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Tematização e silenciamento Niklas Luhmann (2005), ao refletir sobre o sistema dos meios de

comunicação na sociedade, afirma que os temas são necessários para garantir que os media
não se “desacoplem” da sociedade. Eles representam, segundo o autor, a heterorreferência da
comunicação. Em outros termos, “eles atam as colaborações a contextos 108 | Media Effects,
vol. 3: espiral do silêncio, enquadramento e contemporaneidade complexos de tal forma que
na comunicação habitual pode-se reconhecer se um tema será mantido e continuado ou está
sendo trocado” (LUHMANN, 2005, p. 30). Ainda conforme o Luhmann, a tematização é o que
garante o sucesso dos meios de comunicação na sociedade, independente se a posição
tomada é positiva ou negativa em relação às informações, às proposições de sentido ou à
valorização conferida ao tema, porque, ao fazer uso de seus temas, os veículos podem atingir a
sociedade. Ao tematizar e colocar em circulação determinados temas, assuntos e discussões,
os meios de comunicação colaboram, assim, com a construção social da realidade. De acordo
com Wolf (2003), o conceito de tematização insere-se na hipótese do agenda-setting ao
explicar como alguns temas ganham espaço na pauta dos media. Segundo ele, “tematizar um
problema significa, na realidade, colocá-lo na ordem do dia da atenção do público, dar-lhe a
importância adequada, salientar a sua centralidade e sua significatividade em relação ao fluxo
da informação não-tematizada” (WOLF, 2003, p. 165). Basicamente, sua função é a de fazer a
seleção dostemassobre os quais a atenção do público deve se concentrar, mobilizando-o a
uma tomada de decisão. Ou seja, dentro desta perspectiva teórica, o que distingue um tema
de um acontecimento ou uma série de acontecimentos, é seu poder de fazer com que um
problema social tenha um caráter público e relevância social. Nem todo acontecimento ou
problema é suscetível de tematização, apenas os que denotam alguma relevância político-
social. Os meios de comunicação de massa, portanto, tematizam dentro dos limites que eles
mesmos não definem, num território que eles não delimitam, mas que simplesmente
reconhecem e começam a cultivar (WOLF, 2003, p. 166). Em termos de organização do sistema
mediático, caberia aos jornais, de acordo com Marletti (1982, p. 210, apud WOLF, 2003, p.
166), a produção de informação secundária ou “informação Adriana Santos; Ivanise Andrade;
Clarice Cunha; Gustavo Ribeiro; Mariana Corrêa | 109 tematizada”, que amplia a notícia,
contextualizando-a e aprofundando-a. Essa informação tematizada pelos meios de
comunicação permite, ainda conforme Wolf (2003), a inserção do acontecimento em um
contexto social, econômico, político, associando-o a outros acontecimentos e fenômenos. Para
o autor, o agendamento é um efeito social da mídia a longo prazo e consiste em relações entre
os meios de comunicação e a agenda política/social. Tais relações envolvem influências
financeiras, econômicas e políticas para evidenciar temas e assuntos de seu interesse na esfera
social e coloca-los na agenda social por meio da agenda midiática. O público, segundo
McCombs e Shaw (1972), tende a incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo
que os meios de comunicação incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Segundo esta
corrente teórica, os meios de comunicação elencam para o leitor, telespectador, etc., os temas
sobre os quais ele deve colocar sua atenção. Segundo a hipótese da agenda-setting, a
reincidência de determinado tema nos media faz com que a população passe a pensar mais
sobre o assunto. O agendamento de uma temática pode ocorrer pelo aparecimento dele por
dias seguidos no mesmo veículo até que este tenha incidência em diversos veículos no mesmo
período, mesmo que com opiniões diferentes em cada um deles. A hipótese diz que o receptor
não é necessariamente induzido quanto ao que pensar, como defendia a Teoria da Agulha
Hipodérmica, mas com o reaparecimento do tema este passa a ter importância e o receptor
passa a pensar sobre o assunto tematizado. Para a discussão proposta neste artigo, cotejamos
a hipótese do agenda-setting com o conceito de silenciamento elaborado por Noelle-Neuman
(1995) ao discorrer sobre a hipótese da Espiral do Silêncio. A autora parte dos estudos de
Tocqueville para explicar que, por medo do isolamento social, as pessoas evitam expressar
opiniões que não estejam em concordância com a opinião dominante. Por meio de pesquisa
sobre o clima de opinião pública, 110 | Media Effects, vol. 3: espiral do silêncio,
enquadramento e contemporaneidade a autora afirma que “as pessoas tendem a proclamar
suas opiniões ou ‘engoli-las’ e ficarem caladas até que, num processo em espiral, um ponto de
vista passa a dominar a cena pública e por fim desaparece da consciência pública ao silenciar
seus apoiadores. Este é o processo que podemos descrever como ‘espiral de silêncio’”
(NOELLE-NEUMANN, 1995, p.11)6 . Basicamente, a hipótese afirma que há uma tendência de
as pessoas silenciarem-se quando possuem uma opinião minoritária. Tal tendência é
progressiva, exponencial, haja vista que quanto maior for o clima maior será a tendência ao
silêncio e a não discordar da opinião dominante. Assim, para que o processo ocorra são
necessários temas pré-estabelecidos e um clima de opinião acerca de tais temas. A hipótese da
Espiral do Silêncio descreve um fenômeno em que os agentes sociais não expressam
publicamente opiniões diferentes daquelas consideradas dominantes por medo do isolamento
de seus grupos de convívio. Embora percebam que algo não está certo, continuam em silêncio
se a opinião pública é contrária. Para tal conceito, parte-se do pressuposto de que as pessoas
temem o isolamento e se esforçam para serem aceitas no grupo, e, para isso, manifestam
opinião similar ao grupo ou, pelo menos, não contrária ao grupo. Por isso, ao desconfiar que as
opiniões alheias sejam contrárias e que a própria opinião seja parte da minoria, as
pessoastendem a se calar. Segundo Noelle-Neumann (1995) a inibição, por meio do silêncio,
faz com que a opinião que recebeu apoio explícito pareça mais forte do que realmente é,
tonando aparentemente a outra opinião mais fraca.

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