensão aplicada.
Verifiquemos agora a influência da capacidade no valor da intensidade de corrente. Os dois condensadores devem
possuir a mesma resistência. De modo análogo, quanto maior for a capacidade, a carga adquirida não chega a
carregar o condensador, mantendo-se a corrente com valores elevados quando se dá a inversão de polaridade da
tensão aplicada.
O valor médio de corrente será tanto maior quanto maior for o valor da capacidade do condensador.

Figura 9.7 - Valor da corrente num circuito com condensadores de diferentes capacidades

Assim sendo, a corrente será tanto maior quanto for a frequência, a capacidade e a tensão aplicada.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 137


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Sendo a oposição à circulação de corrente a reactância capacitiva Xc, a lei de ohm virá:

U = Xc . I

Sendo o valor de XC dado por:


1
XC =
2.π.f .C

como a velocidade angular é dado por ω = 2π .f , virá:


1
XC =
ω.C

em que:
XC – reactância capacitiva - Ohm ( Ω )
f - frequência - Hertz ( HZ )
C - Capacidade - Farad ( F )
ω - velocidade angular - Radiano por segundo ( rad/s )

Ao iniciar-se a carga de um condensador, a diferença de potencial aos seus terminais é zero, tendo, ao contrário,
acorrente o seu valor máximo. À medida que a carga vai aumentando, aumenta a tensão nos seus terminais,
diminuindo consequentemente a corrente, até se anular, o que sucede quando a d.d.p. aos terminais do condensador
atinge o máximo valor.
Na descarga, as curvas decrescem simultaneamente. No instante em que se inicia a descarga, a tensão parte do seu
máximo positivo e a corrente do seu mínimo valor ( zero ). O condensador descarrega-se quando as armaduras têm
igual número de electrões, atingindo nesta altura a corrente o seu máximo negativo.

A tensão atinge o zero, enquanto a corrente já o havia atingido 90º antes. A corrente está avançada 90º em
relação à tensão.

Figura 9.8 - Circuito puramente capacitivo e representações algébrica, vectorial e cartesiana da tensão aplicada e da
corrente que o percorre

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

1. Uma tensão u = 12 2 .sen.103.π.t aplica-se a um condensador de 4,7 µF / 63 V. Determine:

1.1 O valor da reactância do condensador.


1 1
XC = = ⇒ X C = 67,8 Ω
ω.C 1000.π. 4,7 × 10− 6

Página 138 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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1.2 O valor eficaz da corrente.

Æ Cálculo da tensão eficaz:

U max 12 2
U= = ⇒ U = 12 V
2 2
Æ Cálculo da corrente pedida:
U 12
I= = ⇒ I = 0,18 A
XC 67,8

1.3 A expressão algébrica do valor instantâneo da corrente.


π
u = 0,18. 2 .sen.( 103.π.t + )
2

EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO PURAMENTE CAPACITIVO

1. Um condensador de 10 µF é ligado à rede eléctrica nacional ( 230 V, 50 Hz ). Determine:


1.1. A reactância capacitiva do condensador.
1.2. A intensidade absorvida pelo condensador.

2. Calcule a capacidade de um condensador puro ( R= 0 Ω ) que absorve 2 A quando ligado a 230 V.

3. Um condensador ideal de 5 µF absorve 0,3 A à frequência de 50 Hz. Determine:


3.1. A sua reactância.
3.2. A tensão a que foi submetido.

4. Seleccione a alternativa que permite escrever uma afirmação verdadeira.


“ Num circuito puramente indutivo...

c a tensão está atrasada 90º em relação à corrente


d a tensão está em fase em relação à corrente.”
e a tensão está avançada 90º em relação à corrente.”
f a tensão está em oposição de fase em relação à corrente.”
g a tensão está avançada 45º em relação à corrente.”

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 139


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9.4 Circuito puramente indutivo


Neste circuito a oposição à circulação da corrente é feita pela f.e.m. de auto-indução da bobina e chama-se
reactância indutiva ( XL ) e exprime-se em Ω.
Qual será a relação entre os valores eficazes da tensão e da corrente?

Figura 9.9 - Bobina alimentada a corrente contínua ou corrente alternada

Quando o interruptor se fecha alimentado o circuito em CC., a corrente não surge de imediato. Pela lei de Lenz, a
corrente induzida no circuito tem um sentido cujos efeitos se opõem à causa que a originou.
Ao abrir-se o interruptor, a corrente não cessa pelas mesmas razões. A diminuição da corrente é pois retardada. É o
que se representa na figura 56, onde o fecho do interruptor se efectiva no instante t1, só atingindo a corrente um valor
final após o intervalo t3 – t1. na diminuição da corrente, esta só se anula após o intervalo de tempo t4 – t2.

Figura 9.10 - Forma de onda num circuito indutivo alimentado a corrente contínua

Em corrente alternada, os efeitos da auto-indução são constantes. Vejamos a que é igual a reactância indutiva. no
gráfico esboçado na figura seguinte, ao comutar-se a alimentação para corrente alternada, a lâmpada brilha menos
que em CC.Podemos concluir que quanto maior for o coeficiente de auto-indução – L – , mais se farão sentir os efeitos
da auto-indução, pelo que menor será a corrente no circuito. A corrente será inversamente proporcional à
indutância.

E a reactância dependerá da frequência?


Como se representa na parte A da figura 9.11, com uma grande frequência, logo pequeno período, a corrente não tem
tempo de atingir o seu valor máximo, pois a tensão aplicada inverte-se. Na parte B, a corrente atinge um valor mais
elevado, já que o período da tensão aplicada é maior. Logo, quanto maior a frequência, menor será a corrente
eléctrica.

Página 140 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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Figura 9.11 - Gráfico da corrente para tensões aplicadas de diferentes frequências

Sendo a oposição à circulação de corrente a reactância indutiva XL, a lei de ohm virá:
U = XL . I

Sendo o valor de XL dado por:


XL = 2π .f.L

Como ω = 2π .f , a expressão tomará o seguinte aspecto:


XL = ω . L
onde:
XL – reactância indutiva - Ohm ( Ω )
f - frequência - Hertz ( HZ )
L - coeficiente de auto-indução ou indutância - Henry ( H )
ω - velocidade angular - Radiano por segundo ( rad/s )

Ao ser aplicada tensão à bobina, a corrente não surgirá imediatamente pois, como vimos atrás, surgirá no circuito,
devido à auto-indução, uma corrente com um sentido tal que faz retardar o aparecimento da corrente principal no
circuito. Esta apenas surgirá quando a tensão atingir o seu valor máximo. Ainda, devido aos fenómenos de auto- -
indução, a corrente irá aumentar enquanto a tensão decresce, e atinge um máximo quando a tensão aplicada é nula.
A tensão inverte-se, a corrente começa a diminuir, mas esta diminuição é retardada e anula-se quando a tensão atige
o seu máximo negativo, ou seja, um quarto de período mais tarde.

O desfasamento será então de π / 2 radianos ou seja 90º. A corrente está atrasada de T / 4 em relação à
tensão.

Figura 9.12 - Circuito puramente indutivo e representações algébrica, vectorial e cartesiana da tensão aplicada e da corrente que
o percorre

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

1. A uma bobina de 0,15 mH de coeficiente de auto-indução foi aplicada uma tensão sinusoidal de 1,2 V e 5 KHz de
frequência. Calcule:

1.1 O valor da reactância indutiva da bobina


X L = 2.π.f .L = 2.π.5000 . 0,15 × 10−3 ⇒ X L = 4,71 Ω

1.2 O valor eficaz da corrente.


U 1,2
I= = ⇒ I = 0,255 A
XL 4,71

1.3 A expressão algébrica do valor instantâneo da corrente.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 141


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π
i = 0,255. 2 .sen.( 10000.π.t − )
2

EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO PURAMENTE INDUTIVO

1. Uma bobina apresenta uma reactância de 125 Ω quando alimentada a uma frequência de 10 KHz. Determine a
sua reactância quando a frequência de alimentação passa a 2,5 MHz.

2. Uma tensão u = 110 2 .sen.50.π.t está aplicada a uma indutância pura de 0,4 H. Calcule:

2.1 A frequência do sinal aplicado.


2.2 O valor eficaz da corrente.
2.3 A equação do valor instantâneo da corrente.

3. Seleccione a alternativa que permite escrever uma afirmação verdadeira.


“ Num circuito puramente indutivo...

c a tensão está atrasada 90º em relação à corrente


d a tensão está em fase em relação à corrente.”
e a tensão está avançada 90º em relação à corrente.”
f a tensão está em oposição de fase em relação à corrente.”
g a tensão está avançada 45º em relação à corrente.”

Página 142 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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9.5 Circuitos reais ( série )


Os circuitos reais não são constituídos somente por resistências, bobinas ou condensadores. Na electrónica, existe
necessidade de conjugar alguns destes elementos. É o que, seguidamente, iremos estudar, e porque a corrente irá
percorrer todos os elementos do circuito, será esta a grandeza que usaremos como referência.

9.5.1 Circuitos RC
Trata-se de um circuito constituído por um condensador real que é equivalente à série de um condensador ideal e de
uma resistência.

Figura 9.13 - Condensador real e circuito equivalente

De igual modo iremos representar e verificar como se determina o ângulo de desfasamento que neste caso será um
ângulo negativo.

Figura 9.14 - Representação da tensão e corrente num circuito série RC

Marcando a tensão na resistência, em fase com a intensidade I, e


a tensão no condensador em quadratura e em atraso com I,
obteremos o triângulo das tensões depois de, vectorialmente, estas
serem somadas.

Sendo: UR = R .I e UC = XC .I
Figura 9.15 - Diagrama vectorial das tensões e
corrente num circuito RC

Se dividirmos o triângulo então obtido pela intensidade teremos o triângulo das impedâncias.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 143


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Figura 9.16 - Triângulo das tensões e das impedâncias

Poderemos ver através do triângulo calcular o ângulo de desfasamento ϕ :

Cos ϕ = cateto adjacente / hipotenusa ⇒ Cos ϕ = R / Z ou de outra forma: R = Z cos ϕ

Sen ϕ = cateto oposto / hipotenusa ⇒ Sen ϕ = XC / Z ou de outra forma: XC = Z sen ϕ

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

1. Um condensador de 22 µF / 50V está ligado em série com uma resistência


de 330Ω. A tensão aos terminais do condensador é 32 V, sendo a corrente
no circuito 160 mA. Determine:

1.1 A reactância capacitiva.

UC 32
XC = = ⇒ X C = 200 Ω
I 160 × 10−3

Figura 9.17 - Circuito em análise

1.2 A frequência da tensão.

1 1 1
XC = ⇒f = = ⇒ f = 36,17 Hz
2.π.f .C 2.π.X C .C 2.π.200.22 × 10− 6

1.3 A impedância do circuito.

Z = R 2 + X C 2 = 3302 + 2002 ⇒ Z = 385,9 Ω

1.4 A tensão total.

U = Z..I = 385,9 × 0,16 ⇒ U = 61,74 V

1.5 O co-seno do ângulo de desfasamento.

R 330
cos ϕ = = = 0,855 ⇒ ϕ = 31,2º
Z 335,9

1.6 A mínima potência da resistência.

P = R.I 2 = 330 × 0,162 ⇒ P = 8,5 W

Página 144 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO SÉRIE RC

1. Aplicam-se 16 V, com a frequência de 50 Hz à série de uma resistência de 15 Ω e um condensador com


reactância de 20 Ω. Calcule:
1.1 A impedância do circuito.
1.2 O co-seno do ângulo de desfasamento.
1.3 A capacidade do condensador.

2 A um circuito série de uma resistência de 2,2 KΩ e um condensador de 4,8 F aplica-se uma tensão sinusoidal de
10 V, 15 kHz. Calcule:
2.1 A impedância do circuito.
2.2 A intensidade de corrente eléctrica que percorre o circuito.
2.3 O ângulo de desfasamento.

3 Fez-se um ensaio com um circuito RC em série de que resultaram os valores indicados no esquema representado
em baixo.

Figura 9.18 - Circuito RC em ensaio

Calcule:
3.1 Os valores de R e XC.
3.2 A tensão na resistência.
3.3 O valor da tensão U aplicada ao circuito.
3.4 A impedância do circuito.

4 Um circuito constituído por uma resistência de 100 Ω em série com um condensador de capacidade C = 20 µF, é
alimentado por uma tensão de 230 V/50 Hz. Determine:
4.1. A reactância capacitiva.
4.2. A impedância do circuito.
4.3. A corrente eléctrica que percorre o circuito em análise.
4.4. A tensão nos terminais da resistência e do condensador.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 145


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9.5.2 Circuitos RL
Será um circuito constituído por uma bobina real que é equivalente a uma bobina pura ( ideal) em série com
uma resistência.

Figura 9.19 - Bobina real e circuito equivalente

Vejamos como relacionar a tensão com a corrente num circuito série RL.

Figura 9.20 - Representação da tensão e corrente num circuito série RL

Para determinarmos o ângulo de desfasamento, marcam-se as tensões UR e UL , tomando por referência a grandeza
comum que é a corrente ( trata-se de um circuito série, logo a intensidade da corrente é constante ao longo do
circuíto). Sendo:
UR = R .I e UL = XL .I ,

resultará o diagrama vectorial da figura ao lado, onde UR e UL


estão em quadratura, e que após serem adicionados originarão
a tensão U. Por aplicação do teorema de Pitágoras obtemos o
diagrama esboçado na figura 67.

Figura 9.21 - Diagrama vectorial das tensões


e corrente num circuito RL

Do triângulo das tensões podemos obter, dividindo por I ( Z = U / I ) o triângulo das impedâncias:

Figura 9.22 - Triângulo das tensões e das impedâncias

Poderemos ver através do triângulo calcular o ângulo de desfasamento ϕ :

Página 146 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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Cos ϕ = cateto adjacente / hipotenusa ⇒ Cos ϕ = R / Z ou de outra forma: R = Z cos ϕ

Sen ϕ = cateto oposto / hipotenusa ⇒ Sen ϕ = XL / Z ou de outra forma: XL = Z sen ϕ

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

1. Aplica-se uma tensão de 220 v, 50 Hz à série de uma resistência de 30 Ω com uma indutância de 0,16 H. Calcule:

1.1 A impedância do circuito.

Z = R 2 + X L 2 = 302 + 50,27 2 ⇒ Z = 58,5 Ω

1.2 A intensidade de corrente.

U 220
I= = ⇒ I = 3,76 A
Z 58,5

1.3 As tensões aos terminais da resistência e da bobina.

U R = R .I = 30 × 3,76 ⇒ U = 112,8 V

U L = X L .I = 50,27 × 3,76 ⇒ U = 189 V

1.4 O ângulo de desfasamento.

R 30
cos ϕ = = = 0,513 ⇒ ϕ = 59º
Z 58,5

EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO SÉRIE RL

1. Coloca-se em série uma resistência de 6 Ω e uma reactância indutiva de 8Ω, sendo o conjunto percorrido por
uma corrente de 1,1 A. Determinar:
1.1 As tensões em R e em L.
1.2 A impedância do circuito.
1.3 A tensão total aplicada.
1.4 O ângulo de desfasamento ( cos ϕ ).
1.5 Construa o diagrama da corrente e das tensões.

2. Aplicam-se 16 V, com a frequência de 50 Hz à série de uma resistência de 15 Ω e uma bobina com reactância de
20 Ω. Calcule:
2.1 A impedância do circuito.
2.2 co-seno do ângulo de desfasamento.
2.3 A indutância da bobina.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 147


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9.5.3 Circuito RLC série


Teremos agora que considerar a série de uma resistência, uma bobina e um condensador considerados elementos
ideais. Como já foi referido, na realidade, todos os componentes têm estes três elementos, se bem que algum ou
alguns deles sejam desprezáveis.
Iremos, de modo análogo, determinar o ângulo de desfasamento entre a tensão, a corrente e respectiva representação
vectorial.
Antecipadamente, reconheça-se que U ≠ UR + UL + UC. A expressão apenas será validade quando tratarmos de
grandezas vectoriais. Virá:

Sendo a corrente a grandeza comum aos três elementos do circuito, construiremos o diagrama vectorial partindo do
vector corrente:

Figura 9.23 - Representação da tensão e corrente num circuito série RLC

As tensões em L e C estão em quadratura com a corrente I, sendo UL em avanço em relação I ( como sabemos dos
circuitos puramente indutivos a corrente está em atraso em relação à tensão ) e UC em atraso em relação
a I ( pois nos circuitos com condensadores ideais a corrente está avançada em relação à tensão).

• Se UL for dominante face a UC, teremos um circuito dominantemente indutivo.


• Se UC for dominante face a UL, teremos um circuito dominantemente capacitivo.

Circuito dominantemente indutivo


No circuito dominantemente indutivo teremos: UL > UC ,logo ϕ > 0.

Figura 9.24 - Obtenção do triângulo das tensões e corrente num circuito puramente indutivo

Página 148 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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Para obtermos o vector U teremos de proceder como anteriormente, ou seja somar vectorialmente as tensões na
resistência, na bobina e no condensador. Por facilidade, efectua-se previamente a soma de UL + UC dos vectores
equipolentes aplicados à extremidade de UR.

Circuito dominantemente capacitivo


No circuito dominantemente indutivo teremos: UC > UL ,logo ϕ < 0.

Figura 9.25- Obtenção do triângulo das tensões e corrente num circuito puramente capacitivo

Circuito puramente resistivo


No circuito puramente resistivo UL = UC logo ϕ = 0, uma vez que se anulam L e C.

Figura 9.26 - Diagrama da corrente e tensões num circuito puramente resistivo

Analogamente, como nos circuitos anteriores, teremos o triângulo das tensões e das impedâncias, embora neste caso
teremos dois triângulos, um para os circuitos dominantemente indutivos ϕ > 0, e outro para circuitos dominantemente
capacitivos ϕ < 0.

Figura 9.27 - Obtenção do triângulo das impedância num circuito puramente indutivo

Figura 9.28 - Obtenção do triângulo das impedância num circuito puramente capacitivo

Pela aplicação do teorema de Pitágoras obtemos:

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 149


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Z = R 2 + X2

Cos ϕ = cateto adjacente / hipotenusa ⇒ cos ϕ = R / Z ou de outra forma: R = Z cos ϕ

Sen ϕ = cateto oposto / hipotenusa ⇒ sen ϕ = X / Z ou de outra forma: X = Z sen ϕ

tg ϕ = cateto oposto / cateto adjacente ⇒ tg ϕ = X / R

9.5.3.1 Circuito RLC série em ressonância


Um circuito RLC encontra-se em ressonância quando a tensão aplicada e a corrente que nele circula estão em fase.
Assim, a impedância vectorial Z será igual à resistência R. consequentemente a reactância X é nula.

X = 0 Æ XL = X C Æ Z = R

Figura 9.29 - Condições de ressonância

Para calcular o valor da frequência de ressonância tomamos como base que X = 0. Assim virá:

X = 0 Æ XL = X C

sendo:
X L = 2.π.f .L
e,
1
XC =
2.π.f .C

igualando temos que:


1
2.π.f .L =
2.π.f .C

resolvendo, matematicamente, em ordem a f ficará:


1
f2 =
(2.π) 2 .C.L

1
f =
(2.π) 2 .C.L

a frequência de ressonância é dada por:


1
f0 =
2.π . C.L

Página 150 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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onde:
f0- frequência de ressonância ( em hertz )
C – capacidade ( em farad )
L – coeficiente de auto indução ( em henry )

Os circuitos RLC série apresentarão à frequência de ressonância:


• Impedância mínima
• Intensidade de corrente máxima
• Sobretensões

Representando no mesmo sistema de eixos, em módulo, as reactâncias do condensador e da bobina, torna-se


evidente que à frequência de ressonância XL = XC. Para valores inferiores de frequência o circuito é dominantemente
capacitivo, pois XC > XL. Para frequências acima da frequência de ressonância XL > XC, sendo o circuito indutivo.

Figura 9.30 - Representação gráfica da frequência de ressonância

Representando a variação das reactância capacitiva e indutiva bem como a resistência óhmica em função da
pulsação, pode verificar-se que à frequência de ressonância o valor das reactâncias é igual, sendo a impedância
Z = R. Para valores inferiores aos da frequência de ressonância a reactância capacitiva é maior que a indutiva; o
ângulo de desfasamento é negativo. Para valores da frequência superiores aos da ressonância, o circuito é
dominantemente indutivo, sendo o ângulo de desfasamento positivo.

Figura 9.31 - Variação da impedância, reactância e resistência com a frequência

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 151


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f < f0 Æ φ < 0º ângulo negativo


f = f0 Æ φ = 0º ângulo nulo
f > f0 Æ φ > 0º ângulo positivo

Este esquema está concretizado na figura 9.32, onde o ângulo de desfasamento é negativo para valores inferiores aos
da frequência de ressonância, tendendo para – 90º quando a frequência se aproxima de 0º. Por outro lado, quando a
frequência é superior á de ressonância, o ângulo de desfasamento é positivo, tendendo para + 90º.
Pode ainda constatar-se que quanto mais pequeno for o valor de R, mais rápida será a variação do ângulo de
desfasamento com a frequência.

Figura 9.32 - Variação da fase em função pulsação

Á frequência de ressonância a corrente no circuito será máxima. Representa-se o gráfico da variação da corrente em
função da pulsação para dois valores da resistência. Note-se que se R tende para zero, a corrente assume valores
muito elevados, tendendo para infinito.

Figura 9.33 - Variação da corrente em função pulsação

EXEMPLO DE APLICAÇÃO

1. O circuito série RLC representado na figura 7 é alimentado por uma


tensão sinusoidal de 10V, 500 Hz. Sendo R = 33 Ω, L = 10 mH e C =
4,7 µF, calcule:

Página 152 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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Figura 9.34 - Circuito em análise


1.1. A reactância indutiva.
X L = 2.π.f .L = 2.π.500 . 10 × 10−3 ⇒ X L = 31,4 Ω

1.2. A reactância do circuito.


1 1
XC = = ⇒ X C = 67,7 Ω
2.π.f .C 2.π.500.4,7 × 10− 6

X = X C − X L = 67,7 − 31,4 ⇒ X = 36,3 Ω

1.3. A impedância do circuito.

Z = R 2 + X2 = 332 + 36,32 ⇒ Z = 49,1 Ω

1.4. O valor da intensidade de corrente no circuito.

U 10
I= = ⇒ I = 0,2 A
Z 49,1

1.5. O valor das tensões na indutância, no condensador e na resistência.

U L = X L .I = 31,4 × 0,2 ⇒ U = 6,28 V

U C = X C .I = 67,7 × 0,2 ⇒ U = 13,54 V

U R = R .I = 33 × 0,2 ⇒ U = 6,6 V

EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO SÉRIE RLC

1. A um circuito série de um condensador de 8 µF e uma bobina real com 250 Ω e 0,7 H de indutância aplica -se
uma tensão sinusoidal com a expressão algébrica indicada abaixo. Determine:

u = 220 2 .sen.100.π.t
1.1 A impedância do circuito.
1.2 A intensidade de corrente eléctrica.
1.3 O ângulo de desfasamento.
1.4 A tensão nos terminais de cada receptor.

2. Uma bobina real com R = 10 Ω e L = 0,2 H foi ligada em série a um condensador de capacidade desconhecida. O
conjunto foi alimentado a 12 V, 500 Hz. Sabendo-se que a corrente no circuito será máxima, determinar:

2.1 A capacidade do condensador.


2.2 A intensidade de corrente no circuito.
2.3 A tensão nos terminais da bobina.
2.4 A tensão nos terminais do condensador.

3. Aplica-se uma tensão de 220 V, com a frequência de 50 Hz ao conjunto série de uma bobina real, composta por
uma resistência de 250 Ω e uma indutância de 0,7H, e um condensador variável.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 153


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1.1 Atente na seguinte definição: “ Diz-se que um circuito RLC está em ressonância quando a tensão
aplicada e a corrente que nele circula estão em fase.” Calcule a capacidade do condensador para se
produzir a ressonância no circuito.

1.2 Com a capacidade assim obtida determine a tensão nos terminais do condensador.

9.6 Potência em corrente alternada


Considerando um circuito indutivo real, façamos a decomposição do vector corrente segundo os eixos, obtendo-se
os vectores Ir e Ia.

Figura 9.35 - Componentes activa e reactiva da corrente

O vector Ia , designa-se por corrente activa em fase com a tensão U, será igual a:

Ia = I cos ϕ

O vector Ir é designado por corrente reactiva, estando em quadratura com a tensão U:

Ir = I sen ϕ

9.6.1 Potência activa


É a potência média igual ao produto da tensão pela componente activa da corrente

P = U . Ia = U.I . cos ϕ

Representa-se por P e expressa-se em Watts (W) e mede-se com o wattímetro.


É esta a potência consumida pelas resistências que vai produzir calor que nelas se liberta por efeito de Joule.

9.6.2 Potência aparente


É igual ao produto de U por I:

S=U.I

Representa-se por S e exprime-se em volt-ampére ( VA).


É a potência dos circuitos indutivos e capacitivos. A potência activa nestes circuitos é nula.

9.6.3 Potência reactiva


É o produto da tensão pela componente reactiva da corrente.

Página 154 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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Q = U . Ir = U.I . sen ϕ

Representa-se por Q. A unidade em que é expressa é o volt-ampére reactivo (VAR)


A energia oscilante em certo intervalo de tempo é medida pelos contadores de energia reactiva.

9.7 Triângulo das potências


As três potências relacionam-se vectorialmente, originando um triângulo, designado por triângulo das potências,
que também pode ser construído por multiplicação dos lados do triângulo das tensões pela corrente I.

Figura 9.36 - Triângulo das potências num circuito RL

Figura 9.37 - Triângulo das potências num circuito RC

9.8 Factor de potência


Interessa relacionar a potência activa com a máxima potência disponível para determinado valor de corrente.

P
cos ϕ =
S

em que:
cos ϕ – Factor de potência
P - Potência activa ( W )
S – Potência aparente ( VA )

Analisando os triângulos acima verifica-se que o factor de potência é o co-seno do ângulo ou seja, cos ϕ.
Idealmente o valor do factor de potência deveria tender para 1, um vez que, desta forma a potência reactiva seria
mínima.

9.9 Análise prática do factor de potência


Problema do factor de potência. Correcção do factor de potência.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 155


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Nos utilizadores que dispõe de instalações com bobinas, o cos ϕ é reduzido a baixos valores, o que origina um
aumento da energia reactiva que, apesar de não ser consumida, corresponde a uma corrente de circulação. A corrente
nos condutores não é toda aproveitada como seria desejável.

Vejamos um caso concreto:


Imaginemos duas fábricas consumindo a mesma potência de 400 kW a uma tensão de 5 KV mas com distintos
factores de potência: cos ϕ na fábrica 1 = 1 e cos ϕ na fábrica 2 = 0,5.

Ao fim de igual tempo de funcionamento, os dois utilizadores terão consumido a mesma energia. Calculemos as
correntes utilizadas por cada um:

P = U.I . cos ϕ

FABRICA 1 :
I1 = P1 / ( U1 . cos ϕ 1 ) = 400 / ( 5x 1 ) = 80 A
FABRICA 2 :
I2 = P2 / ( U2 . cos ϕ 2 ) = 400 / ( 5x 0,5 ) = 160 A

A segunda instalação, para a mesma potência, necessita do dobro da intensidade de corrente da primeira. Daqui
resultam consequências tanto para produtores como para consumidores. Assim, tanto produtores como distribuidores
de energia terão de dispor de alternadores com potências mais elevadas para poderem fornecer a corrente, o que
provocará um dimensionamento de toda a aparelhagem, linhas de transporte e distribuição para maiores intensidades.
Logicamente, existirão maiores quedas de tensão e perdas por efeito de Joule. A potência de perdas aumenta com o
quadrado da intensidade de corrente. Deste modo, é exigido um pagamento consoante a energia reactiva que circula
para o que se instalam contadores de energia reactiva.
A empresa fornecedora de energia nacional estabelece que, quando a energia reactiva ultrapassa 3 / 5 da activa, cada
Kvar excedente é pago a 1 / 3 do preço do KWh.
Quanto aos utilizadores, também é conveniente disporem de um elevado factor de potência porque, se tal não
suceder, terão de sobredimensionar aparelhagem de manobra e protecção, o que equivale a maiores custos.

Como resolver tal problema?


A solução consiste em colocar em paralelo com o receptor um condensador que absorva uma corrente IC de grandeza
igual á componente reactiva da corrente Ir de modo a anularem-se. O conjunto fica puramente óhmico, ou seja
cos ϕ = 1, sendo nula a potência reactiva.
Quando existem vários receptores, a compensação poderá ser efectuar-se individualmente, por grupos ou para
toda a instalação.

Figura 9.38 - Compensação do factor de potência

EXERCICIO DE APLICAÇÃO – CIRCUITO SÉRIE RLC

1. Uma bobina com coeficiente de auto indução (indutância) de 0,5 H é ligada em série com uma resistência de valor
óhmico 80 Ω. A alimentação é de 230 V / 50 Hz. Determine:

Página 156 Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A.


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1.1 A reactância da bobina.


1.2 A impedância do circuito.
1.3 A intensidade de corrente absorvida.
1.4 As potências activa, aparente e reactiva.
1.5 A tensão nos terminais da resistência e da bobina.
1.6 O factor de potência do circuito.
1.7 O diagrama vectorial do circuito.

Capítulo 9 – Análise de circuitos em C.A. Página 157

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