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Universidade Agostinho Neto

Faculdade de Direito
Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas e Sociais

A IMPORTÂNCIA DO COMPLIANCE NAS ORGANIZAÇÕES FACE A


RESPONSABILIDADE CRIMINAL DAS PESSOAS COLECTIVAS E
ENTIDADES EQUIPARADAS NO DIREITO ANGOLANO

Valdano Afonso Cabenda Pedro

Luanda
Abril de 2019
Universidade Agostinho Neto
Faculdade de Direito
Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas e Sociais

A IMPORTÂNCIA DO COMPLIANCE NAS ORGANIZAÇÕES FACE A


RESPONSABILIDADE CRIMINAL DAS PESSOAS COLECTIVAS E ENTIDADES
EQUIPARADAS NO DIREITO ANGOLANO

Valdano Afonso Cabenda Pedro

Trabalho de fim do curso de Pós-Graduação em


Compliance e Combate ao Branqueamento de Capitais.

Luanda
Abril de 2019

9
“O compliance é um exercício diário e começa em casa.”
Andreia Moreno

10
DEDICATÓRIA

Ao meu saudoso pai Júlio Daniel Pedro (in


memoriam), meu espelho e meu eterno
mentor, a pessoa que me ensinou a amar o
Direito em especial o Direito Criminal.

11
AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a JEOVÁ, Deus Todo-Poderoso pela vida, pela inteligência,


enfim, por tudo.
Agradeço em seguida aos meus pais Júlio Daniel Pedro e Domingas Smith Cabenda, e
agradeço por serem exactamente isso «pais» e não meros progenitores.
À minha noiva Gilsa Cristina da Silva Bamby, pelo companheirismo e cumplicidade em
tudo, aos meus colegas advogados seniores e estagiários do Escritório ACPC Advogados
Associados pelos exemplos de competência e profissionalismo e sobretudo pela
camaradagem.

Agradeço em suma a todos aqueles que directa e/ou indirectamente contribuíram para que
a Pós-graduação em Compliance e Combate ao Branqueamento de Capitais e o presente
trabalho de fim de curso se tornassem uma realidade.

A todos o meu,
Muito Obrigado!

12
RESUMO

O foco da presente pesquisa que corresponde ao trabalho de fim de curso de Pós-


graduação em Compliance e Combate ao Branqueamento de Capitais, ministrado pelo
Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas e Sociais da Universidade Agostinho
Neto – CEJES UAN no ano de 2018, é clarificar o conceito de compliance, suas nuances
e figuras correlacionadas ou afins, como a auditoria interna, elucidar a sua importância
na e para as organizações maxime empresas, com realce para o criminal compliance num
contexto em que fruto do inegável fenómeno da criminalidade empresarial e igualmente
de um novo programa de política criminal adoptado pela generalidade dos Estados a nível
do mundo, incluindo portanto o Estado angolano, é hoje admissível e até imprescindível
a responsabilidade e responsabilização criminal das pessoas colectivas e entidades
equiparadas.

Palavras-Chave: organização, compliance, auditoria interna, responsabilidade criminal.

13
SUMMARY

The focus of this research corresponds to the end-of-graduation work in Compliance and
combating money laundering, given by the Center for Studies of Legal-economic and
social sciences at the Agostinho Neto University – CEJES UAN in Year 2018, is to clarify
the concept of compliance, its nuances and correlated or related figures, such as the
internal audit, elucitake its importance in and for the organizations Maxime companies,
with enhancement to the criminal compliance in a context in which the fruit of Undeniable
phenomenon of corporate crime and also of a new criminal policy programme adopted
by the generality of States at world level, including the Angolan state, is now admissible
and even indispensable the responsibility and Criminal liability of legal persons and
equivalent entities.

Key words: Organization, compliance, internal auditing, criminal liability.

14
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Al. - Alínea.
BNA - Banco Nacional de Angola
CBC-FT - Combate ao Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo
CCO - Chief Compliance Officer
CIDPCC - Centro de Investigação de Direito Penal e Ciências Criminais do Instituto de
Direito Penal e Ciências Criminais
CMC - Comissão do Mercado de Capitais
Cfr. - Confrontar, consultar
COSO - Committee of SponsoringOrganizations of the TreadDwayCommission
CRA - Constituição da República de Angola
ESAAMLG - Eastern and Southern Africa Anti - Money Laundering
Etc. - Et cetera
EUA - Estados Unidos da América
FCPA - Foreign Corrupt Practice Act
GAFI - Grupo de Acção Financeira Internacional
I.é. - Isto é.
ISO - International Organization for Standardization
N.º - Número
Ob. cit. - Obra citada.
ONU - Organização das Nações Unidas
Pág. - Página
Sgs. - Seguintes
UIF- Unidade de Informação Financeira
V.g. - verbi gratia

15
ÍNDICE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 17
CAPÍTULO I
1. ORGANIZAÇÕES ................................................................................................ 20
1.1. CONCEITOS E DIMENSÕES DE ANÁLISE ................................................... 20
1.2. Conceito jurídico de empresa ................................................................................... 21
CAPÍTULO II
2. COMPLIANCE ..................................................................................................... 22
2.1. DEFINIÇÃO E BREVE INCURSÃO HISTÓRICA ............................................. 22
2.2. Principais fontes de regulamentação ....................................................................... 25
2.2.1. A norma ISO 19 600 – Para Gestão Integrada de Compliance ......................... 25
2.2.2. A legislação angolana ............................................................................................ 26
2.3. É o compliance tão importante no contexto actual? ............................................... 29
2.4. Diferença entre Compliance e Auditoria Interna ................................................... 30
2.5. Função e Responsabilidade do Compliance Officer. Posição e Competências ..... 32
2.6. A implementação de um programa de compliance vs fraudes ao sistema de
compliance ............................................................................................................................. 33
CAPÍTULO III
3. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DAS PESSOAS COLECTIVAS E
ENTIDADES EQUIPARADAS ........................................................................................... 34
3.1. SOCIETAS DELINQUERE POTEST? .................................................................... 34
3.2. Fundamentação Dogmática e Legal da Responsabilidade Criminal das Pessoas
Colectivas ............................................................................................................................... 35
3.3. Penas Aplicáveis às Pessoas Colectivas e Entidades Equiparadas ........................ 37
3.4. Relação entre Compliance e Responsabilidade Criminal das Pessoas Colectivas e
Entidades Equiparadas. Relevância dos programas de compliance na responsabilização
criminal da pessoa jurídica................................................................................................... 37
CONCLUSÃO............................................................................................................... 39
RECOMENDAÇÕES................................................................................................... 40
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 41

16
INTRODUÇÃO

Actualmente vários são os desafios que se colocam às organizações, sobretudo as


empresariais, desafios estes que se traduzem numa urgente (re) definição da cultura da
empresa, articulando e conciliando a dimensão económica e financeira do negócio com
os riscos da sua actividade, designadamente o risco operacional, proveniente da
inadequação dos processos internos, pessoas ou sistemas, possibilidade de ocorrência de
fraudes, internas e externas, bem como dos eventos externos e o risco de compliance,
proveniente de violações ou inobservância de leis, regras, regulações, contratos, práticas
prescritas ou padrões éticos; numa óptica de que mais vale prevenir do que remediar.
Numa altura em que o Direito deixou de fechar os olhos ao facto de que as sociedades
são insusceptíveis de responsabilidade criminal, estando por isso ultrapassado o dogma
ou a orientação tradicional da doutrina e da legislação segundo o qual “Societas
Delinquere non Potest”, o conceito de cumprimento normativo voluntário (compliance),
ganhou enorme visibilidade desde que as empresas começaram a adoptar programas de
cumprimento normativo voluntário (compliance programs)1, em vista minorar
significativamente os riscos de responsabilização das pessoas colectivas, maxime das
sociedades comerciais e respectivos gestores nos âmbitos civil, transgressional e até
criminal e, com isso, defender-se genericamente os interessados (stakeholders). O
compliance está inegavelmente na berlinda.
Entretanto, falar de compliance no âmbito penal, em particular no universo empresarial,
não constitui mais novidade, pois é um tema que há muito se discute2, não apenas como
medida específica para atender a exigências legais, mas também como forma de projectar
a imagem da empresa.
Lothar Kuhler3refere que o compliance não é algo absolutamente novo, mas sim uma
moda cheia de anglicismos impulsionada pelo sector da consultoria direccionado ao
âmbito empresarial.
O interesse repentino pelo compliance que encontrou forte recepção no cenário europeu
e latino-americano, sobretudo depois de progressivamente se passarem a adoptar medidas
de imputação de responsabilidade criminal às pessoas jurídicas, em especial nos países
de tradição romano-germânica, nos quais há séculos era impensável incluir tal previsão
nos seus ordenamentos jurídicos, provocando os penalistas à sua discussão ainda não
ganhou cultores cá entre nós, pois quase nada se escreveu a respeito.4
1
Cfr. MENDES, Paulo de Sousa, Law Enforcement & Compliance - in Estudos sobre Law Enforcement,
Compliance e Direito Penal, 2.ª Edição, Almedina, 2018, págs. 11 e segs.
Estudos sobre Law Enforcement, Compliance e Direito Penal, 2.ª Edição, Almedina é uma interessantíssima
publicação composta na sua quase totalidade por textos desenvolvidos a partir das apresentações feitas
pelos conferencistas e por relatórios dos auditores do I.º Curso de Pós-Graduação Sobre “Law Enforcement,
Compliance e Direito Penal nas actividades bancária, financeira e económica, no ano lectivo de 2015/2016,
ministrado pelo IDPCC/CIDPCC da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
2
A sua origem histórica constantemente referida remete às medidas de precaução das actividades
comerciais dos bancos, tomadas depois da crise de 1929. Para detalhes sobre o facto vide SILVEIRA,
Renato de Melo Jorge y SAAD – Diniz, Eduardo. Compliance, Direito Penal e Lei anticorrupção. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, págs. 247 sgs.
3
Cfr. KUHLER, Lothar. Compliance y Derecho Penal en Alemania, “in Responsabilidad de la empresa y
compliance, Santiango Mir Puig, Mirentxu Corcoy Bidasolo e Victor Gomez Martin - Dir. Madrid - Buenos
Aires – Montevideo: Edisofer - Bdef, 2014, pás. 89-91.
4
Veja-se entretanto, MANUEL, Leonildo João Lourenço Manuel. Mecanismos de Protecção do Investidor
no Mercado de Valores Mobiliários, in “A governança corporativa e o compliance como mecanismos de

17
O objectivo geral da presente pesquisa é apresentar de forma clara o conceito de
compliance e suas nuances, assim como sua relevância enquanto ferramenta
importantíssima a par dos demais controlos internos e auditorias, no que respeita a
mitigação e prevenção de crimes e outras infracções perpetradas por e no seio das
organizações, sobretudo das organizações empresariais no âmbito da acção regulatória
(preventiva e sancionatória).
Partindo deste objectivo geral, pretende-se com a presente pesquisa alcançar-se os
seguintes objectivos específicos:
i. Responder a questão, porquê o compliance é tão importante no contexto actual?
ii. Elucidar a relação existente entre compliance e auditoria interna.
iii. Discorrer sobre a função e responsabilidade do compliance officer, posição e
Competências, o papel do criminal Compliance; o chief compliance officer como
uma pessoa em posição de liderança, para efeitos de responsabilidade criminal da
pessoa colectiva ou entidade equiparada, nos termos da lei.
iv. Proceder ao enquadramento dogmático e legal da responsabilidade criminal das
pessoas colectivas e entidades equiparadas a luz do Direito angolano.
v. Relacionar o compliance e o tema da responsabilidade criminal das pessoas,
enfatizando quais as consequências jurídico-penais decorrentes da existência de
um adequado e operativo programa de compliance.
Relativamente a metodologia empregada para alcançarmos os objectivos preconizados e
para uma melhor exposição do tema, importa referir que durante a elaboração do presente
trabalho utilizamos o método indutivo, a técnica dos conceitos operacionais e como
técnica de pesquisa e recolha de dados utilizamos essencialmente a técnica bibliográfica,
nesta senda servimo-nos da legislação existente e disponível atinente ao tema, assim
como de livros, artigos científicos de especialistas, além de sites na Internet relacionadas
ao tema, o que nos permitiu no final tecer breves porém, importantes ilações e
recomendações.

A nossa pesquisa assenta no essencial na seguinte legislação: Lei n.º 30/11, de 13 de


Setembro - Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas, Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro
de 2011 - Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao
Terrorismo, Lei n.º 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei Sobre a Criminalização das Infracções
Subjacentes ao Branqueamento de Capitais, Lei n.º 12/15, de 17 de Junho - Lei de Bases
das Instituições Financeiras, Lei n.º 19/17, de 25 de Agosto - Lei Sobre a Prevenção e
Combate ao Terrorismo, Lei n.º 5/18, de 10 de Maio - Lei da Concorrência, Código Geral
Tributário aprovado pela Lei n.º 21/14, de 2 de Outubro, Aviso do BNA n.º 01/2013, de
19 de Abril, sobre Governança Corporativa, Aviso do BNA n.º 07/2016 de 22 de Junho,
sobre Governação dos Riscos, Aviso do BNA n.º 22/2012, de 25 de Abril e Instrutivo do
BNA n.º 02/17, de 30 de Janeiro, sobre Teste de Esforço.
Ora, como resulta de uma leitura atenta aos citados diplomas legais, temos por um lado
um conjunto de leis ordinárias aprovadas e postas a vigorar no sentido de proceder-se ao
estabelecimento de medidas de natureza preventiva e repressiva de CBC-FT em
conformidade com os padrões internacionais. Por outro lado, e no mesmo diapasão, temos
um conjunto de instrumentos normativos aplicáveis às instituições financeiras
supervisionadas pelo BNA, permitindo-se assim um enquadramento regulamentar das
matérias relativas ao modo de organização societária, à transparência das estruturas
orgânicas, assim como relativas às politicas e processos de gestão de risco. Uns e outros,
formam aquilo a que podemos denominar por Regime Jurídico do compliance e/ou da
responsabilidade criminal das pessoas colectivas e equiparadas em Angola.

Protecção do Investidor”, 1.ª Edição – Janeiro de 2018, Where Angola Editora e Casa das Ideias Editora,
págs.129-139.

18
A presente pesquisa está estruturada em cinco partes, porém, três capítulos:
A primeira parte corresponde a introdução, onde é apresentado o objecto de estudo, a
justificação da escolha do tema, os objectivos que se pretendem alcançar com a pesquisa,
assim como a metodologia de pesquisa utilizada para o efeito.
Na segunda parte (correspondente ao primeiro capítulo) procede-se a definição do
conceito de organizações, abordando-se outrossim o conceito jurídico de empresa.
Na terceira parte (correspondente ao segundo capítulo), e adentrando propriamente no
cerne da nossa pesquisa, discorre-se sobre o compliance, fazendo-se uma breve incursão
histórica, realçando-se suas principais fontes de regulamentação, seus pontos de contacto
com os conceitos de auditoria interna, a função e responsabilidade do compliance officer,
sua posição e competências no seio de uma organização, os aspectos essenciais para a
implementação de um programa de compliance assim como os riscos do compliance.
Na quarta parte (correspondente ao terceiro capítulo), procuramos de forma sucinta,
entretanto, fundamentada discorrer-se sobre a responsabilidade criminal das pessoas
colectivas e entidades equiparadas e do criminal compliance, no quadro de um novo
programa de política criminal, assim como enumerar ou apresentar as penas aplicáveis às
pessoas colectivas no quadro da legislação angolana, abordando-se outrossim a relevância
dos programas de compliance na responsabilização criminal da pessoa jurídica.
Na quinta parte, temos as conclusões tiradas da abordagem feita ao longo da nossa
pesquisa e finalmente as referências bibliografias que serviram de suporte para a feitura
do presente trabalho, assim como as recomendações que se impõem.

19
CAPÍTULO I
1. ORGANIZAÇÕES
1.1.CONCEITOS E DIMENSÕES DE ANÁLISE

As organizações5 estão presentes em diferentes sectores vitais da sociedade e fazem parte


das mais diversas actividades do nosso quotidiano, uma vez que “afectam fortemente cada
aspecto da existência humana – nascimento, crescimento, desenvolvimento, educação,
trabalho, relacionamento social, saúde, e até mesmo a morte”.
Pode-se, pois, afirmar que “o homem moderno é o homem dentro de organizações”, que
“a vida contemporânea [...] é dominada por organizações grandes, complexas, formais”
(BLAU; SCOTT)6 e que “a sociedade moderna é uma sociedade de organizações”
(ETZIONI)7. As nossas vidas, portanto, são “construídas” em contextos organizacionais
e somos influenciados constantemente pelas organizações e pelas relações que se
estabelecem entre elas.
A discussão em volta do instituto das “organizações” dá-nos a entender que “não é tarefa
fácil conceituar as organizações”, já que por exemplo a simples definição de organizações
“como unidades económicas de produção, de trocas de recursos e de tomada de decisões
técnicas” não é simplesmente adequada, por ser imperfeita e reducionista. O conceito de
organização, deve reflectir a multidimensionalidade que caracteriza e condiciona a
entidade, mesmo se o objecto de análise, utilizado principalmente pelos administradores
e economistas, for uma empresa ou uma firma.
Por possuírem dimensões concretas e abstractas (ou tangíveis e intangíveis), as
organizações podem concomitantemente significar muitas coisas, dependendo da
perspectiva de análise. Segue-se abaixo algumas definições de organizações que
reflectem diferentes perspectivas teóricas e que foram encontradas na literatura referente
ao assunto.
Organização, organon em grego, quer dizer “ferramenta ou instrumento”.
As organizações, de qualquer tipo, grandes ou pequenas, públicas ou privadas, possuem
algumas características em comum: são “entidades sociais”; são “orientadas por metas”;
são “projectadas como sistemas de actividade deliberadamente estruturadas e
coordenadas”; são “ligadas ao ambiente externo”.
Segundo CHANLAT,8 organização é um “subsistema estrutural e material” e um
“subsistema simbólico”. O primeiro está relacionado à função produção e segundo às
representações individuais, sendo o poder a forma utilizada para mediar as relações entre
estes dois subsistemas e com isso gerar o que o autor chama de “ordem organizacional”.

5
SCHULTZ, Glauco – Introdução à gestão de organizações; coordenado pela SEAD/UFRGS - Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2016 (Série Ensino, Aprendizagem e Tecnologias), pág. 13 e segs.
6
BLAU, Peter Michael; SCOTT, William Richard. Organizações formais. São Paulo: Atlas, 1970, p. 11.
7
ETZIONI, Amitai. Organizações complexas: um estudo das organizações em face dos problemas sociais.
São Paulo: Atlas, 1967b, pág. 173.
8
CHANLAT, Jean-François (Coord.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. 3.ª Ed. São
Paulo: Atlas, 1996. V. 1, pág. 40.

20
1.2. Conceito jurídico de empresa

Dado o facto de o presente trabalho ter como âmago a importância do compliance nas
organizações maxime nas empresas, com ênfase para o criminal compliance, é de todo
curial definir-se empresa, entenda-se empresa em sentido subjectivo.
Na esteira de Sofia Vale9, vale aqui referenciar que todo o discurso técnico-jurídico ou
não sobre empresa encontra-se inevitavelmente marcado pela pluralidade de sentidos
atribuídos a essa palavra.
Uma das acepções com que o vocábulo empresa é mais frequentemente utilizado é com
referência a um sujeito jurídico que exerce uma actividade económica. Ora, é com esse
significado que o vocábulo é utilizado no presente trabalho, portanto, como espécie do
género organização.
A empresa é assim uma pessoa colectiva10, isto é, segundo CARVALHO FERNANDES,
“um organismo social destinado a um fim lícito a que o direito atribui a susceptibilidade
de direitos e vinculações, ou seja a possibilidade de ser sujeito de relações jurídicas.” De
acordo com Mota Pinto, as pessoas colectivas são “organizações constituídas por uma
colectividade de pessoas ou por uma massa de bens, dirigidos à realização de interesses
comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica atribui a personalidade jurídica.”11
Com o sentido subjectivo, é o termo empresa utilizado também pela Lei n.º 30/11, de 13
de Setembro - Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas, ao prescrever no n.º 1 do seu
artigo 4.º que «para efeitos da presente lei, entende-se por empresa as sociedades que,
independentemente da sua forma jurídica, tenham por objecto o exercício de uma
actividade económica».

9
VALE, Sofia, As Empresas no Direito Angolano - Lições de Direito Comercial, 2015., pág. 178 e segs.
10
A Lei n.º 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes ao
Branqueamento de Capitais, no seu artigo 5.º, n.º 5 estabelece que para efeitos de responsabilidade criminal
consideram-se entidades equiparadas às pessoas colectivas, as sociedades civis e associações de facto.
11
Cfr. SILVA, Carlos Alberto B. Burity da Teoria Geral do Direito Civil, Colecção da FDUAN – 2004,
pág. 283.

21
CAPÍTULO II
2. COMPLIANCE
2.1.DEFINIÇÃO E BREVE INCURSÃO HISTÓRICA

A necessidade de cumprimento de regras estabelecidas para a boa convivência sempre


esteve presente na sociedade, de forma que ao longo das últimas décadas converteu-se
numa condição indispensável para a boa performance das relações entre os agentes que
formam a sociedade globalizada.
Em 1960 entramos na “era do compliance”, quando a americana “SEC – Secutities and
Exchange Commission” passou a insistir na contratação de “Compliance Officers” para
criar procedimentos internos de controlos, treinar pessoas e monitorar, com o objectivo
de auxiliar as áreas de negócios a ter a efectiva supervisão.12
Na década de 1970, em virtude dos escândalos de Watergate13 foi aprovada pelo
Congresso norte-americano a FCPA (Foreign Corrupt Practice Act), principal referência
norte-americana em termos de anticorrupção. A partir daí, o governo norte-americano
passou a intensificar o controlo sobre as actividades das empresas não apenas
internamente mas também ao redor do mundo. Qualquer companhia que negociasse suas
acções em bolsas americanas ou empresas locais com operações fora do país poderiam
ser alvo de investigações e, consequentemente, punições pela FCPA.
Com a criação do Comitê da Basileia para Supervisão Bancária14, procurou-se fortalecer
o Sistema Financeiro por meio da maior conceituação sistemática de suas actividades,
parametrizando-as pelas boas práticas financeiras e munindo-as de procedimentos
prudenciais na sua actuação. Iniciava-se o processo para a tentativa de saneamento do
Sistema Financeiro Internacional.
Factos relevantes no cenário mundial15, como o ataque terrorista nos EUA no dia 11 de
Setembro de 2001 e os escândalos financeiros em Wall Street em 2002, despertaram a

12
Historicamente, os primeiros programas de compliance surgiram nos EUA, no inicio do século XX, um
período marcado pela criação da Federal Reserve System e pelo nascimento das agencias reguladoras do
sector financeiro. A doutrina tem apontado a crise de Wall Street de 1929 como um dos factores
determinantes para o surgimento da função compliance. Veja-se MANUEL, Leonildo João Lourenço
Manuel, ob. cit., in “Caracterização do conceito e função compliance”, pág. 136.
13
O caso Watergate, ou o escândalo de Watergate, como ficou conhecido, consistiu em uma série de
investigações que desnudou uma complexa operação de escutas telefônicas e espionagem dos escritórios
do Partido Democrata por parte de membros da cúpula da presidência dos EUA no ano eleitoral de 1972.
As investigações tiveram como ponto de partida a prisão de cinco homens, na madrugada de 17 de junho
daquele ano, que tentavam implantar escutas telefônicas no Comitê Central Democrata, sede do partido
democrata em Washington. O Comitê ocupava salas no complexo de escritórios Watergate, daí o nome do
acontecimento. Esse escândalo culminou na renúncia do presidente Richard Nixon no ano de 1974
https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/watergate.htm
14
Em 1930, foi criado o BIS (Bank for International Settlements), o Banco de Compensações Internacionais
(www.bis.org). O BIS é uma organização internacional que fomenta a cooperação entre os bancos centrais
e outras agências, em busca da estabilidade monetária e financeira.
Em 1975, foi estabelecido o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (Basel Committee on Banking
Supervision – BCBS), ligado ao BIS, que funciona como um fórum mundial para discussão e cooperação
em matéria de regulação bancária prudencial; seu objetivo consiste em reforçar a regulação, a supervisão e
as melhores práticas no mercado financeiro. https://www.bcb.gov.br/fis/supervisao/basileia.asp
15
“Em 2005 a Justiça alemã descobriu que a gigante de tecnologia tinha uma rede internacional de
distribuição de subornos, inclusive no Brasil. Entre multas, pagamentos a assessores, advogados e à
Fazenda, calcula-se que o escândalo acabou custando à empresa alemã uns 2,5 bilhões de euros (8,35
milhões de reais). Além disso, em 2007 custou a cabeça do então Presidente-Executivo, Klaus Kleinfeld, e
do Presidente do Conselho de Supervisão, Heinrich vonPierer. O escândalo dos subornos colocou um
espelho deformado diante de uma empresa que via a si mesma como um modelo. Como ocorreria uma
década depois com as manipulações maciças de emissões de gases poluentes pela Volkswagen, foram

22
necessidade de regulamentações ainda mais efectivas e rapidamente aplicáveis em todos
os países, a fim de gerir os riscos aos quais as instituições estão sujeitas.
Com isso, as instituições financeiras foram compelidas a iniciar um ciclo de mudanças
cada vez mais radicais, com reestruturações estratégicas, organizacionais e tecnológicas,
para construir uma imagem forte da instituição financeira perante clientes e fornecedores.
Nesse contexto, destaca-se a “Função de Compliance” de grande importância na
protecção e no aprimoramento do valor e da reputação corporativa.
Compliance está relacionado ao investimento em pessoas, processos e
consciencialização. Por isso é importante as pessoas estarem conscientes da importância
de “ser e estar em compliance”. Mas o que significa compliance?16
Compliance vem do verbo em inglês “to comply”, que significa “cumprir, executar,
satisfazer, realizar o que lhe foi imposto”, ou seja, compliance é o dever de cumprir, estar
em conformidade e fazer cumprir regulamentos internos e externos impostos às
actividades da instituição.
Compliance pode ser definido conforme preferiu VANESSA ALESSI MANZI, como o
“ato de cumprir, de estar em conformidade e executar regulamentos internos e externos,
impostos às actividades da instituição, buscando mitigar o risco atrelado à reputação e ao
regulatório/legal.”17
Para ANDREIA MORENO18, compliance é o cumprimento, a conformidade, sobre as
normativas vigentes que são atendidas de forma voluntária na empresa ou instituição.
Quando uma instituição pública, ou privada, estabelece um conjunto interno composto
por políticas, processos e procedimentos, dizemos que esta instituição ou organização está
desenvolvendo um Sistema (ou Programa) de Compliance (ou de Conformidade).
Sobre a diferença entre compliance corporativo e regulatório, importa referir que o
compliance corporativo, i.é, organizado ou baseado numa corporação ou nos interesses
de uma corporação, traduz-se no sistema ou programa que visa o cabal cumprimento das
normas legais e regulamentares, das políticas e das diretrizes estabelecidas no âmbito
institucional e corporativo para o negócio e para as actividades da instituição ou empresa,
bem como evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer;
por sua vez o compliance regulatório é o compliance relacionado ao risco de ter a “licença
para operar” retirada por um regulador ou organismo de supervisão19, i.é, estar-se ou ver-
se sujeito à revogação da autorização ou cancelamento do registo necessários para o

reveladas práticas irregulares arraigadas na estrutura da empresa. Segundo The Wall Street Journal, desde
1997 existia um código que permitia decifrar a quanto chegariam as comissões que a empresa pagava para
conseguir contratos. Assim, uma mensagem tão simples como “Deixe no arquivo APP”, significava, na
realidade, que a comissão a pagar era de 1,55%. A letra A correspondia a 1 e a P, a 5.” Vide, “Alemanha já
passou por seu ‘caso Odebrecht’ com a Siemens” de Luis Doncel, Twitter Berlim, 10 FEV 2017 - 18:33
CET
Associação Brasileira de Bancos Internacionais - ABBI. Documento Consultivo “Função de
16

Compliance”, 2004, disponível em <www.abbi.com.br> Trabalhos Especiais.


17
MANZI, Vanessa Alessi. Compliance no Brasil. São Paulo: Saint Paul Editora, 2008. pág. 15.
18
Perito Judicial em Delitos Económicos Master em Compliance Auditora Líder de Sistemas de
Conformidade Formadora IEFF (Espanha) Presidente World Compliance Association - Capítulo Angola,
in módulo de compliance, aula ministrada no curso de Pós-graduação em Compliance e Combate ao
Branqueamento de Capitais, ministrado pelo Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas e Sociais
da Universidade Agostinho Neto – CEJES UAN no ano de 2018
19
Cá entre nós, vide o artigo 35.º da Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro de 2011. Este artigo refere alguns
órgãos supervisores ou reguladores por cada sector de actividade em que actuam as entidades sujeitas,
nomeadamente: o BNA, a CMC, o Instituto de Supervisão de Jogos, o Ministério das Finanças, etc.

23
exercício da actividade, sem prejuízo da aplicação de outras sanções que impactem
negativamente o valor económico e não só de uma empresa.20
E o que significa “ser e estar” em compliance?21
Compliance vai além das barreiras legais e regulamentares, incorporando princípios de
integridade e conduta ética. Portanto, deve-se ter em mente que, mesmo que nenhuma lei
ou regulamento seja inobservado, acções que tragam impactos negativos para os
“stakeholders” (accionistas, clientes, empregados etc.) podem gerar risco reputacional22
e publicidade adversa, colocando em risco a continuidade de qualquer entidade.
O compliance deve começar pelo “topo” da organização. A efectividade do compliance
está directamente relacionada à importância que é conferida aos padrões de honestidade
e integridade e às atitudes dos executivos seniores, que devem “liderar pelo exemplo”.23
Sabemos que, para qualquer instituição, confiança é um diferencial de mercado. Em geral,
as leis tentam estabelecer controlos e maior transparência, mas estar em conformidade
apenas com as leis não garante um ambiente totalmente em compliance.
É preciso que todos os colaboradores trabalhem com ética e idoneidade em todas as suas
actividades e que a Alta Administração apoie a disseminação da cultura de compliance.24

20
https://www.pwc.com.br/pt/consultoria-negocios/gestao-risco-compliance/governanca-e-compliance-
regulatorio.html
21
“Ser compliance” é conhecer as normas da organização, seguir os procedimentos recomendados, agir em
conformidade e sentir quanto é fundamental a ética e a idoneidade em todas as nossas atitudes.
“Estar em compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos internos e externos. “Ser e estar
compliance” é, acima de tudo, uma obrigação individual de cada colaborador dentro da instituição.
21
Associação Brasileira de Bancos Internacionais - ABBI. Documento Consultivo “Função de
Compliance”, 2004, disponível em <www.abbi.com.br> Trabalhos Especiais.
22
Risco reputacional ou risco de reputação: é o risco proveniente da percepção adversa da imagem das
Instituições Financeiras (e não só, o sublinhado é nosso) por parte de clientes, contrapartes, accionistas,
investidores, supervisores e opinião pública em geral. Cfr. Instrutivo nº 02/17, de 30 de Janeiro do Banco
Nacional de Angola
23
Como lembra o Professor V. Grandão Ramos, in «Infracções Criminais dos Gestores de Empresas, artigo
publicado na Revista n.º 10, da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, Luanda-Angola,
pág. 194, “(…) É frequente associar os crimes cometidos pelos grandes gestores à criminalidade dita de
“colarinho branco”, com participação, a título de co-autoria ou de cumplicidade, de outros gestores…,
igualmente decisivos ou importantes no “iter criminis” dos ilícitos criminais praticados.”
24
Nas palavras de RIZZO: “[...] Compliance não é simplesmente o cumprimento das leis e
regulamentações, é principalmente um meio de agregar valor à marca institucional protegendo o que lhe é
mais caro: a reputação”. RIZZO, Maria Balbina Martins de. Prevenção à Lavagem de Dinheiro nas
Instituições do Mercado Financeiro. São Paulo: Trevisan Editora, 2013, pág. 23.

24
2.2. Principais fontes de regulamentação
2.2.1. A norma ISO 19 600 – Para Gestão Integrada de Compliance

Tudo começou em 2012, quando a Austrália propôs à ISO (International Organization


for Standardization) a redacção de uma norma para gestão de Programas de Compliance
baseada em sua própria norma interna de conformidade (AS 8306).25
A ISO aceitou a sugestão e instituiu uma comissão ao desenvolvimento da Norma ISO/PC
271, intitulada provisoriamente como “Gerenciamento de Conformidade”, para, depois
de algumas reuniões, publicar o esboço da norma ISO 19600 (também conhecida por ISO
Compliance), recepcionada sob o nome “Standard for Compliance Management”.26
Atenta a esse paradigma, a ISO rendeu-se à provocação Australiana e desenvolveu um
padrão de implementação e monitoramento de programas facilmente aplicável a qualquer
tipo de empresa ou corporação, independente do tamanho da planta ou modelo de
negócio, e reconhecível por todas partes interessadas, favorecendo transacções
confiáveis, transparentes e perenes.
Antes da publicação da ISO Compliance, os programas de integridade pautavam-se, sem
qualquer imperativo de isonomia, em guias e directrizes internacionais, como: a
Convenção da ONU contra a Corrupção e a Convenção da OCDE 27 sobre o combate ao
suborno de funcionários públicos estrangeiros em transacções comerciais internacionais;
Princípios emitidos por organizações não governamentais, como o Fórum Económico
Mundial, a Transparência Internacional, o British Standards Institute e a Câmara
Internacional de Comércio; Leis anticorrupção e de prevenção à lavagem de dinheiro ou
também designada por branqueamento de capitais promulgadas nos Estados Unidos
(FCPA28 e SOX – SOX – Sarbanes – Oxley Act SAS 70) e na Grã-Bretanha (UKBA),

25
Cfr. HANOFF Roberta Volpato, advogada especialista em Direito Empresarial, consultora em
Compliance e organizadora do Estúdio Estratégia – Advocacia e Governança Corporativa, in A norma ISO
19600 para gestão integrada de Compliance e Qualidade, 31/08/2017, www.studioestrategia.com.br.
26
ISO 19600: 2014 - Sistemas de gerenciamento de conformidade - Directrizes
Esta norma foi revisada pela última vez e confirmada em 2018. Portanto, esta versão permanece actual.
A ISO 19600: 2014 fornece orientação para estabelecer, desenvolver, implementar, avaliar, manter e
melhorar um sistema de gerenciamento de conformidade eficiente e responsivo dentro de uma organização.
As diretrizes sobre sistemas de gerenciamento de conformidade são aplicáveis a todos os tipos de
organizações. A extensão da aplicação dessas diretrizes depende do tamanho, estrutura, natureza e
complexidade da organização. A ISO 19600: 2014 baseia-se nos princípios de boa governança,
proporcionalidade, transparência e sustentabilidade. https://www.iso.org/standard/62342.html,
https://www.iso.org/obp/ui/#iso:std:iso:19600:en
27
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), (em inglês - Organization
for Economic Cooperation and Development - OECD) é uma organização internacional de 36 países que
aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de mercado, que procura fornecer uma
plataforma para comparar políticas económicas, solucionar problemas comuns e coordenar políticas
domésticas e internacionais. A maioria dos membros da OCDE é composta por economias com um elevado
PIB per capita e Índice de Desenvolvimento Humano e são considerados países desenvolvidos. A sede da
OCDE é localizada no Château de la Muette em Paris, França. http://www.oecd.org/
28
A Foreign Corrupt Practice Act, conhecida mundialmente como FCPA, é no capítulo da conformidade
a lei com maior impacto a nível do mundo. Nunca se viram tantas multas milionárias sendo aplicadas e
tantos executivos sendo punidos, em especial por causa de um de seus dois aspectos relevantes, o foco na
corrupção de autoridades estrangeiras. O FCPA é aplicável a qualquer pessoa física que tenha conexão com
os Estados Unidos, sendo cidadão ou trabalhando no país e que pratique actos de corrupção no exterior.
Também se aplica a quaisquer empresas que actuem no território americano ou que possuam suas acções
negociadas em bolsas dos Estados Unidos.
Assim, colaboradores de companhias americanas ou vinculadas aos Estados Unidos da América, podem ser
alvo de investigações e punições se verificadas evidências de corrupção a autoridades brasileiras. Por esse
motivo, também a legislação americana deve ser foco de atenção não apenas de empresas vinculadas ao

25
dos respectivos guias de implementação (FCPA Guide e The Bribery Act 2010
Guidance); e Melhores práticas implementadas por empresas com eficiência
comprovada.29
A ISO Compliance veio aparar as arestas e equacionar o que vinha sendo implantado sem
a necessária aclimatação com a cultura e o jeito de fazer negócios em cada país,
permitindo uma moldagem menos traumática, sobretudo, às pequenas e médias empresas.
A ISO Compliance propõe um conjunto de directrizes sobre como estabelecer,
desenvolver, executar, avaliar, manter e melhorar um sistema eficaz de gestão de
Compliance dentro da organização, sofisticando a boa governança através da
proporcionalidade, transparência e sustentabilidade e simplificando a sinergia com outros
sistemas de gestão já existentes nas organizações – como, por exemplo, a ISO 9001:2015,
de Gestão da Qualidade.
Depreende-se daí que a ISO Compliance, diferentemente da ISO Antissuborno, não se
dedica a uma única área de risco. Mais do que identificar e tratar actos fraudulentos, a
ISO Compliance assegura uma gestão jurídica multilateral, contemplando o correcto
pagamento de créditos laborais e fiscais, o cumprimento de contratos civis e comerciais,
o respeito às normas administrativas, regulatórias e concorrenciais e da legislação
ambiental.30

2.2.2. A legislação angolana

Sem desprimorar do facto de as diversas empresas multinacionais que operam em Angola,


estarem já sujeitas à legislação anticorrupção dos países de que são de direito, como a
FCPA, com as implicações que a mesma acarreta para empresas que actuem no território
americano ou que possuam suas acções negociadas em bolsas dos Estados Unidos,
possuindo já portanto programas de compliance adequados, a previsão daquilo que se
traduz normalmente como um programa de compliance eficiente concatenado com a
inovação da responsabilização criminal das pessoas colectivas e equiparadas. O certo é
que no ordenamento jurídico angolano, a necessidade, ou a obrigação de as empresas quer
de direito angolano quer não, passarem a adoptar programas ou sistemas de compliance
é relativamente recente.
Somente depois de a República de Angola ter procedido à ratificação da Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção (cfr. a Resolução da Assembleia Nacional n.º 20/06,
de 23 de Junho), a ratificação da Convenção da União Africana Sobre a Prevenção e

mercado norte-americano, mas até mesmo daquelas que apenas lhes prestam serviços, visto que não raro
os parceiros são convidados a observar as políticas e procedimentos daquelas companhias. Cfr. COLARES,
Wilde Cunha Ética e compliance nas empresas de outsourcing / orientador Prof. Daniel Martins Boulos. –
São Paulo: Insper, 2014, págs. 60-63. Monografia (LLM – Legal Law Master) Programa de pós-graduação
em Direito. Área de concentração: Contratos – INSPER - Instituto de Ensino e Pesquisa.
29
Vide outrossim, outros Standards Internacionais de Compliance, designadamente: a ISO 31000 - Gestão
de Riscos, ISO 26000 - Responsabilidade SocialOECD - Princípios de Governança Corporativa OECD -
Guias para Empresas Internacionais, COSO, OCEG,
30
Uma característica essencial que distingue a ISO 19600 e a ISO 37001 é que enquanto a última foi
elaborada como uma especificação com requisitos mínimos para obter uma certificação acreditada, a norma
de Compliance foi elaborada como um guia de diretrizes sem finalidade de certificação acreditada. Além
do tradicional shall (deve) para a ISO 37001 frente ao should (deveria) da ISO 19600, a linguagem é mais
concisa na norma de requisitos, e mais explicativa e recheada de exemplos na norma de diretrizes. A ISO
37001 foi pensada para facilitar a auditoria, a ISO 19600 foi elaborada para facilitar a implementação do
sistema de gestão. No âmbito das empresas, a própria International Organization for Standardization (ISO)
oferece a certificação ISO 37001 (Anti-Bribery Management System), que trata de mecanismos de gestão
antissuborno. Também possui a ISO 19600 (Compliance Management Systems – Guidelines), mais
generalista na área de gestão de compliance, que ainda não é passível de certificação.
http://www.lecnews.com.br/blog/certificacao-de-compliance-como-funciona-esse-modelo-de certificacao/

26
Combate à Corrupção (cfr. a Resolução da Assembleia Nacional n.º 27/06, de 14 de
Agosto), assim como outros instrumentos internacionais sobre o tema e tendo em conta
as exigências estabelecidas nas 40 Recomendações do Grupo de Acção Financeira
Internacional (GAFI/FATF)31 e nas Convenções das Nações Unidas, nomeadamente na
Convenção Contra a Criminalidade Organizada Transnacional (Convenção de Palermo),
Convenção Sobre o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas
(Convenção de Viena) e Convenção para a Supressão do Financiamento do Terrorismo,
é que em Angola tornou-se premente a adopção obrigatória por parte dos entes colectivos
mormente, instituições financeiras bancárias, de programas de compliance, motivada em
parte pela criminalização do branqueamento de capitais, e inúmeras infracções que lhe
são subjacentes, bem como pela consagração expressa da responsabilidade criminal das
pessoas colectivas e equiparadas de forma a assegurar-se a conformidade com os padrões
internacionais.
Entretanto, a cultura do compliance enquanto ferramenta de prevenção ou mitigação de
fraudes, corrupção e demais delitos cá entre nós, está apenas sedimentada no sector
financeiro, isto é, nas instituições financeiras32, principalmente nas instituições
financeiras bancárias sob supervisão do BNA33. É disso exemplo os Avisos e Instrutivos
do BNA, designadamente:

O Aviso n.º 01/2013, de 19 de Abril, sobre Governança Corporativa34, que no seu artigo
9.º n.5, al. d) estabelece que «No contexto da adopção de uma comissão executiva
formalmente instituída, os administradores não executivos, integrando no mínimo por 1
(um) independente, orientam-se para o controlo e avaliação do desempenho da comissão
executiva, nos termos previstos na Lei das Sociedades Comerciais, e para as matérias
relativas à estratégia de negócio, estrutura orgânica e funcional, divulgação da
informação legal ou estatutariamente prevista e operações relevantes em função do seu
montante, risco associado ou características especiais, focalizando-se, em: analisar e
debater os relatórios produzidos pelas funções chave do sistema de controlo interno, ou
seja, auditoria interna, compliance e gestão do risco;»
O Instrutivo n.º 02/17, de 30 de Janeiro, sobre Teste de Esforço, que se refere ao risco de
compliance, como modalidade do risco operacional.
Assim como o Aviso n.º 07/2016 de 22 de Junho, sobre Governação dos Riscos que se
refere também ao risco de compliance, como modalidade do risco operacional, definindo-
o, como o risco proveniente de violações ou incumprimento de leis, regras, regulações,
contratos, práticas prescritas ou standards (padrões) éticos.

31
Vale aqui recordar que Angola foi admitida como membro efectivo e de pleno direito do organismo
regional do tipo GAFI (FSRBS) - ESAAMLG – Eastern and Southern Africa Anti - Money Laundering
Group (Grupo de Combate à Lavagem de Dinheiro da África Oriental e Meridional (ESAAMLG) baseado
em Dar es Salaam, Tanzânia; na 12.ª Reunião do Conselho de Ministros desse Organismo, realizado em
Agosto de 2012, em Maputo -Moçambique, sendo a Unidade de Informação Financeira de Angola admitida
como membro de pleno direito do Grupo Egmont em Junho de 2014. Cfr. Relatório de 2016 da UIF-
Unidade de Informação Financeira, República de Angola.
32
Vide a propósito, o «Governança Corporativa: Guia Anotado de Boas Práticas/ CMC - Comissão do
Mercado de Capitais, Luanda, 2015, segundo o qual (cfr. pág. 22) «a Sociedade deve a todo momento,
assegurar que existe uma adequada segurança acerca do cumprimento dos objectvos da empresa, seja ao
nível da eficácia e eficiência das respectivas operações, seja ao nível da fiabilidade do reporte financeiro,
seja ao nível da compliance com as leis e regulamentos aplicáveis à sociedade e às suas actividades.
33
Na mesma senda veja-se MANUEL, Leonildo João Lourenço Manuel, ob. cit.,in Regime Jurídico do
compliance em Angola” que refere que “os primeiros normativos sobre matérias de compliance no sistema
financeiro angolano registaram-se no mercado bancário…” Pág. 138.
34
Publicado no Diário da República, I série, nº 73, de 19 de Abril

27
Ora, não obstante o acima exposto, entendemos que, a obrigação de implementação de
um programa de compliance no seio das organizações (todas) decorre do estatuído no
artigo 19.º sob a epígrafe “obrigação de controlo” da Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro de
2011 - Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo,
nos termos do qual «todas as entidades sujeitas35, incluindo as respectivas filiais,
sucursais, agências, ou qualquer outra forma de representação comercial, com sede em
território angolano devem dotar-se de políticas, processos e procedimentos,
nomeadamente em matéria de avaliação e gestão do risco, auditoria e controlo interno
adequados para verificar o cumprimento dos mesmos, bem como procedimentos
adequados para assegurar critérios exigentes de contratação de empregados, de forma
a permitir-lhes que, em qualquer altura, estejam aptas a cumprir as obrigações
preconizadas pela presente lei.»36
É possível ainda vislumbrar a necessidade de implementação de um programa de
compliance no seio das empresas37 a luz do artigo 5.º, n.º 2, alínea b), da Lei n.º 3/14, de
10 de Fevereiro - Lei Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes ao
Branqueamento de Capitais, ao estabelecer que as pessoas colectivas e entidades
equiparadas com excepção do Estado, de outras pessoas colectivas públicas e de
organizações internacionais de direito, são responsáveis pelos crimes previstos no
capitulo II da presente lei e em demais legislação penal, quando cometidos: por quem aja
sob a autoridade das pessoas referidas na alínea anterior em virtude de uma violação dos
deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem.
A Lei n.º 12/15, de 17 de Junho – Lei de Bases das Instituições Financeiras, que regula o
processo de estabelecimento, o exercício de actividade, a supervisão, o processo de
intervenção e o regime sancionatório das instituições financeiras, no seu artigo 142.º, n.º
2, al. d) estatui que «a gravidade da infracção cometida pelos entes colectivos e entidades
equiparadas é avaliada, designadamente pelas seguintes circunstâncias:
(…)
d) Actos dos arguidos destinados a, por sua iniciativa, repararem os danos ou obviarem
os perigos causados pela infracção.38

35
Entidades sujeitas são as entidades financeiras e não financeiras tal como definidas no artigo 3.º da
presente lei (cfr. artigo 2.º, al. g) da Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro de 2011).
36
A violação do disposto no artigo 19.º da presente lei, constitui uma transgressão, nos termos da al. p), do
artigo 48.º, punida com multa, cujo montante varia consoante a infracção seja perpetrada por uma entidade
financeira ou por uma entidade não financeira, conforme estatuído no artigo 49.º, ambos da Lei n.º 34/11
de 12 de Dezembro de 2011.
37
No âmbito da protecção dos investidores, nos artigos 10.º a 12.º do seu Regulamento n.º 1/15 de 15 de
Maio, a CMC consagrou para os agentes de intermediação a obrigatoriedade de implementação de um
sistema de compliance baseado na adopção de políticas e procedimentos adequados a detectar qualquer
risco de incumprimento dos deveres a que estejam adstritos. Cfr. MANUEL, Leonildo João Lourenço
Manuel, ob. cit., pág. 139.
38
Redacção semelhante é a constante na Lei n.º 5/18, de 10 de Maio - Lei da Concorrência, ao prescrever
no seu artigo 23.º, n.º 1, al. h) que «as multas a que se refere o artigo anterior são fixadas tendo em
consideração, entre outras, as seguintes circunstâncias: al. h) o comportamento do infractor na eliminação
das práticas restritivas e na reparação dos prejuízos causados à Concorrência.»

28
2.3. É o Compliance tão importante no contexto actual?

Chegados até, aqui fácil se compreende que houve uma progressiva tomada de
consciência de que os litígios, as sanções, as restrições regulatórias, os danos de reputação
às empresas, aos executivos, poderiam ter sido evitados se fossem concebidos e postos
em prática programas efectivos de compliance.
A actividade do compliance visa assegurar, em conjunto com as demais áreas de uma
organização, a adequação, o fortalecimento e o funcionamento do sistema de controlos
internos da pessoa colectiva, procurando mitigar os riscos de acordo com a complexidade
de seus negócios.
Na prossecução das suas actividades as empresas estão sujeitas a vários tipos de riscos,
os quais podem ser definidos como eventos negativos (por oposição a oportunidades),
com probabilidade de ocorrência, caso sucedam, comprometem ou podem comprometer
os objectivos da empresa e podem ser causa de responsabilidade legal.
Muitos foram os exemplos, como os escândalos de ordem ética, corrupção no domínio do
comercio internacional, conflitos de interesses consentidos, subornos verificados um
pouco por todo mundo, com efeitos nefastos para a reputação e até a vida de muitas
empresas, que revelaram que adopção de boas práticas e sistemas efectivos de controlo
interno são indispensáveis para as empresas não sucumbirem às próprias falhas, as
próprias negligencias, e no final perderem a batalha da competitividade.
No contexto actual as empresas não mais duvidam que o compliance é afinal uma
importantíssima ferramenta para prevenção da prática de vários tipos de ilícitos, de ordem
fiscal, administrativa, civil e criminal (v.g., acidentes de trabalhos, doenças profissionais,
crimes ambientais, crimes contra a segurança social, fraude fiscal, corrupção activa,
branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo etc.).
Há estudos que analisam o custo-benefício de uma implantação de programas de
compliance em organizações, os quais chegaram à conclusão de que para cada U$1,00
gastos são economizados U$5,00 com a mitigação de processos legais, danos à reputação
e perda de produtividade (SCHILDER)39.
Compliance cada vez mais é um factor diferencial para a competitividade das
organizações, pois o mercado busca e valoriza a transparência e a ética nas suas
interacções económicas e sociais.
Para MANZI40, é possível criar uma vantagem competitiva quando a organização agrega
valor para a governança corporativa por meio de ferramentas de compliance que
procuram adequar-se às melhores práticas do mercado. Entretanto, resta a dúvida de qual
a importância dessa adequação. Segundo Daft41, há um movimento de semelhança entre
organizações do mesmo sector, e esse fenómeno, chamado por ele de “isomorfismo
institucional”, tende a levar as organizações a buscar padrões mais comuns para suas
actividades. Isso ocorre primeiramente para minimizar incertezas quanto ao produto que
deve ser lançado, por exemplo. Muitas vezes é utilizada a técnica do benchmarking, que
tenta entender como as organizações que melhor desempenham determinado produto
chegaram a esse padrão. Outro motivo para que ocorra esse isomorfismo é pela pressão
de órgãos reguladores governamentais que exigem determinadas condutas e atendimento
39
SCHILDER, Arnold. Banks and the compliance challenge. Speech by the Professor Arnold Schilder,
Chairman of the BCBS Accounting Task Force and Executive Director of the Governing Board of the
Netherlands Bank, at the Asian Banker Summit, Bangkok, 16 March 2006.
40
MANZI, Vanessa Alessi. Compliance no Brasil: consolidação e perspectivas. São Paulo: Ed. Saint Paul,
pág. 45, 2008.
41
DAFT, Richard L. Organizações: teoria e projectos. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2002, pág.
12.

29
de diversas regras e normas. Ainda há a pressão por um alto padrão de eficiência e
qualidade que permita a continuidade de competir no mercado. Entretanto, e não obstante
tudo que até aqui foi explanado, a organização necessariamente precisa buscar o
compliance como meio de fortalecer sua posição no mercado, e a sociedade precisa
encarar a ética não só como uma forma de acção conveniente, mas também como uma
condição de sobrevivência da sociedade. Um risco do mensurar a adopção de compliance
é a não correlação do custo-benefício de sua implantação como retorno esperado, porque
riscos reputacionais encontram dificuldade de mensuração e, mesmo que assim não o
fosse, compliance não é uma questão financeira, mas uma questão de princípios
(SCHILDER).

2.4. Diferença entre Compliance e Auditoria Interna

Compliance e Auditoria interna duas ferramentas complementares na gestão empresarial


e ajudam a coibir e obviar práticas de corrupção, irregularidades e fraudes nos negócios.
No entanto, as duas são importantes na mesma proporção em que são diferentes. Apesar
de exercerem papel bastante distinto nas empresas, ainda é comum que haja confusão
entre os dois conceitos. Entender a diferença entre eles é o primeiro passo para usar os
recursos gerenciais com o máximo de precisão para colher melhores resultados no
empreendimento.
Às vezes, o ambiente regulatório pode tanto acelerar quanto matar um sector, assim como
o modus operandi de determinado segmento pode ser completamente transformado. Por
exemplo, o cenário político brasileiro exerceu bastante influência no crescimento da
oferta e procura de serviços como o compliance e a auditoria interna. Os vários casos de
corrupção investigados por operações como a Lava Jato tiraram da inércia empresas que
até então não tinham as duas competências como um processo contínuo, é o que dizem
os especialistas.42
A auditoria é considerada um ramo da contabilidade, uma técnica contábil que averigua
a exactidão dos registos e demonstrações contábeis e tudo relacionado com o controlo do
património da empresa.
Segundo ATIIE,43 a auditoria pode ser classificada em auditoria externa e auditoria
interna. A auditoria externa não possui vínculos empregatícios com a empresa, já o
auditor interno é um funcionário da empresa e, não deverá estar subordinado às pessoas
cujos trabalhos examina, deverá ser independente e prestar informações somente aos
gestores que o destinaram ao trabalho.
A auditoria abrange avaliação dos controlos, processos, sistemas informatizados ou não,
e informações/dados usados na gestão dos recursos financeiros, humanos e patrimoniais.
Contempla, ainda, o exame das demonstrações contábeis e financeiras, a verificação do
cumprimento dos princípios constitucionais que regem os actos e factos administrativos,
além do cumprimento de outros requisitos formais e regulamentares, bem como a
avaliação dos aspectos de economia, eficiência, eficácia e efectividade. Estruturada em
procedimentos, com enfoque técnico, objectivo, sistemático e disciplinado, tem por
finalidade agregar valor ao resultado da organização e melhorar os processos e as
atividades da gestão e dos controles internos, por meio de recomendações com vistas a
soluções das não conformidades apontadas nos relatórios. Compreende as técnicas
necessárias ao exame analítico dos actos da administração e à avaliação dos sistemas
contábil, financeiro, de pessoal, patrimonial, além dos demais sistemas administrativos,

42
https://blogbrasil.westcon.com/auditoria-interna-e-compliance-quais-sao-as-diferencas
43
ATTIE, William. Auditoria Interna. São Paulo: Atlas, 1992, pág. 32.

30
mediante a confrontação entre a situação encontrada e determinado (s) critério (s) técnico,
operacional ou legal.
Conforme publicado pelo ‘The Institute Of Internal Auditors’ dos EUA, a Auditoria
Interna é uma actividade independente, de avaliação objectiva e de consultoria, destinada
a acrescentar valor e melhorar as operações de uma organização. A Auditoria Interna
assiste a organização na consecução dos seus objectivos, através de uma abordagem
sistemática e disciplinada, na avaliação da eficácia da gestão de risco, do controlo e dos
processos de governança. O próprio material elaborado pelo Comité da Basileia esclarece
que a função do auditor é vital aos processos de Governança Corporativa, uma vez que
os auditores desenvolvem importantes atividades, consideradas complementares ao
sistema de controlos. Enquanto a Auditoria Interna efectua seus trabalhos de forma
aleatória e temporal, por meio de amostragens para certificar-se do cumprimento das
normas e processos instituídos pela Alta Administração, o compliance executa tais
actividades de forma rotineira e permanente, monitorando-as para assegurar, de maneira
corporativa e tempestiva, que as diversas unidades da instituição estejam respeitando as
regras aplicáveis a cada negócio, ou seja, cumprindo as normas e processos internos para
prevenção e controlo dos riscos envolvidos em cada actividade. Compliance é um braço
dos órgãos reguladores junto à administração no que se refere à preservação da boa
imagem e reputação e às normas e controlos na busca da conformidade.
Compliance deve ser também tão independente quanto à Auditoria Interna, reportando-
se à Alta Administração44 para informá-la de eventos que representem riscos para
instituição, principalmente risco de compliance, ou seja, regulatório, e que possa afectar
a reputação. Verifica-se que o compliance engloba o acompanhamento dos pontos falhos
identificados pela Auditoria Interna até que sejam regularizados, configurando
intersecção das duas áreas. Entretanto, apesar de possuir funções semelhantes,
compliance faz parte da estrutura de controlos, enquanto a auditoria avalia essa estrutura.
Assim, a área de Compliance, como as demais, deve ser objecto de avaliação da auditoria
interna. Sendo assim, podemos destacar que auditar compliance constitui oportunidade
única para a compreensão de seu processo na instituição, isto é, para a avaliação da cultura
de conformidade e do grau de comprometimento dos profissionais45. Por meio da
auditoria do compliance, é possível avaliar se a função foi estruturada de acordo com o
porte da organização, se há independência para que a área desenvolva um trabalho
preventivo de identificação de possíveis não conformidades. E, principalmente, avaliar se
as demais áreas da organização estão assumindo as suas responsabilidades em relação ao
compliance.

44
A quem o compliance officer deve reportar é ainda um tema muito discutível.
45
MANZI, Vanessa A. “Compliance no Brasil - Consolidação e Perspectivas”. São Paulo: Saint Paul, 2008,
cit. p. 61 e 62.

31
2.5. Função e Responsabilidade do Compliance Officer. Posição e
Competências

Feita a caracterização do compliance, interessa agora discorrer sobre o profissional de


compliance i.é, sobre compliance officer. Compliance officer é um gatekeeper interno da
organização, actua enquanto delegado dos poderes46 que lhe foram delegados pela
administração e tendo por função assegurar-se de que a empresa desenvolve a sua
actividade em conformidade com as normas a que está sujeita. Para esse efeito o
compliance officer tem o poder (-dever) de recolher informação sobre o risco de
ocorrência de resultados lesivos produzidos a partir da actividade empresarial, assumindo
a responsabilidade pela implementação e monitorização do programa de compliance,
idealmente desenhado e implementado com vista a evitar a materialização daquele risco.
Num estudo empírico com coordenação científica de SIEBER e ENGELHART, em que
se procedeu à análise dos programas de compliance destinados à prevenção do crime
económico de mais de uma centena de empresas alemães, mais de 40%das empresas
alocam a função de compliance a um departamento autónomo, cujos responsáveis
reportam directamente, em mais de 70% dos casos, ao presidente da comissão executiva.47
A norma ISO 19600:2014, aponta no mesmo sentido, recomendando a inclusão da função
de compliance na gestão de topo, com apoio da administração e acesso directo a esta,
conhecendo e participando nos processos decisórios e, por essa via, estando em condições
de actuar como freio e contra-peso, para o que é essencial que a função compliance tenha
autoridade para actuar com independência e sem condicionamentos ou conflitos de
internos de qualquer ordem.48
Em suma o Compliance officer, numa acepção mais ampla, é “aquele delegado da
direcção da empresa que tem como tarefa zelar pela correcta implementação e supervisão
do programa de compliance”. Sendo que essa função “pode estar concentrada em uma só
pessoa, em um departamento composto de diversos funcionários ou, ainda, em figuras
externas à empresa, como auditores independentes ou advogados externos”.49
O Criminal compliance, por sua vez, relaciona-se directamente com o polémico assunto
da responsabilidade penal das pessoas jurídicas.50O instituto do Criminal Compliance
surge como um mecanismo de controlo interno, de prevenção de práticas de condutas

46
É pacífico na doutrina que o compliance officer não assume uma posição de garante originária. Vide, A
responsabilidade penal do compliance officer. Fundamentos e limites do dever de autovigilância
empresarial - in Estudos sobre Law Enforcement, Compliance e Direito Penal, pág. 283, 2.ª Edição,
Almedina, 2018.
47
Ibidem, pág. 286-287.
48
O artigo 13.º al. e) do Aviso n.º 01/2013 de 19 de Abril determina por sua vez, dentre outras coisas que,
«O órgão de administração deve delegar num ou mais administradores não executivos, preferencialmente
independentes, as seguintes funções de acompanhamento do sistema de controlo interno: supervisionar a
actuação da função de compliance.» E o n.º 4 do artigo 18.º do mesmo Aviso estabelece que «A
remuneração dos colaboradores associados a funções de controlo, designadamente os pertencentes às
funções chave do sistema de controlo interno, de auditoria interna, de compliance e de gestão do risco, não
pode comprometer a sua independência, não devendo estar directamente associada aos resultados das áreas
tomadoras de risco.»
49
COSTA, Helena Regina Lobo da; ARAÚJO, Marina Pinhão Coelho. Compliance e o julgamento da APn
470. 2014. RBCCrim, n. 106, 2014. Disponível em:https://goo.gl/Rdt73c.
50
O artigo 3.º n.º 3 do Aviso n.º 22/2012publicado em Diário da Republica, I Série – n.º 78, de 25 de Abril
de 2012 define “Compliance Officer” – como o responsável pela implementação do sistema de prevenção
de branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, incluindo dos respectivos procedimentos
de controlo interno, sendo igualmente responsável pela centralização da informação e comunicação de
operações susceptíveis de branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo à Unidade de
Informação Financeira e outras autoridades competentes.

32
ilícitas criminais, que possam colocar em risco a liberdade de seus dirigentes ou a própria
empresa.51

2.6. A implementação de um programa de compliance vs fraudes ao sistema


de compliance

Chegados até aqui, cabe dar nota de alguns aspectos que reputamos serem essenciais na
elaboração de um programa de compliance.
Sendo certo, que a implementação de um programa de compliance é um processo
complexo, que envolve num primeiro momento, uma profunda reflexão da empresa sobre
o seu próprio negócio e sobre a sua concreta actividade, identificando as suas fraquezas
e fragilidades, só a pós esse processo de “conhece-te a ti mesmo” e em função deste,
podem ser definidos os concretos procedimentos a adoptar.
Na esteira de Filipa Marques Júnior52 e João Medeiros53, somos de opinião que a
implementação de um programa de compliance passa necessariamente, e pelo menos,
pelos seguintes passos:54
a) Análise de risco (gerais e específicos da actividade);
b) Elaboração de Códigos de Conduta e Regulamentos internos;55
c) Monitorização, Controlo e Comunicação56;

51
https://www.conjur.com.br/2013-jul-17/criminal-compliance-previne-responsabilidade-penal-pessoa-
juridica Cfr. SANTANA, Jaqueline Rosário. A responsabilidade penal dos compliance officers:
considerações sobre seus limites a partir da APn 470. In: Revice– Revista de Ciências do Estado, Belo
Horizonte, v.3, n.º 2, págs. 22-30, jun./dez.2018. ISSN 2525-8036. Disponível em:
<https://seer.ufmg.br/index.php/revice/index
52
Advogada. Sócia na Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados.
53
Advogado. Sócio na PLMJ Advogados.
54
Cfr. A elaboração de programas de compliance - in Estudos sobre Law Enforcement, Compliance e
Direito Penal, pág. 136 e segs., 2.ª Edição, Almedina, 2018.
55
Importa referir que, como expoente máximo da expressão da Vontade de “Não Delinquir” da organização,
está o estabelecimento da Declaração da Política de Compliance e Ética que deve ser traduzida em um
Código Ético e um Manual de Compliance transversal a toda a Corporação, devendo ser emitida
publicamente (no site da organização por ex.) pela administração da empresa.
É igualmente importante que o Código de Conduta seja divulgado por trabalhadores, colaboradores,
parceiros comerciais, intermediários e consultores, que actuem e nome e/ou por conta da empresa.
56
A título meramente exemplificativo, apontam-se neste particular, a criação de uma “caixa de sugestões”
junto dos colaboradores da empresa sobre melhorias a implementar na política de compliance da empresa;
Criação de um meio de comunicação confidencial para que os trabalhadores, colaboradores, parceiros
comerciais e demais stakeholders, possam denunciar operações suspeitas de que tenham conhecimento.
Veja-se a sucinta, porém interessante e categórica “Declaração da política de compliance” do BNA.
Declaração da Política de Compliance (20 de Março de 2018)
O Banco Nacional de Angola reconhece a sua responsabilidade perante todas as partes interessadas de
acordo com os requisitos legais e regulamentares aplicáveis a sua actividade e compromete-se com altos
padrões de integridade no cumprimento da sua missão. O Banco está empenhado em cumprir com os
requisitos aplicáveis e sempre agir com a devida habilidade, cuidado e diligência.
O Conselho de Administração é responsável pela supervisão dos requisitos de Compliance.
A responsabilidade de coordenar as actividades de Compliance é delegada ao Director do Departamento de
Gestão do Risco e Compliance (DRI) que monitoriza a função de Compliance e que é o Chief Compliance
Officer do BNA.
O DRI facilita a identificação e avaliação, bem como aconselha, monitora e informa sobre o risco de
Compliance do BNA. A gestão dos Riscos de Compliance faz parte do quadro geral de Gestão de Riscos
do Banco.
O Chief Compliance Officer é responsável pela implementação efectiva da política de Compliance.
No entanto, deve-se enfatizar que a responsabilidade primária pelo cumprimento de qualquer requisito
regulamentar cabe aos trabalhadores que realizam actividades específicas às quais se aplica a

33
d) Investigação e Processos Disciplinares;
e) Educação e Formação de Colaboradores.
Não obstante o acima exposto, certo é que os programas de compliance podem ser
utilizados como estratagemas de fuga à responsabilidade, sobretudo se se assumir que a
finalidade do compliance, é obter a isenção de responsabilidade (colectivas ou
individuais) ou ainda a atenuação de sanções.
Acautelando-se contra esses estratagemas, o legislador não deve extrair da simples
existência de programas de compliance nas empresas efeitos automáticos de dispensa ou
redução das sanções.
Também e pela mesmas razões, as autoridades judiciárias e administrativas devem
manter-se neutras perante os programas de compliance nas empresas, pelo menos até
certificarem-se de que são levados a sério, pois que algumas empresas limitam-se a
implementar aquilo a que a doutrina convencionou chamar de “make up compliance”,
“fake compliance”, ou “álibi corporativo”, que são na verdade ilusórios programas de
compliance, configurando-se em verdadeiras fraudes ao sistema de compliance, maxime
do compliance regulatório.
CAPÍTULO III
3. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DAS PESSOAS COLECTIVAS E
ENTIDADES EQUIPARADAS
3.1. SOCIETAS DELINQUERE POTEST ?

O tema da responsabilidade penal das pessoas colectivas é como dissera Raymond


Screvens «vasto, cheio de ciladas e difícil de dominar, designadamente por causa das
diferentes concepções existentes a seu respeito».
É sabido, que durante muito tempo, apoiados no brocardo “societas delinquere non
potest” a doutrina de muitos países do sistema romano-germânico ou da Civil Law,
diferente da doutrina dos países da Common Law, inclinou-se maioritariamente para a
negação da responsabilidade criminal das pessoas colectivas.
Segundo o Professor Germano Marques da Silva, a responsabilidade criminal consiste na
adstrição do agente do crime a suportar a sanção que constitui o seu efeito jurídico
necessário, a consequência jurídica da violação da norma incriminadora.57
Para além das intermináveis disputas doutrinárias, os legisladores, dando mostras de
pragmatismo, têm sido forçados a admitir algumas brechas no princípio da
responsabilidade penal individual, um pouco por toda parte. No entanto, é um facto que
tal responsabilidade tem sido melhor aceite no Direito económico ou no Direito dos
negócios.58

regulamentação. Os trabalhadores devem, portanto, estar familiarizados com a legislação apropriada, bem
como com o Manual de Compliance e/ou guias de orientação técnica aplicáveis à sua área de actividade.
O Manual de Compliance define a abordagem, linhas de orientação e procedimentos de gestão de risco de
Compliance do Banco. O BNA trata os Riscos de Compliance com muita seriedade devendo estes serem
controlados por todos os trabalhadores da Instituição.
Qualquer transgressão da Política de Compliance é considerada grave e acções correctivas resultarão em
medidas disciplinares no âmbito do código de conduta que, em última instância, podem levar à demissão
do infractor.
http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=15869&idsc=15871&idi=15873&idl=1
57
SILVA, Germano Marques da, Direito Penal Português, Parte Geral III - Teoria das Penas e das Medidas
de segurança, Editorial Verbo 1999, pág., 224.
58
Cfr. ROCHA, Manuel António Lopes, in «A responsabilidade penal das pessoas colectivas - Novas
Perspectivas. Ciclo de Estudos de Direito Penal Económico, 1ª Edição, Coimbra 1985.

34
3.2. Fundamentação Dogmática e Legal da Responsabilidade Criminal das
Pessoas Colectivas

Na esteira do Professor Germano Marques da Silva59, nos quadros da dogmática vigente


somos de opinião que a encarnação da pessoa jurídica pressupõe pois a intervenção de
uma pessoa física cuja actividade deve juridicamente analisar-se como sendo a da pessoa
colectiva. Defende este ilustre Professor que, este objectivo é atingido por meio de uma
ficção: a representação. Por isso que o facto pessoal de um ser desencarnado como é a
pessoa colectiva se realiza por representação de uma ou várias pessoas físicas qualificadas
de órgãos ou representantes. Há então uma relação de imputação do facto ilícito
perpetrado pelos órgãos ou representantes da pessoa jurídica à própria pessoa jurídica,
contudo, isto não significa que a pessoa jurídica seja imputável, considerando a
imputabilidade como capacidade de culpa penal, cujos requisitos são a inteligência ou
razão e a vontade livre.

Em termos de legislação, são fundamentalmente 4 (quatros) diplomas onde a matéria da


responsabilidade criminal das pessoas colectivas está expressamente contemplada60 e que
constituem as correspondentes matrizes normativas no sistema jurídico angolano: a Lei
n.º 34/11, de 12 de Dezembro - Lei Sobre o Combate ao Branqueamento de Capitais e
Financiamento do Terrorismo (cfr. artigo 65.º)61; a Lei n.º 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei
Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes ao Branqueamento de Capitais; o
Código Geral Tributário aprovado pela Lei n.º 21/14, de 2 de Outubro (Cfr. artigo 147.º
- da Responsabilidade Penal tributária); e por último a Lei n.º 19/17, de 25 de Agosto –
Lei Sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo (cfr. artigo 3.º).62
De jure condendo, o artigo 9.º do ante-projecto final do Código Penal já aprovado pela
Assembleia Nacional, entretanto ainda não promulgado, diz expressamente que as
pessoas colectivas são susceptíveis de responsabilidade criminal (cfr. artigo 9.º).
A Constituição da República de Angola (CRA), no seu artigo 65.º n.º 1 consagra o
princípio da pessoalidade (e não já da individualidade) e intransmissibilidade da
responsabilidade penal; julgamos nós, salvo forte e melhor argumento que este preceito
constitucional confere a iniciativas legislativas, a possibilidade de abrir excepções ao
princípio da responsabilidade criminal individual, precisamente no domínio por
excelência da responsabilidade criminal das pessoas colectivas, que é o do chamado
Direito Penal Económico.

59
SILVA, Germano Marques da Responsabilidade Penal das Sociedades e dos seus Administradores e
Representantes. Editora Verbo, 2009, pág. 140 e segs.
60
Note que, já na lei n.º 9/81, de 2 de Novembro – Lei da justiça laboral, era possível vislumbrar-se a
responsabilidade criminal das pessoas colectivas, na medida em que nos termos do artigo 33.º da referida
lei, a parte que no prazo máximo de um mês, não cumprisse as obrigações que lhe forem impostas, por uma
resolução transitada em julgado ou por acordo devidamente homologado, incorria na pena aplicável ao
crime de desobediência. Entretanto, o nº 3 do mesmo artigo dispõe que «se a parte faltosa for uma empresa,
a pena prevista no número 1 será suportada pelos elementos da direcção responsáveis pelo não cumprimento
da resolução ou acordo. Esta é de resto uma solução que se compreendia a luz do paradigma jurídico-penal
vigente.
61
Esta lei revogou a lei n.º 12/10 de 9 de Julho - Lei Sobre o Combate ao Branqueamento de Capitais e
Financiamento do Terrorismo, que já a responsabilidade criminal das pessoas colectivas e equiparadas no
artigo 56.º.
62
A Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, a que o nosso Estado (Angola) aderiu através da
Resolução da Assembleia Nacional n.º 20/06, de 23 de Junho, prescreve no seu artigo 26.º que «1. Cada
Estado parte deverá adoptar, em conformidade com o seu sistema jurídico, as medidas que se revelem
necessárias para responsabilizar as pessoas colectivas que participem nas infracções enunciadas na presente
Convenção. 2. Em conformidade com o ordenamento jurídico do Estado parte, a responsabilidade das
pessoas colectivas, poderá ser penal, civil ou administrativa.»

35
Para o tema em análise, uma atenção especial deve ser dada sobretudo à Lei n.º 3/14,de
10 de Fevereiro não obstante ser uma lei a prazo ou a “termo certo” como resulta do seu
artigo 60.º, uma atenção especial porque como dissemos, esta lei traduz no essencial qual
a relevância do compliance nas organizações a luz do Direito angolano, num contexto em
que fruto de um novo paradigma, e de um novo programa de politica criminal, onde o
Direito não mais pôde fechar os olhos à criminalidade empresarial, as pessoas colectivas
e entidades equiparadas, podem ser responsabilizadas criminalmente.
E dissemos isto porquê? Porque, o referido diploma legal, primeiro: o diploma legal em
causa determina a responsabilidade criminal das pessoas colectivas e entidades
equiparadas63 pelos crimes previstos no seu Capitulo II, e em demais legislação penal
quando cometidos (cfr. artigo 5.º n.º 2, alíneas a) e b)):

i. Em seu nome e no interesse colectivo por pessoas que nelas ocupem uma posição
de liderança.64
ii. Por quem aja sob a autoridade das pessoas que nelas ocupem uma posição de
liderança, em virtude de uma violação dos deveres de vigilância ou controlo que
lhes incumbem65.

A lei entretanto, exclui as pessoas colectivas e entidades equiparadas de toda e qualquer


responsabilidade, quando o agente (indivíduo) tiver actuado contra ordem ou instrução
expressa de quem de direito (cfr. artigo 5.º n.º 6).66 Nós entendemos, no entanto, que esta
causa de exclusão da responsabilidade só se verificará em função dos níveis de
compliance em concreto verificados. Não obstante o exposto, ainda assim, é certo e
legítimo asseverar que no nosso ordenamento jurídico «societas delinquere potest».

63
Para efeitos de responsabilidade criminal, consideram-se entidades equiparadas às pessoas colectivas as
sociedades civis e as associações de facto, (cfr. artigo 5.º n.º 5).
64
Entende-se que ocupam uma posição de liderança os órgãos e representantes da pessoa colectiva e quem
nela tiver autoridade para exercer o controlo da sua actividade (cfr. artigo 5.º n.º 4).
O Chief Compliance Officer (CCO) – o guardião das regras e das leis internas e externas, enquanto
responsável do Departamento de Compliance, responsável pelo controlo do cumprimento da legalidade
(latu sensu) na actuação da instituição, por ocupar a posição que ocupa é a nosso ver, nos termos descritos
definidos pelo artigo 5.º n.º 4 in fine, uma pessoa que ocupa uma posição de liderança.
65
Compliance corporativo e regulatório.
66
Redacção semelhante é a do n.º 3 do artigo 403.º do Código dos Valores Mobiliários - aprovado pela Lei
n.º 22/15, de 31 de Agosto.

36
3.3. Penas Aplicáveis às Pessoas Colectivas e Entidades Equiparadas

Os diplomas legais onde a matéria da responsabilidade criminal das pessoas colectivas


está expressamente contemplada, em especial a Lei n.º 3/14,de 10 de Fevereiro (cfr. artigo
44.º), estatuem como penas aplicáveis as pessoas colectivas e entidades equiparadas, as
seguintes penas: Penas principais: multa e dissolução67.
Penas acessórias (cumuláveis)68: injunção judiciária69, interdição do exercício de
actividade, proibição de celebrar certos contratos ou contrato com determinadas
entidades, privação do direito a subsídios, subvenções e incentivos, caução de boa
conduta, admoestação, vigilância judiciária, encerramento de estabelecimento e
publicidade da decisão condenatória.

3.4. Relação entre Compliance e Responsabilidade Criminal das Pessoas


Colectivas e Entidades Equiparadas. Relevância dos programas de
compliance na responsabilização criminal da pessoa jurídica

Segundo TERESA QUINTALA DE BRITO70, a responsabilidade penal das pessoas


colectivas constitui uma forma de as motivar e coagir a uma correcta auto-regulação, ao
mesmo tempo que possibilita o controlo estatal desta auto-regulação.
Esta autora citando ADÁN NIETO MARTÍN (in Manual de Cumplimiento penal en la
empresa, p.p. 32 e 34-35) refere que, o mesmo sublinha que a primeira sentença do
Supremo Tribunal dos EUA a reconhecer a responsabilidade penal das pessoas jurídicas
(no caso New York & Hudson River v. U.S, em 1909) considerou que o objectivo de tal
punição era incitá-la a dotarem-se internamente de mecanismos de controlo que lhes
permitissem respeitar a lei.
Nesta linha, NIETO MARTÍN vê a responsabilidade penal dos entes colectivos como “a
forma mais importante de coacção a uma correcta auto-regulação” afirmando que o fim
último de tal responsabilidade é, precisamente, motivá-los à adopção de mecanismos
internos de controlo, ao mesmo tempo que, desse modo, se estabelece “um controlo
estatal sobre a auto-regulação.” Porém, logo em seguida, NIETO MARTÍN acrescenta
que, também neste âmbito, o Direito Penal deve intervir como ultima ratio, importando
buscar “meios alternativos de coação estatal à auto-regulação empresarial.”
A título de Direito comparado, de acordo com a Recomendação n.º R (88)18, do Comité
de Ministros do Conselho da Europa sobre responsabilidade penal das empresas, de
20.10.1988, a empresa deve ficar isenta da responsabilidade quando a sua organização
não se viu implicada no delito cometido e tomou as medidas necessárias para impedir a
sua comissão.

67
A pena de dissolução é decretada pelo Tribunal quando a pessoa colectiva ou entidade equiparada tiver
sido criada com a intenção exclusiva ou predominante de praticar os crimes indicados na presente lei ou
quando a prática reiterada de tais crimes mostre que a pessoa colectiva ou entidade equiparada está a ser
utilizada, exclusiva ou predominantemente para esse efeito, por quem nela ocupe uma posição de liderança.
Cfr. artigo 49.º.
68
Resulta do n.º 3 do artigo 44.º do referido diploma legal que «as penas acessórias previstas no n.º 2 podem
ser aplicadas cumulativamente.
69
Aqui o Tribunal ordena a pessoa colectiva ou entidade equiparada que adopte certas providências,
designadamente as que forem necessárias para cessar a actividade ou evitar as suas consequências. Cfr.
artigo 50.º, n.º 1.
70
BRITO, Teresa Quintala de «Compliance, Cultura Corporativa e Culpa Penal da Pessoa Jurídica», in
Estudos sobre Law Enforcement, Compliance e Direito Penal, 2.ª Edição, Almedina, 2018, págs. 70-73 e
segs.

37
TERESA QUINTALA DE BRITO entende ainda que à resposta à questão das
consequências jurídico-penais da existência de um adequado e operativo programa de
Criminal Compliance depende do modelo de responsabilidade penal das pessoas
colectivas que se adopte.
Assim, é de opinião que quem preconize um modelo de responsabilidade por facto e culpa
próprios da pessoa jurídica, admitirá a exclusão do ilícito típico colectivo ou culpa da
pessoa jurídica conforme os casos, este modelo dá bastante relevância aos mecanismos
de criminal compliance nos planos, desde logo do ilícito típico colectivo, mas também,
por ventura da culpa da pessoa jurídica (parece-nos ser este o modelo adoptado pelo nosso
legislador).
Contrariamente, quem sustente um modelo de transferência do facto da pessoa singular
para a pessoa colectiva, no caso de existir um programa idóneo e eficaz de cumprimento
de Direito, apenas admitirá uma atenuação da responsabilidade do ente ou uma isenção
da pena, por o delito da pessoa singular então surgir indiciariamente como “acidente ou
desgraça” para a pessoa jurídica.
Portanto em jeito de síntese conclusiva quanto à relevância dos programas de compliance
na responsabilização criminal dos entes colectivos, podemos asseverar que face ao
disposto no artigo 5.º da Lei n.º 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei Sobre a Criminalização das
Infracções Subjacentes ao Branqueamento de Capitais, a prévia e efectiva implementação
de idóneos programas de compliance pode ter um efeito excludente da responsabilidade,
por revelar que o concreto facto punível que irrompe da pessoa jurídica nada tem a ver
com o seu modo de organização, funcionamento e actuação jurídico-económica. Então o
facto não pode dizer-se cometido no “interesse colectivo”, mas contra ele, de modo que
tem de concluir-se que inexiste um ilícito-típico colectivo, por falta de um facto próprio
do ente, apesar da ocorrência de um facto da pessoa singular. O que sucede quando se
verifica que, o facto punível foi praticado contra ordens ou instruções expressas de quem
de direito dentro do ente (cfr. artigo 5, n.º 6 da Lei n.º 3/14, de 10 de Fevereiro).

38
CONCLUSÃO

Tal como dissemos e aqui reiteramos, num contexto em que está expressa e
iniludivelmente ultrapassado o dogma segundo o qual “societas delinquere non potest”,
tendo o conceito compliance ganhado enorme visibilidade desde que as empresas
começaram a adoptar programas de cumprimento normativo voluntário (compliance
programs), em vista minorar significativamente os riscos de responsabilização das
pessoas colectivas, maxime das sociedades comerciais e respectivos gestores nos âmbitos
civil, transgressional e até criminal e, com isso, defender-se genericamente os seus
stakeholders.
Aqui chegados, infere-se que hoje mais do que nunca, face aos desafios diários que se
colocam às organizações, exigindo-se destas uma (re) definição da cultura de actuação,
no caso das empresas, articulando-se e conciliando-se a dimensão económica e financeira
do negócio, com os riscos inerentes, designadamente o risco de compliance, nos termos
supra definidos, ou (latu sensu), riscos operacionais, que o compliance mais do que estar
na berlinda é uma ferramenta imprescindível a prevenção e mitigação de fraudes no seio
das organizações e um mecanismo útil em sede das causas de exclusão da
responsabilidade criminal das pessoas colectivas e entidades equiparadas a luz do Direito
angolano.
Conclui-se, entretanto, da presente pesquisa que o tema compliance não um tema
absolutamente novo, sendo apenas uma “moda” e que o compliance quer regulatório, quer
corporativo está sobretudo sedimentado no sector financeiro bancário, onde avultam
consideráveis instrumentos normativos pertinentes à função compliance, como sejam
designadamente o Aviso n.º 01/2013, de 19 de Abril, o Aviso n.º 22/2012publicado em
Diário da Republica, I Série – n.º 78, de 25 de Abril de 2012 e a transversal Lei n.º 34/11
de 12 de Dezembro de 2011 - Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do
Financiamento ao Terrorismo.
Portanto, à guisa de conclusão, podemos afirmar que o compliance é deveras um
instrumento importante no seio das organizações, porquanto não só se traduz no
cumprimento ou agir em conformidade com as leis e demais regulamentações ou
standards internacionais, mas, porque constitui um verdadeiro meio de agregar valor à
marca institucional protegendo o que lhe é mais caro: a reputação, como também no que
respeita ao tema da responsabilidade criminal das pessoas jurídicas, um efectivo
programa de compliance que passa necessariamente, e pelo menos, pelos seguintes
passos: análise de risco (gerais e específicos da actividade; elaboração de códigos de
conduta e regulamentos internos e monitorização, controlo e comunicação, ter um efeito
dirimente ou até mesmo excludente da responsabilidade.

39
RECOMENDAÇÕES

Às organizações, maxime empresas, recomendamos, a criação de um departamento de


compliance ou a delegação da função compliance a um técnico especializado na matéria,
com competências, autoridade e independência que o cargo exige.
A elaboração de um robusto e consistente programa de compliance, e implementação da
ISO 19600: 2014, sendo certo que não há programas de compliance perfeitos que
eliminem por completo o risco da comissão de factos ilícitos, recomendamos que a
implementação do mesmo, deva ser permanentemente auditada e actualizada.
Às autoridades judiciárias e administrativas, no que respeita a “law enforcement”, estas
não devem extrair da simples existência de programas de compliance nas organizações
efeitos automáticos de dispensa ou redução das sanções ou até mesmo de extinção da
responsabilidade criminal.
Aos cultores do Direito Penal Angolano, recomenda-se vivamente mais estudos
científicos sobre o tema e função do compliance, em especial do Criminal Compliance,
porquanto o contexto económico e jurídico-legal desafia e a doutrina angolana clama.

40
BIBLIOGRAFIA

Constituição da República de Angola, promulgada a 5 de Fevereiro de 2010


Lei n.º 30/11, de 13 de Setembro - Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas
Lei n.º 34/11 de 12 de Dezembro de 2011 - Lei do Combate ao Branqueamento de
Capitais e do Financiamento ao Terrorismo
Lei n.º 3/14, de 10 de Fevereiro - Lei Sobre a Criminalização das Infracções Subjacentes
ao Branqueamento de Capitais
Lei n.º 12/15, de 17 de Junho - Lei de Bases das Instituições Financeiras
Lei n.º 19/17, de 25 de Agosto - Lei Sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo
Lei n.º 5/18, de 10 de Maio - Lei da Concorrência
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