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-7326-449-4

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264494
ES
Os tragediógrafos gregos antigos com-
punham suas obras para piateias que co-
nheciam de antemão, em linhas gerais, os
mitos encenados, No entanto, é muito pro-
vável que o infanticídio de Medeia tenha
sido invenção de Eurípides. A história de
uma mãe que assassina a futura esposa de
seu marido, o pai desta, rei de Corinto, e,
principalmente, os seus próprios filhos co-
mo parte de uma estratégia que visa infligir
dor ao esposo e vingar as traições sofridas,
faz da Medeia de Eurípides uma das mais
desconcertantes tragédias. Se na época a
peça não foi popular, obtendo o último lu-
gar no concurso das Grandes Dionísias de
431a.€., a sua fortuna é enorme, e ela ser-

13
viu de inspiração a inúmeras Medeias pos-

Perda
teriores, desde a de Sêneca à de Pasolini e,

Da
entre nós, a Joana da Gota d'água (de Chi-
co Buarque e Paulo Pontes, 1975).
O enredo e a personagem principal da
Medeia de Eurípides têm suscitado diversas
12

PAO
questões: em confronto com a teoria aris-
totélica e as demais tragédias gregas, será
lícito chamar de “heroína trágica” esta Me-
deia que comete lúcida e voluntariamente
um crime assombroso pelo qual não pare-
ce ser punida pelos deuses no final, mas,
ao contrário, é por eles salva? Em que con-
siste a sabedoria (sophia) de Medeia, en-
faticamente ressaltada pela própria perso-
nagem e por seus interlocutores? Esses e
outros problemas levantados pela crítica
são discutidos por Trajano Vieira no posfá-
cio à tradução,
Das tragédias gregas antigas, perderam-
-se o contexto cultual, a música, a dança e
a encenação como um todo, elementos fun-
damentais e constitutivos desses dramas.
Eurípides

MEDEIA

Edição bilíngue
Tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira
Comentário de Otto Maria Carpeaux

editoraBl34
EDITORA 34

Editora 34 Ltda.
Rua Hungria, $92 Jardim Europa CEP 01455-000
São Paulo - SP Brasil Tel/Fax (11) 3816-6777 www.editora34.com.br

MEDEIA
Copyright O Editora 34 Ltda., 2010
Tradução, posfácio e notas O Trajano Vieira, 2010 Agradecimentos...........sccceererereererareereneeaannerertesaas

=
Nota preliminar ..........ccteceerea ceeneerares
A FOTOCÓPIA DE QUALQUER FOLHA DESTE LIVRO É ILEGAL E CONFIGURA UMA
APROPRIAÇÃO INDEVIDA DOS DIREITOS INTELECTUAIS E PATRIMONIAIS DO AUTOR.
YoBÉGELÇ.......ci
ces eieremecerenerereneeearencaeeseeesaresanaos meras 14
e Z .

Argumento ......icssersseesasirenerneareneaas sera reneareaeraniaaarares 15


Título original: Aptotopávous ypappatiKou UmoBEOAÇ.......iceseier 18
Mijdeia Argumento do gramático Aristófanes... 19
Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica:
TA TOU BPÁHATOS TEPÓGGITA ....iiiisrsss eres ereacarerrias 20
Bracher & Malta Produção Gráfica
Personagens.......ccccricessecereaeerererenererenarrerenaeearanierias 21
Revisão:
Cide Piquet
MINDELO16 .eeceee res errerecerereneaenacacererreresentaseansa
rare carreananaanaa 22
MEDEIA.....cceeereeeererereseareerereaneeessaaeata cessrerencererenerasa: 23
1º Edição - 2010 Posfácio do tradutor.....eremeseeserscarntos mereereeanaes 157
Métrica e critérios de tradução... 177
Sobre O autor ......ceresemereereeeseisasaseanas cererarareanrirenas 179
CIP - Brasil. Catalogação na-Fonte Sugestões bibliográficas...........eceeeeeeereseraeeerem 181
(Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, Brasil)
Excertos da crítica .......eeeemeneeranemaranmacanas cererarerera 183
Eurípides, c, 480-406 a.C.
Es64m Medeia / Eurípides; edição bilingue;
tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira; “Eurípides e a tragédia grega”,
comentário de Otto Maria Carpeaux —
São Paulo: Ed. 34, 2010.
Otto Maria Carpeaux......... cerenenensearereaeaeasananassanaca 187
192 p.

ISBN 978-85-7326-449-4 Sobre o tradutor... Ceeerarenrereresrarasaneao 191


Texto bilíngue, português e grego

1, Teatro grego (Tragédia). 1. Vieira,


Trajano. H. Carpeaux, Otto Maria, 1900-1978.
HI. Título.

CDD - 882
Agradecimentos

Agradeço ao Professor Claude Calame, que me acolheu


com extrema generosidade intelectual na École des Hautes
Études en Sciences Sociales — Centre Louis Gernet —, em
Paris, onde pude realizar este trabalho. Seria no mínimo pre-
tensioso tentar apresentar neste breve espaço a magnitude de
um helenista original, dialógico e formador.
Agradeço igualmente à Fapesp, que me concedeu uma
Bolsa de Pesquisa no Exterior (BPE), para o desenvolvimen-
to do projeto.

Trajano Vieira
Nota preliminar

Eurípides (c. 480-406 a.C.) encenou a tetralogia que in-


cluía Medeia em março de 431 a.C. no concurso teatral das
Grandes Dionísias, no qual se classificou em terceiro e último
lugar (o ganhador, Euforion, hoje esquecido, ficou também
à frente de Sófocles, segundo colocado). A data seria lembra-
. da pelos atenienses, pois, poucos dias antes da representação,
a cidade de Plateia, aliada de Atenas, sofrera ataque tebano,
episódio que desencadeou a guerra do Peloponeso. Embora
o drama elucide o material mitológico em que se baseia, al-
gumas informações preliminares talvez sejam de interesse ao
leitor. Homero menciona de passagem as expedições de Jasão
(Odisseia, X, 134; XI, 256-9; XH, 59-72), sem se referir con-
tudo a Medeia, citada por Hesíodo (Teogonia, 956-62, 992-
-1.002), que alude ao casamento com Jasão. Píndaro, além
de abordar as núpcias da heroína, fala de seu papel na expe-
dição dos argonautas (Olímpica, XII, 53 ss.), sem deixar de
lado sua habilidade em manipular venenos e a morte de Pélias
(Pítica, IV, 233 e 250). Registre-se que, desde o início de sua
atividade, Eurípides revelou interesse pela personagem. Em
455 a.C., sua estreia ocorreu com Pelíades, centrada no as-
sassinato de Pélias, concebido por Medeia. Por volta de 440
a.C., escreveu Egeu, que aborda a estada de Medeia em Ate-
nas e seus planos de assassinar Teseu.
O mito dos argonautas tem origem bastante remota,
provavelmente associado às expedições gregas no mar Negro,
durante o período micênico. Entretanto, se tomarmos como
base as fontes e as referências remanescentes, somos levados critos por Donald J. Mastronarde em sua edição da peça)!
a crer que o assassinato dos filhos por Medeia é fruto da cria- Egeu, rei de Atenas, recém-chegado a Corinto para consultar
ção de Eurípides. O escritor alexandrino Apolônio de Rodes Medeia sobre o oráculo de Delfos, referente à sua estereli-
(século 3 a.C.) discorre, nas Argonáuticas, sobre a longa via- dade.? Numa das notícias sobre a tragédia de Neofron, Di-
gem de Jasão rumo à Cólquida, onde o rei Eeta, filho do Sol cearco, discípulo de Aristóteles, sugere igualmente que Eurí-
e pai de Medeia, lhe proporia três provas dificílimas para a pides teria se inspirado na obra homônima do primeiro.
obtenção do velo de ouro: subjugar dois touros selvagens, O texto de Eurípides inspirou numerosas obras, em di-
arar um campo onde seriam semeados os dentes do dragão ferentes épocas, de Sêneca a Pier Paolo Pasolini, passando
de Ares, de que nasceriam guerreiros armados, e enfrentar por Corneille, Jean Anouilh, Heiner Múllex, Lars von Trier e
estes guerreiros. Com o auxílio de Medeia, Jasão derrota os Christa Wolf. O vigor do mito pode ser avaliado pela manei-
antagonistas. Por temor ao pai, ela foge com os argonautas, ra como vários de seus elementos são reinventados, desde a
depois de auxiliar Jasão a eliminar o dragão protetor do velo ocorrência de um Jasão bondoso e uma Medeia sórdida (que,
de ouro. É nesse momento que o personagem promete casar- na cena final, aparece sobre o teto de sua casa, com um filho
-se com Medeia e conduzi-la à Grécia. Segundo Apolônio, vivo e o cadáver do outro) em Sêneca, até o retorno de uma
o matrimônio se dá por “necessidade”, na ilha dos feácios, Medeia imersa em atmosfera sagrada, à qual não falta o ele-
durante o périplo dos argonautas. Arete, rainha do país, pro- mento onírico, como na cena em que o Sol lhe aparece em
move as núpcias entre Medeia e Jasão, para evitar que ela sonho, no filme de Pasolini estrelado por Maria Callas.
fosse reconduzida ao pai. Perseguidos no mar por Apsirto,
irmão de Medeia, os argonautas conseguem assassiná-lo, gra-
ças à intervenção da heroína. No curso da viagem da Cól-
quida para Corinto, Medeia provoca a morte de Pélias (tio
de Jasão que havia usurpado seu trono e o lançado à missão
suicida em busca do velo de ouro), convencendo suas filhas
a esquartejá-lo e a cozinhá-lo, no que seria um rito de pre-
servação da juventude. É neste ponto que tem início a tragé-
dia de Eurípides, quando o casal, exilado de Jolco pelo filho
1 Euripides — Medea, edição de Donald J. Mastronarde, Cambridge,
de Pélias, Acasto, finalmente aporta em Corinto. O casamen- Cambridge University Press, 2002.
to de Jasão com a filha de Creon, Glauce (não nomeada pelo
2 Desconhece-se a origem exata desse “Argumento”. Cogita-se que
poeta), talvez tenha origem anterior a Eurípides: Pausânias ele tenha tomado como base os exaustivos estudos de mitologia realizados
(Guia da Grécia, 1, 3, 6) alude ao suicídio da princesa, que por volta do século 1, sob inspiração de Didimo. Denys L. Page (Euripi-
se atira numa fonte na tentativa de livrar-se do veneno de des — Medea, 1938, 12º ed., 1988, pp. Iv-lvi) considera interessante a
Medeia. No “Argumento” que antecede os manuscritos des- hipótese de C. Robert, segundo a qual Ovídio teria utilizado informações
contidas nesse trecho para escrever uma passagem das Metamorfoses: 8,
ta obra, diz-se que Eurípides buscou inspiração na peça ho- 159-296,
mônima de Neofron, autor de 120 dramas, que apresenta,
3 Ver, a respeito, o terceiro tópico (“Euripides and Neophron”) da
num dos três fragmentos supérstites de sua produção (trans- introdução de Page à edição oxfordiana da Medeia.

10 11
MEDEIA
“YrroBéceiç Argumento

Tácwy eiç Kópivdov EXMÓv, Emayópevoç Kai Múderav, &y- Chegando a Corinto em companhia de Medeia, Jasão as-
yuárar Kai trjv Kpéovroç TOU Kopivotav Baoikécç Quyarépa Phau- sume o compromisso de se casar com Glauce, filha de Creon,
Knv Tpoç yápov. péhouca SE 1) Múdeia quyadeúco da úmô Kpéo- rei de Corinto. Prestes a ser exilada de Corinto por Creon,
vroç éx THg KopívBou, TTaparrnoapévr Tpõç pia Npnéparv peivos Kai Medeia pediu e obteve permissão de permanecer mais um
Tuxotca, proBov tic yápiroç Bópa Sã TAv maidav TÉNICEL TÍj dia na cidade; em sinal de gratidão, envia alguns presentes a
Phovky Eobijra «oi ypucotv otépavov, oiç Exeivn xpnoagnévr Sia- Glauce, por intermédio de seus filhos: vestes e uma coroa de
pOeiperau- Kai O Kpémv SE Trepirthaxeiç TÃj Ouyatpi ámóldurar. Mi- ouro. Ao colocá-las, Glauce perdea vida, e Creon, ao abraçar
Seia dE TOUÇ Eaurijç traiidaç amoxteivaca Emi Gpuaroç Spakóviov a filha, também falece. Medeia, depois de matar os próprios
mrEpooTádv, O tap” Hhiou Elapev, Eroyos yevonévr) aroBibpáoxer filhos, sobe num carro puxado por dragões alados, presente
eiç Abrvaç xáxeios Aiyei tê Tavôiovoç yaeitar. DepexúBnc SE Kai do Sol, fugindo para Atenas, onde se casa com Egeu, filho de
Eoviônç paoiv vç 1) Midera aveyicaga Tôv lácova véov TroLij- Pândion. Ferecides e Simônides contam que Medeia, tendo
gste. TEpi OE TOU TTATpOÇ aútoU Aloovoç ó tToug Nóctrouç Totfcaç cozinhado Jasão, devolve-lhe a juventude. Sobre seu pai Eson,
o
pnoiv out: o autor de Regressos se exprime assim:

aúrixa 6" Aigova Bike piÃov xópov ABocwvra, Transforma Eson num moço em flor de idade,
yúpos aroBvoao” eiSvigor mparideco, poupando-o da velhice, mente aguda,
páppara mTóAN" Eyouo” êmi ypuoeiotor ABnorv. cozendo em tachos de ouro muitos fármacos.

Aioyuhoç 8" év Taiç Arovúcou Tpopoiç iotopei Gr Kai tTáç At- Ésquilo, em As nutrizes de Dioniso, conta que ela tam-
“OVÚGOU TPOPOUÇ ETA TAV AVÔpGdv aUTódv Aveyicada êveorroínoe. . bém rejuvenesceu as nutrizes de Dioniso, cozinhando-as com
EtápuÃoç dé pnor tóv'Iácova Tpórrov TivA Urrô Tig Mndetaç ávar-
pedfivar Eyxeeúodo
da yáp aútiv olraç Úrô Th Tpúpvi TS guinte morte: ela mesma pede que ele durma sob a popa da
Apyols Karaxondijva, peAhovons TAC vecxç SiohúeoBa Úrrô TOU nave Árgo, corroída pela ação do tempo. Ao cair sobre Jasão
xpóvou: êmimecotong yolv ig mpúpivis Tê Tácovi Tekeurijoor airóv. a popa, perdeu a vida.
Tô ôpápa Soxei uroBonécBa mapa Neówpovoç diavksúogas, O drama parece ter sido tomado de Neofron, mediante
mg Arxadapyos ... TOU tfig EAA4dOç Biou Kai Apigtortédnç êv úrro- adaptação, segundo Dicearco em Vida da Grécia e Aristóte-

14 is
EvipooL. péppovrar dE auTó TO (tm TrepuÃaxévea TIjv ÚTrókpro1v TI) les em suas Memórias. Ambos o criticam por não ter manti-
Mndeig, dAÃA rrporreoeiv eiç Sáxpua, re Emepoúkeucev Tácovi Kai do inalterado o caráter de Medeia, que cai em pranto ao tra-
TAL yuvarki. êronveitor SE 1) cioBoM Sá TO tradrikáç &yav Exerv, mar o plano contra Jasão e sua mulher. Mas o começo é elo-
Koi 1 ErreBepyaoia ,nô” Ev várraoi! Kai TA EEMg. ómep áyvonoas giado por seu tom patético e pelo desenvolvimento: “e nem
' vt 4 x 4 ma a
Tipayidaç TÁ voTÉpY poi mpúreo KexproBder, dg “Opnpoç- nos vales” e o que lhe segue. Foi o que Timáquidas ignorou,
ao afirmar que o autor incorreu em inversão da ordem lógi-
einará T' Apprécaoa Bucsdea xai Aoúcaga. ca, como Homero:

Vestindo roupas odorosas e banhando-se.

16 17
ApioTopávouç ypappatikoU Uródeoiç Argumento do gramático Aristófanes!

Múdeira Bia TNv Trpõs Tá cova ExOpav tó Exeivov yeyapnévor Medeia, por causa de seu ódio contra Jasão, que despo-
tv Kpéovroç Ouyarépa àmékterve pv Phodknyv Kai Kpéovra Kai sara Glauce, filha de Creon, assassinou-a e a Creon e aos
TOUS idiouç uioús, ExwopioBn de Tácovoç Aiyei cuvorxicovoa. Trap” próprios filhos e separou-se de Jasão para viver com Egeu. O
ouderépa) Keitar à puBorroria. 1) pêv oxnvij TOU Spápiaroç urróxertas argumento está ausente da obra dos outros dois trágicos. À
Ev Kopivôc, O 6E yopoç ouvéoTnkev éx yuvaxôv rrolitidmwv. mpo- cena do drama se passa em Corinto, o coro é composto por
hoyíber de tpopos Mnôeiaç. E5154y0n Eri IuBodwpou Gpyovroç mulheres da cidade. A nutriz de Medeia pronuncia o prólogo.
OAupmiá dos TIG! Érei ar. mpúdtoç Eupopiwv, deútepoç LopoxArig, Tpt- À representação teve lugar sob o arcontado de Pitodoro, no
toç Eúpiriônç Mndeig, PhoxtiT, Aixtur, Oeprotaiç carúporç. ou primeiro ano da Olimpíada 87 (431 a.C.). Euforion classif-
oqletaL. cou-se em primeiro lugar, Sófocles em segundo, Eurípides em
terceiro com Medeia, Filoctetes, Dictis e o drama satírico Os
segadores, obra perdida.?

1 Erudito que viveu por voltá de 200 a.C., Aristófanes de Bizâncio


editou as tragédias gregas antecedendo-as de textos de sua própria lavra.
2 Já na época de Aristófanes, o drama satírico Os segadores havia se
perdido. As outras duas obras mencionadas, Filoctectes e Dictis, não che-
garam até nós. Registre-se que, nas competições de tragédia, cada autor
apresentava três obras, seguidas de um drama satírico.

18 19
Tá TOU ôpápiroç TpÓoc wa Personagens

TPODOL NUTRIZ
NAIAATOTOZ PEDAGOGO
MHAEIA MEDEIA
XOPOE TYNAIKON CORO de mulheres coríntias
KPEON CREON, rei de Corinto
IALON JASÃO
AINEYE EGEU, rei de Atenas
ATTEAOL MENSAGEIRO
TIAIAEL MHABIAE FILHOS de Medeia

Y 21
Mndera: Medeia

[Cena diante do palácio de Medeia, de onde sai a nutriz]

TPOPOZ NUTRIZI
EiO” opel" Apyotç um Siartáo da: oxágpoç Árgo, carena transvoante, não
Kólyov Eç aiav Kuavéaç Evuminyóõos, cruzara o azul-cianuro das Simplégades,
unô” év várraro: TInhtou Treoeiv Trote rumo aos colcos!? O talhe em pinho pélio
tundeioa treúkn, pnô” Eperuóoe xépaç não produzira o remo dos heróis
Avôpwv ApioTev, Ot TO TÁYxpucov Bépaç 5 condutores do velo pandourado

“ms
Tehiq perijAdov. ou yap av Séorrorv” Ep) a Pélias: longe das ameias de Íolco,
Mijdeia trúpyouç yhç Erheuo” Iwkxiaç Medeia ficaria, e eu com ela,
épwrti Qupóv ExmrÃayeio” Tácovoç sem que eros, por Jasão, a transtornasse!
ovo” Av kraveiv rreicaoa Teliádaç Kópaç Nem Pélias? jazeria pelas mãos
TaTépO Kate Tijvõe yijv KopivBiav 10 das filhas convencidas por quem sirvo, 10

! Eurípides normalmente inicia seus dramas com um monólogo que


alude a episódios anteriores relevantes e antecipa as questões centrais da
peça. Na comédia As rãs, Aristófanes ironiza esse aspecto, colocando na
boca do próprio Eurípides, personagem da peça, as seguintes palavras:
“mas meu primeiro personagem, saindo dos bastidores, relatava imedia-
tamente a origem do drama” (vv. 946-7).
2 Nesta bela abertura, em que as velas no navio Argo são compara-
das às asas de um pássaro, a nutriz alude a episódios da expedição dos
argonautas, depois da conquista do velo dourado, rumo à Cólquida, ao
sul do Cáucaso, onde se encontram os íngremes rochedos denominados
Simplégades.
* Texto grego estabelecido a partir de Euripides — Medea, edição 3 Jasão vinga-se de Pélias, 2 assassino de seu pai, por intermédio
-
de
com introdução e comentário de Denys L. Page, Oxford, Oxford Univer- Medeia, que convence suas filhas a esquartejá-lo e a cozinhá-lo, com o
sity Press, 1938 (12º ed,, 1988). argumento de que se trataria de um rito de rejuvenescimento,

22 23
Euv àvôpi Kai téxvolOlv, Avôávouoa gêv nem ela viveria com os filhos
puyi Tolitóv Ov apixero yBóva, e o marido no exílio de Corinto, .
atá te mrávra Evupépovo” Tácovi- sempre solícita com os daqui,
itep peyiomn yiyveros cornpia, jamais em discordância com o cônjuge.
Ótav Yuvi) Tpóç ávôpa um ôrxooTari. Se há concordância entre o casal, a paz 15

vuv 6º ExOpa trávra, Kai vocei Tà piltara. no lar é plena. O amor adoece agora,
Tpodous Yap aúroU téxva deorróriv T' Eunv instaura-se o conflito, pois Jasão
yáporç Iácwv Baorixoiç euválerar, deitou-se com a filha de Creon.
yipaç Kpéovroç TraiS”, dg aioupvã yBovóç: Rebaixa a própria esposa e os descendentes.
Mideia 5º 1) SuoTnvoç Araopévn 20 Medeia amealha a messe da miséria, 20

Bo& uêv ópxouç, avakoder SE deEtáç soergue a destra, explode em jura, evoca
mIOTIV |leytotnv, Koa Deouç papruperar o testemunho dos divinos: eis
otag GpnoiBiig EE Tácovoç xupei. a paga de Jasão com o que lucra!
Keitan 8º Gorros, cóp" upeio” Ahynõoor, Seu corpo carpe, inane ela se prostra,
TÔV TTÁVIA CUVTIjKOUOA daKpÚOIç Ypóvov, 25 delonga o pranto grave assim que sabe 25

êrrei ripoç Avôpoç foBer' Ndixnpévn, o quanto fora injustiçada. O olhar


our! óup” êrmaipovo” otr” àmralÃáocovoa yfic sucumbe à terra, nada a faz erguê-lo,
Tpóccwrtov: wç SE TéTpoç 1 GalágoLoç feito escarcéu marinho, feito pedra,
KAúSmv áxover vouberoupévr pihov: discerne o vozerio amigo, exceto
nv prá trote orpéyaca málheuxov Sépnv 30 quando regira o colo ensimesmado, 30

aúTM TEPOÇ auTIv TraTép” Amor ioEn piÃov alvíssimo, em lamúrias pelo pai,
Kai yoiav olkouç 9º, otç Tpododo” ápixeto pelo país natal, que atraiçoou
per” Avôpoç Gg ope viv áritácaç EyeL. por quem sem honra a tem agora. Aprende
Eyvoxe 8 1) Tódoiva cuppopãs Úrro o quanto custa renegar o sítio .
otov aTpaç um amokeirreodar yBovóç. natal. Ao ver os filhos, tolda o cenho 35
oTuyei dE maidaç ovo” ópio” euppaíveror. com desdém. Tremo só de imaginar
Sédorxa 8” avúriv pr Tt BovÃcúor véov- que trame novidades. Sua psique
[Bapeia yáp ppijv, ou8” avéEetor Kaxóç circunspecta suporta mal a dor.
mTáoyouo”- iy da Tijvõe, Serpaúveo té viv Conheço-a de longa data e não
Hm Onxtov Gon páoyavov Sr” imaros, 40 descarto a hipótese de que apunhale 40

ori Sópouç topão”, Lv” Eorpatar Xéyos, o fígado, depois que entrou sem voz,
1] Koi TÚpavvov TÓv TE YúpavIO KTÁVI, rumo ao leito... ou será que mata o rei

24 25
Kámrerra peílo cuppopav AáBn Tivá.] e o marido, agravando o quadro mais?
deivn yáp» otror padiw ye cuupalov Ela é terribilíssima. Ninguém
ExOpav tig atri) KadMivixov oíoetau. as que a enfrente logra o louro facilmente. 45
AMX" oide TTaidEç EK TpÓxcov TrETTaupévOL Seus filhos chegam, finda a correria,
1 : e me 2 4 £,

OTELYOVOL, HNTPOÇ OUDEV Evvooúgievor sem ter noção do que acomete a mãe,
KaKÓv véO Yap ppovriç ouk dAyeiv prhei. pois tem horror à dor a mente em flor.

FIAIAATOTOS PEDAGOGO
TOÃGLOV OTkwv KTÍua SeoTroivnç Euiic, Ó fâmula que há anos serve a ama,
Ti IpOç TÚÂIO! TÁVÔ! Ayouo” Epnuíav so por que ficar plantada no ermo umbral, 50
ÉoTNKOÇ, aut) Opeopévn cauTi xará; carpindo o inal de ti para contigo?
TÓÇ GoU póvn Midera Aeirreodou Bélei; Solitária de ti, Medeia assente?

TPOPOE NUTRIZ
TEK vv órradE mpéoBu Tv Iágovos, Provecto protetor dos jasonidas,
xpnotoior SouÃog Euupopã Tá deorroTósv o servo de valor solidariza-se
KAKÓ TIÍTVOVTA, KOL ppevódv avOárrrerau. ss com quem comanda, se o revés o atinge. 55
Evo yãp Eç tour! ExBéBrx” áyndóvos, Sujeita à dor infinda, o afã moveu-me
wo0" iuepóç p” UrADe yij Te Koúpavé para dizer ao céu acima e abaixo
AéEou pokoúot deúpo deorroivng TÚxaÇ. a sina que hoje deixa a dama aflita.

MAIAAFOTOR PEDAGOGO
OUT YAp 1 TÁÃoIVO TrAÚETOL YÓGV; Ela persiste nas lamentações?

TPOSOL NUTRIZ
Cnhá o”. Ev dpi miga Koúdérro pecoi. 60 Diria que o sofrimento mal desponta. s0

FAIAATOTOE PEDAGOGO
O HÓpos, EL Ypr SeoróTAÇ eirreiv TódE-
” a > " A 1 End .

Que tola! (se ouso me exprimir assim),


WS OUDEV OLÕE TOV VEGTÉPCV KAKÁ. pois ignora sua mais recente agrura.

26 27
TPOGOL NUTRIZ
Ti 6" Eonv, wo yeponé; ui) pBóver ppácan. Do que se trata, ancião? Nada me ocultes!

MAIAAPOFOL PEDAGOGO
oudév: petéyvcov Kad TA TepÓoO” eipngéva. Cala-te, boca! Esquece o que eu já disse!

TPOPOZ NUTRIZ
HÁ, PO yevetou, Kpúrrre cuvôouÃov cédev: 65 Compartimos de moira escrava idêntica; 65
cy yáp, el xp, tovõe Ojcopar trépt. calo o que falas, se esse for o caso.

[IAISATOTOE PEDAGOGO
Nkoucá TOU héyovros, ou dokôdv Kúsiv,
22 2 4 2 ma .

De passagem por onde os velhos jogam


TEC CoUÇ TpocelBav, Evda Sm Takaitarot dados, à margem do Pirene sacro,
Bágaouar, cepvov àppi Ierpivnç Vocop, fazendo-me de ausente, pude ouvir
wç TOÚOdE TIOLdaÇ yfiç EXAv KopivBiaç 70
t 4 as me , ma .

que o rei tem a intenção de ver bem longe 7


ouv Enrpi Hédhor Tijode xoipavoç ydovoç de Corinto Medeia com seus filhos.
Kpécv. O pévror pUDOÇ ci caprc Sde - Não sei o quanto é exato o falatório,
oux otda: Bouhotunv É” &v oúx ELvor Tóde. mas torço para que não se confirme.

TPOSOE NUTRIZ
Koi taúr” Taowv traidaç EEavéBetar Jasão aceita a punição dos filhos,
TÉO YOVTAÇ, si Kai untpi Stapopãv Exer; 75 embora em litígio com Medeia? 75

NMAIAATOFOL PEDAGOGO
TAÃOA KALVOV AeitrETAL KNDEULÁTIOV, Núpcias novas destroem o liame antigo;
Kouk ÉoT” Exeivoç TolodE Eopuaciv piÃoç. ele é malquisto neste domicílio.

4 Situada na ágora de Corinto, a fonte Pirene teria sido dada por


Asopo ao rei da cidade, Sísifo, que lhe revelara o autor do rapto da filha
Egina: Zeus. Ver Heródoto, V, 12.

28 29
TPOdOS- RPC
NUTRIZ
àrrwAÓueoO” Gp”, ei Kaxov Tpocoicopnev Quanto pesar, se o mai se acresce ao mal,
véov TIOÃaIO, TTpiv TÓD” EEnvrÂnkévos. sem que o anterior deságue da sentina.”

FIAIMATOTOZ PEDAGOGO
ÁTAP OU Y”, OU Yáp xaipóç eidévoa Tóde
, s + , > x x n 4 L

s0 Como não é o momento de a senhora 80


déoToLvaw, joúxals Kai ciya Aóyov. tomar ciência da ocorrência, cala-te!

TPOGOE NUTRIZ
Bordo + “.08.* 1. € mw 4
6 TÉKV', AKOUEO! oiog Eiç UNAÇ TTATÁp; É claro o afeto paternal, meninos?
ôhoiTo pêv ut: deotTÓTIS yáp tor Enóç: Sonho que morra — não! — pois me chefia!
ATAP KaKÓóÇç y” Gy Eg pihouç Adiokeras.
Zs 2 a 4” 2

Mas com quem deveria amar é um crápula.

TIAIMATOTOZ PEDAGOGO
TIÇO ouyi Ovródv; Apri yryvodokxeiç Tóde,
* 5 , MN 0 ma

8s
» “ /

e
E quem não é? Não vês que o ser humano 85
CDS TTÁÇ TIÇ QUTOV“ TOUma TrÉÃOS
e 2 e
pAAÃOV pihei,
as .
ama a si mesmo mais do que ao vizinho
[oi pv Bixoicos, oi Bê Kai xépBouc yáprv,)
es “ L AN N a . +

a um norteia o justo, a outro o lucro,


Ei ToÚOdE y” euviiç over” ou otépyer trarip; como o pai que prefere a noiva aos filhos?

TPOGOZ NUTRIZ
Tr”, eu yàp Eotoa, wpárcov toc, Téxva. Sugiro que entrem já os dois garotos!
ou 5" og páliota ToÚOS” Epnuúoaç Eye 9 Melhor mantê-los, pedagogo, longe 90
Kai um trékaCe pnrpi ôuodvpouyéva. da mater mesta, que os olhava há pouco
Hôn yãp eiSov ôupa viv Tavpoupévny taurivoraz, quem sabe com intento
TOIOO”, Og TI Bpaoeiovoaw: oUdê traúcera inconfessável. Se a conheço bem,
xóhou, cáp” oiõa, piv xataoxAyaí tiva. sua fúria só alivia se fulmina
ExOpoúç ye pévror, ui) pihouç, Spágeré 11. 95 alguém que, espero, não seja um amigo. 95

é Diferentemente de outros tradutores, preferi manter a metáfora


decorrente do emprego de um verbo de uso naval: exantleo, “retirar à
água da embarcação”.

30
31
[Ouvem-se gritos vindos do palácio]
MHAEIA
MEDEIA
io,
2.4

Tristeza! Infeliz de mim!


duo TavoÇ éy o jehéa te Tróviov,
Pudera morrer!
Io) poi goi, TÁÇ Av Ohoiuay;
34 +” a A ,

TPOPOS
NUTRIZ
TOS” Exeivo, pihor traiideç: uífrmp
Eis o que afirmo, filhos!
Kivei xpadtav, kivei dê yódov.
Medeia agita o coração, agita a bile!
oteúcare Bãocov Súparoç cio 100. Ganhai os aposentos da morada, 100
kai gh meldont Supatoç êyyiç,
evitai o contato com ela,
ndE mpocélOnr”, AA quiáooeoo”
distantes de seu campo de visão!
&yprov Bog oruyepáv te qúoiv
É crua em seu jeito de ser;
ppevoç auBadoUç.
o íntimo da mente altiva
iTE vuv, yopei” vç TáxOÇ slow. 105 horripila. Distância!
ôihov 5º 4pyfiç EEaipópevov
Agilizai o avanço nos recessos do lar! 105
VÉPOS OiuYyIS Og TÁ! Aváper
Não demora para a nuvem do queixume
peifovi Oupdo- tí rot Epyácerar
ascender e agigantar
HeyalóoTÃayyvoç BuorarTárrauoToÇ
na flama da fúria.
vuxn ônxdcica Kaxoiorv; 110 Do nascedouro, só se avista a chispa.”
Males remordem-lhe a ânima
megaintumescida, antidelimitável.?
O passo, o próximo, aonde aponta? 10

6 OO leitor encontrará imagem similar nas Fenícias (v. 250), do mes-


mo Eurípides.
? Notável metáfora que traça um paralelo entre o recrudescimento
da fúria de Medeia e a intensificação da tempestade, que culmina com o
fulgor do raio a partir da nuvem.
$ Mantive a justaposição inesperada de dois longos e raros compos-
tos presentes no original.

32
33
MHAEIA MEDEIA
oiai, Sofrimento imenso!
Emadov Tháuwv Eradov neyálov Nada sofreia o sofrimento que me abate!”
SE ôBuppóv: & Katáparor Ó prole odiosa de uma mater mórbida,
traideç Shotode oTuy Epa parpóç meritória de maus votos,
GUv TATPÍ, Kai TAG SÓpuOç Eppon. pereça com o pai!
Derrua, sem arrimo, a moradia!

TPOPOE NUTRIZ
to got pos, io TAQuov.
2.4 “ 3a 4

115 Tristeza! Em que a prole se associa 115


Tí dé Goi TTORdEÇ TATpOÇ AuTTÃakiaç ao descaminho do pai? Injusta ojeriza! Ai!
HeTÉXOUOI; TI TOÚOS” EyDerç; oipior, Temo ver algo que vos afete, filhos!
Té va, Hr Ti TTÁBnO” ag Urrepodyás. O tino tirano aturde:
deiva TUpávycov Afuara Kai TIGOÇ impõe o máximo, concede o mínimo, 120

ôMty” ApyógevoL, TOMÃG Kparolvreç 120 raro transmuda o humor.


xoderródg Opyãs peraBéMovorv. Prefiro habituar a vida à similitude.
TO yãp eidtoBe Civ mr” Looroiv Sonho a platitude da velhice,
kpeiogov: Epoi yotv Emi |) peyáÃoiç alheia a vultuosos vultos.
Ôxupós y” Ein Karaynpáoxerv. Acima de tudo,
TO Yap petpicov Tipúra pêv eirreiv 125 a denominação da mediania vence na elocução 125
toúvoga vikô, xpijoBai te parpá e frutifica no afazer de proveito. -
Agora Bpotoior: Tà 8” umepBáMhovr' O excesso desvigora o oportuno, e sua dádiva,
otdéva Kaipov Suvarar Gvntoiç- quando o deus se enfuria,
peitouç 8” Atas, Stay ópyro0) desmesura o revés nas moradias.
L > 9 e 2. me

130
Saw oixorg, drrédmkev. 130
(O coro de mulheres sai do palácio de Medeia]

? A repetição vocabular, que ocorre aqui e nos versos 99, 131 e 976-
-2, é um traço estilístico de Eurípides, ironizado por Aristófanes nas Rãs -
(vv. 1.336, 1.3525).

34 35
XOPOz CORO
Exhuov pwváv, Exhuov dE Boav Ouço a voz, ouço a voz atroz
TAG Ovo TávoU Kohyidos, oUGÉ TIG da infeliz colquídia;
úmoç: AN & ynporá, indicação não há de que asserene.
AE ov- Em” Aupirtuhou yap Eco peháBpou Boav 135 Sou toda ouvidos, anciã! 135
Exhuov: oUdE cuvijdonar, wo yúvai, SAyeorv Do recinto ambientrável provinha o grito.
Ocó pratos, Errei pot piÃov kékpavran. Amua o sofrer da moradia,
onde meu afeto se difunde.

TPOGOZ NUTRIZ
oux elai Sópor: ppoúda TáS” Hôn. Morada é coisa do passado.
TÓV (Ev YOp Éxei AéxTpO TUpávucov, 140 O tálamo real retém Jasão,!º 140
à 6º Ev Oakápoi Táxei Broráv
e 23 e , x

Medeia consome a vida no aposento,


déOTIOLVA, PlÂGov OUdEVOÇ OUDEV vazia de palavras que lhe afaguem o íntimo.
mapadoiropéva ppéva púBorç.

MHAEIA MEDEIA
aioi. Ai!
ôiá ou Kepalãs pAOE oúpavia Que a acha urânica rache-me a têmpora!
Bain: tt Sé por Cijv Eri xépõos; 145 Há ganho em perseverar? 145
peu qeú: Davárp Karalvoainav Pudera esvair-me a vida estígia,
Brotáv otuyepãv mpolimodoa. dádiva de tânatos!

XOPOz CORO
Greg, & Ze Kai yá Kai po, Estr. 1 É audível, Zeus, Terra, Luz, Estr 1
àxav oiav à duoravoç como a esposa modula
Héltrei vuLça; 250 a inclemência do clamor? 150

10 Referência ao casamento de Jasão com a filha de Creon, não no-


meada neste drama.

36 37
TIÇ GOL TIOTE TÃÇ ATTÃÁTOU
Ser sem norte,
Koirag Époç, & paraía; a eros do leito lúgubre,
orreúoer Bavárou Tekevtáv; como denominá-lo?
pnôdEv Tóde Mogou. Tânatos terminal já desponta?
ei SE CÓÇ TTÓGIÇ 155 Deixa de invocá-lo!
Kouva Aéyn ceBile, 155
Se teu marido virou idólatra
KOLVOY TÓDE: |) Yapácoou-
de cama infrequentada,
Zeúç 001 TÓdE OuvôikioEL pi) Mav
isso é com ele! Não te inflames!
TÁKOU Bupoptéva 0ôv eúváTav. Zeus abraça tua causa!
Evita que te consuma o pranto esponsalício!

MHAEIA
MEDEIA
wz peyóda
í 2 , 2 e
Dé Kai trótui” “Apre, 160
160 Magna Têmis,!! Ártemis augusta,
AcúooeB” & tráoyco, peyáhoiç Sproiç
/ > x * + £

notai o que padeço,


EvôncapÉva Tôv KaTtápatov
2 4 " Z

eu que me vinculei com juras magnas


móg1v; óv Tor E yo vúLpav T' Eoidorp”
a um horror de homem!
aúroiç HeláOporç Biakvaropévouç,
Ainda me seja dado vislumbrá-lo,
or Ene mpóodev toluãdo” Adikeiv.
a ele e à sua donzela,
& TÁTEP, 6 TÓMIG, Av dirtevácOnv
ambos derruídos no castelo!
GLOYXPÓ TÓV EptÓV KTEivada Káorv. 165
Quem, antes, ousou desonrar-me?
Pai, pátria de onde parti com o estigma do opróbrio,
algoz do próprio irmão!
TPOGOZ
2 1 * . ma
NUTRIZ
KvúeO” oia Xéyer KámiBodra Foi clara no que disse,
Oepnv cuxtaiav Zijvá 9º, Og óproov
. 1 4 ad L A e

no sobrerrumor à Têmis protetora


Ovnroiç Tagíaç vevópuotau; 170 170
ea Zeus, paladino das juras

1 Filha de Urano e Geia numa passagem da Teogonia (v. 135) de


Hesíodo, Têmis é referida como esposa de Zeus (v. 901), mãe de Dike,
Justiça.

38
39
OUK EoTiv Griwoç Ev TIvi pix pá que divisam os perecíveis?
SéotroIva yóov KartarmaúgeL. Não será algo sem magnitude que aplaque sua fúria!

XOPOz CORO
TO Av EÇ Óytv TAV Apierépav Ant. 1 Como trazê-la ao nosso campo de visão, Ant.
Edo pÚdcov T' audaBévrcov sem que renegue
SEE cur! dupáv; 175 o som que a voz emita?
Ei TroÇ Bapúdugov dpyav Cede o frenesi de seu ânimo,
xoi Aijua ppevósv pedeim; o coração fundo-colérico? 175
Húroi Tó y' Epóv rpódupov Evito pecar pela falta de rasgo
ptÃoroTv dméoTo. em prol de amigos!
aAa Baoá 180 Conduzi Medeia fora do logradouro
vtv deúpo Tópeucov olxcoy com a mensagem de nosso apreço! 180
EEw: piha Kai TAS” ada. O atraso pode ferir terceiros,
fomeúoar mpiv trt Kaxôca TOUÇ Elo pois a dor parece que irrompe irrepresável!
rrévDoS YAp peyálmç TOS” óppárar.

TPOSOZ NUTRIZ
ôpácmw TAB”. aTóp póBoç ei treíoco Temo não convencê-la,
Séoroivav épáv- 185 mas não me furto ao encargo, 185
Hóydou dE xápiv TÁvô” Embú. apesar do olhar de toura
KaiTo1 ToKádos dépy pa Aeaivnç feito leoa que mira o avanço dos servos no pós-parto,
àmtotaupotror duwoiv, ótav TIÇ na hipótese de um terceiro
HUBov mpopépawv trékaç ópundi. que lhe queira aconselhar.
ckatouç dE Aéycov Koudév TI copoiç 190 Acerta quem registre a obtusidade, o saber vazio 190
TOUS TEpóodE Bpotouç ox dv Guáproiç, dos antigos inventores de poesia,
oitiveç Uvouç émi uêv Dakicuç som em que germina a vida no afago do festim!
Emi T' elhamivarç Kai tapa deirrvoiç Não houve musa que desvendasse 195
núpovro Biou TeprivAç Axodç: em cantos pluricordes
oTuytouç dE Bporódv oudeiç AúrraÇ 195 a arte de estancar o luto lúgubre,
núpero poúom Kai TToluyópõo: o dizimador de moradias
Wôoiç maúerv, E ov Bávaror com o revés atroz de Tânatos!

40 41
Setvai TE TÚXOL CpóAhovor dópouç.
Que lucro logro em curar musicalmente o luto?
Kaito1 TádE név Képõoç axeiodar
Por que a inutilidade da voz no sobretom,
Holrraio: Bpotoúç: íva 8” eúdeimvor 200 no âmbito da festa farta? 200
daiiteç, TI páTAv Teivovor Boíy:
Na plenitude do cardápio disponível |
TÓ TApOv yãp Éxei TÉpyrv dp” aútoU
4 q » 4, 4 > ç Ma

vigora O regozijo.
Saitós Thúpoga Bpotoiorv.

XOPOz
CORO
taxav Siov rolúoTOvov yówv, 205 Discirno pluridor no estrídulo;! 205
Ayupa &' Syea poyepã Boã regurgita langores lúgubres,
TOv év Àéyei TIpOdÓTAV KaKóvunpov:
avessa ao desmarido!? desertor de leito.
OeoxAurei 8” 4dixa rrabovoa
Padece o injusto
Táv Znvôç ópriav Oépnv, & viv EBaoev
na invocação a Têmis, guardiã do juramento,
“EMGS” Eç Avrittopov 210 filha de Zeus, sua guia à fímbria oposta à Hélade, 210
du Sha vúxiov &p” &Auupav quando o mar anoitecia
Hóvrou xÃfô” amepávrov. na clausura salobra do ponto inabordável.!*
MHAEIA
MEDEIA
Kopivôia yuvaikeç, EENADov Sópoov,
Mulheres de Corinto, deixo o lar
ph poi t1 pépuyno8”- oida yãp mroMhoyc Bporósv 215 para evitar que línguas vis me agridam:

tem
to
ta
CEHVOUÇ YEYÓTOS, TOUÇ HÉv OuHáTCOV Grro,
gente soberba é o que não falta, atrás
touÇ 6 Ev Oupaiorç: oi 5º ap” noúxou t1oddÇ
da porta ou porta afora, mas o afável
Suokketav Exticavro Kai padupiav.
suporta o estigma de pueril: o homem
ôixn yap oux Eveor" év dpBakpoic Bporóv,
em tudo vê injustiça e odeia o próximo

12 Procurei de afgum modo compensar a bela sonoridade do original:


“akhán aion polystonon goon”.
13 Com “desmarido”, busquei manter algo da estranheza do raro
vocábulo composto Kaxóvuggov, literalmente, “maumarido”,
1 Eurípides alude ao estreito de Bósforo, na Trácia. Medeia con-
duziu Jasão a partir do mar Negro, chegando a Íoico depois de ultrapas-
sarem o estreito.

43
bpôs ak vov par Capú 220 quando com ele topa, indiferente 220
se a dor terrível lhe rumina as vísceras.
Se Evo jiu Kápra mpooyopeiv TIÓÃEI- Que a gentileza dê um norte ao êxule!
oUS” dotôv fjveo” doriç aúbadne Yey os Desaprovo a arrogância do nativo,
TILKPOÇ TIOÁITONÇ EoTIv ApaBiaç Úrro. grosseiro na abordagem de seus pares.
Enoi 6º Gelmrov Tpáypa mpoorecdv Tóde 225 É inexato dizer que o fato abate-me: 225
yuxiv diépdapx"- otyopa SE Koi Biou minha ânima se anula, se me extingue
Xáptv pebeica Katdaveiv xp, pia. , cáris — o brilho do viver. Que eu morra,
êv & yàp 1y poi rávra, Yiyváoker xará, pois o ente até então primeiro e único,
KáxioToÇ avôpóv ExBéBny” oupóç Trócic. tornou-se-me execrável: meu marido!
návIov 6º do! Ear” Enyuya Kai yvoopmy Eyer 230 Entre os seres com psique e pensamento, 230
yuvaikég éopev aBhcitatov quróve quem supera a mulher na triste vida?
dg mpósta pêv dei xpnpáteov UrrepBoN Impõe-se-lhe a custosa aquisição
móciv Tpiaoda, deomómv TE COpATOÇ do esposo, proprietário desde então
AoBeiv: Kaxoú yap toir Er" GAyiov Kaxóv. de seu corpo — eis o opróbrio que mais dói!
Káv TP! Ayov péyrotos, 9 xaxôv AaBeiv ' 235 E a crise do conflito: a escolha re- 235
n xpnoTóv. ou yáp euxhecic amohayai cai no probo ou no torpe? À divorciada,!S
YuvatEiv, oUS” oióv T' ávijvacdeu TIóor. a fama de rampeira; dizer não!
Eç Kcuva 8” HOn Kai vónouç aprynévnv ao apetite másculo não nos
dei pávriv eivar, pm pobotcav oixodev, cabe. Na casa nova, somos mânticas
óTwç páMoTA xproetar Euveuvéra. 240 para intuir como servi-lo? Instruem-nos? 240
Kãv pêv TÃO” Nniv êxtovovuéverorv ed Se o duro estágio superamos, sem
móoiç Euvorki) um) Pig pépoov Cuyóv, tensão conosco o esposo leva o jugo
Enhwroç aicóv- ei Sé uh, Oaveiv xpeov. — quem não invejá? —, ou melhor morrer.
avnp 8º, ótav Toig Evôov áyOnra Euvov, Quando a vida em família o entedia,
EEw Hohtov Emrauoe Kapõiav Gong: 245 o homem encontra refrigério fora, 245
[ij pôs pihov riv” 1) põe ijlixa Tpoiteiç.] , com amigo ou alguém de mesma idade.

15 No século 5 a.C., permitia-se o divórcio à mulher, por má condu-


ta do marido, Nesse contexto, ela retornava à casa paterna, o que não quer
dizer que a prática fosse bem-vista.

45
Apiv 5" aváykn pós píav yuyny Bhérrerv. A nós, a fixação numa só alma.
Aéyovor 8º Apac og axivôuvov Btov “Levais a vida sem percalço em casa?
COpev Kar” oikous, oi SE pápvavrar Sopí- (dizem), “a lança os põe em risco.” Equívoco
KaK ppovolvreç: &ç TPIÇ Av Trap” dorida de raciocínio! Empunhar a égide 250
otijvou Seo” dv HA ov f) texeiv dra, dói muito menos que gerar um filho.
ÓAN ot Yap aúrôç mpõç o xp fjxer Aóyoç- Sei bem que nossas sendas não confluem:
goi Hey móliç 6º 6º ori Kai marpôç ôópor dispões de pólis, elos de amizade,
Biou7” óvnoiç Kai pihwv cuvovoia, lar paternal, desfrutes na vivência;
Eyoo 6º Epnyoç Sroliç ovo” UBpitopa quanto a mim, só, butim em solo bárbaro, 255
mpóç Avô póç, E EK vii PapBápou Aehnogévn, sem urbe, rebaixada por Jasão,
ou untép”, ox aBeMpóv, ouyi ouyyevi sem mãe, sem um parente, sem... que a âncora
pedoppicacder THOS" Exouoa cuppopão. soerga longe deste pesadelo!!6
TOGOÚTOV OUV OU TUy áverv Boviioopar, Assim resumo o meu pedido: se eu
Nv poi TTÓpoç TIS nyavi T' EEsupeli 260 achar um meio de cobrar o esposo 260
mÓciv Siknv TOVÔ” Avriteicao
der Kaxcv, por ser tão inescrupuloso e o rei
[rôv dóvia T' abr Quyarép” yr” êyúuaro,] que lhe entregou a filha, silencia!
O1yãv. YuvT yáp talha pév póBou tha Mulher é amedrontável, ruim de pugna,
Koxh 7º ég GAxtjv Kai ciônpov eioopãy- não suporta a visão da lança lúgubre,
ótav 8” Ec euviv Norenpév Kupi), mas se maculam a honra em sua cama, 265
ou Eotiv GA ppiy prapovarépa. não há quem lhe supere a sanha rubra.

XOPOz CORO
ôpáca TÁd"- Evbixcç Yap Extelon mróciv,
4 L 3 > .

É justo que pretenda se vingar


x + “

Mipeia. mevOeiv 5º ot ge Baupáto TÚXOÇ. do esposo. Não estranho que lamente


ópó de Kai Kpéovra, TÃoS” Gvaxta vis,
e Da ” Nx A na , 4
o destino. Creon já se aproxima
oTEiyOvTA, Katváv Ay yehov Boukeuuárov. 270 a fim de pronunciar o novo edito. 270

[O rei Creon entra em cena]

ló As imagens que associam Medeia ao mar são recorrentes na pe-


ça: vv. 28-9, 79, 279, 362-3, 442, 523-5, 769-70, 939.

46 47
KPEQN CREON
GE TI)v OKUBpaITÔv Kod trógeL Oupoupévnv,
Teu rosto fosco, a raiva contra O esposo,
Múder”, Aveirrov tijode yfiç ÉEGo TIEpÁv
ordeno que os remova para longe,
puyáda, AaBotoav Bisc& ouv caurij téxva,
sem esquecer a dupla que pariste!
Kai pr tt péherv: og éyão Bpaeiç Aóyou Some daqui! O autor da lei sou eu
TOUS” eipí, KoUk Amei pç Sópouç TráMv, 275 e só retorno ao paço quando passes 278
Tpiv dv ce yaíaç tepuóviov EE Bólo. o mafco que demarca o meu reinado.
MHAEIA MEDEIA
aii: TavoÂng 1) tádarv” àmóAupar.
Ó multidestrutiva destruição!
éxôpoi yáp EEião rávra dn Kácov,
Inimigos soerguem velas pandas;
KOUK EOTIV GTNÇ EUTpÓcoroTOÇ Expaorç.
rada não há que livre-me do escolho!
Epcopar dE Kai Kaxóç Tácyouo” Gpicoç- 280 Embora atônita, posso indagar 280
tivoç nº Ekart yiig ámootédheic, Kpéov;
o rei sobre o motivo da expulsão?

KPEON
CREON
déBoIKá O”, oudEv dei Tapaprioyerv Aóyous, Temo o dano — por que falsear palavras? —
ph poi ti ôpáonc mois” avijkeotov xaxóv. que impingirás — quem sabe? — em minha filha.
ounBáMerar dE mToMÃa Told deiparoç:
Motivos não me faltam para o medo:
COPM TÉpUKAÇ Kai Kaxódv r0AkGv iBpiç, 285 sabes como artuinar alguém (és bem- 285
Aurri) dE AékTpcov a vôpoç Eotepnuévn.
-dotada de nascença), o leito estéril
KAvúco 5º Ameheiv o”, dg ámrayyéMouoi por,
de homem te abate. Ameaças noivo e noiva,
Tóv Bóvra Kai yijavra Kai yapoupévny
além de mim, segundo ouvi dizer.
Spáoerv TL. TAUT! ouv Trpiv mobeiv puidBopar.
Desejo antecipar-me ao sofrimento.
Kpeiogov Sé nor vv Trpôç o” &rreydécda, yúvas, 290 Mais vale sujeitar-me à tua repulsa 290
1) poAdario0évO” Votepov uéya otéverv. agora a transigir e então chorar.

MHAEIA MEDEIA
peu qeu.
Ai!
OU viv pe TIpóTov, SAÃA TroháxIS, Kpéov,
Não é a primeira vez que a doxa, o diz-
EBaye DóEa peyáda T' eipyaotar Kaká. -que-diz anônimo, Creon, me arruína.
xpn 8" oúrroB” Song áprippov téque” avip
Quem tem bom senso evite se esmerar 295

48
49
Traidas Treprocáç Exbibáoxecda Copouç: 295 na educação dos filhos: hipersábios,
xopis yáp Ang Ng Exovorv ápyiac
não passam de volúveis aos malévolos
pBóvov mpoç ãoTóv aApávouor duopevê.
moradores da urbe, que os maculam.
GRATO! Ev YAP KOIVA TpOGpépwov copa
Se introduzes o novo entre os cabeças-
6Beiç Axpeioç Kou copõç mepukévar-
-ocas, parecerás um diletante, 300
tóv 8º au Boxoúvrcov elbévoa T1 mroiKiÃov 300 não um sábio. Se acima te colocam
Kpeicov vopiodeiç Ev tróder Aurrpõç pavij. de quem julgam ter cabedal na ciência,
Eydo dE Kaúri rijode Kotvovó Tóync. te encrencas. Desse azar também padeço.
COPN Yãp oca, Toiç pév eip” êripdovoç, Saber tenho de sobra e inveja alheia
[roiç 5º fouyaia, toiç dE datépou Tpórou,)
há quem me louve a fleugma, há quem critique, 305
Toiç 8" ay mpocávrnç: eiui 5" ox àyav coph. 305 desdém também. Te atemorizo? Longe
ou o ouv poBij pe, ui TÁ rÂnppehêc móBnc:
de mim ser dona de um saber assim.!”
ox vô” Éyer por, ph Tpéonç Nuáç, Kpéov,
Que condição teria para agir
War! ég TUpávvouç avôpaç EEauapráverv.
contra quem reina? Deixa disso! Não
OU Yap Tt |" Noixnxaç; EEédou Kópnv
foste injusto ao ceder a filha a quem 310
órp ce Bupoç dev. AN épóv mróciv 310 querias. Eu desdenho meu marido,
prod ou 8”, oipar, ooppovósv ESpaç Táde.
mas agiste por bem. Não ambiciono
Kai vUv TO gEv 0Ov OU pBova Kaléç Eyerv-
tua prosperidade. Bom proveito
vuppeúer”, EU Tpágoo Tre: Tivde SE x9óva
com as bodas, mas não me exiles! Mesmo
Edré u” oixeiv. xoi yáp hdienuévor
por baixo, calo, pois me vence um forte.
orynoópeoda, Kperooóvoov vikcpgiEvoL.

Sa
pu
A
315

KPEON
CREON
Méyeiç Axoúoar paldáx”, SAN Ego ppevásv
Tua fala é um bálsamo, mas me amedronta
ôppoBia por uíj T1 Bouheuon Kaxóv:
2 / A 4 L

que acalentes no peito planos torpes.

1” No original, como nota Mastronarde, ocorre a “estrutura retóri-


ca denominada KukÃoç” (“circulo”), período iniciado (303) e concluído
(305) com a mesma palavra (con, “sábia”), que mantive na forma de
quiasmo. À associação entre a protagonista e o universo da “sabedoria” é
notável na peça, como se pode verificar nos seguintes versos: 14, 190, 295,
320, 384-5, 393, 485, $22-75, 539-40, 583, 665, 675, 677, 827-8, 866-
-975, À raiz cog- (“saber”) aparece 23 vezes no drama.

50
$1
tocwõe 5º foco À) TÁpoç méTOIBA gor
Sogobra a fé que tive em ti: o sábio
yum Yap SEúupos, vç 8” atitoç Avip,
silente é menos policiável quea
Púcov puláoosiv1] crornÃdc copóç.
320 ou que o irritadiço. Aperta o passo 320
SAN EO O TÁXIOTO, HT Aóyouç héye
na retirada, guarda a língua lábil!
O TadT” ápape Koúx EXEIS TÉXVNV órrwç
Ponto final! Tua engenhosidade
peveiç map” Apiv ovoa Suopevigé êgoí.
não muda nada. Assume o ódio e some!
MHAEIA
MEDEIA
EM, TPpÓÇ oe yovárcov Tic TE VEOYÁLOU KÓpng,
Deixa que eu fique, pela nova esposa!
KPEQN
CREON
Aóyoug âvako
L
iç: ou yãp &voa meica
3 E
iç Torá.,
4
325 Tua verve não reverte o que eu decido. 325
MHAEIA
MEDEIA
SAN EE cha pe Kovdev aibéon Mrác;
Banir-me sem me respeitar as súplicas?
KPEQN
CREON
PÓ yáp ou aê pSAÃov ij Sónoug Epouç.
Privilegio o lar em teu lugar.
MHABIA
MEDEIA
6 TATPIS, Og COU KÁpTA vOv Lveíav Eco.
” 4 4 , dy L 7

Ó pátria, impõe-se-me rememorá-la!


KPEON
CREON
Thy yáp tékuoy Enorye piktarov rrolÚ.
À urbe só anteponho os descendentes.
MHAEIA
MEDEIA
peu pro, Bpotoiç Epateç dig Kaxov Héya.
ma A os x 4

330 Para os mortais o amor é um enorme mal. 330

KPEON
+ 3 ” +
CREON
» 4
OT Av, OWA, Kal TAPpaoTwoLV TU.
Concordo que assim seja eventualmente.

52
53
MHAEIA
MEDEIA
Ze, pm AáBor ce TvO” Og airioç kaxôv. Não passe em branco, Zeus, o autor dos males.

KPEQN
CREON
e
EPT,1. O7 potaia,
2 ,
Kai |” àmáMhaE
4
ov Tóva.
Z
Some e desanuvia o meu espírito!

MHAEIA
MEDEIA
Tovolgev Njeiç KoU tróveov xexpúucda. Quem sofre mais? Sobeja o sofrimento!
KPEQN
CREON
TóX EE Oradésv yerpoç vobnon Bia.
2 >» 2 Mo - > 4 +

335 Meus fâmulos te expulsarão em breve. 333

MHAEIA
MEDEIA
um Srira totró y”, SAá o” aitoúua, Kpéov.
Sê susceptível, rei, ao meu pedido!

KPEQN
CREON
óxÃov mapéfeis

, og Éorkas, &F yúvar.
Z z ,
Parece que ofereces resistência.

MHAEIA
MEDEIA
peuBoúped!. ou TOUB” ixéreuoa coú Tuyeiv. Me exilo, mesmo assim eu te suplico.

KPEQN
CREON
ti 6" av Brály xoúx aradAdoon ydovóc; Mas por que não te ausentas e ainda insistes?

MHAEIA
MEDEIA
píav pe peivar TAvô” Eacov uépav 340 Deixa que eu permaneça um dia só, 340
xai Euprepãvor ppovrid” 1 pevEoúgcda, a fim de organizar minha partida
Taroiv T' Apopjiy Toiç Epoiç, Emei trarip e achar um jeito de manter meus filhos,
oudEv TrpoTipã Enyavácaddoa téxvolç. que Jasão, pai indigno, deixa à míngua.
oikxtpe 5” aútoúç: Koi cú Toi maídwv traThp A condição de pai também te obriga
TÉQUKAS: EIKOÇ ' EoTiv etivoráv o” Exerv. 345 a seres susceptível. Tem piedade! 345

55
TOUpOU Yap ou por ppovríç, ei pevEoúpeda, Não penso em minha agrura se me exilo,
keivouç dE koto cuppopã Kexpnuévouç. mas choro a triste sina dos meninos.

KPEQON CREON
ixiota Toupóv Aju” Epu Tupavvikóv, Tiranizar não casa bem comigo
aiboúpevoç dE tTOMÃA Om diépdopa- e da solicitude já fui vítima.
«ai vuv ópô nev EEauapráveov, yúvau, 350 Algo me diz que me equivoco, mas, 350
ópwç dé TEÚEM ToUdE- Tpouvvério Sé dor, com um porém, concedo o que me pedes:
cio” À "motoca Aapraç ôyeror Beoú se o próximo fulgor divino vir
Kai toidaç Evtóç TjOÔE TEpuÓveav yBovóç, rastro do que for teu aqui, faleces:
Gavij: Acertar pUBoç Ayeudiç 60. não creias que eu profira vacuidades.
vov 6º, ei péverv Ôei, píuv” Ep” Auépav píav: 355 Fica, mas fia que fixo um dia ao fim 355
ou yáp t1 Bpágeiç deivôv dv póBoç p' Eyes. do qual te vais. Não fazes mal nesse ínterim!

[Creon parte]
XOPOz CORO
SúoTavE yúvai, Triste senhora!
pEÚ qeu, pehéa TV GOV Ayécov. Tua dor, em que ela frutifica?
TOÍ TOTE TPÉWM; TÍVA TIpOÇ Eeviarv; Aonde irás?
ni Sópov 1 ydóva coripa Kaká; 360 Algum país te acolhe?
[EEcupúoeiç] Há domicílio que mitigue tua angústia? 360
Wg Eig ATtopÓv ce KAúômva Beóç,
€ 3 ” £” 4 £L

Um deus te encabeça, Medeia, |


Mideia, Kax dv Eópevos. à aporia de um pélago sinistro!

MHAEIA MEDEIA
KOKG TTÉTTPOKTOL TIAVTOYI): TIÇ AvTEpei; Quem nega a prevalência da maldade?
dA" otrt tTaúTM tado, ur doxeiré, tro. | 365 Mas que assim seja não é certo ainda.
Er elo” àysveç TOIÇ veoTi vugipíorç Do embate, os neocasados não escapam,
Koi TOio1 KNdeÚOaOv OU apuxpoi tróvoL. e o sogro, da mais grave pena. Nunca
Boxeiç yáp &v pe Tóvôe Owrreical TroTE, bajularia o rei, não fora o que
el Hú TI Kepôaivouoa À) Teyvopévny; arquiteto, tampouco minhas mãos
“oub! dv TrpogEiTTOv oUô” &v Ayápny yepoiv. am o tocariam. Quando postergou 370

56
57
Ô 8º Ec TocotiTov popíaç Ápixero,
minha expulsão, Creon chegou ao cume
GOT", Ev aúró Tóp” Edeiv Bovheúparo
da estupidez: perdeu a chance única
Yyiig ExBahóvri, ThvÔ! Epijkev huépav
de inviabilizar o que eu vislumbro.
peivai |”, Ev) TpEiÇ Tdv Edy ExOpódv vepo
ç Hei de fazer do pai, marido e filha
Boa, marépa te xai Kópnv móci T' Euóv.
375 uma trinca sinistra, pois domino 375
| mOMhSÇ 6º Exovoa Bavasipouç aúroi óBoúc
, imenso rol de vias morticidas,
Ok 018” órroia mpórTov EyxEIpÕ, pita:
embora ignore por onde começo:
TÓTEPOV Úpáyco SÓpA vuLpiKôv Tupi,
meto fogo no ninho conjugal,
1 Onxrôv dom pácyavov & raros,
enfio-lhes a lâmina no fígado,
ari Oópouç êoBão”, iv' Eorpwra éxoç.
380 em passos silenciosos pela câmara? 380
SAN" Ev tí por Tpócavreç ei Angocopar
Há um senão: se me pegarem paço
Sópouç úrrepBoivouoa «ai TEXVOOHÉVA,
adentro, maturando meu projeto,
Pavotca Bow Toig époiç ExOpoiç yélov.
a corja ri de mim, sem vida. À via
kpáriota Tijv eúbeiav, À TEpÚkauEv
mais eficiente, para a qual nasci
copo HóMOTA, Papuáxoiç auto EXeiv.
385 sabendo, é capturá-los com veneno. 385
clêv»
Assim será!
Kai 81 tedvãor: Tíç pe SéEerau TTÓMIG;
Após chacina, que urbe me recebe?
TIC Yfjv GouÃov Kai Bópouç êxeyyÚous
Que forasteiro me abrirá seu paço,
Bévoc Tapa ywv púcera Toúudv dépaç;
zeloso de que o corpo nada sofra?
OUK ÉoTL peívao” ouv Err CHiKpÓv Ypóvov,
Não há! Darei um tempo para ver
Tv pév ti Muiv úpyoç &opadie pavij,
390 se um torreão se me apresenta incólume, 390
Sol péreipu Tóvõe Kai Ci) póvov-
e perpetro a matança quietamente.
nv 6º EEchauvn Euupopá p” 4jixavoç,
Presa do imponderável, mão na espada,
auti) Eipoç AaBotoa, xei HédÃo Oaveiv,
num rasgo de coragem, matarei
KTEVÓ) Ope, TÓÂuNÇ O” Eiju TIpÕÇ TÔ Kaprepóv.
a cotja à bruta, mesmo se morrer.
OU Yap pá tiy déomoivay iv Ey6o céBo
395 Por Hécate,!º primaz em minhas súplicas, 395
nálioTa TávIGO Koi Euvepyov eilópny,
a deia que tomei por sócia no âmago

18 Divindade menor, ligada a ambientes de passagem e ao universo


dos mortos, igualmente à magia. No segundo idílio, Teócrito relaciona-a
a Circe e Medeia.

58
59
Exártny, Huxoiç valovoav éotiaç ênijc, do meu solar, por quem crepita a chispa,
XUpov TIÇauTAv TOUpôv dAyuvei Kéop. ninguém me faz chorar impunemente!
TIKpouç 6º Eycó opiv Kai Auypoiç Bjo yápouç, Amargas e funestas suas núpcias,
TIKpôv GE Kijdoç Kai puyaç Eua ydovóç. 400 amarga aliança, amargo o meu desterro! 400
SAN eia qeidou pndêv Ov EmioTage, Não deixes pelo meio teus projetos,
Mrúdeia, BovÃsúouoa Kai teyvopéviy Medeia! Nada te demova! Medra o ardor,
Éprr” Eg TO Deivóv: viv Aycov eúyuyioç, se impera o destemor! Conheces bem
ópaç & TTráoyerç: ou yélora dei o! ópAciv tua situação. As núpcias de Jasão
TOIÇ Eroupeioiç TOLOS! "Lácovoç yápiorç, sos trarão a ti mofina mofa. De Hélios 405
Yeyócav Echo mrarpóç 'Hhiou 7" árro. solar descendes e de um pai magnífico.
Eniotagar Sé: tpóç dE Kai Trepukagnev Tens ciência; ademais, a raça fêmea
Yyuvalxeç, ég uev EoON Apnyavóraros, ignora como haurir algo elevado,
KaKÓV BE TTÁVIGOV TÉKTOVEÇ COpGTATOL. sábia quando edifica o horror do fado.!º

XOPOL CORO20
Ávio TOTALLY iepÓv Ywpovor TAyai,
3 es t Do mM *

Esc 1 410 Reflui à fonte o flâmen dos numes, Estr 1 410


Kai dia Kai rávra tóMv otpéperar. e o justo e tudo de roidão regride.
avôpáor pév SóMai Bouhai, Beódv 5"
> 4 by A Á na

No mundo o dolo se avoluma,


oukémi TrioTIÇ Apape- declina o empenho pelos deuses;
táv &" Enáv clxhciav Eyerv Brotáv otpéyovor pág:
s 7,3 " »” / x .

ais mas há de me afamar o câmbio da fama: 418


Epxerau tn yuvorkeiç yéver
3 “ 4 .

honor se direciona à estirpe fêmea;


ouxéti duckéladoç páua yuvaixaç EEE. 420 infâmia não mais afetará as fêmeas. 420

potoa nm de
de Takaryevémv AfEovo! &ordcy
A 2. 2 32, pa
Ant. 1 Musas de aedos imêmores Ant 1
Tv Ena Úpvelom dmioTooúvav. calarão hinos do meu acinte:
OU yãp Ev Auerépa yvoópgia Aúpaç Apolo, ás em melodias, | 425
comage BéoTrLv doidav 425 não outorgou à mente feminina
Poipos, àyitop pelémv: Emei ávráyno” &v voy o eterno modular da lira,

1 Acerca dessa rima no original, ver posfácio, pp. 164-5.


20 Sobre diferentes sentidos dessa fala, ver posfácio, pp. 166-7.

60 61
Apoévov yévva. parpoç 6” aicov Éyer
> 2 z » . É

ou a rapidez de meu contra-hino


TOM pv Auerépav &vôpódy te Hoipav eixreiv.
“ . € + End ma

430 replicaria à estirpe máscula.,


Nímio, o tempo aflora em narrativas
sobre a moira dos homens, sobre a nossa. 430

ou 6º EK pêv oikav marpicov Emkeucaç


x > s A + z

Estr. 2 Mente demente em meio a ôndulas, Estr. 2


Horvopéva Kpadia, StBupouç ópicaga tóviou
refugaste o solar que remonta ao Sol,
mérpaç: émi de Eéva
cruzando pedras gêmeas além-Bósforo. 435
vateiç ydovi, TAG avávôpou
Habitas paragens alienígenas,
koitaç óAécada Aéxtpov,
cama em vacância, infeliz, expelida
Tálcava, puyás dE ycópaç
sem honra e Sem rincão de origem.
àriptoç EXaúvn.
2» 2 .

BéPare 6 Spray yápic, oUb! Er" aibee Ant, 2 À jura se esvai com sua graça; Ant. 2
EMSô TÃ peyóda pévei, oibepia 8 avérrra,
440 entremeado ao éter,?! 440
goi 6” ore matpõç dópor,
o pudor não perdura na magna Hélade.
Suorave, pedopuicacdeu
Sem lar paterno onde ancore a dor,
Hóxôov Tápa, av te Aéxtpcov
pífia,
Sa Baoikeia Kpeioowv.
outra mulher, uma princesa, tálamo teu acima,
Bópoiory êrrécra.
impera na moradia. 445

[Chega Jasão]
IAZQN
JASÃO
OU viy Kateidov mpérov Aa mokháxiç
De há muito eu sei que é um mal sem cura a incúria
TPOXEiav Opyiv dg Apiyavov Kaxóv.
da fúria. Preservaras moradia
Goi yáp trapôv yijv Tive Kai Sópouç éxeiv
e status quo, submissa ao que os mais fortes
KOÚpas pepoúon kperocóveov Bouheúpara,
sentenciavam. Tua fala verborrágica
Nóycov paroícov oliver” Exrreoti ydovóc.
450 é a única culpada pelo exílio. 4350

21 Aristófanes parodia esta expressão no verso 1.352 das Rãs.

63
kKápioi uêv oudêv Tpáypo: ph Taúon TroTÊ Não perco o sono se repisas que eu
Aéyouo” Iácov” vg KáxioTÓÇ or” avip- sou o pior dos piores, mas acaso
& 6º Eg Tupávvoug foTi cor Acheyuéva, crês no próprio sucesso se degradas
m&v Képõoç fyoú Enurovpévn quyt. os tiranos que em breve te degredam?22
Káyão pév aiei Baorhécov Oupovpéveov 455 Eu tentava amainar a ira régia, 455
ôpyag Apúpouv Kai o” EBovAdunv uéverv- sonhando com a tua permanência,
ou 8” ou ávieiç poploç, Xéyouo” dei mas destilavas fel contrária a quem
KOKÓÇ TUPÁVVOUS: TOY AP ExtrEOf) ydovóç. domina a pólis: eis por que te exilam!
ÓLwç E KÓK TOVÔ” OUK ArreLprk tg piÃorç Não é da minha índole negar
fik, TO GOV GE TTPOCKOTOÚgEVOS, YÚvaL, 460 os meus, por isso vim preocupadíssimo, 460
wç HT AxpuGov Ouv Tékvolorv Extréonc a fim de que-não vás com os meninos
pit" Evôehg tou: TOAN êpélxetas quyn) com uma mão na frente e outra atrás:
Koxa Euv aúri. Kai yáp ei ou pe oTuyEic, o desterro carreia agror. Me odeias,
oux &v Suvaipnv doi kaxóç ppoveiv mote. mas a recíproca não é verídica.

MHAEIA MEDEIA
À& TaykáxiOTE, TOTO yáp O! eimeiv Eyoo 465 Avesso do homem, sórdido dos sórdidos! — 4és
yAúoon péyrotov eiç Avavópiav Kaxóv: eis como minha língua te fustiga.
NABeç pô Mpás, NABeç ExBroTos yeysc; Inimigo do deus, de mim, dos homens,
[Ocoiç te xágoi mavrí Tº avOporay yéver;] tens o topete de falar comigo?
ouro Bpágoç TÓS” EoTiv ou6” eútopia, Longe de ser um rasgo de bravura,
pihouç Kaxóç Spácavr” Evavriov Bhérrerv, 470 olhar de frente amigos que arruinou 470
SAN À peyiotn tódv év avOparoiç vócmwv é a pior moléstia que acomete alguém:
macóy, avaider- eu &º Ertoinoaç polóv- a canalhice! Calha a tua vinda,
Eyco Te yàp AéEaga xoupiobfcopar pois lavarei a ânima cuspindo
Wuyiy Kaxós oe xai ou AurrÃon KAúcov. palavras chãs que irão te constranger.
EK Túdv BE pv mpúTov ApEojar Aéyerv. 475 Pelas primícias principio: quem 4
Eowpoá o", Og Loaciv 'EliNvov ócoL salvou tua vida, os gregos sabem, todos

22 Com “degradas... degredam”, busquei compensar o jogo sonoro '


das seguintes palavras, localizadas em posição equivalente no original:
“thymumenon... ebulomen menein”.

64 65
TaúTOv CuveloéBncav Apyúov ckápor,
os nautas de Argo, quando em touros fogo-
meppbÉvIO TAÚpav TIUpTIVÓGV ErtoTáTNV
-arfantes impuseste o jugo, quando
CeúyAgor Kai omepoúvra davácipnov Yyúnv:
semeaste O campo que abrigava a morte.
dpáxovrá 8º, Og TÁYYpucov Aptréxcov dépaç 480 E a serpente-vigia que abraçava 480
oreipaiç Epi rokumhóxor Gurrvo dv,
com a rosca de anéis o velo de ouro
xTeivao” avéoyov doi pãoç awrípior.
assassinei, e fiz jorrar a luz.”
auri SE trarépa Kai Sópouç podoio” êpoyç
Traí morada e pai ao vir contigo
tv TInhióriv eiç IwAxov ixópmy
a Iolco, no sopé de Pélio. A azáfama
GUv coí, Tpódunoc pãAhov 1] copartépa: 485 obnubilou-me a sensatez na vinda. 485
MeMav T' árékrerv”, dorep SAyrotov Gaveiv,
Matadora de Pélias?* crudelíssima
maidmv Ur” aúros, mávra 7º EEeihov qóBov.
(servi-me de suas filhas), destruí
Koi Tato” Up” Muy, O KáxioT! ávôpóv, Trade
sua casa. Homúnculo, me pagas como?
TpoÚômkaÇ MLãs, Kouvã 6º Extioo Aéyn
Enganando-me ao leito ainda virgem,
Toidcv yeyotov: ei Yap oO” árrorç Em, 490 depois que procriei! Aceito a hipótese 490
cuyyváor! &v fjy cor TOUS” êpaobiiva Aéxouç.
do amor por outra, quando não é pai.
ópreov 8 ppoúôn mriotiç, oU8” Eyco pabeiv
Juras não valem, dás a impressão
ei Deovç vopíteiç TOUÇ TÓóT' ok &pyeiv Em,
de achar que os deuses não têm mais poder
n Kaiva xeiodou Béour” avApomrorç tá vv,
ou que os mortais adotam leis inéditas,
Emei oúvolodá y” eiç Eu” ovx eloproç dv. 495 ao assumires tua infidelidade. 495
qeU DeE1A xeíp, Ng ou TÓAN ExapBávou, Eis minha mão, que tanto acariciavas!
KOd TVE yováTiv, de pátnv Kexpúoneda
Joelhos meus, quantas vezes o farsante
KaxoU tpóç avôpóç, EXridwv 6” iuápropev.
vos afagou, mentindo-me esperanças!
&Yy"- OS pio yáp óvr cor Korvácopar-
Que tipo de diálogo teríamos,
dokoiica pv TÍ TIPÓG ye OU mpáEeiv Kaké; 500 qual foras companheiro a mim solícito? 500

23 Alusão à expedição dos argonautas, mais especificamente às pro-


vas que Jasão deveria superar para obter o velo de ouro: subjugar dois
touros que resfolegavam fogo; arar o campo semeado com dentes de um
dragão; matar o dragão que resguardava o velo, feito que Jasão realiza
depois de Medeia adormecer o monstro.
24 Como em outras passagens onde há essa menção, trata-se da
mutilação de Pélias, praticada por suas filhas, convencidas por Medeia de
que estariam perpetrando um rito de imortalidade.

66
67
ópcç 6". EpeotnBEiç yáp aioyicv pavi: À vilania avulta na conversa.
vÚv Toi TPÁTIGO NON; TTÓTEPO TEPOÇ TTATpÕÇ BópouG, Que rumo hei de tomar? O da morada
OU goi mpodotoa Kai Tárpav apreópny; paterna que traí, tal qual a pátria?
N mpóg takaivaç Mekiádas; Kaéç y” dv oUv E as míseras pelíades me abririam
SEE oavró |” oikoiç Gov Tratépa xaréxtavor. a porta, a mim, algoz cruel do pai? sos
EXEL YAp oúTm» Toiç pêv olxoBdev píhor Não ignoro que em casa me detesta
ExOpa xaBéomy”, otg Sé |" ox êxpijv xará quem mais amo. Só tem por mim rancor
ôpãv, Goi yápiv pépouoa tTokeniouç Eco. quem, para te agradar, prejudiquei.
TOLYÓp pe TTOÃOiS paxapiav Elânvidov Ganhei o quê? À boa aventurança,
EOnxaç ávri tódvôe- Baupaotôv Sé ge S10 na opinião corrente entre as helênicas. s10
EO TÓCI Kai mioTôv À Tálcav' Eycô, Infeliz, que marido fiel, notável,
ei peúBonoí ye yoiav ExBeBAnnévn, a mim foi dado ter, se me exilarem
piAwv Epnpoc, cuv TévoIç póvr Hóvoiç, só, com meus filhos sós, vazia de amigos...
Kakóv y” óveidoç TA vemoTi vuppico, Que glória para o neocasado: filhos
TTwyouÇ AAãa dar Traidaç 1) 7º Eopoá os, à míngua... e eu que te salvei! Ó Zeus, s15
O Zed, TÍ ôn xpucoi uév Sç KiBônÃoc à por que ensinar a reconhecer o falso
Texpúpi àvopororov sómaoas asi o ouro e não demarcar o corpo do homem
Avôpóv 5" Stw xp Tôv Kaxôv Bieidévaa, sórdido com sinal bastante fundo
oUdELÇ YApakTHp Entréquke cúpari; que o denuncie assim que vem ao mundo??º

XOPOL
CORO
dev TIÇ Ôpyt) Kai Buoiaroç iréder,
A > “ x A “

520 O horror da raiva é sem remédio, se éris,

Grs
to
o
óTav piÃo: pihoor
te 4 /
cuppóiwo” Eprv.
4 ,
a desavença, arroja-se entre amigos.

IAZON JASÃO
dei p”, og Eorxe, | xaxôv puvoa Xéyerv,
ma > t % x ” ma £

Parece que não devo descuidar


ÓAN doTE vadg kebvôv olaxooTpópov
3 7 (7 x * z

de minha fala, mas, nauta habilíssimo,


áxpoior
Ea
haipouç Kpaorrédorç Urrekôpapeiv
/ /

com borduras recoltas do velame,?é

25 Teógnis (vv. 119 ss.) também explora a comparação.


26 Como o navegador hábil, que recolhe as velas frente à tempestade,
Jasão afirma ser necessário enfrentar as palavras de Medeia.

68 69
Tv oijv otópiapyov, & yúvar, yAvocokyiay. fugir do palavrório de tua língua 525
Ex 6”, mein xai Mav mupyoiç yápiv, falaz.2” Afirmo alto e bom som: se o barco
Kúrprv vopíõo ti êpiig vaukÂnpiaç não naufragou, foi por querer de Cípris.
ocóteipav eivar Bedsv TE KávOporrcov nóviy. Chega de autolouvor! Foi Afrodite!?
goi d' Eoti ev votiç herróç, dA)” EmipBovoç És sutil, mas te irrita o fato de Eros,
hóyoç S1eADeiv, og “Epwç o" iváyrage 530 por meio de seus dardos indesviáveis, 330
TÓBOIÇ APÚKTOIÇ TOULÓV ExoÓOM Sépia. ter te forçado a me salvar a pele.
GAN otk áxpiBóç auto Ocopo Mav: Evitarei minúcias de somenos;
óTn Yap ouv Syncaç, oU Kakóg Éxei. não desmereço teu pequeno auxílio,
peilo ye pévrO! TH ENC OcoTnpiaç mas não comparo ao que me deste o que eu,
ciânga 1) déSwkas, ag êyé ppáoco. 535 salvando-mê, te propiciei. Me explico: 535
rpótov uev EGO” ávri BapBápou yBovoç teu logradouro é grego, não é bárbaro,
yoiav Katorkeiç xoi dtknyv Emiotaoeu prescindes do uso cru da força bruta,
vópgorç te ypijodar um pôs ioyúos yáprv: não ignoras justiça e normas. Gregos,
mávreç dé 0” pabovr” oucav “EXânvec copnyv unânimes, aclamam: “Sapientíssima!?.
Kai Só£av Eoxeç- ei dê yfig é” Eoyároiç 540 Celebridade, alguém recordaria 540
óporotv &xeiç, ouk àv Ty Aóyoç cébev. teu nome em tua terra tão longínqua?
ein 6º Eporye pre Ypucoç év Sógorç Não quero ouro em casa, nem cantar
pr "Opyémwç xáAMov Úuvigoor pédoç, hinários mais bonitos do que Orfeu,
ei um “TiongoS 1) TÚXN yévorró por. se for para gozar a sina cinza.
TOCAÚTO uÉV COL TOY EjiGOV TLÓVGOV TrÉpL 545 Só me estendi no que sofri, porque s45
EEE» Gpnhhav yãp ou trpoúônkaç Adyov. me instigaste ao debate. As núpcias régias,
& 8º Eg yápouç poi Baodixovç dvelôicaç, alvo de teus reproches, delas trago
Ev TpõE Seigo TIpÓrTA pêv COPO yey sc, à discussão três pontos: que fui sábio,
EmeITO CUppaov, ELTÁ GOL pÉyac pikoç que fui sóbrio, que me moveu o amor

27 Procurei manter a redundância que, no original, decorre do em-


prego de duas palavras compostas com sentidos próximos: otópapyov...
yiwooakyiav; otópa = boca; yAwooa = língua. Literalmente: “tua des-
controlada e incessante língua inconseguente”.
28 A paixão de Medeia, despertada por Afrodite, a teria levado a sal-
var jasão.

70 71
kai totoi TOiÇ Euoiotv: dAN! Ex” fouyoç. 550 de mim para com meus. Não fiques fula! 530
Emei petéotnv devp” Iwkxiaç ydovôç Quando aportei aqui provindo de Íolco,
TOMAS Epélecov cuppopãs Aunyávous, trazendo só percalços na bagagem,
ti ToUB” &v eúpny” núpov eútuxéotepov que sonho poderia acalentar
n maida yijuoa Baohéws quyãs yeycóc; senão casar com a princesa, um êxule?
oUy, |) OU Kvítn, oôv pêv Exdaipov Xéxos, 535 Sensaboria em mim não despertava
Katviiç dE vÚLpI inÉpq TrETÂnyuévoç, o toro em que deitavas (nascedouro
US” eiç Apulhav trolútervov orrovôny Excov de tua raiva), tampouco a noiva me
SM Yap oi yeyóteç oUSE pépponar- turbava, nem queria prole imensa,
ÓAN" dog, TO pêv pÉyrOTOV, OixOTjEv KakGC mas — e isto é capital! — que ambos vivêramos
kKoa pn omaviboiusoda, yryváckcov é livres de huimilhação, pois todos sabem 560
TÉVITO QeÚyEL TAG TIÇ Ex TTOD GV piÃoç, que até o amigo evita o homem pobre.”
troidaç de Opéyorp” AEicç Sócov EpGsv Obstino-me em propiciar aos filhos
oreipaç Tº 4dehpouç toiorv Ex cédev TékvoIÇ irmãos, reunir estirpes, congregar
Eg TATO Beiny, Kai Euvaprigaç yévoc as duas numa. Eis como prosperamos.
EUBOIOVOiNEv. COL TE Yap TICÁSGV TÍ Bei; 565 Por que precisas tanto de teus filhos?

ta
tn
o
ego Te Nei TOio1 pÉÃovoLv TéK vOLÇ A mim convém que os filhos do futuro
Tá Cóvr' óvijaca: pódv BeBoúleupos axé; auxiliem os que hoje vivem. Erro?
oUS” Av ou paíng, ei ce pi) xvizor héxoç. Tua discordância se resume à cama.
SAN Eg Toco iiTov xe” Gar! ópOoupévig A que ponto chegais, mulheres: credes
eúviç yuvolkeç rávr' Exerv voníters, 370 ter tudo se o casório vai de vento
Bv 6 aU yéviror Eupopá TIS Eç Aéxos, em popa, e o belo e o conveniente nada
TA AgoTa Kai KóMMotTa TokepóTara valem caso o deleite falte ao leito!
tideode. xpfiv yáap &hoBév rrobev Bporovç Pudéramos procriar diversamente
raidaç Texvoto da, OijAu 6” aux eivar yévoc: e preterir a raça das mulheres:
xoTwç &v oux Tv ouBêv avOporoiç Kaxóv. imune ao mal, o homem viveria!30

22 A mesma ideia aparece na Electra de Eurípides (v. 1.131).


30 Note-se que igual número de versos está presente nessa fala de
- Jasão e na anterior, de Medeia, reflexo, talvez, da atividade dos tribunais
da época, em que se concedia tempo idêntico (regulado pela clepsidra) às
partes litigantes.

72
XOPOz CORO
lâcov, eu pêv ToÚGS” Exóopncaç Aóyouç:
mo Pos 4 23,4 2
Há um cosmo de beleza em tua parlenda,
ópwç O" EnoLyE, kei TTApã yvopny ip, mas, mesmo contra O que por certo pensas,
e > 4 ” . e

doxeiç Tpodouç onjv dhoyov ou Sixara Spáv. direi que atraiçoar a esposa é indigno.

MHAEIA MEDEIA
à tTOAÃA troMhoiç eiyt Biópopos Bporôdv. Difiro muito em muito dos demais,
noi yap SorTiç GBtkoç 6v copo Xéyeiv sgo favorável que sou a que se multe 580
—“ mépure, mheiotny Enpíav OpMokáver: pesadamente o bom de prosa injusto,
YAdcon Yap auyóv T&dK” eu reproteety, orgulhoso de mascarar o injusto,
TOApã travoupyeiv: Eot Ô” oúx Ayav copóc. capaz de tudo. É um sabedor de araque!
O KOL OU ph vuv eiç Ep” euoyúucov yévn Não me venhas posar de bem-falante,
Aéyetv te dervóç. Ev yáp êxtevei o” Erroç: s8s que te derruba o murro de um vocábulo:

co
ta
a
xpfiv o”, eltep foda pi Kaxóç, teicavrá HE foras honesto, me convencerias,
Yapeiv yápiov Tóvê”, Ma pm cry qihov. ao invés de casar-se na surdina.

IAZON JASÃO
Kahdç y" &v ouv ou TODO Umnpéreiç Aóyqp, Me referira às núpcias, bela aliada
Ei cor yágiov Kateirov, Ariç ovdE vUv teria tido, se nem no presente
toÂuãs pedeival Kapõiaç péyav yóhov. s90 consegues remover a fúria do íntimo! 590

MHAEIA MEDEIA
ou Tottó o” eiyev, AMA BápBapov Aéyoc O que te preocupava era que núpcias
TpOç yiipaç ouk eudoEov EEéBarvé cor. bárbaras te infamassem na velhice.

IAEQN JASÃO
EU vuv TOS 1001, LT) yuvaikoç olvexa
9 223» x a e.
- Põe na cabeça, de uma vez por todas:
Yyiijgod pe déxrpa Baonéwv & viv Exoo, não foi por outra que subi ao leito
2 > $ a 2 a Z
GAN”, doTrEp eirrov Kai Trápoç, cce BéXv s9s régio, mas por querer salvar a ti sos

31 Q verbo Extetvao, “estender”, é empregado metaforicamente aqui.


Normalmente aparece no âmbito do pugilato.

74 75
CÉ, KO TÉKVOLOL TOTÇ ENOIÇ ÓgooTTópouç e aos dois meninos, pai de irmãos dos filhos:
pla TUpávvouç Traidas, Epupa dopiaon. de agora, príncipes, bastiões do alcácer.

MHAEIA MEDEIA
HÁ pot yévoito Aurrpoç euôaipicov Bioç Desdenho a vida próspera, se triste,
unS" SABog Soriç Tv Eunv Kviltor ppéva. e a cintilância, se ela amarga o espírito!

ALON JASÃO
oiob” CW petevÊm, Kai copwTépo pavi; 600 Por que não aprimoras tua sabença? 600
TA xpnoTá |) cor Auripá paivec dai trote, Não trates com pesar o que dá lucro,
“4nS" eúruyotoa duotuyiç eivau Soxeiv. nem faças do infortúnio tua fortuna!

MHAEIA MEDEIA
ÚBpil”, Errerdh coi pév ÉoT' amooTpoçh,
e " x x z 7 Zz
Quanta impostura! Partirei sem rumo
Eyo O Epnpoç Tijvõe pevotpor yOóva. da cidadela em que te refugias!
2 x 2 34 Z ma 4

IAZON JASÃO
aut TáS” eihou: pndév” SMov airió. 60s Escolha de que mais ninguém tem culpa! 60s.

MHAEIA MEDEIA
Tí Spóda; pv yopolca Kai Tpodotaá ce; Mas onde errei? Traí o casamento?

ALON JASÃO
ÁPAS TUPpÁVVOIS Avocioug 4popévn. Amaldiçoaste, sem clemência, os reis!

MHAEIA MEDEIA
Kai cois paia y” ouda tuyyávo dóporç. Ah, sim!, eu sou a praga do teu lar.

IALQN JASÃO
WS OU kpivolpar TO VÔÉ GOL TA Tãiova.
t , ” no z " e
Encerro por aqui o bate-boca.
dA”, eim Boúly treroiv À cauriiç quyi) 610 Se desejas amparo pecuniário
2 AN * + " > a me

é10

Tpocwpélnua ypngáreov Enóv AaBeiv, para cruzar fronteiras com teus filhos,

76 77
éy”- og Erorpoç Apbóva Botvar xepi é só dizer, que estou às ordens! Símbolos?2
4 2 4 1 e , 2.053 /F
Eévorç Te TrégumreLV CÚpBON”, oi Spácovot o" eu. das tésseras que envio são garantia
Koi taúta pm) Bélovoa popaveiç, yúvar: de hospedagem. Bobagem se os renegas!
AEaca 6º ôpyfig Kepôaveiç Aueivova. 615 Cede à calma e melhora tuas vantagens! as

MHAEIA MEDEIA
our” Av Eévoior Toio1 coiç xpnoaípeO” dv,
2 3.38 A ms me . > 9»

Repugna-me a morada de teus hóspedes,


our” &v ti Sebatgeoda, unô” úuiv Sidou- tanto quanto a oferta monetária,
KakoU yáp ávôpoç Bop” Svnorv ouk Eyer. pois o prêmio do pulha não tem préstimo.

IAEQON JASÃO .
2 » Po 48 x 4 .
dA” ouv Eyào pêv doipovaç paprúpognar, Requeiro o testemunho dos eternos
wç TTÁVO” Urroupyeiv coí te xai Tékvoiç Géco- 620 para o fato de eu pretender dar tudo 620
goi” otx péoxer TAyó8”, AN” aúdadia de que precises, mas o bem não te
pihouç drrcBij- Toryãp aNyuvi) mhéov.
“. 4 ” » 2 e ,

“agrada. Altiva, agravas o difícil.

MHAEIA MEDEIA
Xoper módy yáp tg veodpúrou xópnç Some daqui, saudoso da moçoila
aipi xpovilwv dwpárov EEdTrioç. recém-domada! Tomam-na, se tardas!
vúppeu”: Towç yáp, ouv Beã 8” cipjcetar, Goza tua ninfa, pois, se um deus me escuta, 625
Yyapeiç totoúTOv Gote Apveioda yáguov. lamentarás — quem sabe... — tuas núpcias.
[Sai Jasão]

XOPOZ CORO
EpwTEÇ UTEp Ev Áyav Estr. 1 Amores, quando pleni (em demasia) afloram,? | sei
EXDÓvrEç oUk eudOEiav denegam fama e brilho ao homem. 630
OUô” Aperãv TrApédKav
avôpáorv: ei 6” SMiç Edo 630 *2 gúpBohov: objeto fragmentado em duas partes, mantidas por ca-
da um dos envolvidos num acordo. Sua junção comprovaria a autentici-
dade da origem.
33 A tmese ocorre no original, assim como o advérbio enfático, lo-
calizado entre as duas palavras que compõem essa figura de linguagem:
vrrêp pêv Gyav EXOóvrEç.

78
79
Kurprç, oux Sha Geog elyapiç otra. Mas se Afrodite advém com seus parâmetros,
, » E
pior”, w Séorrorv”,, êm” ênoi , ypucémwv
/ 4 Z
TóEwv êpeinç
4
inexiste deusa mais extasiante.
inépo xpicao” Apuktov olotóv.
€ 4 e A ”

Não mires contra mim o flechaço indesviável


do arco dourado, ungido no desejo, ó ser sublime!

otépyot dé pe coppocuva, Ant 635 Sofrósina reserve-me sua simpatia, Amt.l 635
dúpnna xdAMorov Gedsv: inexcedível dom divino do Equilíbrio!
ndé tor” Auprhóyouç ôpyac A cólera da mutuaversão,
AKÓPEOTÁ TE VEÍKI) a rusga sem cura por leito de terceiro,
Oupóv ExmAfEao” éréporç Emi Aéxtporç . jamais, acídula Cípria,
mpooBáhor Seiva Kúrrpiç, Arrroképouç 5" eúváç arremesses, avessa, contra mim!
cePitouo” 640 Perdure a antipolêmica do conúbio 640
dEUppoy Kpívor Xéyn yuvorkév. no tálamo perspicaz das moças!

do maTpís, à Sparta, uh dir” &mroMiç yevoínav Estr. 2 O que mais prezo, ó pátria, é moradia? Estr. 2
Tv Apnyaviaç Exouca 645 Não ser sem-urbe, 645
Suorréparov aióv”, alheia ao disparate da penúria,
oixtpótatov Oyécv. a mais árdua desventura!
Oaváre Gaváreo tápoç Sapeinv Ao prenúncio de uma jornada assim,
anépav Távô” EEavúcaga: que o dano de tânatos, tânatos, 650
Hóxdwv 8 otx SAhoç Úrrepõev . 650. me fulmine!
N yàç matpiaç otépeodar. Dano máximo é privar-se da pátria.

eibopev, UK E ETépaov Ant. 2 Presenciamos (não me guia Ant. 2


pudov Exa ppácacdeu: averbamento alheio): 655
CE Y4p ou tródig, ou pikwv TIC 655 nem urbe, nem amigo derramou
GxTicEv TIAdoboav uma lágrima que fosse .
dervótara mabécov. ao terribilíssimo sofrer.
àxáprotos Sho18”, ár Trápeoriv Morra, mas morra lentamente,
EM ptÃouç Tinãv Kadapãv 660 o ingrato que desonra os seus, 660
àvoiBavra KAjõa ppevódv- depois de franquear o ferrolho de ânima sem mácula!
EpOi pêv pihoç olmor' Éorau. Jamais há de contar com meu apreço!

80 81
[Chega Egeu]

AITEYE EGEUSA
Múdeta, yaipe- tolde yôp mpooípiov Felicidade! Pode haver início
KáAMov otbeiç oide mpoopwveiv pihouç. mais propício à fala de um amigo?

MHAEIA MEDEIA
z = x 2 o n 2
& Yalipe Kai gu, trai copoi Favôtovoç, 665 Felicidade, Egeu, filho de Pândion!*
Aiyeú. tródev yiig TÃoS! Emorpoçã tréSov;
, ao . Ed me me L

Deixaste que país ao vir aqui?

AIFEYE
EGEU .
DoiBou makatov Exhitróov ypnotúpiov. Fui consultar o oráculo de Apolo.

MHAEIA MEDEIA
Tô" ôupahdv yric Beompõdv EoTóÂnc; Por que sondaste o ônfalo divino?

AIFEYE
EGEU
e sy no pos
Taió Epeuvódv oTrépp” Órimç yévoiTó por. Para curar-me da esterilidade.

MHAEIA MEDEIA
Tpoç Oecóv, Erraig yap deúp” dei teiveiç Biov;
x nd 2 x a N A /

S70 Falhas na geração dos descendentes? 670

AITEYE
EGEU
arroadéÇ Eouev Baipiovóg TIVOC TÚYN.
” A 2 A /

Um deus me impôs a sina sem um filho.


4 ,

34 Na Poética, 1.461b, 20-1, Aristóteles critica a introdução desse


personagem, que considera imotivada.
35 Referência ao filho de Cécrope, oitavo rei da Ática, pai de Egeu.
36 Irônico e amargo contraste entre um personagem incapaz de pro-
criar e outra que planeja a morte dos próprios filhos.

82 83
MHAEIA
MEDEIA
Ságaproç ovonç, fi Aéxoug &rrepoç dv; Mas careces de tálamo ou de esposa?
AITEYE
EGEU
oUx Éopev eviig ACuyeç yapnhiou. Não desconheço o jugo esponsalício.

MHAEIA
MEDEIA
ti. diira
gm ns So, , 4
PoiBoç eirré cor maidewv trépi; Eo que falou Apolo sobre os filhos?
AITEYE
EGEU
potep” 1) xar Gvôpa cuuBadeiv En.
Jo

675
te 2 3* 2»

675 O veredito soa estranho ao leigo.


a >

MHAEIA
MEDEIA
Oépuç pêv Auôç ypnopôv eisévar Beoú; Permites-me saber sua sentença?

AITEYZ
EGEU
HáMOT”, êxtei TOL Kai copfic Deitar ppevóç.
2 , z “4 x a nd L

Claro, pois só o sábio a desvenda.

MHAEIA
MEDEIA
Ti dr Expnos; AéEov, ei Oéjiç xAverv. Repete o que augurou, se posso ouvi-lo!

AIPEYL
EGEU
GOKOU pe TÓV TEpOUxovTA EM AÚCa: TTÓDA.
3 my ” z x Me L

“Não desates do odre o pé que pende


1”

MHAEIA
MEDEIA
mpiv, àv
za
tt. ôpáonç
L
1)Mo,riv' EEixn
4
yOóvas
,
“eso Antes de perfazer o quê e onde? 680

AIFEYZ
EGEU
mpiv“oaav TATpúav o audi
x 4 4
EoTiav poco. “Antes de retornar ao lar paterno.”

“ MHAEIA MEDEIA
GUS ac Ti ypúlwv Tijvõe vavotoleic yOóva; Por qual motivo aportas nesta pólis?

84
AITEYE EGEU
Tlirdeúç rig Eomi, yiiç AvoE Tpolnviaç.... Piteu reina em Trezena, ao que parece...

MHAEIA MEDEIA
Troig, dg Aéyovor, Hékorroç, euoepéotaToç.
av f A + /

Dizem que é o mais piedoso pelopida.

AIFEYE EGEU
toúTÃ OeoU pávieupa Korvácar Bélo. 685 Desejo transmitir-lhe a frase mântica. 68s

MHAEIA MEDEIA
COPOS Yap Avhp Kai TpiBwv TA Toráde. Decifrador insigne de oráculos.
a s < A x L s /

AITEYE EGEU
KÓpOI YE TIÁVICOV plitTaTOÇ SopuBévoov. Um caro aliado-a quem franqueio a porta.
, 2 4 ” 4

MHAEIA MEDEIA
AAA” eúruyoinç xoi Tóxoiç dowv êpãc.
3 , + L " A , EA

Estejas sob a luz do acaso alvíssaro!

AIEYE EGEU
TLYGp cOv Opa YpÓç Te ouvrérmy Sds; Por que teu olho e tez se descoloram?

MHAEIA MEDEIA
690
> a 4, 4 / , 4
Aiyed, KáKIOTÓÇ EoTI HOL TÁVIGV TÓCIÇ. 690 Casei-me com o crápula dos crápulas!

AITEYE EGEU
TL pg; Cap por càg ppácov BuoBupíaç. Sê direta ao contar-me o que te abate!

MHAEIA MEDEIA
Adikei p' Tácmv ovdêv EE époi tadcv.
> me 4 a my £L
Nada fiz contra quem hoje me agride.

37 Q mito sobre a morte de Hipólito situa-se nessa mesma região da


Argólida, no golfo satônico. Piteu era o pai de Fedra.

86 87
AIVEYE
EGEU
Ti xpiiga ôpácas; ppáte poi capéorepov.
Podes deixar-me a par de como agiu?
MHAEIA
MEDEIA
yuvaix” Ep” hpiv Seorróriv dópcov Eer.
Pôs outra em meu lugar em sua morada.
AITEYE
EGEU .
oU trou Teródunk” Epyov aloyiotov Tóds; 695 O modo como ele age me estarrece! 695

MHAEIA
MEDEIA
cáp” to8"- áripor &” Eouêv oi TTpo TOU pihoL,
Claro direi: renega a ex-consorte!
AIFEYE£
EGEU
mótepov EpagBeiç 1) cóv ixdaipev Aéyoc;
Ama alguém ou tua cama o entedia?
MHAEIA
MEDEIA
Héyav y' Epora: TIOToÇ oUx Epu pihorç,
E como ama! Alguém nele se fia?

AITEYE
EGEU
iTGO VUV, EÍTTEp, GG éyeIÇ, ÉOTIV KaXÓE.
Que evapore, se ele é o soez que vês!
MHAEIA
MEDEIA
Avôpóv tupávucov xijdoç npáoOn hapeiv. 700 Ele ama o estreito liame com tiranos. 700

AITEYE
EGEU
ôiôwor 5” atra) rig; éparvé noi Aóyov.
Falta que digas quem lhe deua filha!
MHAEIA
MEDEIA
Kpéwv, Og &pyei thode yiig Kopivdiaç. Creon, cujo domínio é Corinto.
AITEYZ
EGEU
CUYyvmoTA Hév TAP” Tv oe AureioBa, yúvar.
Melhor compreendo agora tua angústia.

88
89
MHAEIA MEDEIA
SAmÃa: Kai mpóg y” EEckaúvopar ydovóç. Estou perdida, pois daqui me exilam.

AITEYE EGEU
TLPÓÇ TOU; TOO” GAÃO kaivov au Aéyeiç Kaóv. 705 Mais um revés! Mas quem o determina? 705

MHAEIA MEDEIA

Kpémv p” EXaúver puyáda yiiç KopivBiaç. Creon não quer me ver mais no país.

AIFEYZ EGEU
ê& 6" Iáowv; ovde TabT' êmijveca. Jasão, como eu, discorda desse edito?

MHABIA MEDEIA

Aóy pév oúxi, xaprepeiv de Boúlerau. Discorda só da boca para fora.


AN" Avropaí oe Tijode TTpÓÇ yevetádoç Toco-te os joelhos, tanjo tua face,
YováTOv TE TV GOV IkEdIa TE yiyvojiar, 710 escuta a amiga que hoje te suplica: no
OTkTIpOv OTkTIpÓV pe THv Bucdaipova tem pena da desdêmona, tem pena,
xoi nº Epnpov Extrecodoav eioiônc. impede o desamparo do desterro,
déEar dE yopq Kai Sóporç EpéoTiov. não vislumbres o tombo da eremita,
oUTCÇ Eprog dor TIpóç Decoy Tekeopópoç que o fogo do teu lar me afague! Que Eros
Yévoiro mTaibwv, Katróç SABroç Bávorç. 715 não te renegue filhos, e, ao declínio 78
eúpnua 5" oux oioB” oiov núpnkaç Tóde- da vida, afortunado, então sorrias!
maúom yé o” Ovt' Araida xai maiômv yováç É um achado o que achas, pois meus fármacos
oreipoí oe Ojo: Torád! cida páppaxa. darão à luz os filhos de um sem-filho!

AITEYE EGEU

troAhOv Ekami TijvÕE Goi dolvar xápiv, Por diversos motivos te auxilio,
yúvar, trpóduuóç ei, tpóTa gév Oedv, 720 pelos deuses, primeiro, e pelos filhos 729
Ererra traidowv dv ErayyAd yováç: a cuja viabilidade aludes,
E TOÚTO YAp OM ppoúdóç eij trãç êycó. assunto em que me empenho integralmente.
outmw 8º Éxet por: cod pév EXDovong ydóvo, Receberás de mim, se ao meu país -
meipácopaí cou TrpoBeveiv Sixatoç dv. aportas, a devida hospedagem,

90 91
TOCÓV YE |ÉVTOL JOL TTPOONaiva, yÚvarr- 725 mas deixo claro que não Intenciono
êx Tijode pev yiiç ou o” Ayerv Bovhijcopar, te resgatar daqui. Se ao meu solar
avrr) 6” Edvrrep eiç EnoUç EXOnç Sópnous, fores por conta própria, terás teto
, x 3 9 * , 3 " > 4.

peveiç Gouhoç xoU ce pi OO tivi. e a certeza de não seres traída.


éx tijode 8” aum yig amoAhdocou tródo: Foge por ti, que eu não quero ferir
; 2 x Ss qs % 4
âvaiTioç yap Koi Eévorç etvar Déo. 730 suscetibilidades alienígenas. 7

MHAEIA MEDEIA
EoTaL TÁS!: AAA TrLoTIÇ EL yévOITÓ pot De acordo. O meu apreço aumentará
» 2 3 3 " . , 4 4

TOÚTCOV, ExOL" Av TTÁVIO TIpOÇ CéDEV koNÓNG. se aceitares selar com jura O pacto.

AITEYE EGEU

Húv ou trérroidaç; 1) TT coL TO Buoyepéç: Acaso desconfias do que falo?

MHAEIA MEDEIA

mérroida: TleMou 8” Ex0póç Eort por dópios Não é que eu desconfie, mas me odeia
Kpémy TE. TOÚTOIÇ O” Opkiotor pev Cuyeiç 735 o paço de Creon e Pélias. Preso 735
ayouoiv ou eder! Av Ex yalaç Epé- ao jugo de uma jura, não me entregas;
hóyorg 8 cupBag Kai Bedsv avapotoç o apalavrado é insuficiente para
piÃos yévor” &v KámikKnpuKeúpaTa que enfrentes a pressão que deles venha,
tá av miboro: TANGA pv yap dodevi, mas com o aval divino é diferente.
tTOTÇ 6" OABoç ori Kai Sópoç TuUpavviKóç. 740 Como faria frente ao paço, ao ouro? 740

AITEYE EGEU
mohAnv Edetaç Ev Aóyoiç Trpopndiav: Parece um sobrezelo, mas não sou
AN”, ei Bokei co, ôpãv TAS” ou Aptotapia, contrário ao que desejas tanto, mesmo
> 1 , , My ad e 3 , + A -

êgOI TE YAp TÁO” EoTiv dopokéoTaTa, porque teu plano me convém, pois me
oxytv tTiv' éxOpoiç coiç Exovra Seixvúvou, desculparei com quem te execra e ficas
Tô cóv Tt! &paps poAhov: EEnyou Geovç. 745 mais segura. Nomeia 0 nume: o invoco! “745

92 93
MHAEIA MEDEIA

ôpvu médov Pg, morépa 0º “Hrov trarpoç Jura por Geia-Terra e meu ancestre,
toúpnoU, dev TE cuvriDeIç Arrav yévos. o Sol, e pela estirpe pandivina!

AIFEYE | EGEU

Ti xpua Spacer | Tt pm ôpácerv; déye. O que devo evitar e pôr em prática?

MHAEIA MEDEIA
Hr auróç éx yig ofiç Eu Expodeiv tor, Jamais me renegar em tua cidade;
núr” SAhoç dv tiç Tóv Edy ExOpósv Gyerv 750 jamais deixar que um inimigo meu 750

xpúón, nedfcer Cv Exouoip Tpóric. sequestre-me de lá, enquanto vivas.

AIPEYE EGEU
ôpvug Toiav pó Te Aappóv HAtou Juro seguir à risca o que escutei,
Oeoúg TE TIÁvIAÇ Enpeveiv & cou Khúm. pelo Sol, pela Terra, pelos numes!

MHAEIA MEDEIA

Aprei: Ti é" ópko TOÕE UT puévoov TTáBdoNç; Infiel à jura, o que padecerás?
3 Do A >. &4 pe no 4 A

AITEYE EGEU

& toior BucoeBovor yiy vetor Bporódv. 755 A pena que se abate sobre o ímpio. 785

MHAEIA MEDEIA

XSipov TOpeúoU: TTÁVIO. YAp KANG Eye, De pleno acordo: bom retorno! Cedo
Kóyão TTÓMiV Otjv Og TáxioT” Apigopon, ingresso em tua cidade, quando cumpra
mpóBao” & uélho Koi tuzoto” & Bouhopos. o que devo e o que dita meu desejo.

XOPOE CORO

dá o” à Maias Tropraiioç ávaE Que Hermes, senhor das rotas,


rrekágere dópioiç, Gy T' êmivoiav 760 oriente o teu retorno; 760

oTrEvÓEIÇ KaTÉyv TIpÓBeiaç, Errei cumpra-se o que te obceca,

94 95
Yevvaioç àvip, pois, a meu ver, Egeu,
Aiyey, map” éxoi Sedóxnoan. o teu comportamento te enobrece!

MHAEIA MEDEIA

dO Zeú Atxn te Znvôç'HMou te po, Zeus, Justiça de Zeus, Fulgor solar,


vUv Kadhivicor Tódv Ev ExOpóv, pihar, 765 que a vitória de Nike vija contra 765
yevnoópeoda xeiç ddov Beprixapev: os vis! Amigas, mãos à obra: espero
vuv 6! Exmiç ExOpouç TouÇ êuouç Teioerv Sixnyv. fazer que o inimigo pague altíssimo!
ovtos yáp Avip | páMoT! Exápivogev Egeu mostrou-se o porto de meus planos
“Mpny tépavrar tódv ênódv Bovkeupárev- no que me preocupava mais. Amarras
Ex TOUS” Avaypópeoda mpupvitnv ráAcov, 770 de popa lhe arremesso assim que Atenas 770
pohóvreç &otu Kai TóMO pa FoAhódoç. desponte — bela cidadela! — à frente.
nôn de trávra Tâpá cor Boveúpara Não mais oculto o plano que acalento,
AéEco Séyou dé | TTpÓç Hdovijv Aóyouç. em relação ao qual serás avessa.*º
Téppao! EuGv TIV" oixetódv Tácova Alguém diz a Jasão que solicito
Ec Oynv EXOEiv TIv Epnv airicopnar: 775 sua visita, quando então me exprimo 775
pokóvri 5” aúrã poNdaxouç AéEc Aóyouç, manemolentemente em prol das bodas
Tá Koi doxei or taúrta, Kai KokGç Exertf (fruto de traição) reais, achando
YSpouç Tupávuoov oUg TIpOdOUS TS Éyer, auspicioso o proveito que nos hão
Koi Eúupop” eivau Kai xaló Eyvoopéva. de propiciar. Meus filhos ficarão :
maidag de peivoa TOUS EpOUç aitijoopa, 780 — eis o ponto central —, não que eu os queira 780
oux og Arrolo” &v tokepiaç Emi ydovoç em terra hostil, sujeitos a perverso |
Ex9poio: maidaç TouS énotç xaduBpican, tratamento, mas para assassinar
AN" og Sdhotot moido Baotkécoç Ktávio. a queridinha do papai. Os dois
TÉpyGo Yap aútouç SWp” Exovraç év yepoiv, portarão os presentes, com o intuito
[vúppn pépovras, TivôE ui) quyeiv yOóva,] 785 de reverter o edito que os exila: 785
Aerrtóv te TrérIÃOv Kai TAÓKov ypuotihatov o véu — puro requinte! — e o leve peplo.
xávirep AaBotoa Kócpov au xpoí, Se adorno e veste envolvem sua pele,

38 Não se estranhe a alternância de formas de tratamento na fala de


Medeia: é comum, na tragédia, a personagem dirigir-se-aos membros do
coro no plural é para seu (ou sua) líder (corifeu) no singular,

96 97
|
kaxóç óÁeitoa trãç O" Og àv Oiyn Kópnç: mirra e morre, € O incauto que a tocar,
TOLOTOÔE Ypiow papuáxorç ômpipara. pois untarei no fármaco o regalo!
Evratda uévror Tóvê” amalhácow Aóyov: 790 Redireciono a fala neste ponto — 790
WpwEa 8" oiov Epyov Eor' Epyaotéov pranteio o fato a ser perfeito: mato
tOuvTEUDEv Auiv TÉKVA YÁp KaTaKTEvÕo meus filhos... e ai de quem ficar na frente!
tT&p”. oútiç EoTiv Óoriç EEatphgetar: Arraso o alcácer de Jasão e sumo,
Sópov te TávIO uy yédio! Tágovoc pela sanha fatal contra os meninos
Ee yoías, priiráruv TTaidov póvov 7958 que mais amo no mundo, sob o crime 795
peúyovoa Kai TÃãO” Epyov avociárarov. que mais que nenhum outro agride o pio:
ou Yap yehão da: TAnTOv EE “O pó, pilha. o riso do inimigo fere o íntimo.
úroo- Ti por Civ xépõoç; OUTE LOL TIATPIÇ A vida avulta? Avilta, se há vacância
our” oixoç Eoniv obr” AmooTpoi) Kaxóy. de lar, pátria, refúgio contra os sujos.
hpápravov TóO” úvix” EEckipmavov 800 Que erro crasso deixar o paço pátrio, 890
Sópious TaTpyous, avôpoç “ElÂnvoc Aóyoig cair na logorreia de um helênico,
meiodeio”, Og Muiv cuv Dep Teioer Sixny. o qual, se deus quiser, será punido!
out” EE êpoU yáp rroidaç Syerai trote Não mais sorri aos jogos dos meninos,
LOVIAS TO AotrTOv OUTE TAS veotÚyou nem cria outra linhagem com sua ninfa:
vÚHQNÇ TEkVÓGEL TTOÍÔ”, Errei KaKT|v KaKÓdÇ 805 meus fármacos fatais hão de matar 805
daveiv op” AváyKn Toiç êpoior pappáorç. terrivelmente a terribilíssima.
undeiç pe paúlnv xáodevi vopléro Não queiram ver em mim um ser fleumático
und” Touyaiav Aa Barépou tpórrou, ou flébil. Tenho outro perfil. Amor
Papeiav éxBpoiç xai pihororw elpevi- ao amigo, rigor contra O inimigo; .
TOV YAp ToLoÚTGv EukÁcéoTaToS Bio. 810 eis o que sobreglorifica a vida! 810

XOPOL CORO
emeimep Nuiv Tóvô”
> A < Mm 2 15

Exoivocaç Adyov,
. L

Já que me pões a par do que cogitas,


gé T' wpekeiv Dékouoa, Kai vógoig Bporóv por desejar ser útil, fiel às leis
EuManBávouoa, Spav o” amevvério Táde. humanas, digo não! aos teus projetos.

MHAEIA MEDEIA
oux Eotiv SA mg: doi dé ouyyvóun Aéyeiv
> 2 Z “ x L A

É a única saída, mas não levo


TÓO”1735 ÉOTI,2 HT)v ITÁOYOVOAM,
4 , a
DG ÊY 6, KaKóE. 815 a mal o que ora tentas. Quem mais sente? 815

98 99
XOPOL CORO
AAA KTavEiv Gov orrépua TOÂpÁcEI, yúvel; Matas quem germinou do teu regaço?

MHABIA MEDEIA
oúTo Yap &v páMorta ônyBein mróoiç. É a mordida que fere mais o esposo.

XOPOL CORO
ou 6 dv yévoro y” ABMawráTm yuvá. E que fará de ti um ser tristíssimo!

[Medeia fala a uma serva]

MHAEIA MEDEIA .
itW» TTEpIOGOL TIÁVIEÇ OUV jÉCG AÓYOL. É vã a parolagem do entremeio.
3 EA 4 s 4 a
4AN ela yoper Koi xópil” "lácova: 820 Não tardes em trazer Jasão! Eu sempre 820
Eç TÓVIA YAp OM doi TA TrLOTA Ypúpeda. te confio tarefas espinhosas,
NéEnc 8 undev Tódv époi dedoypévasv, mas se me tens em bom conceito, se
eltrep ppoveiç eu deotróTOIÇ yuvi T' Equç. és de fato mulher, esconde o intento!

[Sai a serva]

XOPO CORO
"Epeydeido TO Takaróv dABror Estr 1 O ouro erecteide?? remonta Estr. 1
Kai deóv TTATõEç Haxápov, iepãç 825 ao imêmore. Dos numes 825
xopaç arop9irou Tº Grro, pepBónevor descendem, oriundos de paragem sacra,
Kheivotárav coptav, aisi Sã Aaprpotárou inviolável; nutre-os a sapiência,
Baivovreç àBpoç aidépoç, Evda 708” Ayvas 830 a mais ilustre, com passadas altaneiras
êvvéa Tiepidaç Moúcas Xéyovor pelo éter lampadejante. Foi ali (dizem)
EavOav Appoviav qureúoou que as nove Musas Piérides, 830
geraram, sublimes, Harmonia, a loura.

39 Referência aos erecteides, filhos de Erecteus, uma designação dos


atenienses.

100 101
TOU xaliváou 7º éri Knqicol pociç
Ant.t 835 Reza a fama: do Cefiso!? belífiuo, Ant 835
Tv Kúrrpiv xhflovorv àpuocagévav
Cípris hauria para ressoprar, terra acima,
XOpay xarartveloar perpíaç Avépicov
auras sucintas da ventania, dociarfantes. 840
Nôumvóouç atpaç: alei 8º êmpalhoguévav
“840 Redolentes rosas na trança da guirlanda,
XeiTeo1v EuÔôn podéwv Thókov &vBéwv
Manda amores ladearem Sofia, a Sábia,
TA Lopig trapédpouç tréjtrery “Eporaç,
sócios no afazer da excelência plena.*! 845
TavTolaç Aperãç Euvepyoic.
845

TÓS OUVy Iepódv


m =
TrOTApádv
m
Estr. 2 Como a urbe de rios sacros, Este. 2
A tóiç À qihov
3" / > ”

como o país que zela pelo amigo,


TÓNTINÓC GE YOpa
te acolhe, junto aos demais,
Tá Tra doéreipav ÉEei,
ímpia matadora de filhos? 850
TAV OUY ÓCiav ger” Ay;
x >, . 4 2 4

850 Vislumbra o cruor das crias,


oképar TEKÉGOV TTÃGyáv,
vislumbra o crime que praticas!
axéipoi póvov oiov aipn.
Todas aos teus joelhos
HM, TPOÇ yovárcv de TTávIm
rogamos tudo:
TÁVIG ikETEÚONEV,
não carneies a prole! 855
TÉK VA. poveúoe.
8ss

tódev Opácos 1] ppevóç À)


Ant. 2 De que ponto da ânima o afã Amt. 2
xeipi fréxvov cédevt
atinge os braços, |
xapôig te Ay
ao avanço do arroubo hórrido
deivav Tpocáyovoa Tókpav;
contra o coração dos garotos?
Tó 8” óppora mpooBolotca
860 Como, à mirada púbere, s60
TÉKVOLÇ AdaKpuv poipav
oxhoeis póvou; ou Suváon, manterás, ilácrima, a sina facínora?
Impossível, ao rogo prostrado dos meninos,
Taidmwv IxeTÃv TTITVÓVIGV,

40 Rio ateniense.
“1 No originaí, a imagem indica Sofia num trono, ladeada por Amo-
res. Uma possível alusão à teoria do Amor apresentada por Platão em O
banquete.

102
téyEas xépa poiviav macular a mão imane,
thápovi Oupo). 86s sem íntimo calafrio. 865

[Chega Jasão)

(AEON JASÃO
e 4 x x F x
ixo Kelevobeiç: Koi yap ovoa Suopeviç Não faço ouvidos moucos, a despeito
OU TAv AHápTOiç TOUÔE Y, AAA áKoúcopaL de tua animosidade. Algum pedido
2” >" voos e Á * > 2 + L

Ti xpiipa Bouhy xaivov EE époU, yúvar. novo te leva a me querer aqui?

MHAEIA MEDEIA

"Tãcov, aitoúai ce TO Eipnévov Retrato-me da ofensa que te fiz:


ouyyvópov! civai: TAÇ O” Enaç ópyás péperv 870 o amor que entre nós dois preexistiu 870
elxóç O”, Errei vv TIÓAN UrreipyaoTau qiÃa. talvez torne meu surto palatável.
êyão 8 Epouri Sia Aóywv Apreóuny Ralhei de mim para comigo: “És tola,
Káhoidóproa: Exerhto, Ti uaívopar a fúria do delírio te domina,
Kai Buopevaívo Toio1 Bouhsúouorv eu, zangada contra quem sopesa tudo,
Ex9pa SE yatas xoipávorç xaBbtorapnas 875 avessa a quem comanda este lugar 875
mócer 8”, Og Nuiv Opã Ta cuupopúTara, e ao teu marido, sábio no que faz
Yúuaç TÚpavvov Kai Kactyvitouç TÉKvOLÇ a ti mesma, casando com princesa,
ênoiç pureúcov; oux aranhaydncopar mãe dos irmãos de quem és mãe! À cólera
Qupot; ti rráo yo, Vedv TropiCóvicv KaNdic; não cede? O deus é prestimoso e sofres?
ou eioi pév por Traiõeç, olda 8 yBóva 880 Não te é familiar o exílio? E os filhos? 880
peúyovtaç huág xoi omavitovraç piAmv; Desconheces o preço do vazio
tadr” Evvondeio” noBóunv aPouliav de amigos??. Vislumbrei, no automergulho,
moMANv Exouoa Kai párnv Oupovuévn. a estupidez do meu ressentimento.
vov ouv êrcavô, ooppoveiv T' Euoi doxeiç Me apercebo do quanto te preocupas
KBdoç TÓd” Auiv mpoohoBav, Eyão S” Appov, ses em nos propiciar parentes nobres. 885
| xpijv peteivar Tóvde Tv Bovkeupáreov, Errei ao me excluir do plano, ao não
Koi Euprrepaíverv, Kai mapeotávos Xéyei colaborar, ao não servir a noiva,
vúLpny TE Kndevovoav NdecOa cédev. sorrindo à beira-leito. Somos como
AN Eouêv oióv EopEv, OUK Ep) Kaxóv, somos. Mulher não é um mal; direi:
yuvaixeç: oxouv ypijv o” óporoto dar Kaxoiç, 890 tão só mulher. Não queiras ser igual | 390

104 105
ouO” dvrireiverv vá” ávTi unico. no mal, opondo a minhas criancices
maprépieoda, Kai pauev Kaxóç ppoveiv criancices. Assumo meu equívoco,
tóT!, AN Gueivov viv BeBodkeupor Tóde- agora que aprimoro meus projetos:
6 Téxva téxva, delte, Acirrere otéyas, vinde, filhos, saí da moradia,
EEENOET”, dO TTÁCAODE Kai TIpoGeiTarE 895 num abraço, saudai junto de mim 895
marépa ped” huódv, Koi dioAháyOnd” ápa Jasão, não mais alimentando ódio
This mpócBev ExOpaç Ec pihouç unTpõç pétar contra quem tanto amamos: a concórdia
omovôai yáp Npiv Kai pedéoTnkEv yóÃoç. reina em lugar da prévia discordância.
Aápeode yeipoç SeE1&ç: oíuo!, Kao Tomai sua mão direita (posso ver
& Evvoolia dh TI TON Kekpupuévoov. 900 a ponta da catástrofe. Ai de mim!). 900
dp”, do TéKV”, ota Koi mrokbv Códvrec ypóvov Terei o afago, filhos, deste abraço
piAnv ópéBer olévnv; Tádaiv” Eyó, ao longo do viver? Tristeza! O medo
WS Apridaxpúç eij xai pópou tihéa. se me apodera em meu afã de pranto.
xpóvap dE veikoç TraTpóç êEarpougévr Não mais sujeita à briga com o pai,
dytv Tépeivav Tjvô” Emânoa Soxpúcov. 905 meus olhos, dóceis, mal contêm as lágrimas. 905

XOPOZ CORO
Kagot Kat OGU YAwpov vppyOn Sdxpu-
> “ a” x F 4, Z

De meus olhos decai o pranto lívido.


Kai um TrpoBaim peicov À TO vôv Kaxóv. Que a progressão do mal aborte agora!

IAZON JASÃO
aivô), yúvai, TÁS”, OUB” Exeiva pégupopon- Sou só louvor, mas não desdenho o que antes
EiKOÇ Yap Opyaç ru rroteiodar yévos, pronunciaste, pois é normal a fúria
Yápoug Tapeprrokóvioç 4Ahoiouç, TrógeL. 910 se núpcias de outra ordem se oferecem 910
SAN" Eg TO ADov COv peléoTIKEv Kédip, ao marido. Teu coração, maduro,
Eyvoog dE Tv vikáoav, SMA TÁ xpóvip, se metamorfoseia: vês quem pensa
Poulfv: yuvaikós Epya tata osppovoc. melhor, sinal de sensatez. O pai
upiv Sé, traideç, ouk Appovriotoç TaThp não carece de lucidez, meninos,
mov EOnxe ouv Beoiç owrnpiav- 915 e um nume nos reserva a luz no epílogo: 915
olHoL Yap Una TfodE yiig KopivBiaç pressinto que encabeçareis Corinto
TA prt Eceodar uv kaory viro mn. com os irmãos. Crescei, que eu cuidarei
“SAN auEáveode: rTólha 8” EEepyálera do resto, se os olímpios não me negam

106
mathp Te xai dedv SoTiç EoTiv elpeviç: favor assim... Que eu possa ver meus filhos
ido 6" Upãç eurpageiç HBnç Téloc 920 fortalecidos quando surja a rusga, 920
podóvras, ExBpásv Tódv êpddv Urreprépouç. robustos, caso um pústula me açule!
aún, TÍ xAwpoiç daxpúorç TÉYYEIÇ Kópaç,
Por que desvias o rosto fantasmal
oTpéyaca Aevkiv Eptradtv mapniõa,
e o rio de lágrimas empapa as pálpebras?
Koux acuévn Tóvô” EE éuoi déyn Aóyov;
Minhas palavras surtem teus soluços?

MHABIA
MEDEIA
OUGÉV. TÉKVGOV TOVO” Evvoougévr Trépi.
, * / my “ *

925 Não. Eu pensava só nos dois meninos. 925

IALZQN
JASÃO :
Oápoer vuv: eu yãp TOvê” Eyio Ojo Trépi. Não te preocupes: zelo pela dupla!
MHAEIA MEDEIA
ôpáoa tTÁS”- oúror goiç amooo Aóyorç: Longe de mim descrer, mas é do sexo
Yyuvr dE OfAu Kámi daxpúoi épu. frágil ser vítima do mar de lágrimas.

IALON
JASÃO
Ti dira Mav tToiod” EmorTéveiç Téxvorç;
Por que te agita tanto a sina de ambos?

MHAEIA MEDEIA
ErikTOv QUTOÚÇ: Cijv 8” &r” EEnúxou téxva, 930 Sou mãe; ao lhes rogares sobrevida, 930
EomAdé pº oiktoç ei yevágerar Táde.
doeu-me a incerteza do destino.
SAN” dvrrep oúvex” eiç EnoUg Hxeiç Aóyouç,
Mas falta eu te dizer outros motivos
T pêv Aékextou, Tódv 6” Eyéo punoBjcopas. por que solicitei tua vinda. Ao rei
ErTEL TUpÁVVOIS YRç |” Arrooteikar Soxei- convém o meu desterro, algo bastante
Kágioi TáS” Eoti APoTa, yry voo KaXóe, 935 compreensível: eu seria um óbice 935
púr ErodcÓv cor páre Korpávois yBovoç aeleea ti também, ficando aqui,
vaieiv: Box yáp Suopevig eivar Sóporç: pois o estigma de hostil o trago em mim.
Apis pv E yiig TOS” ámapoúpev quyi, Eis a razão de abandonar Corinto.
maideç 6º Srag Av Extpapõor oij xepí, Depende só de ti que os filhos cresçam.
“aitoU Kpéovra Tijvõe |) peúyerv ySóva. 940 Pede a Creon a suspensão do exílio! 940

108
109
JALON JASÃO
OUK oiô” &v ei trsicar, repão Bea SE pá.
> gy 2.3» > 4 o . ,

Verei se posso persuadir O rei.

MHAEIA MEDEIA
ou 8º AMA orv Kékevcov aireiodar marpõe Quem sabe a intervenção de tua esposa
Yuvaixa troidaç THvõE pn qeúyerv yOóva. não demova Creon da decisão.

IAZON JASÃO
HáMoTa, Kai mretoetv ye BoBáicw oq” yo. Boa ideia! Sei bem como a convenço.

MHAEIA MEDEIA .
elmep yuvarKáv ori TOv AAAwv pia. 94 Se não difere de outras de seu sexo. 945
cuhnyonar dé ToUdé Goi Káye iTóvou: Mas não me furto a te prestar auxílio,
Tp Yap auri BOp' & xadhioreveros pois ela obtém de mim a rutilância
TO viv Ev AvOporo1v, OS” Eycó, Trodú, dos donaires: o peplo esvoaçante
lhemróv te mérrhov Kai TÃókov ypucijiarov] (carro-chefe da moda entre as mulheres)
toidas pépovraç. SAN" Soov Táxos Ypecov 950 e a grinalda, tecida em ouro. Eudêmone, 250
Kógpiov Kogílerv Selpo mpootrókcyv TIvá. não é dona de um bem, que os tem inúmeros:
eubopovigei 8” ob Ev, AMA pupio, desposa um homem que sopesa tudo,
avôpós T' apistou cod Tuyoio! Sueuvérou e o adorno cujo dono foi o Sol,
kexTNpÉvI TE KÓCHOv óv TOO! “Hrog meu avô, dádiva dos seus, lhe oferto.
TATPÕÇ TaThp Biômorv ExyóvoLorv oiç. 955 Que um servo apanhe o cosmos dos adornos! 9255
AdtuoBe pepvãç tácõe, traideç, éc xépas
Kai tj TUpávvo paxapia vp dóre (Aos filbos]

pépovreç: obto1 Spa peprrã SéEeton. Toda atenção, meninos, ao levardes


a joia nada pífiaà noiva altiva,
meu brinde ao vínculo que se anuncia!

IAZON JASÃO
18,6 paraia, TAVÔE CAÇ Kevoiç Yépaç; Tola, por que frustrar tuas mãos de dons?
doxeiç orraviteiv Sopa Bacikerov rériiov, 960 Imaginas que ao paço faltem peplos, 960
doxeiç 8 ypucoU; cóce, tj Sidou Táde. , ouro? Mantém contigo teus adornos!

110 141
eiTIEp yAp HO GELO AÓyou TIVÔC Se a noiva me reserva alguma estima
Yyuvh, mrpobios ypnuáteov, cáp” old” &yó. é por querer-me mais do que ao metal.

MHABIA MEDEIA
HM pot oú- steiderv dópa Koi Beoug Aóyoç: Erras: dons dobram deuses,*? Ouro vale
Xpuooç dE Kpetcowv pupiwv Aóy cv Bporoiç. 965 mais à gente que um rol de boas razões. 965
xetvnç à Soto, xeiva viv aúger deóc, Tem boa estrela: um nume agigantou
véa TUpavvei: Tódv O EnGdv TIALÔGV puydç a neoprincesa. À vida empenharia
yuxiiç dv SAaBoined”, ou ypucoi póvov. e ouro para poupar do exílio um filho.
SAN, O Téxv”, eloeNBóvre TÃovoiouç SÓpoug Entrai no lar dos plutocratas, filhos,
TLATPÓÇ véav yuvalixa, deorrótTiv 6º Ev, 970 pedi à noiva de Jasão a re- 970
ixetever”, EEarteiode ph peúyeiv yOóva, versão da decisão que vos desterra,
Kócpov Sidóvreç, TOUÔE Yap páMoTa dei, dando-lhe o cosmos dos adornos. Eis
Ec xeip” Exetvnv Spa SéE ao dar Táde. o capital: que suas mãos os colham!
10 oc TógroTa: prrpi 8 dv Epã tuxeiv Rápido! E, no retorno, anunciai
euóyyehor yévoiode rpáEavreç Kalóc. 975 “o cumprimento, anjos, do meu sonho! 975

[Saem Jasão, o servo com os presentes e os filhos]

XOPOz CORO
vUv Exirideç oukéTI prot TIALDwV Cóar, Este, 1
A 3 4 1 L 4, Z
Deixei de crer na vida dos meninos. Estr. 1
oukéTI: oTeixovOL Yap Ec póvov Hôn. Deixei de crer: a via é do assassínio.
déEetor vúipa ypucémv àvadeo|dv Nas mãos da noiva o diadema de ouro;
déEetar duo TAvOÇ áTav: em suas mãos — tristeza! — a ruína.
Eavdã 6” api Kópiga Bros Tóv Arda 980 Depõe no louro dos cabelos 980
xócpov aúTa yepoiv. [iaBotoa]. um cosmos, adorno do averno.

meicei xápiç àuBpóoróç Tº aúya mériov Ant Sucumbe ao sutil, ao brilho ambrosíaco, An
Á / > 4 / x A

xpucóteuktóv Te orépavov mepidécdau- e veste o véu, a gala da guirlanda,


veptépoiç 6 Hôn Tápa vupupokogúgeL. 985
4, , 4 4 /
e entre sombras a noiva se emaranha. 985

42 Dito popular presente também na República, HI, 390e, e no Alci-


bíades, H, 149.

112 113
Toiov Eiç Épkoç meceiTaL À triste se entrama e tomba
Kai poipav davátou Súotavoç: &rav na sina sinistra. De ate, a ruína,
oty UrTexpeúBETON. 990 não escapas. 990

x » 3 Z x + x 4
ou 8º, & TÁÃaV, 6 KaKÓVUNDE KNnDepCDV TUpávumv, Estr? Nulo noivo, elo torvo Estr. 2
TIQLCIV OU KaTELOGÇ com reis,
SheBpov Brotã tpocáyeiç Ahóya aos filhos conduzes, sem sabê-lo,
TE GA otuyepov Bávarov. a vida esvaída,
SuoTave, poipaç Scov Tapoiyn. 995
4 L “ +,

tânatos tétrico à esposa!


Imenso o recuo da moira!

peraotévopos dE cdv áhyos, & Táloiva moidwv ame? Lamento a tua dor, ó miseranda mãe! Ant. 2
HáTEp, À poveúgeiç Matarás os meninos
TÉRVA vunQIÔLwv Evekev Àexécov, por nódoa em teu nicho.
& Go1 Trpokirev Avópicoç 1.000 Malogra a lei: o marido a troca 1.000
ag Euvorkei rróoiÇ ouveúvep. por mulher de outro logradouro!

MAIAATOTOE PEDAGOGO
déotTro1v”, Apeivta traideç otde cor puyiis, O desterro não mais ameaça a dupla,
roi Spa vúnpn Baothig douévn xepoiv e os presentes, a noiva satisfeita
EdéEar'- cipivn dE táxeidev téxvolç. os recolheu. Há paz pata os meninos.
Ea: Ei!
Ti ouyyudeio” Eoryxaç ivix” curuyeis: 1.005
. so > 47 t L : , mo

Desde quando o sucesso anuvia? 1.005


[rt onv Expeyaç Eutadiv trapnida Por que desviar o rosto,
Koux Gopévn Tóvô” EE êuoU Séyn Aóyov;]
A + Z 2 23 2 a L 4

soçobrar à notícia?

MHAEIA MEDEIA
aioi. Ai!

MAIAAPOTOE PEDAGOGO
TáS” ou Euvwda toiorv EEnyyeÂuévorç. Reages com tristeza à novidade?

114 115
MHAEIA MEDEIA
aiai uóN” qui. Aa!

[AIAAFOTOE PEDAGOGO
Hóv Tiv! Ayyécov TUxnv Do revés sou núncio involuntário?
oux oida, S6Eng 8º EcpdAnv evayyédou; 1.010 Erro? Trago notícias negativas? 1.010

MHAEIA MEDEIA

iyyethaç ot Tiyyeihaç: ou cê pépponon. Mensagens são mensagens. Não te inculpo.

IIAIAATOFOE PEDAGOGO -

Ti dai xarnpeiç ôpua Koi daxpuppoeig; Por que declinas o olho raso d'água?

MHAEIA MEDEIA

TOM |" àváykn, TpéoBu: tatta yap Beoi Não é por mero acaso. Calculando
Kay Kaxóç ppovolo” Eunyavncápny. errado, deflagrei (e os deuses) isso.

NAIAATOQTOZ, PEDAGOGO
Oápoer KáteL TOL Kai OU TIpOÇ TÉKVCOv ÉTL. LO1S Teus filhos hão de propiciar tua volta! 2.015

MHAEIA MEDEIA
SAhouç xatóEmw trpóodev 1 TAÃaLv' yo. Esta infeliz guiará outros abaixo.

[IAIAAPOTOE PEDAGOGO
OUTOL HÓVI OU GGdv AmeGUynç TExvov: Das mães os filhos se desencabrestam.
Koúpws péperv xp Ovirov Ovra cuppopáç. E do homem suportar sensaboria.

MHAEIA MEDEIA
ôpáom TáS”. MA Paive Swpáruv Fo Não me furto ao destino; cuida que ambos
Kai TIALOL TÓpouv' ota xpn KaB” Quépav. 1.020 aufiram o que o dia-a-dia dite. 1.020
O TÉKVA TÉKVO, OpÓdv pév EoTI 8 TTÓMIG De morada e cidade, filhos, não
“mos so * í 3 4 1.4
Koi Sp”, Ev qp, Amóvreç ADALav Epté, carecerá nenhum dos dois, ausente

116 117
oikjger” aii unTpOÇ êoTepnuévor- a mãe, após o adeus carpido. Vou-me,
êyio 8” Eg AAnv yoiav ei 8n quyác, andarilha de incertas geografias,
BA * 23 x” ms gy a 4

Tpiv opóv óvácda Kômibeiv cudaipiovaç, frustrânea na visão do regozijo, 1.025

mpiv Aéxtpa Koi yuvaika Kai yapinÃouç sem lhes doar adorno para o leito
eUvAÇ AYijÃo Aaurádoas Tº avaoyedeiv. nupcial, sem soerguer a tocha ao céu.
w Suotódorva Ti êuTiç aúdadiaç. Quanta soberba a deste ser transido!
3 id sa 3 ma > 4

Ea 23 € mm Pos 15 .
SAws &p” UNôg, wo Tékv”, EEcOpeyágny, Nada valeu, meninos, meu empenho,
&Ahwg 6 Enóydouv xai xareEávônv iróvoiç, nada valeu sofrer as convulsões
2 2) L " L +
1,030 1.030

OTEppaÇ Eveyxovo” Ev TókOIÇ ANyndóvas. doloridíssimas do parto. Sonhos


” 2, + & 2 9” 3 4
n púv 708" 1 SuoTnvos eixov Extridaç inúteis que nutri ao vislumbrar
TOAOS Ev UNiv, ynpoBooknosiv 7º êjê nas crias meu amparo na velhice,
x > € nm . 253 "

Kai Kardavolcav yepoiv eu meprotedeiv, apuro em ritos funerários — ápice


Unhwtov avôparmo viv O Sie d1) 1.035 do que pode sonhar quem vive! Ai! 2.035

YAuxeia ppovriç. opáv yáp Eotepnuévr Morreu-me o doce plano sem os dois,
Aurpóv SidEw Biotov akyeivóv T' éjioi. resta a amargura, resta O dissabor,
vpeiç Se untép' oukér' Guypaorv pihoiç sequestrados de mim os olhos rútilos,
óyeoO”, Eg 4AÃo oxmj” Amootávreç Biou. distantes noutra forma de viver.
» 3 > ” so Is “ A

peu pel: Tt mrpocdépreodé |" Ouuaorv, Té Vas 1.040 Por que cravar em mim o esgar ambíguo? 1.040

Ti WpOCyeÂáTE TOV TIAVÚCTATOV YÉLV; Por que sorrir-me o derradeiro riso?


aiod: TE Opáom; Kapõia yàp olyetar, O que farei? Sucumbe o coração
Yyuvalxeç, duna parôpov dg eLdov Téxvmov. ao brilho do semblante dos garotos.
ouk dv Suvaiunv: yorpéro Bovheúpara Mulheres, titubeio! Os planos pe-
Tá trpóo dev: GE TTAidaç EK yaiaç êpoúc. 1.045 ticlitam! Vou-me, mas com meus dois filhos! 1.045

TÍ DEL pe TTATÉPO TOVÔE TOIÇ TOÚTCOV KatKOIÇ Prejudicar trianças em prejuízo


Autotoav aútiv Sic Tóca KTão dar Kaká; do pai não dobra o mal? Fará sentido?
ou Sr Eyoye: xorpérco Povkeúpara. Comigo não: adeus, projetos árduos!
Kairot Tí Tróo 0; Boúkopau yélor! ópheiv O que se passa em mim? Aceitarei
ExOpouç uedeica TOUS Epovç ACnptouç: 1.050 o escárnio de inimigos impunidos? 1.050

toduntéov TAS”. AMA TAG ÊnTic Káxnç, Que infâmia ouvir de mim reclamos típicos
TO Koi trpocécda paldaxovç Adyouç qpevi. de gente frouxa! Ao rasgo de ousadia!
xopeite, tTaidEç, Eg dOpOuç. Org dE UT Para dentro, meninos! Se a lei veta
Gépnç Trapeivor Toiç notar Ovpaorv, a presença de alguém no sacrifício,

118 119
aut pelúcer yeipa 6º ou diapõepo. 1.055 não é problema meu. O pulso agita-se. 1.055
à a. Ai!
pn Siyra, Oupé, pm oÚ y” Epyáon táde- Deixa de agir assim, ó coração!
ÉQCOV aÚTOÚÇ, & Tódav, eloa TEkK VV: Não queiras, infeliz, punir os filhos!
êxei neO" Muóv Cóvreç euppavoloi og. No exílio, o bem se aloja em nosso espírito.
Há TOUÇ TIAp" “A1ôn veprépouç AldoTopas, Ó vingadores do ínfero, alástores!
oútor troT" Éotar TOUO” Grrwç ExOpoiç éyãs 1.060 Está para nascer alguém que agrida 1.060
Taidaç Tapio TouÇ énovç KaduBpicas. um filho meu! Se ananke, o necessário,
imáviwç op” aváykn Kordaveiv: êrtei dE ypi, impõe sua lei indesviável, nós
hueiç Ktevoúnev ottep EFepuoauev.] daremos fim em quem geramos. Não
TÁVIGÇ ÉTIpOKTOL TAÚTA KOUK Expeúgerar. existe escapatória ao prefixado.
Kai 69 “mi Kpori otépavoç, Ev rrértÃo1o1 OE 1.065 Coroada, a noiva vestirá a túnica 1.065
vULPI TÚpavvoç SAurar, cp” ob EyO. — eis algo certo — e a túnica a aniquila!
SAN, eiju yàp 61 TÂnpoveotátnv ó5óv, Como a senda a que vou é sinistríssima
Kai toúode TrÉpiyco TÂnHOveoTÉpav Eri, e lhes destino via mais sinistra,
traidaç mpocermeiv Boúkopou- dór', & téxva, desejo lhes falar: deixai, meninos,
dor" dorrácacdor untpi SeErav xépa. 1.070 que a mãe estreite a mão direita de ambos! 1.070
ê pritáTn xetp, piAtatov Sé por otópa Quanto amor pela curva desses lábios,
Kai OXÍua Kai TIpÓCawTIOv Elyevêç TÉKVOOV, quanto amor pelo garbo, porte e braços!
eudornovoitov, SAN! éxei- TA 6 EvOddE Felicidades lá, que aqui o pai
mathp àgeiker”. & yAueia mpooBohá, vos sonegou o regozijo! Doce
O poABaxoç xpoç trveúpá 9º FStotov Téxvoov. 1.075 abraço, rija tez, arfar de brisa! 1.075
xopeite xopeir'- ouxér” eim trpooBhérrerv Dobrou-me o mal, mirar os dois não é
oia te Trpoç VLAcT, AMA vixópiar Kaxoiç. possível: ide, entrai! Não é que ignore
Koi povbáveo pêv ota Spáv pólo Kaxá, a horripilância do que perfarei,*?
Qupoç SE xpetoowv Tv EnGov Boukevpáreov, mas a emoção derrota raciocínios
ÓOTEp pEyioTOv aÍTIOÇ Kaká Bpotoiç. 1.080 e é causa dos mais graves malefícios. 1.080

*3 Para alguns comentadores, haveria neste verso mençãoà doutrina


socrática, mais especificamente à afirmação de que nenhum homem prati-
ca o mai conscientemente. Ver posfácio, pp. 172-3.

20 121
XOPOZ COROS

troAháxis Hôn Em inúmeras ocasiões frequentei


dia Aerrrotépmv pubcv Eptohov debates não restritos ao círculo das mulheres;
Kai mpoç Gpidhaç MAdov peiZouç não fui imperita no palavreado sutil.
N xpn yevedv ORAuv Epeuvãv- Reivindico para nós o convívio da musa 1.085
MA yap Eoriv polca Koi újiv, 1.085 que nos aprimora a ciência,
n mpocopkei coptaç Evexev, de uma fração de nós...
“TágeIo: êv ou: Taúpov d€ T1 ON) Na vasta galeria de tipos femininos,
Yévoç Ev TTOAÂaiÇ eupoiç Av Towç talvez encontres um exemplário diminuto
OUK ATIÓHOUCOYV TO YuvarKáv. que não pareça ser avesso à musa.
«aí qn Bporásv oitivéç eiorv 1.090 Afitmo que 6 júbilo dos não-procriadores 1.090
TIÁpITTOV GrreipOL NÓ” Epútevoav supera o da parcela que reproduz.
TICÃÕAS, TEPOÉpELV EIÇ EUTUYiav Os primeiros, solitários de filhos,
TODV yELVONÉVOV. ignoram, por não os terem,
oi Hév Grekvor Ot rretpocuvnv se é aprazível ou penoso tê-los,
eto” nôu Bporoiç elit” aviapóv 1.095 livres de multiagruras. 1.095
moideç TeXédOVO” OUyi TUYÓVIEÇ Em domicílios prolíficos de prole,
TOMO v Hóydmv dméxovrar- dou-me conta da desmesura dos cuidados
oiot SE Té vaov EoTIv Êv OikoIÇ em que se desdobram:
yAuxepóv Bidornp”, Ecopód pehéry qual o cardápio da dieta mais balanceada? 1.100
KaTATPUXOHÉVOUS TOV GrIavIA YpÓvov, 1.100 Como poupá-los da fatalidade do risco?
rpóTov pêv órrwç Opépouor Kakdiç Dedicam-se à gente merecedora? |
Biotóv 9º óróBev Aeipovor tékvolç- Sucumbem aos sórdidos?
Em éx toúreoy elr” Emi phaúpoiç Eis algo esvaído de certeza.
et" Emri XpNOTOIÇ Um mal tem primazia:
noxdouor, Tó EoTiv Gônhov. em pleno gozo da vida excessiva, 1.105
Ev OE TO mávIov AoiaBiov Ron 1.105 o físico aflorou ao ditame de Hebe,
mãov Katepó Ovnroior xaxóv: generosidade não lhes faltou,
xai 81 yap SMig Biotóv 9º nupov
*4 Como escreve Mastronarde, “o que é notável é o contraste entre
a angústia e a tensão do monólogo de Medeia e a relativa calma e deslo-
camento da intervenção coral”.

122 123
copá T” Eç HBnyv HAudE téxvcov mas, se acaso a sina o determina,
xpnotoi 1º Eyévovr”- ei de xuphcar Hades ou Tânatos Lito

Saiuwv oúTco, ppotdoç Eg “Aiônv 1110 sequestram corpos infantes.


Bávaroç Trpopépwv owpara TExvov. Haverá algo positivo se,
Tódg oUv Aúei TTpOç TOIÇ SNÃoiÇ em acréscimo aos demais,
TAvO” Eri Aúminv âviaporátnv o revés pesadíssimo
Tratdmv Evekev os deuses arrojam contra os homens
Avnroior deouç EmpáNherv; 1.135 na encarnação dos filhos? 1,115

MHAEIA MEDEIA
pihar, TTÁÃOL TOL TIpOCnÉVOUCA TV TÚYTV Inquieta-me, amigas, ignorar
Kapadoxô tóxeidev oi mrpoBicera. | o que sucede lá. Pareço ver
xai ôm dédopra Tóvõe Tóv Tácovoç um servo de Jasão, cuja expressão
oteixovr” órraddsv: trveúpa S' Apediouévov esbaforida prenuncia algo
DeikvuCLV GG TI KOIVOV AY yEhEi Kaxóv. 1.120 gravíssimo que está para contar. 1.120

[Chega o mensageiro]

AITEAOE MENSAGEIRO

do deivôv Epyov Tapavópmç eipyaopévn, Ó factora de um feito inominável,


| Mndeia, pelye pelve, pre voitav foge rápido! Não rejeites carro
Aimoto” &múvnv pfr' óxov medoonBi. marinho, nem, por terra, outro veículo!

MHAEIA MEDEIA
Ti 8” SEróv poi TÃodE Tuy yávei quy do: Por que devo partir abruptamente?

AFTEAOE MENSAGEIRO
SAmhev 1) TÚpavvos Apriwç Kópn 1.125 Teus fármacos mataram a princesa 1i2s

Kpémy 9" 6 quoas papá Tv cv Úrro. e seu pai, ex-tirano de Corinto.

MHAEIA MEDEIA

xóAMortov eiraç uUdov, Ev 6" euepyétaiç Tal é o dulçor de tuas palavras, que eu
TO Aorrrôv Hôn Koi piÃotg ênoig Eom. me apresso a te incluir entre os diletos.

125
AITEAOZ MENSAGEIRO
TT ps: ppoveiç pev ópda Kou paívn, yúvai, O quê? Gozas de lucidez? Deliras?
RtLç, Tupávuoov EoTiav kLopiévi, 1.130 Ris de o solar ruir por tua causa . 430
xeipeiç KAúouoa xou poBt] TA ToLÁdE; tão somente? Não te apavora o caso?

MHAEIA MEDEIA

ÉxO TL KÁYyO TOIÇ ye Coiç Evavriov Me custaria pouco rebater


Adyototv eimeiv: AAA pm oTrépyou, piÃos, teus argumentos, mas relata de-
AéEov dé TAG MÃovTO; Óig TÓGOV Yap &v moradamente os últimos suspiros:
TépyeLaç Nuáç, ei tebvãoL TIAyKáK GS. 1.135 o fim funesto aviva-me o prazer. 1.135

AITEAOE MENSAGEIRO45
Emei téxvov códv HAD dirrTuyoç yovi]
> .. as % 4 x
Tão logo os dois meninos ingressaram
ouv TrOTpi Kai mrapRAde vuppixouç Sópouç, na câmara da noiva com o pai,
NoOnpev oírrep coig êxápivoptev Kakoiç fâmulos, jubilamos, pois sofríamos
ôpúeç: Ot cotwv 6º eúBUc fjv TTOUÇ AGyoç por ti. Muitos rumores davam conta
GE KOI TTÓOIV GOV veikoç EorreioBa TO mpiv. 1.140 de que acabara a briga conjugal. 1.140
Kuvei O” O pév tig yeip”, O de Eavdov Kápa Alguém beijava a mão, alguém, os cachos
a 2 ex + me 1 t ” s L

maidwv: Eyoo dE Kauroç Noovij Úrro louros da dupla. Mal contive o ardor,
OTÉYOS Yuvaikôv ouv TéxvoIS Su” EomTópny. quando os introduzi no gineceu.*é
Séotova 5" Av vuv ávri coy Bavpálopnesv, E a dama a quem passamos a servir
Tpiv pv téxvoov oúv elordeiv Euvopida, 1145 no teu lugar, mirou Jasão, sem fôlego, 1145
mpóBvnov
Z
eix733 ôpBakuovx eiçPsp Tágova- .
mas quando viu teus filhos no recinto,
EreiTa pévrOl TTpoukodvyar” Suuara cobriu os olhos e virou o rosto
Aevkúv T' améorpey” EuttaMv trapniõa, branco, evitando o ingresso dos garotos.

45 A força expressiva do relato do mensageiro decorre de vários re-


cursos, entre os quais: o uso da primeira pessoa do singular (versos 1.142-
-3, 1.222, 1.224-5) e da primeira do plural (1.138, 1.203); reprodução da
fala de outros personagens (1.151-5, 1.207-10); imagens e comparações
(1.187, 1.200, 1.213).
46 Q servo, em estado de júbilo, esquece que o gineceu era um espa-
ço exclusivo das mulheres.

126 127
maidwv pucoydeio” cigódouç: TTÓGIÇ OE GOÇ Jasão achou por bem mudar o mau
. Ma : 2 L 4 “ *"

ôpyás T' Apúper Koi yohov veávidos, 1.150 humor da noiva contrariada: “Evita 1.150
Méycov tád'- OU pr Suopevhç Eony pihoiç, hostilizar amigos e não volvas
mavúon dé Oupol Kai máMv oTpépeiç Kápa, teu semblante! Não tenhas desamor
pihouç vouitouo” ovorEp &v tróoiÇ cédev, por quem o teu marido tem amor!
dEm dE Spa Kai TIAporTÃON TrATpÕE Aceita essas relíquias, pede ao rei
PuYaç Apeivor TIMOi TOLOS”, EuTv yáprv; 1155 a revisão de seu edito exílico!”, 1.155
16", dg Eoeide xócuov, oux ivéoyeTo, Ao contemplar o luxo, convenceu-se
GAN" fiveo” ávôpi Trávra, xai Trpiv éx Sópumv
3 > d* >> x 2 x N t 4

a conceder o que Jasão pedisse,


poxpav àrreivor Trarépa Kai troidaç cédev e, antes de o grupo se ausentar, tomou
Aopotoa rrérrhovç totxiÃouç Auméoyero, da túnica ofuscante e a vestiu;
xpucobv te Deica otépavov àppi Bootpúyorç 1.160 depôs nas tranças o ouro da guirlanda; 1.160
Aaurrpó Karórrpw oxnparilerar xópnv, devolveu, ao espelho, os fios rebeldes;
GpuxOv ELkl TIpOOYyElDOS GOpaTOS. exânime de sí, sorriu ao ícone.”
Kárrerr” avaotão” Ex Bpóvwv diépyetar Não mais no trono, cômodo após cômodo,
otéyas,
vas, àBpov
àBp Baivovoa a tTalheú
taAÃeúk
a TrOôt,
õf equilibrava os pés de tom alvíssimo,
ômporç Urepyaipovoa, TOM TroAháxig 1.165 sumamente radiosa com os rútilos, 1.165
tévovr” Eg ópOov Sujiaor ckomoupéva. fixada em si às vezes, toda ereta.
touvOévôs pévror dervov nv Oéap” ideiv: Eis senão quando armou-se a cena tétrica:
xporav yap dAiáBasa Xexpia tráMv sua cor descora; trêmula, de esguelha
xopei Tpépovoa Kia «ai póMg pOáver retrocedia; prestes a cair
Opóvororv Eutecoúoa py xapoi meceiv. 1.370 no chão, encontra apoio no espaldar. 1.170
Kai TIÇ YEpolá TrpoortóAmwv, SóEadá TTOU Supondo-a possuída por um nume,
n) Mavoç ôpyas 1 Tivoç Bedv pokeiv,
3 a 2 “ 2 ad EA

quem sabe Pã, a velha escrava urrou


avehóluEE, mpiv y' ópã Sia otóga
5 4 4 > € ad " id

antes de ver jorrar da boca o visgo


xopouvra Aeuxov áppóv, dupárTmv 7º Giro leitoso, o giro da pupila prestes
KÓpaç oTpépouoay, aigá T' ouk Evov ypoí: 1.175 a escapulir, palor na tez. À anciã 1.175

47 O verso original destaca-se pela ambiguidade, antecipando, na


imagem “sem vida” no espelho, a morte da princesa: &yuyov fix6o tpo-
oyehâoa cóparos, “sorrindo à imagem sem vida de seu corpo”. Para
comentários adicionais, ver posfácio.

128 129
eir àvripoliov ixev Ohohuyig Héyav delonga o estrídulo num contracanto;
KokuTÓv. EUDUÇ O” 1) pev Éç TIOTpOÇ SÓpouç à morada do pai corre uma ancila,
OpunoEv, 1) ÔE TLpOÇ TOV ApTiGç TTÓOTV, enquanto alguém do grupo busca o cônjuge,
ppácovoa vÚLpnç cuLipopáv: &rraca dE para deixá-lo a par do acontecido.
oTéyn TIVKvOLO1v êkTUTTEL ôpapnpoorv. 1.180 No paço ecoa a rapidez dos passos. 1.180

ôn 6 fávéleov] KúÃov ExrÃéOpou Spópou Um viajor ligeiro, alçando a perna,


taxus BadioThg Tepuóvov TavOimrero?- já atingiria a meta ao fim do estádio;
n 6" EE avaúdou Kai púcavroç Suparoç assim o triste ser gemente abria
dervov otevóEao” f) TáloLv" Myeipeto. os olhos no retorno do silêncio.
BimhoUv yáp aúri th Emeorparedeto: 1.185 Duplica-se o penar de sua investida, 1,185

XpucoUç pêv GuQi Kpari xeiuevoç TTÃÓKOS pois o ouro do diadema sobre a testa
GaupaoTov Ter vaga Tappáyou Tupóç, em fogo panvoraz se liquefaz;
TIÉTIÃOL OE ÃETTTOL, GÓDV TÉKVGOV ÔWpÁuaTA, o peplo lindo, oferta dos meninos,
Aeuxiy Edarrrov cápxa TÃÇ ducdatnovoç. roía a carne branca da desdêmona.
peúyer 5” avaotão” Ex Opóveov trupoupiévn, 1.190 Pula do assento, foge em labaredas, 1.190

cElouca yaiTnyv Kpatá 7º 4Ahor' SAÃoos, no agito das melenas: quer tirar
pipas Gékovoa otépavov: AN” apapóreg a guirlanda, mas o ouro se enraíza
cúvôeoua ypucôç elxe, mUp O”, Emei «óunv e o fogaréu, assim que ela revolve
EgeioE, pSAhov OIÇ TÓCmWÇ ExápTrETO. a cabeleira, dobra o luzidio.
mitvei 6” êç oUdOS cuLpopã vixaonévn, 1.195 Quem reconheceria o ser rendido 1.195

Any TO texóvii kápra duouaBnç Ldeiv- ao chão, exceto o rei Creon, seu pai?
or” dupárTwv yãp Sijhoç v KaráoTaoig Nem a forma dos olhos era clara,
out” EUQUEÇ TpÓCwTIOV, cipa 6º EE Gkpou nem os traços do rosto; seus cabelos
EOTACE KPOTOÇ OUpTEpUpuÉVvOv TIUpÍ, vertiam fogo rubro gota a gota.
cápxeç 8” àrr” doTécov GoTE TEúkIVOv Sákpu 1.200 Oculto, o fármaco remorde e afasta 1.200
yvadpnoiç 4SnÃotç papuákv arréppeov, carne e osso, qual pinho lacrimoso.
Sesvôv Géaua: Tão! 8” Tv póBoç Bryeiv Cena soez! Ninguém de medo toca
vek pol: TUYnv yap eixopev Sidáoxadov. em quem jazia: O azar é um professor.
mathp 6” 6 TAÁuwv cuupopã àyvocia “Eo pobre pai, ingênuo da catástrofe,
avo mapeldov Sopa TpooTiTver vexpo 1.205 aproxima-se e cai sobre o cadáver; 1.205

We 8” educ, Kai rrepirrtuBaç yépas abraça a filha aos prantos, com a voz
Kuvei Tpocauddv Todd «O SuoTnve trai, sustida pelos beijos: “Filha minha,

130 131
tiço” OB" aripwç dorpóveov amáeoe; que demônio infame te matou?
TIÇ TOV Yépovra TULBOv óppavov cédev Que dãimon te privou da tumba rota
TiOnotv; oipnor, cuvÔávoLut cor, Tékvov. 1.210 que envelopa teu pai? Quero ir contigo!”. 1.210
êrei dE Oprvov Koi yówv êraúcaro, Num lapso de soluços e reclamos,
xpúlov yepoiov EFavaorijoa Sépiaç quis soerguer o corpo anoso, mas,
mpoostye0” wote kioods Epveotv Sápvnç hera presa em ramagens do loureiro,
herroior mérrhorç, dervá 5º Yv radio para a túnica o retinha. Dura pugna:
O pev yáp 0X EEavaorTijoa yóvu, 1.215 lutava para contrair o joelho, 1.215
n 6 avrekáCur”. ei de mpoç Biav áyoL, a filha o impedia. Dava um tranco,
cápras yepaiag toTápaoo” dm” dotémv. dos ossos a carniça encarquilhada
xpóva 6º arméoBn Koi nediy O Búcpopoç se despregava. O pobre cede a vida,
Wuxijv: KoxoU yap ouxér! Yv úrréprepoç. aquém do poderio daquela praga.
Keivras dE vekpoi TIOÍÇ TE kal yépcov TraTAp 1.220 Cadáveres jaziam lado a lado, 1.220
télas, trodELvr, daxpúoior cuupopá. catástrofe nutriz de um mar de lágrimas.
Kai OL TO név COv ExTTOBGVv Éo TG AÓyou- Excluo do meu discurso o teu quinhão,
Yvóon yap aún Únuiaç arooTpopiy. cuja pena tu mesma hás de saber.
tã Ovnrã 8” ou vv Tpóov Nyoúpiar oxiáv, Mais uma vez constato que a proeza
oUô” Av TpÉCAÇ ElTTOL TOUÇ COpouç Bporódv 1.225 humana é sombra, e afirmo sem temor 1.225
Soxoiivraç eivoa Kai pepivatáç Adycov de errar que o homem que se arroga sábio,
TOÚTOUÇ peyioTIv pwpiav OpMoxáverv. bom no palavreado, sofre ao máximo:
Ovnródv yap oudeiç Eotiv eudoipiov ávip- não é da esfera humana ser feliz.
dABou 8" Emppuévioç cuTuyéoTEpoç Se o ouro aflui, alguém será mais bem-
Shou yévoit” av SAos, eudoigv 8” Av ou. 1.230 -aventurado que outro, não feliz. 1.230

[Sai o mensageiro]

XOPOZ CORO

éory O dai TONA TIO Ev Tuépa Um deus ditou — se me parece — o acúmulo


Kaka Euvámrerv Evôikwç Iágovi. de males num só dia contra o cônjuge.
[o TiBpov, Og cou cuupopãç oixtipopev, Nos cala fundo o teu desastre, moça
4 4 er > e 4
xópn Kpéovros, ifriç eiç “Ardou Sópouç que esvai pelo declive à casa de Hades
oiym yápov Exar Tv Iácovoç.] 1.235 por contrair as núpcias com Jasão! 1.235

132 133
MHABIA MEDEIA
pthor, Séd0KTAL TOUpYyOv Gg TÁyIOTÁ pOL
4 z 2” t £ A

Está traçado, amigas: mato os filhos


taidaç xtavoúon Tjod” apopuão da ydovóç, e apresso a fuga. Não existe um ser
Kai ph oxoMmv &yovcav Exdouvar Téxva — um ser somente! — que suporte ver
SAAn poveloar SucqueveoTépa xepi. o braço bruto sobre os seus. Não tardo:
TÓVICÇ Op” Aváyen xardaveiv: Emei dé xpy, 1.240 o fim dos dois se impõe e a mãe os mata, 1.240
NpEiç Ktevoúpev, oítep EEepúcapev. se é isso o que há de ser. Ó coração-
AN" ei” ómhicou, xapõia. ti péXhopev -hoplita, descumprir esse ato horrível,
TA deivA Kávay raia gm TEpÓooELV Kaká; se ananke, o imperativo, o dita? Empunha,
&y”, w tTálmiva yeip Eu, hape Eipoç, .
vos % 4 x >... es
mórbida mão, o gládio, e mira o triste
AáB”, Eprre mrpoç BakBida Aurrnpav Biou, 1.248 umbral de tânatos! Deslembra o amor 1.245
«ai pm KoxtoBfic Enô” avapvnoBfic téxvov, de mãe, não te apequenes! Na jornada
ms ptirtaB”, Gg Erixteç: SMA TIVE YE
f z . . ” 3 x 4
brevíssima de um dia, não te atenhas
haBou Bpaxeiav Quépav traidwv cédev, ao fato de que deles és a origem,
KGmerta Opúver: Kai yap ei KTeveiç op”, Ópaç posterga tuas lágrimas! Amaste
plhor y” Epucav: BuotTuyng &' Eyã yuvh. 1.250 quem dizimas. Funesta a moira mesta. 1.250

[Medeia entra no palácio]

XOPOL CORO
ico Tá TE Kai Traupanç Estr 1 Ó Terra, ó rútilo pleniluz de Hélio-Sol, Esu. 1
ôxtiç Achiou, Kartider' idete TAV
> " 3 A , 334 s

vislumbrai, abaixo vislumbrai


Ohopévav yuvaika, mpiv porviav a pobre mulher, antes que soerga o braço
tÉkvoiç tpoopadeiv yép” aútoktóvov: cruel, algoz de filhos!
Tod yap àro ypucéaç yovãç 1.255 Descende de tua estirpe dourada;** 1.255
EBhaorev, deoú O aipá ti mitveivt apavora que homens provoquem a queda
póBoç ur” àvépov. de sangue divino.
> . ” , 4 4
SANA viv, O pãoç Sioyevéç, KáteLp- Luzeiro ilustre, impede-a, retém-na,

48 Os filhos de Medeia são descendentes do Sol.

134 135
YE xarámauoov, EEEN' otkcov Táloiváv expulsa da morada a Erínia rubra, mísera
poviav T' "Epivuv imaláoTopov. 1.260 enviada de alástores, os vingadores!*? oC AZO

párav póxdos Eppei Téxvov, Ant.1 De que valeu penar pela prole, Aat. É
Hárav ápa yévoç pihov Erexeç, O de que valeu gerar meninos benquistos,
Kuavedv Arrotoa EupmÂnyádov deixada para trás a embocadura
merpãv dFevwrárav EoBoláv; pétrea, inóspita, cerúlea das Simplégades?
— Beata, tí cor qpevóv Bapuç 1.265 Por que o peso da cólera tomba
Xºhos mrpoorrírtvei Kai Suopevict em tua ânima 1.265
póvoç AusiBerou; na tétrica permutação de delitos?
xohemã yáp Bporoiç ópoyevi pá- O miasma dos parentes sobre a terra é insuportável,
opa” Emi yaiav, aútopóvroaç Euva dores ecoando nos automatadores, precípites
Sa GedBev tritvovr” Eri dóporç àyn. 1.270 no logradouro,
originários dos imperecíveis. 1.270

(O coro se aproxima do palácio e escuta]

HAIABZ FILHOS (dentro)


aliar. Ai!

XOPOz CORO
àxovEiç Boav AkouEiÇ TER VON; Estr 2 Ouves o grito, escutas os meninos? Estr. 2
16 TÃGpOv, O KOKOTUYEÇ yÚvar. Ai, infeliz, soturna é a tua sorte!

MIAIAEE FILHOS
— oipor, TL Opáow; Toi pÚyco unTpOÇ yépas; — O que fazer? Como fugir da mão da mãe?
— oux otô”, 4delpe piitar!: OAúpeoda yáp. — Não sei, querido irmão! Nós sucumbimos!

XOPOE CORO
mapéldo Sópouç; apra póvov 1.275 Entro no paço e impeço 1.275
doxei goi Té vOlÇ. o assassinato dos meninos?

4? Gênios vingadores que acompanham as Erínias, já citados.

136 137
IAIMEE EILHOS
— vai, TIpoç Becov, Apigar”- Ev déovti yáp. — Sim, pelos deuses, impedi! Agora!
— WE Eyyuç Hôn y” Eopêv áprúmv Elpouç. — O ardil da lança nos acerta!

XOPOLZ CORO
4 st mM 5% 4 EN
táhorv”, og &p' noda trérpoç 1) cida- Pedra ou ferro serás
pos, ÁTiÇ TÉKVGOV 1.280 para tolher da moira 1.280
Ov Etexeç Apotov auTóxEipt poipq ktTeveiç. brotos que afloram de ti mesma?

piav 81 KÁúco pay Tv TIÁpOç Ane. 2 Uma mulher apenas, ao que me consta, Ant. 2
yuvaix” Ev pihoi xépa Bodeiv Téxvoiç- uma única!,
PR E , n en x
Ivé paveicav ék Deddv, 68" 1 Aro alçou os braços contra os filhos:
Sápap viv EEériepye Owpároov An: 1.285
4 , 4 / 2.

Ino, que os numes obnubilam, 1.285


mitver O” à Tólouv! E AApuav póvao
2 2 e Z 2 & e ,
quando Hera a expede, errática, do solar olímpio.*?
téxvov duocepEi, Trucidar as crias
AxTHÇ Urepreivaca TrovTiaÇ TTÓda, custou à cruel a imersão em águas salinas —
Svoiv te mraidoLv Evvdavolo” árólhurar. pé sobrepenso em penha marinha:
Tt ônr' ou yévorr” Av Em Servóv; O 1.290 sucumbe a matadora dos dois meninos!
yuvaixóv Xéxoç Algo horroriza mais?
tolúrtovov, doa Bpotoiç Epeiaç Hôn Kaká.
4 e mos % 4
Multipenoso leito feminino, 1.290
frutuosa fonte de revés à vida!

[Chega Jasão]

50 Eurípides parece adotar uma versão menos conhecida do mito,


segundo a qual Ino (filha de Cadmo) teria matado os dois filhos e se lan-
çado ao mar. De acordo com a versão mais recorrente, um de seus filhos,
Learco, teria sido morto pelo pai, Atamante, e Ino teria se jogado ao mar
com o outro filho, Melicerte. A insensatez de Ino teria sido provocada por
Hera, enfurecida com o fato de a personagem ter acolhido como filho Dio-
aiso, filho de Zeus e de Semele (irmã de Ino).

138 139
IAEON JASÃO
yuvalkeç, at TÃoS” êyyug Éotare otéynr, Mulheres perfiladas junto ao paço,
àp" Ev Sópororv À) Tà deiv” elpyaopévr quem agiu torpemente pôs-se em fuga
Mndeia toiod” Er”, À) pedéoTnKev quyi): 1.295 ou Medeia mantém-se na morada? 1295
dei yáp viv firor yÃg ye Kpupliivar Kárco, Se não se oculta terra abaixo ou não
à rnvôv ópou op” é aidépoç BáBoç, dispõe seu corpo de asa e ao céu se alça,
ei HT] TUpávuoov dopaoiv Ságei Sikny: pode esperar que o paço a puna. Passa
émoiO” amroxteivaca xorpávouç ydovôç pela cabeça dela assassinar
dBpoç abrn Tovêe peúiso da Sopa; 1.300 os reis e desaparecer impune? 1.300
SAN" ou yáp aúriic ppovrid” dg Téxvoov Eco Mas é dos meus meninos que me ocupo,
keLvnyv pév oUg Edpagev EpEovorv Kaxó, pois quem fêz mal de mal padece, e a vida
Epósv dE raidcv NADov Exa owv Prov, dos dois depende só de mim: parentes
Há pot Ti ôpácwo” oi mpocikxovreç yéver, não quererão fazer pagar os filhos
ENTpÓOv ExTTpÓocovrEÇ Avóciov póvor. 1.305 pelo que executou a mãe soez? 1.305

XOPO CORO
o TATipov, ou oLoB” oi xax dv EMjludac, Carecem de sentido tuas palavras;
Tâcov: ou yáp Tovoô” &v EpOéyEo Aóyouç. ignoras o amargor do teu revés.

IALQN JASÃO
123% gy z »” 4
Ti S Eoriv; f) Trou KG” arroxteivor Dékei; Não entendi. Também quer me matar?

XOPOE CORO
moideç tedvãor Yetpi untpda cédev. As mãos da mãe mataram teus dois filhos.

IAZOQN JASÃO
otnoL, TÁ AéBeiç; Og pn” AmcÃecos, yúva.
x” “ 4 Az +. A

1.310 Ai de mim! O que dizes me aniquila. 1.310

XOPOE CORO
WS oUKÉT Gviwv Oy Tékvwov ppóvrite dh.
2 > 2 e pe £ , £L

Põe na cabeça: a prole não existe!

140 141
FALON JASÃO
TOU yáp viv EkTELV ; EvTOÇ À EEwDEv Soumwv; Morreram onde, em casa ou noutra parte?
pn 4 2 + ? N 9" 97) f

XOPOL CORO

TúÃag àvoiBaç cóv Téxveov dy póvov. Se pisares no umbral, verás teus filhos.

IA£ON JASÃO
xaháre xAjjõaç dg TáxioTA, TpóoTIoÃoL, Suspendei os ferrolhos, servos, logo!,
ExÂued” Apuoúç, g 1ôw drmrhoUv Kaxóv, 1.315 tirai as trancas, quero ver a ruína 1.315
2 . 3 < L e 4 ms L

TOUS pév Davóvraç, TAv ÔE Teiowpaa dixny. por que Medeia há de pagar caríssimo!

MHAEIA MEDEIAÍi
Ti TAG DE Kiveiç KávapoyAcúeiç tTÚÃaÇ, Por qual motivo moves os ferrolhos
, 4 pd 3 “ L

VEKpOUÇ Epeuvdv KÓgE Tv eipyaopévny; e atropelas os pórticos? Procuras


Taúgar TÓvou TOUS”. ei O EnoU ypeiav Exeiç, a assassina e os cadáveres? Sou útil
hey” eiri Boúdy, xetpi 6” oú yaúgerç troré. 1.320 em algo? Não encostarás em mim, 1.320
TO1ÓVO. Óynpa TaTpoç “Hhroç taTMp pois meu avô, o Sol, providenciou-me
SOwotv Tuiv, Epupa troepiaç yepóç. a carruagem que afasta a mão hostil.

IAEON JASÃO
o picos, O péyroTOv EyOioTN yúvaL Mulher odiosa, plenirrepulsiva
Beoig TE Kápioi travri Tº avOpartev yéver, aos numes e a mim, a todo mundo,
fimiç Téxvoror coiorv EpBadeiv Eipoç 1.325 capaz de arremessar o gládio contra 1.325
ErÂnç Texodoa, xá” Araid” arrhecaç: quem procriou, tirar-me a vida e os filhos!
3” mn 2») ye 23 4

Koi tatta Spácao” jAióv te trpooBhérteiç Tens condição de olhar o sol e a terra,
Koi yaiav, Epyov Thãoa duoceBéoTaTOv- levando a termo tal acinte? Morras!
dhor- Ey6o dE viv ppovó, TóT' ou ppovádv, Faltou-me percepção ao propiciar
“os 4 2 E x ,
ót' Ex Sóumov ce BapBápou T' árrô ydovoç 1.330 a troca de uma casa em terra bárbara 1.330

3 Sobre o centro do palco, Medeia aparece numa carruagem, pro-


vavelmente puxada por dois dragões alados.

142 143
“ElAnv” Eg oixov Nyounv, Kaxov péya, por residência em território helênico
TATPÓÇ TE kod yiig Trpodóriv 1] o” EOpéyaro. — como fui tolo! —, algoz do pai e lar!
tTOv 00v 6” aNáotop” eiç Eu" Eoxnyav Beoi- Os deuses me enviaram teu alástor
KtTavotca yap 617 cdv Káorv mapéotiov — O gênio vingador —, após matares
TO KaMirrpapov cioéBnç Apyoiç oxágos. 1.335 o irmão Apsirto e aurir em Argo, bela 1.335
Hpão pev Ex toLbvôe- vuppeubcioa dé proa. Foi o princípio, pois às núpcias
Tap” AvÔpi TWÕE Kai TEKOUCÁ (OL TÉKVO, comigo sucederam os meninos,
euvAiÇ Exami Koi Aéyouç op” dmaecaç. dizimados por causa de uma cama,
ouk Eotiv ijrig TOUT" &v EdÂnvis yuvi) algo impensável entre as moças gregas, |
Erhn rob”, àv ye mpóoBev Etouv éydo 1.340 mas minha escolha recaiu em ti 1.340
yijuou cé, xjdog ExOpov dhéOpióv T' Ejgioi, — união atroz, funesta para mim —,
Aéorvav, ou yuvaika, Tg Tuponviõoç leoa, não mulher, natura acídula
ExúlÂng Exoucav àyprotépav quo. que obnubila até a tirrena Cila.
AN" ou yap &v os puptoiç óveideor Reproches duros, mesmo que eu desfira
dao: Toróvô” Eurréquké cor Bpágoç: 1.345 muitíssimos, não podem te ferir, 1.345
EPP”, GICYPOTOLE Koi TEKVGOV pimIpÓveE. sanguivoraz algoz dos próprios filhos!
énoi Se tOv EpOv Daipov” aiálev Trápa, Só me resta amargar com ais! a sina,
Oç oúTE AékTpmv veoy áucwv ôvijgopar, alheio a novo casamento, sem
ou troidag oUg Epuoa xdEeBpepápnyv me dirigir aos filhos que gerei
EE mpocerreiv Cóvraç, SAN" amwhega. 1.350 e que nutri: viveram... os perdi! 1.350

MHAEIA MEDEIA

Teria munição de sobra contra


a E , 4 ma 2a 2
Haxpov «av EEETELVO TOIGÊ EVOAVTLOV

hóyoro1v, Ei ur Zevuç taThp fríotaro tua logorreia, fosse necessário


o EE EpoU mérIOvDaÇ OLÁ T' Eipyáoco Zeus saber o que fiz e o que tiveste.
ou 6" ouk Ejehheç Tó” ATinÓcaÇ Aéyn Depois de me humilhar ao leito, não
x , > ” 2.2 , 4

teprivov OróEerv Brorov Ey yehGv Enoi- 1.355 gozarias a vida escarnecendo-me, 1.355
oUB” 1 TÚpavvos, ou6” O coi mpooBEiç yápouç nem a filha do rei, tampouco o próprio
Kpéwv àvarei tijodé pn" ExBaheiv ydovóç. que conchavou contigo e me expulsou.

52 Monstro marinho, habitante do estreito de Messina, mencionado


na Odisseia (12, 85).

144 145
põe taúra Kai Noiva, ei BouAn, Káher
Não me interessa nada se me chamas
xai Exúlhav 1) Tuponvôv Gnoev frédov-t leoa ou tirrena Cila: fiz
TAS CAS YAP OS xprjv Kapõiaç avOnyápnv. 1.360 o que devia ao te atingir no íntimo! 1.360

IALON
JASÃO
9.02 e a ns ” 9
KOAUTA YE Aurrij Kat Kaxcov KOLVOVOÇ El.
Também te afeta a dor que me agonia.

MHAEIA MEDEIA
cáp' ob Aúei 5º Shyoç, tjv ou ph "yyehds. Saber que sofres me alivia a agrura.
IALON
JASÃO
6) TÉKVO, ENTPÕÇ GÇ Kaxiig Exúpoare. Que horror de mãe, meninos, escolhi!

MHAEIA
MEDEIA
m molde, Dç Gheode ATP vôo.
% Ma e x 4 f

O pai, um ser perverso, vos vitima!

JAZON
JASÃO
ou tToLvuv Bum SeEiá op” Amhegev. 1.365 Não foi minha direita que os matou. 1.365

MHAEIA
MEDEIA
SAN" UBpig, oi te goi veodpfiteç yágor. Foi teu casório e húbris desmedida.

IALOQN
JASÃO
héxoug og KHEiwoaç oúvera KTaveiv. Matar por uma cama: que ousadia!
MHAEIA
MEDEIA
CHIKPÓV yuvatki Trijpa TOUT! eivar doxeiç; Para a mulher, não é uma quimera.
IAZOQN
JASÃO
rig ye coppov: coi dé tTávT' Éotiv Kaxá. Para as sensatas, é! Não tens limite... .

146
147
“ MHAEIA MEDEIA
old” oukér” eloi: totto yáp o ôrgetaL.
ta > 41 , Á e 4 L

1.370 O fato de não serem te consome. 1.370

IALON
JASÃO
otô” elotv, oigior, c& Kápa práoTopeç. Contra ti hão de ser os vingadores.

MHAEIA
MEDEIA
toaoiv dotig ApEe tmpoviic Geoí. Os deuses sabem quem errou primeiro.

IALOQN
JASÃO
toaor Ofjra ofv y” àmórivotov qpéva. Sabem do que tua almaé feita: escarro!

MHAEIA
MEDEIA
otúyer mikpav de BáEiv êxdaipo cédev. Que palavrório atroz! Destila a bile!

IAZON JASÃO
Kai unv éyó ofv: pádior 5º amrodhayaí. 1.375 É o teu que é atroz! Que bom não mais rever-te! 1.375

MHAEIA MEDEIA
TÓ OUV; TI ÔpÓCm; Kápra Yap Kay Bélo. Como tornar real o que mais quero?

FALQN JASÃO
Gáiyor vexpoúç gor toúode Kai xhaúce trápeç. Deixa que enterre os mortos e os pranteie!

MHABIA MEDEIA
ou Sir”, Errei opaç TÃO” éyco Dá xepí, De modo algum, que eu mesma irei fazê-lo
pépouo” éç “Hpaç tépevoç Axpaíaç Geo, no templo de Hera Acraia. Assim evito
dog Há TIS aaútovç troepicov KaBuBpion, 1.380 que algum dos inimigos lhes profane 1.380
TuHBoUg avaoTródv: yij dE Tijõe Licúpou a tumba. Aos dois dedico festa e rito
cepvrv éoprijv Kai Té TTpocáyopev nas paragens de Sísifo — sublimes! —,
TO Àoirróv ávri toúde BucoeBoiç póvou. forma de compensar o triste crime.

148 149
atri) SE yodaw ep tijv "EpeyOécos, Vigoram no futuro. Com Egeu,
Aliyei ouvorkijgouca tá Iavôtovoç. 1.385 passo a viver na terra de Erecteu. 1.385
ou O”, GoTEp ElkxÓç, xaTdavi] KaKÓÇ Kar é, E tu que és ruim, terás um fim ruinoso,
'Apyouç Kápa cov Aerpávep rremrÂnypévos, ferido à testa por timão de Argo,
TILKPÓS TEXEUTAS TOV Ev VÓ IS Gov. vendo as núpcias comigo em mesto epílogo.

IALQN JASÃO
AMA o" "Epiviç ONécerE TEK VGOv Que as Erínias da dupla te fulminem
povia te Alkn. 1.390 e Dike, justa, rubra! 1.390

MHABIA MEDEIA
TIÇ dE KAúei cou Beog 1) Saipcov, Que deus ou dáimon te dará escuta,
TOU WyeudÓpkou Kai Eervarrátou; perjurador, traidor dos próprios hóspedes?*

IALON JASÃO
pEU peú, pucapã Koi tTaidohéTop. Infanticida! Fêmea abominável!

MHAEIA MEDEIA
oTEixE TEPOÇ oTkoug Koa Oárrr” Ghoyov. Enterra tua mulher dentro do paço!

IAZON JASÃO
OTEIXO, DiCO NV Y” AOpoç TExvGov. 1.395 Enterro, sem a moira dos meninos. 1.395

MHAEIA MEDEIA
outro Opnveiç: péve Koi yiipaç. Será maior teu pranto na velhice.

3 Uma hipótese para o emprego aqui da palavra Eeivarrártou (li-


teralmente, “daquele que engana seus hóspedes”) seria à dé que o autor
estaria seguindo uma versão do mito segundo a qual Jasão tteria raptado
Medeia. o

130 151
IAZON. JASÃO
É Tékva. ptitara. Ó filhos tão queridos!
MHAEIA MEDEIA
Enrpi ye, coi 6” oú. Só por mim.

JALQN JASÃO
Kámreir” Exaveç; Pox que os mataste então?

MHAEIA MEDEIA
cé YE TInpOivouo”. Para que sofras.

IABQN JASÃO
GpoL, prhtou ypúlo otógaros Só desejo beijar — quanta desgraça! —
maiô à Tákas mpoorTÚBacdeu. 1.400 os lábios dos meninos que adorava! 1.400

MHABIA MEDEIA
vUv ope TpocaudAS, vuv doTráln, Por que invocá-los e abraçá-los se antes
TÓT' AmwoágiEvoç. os ignoravas?

IAZON JASÃO
8óg or TEpóG Beddv Deixa pelo menos
pohakoU YpoTog palcar Tékvcav. que eu toque a suave tez! Invoco os deuses!

MHAEIA MEDEIA
oúk Éot1: párnv érroç Eppirrrar. Jamais! Gastas saliva inutilmente!

IAZON JASÃO
Zey, TAS” axoveiç mg Arrekauvóged 1.405 É claro, Zeus, como ela me rechaça, 1.405
olá te Tráoyopev x Ti UCA pa como essa fêmea horrível me arruína,
Kai Tatdopóvou TjodE Xeaivnç; leoa algoz de prole, abominável?
SAN órmócov yotv tápa Kai duvapar O que posso fazer, senão chorá-los,

152 153
“tóde Koi Oprvó Kámibeáce, senão carpir a agrura tenebrosa?
Hoprupógievos Baipovaç Gg Hot 1.410 Que os deuses testemunhem que os mataste, 1.410

TÉK VOA kTeivao” AmokwvEeiIÇ que me impedes agora de tocá-los,


yaúcai te yepoiv Báyar te vexpoúç, impossibilitado de enterrá-los!
oUç púroT! Éy6» púcaç ôpehov Pudera nunca tê-los semeado
Tpoç coU pOiuévouç ErmidécOau. para não vê-los mortos por teus golpes!

XOPOE CORO

moMhóv tapiaç Zeuç év"Olúpiro, 1415 De inúmeras ações Zeus é ecônomo; 1.415

oia 5” déArTwç Kpaívovor Beot- deuses forjam inúmeras surpresas.


Koi TÃ dokndévr” oúx êrehcoOn, O previsível não se concretiza;
" a Z , 2 , 4

tóv 6” Adokitav Trópov nupe Geóc. o deus descobre a via do imprevisto.


TO1ÓVÔ" Arrén TÓDE TrpáyO. E assim esta performance termina.

154 155
O destemor de Medeia e o teatro de horror

Trajano Vieira

Se o teatro de Sófocles caracteriza-se pela polarização,


o de Eurípides define-se pela dissonância. O herói sofocliano
não encontra posição no mundo em função dos valores ele-
vados que defende: bravura e honra. São aspectos pelos quais
ele guerreia desde Homero, e que lhe conferem aura subli-
me. O isolamento em que se mantém é absoluto e é por cau-
sa dessa condição extrema que o admiramos. Nada demove
Ájax, Antígone ou Filoctetes da decisão extrema, e não es-
tranhamos o horror que o argumento de conveniência lhes
desperta, ou a mera hipótese do acordo apaziguador. A so-
lução é a que defendem ou a única saída que lhes resta é a
morte. Não se trata propriamente da defesa do valor pessoal,
mas da manutenção de um código de valores sublimes criados
no âmbito da sociedade aristocrática homérica. A beleza dos
referenciais elevados transforma a morte num ato igualmen-
te belo. Ismene e Crisótemis apresentam argumentos razoá-
veis para quem tem como objetivo a preservação da vida, mas
não persuadem Antígone e Electra justamente porque estas
não pretendem se manter vivas, mas preservar a sobrevida de
um certo ideal de conduta. Nesse sentido, a morte não signi-
fica impossibilidade, mas necessidade, não simboliza o final
da vida, mas seu coroamento.
Até que ponto esse fundamento está por trás dos atos
que Medeia pratica? É inegável o isolamento radical em que
ela aparece, aspecto que levou Bernard Knox a aproximá-la
dos heróis sofoclianos. Entretanto, não se deve desconsiderar

157
que, enquanto Antígone pretende enterrar o irmão a fim de se vocábulo aparece 23 vezes na peça). À protagonista faz
perpetuar um rito tradicional, Medeia mata os filhos para se ainda questão de ressaltar outro sentido da palavra, atribuin-
vingar de Jasão, que a troca pela princesa de Corinto. Não do-lhe a conotação de “criação” e “inovação”. Que gênero
estamos diante de um crime motivado por ciúme, pois não de inovação ela introduz na sabedoria que a distingue das
fica evidente a existência de um elo afetivo forte entre ela e demais mulheres, como faz questão de frisar numa de suas
Jasão. Medeia comete brutalmente assassinatos em série por falas mais surpreendentes (vv. 292-315)? Somos levados a
não suportar a ingratidão do ex-marido, personagem cínico, crer que Medeia esteja se referindo não só a seu talento em
ambicioso e calculista. Não é da manifestação afetiva que ministrar venenos, não só a seu papel decisivo na conquista
Medeia sente falta, mas da manutenção do compromisso, A do velo de ouro por Jasão, mas também à saída que encontra
traição decorre do fato de o ex-esposo não preservar o con- para sua própria situação: o assassinato dos filhos! Não há
junto de favores proporcionados por ela em seu périplo bem- nada de heroico em apunhalar crianças indefesas, mas não é
-sucedido. É verdade que o vazio em que a nova situação a isso o que Medeia reivindica. O ineditismo de sua ação pas-
coloca é registrado por Medeia: a impossibilidade de retornar sional confunde-se com o argumento dramático. De certo mo-
ao país natal ou de buscar refúgio entre as filhas de Pélias. do, Eurípides fala pela voz de sua personagem ao imaginar
Mas, se o passado lhe surge como impossibilidade, o mesmo um enredo que se destaca pela novidade. Nesse sentido, o
não se pode dizer do futuro, pois Egeu lhe garante acolhi- autor pode ser considerado um escritor moderno. O ineditis-
mento seguro em Atenas. Portanto, o argumento que Medeia mo do ato que está para praticar, pelo qual Medeia se eter-
apresenta para a morte dos dois filhos — evitar que sofressem niza, confunde-se com a originalidade do tema imaginado
punição de inimigos — é falso, pois nada a impede de levá-los pelo autor. Que o novo seja o horror é um aspecto secundá-
consigo à cidade hospitaleira para a qual acaba partindo no rio para um poeta que inventa uma personagem que insiste
final da peça, na carruagem de seu avô, o Sol, onde se refugia no caráter novo da “sabedoria” implicada na ação que está
em seu diálogo final com Jasão (lembro que o exílio dos dois para ocorrer, um gênero de crime inédito naquele contexto,
filhos é uma exigência do rei Creon e que o próprio Jasão ini- pouco apreciado pelos jurados que conferiram último lugar
cialmente aceita a partida da dupla). É sem dúvida impres- à peça, embora premonitório em relação a carnificinas pra-
sionante esse desfecho, imagem que sugere antes a luminosi- ticadas no futuro...
dade e o futuro alvissareiro do que o pesar e a punição pelo Até onde chega meu conhecimento, não se tem dado o
ato macabro, que estamos acostumados a ler nos epílogos devido destaque para os versos 190-203, onde o coro solicita
trágicos. que a nutriz convença Medeia a sair de casa para ouvir seus
Mas também não é neste drama que Eurípides privile- conselhos. Cética quanto ao sucesso da tarefa, a nutriz aceita
giará certa noção de coerência em detrimento do tormento levar a cabo a tentativa mas, inesperadamente, acrescenta:
psicológico e da ação dele decorrente. Um dos aspectos mais
notáveis da peça é a capacidade argumentativa da persona- Acerta quem registre a obtusidade, o saber vazio
gem e a insistência com que ela e seus interlocutores destacam dos antigos inventores de poesia,
sua “sabedoria”, Medeia é sophé, termo que sugere, entre som em que germina a vida no afago do festim!
outras qualidades, autocontrole e ponderação (o radical des- Não houve musa que desvendasse

158 159
: em cantos pluricordes Quem tem bom senso evite se esmerar
a arte de estancar o luto lúgubre, na educação dos filhos: hipersábios,
dizimador de moradias não passam de volúveis aos malévolos
com o revés atroz de Tânatos! moradores da urbe, que os maculam.
Que lucro logro em curar musicalmente o luto? Se introduzes o novo entre os cabeças-
Por que a inutilidade da voz no sobretom, -ocas, parecerás um diletante,
no âmbito da festa farta? não um sábio. Se acima te colocam
Na plenitude do cardápio disponível de quem julgam ter cabedal na ciência,
vigora O regozijo. te encrencas. Desse azar também padeço.

Trata-se de uma reflexão sobre o efeito da poesia, reali- Registro o seguinte comentário que Page apresenta de
zada por uma nutriz no momento em que afirma aceitar o passagem a esses versos em sua edição da tragédia: “temos a
encargo de convocar sua senhora, digressão estranhíssima impressão de ouvir falar o próprio Eurípides, que sofreu mui-
quanto ao âmbito em que se insere e quanto à personagem ta impopularidade em Atenas”. No final, “mortificado pela
que a apresenta! Os poetas do passado, hábeis na produção hostilidade de seus companheiros cidadãos”, conclui o hele-
do efeito prazeroso, seriam incapazes de estancar a dor de- nista, “ele se retirou para a corte da Macedônia”! Sem entrar
corrente da experiência lutuosa. Eis uma sofisticada consi- na questão sobre os motivos de seu autoexílio, concordo com
deração do ponto de vista da estética da recepção. Haverá a sugestão de que Eurípides estaria fazendo referência à sua
muitas possibilidades de interpretação para esses versos e própria poesia e à sua recepção junto ao público ateniense.
para o motivo por que Eurípides os coloca, de passagem, na A doxa busca na poesia um estado arrebatador, diferente do
boca de uma simples nutriz, normalmente porta-voz do sen- que sua invenção propicia. À sophia que Medeia pretende
so comum. Uma hipótese é a de que o escritor tenha ima- para si coincide, num certo sentido, com a sophía do próprio
ginado uma situação para afirmar algo sobre a própria tra- dramaturgo. À impressão que se tem é que Eurípides vislum-
gédia. O poeta não deve fazer da morte'um feito admirável, bra um tipo específico de fruidor, não mais extasiado com o
como Homero no passado ou Sófocles no presente, mas apre- efeito do conjunto, mas apreciador do ineditismo de como as
sentá-la de maneira patética, realista e crua. Em lugar do partes da obra vão se engendrando. Existiria algo, portanto,
arrebatamento e da catarse, o distanciamento e a apreciação do que modernamente se considerou o caráter desalienador
intelectual da configuração poética. Em lugar do efeito, o da arte, a atenção para os elementos constitutivos com que
feito, perspectiva que um bom artista moderno teria condi- uma certa mensagem se configura.
ções de defender. Esse o sentido maior da novidade que Me- Aristófanes, no início das Tesmoforiantes, delineia com
deia apresenta (vv. 292-302): precisão, a seu modo, o caráter paradoxal da poesia de Eu-
Ai!
Não é a primeira vez que a doxa, o diz-
1 Denys L. Page, Euripides — Medea, Oxford, Oxford University
- -que-diz anônimo, Creon, me arruína. Press, 1938 (12º ed., 1988), p. 94.

160
161
pides, o deslocamento lexical que ele pratica, ao introduzir EURÍPIDES
num contexto novo certas palavras de uso corrente: Exatamente.

PARENTE PARENTE

Zeus, a andorinha há de surgir um dia? Como diferem?


O vaivém desse homem desde a alba
ainda acaba comigo. Diz aonde EURÍPIDES
vamos, antes que expila a tripa, Eurípides! Eis como ocorreu:
Éter, no curso da cisão primeva,
EURÍPIDES pariu seres moventes em si mesmo.
Desnecessário ouvir o que teus olhos Para que vissem, concebeu o olho,
em breve presenciam, contraimagem do sol; como funil
da audição, o Éter perfurou a orelha.
PARENTE

Não captei. PARENTE


Não deverei ouvir? A causa de não ver e não ouvir
é o funil? Que deleite de lição
EURÍPIDES
suplementar! O sábio nos burila!
O que verás.

PARENTE
Ao qualificar como sophós a ação da infanticida, Eurí-
pides põe em relevo sua própria engenhosidade poética, o
Tampouco ver?
elemento inesperado que fundamenta sua concepção literá-
EURÍPIDES ria. O quanto, no caso de Medeia, essa obsessão pelo impre-
O que ouvirás? Tampouco!
visto revelou-se premonitória é algo que foi devidamente ana-
lisado por P. E. Easterling.? Citando dados referentes ao pe-
PARENTE ríodo entre 1957 e 1968, a helenista nota que 30% das víti-
Não nego tua solércia, mas não capto: mas de assassinatos no Reino Unido foram crianças, e, na
falas do que não devo ouvir nem ver? Dinamarca, perto de 50%. Na maioria das vezes, esses crimes
foram cometidos pela mãe ou pelo pai, com o objetivo de
EURÍPIDES atingir o cônjuge.
Se lhes distinguem naturezas díspares.

PARENTE
2 P E. Easterling, “The Infanticide in Euripides” Medea”, in Judith
Não ver e não ouvir? Mossman (org.), Oxford Readings in Classical Studies, Oxford University
Press, 2003, pp. 187-200.

162 163
Não escaparam a um editor penetrante como Page certas lativos: ànyavartarer e coportarar: “Ademais” — volta-se
ressonâncias semânticas do original. Ele observa, por exem- Medeia para o coro — “somos, nós mulheres, naturalmente
plo, no verso 402, formado por dois particípios (Bovkeúouca, bastante incapazes (aunyavatarar) para as coisas boas, mas,
“planejando”, e texvoptévn, “maquinando”), a “sinistra de- para as coisas más, artífices extremamente sábias (coporo-
rivação” do nome Mideia (“Medeia”, terceiro vocábulo que tai)”. Como se vê, também nessa passagem, Eurípides deslo-
compõe o verso): ujdopar (“imaginar”, “tramar”, “prepa- ca um termo empregado normalmente em campo contrário:
rar”), ufõoç (“desígnio”, “pensamento”).3 Além dessa asso- a sabedoria refere-se a uma situação nada sábia, ao plano
ciação, não se devem deixar de lado outras, que latejam no mortal que Medeia amadurece. Ao fazer esse remanejamento
final dessa longa fala. No verso 401, há o emprego de undEv semântico, o poeta renova o horizonte da motivação trágica
(“nada”), que ecoa, duas palavras a seguir, em Mijdeia (Me- e sua linguagem. Em seu caso, não se trata apenas de sobre-
deia): “não desconsideres nada (unôêv) do que conheces posição de planos (forma/motivo), mas de espelhamento, de
(Emiotacar), Medeia (Mmdeia)”... Com esse “nada”, Eurípi- reflexos verbais que repercutem na estruturação fabular. Esse
des pensa no vasto rol de conhecimentos de Medeia, inclusi- procedimento é o que o afasta dos trágicos anteriores, dando
ve o de “anular” os filhos, um conhecimento “vazio” de sa- a seu teatro um sabor diferente, em que o efeito inusitado
bedoria, nulo de “episteme” (cf. Emiotaoas). Eis uma figura passa a ocupar posição de destaque. Nossa atenção não se
paradoxal, que carrega no próprio nome a coincidência dos volta apenas para o que ocorre no palco, mas para o que
contrários. Dentre as coisas que sabe, Medeia conhece algo produz a cena que vislumbramos. Odisseu também foi inven-
que anula, que torna “nulo”, trazendo em si mesma (MúSeia) tor de formas verbais, como o episódio do Polifemo nos mos-
o nada (unôev) que pratica. Cabe notar, por outro lado, que tra. Entretanto, a particularidade de Eurípides na Medeia é
esse monólogo se constrói, como nota Page com base num a maneira radical como aproxima campos semânticos e for-
ensaio de Friedrich Leo,* como uma “nova forma de autor- mas antagônicas:
referência”. De fato, por duas vezes, no espaço de poucos
versos, Medeia refere-se a si mesma como alguém que sabe, Amargas e funestas suas núpcias,
usando um termo de grande importância para o pensamento amarga aliança, amargo o meu desterro!
da época: êriotacar (401, 407), “sabes”. Como acabamos Não deixes pelo meio teus projetos,
de ver, na primeira ocorrência, lemos: “Não desprezes nada Medeia! Nada te demova! Medra o ardor,
do que sabes” ou “Não desprezes o nada que sabes”; na se- se impera o destemor! Conheces bem
gunda, como palavra de abertura de verso, empregada in- tua situação. Às núpcias de Jasão
transitivamente: êrtoracar 6é-, “Tens conhecimento”. A se- trarão a ti mofina mofa. De Hélios
guir, mais dois versos lapidares, ambos finalizados por super- solar descendes e de um pai magnífico.
Tens ciência; ademais, a raça fêmea
ignora como haurir algo elevado,
2 Denys L. Page, op. cit., p. 102. sábia quando edifica o horror do fado.
= * Friedrich Leo, “Der Monolog im Drama”, Abbandiungen der Kô-
niglichen Gesellschaft der Wissenschaften zu Góttingen, 10/5, 1908.

164 165
O primeiro estásimo, posterior a essa fala, apresenta
poral da passagem é sutil o suficiente para cumprir oque
uma linguagem que elucida aspectos fundamentais da peça.
coro afirma que ocorrerá no futuro, quando os aedo -
Refiro-me ao hino pronunciado por mulheres (como se sabe
passado “deixarão” (MEovor) de entoar hinos que deprecié
na verdade, homens em vestes femininas), a favor das mulhe.
as mulheres. Portanto, o coro vislumbra um tempo futuro
res e contra a tradição masculina da poesia grega, ou melhor,
em que os cantos serão do passado (moharyevémv). À poesia
contra a misoginia recorrente nessa tradição. O verbo, repe-
ainda inexistente, em que as mulheres ocuparão posição de
tido no espaço de cinco versos, de certo modo simboliza a
destaque, seguirá a dinâmica da poesia convencional, que
própria concepção poética do drama e das mulheres: otpéyco,
fixa, ao longo da tradição, o inverso do mau renome (euxÃ-
“reverter” (vv. 410-445): | av... ouxéri Buoxékados). Esse o motivo da referência final
à ilimitada extensão temporal, em que se registrará a moira
Reflui à fonte o flúmen dos numes,
das mulheres e dos homens. À natureza da poesia feminina,
e o justo e tudo de roldão regride (otpéperas).
reincidente no futuro, a ponto de tornar-se tema tradicional,
No mundo o dolo se avoluma,
define-se pela reversão do que se conhece. É nesse espectro
declina o empenho pelos deuses;
anunciador que se insere a figura imponente € dilacerada de
mas há de me afamar o câmbio (otpéyovor) da fama
Medeia. Poderíamos indagar se Antígone, por exemplo, não
cumpre tal destino. Não no sentido pensado por Eurípides:
(pápar):
honor se direciona à estirpe fêmea; Antígone representa a têmpera do heroísmo homérico, a in-
infâmia não mais afetará as fêmeas.
flexibilidade que encontramos em Aquiles ou Ájax. A tensão
interna de Medeia é de outra natureza, nova na tradição
Musas de aedos imêmores (mahayevécov)
poética grega. Seu isolamento tem a ver com O sentimento
calarão (AfBovo") hinos do meu acinte (Suokéladoo):
de solidão e de abandono, com a desestruturação de uma
Apolo, ás em melodias,
ordem sujeita ao oportunismo. Sua reação inédita diante de
não outorgou à mente feminina
motivações vazias da grandeza do heroísmo tradicional é
o eterno modular da lira,
responsável pela concepção original da peça.
ou a rapidez de meu contra-hino
Bernard Knox chamou atenção para a presença do voca-
replicaria à estirpe máscula.
bulário heroico na definição da natureza de Medeia. O hele-
Nímio, o tempo aflora em narrativas
nista discorre sobre a questão em resposta à interpretação
sobre a moira dos homens, sobre a nossa.
que Page oferece da personagem. Segundo o último, Medeia
seria a expressão da mulher estrangeira, bárbara (registre-se
Estamos diante de uma reversão cósmica, que instabili-
que BápBapoç aparece apenas em quatro versos da peça,
za o estado de coisas. Nessa desordem latente, há de ocorrer
empregado por Medeia — 256, 591 — e por Jasão — 536,
outra, modificando radicalmente a “fama” (palavra repetida
1.330). Ocorre que o léxico utilizado por Eurípides segue
em versos seguidos) das mulheres. A origem da má fama é a
efetivamente a tradição heroica masculina, assentada em va-
tradição poética masculina, que recebe inspiração apolínea
lores como reconhecimento da honra, afã competitivo, equi-
diversamente do que se dá com as mulheres. A estrutura tem.
líbrio entre feito e reconhecimento. O uso recorrente de pa-

166 167
lavras derivadas da raiz tim-, “honra”, surpreende (versos nência por mais um dia em Corinto; Egeu,
20, 33, 438, 660, 696, 1.354). Do mesmo modo, o termo mente recebê-la em Atenas; jasão, que aceita que
referente à reputação gloriosa — xhéoç — é empregado nos entreguem os presentes à noiva. À performance da person
seguintes versos: 218, 236, 415, 810. gem coincide com a do autor da peça, que define as ações que
A dimensão heroica de Medeia é relevante para a com- suas criaturas (Creon, Egeu, Jasão) devem executar.
preensão de sua ação dramática: a personagem registra o de- O efeito dramático da tragédia tem a ver com a tensão
sequilíbrio entre o que propiciou a Jasão e o que dele recebeu entre dois polos: o da farsa que Medeia representa diante de
e esse desequilíbrio lhe provoca sentimento de desonra de- seus interlocutores e o da brutalidade do crime que está para
sencadeando a atitude vingativa. Esse esquema geral aplica-se cometer. Fixamo-nos na condição de Medeia representar uma
bastante bem aos acontecimentos centrais da tragédia. Mas persona diante desses três personagens, cujos comportamen-
não se deve menosprezar outros aspectos não menos relevan- tos ela define no ato da interlocução. À segurança com que
tes. Repare-se, por exemplo, no que está por trás do desequi- desempenha seu script nessas passagens acentua a natureza
líbrio entre o que Medeia afirma ter propiciado a Jasão e o cruel dos assassinatos que irá executar. Há uma notável tea-
que ele diz ter oferecido à ex-mulher. Segundo Jasão, Medeia tralização dos diálogos centrais, em que Eurípides exibe sua
passou a gozar de uma condição de vida em Corinto superior maestria. Por teatralização, entendo o seguinte quadro: Me-
à que teria em sua cidade natal, graças sobretudo ao reco- deia representa uma farsa e manipula seus interlocutores co-
nhecimento de seus dotes intelectuais. Medeia, por sua vez mo personagens de seu teatro subjetivo. À tragédia possui
foi responsável pelo sucesso de Jasão na expedição dos argo- uma dimensão ficcional que nos remete à natureza da própria
nautas. Foi ela quem instruiu o futuro marido nas três provas criação teatral. Medeia representa o papel da mãe abandona-
a que se submeteu, Se dependesse apenas de seus dotes natu- da com os filhos pelo ex-marido. Essa a ironia macabra do
rais, Jasão teria sucumbido. Eis algo importante a ser desta- texto, pois aquilo que efetivamente Medeia é coincide com o
cado: a dissimetria existente entre os dois personagens. Jasão que ela representa diante de seus três interlocutores: Creon,
não teria tido conhecimento suficiente para manter-se vivo Egeu e Jasão. Tal sobreposição de situações idênticas, tendo
conhecimento esse de que Medeia se mostrou dotada, ao lhe em vista a execução dos filhos, é um aspecto notável que par-
propiciar o sucesso. É o valor da sophíia que parece estar em ticulariza o drama. Surpreende-nos a capacidade de a prota-
jogo; é o reconhecimento desse valor que no fundo Medeia gonista representar com tanto controle um papel em função
reivindica. Não é um conceito propriamente heroico o que de um objetivo terrível, que apenas em um momento parece
está presente. Em Homero ou em Sófocles, os personagens correr risco, durante seu conhecido monólogo (vv. 1.019-80).
solicitam o reconhecimento de valores tradicionais, como bra- A patologia de seu estupor mental impulsiona as diretrizes
vura ou ritos imêmores. Medeia requer o reconhecimento de falsas que ela indica a seus interlocutores. À tensão patética
um traço intelectual! seu, responsável pela sobrevivência de com que representa sua farsa é uma das facetas a serem des-
Jasão. Estamos diante, portanto, de uma mulher com enorme tacadas na Medeia.
brilho intelectual que arma meticulosamente seu plano de vin- Não há na peça um deus ex machina, como ocorre em
gança. Seus três interlocutores principais tornam-se persona- várias tragédias de Eurípides. Na Electra, os dióscuros sur-
gens de seu projeto: Creon, que concorda com sua perma- gem no desfecho proclamando a punição transitória de Ores-

168 169
tes, que terminará tão logo o personagem cumpra determi- Gpuxov sixô Tpooysidoa opiaros.
nados ritos em Atenas. No epílogo da Medeia é a própria exânime de si, sorriu ao ícone.º
personagem que ocupa essa posição, ao subir no carro do
Sol, de onde conversa com Jasão, antes de partir para Ate- A reduplicação vazia simboliza ironicamente a vacuida-
nas, que irá acolhê-la, graças a Egeu. Como interpretar esse de psíquica (futilidade na antecâmara fatal, um tópico que
final surpreendente,
de que está ausente o mecanismo de pu- certamente agradaria os amantes de filmes “b”...). Não à toa,
nição divina? Comprovaria o ateísmo de que o autor foi tão imediatamente a seguir, inicia-se o processo produzido pelo
acusado na antiguidade? Contra essa leitura, poderíamos fármaco depositado por Medeia na coroa e no véu. Note-se
lembrar o pacto entre Medeia e Egeu, referendado pelos deu- que essas relíquias haviam pertencido ao ancestral de Medeia,
ses através de um rito tradicional. A credulidade nada tem a que a protege, o Sol (evocado repetidamente: 406, 746, 752,
ver, contudo, com o mecanismo da intervenção divina. Em 764, 984), o que explica o fato de a imagem sinistra da noi-
Sófocles — e este é um dos traços mais geniais de sua obra va ser paradoxalmente descrita com forte carga luminosa,
—, mesmo quando os deuses não são nomeados no ápice de contraste que amplia o caráter patético da passagem, bem ao
uma catástrofe, percebemos sua presença enigmática, o que gosto do autor.
não se dá na Medeia. A autonomia humana nos sugere um Não se deve atribuir, portanto, a uma hipotética tendên-
universo novo, em que a punição não é decorrência necessá- cia antirreligiosa de Eurípides a ausência de mecanismos tra-
ria da ação desmedida. Marca de ceticismo do autor quanto dicionais de punição, mas a seu interesse em expor facetas
a práticas institucionais? Faltam dados seguros para com- inéditas de motivações psíquicas. O desinteresse sexual por
provarmos essa hipótese. De qualquer modo, a ausência nos parte do marido seria a causa da tragédia, observa Jasão, no
faz voltar para as motivações dos próprios personagens, para diálogo final com Medeia, com o que ela concorda, frisando
sua fragilidade e insensatez intrínsecas. Não seria o caso de que, do ponto de vista feminino, a indiferença não seria uma
buscar uma explicação para um ato específico, mas de cons- atitude desimportante. Alguém poderia imaginar o tema de-
tatar a monstruosidade do ato em sua magnitude. batido de maneira tão direta numa peça de Ésquilo ou de
O que mata a princesa de Corinto? Intemperança? In- Sófocles? Pensemos em Clitemnestra: o ciúme é apenas um
credulidade? Ambição? Um motivo menos pungente e mais dos motivos que a levam a matar Agamêmnon. Mas há algo
humano: vaidade... Ao vislumbrar a rutilância dos presentes mais fundamental que separa as duas peças: a altivez heroica
que recebe (última moda entre as mulheres, como frisa o au- que nem mesmo a morte apaga. O caráter imortal dessa aura
tor, numa contextualização curiosa no umbral da carnifici- misteriosa está ausente da Medeia, inclusive da protagonista,
na...), a princesa esquece o mau humor inicial e cede ao pe- dotada de formidável capacidade de cálculo, que se insere,
dido de jJasão. A minúcia descritiva da passagem é extraor- entretanto, em outro horizonte, absolutamente humano. Tal-
dinária, e culmina, antes do processo de decomposição da vez, por esse motivo, Medeia não desperte nossa admiração
jovem, na visão da personagem refletida no espelho. Restrin- (admiramos quem não somos: Filoctetes, Antígone), nem nos-
jo-me ao belo verso 1.162:

* Literalmente, “sorrindo à imagem sem vida de seu corpo”.

170 171
so desprezo (sentimento por quem julgamos abaixo de nós: rior”) aos projetos que Medeia está para realizar. É disso
Egisto, Tersites), mas a constatação do extremo a que pode que Medeia se dá conta, conforme sugere o verbo pavdáveo
chegar uma mente intelectualmente bem-dotada e doentia. (“compreendo”) do verso anterior: “compreendo que tipo de
Nesse sentido, é o caso de mencionar o verso 1.079, no males vou cometer, e a fúria impõe-se aos projetos”. À pas-
monólogo em que Medeia, diante dos filhos, exprime a difi- sagem teria relação com a doutrina socrática, segundo a qual
culdade de levar a termo seu plano. Trata-se da manifestação nenhum homem pratica o mal conscientemente (cf. Protágo-
de crise profunda, em que a personagem, em extrema tensão ras, 352d)? Tal é a hipótese levantada por Snell,? que apenas
interna, considera a hipótese de não executar o assassinato, enuncio para retornar ao trecho em questão, pois ele nos ofe-
repetindo, no espaço de quatro versos (1.044, 1.048), a mes- rece uma imagem impressionante da lucidez que a personagem
ma despedida: ympéreo Bouheúpara, “adeus, projetos!?. E es- exibe de seu gesto trágico: Medeia compreende racionalmen-
sa mesma palavra, Boulsúuarta, que retorna no tão discutido te (pavdávco) que o projeto que está para executar (Bouheúpa-
verso 1.079: ta) é motivado por uma dimensão não racional de sua estru-
tura psíquica, pela pulsão furiosa (Oupoç) (vv. 1.074-80):
Qupóg dE xpeioowyv tó Euóv Bouleupárov.
Dobrou-me o mal, mirar os dois não é
O verso admite duas traduções: “A ira (thymós) é mais possível: ide, entrai! Não é que ignore
forte que meus planos” ou “a ira (thymós) impõe-se a meus a horripilância do que perfarei,
planos”. O dualismo filosófico racional/irracional do plato- mas a emoção derrota raciocínios
nismo estaria implicado na primeira leitura, segundo alguns e é causa dos mais graves malefícios.
críticos, que o traduzem assim: “minha fúria é mais forte
que minha razão” (contra essa interpretação: a simples enun- A sabedoria (copia) de Medeia está em não se iludir com
ciação da “razão” nessa teatralização subjetiva não amorte- a chave dualista razão/desrazão e em não se colocar como
ceria os efeitos da fúria?). Ocorre que Bovhsúpiara tem senti- joguete de uma força que escapa a seu controle e que conduz
do específico, concreto, tanto nos versos 1.004 e 1.048 quan- seus atos, mas em vislumbrar no próprio movimento da cons-
to no 1.079: “planos”, com referência direta ao infanticídio. trução de seu intelecto a motivação emocional que se lhe en-
Foi com base nesse raciocínio que Hans Diller propôs uma trelaça e provoca sua dor mais intensa. Trata-se da lucidez
leitura mais convincente.” Os planos de Medeia não seriam agônica que particulariza o teatro de Eurípides. Nesse tre- |
opostos a seu thymós, mas estariam sujeitos a ele. O thymós cho, o thymós pouco tem a ver, portanto, com o que sugeriu
impõe-se (esse o sentido de Kpeioowv, “mais forte”, “supe-
8 Uma discussão atualizada sobre esse verso, inclusive com objeções
à análise de Diller, encontra-se no apêndice da edição de Donald J. Mas-
é Ver, por exemplo, Bruno Snell, Scenes from Greek Drama, Berke- tronarde da Medeia (Euripides — Medea, Cambridge University Press,
ley, University of California Press, 1964, pp. 50 ss. 2002).
? Hans Diller, “Ouuoç E xpeioowv tó êuGv Bovheupáreov”, Her- ? Bruno Sneli, “Das frúhste Zeugnis úber Sokrates”, Philologus, 97,
mes, 94, 1966, pp. 267-75. 1948, pp. 125-34,

172
Wilamowitz: personificação de um demônio (“ein Dimon”) para poupar o público do patetismo cruel que aniquila Aga-
externo, que agiria na protagonista.!O Medeia não só sabe o mêmnon. Eurípides se interessa justamente pelo efeito do
que faz, como tem consciência do que a leva a fazer o que gesto cru. A deformação física é descrita pelo mensageiro com
faz. Essa percepção dos mecanismos psíquicos num momento certo deleite objetivante (perversão descritiva do autor via
extremo é o que a torna tão arrebatadora. personagem?). E há o prazer ambíguo de quem o escuta, a
Parafraseando o título do conhecido livro de Paul Veyne, recepção sádica de Medeia que amplifica a horripilância do
poderíamos, por fim, indagar: “ Acreditava Eurípides em seus teatro. O uso de material convencional na tragédia de certo
mitos?”, À tendência a responder negativamente essa questão modo limita o efeito de suspense, pois conhecemos de ante-
é grande, não fora o fato de o poeta dar a impressão de acre- mão a fatalidade do desenlace. Sem poder contar plenamen-
ditar na motivação verbal do mito. Em outras palavras: Eu- te com tal recurso, Eurípides buscou novas motivações para
rípides acredita piamente na linguagem do mito, em sua po- os crimes e sua recepção. Quanto mais cruel o horror, maior
tencialidade expressiva. A expressão mitológica altera-se de o mal-estar do público. Medeia poderia vingar-se de Jasão,
modo radical quando ele passa a colocar sob foco a voz que restringindo a matança aos filhos, mas é a morte da prince-
ressoa introspectivamente. Sua obra teatraliza diferentes pe- sa e de Creon que permite a Eurípides introduzir o elemento
ripécias e enigmas subjetivos. O enredo que entretém o pú- grotesco, irônico e paradoxal, tão marcante em sua produ-
blico é fruto de conflitos que designamos correntemente co- ção. A vaidade feminina sujeita a modismos causa a morte
mo “pessoais”. Trata-se do “mistério” distintivo de cada um. da filha do rei, o ouro liquefeito no louro dos cabelos defor-
A dúvida, o vaivém das decisões sujeitas às oscilações de hu- ma-lhe o rosto; a carne encarquilhada do tirano se desprega
mor, a multiplicação de pontos de vista, o descontrole emo- do corpo combalido, “qual pinho lacrimoso” (v. 1.200 do
cional são apenas algumas das situações existenciais que nos original grego), arremata o autor, que recorre à inesperada
aproximam dos personagens desse autor. O bom senso da imagem natural para caracterizar o torpe dilaceramento da
voz corrente é outro parâmetro nas encenações do patetis- carniça do ex-mandatário de Corinto...
mo patológico de seus heróis (há ainda “heróis” em seus dra- Ão invés de vislumbrar no mito o repertório de narrati-
mas?). Não se trata de um universo exemplar, mas sim frágil vas tradicionais em que os deuses interferem enigmaticamen-
na estruturação da psique vulnerável em sua neurose. O com- te nas ações humanas, configurando de maneira latente e
portamento de Medeia não é motivado pela manutenção de oculta o destino, como em Sófocles, Eurípides constrói ações
uma aura (como em Antígone), mas pelo efeito de suspense com base em motivações inéditas e originais, à beira do ab-
e de horror que pode provocar numa plateia aterrada pelo surdo. O quanto elas se revelaram premonitórias é apenas
absurdo do gesto extremo. Ésquilo elabora uma estratégia um dos aspectos que continua a manter viva sua obra, Ne-
bastante complexa, através de imagens crípticas e extasiantes, hum outro autor grego mostrou tanta consciência quanto
ao caráter ilimitado da invenção (excetuando-se talvez Pín-
daro, para quem a invenção se confunde, entretanto, com o
êxtase diante da epifania do artificialismo extremo). Eurípi-
10 A crítica a Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff foi formulada
por Vincenzo Di Benedetto em Euripide: teatro e societã, Turim, Einaudi,
des nos dá a impressão de não escrever propriamente peças
1971, p. 42. trágicas, mas de exercitar e pesquisar novos parâmetros do

174 175
texto dramático. À dimensão plástica e expressiva de sua lin-
guagem continua a soar dissonante, fantasmagórica e verti-
ginosa a quem o lê e o vê. Ela deixa de ser a manifestação do Métrica e critérios de tradução
monstruoso (desvelamento da pequenez humana diante da
magnitude divina), para se tornar a expressão da monstruo-
sidade (desvelamento da patologia anímica do homem dian-
te de si mesmo). À monstruosidade frequentemente desbor-
da, apresentando em sua centelha um tom deliberadamente
kitsch (não é um traço que diferentes obras de vanguarda des-
cortinam?). Mas essa é apenas uma trilha que se entrelaça em
outras (humor, por exemplo), que parecem inesgotáveis e que A estrutura métrica da tragédia grega é bastante com-
dão a impressão de escapar ao domínio do próprio autor. De- plexa. Nos diálogos, predomina o trímetro jâmbico, que pos-
feito? Absolutamente, se lembrarmos a frase de Paul Valéry: “sui O seguinte esquema:
“Doeuvre dure en tant qu'elle est capable de paraitre tout au-
x>UU Xx>U— Xx—U—
tre que son auteur Pavait faite”1 E uma das questões susci-
tadas em quem relê dramas como Medeia é justamente até Em outros termos, a primeira sílaba do segmento (“pé”)
que ponto o autor teve clareza de seu arrojo descomunal. pode ser breve ou longa; a segunda, longa; a terceira, breve;
a quarta, longa. Essa unidade é repetida três vezes no verso.
Em lugar da alternância entre sílabas átonas e tônicas, em
grego o ritmo varia entre breve e longa (esta última tendo
duas vezes a duração da breve).
Por outro lado, a métrica dos coros é bastante diversifi-
cada e apresenta dificuldade ainda maior de escansão, decor-
rente, entre outros motivos, do acúmulo de elisões e cesuras,
bastante comuns nesses entrechos.
Na tradução da Medeia, uso o decassílabo na maior par-
te dos diálogos, com variação acentual, respeitando os pará-
metros rítmicos possíveis para esse tipo de verso em portu-
guês. Nos episódios corais e nos diálogos que não seguem o
padrão do trímetro jâmbico, emprego o verso livre, privile-
giando a acentuação nas sílabas pares.
Adotei procedimento semelhante na tradução do Filoc-
tetes, de Sófocles (São Paulo, Editora 34, 2009), onde, numa
Ii «A obra perdura na medida em que ela é capaz de parecer total- nota sobre o assunto, incluí um percurso dos versos gregos €
mente diversa daquilo que seu autor concebeu.” as opções para o português.

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A melhor apresentação da métrica da Medeia que co-
nheço é a que Donald J. Mastronarde traz em sua edição da
peça (Euripides — Medea, Cambridge University Press, 2002, Sobre o autor
pp. 97-108). Trata-se de um campo extremamente complexo,
que demanda um conhecimento técnico específico. Embora
a edição inglesa tenha como alvo o público acadêmico (texto
grego sem tradução), a apresentação dos parâmetros métri-
cos em forma de tópicos curtos talvez auxilie o leitor menos
familiarizado com essa questão.
Os dados biográficos sobre Eurípides são escassos e, em sua
maioria, fazem parte do anedotário, com base sobretudo no perso-
nagem cômico “Eurípides”, recorrente na obra de Aristófanes (a
alusão, por exemplo, ao fato inverídico de sua mãe ser uma verdu-
reira nas Tesmoforiantes...). Durante o período helenístico, turistas
estrangeiros eram conduzidos a uma gruta em Salamina onde Eu-
rípides teria dado asas à imaginação, isolado do mundo... Não se
sabe ao certo se ele ou um homônimo praticou também a pintura,
encontrada em Megara. Eurípides nasceu em c. 480 a.C. na ilha de
Salamina e morreu em 406 a.C. na Macedônia, para onde se trans-
feriu em 408 a.C., a convite do rei Arquelau. Seu paí, Mnesarco,
era proprietário de terras. Sua estreia num concurso trágico ocor-
reu em 455 a.C., ano da morte de Ésquilo. Obteve poucas vitórias
(apenas quatro primeiros prêmios, o mais antigo, de 441 a.C., aos
quarenta anos de idade), fato normalmente evocado para justificar
o amargor do exílio voluntário. Das 93 peças que tradicionalmen-
te lhe são atribuídas, chegaram até nós dezoito, oito das quais da-
tadas com precisão: Alceste (438 a.C.), Medeia (431 a.C.), Hipóli-
to (428 a.C), As troianas (415 a.C.), Helena (412 a.C.), Orestes
(408 a.C.), Ifigênia em Áulis e As bacantes (405 a.C.). As peças
compostas na Macedônia foram representadas postumamente em
Atenas por seu filho homônimo: Ifigênia em Áulis, Alcméon em
Corinto e As bacantes. Diferentemente de Ésquilo e Sófocles, Eurí-
pides não teve participação política nos afazeres de Atenas. Nesse
sentido, Aristóteles menciona na Retórica (1416a, 29-35) o proces-
so de “troca” (antídosis) em que o escritor teria se envolvido, le-
vado a cabo por Hygiainon, provavelmente em 428 a.C. Segun-
do esse tipo de processo, um cidadão poderia encarregar outro de

178
179
uma determinada atividade em prol da cidade. Em caso de recusa,
teria o direito de propor a troca de patrimônio. E o primeiro caso
de antídosis de que se tem notícia é justamente esse contra Eurí- Sugestões bibliográficas
pides. São conhecidas as passagens das Rãs de Aristófanes (ver,
por exemplo, o verso 959) em que se fala de sua predileção pela
representação de situações cotidianas, e da Poética (1.460, 33 ss.),
em que Aristóteles comenta que, diferentemente de Sófocles, que
apresenta os homens “como deveriam ser”, Eurípides os represen-
ta “como são”. Já na antiguidade, com Longino (Do sublime, XV,
4-5), alude-se à sua maneira de representar naturalisticamente a
psique humana, sobretudo feminina (de fato, são numerosas as A edição crítica de Donald J. Mastronarde (Euripides — Me-
personagens que surgem sob esse enfoque: Medeia, Hécuba, Elec- dea, Cambridge University Press, 2002) apresenta um comentário
tra, Fedra, Creusa). Entre as inovações que introduziu no teatro, penetrante, anotações eruditas e bastante elucidativas. Diria que
cabe lembrar o recurso do deus ex machina, a aparição sobrevoan- ela complementa em vários pontos a de Denys L. Page (Euripides
te, por meio de uma grua, de um deus (aspecto criticado por Aris- — Medea, Oxford University Press, 1938), que não deve ser des-
tóteles na sua Poética, 1.454b, 2 ss.). cartada por quem pretende se aprofundar no drama de Eurípides.
Os estudos sobre a peça são numerosíssimos. Cito apenas alguns
que podem servir de ponto de partida para futuras pesquisas. Des-
de logo, cabe mencionar o notável livro de Pietro Pucci, The Vio-
lence of Pity in Euripides" Medea (Cornell University Press, 1980),
centrado na “retórica da piedade”. O clássico ensaio sobre traços
heroicos da protagonista, “Medea of Euripides”, de Bernard Knox,
publicado originalmente em Yale Classical Studies, 25 (1977, pp.
193-225), foi incluído em Word and Action: Essays on the Ancient
Theater, Johns Hopkins University Press, 1979. A antologia orga-
nizada por Judith Mossman, Oxford Readings in Classical Studies
— Euripides (Oxford University Press, 2003), traz o comentário
de P. E. Easterling sobre o infanticídio no drama (“The Infanticide
in Euripides” Medea”). Sugiro ainda outras duas antologias de en-
saios sobre a tragédia: Medea nella letteratura e nell'arte, livro
organizado por Bruno Gentili e Franca Perusino (Veneza, Marsi-
lio, 2000), e Medea, organizado por James J. Clauss e Sarah les
Johnston (Princeton University Press, 1997). Aos leitores interes-
sados especificamente na mitologia sobre Jasão e Medeia, cabe
lembrar a obra Le Mythe de Jason et Médée, de Alain Maurice
Moreau (Paris, Belles Lettres, 1994).

180 181
Excertos da crítica

“O racionalismo de Eurípides pressupõe, com um forte sen-


tido de realidade, o condicionamento que as paixões e, no geral,
uma situação-não modificável pela *vontade” impõem ao homem.
Fedra tenta em vão erradicar de seu peito a paixão pelo enteado,
e, ao fim, a solução mais racional —- a única possível para ela —
consiste em tomar pé da situação e pôr fim à própria existência,
Com um procedimento não idêntico mas análogo Medeia consegue,
num esforço extremo de reflexão, perceber que é dominada por
uma força, capaz de impor-se não somente a ela, mas, abrangente-
mente, a todos os homens. Seu racionalismo consiste no fato de que
seu intelecto consegue enquadrar sua situação pessoal num contex-
to mais amplo e em perceber, com plena lucidez, o infeliz destino a
cujo encontro ela vai inevitavelmente, dada a situação. Uma vez
que o thymós se põe como uma “força” por assim dizer extrapessoal
contra a qual o impulso do afeto materno torna-se vão, o 'com-
preender” se exprime em tomar conhecimento da necessidade a que
a situação “objetivamente” leva.”
Vincenzo Di Benedetto (Euripide: teatro e societã, 1971)

“Essa apresentação em termos heroicos de uma esposa estran-


geira rejeitada, que viria a matar a nova esposa de seu marido, o
pai da noiva e finalmente os próprios filhos, deve ter deixado a
plateia que viu a peça pela primeira vez em 431 a.C. algo incomo-
dada. Heróis, como se sabia muito bem, eram seres violentos e,
como vivessem e morressem pelo simples código “ajude os amigos
e prejudique os inimigos”, era de esperar que suas vinganças, quan-
do se sentissem injustamente tratados, desonrados, diminuídos,
fossem monumentais e fatais. Os poemas épicos realmente não

183
questionam o direito de Aquiles causar a destruição do exército condições de aceitar a morte de Glauce e Creon, por mais horríveis
grego para se vingar dos insultos de Agamêmnon, nem a carnifici- que nos pareçam; mas ao entrelaçar esses homicídios com os assas-
na que Odisseu promove de uma jovem geração inteira da aristo- sinatos dos próprios filhos de Medeia, Eurípides nos força a con-
cracia de Ítaca. O Ájax de Sófocles não vê nenhum erro em sua frontar com a questão do limite... Enquanto a aura do fabuloso
tentativa de matar os comandantes do exército por lhe terem nega- ainda envolve Medeia, Jasão é quase completamente despido do
do o armamento de Aquiles. Sua vergonha decorre simplesmente colorido romântico de suas aventuras passadas. O resultado é ba-
de seu fracasso em atingir o objetivo sangrento. Mas Medeia é uma nalizar e assim diminuir sua estatura na peça para então realçar a
mulher, esposa e mãe, e também uma estrangeira. Ainda assim ela dimensão heroica e extraordinária de Medeia.”
age como se combinasse a violência crua de Aquiles com o frio Charles Segal (“Euripides” Medea: Vengeance, Reversal and Closu-
calculismo de Odisseu, e, o que é mais, é nestes termos que as pa- re”, Pallas, 45, 1996)
lavras da peça de Eurípides apresentam-na. “Não queiram ver em
mim”, ela observa, “um ser fleumático/ ou flébil. Tenho outro perfil. “Exatamente no longo monólogo que preludia a catástrofe,
Amor/ ao amigo, rigor contra o inimigo;/ eis o que sobreglorifica a prorrompe, incontornável, o afeto materno com nuances tênues é
vida?” Esse é o credo pelo qual os heróis homéricos e sofoclianos delicadas. Numa luta desesperada combatem no ânimo de Medeia
vivem — e morrem.” o desejo de vingança e o amor materno. Repetidamente ela quer e
Bernard Knox (“The Medea of Euripides”, Yale Classical Studies, desquer num alternar-se obsessivo de estados de ânimo extremos,
25, 1977) e finalmente conclui: “Sei o ma! que estou para cumprir, mas o
thymós em mim domina toda resolução, o thymós que é para os
“A meu ver, a derradeira imagem de Medeia na carruagem do homens a causa das maiores desventuras.” O enunciado recoloca o
Sol simboliza o sucesso de sua automutilação sacrificial, do phar- dito de Heráclito: “É difícil combater o thymós: o que ele deseja,
makon que ela aplicou de modo tenebroso a si mesma. Embora ela compra ao preço da vida" (22 B 85 D.-K.), Como antes no diálogo
tenha conduzido a si mesma a esse ato lançando mão de todo tipo de Medeia com Jasão (v. 879; cf. v. 883), o sentido de thymós não
de automanipulação retórica, não há dúvida de que exerceu sua é aquele genérico e ambíguo de “paixão”, mas “raiva”, “fúria”, como
capacidade de sacrificar a si mesma a fim de se remir da sujeição. impulso pré-lógico, pré-mental, irracional e irrefreável; Eric Dodds
Eis que eia desponta plenamente como senhora de si, acima dos observa: “os impulsos da ação estão ocultos no thymós, onde nem
homens, numa aura sagrada, pronta para alcançar o jardim aben- a razão nem a piedade podem congregá-los”; não é por acaso que
çoado de Afrodite em Atenas. O pharmakon a levou a uma autos- Sêneca, no monólogo de sua Medeia (vv. 893 ss.), com os termos
suficiência quase divina, pois autodomínio é matéria dos deuses e aestus, furor, ira descreve o impulso homicida da protagonista.”
não dos homens. No mesmo sentido, a carruagem do Sol em que Bruno Gentili (“La Medea di Euripide”, em Medea nella lettera-
Medeia permanece intocável sugere também os poderes mágicos tura e neiParte”, 2000)
selvagens que a ajudaram a atingir sua meta.”
Pietro Pucci (The Violence of Pity im Euripides" Medea, 1980) “Atenas, cidade das Musas, ideal de esplendor civilizado,
onde Sophia e os Amores estão em harmonia: seria esse um mero
“Com a decisão de matar as crianças, Eurípides eleva a vio- - elogio sutil à audiência ateniense ou estaria mais intimamente liga-
lência a um novo patamar. Quanto do ímpeto vingativo de Medeia do ao sentido mais profundo da peça? Todas essas passagens cha-
podemos tolerar? Diante de quantos crimes nos resignamos? Onde mam a atenção para a ambivalência da inteligência humana e para
se situa a linha que a vingança ultrapassa para adentrar a zona do a criatividade, que é potencialmente uma fonte de beleza e harmo-
monstruoso inumano? Assim como o coro, estaríamos talvez em nia, mas passível também de irromper em violência destrutiva sob

184
185
a influência da paixão. Medeia em sua sophia exemplifica tal am-
bivalência: vemos sua perspicácia e poder intelectual voltados, gra-
ças a seu amor traído por Jasão, para fins destrutivos — e auto- Eurípides e a tragédia grega!
destrutivos. E seu heroico senso de identidade é usado para desve-
lar a natureza trágica do que ela faz e padece.” Otto Maria Carpeaux
P. E. Easterling (“The Infanticide in Euripides” Medea”, em Oxford
Readings in Classical Studies — Euripides, 2003)

À cronologia dos grandes trágicos gregos é um tanto


confusa. Desde a Antiguidade foram sempre estudados numa
ordem que sugere fatalmente a ideia de três gerações: Sófo-
cles, sucessor de Ésquilo, e Eurípides, por sua vez, sucessor
de Sófocles. Mas Ésquilo (5253-456 a.C.), Sófocles (496-406
a.C.) e Eurípides (c. 480-406 a.C.) são quase contemporá-
neos. Quando Aristófanes, contemporâneo dos dois últimos,
se revolta contra as novas ideias dramáticas e filosóficas de
Eurípides, não é a dramaturgia de Sófocles que ele recomen-
da como remédio, e sim a de Ésquilo. Para todos três — Sófo-
cles, Aristófanes e Eurípides —, Ésquilo não é um poeta ar-
caico, e sim o poeta da geração precedente. Realmente, Eu-
rípides tem pouco em comum com Sófocles; e está mais per-
to de Ésquilo do que o reacionário Aristófanes pensava. É
preciso derrubar a ordem que a rotina pretende impor.
Eurípides não pertence ao “partido” religioso-político
de Ésquilo; Aristófanes viu isso bem. Na tragédia esquiliana,
os heróis representam coletividades; na tragédia euripidiana, |
são indivíduos. Já não se trata do restabelecimento de ordens
antigas, ou do estabelecimento de novas ordens, mas da opo-
sição sistemática do indivíduo contra as ordens estabeleci-

* Extraído de História da literatura ocidental, de Otto Maria Car-


peaux, parte 1 (“A herança”), capítulo 1 (“A literatura grega”). Edição
original: Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1959. Edição mais recente: Brasília,
Senado Federal, 2008.

186
das. Por isso, Aristófanes considerava Eurípides como espí- a família. Ésquilo e Eurípides são, ambos, inimigos da famí-
rito subversivo, como corruptor do teatro grego e o fim da lia: Ésquilo, porque ela se opõe ao Estado; Eurípides, porque
tragédia ateniense. Entre os modernos, só a partir do roman- ela violenta a liberdade do indivíduo. Por isso, Ésquilo, na
tismo se popularizou essa opinião; o “senso histórico” exi- Oresteia, transforma o coro das Fúrias em coro de Eumêni-
giu a “evolução do gênero” e encontrou em Eurípides o cul- des; Eurípides já não está interessado no coro, porque en-
pado do fim. Os séculos precedentes não pensavam assim. contra em cada lar um indivíduo revoltado e identifica-se com
Ésquilo nunca foi uma força viva na evolução do teatro mo- ele, assim como Ésquilo se identificara com as coletividades
derno, e Sófocles inspirou imitações quase sempre infelizes. revoltadas contra o Destino. Pela atitude, Eurípides está mais
Mas sem Eurípides o teatro moderno não seria o que é; Ra- perto de Ésquilo que de Sófocles, dramaturgo do “partido”
cine e Goethe são discípulos de Eurípides, que, através do seu dos moderados.
discípulo romano, Sêneca, influenciou também profundamen- Eurípides sente com os seus indivíduos trágicos. O Des-
te o teatro de Shakespeare e o teatro de Calderón. Os pró- tino não lhe parece inimigo demoníaco nem ordem do mun-
prios gregos não se conformaram com o ódio de Aristófanes; do, e sim necessidade inelutável; Eurípides é fatalista. À dor
Aristóteles chama a Eurípides tragikotatos, “o poeta mais do homem vencido não significa, para ele, consequência da
trágico de todos”, superlativo que nos parece caber a Ésqui- condição humana, e sim sofrimento que não merecemos; Eu-
lo. Na verdade, Eurípides é o Ésquilo duma época incerta, de rípides é sentimental. O mito, porém, não é fatalista nem
transição, como a nossa. Eurípides quase se nos afigura nos- sentimental; para construir as suas “fábulas” dramáticas, tem
so contemporâneo. de modificar o mito, introduzindo os motivos da psicologia
A base da tragédia euripidiana, como a da esquiliana, é humana. Os séculos, acompanhando as acusações de Aristó-
a família. Mas há uma diferença essencial. Em Ésquilo, as fanes, interpretaram essas modificações euripidianas do mito
relações familiares constituem a lei bárbara do passado, subs- como sintomas de impiedade. Eurípides já foi, muitas vezes,
tituída pela ordem social duma nova religião, a religião da considerado como dramaturgo crítico, espécie de Ibsen grego.
Cidade. Em Eurípides, o Estado é uma força exterior, alheia; Contudo, Eurípides, modificando o mito, exerceu apenas um
o indivíduo encontra-se exposto às complicações da vida fa- direito e dever dos trágicos gregos.E se a intolerância reli-
miliar, das paixões e desgraças particulares. Eurípides foi con- giosa, pela qual a democracia ateniense se distinguia, preten-
siderado como último membro duma série de três gerações deu privá-lo desse direito, Eurípides pôde então responder:
de dramaturgos, e parecia separado de Ésquilo por um mun- não fui eu quem derrubou os valores tradicionais, e sim o:
do de transformações sociais e espirituais; Ésquilo parecia ser vosso Estado. A moral tradicional já estava ameaçada pela
representante do conservantismo religioso, e Eurípides, re- democracia totalitária. Eurípides não foi porta-voz da nova
presentante do individualismo filosófico. É este o ponto de democracia como Aristófanes acreditava; Eurípides represen-
vista de Aristófanes, e isso vem provar que Atenas se estava ta o indivíduo trágico, perdido numa época de coletivismo,
democratizando com rapidez vertiginosa. Mas Ésquilo e Eu- diferente do coletivismo antigo, e talvez mais duro. Eurípides
rípides são quase contemporâneos. Só o ponto de vista de é pessimista, tragikotatos; é o Ésquilo dos modernos.
cada um deles é diferente: Ésquilo é coletivista; Eurípides, Comparou-se Eurípides a Ibsen e Shaw. O que é comum
individualista. Mas o tema dos dois dramaturgos é o mesmo: a ele e a esses dramaturgos modernos é a resistência indivi-

188 189
dualista contra os preconceitos da massa e a justificação des-
sa resistência pela análise dos motivos psicológicos e sociais
que substituem as normas éticas, já obsoletas. Na tragédia de Sobre o tradutor
Eurípides aparecem personagens que a tragédia anterior não
conhecera: o mendigo que se queixa da sua condição social,
e sobretudo a mulher, envolvida em conflitos sexuais. As per-
sonagens femininas são as maiores criações de Eurípides: Fe-
dra, Ifigênia, Electra, Alceste; Medeia é a primeira grande
personagem de mãe no palco; Hipólito é a primeira tragédia
de amor na literatura universal. Trajano Vieira é doutor em Literatura Grega pela Universida-
Na exposição dos conflitos psicológicos entre a vontade de de São Paulo (1993), bolsista da Fundação Guggenheim (2001),
sentimental do indivíduo e as leis fatais da convivência social com pós-doutorado pela Universidade de Chicago (2006) e na Éco-
e familiar, Eurípides usa a retórica, como o seu grande pre- le des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (2009-2010), e
decessor; mas em Ésquilo falam montanhas, em Eurípides, desde 1989 professor de Língua e Literatura Grega no Instituto de
almas. Almas que pretendem justificar as suas paixões, ins- Estudos da Linguagem da Unicamp, onde obteve o título de livre-
-docente em 2008. Tem orientado trabalhos em diversas áreas dos
pirar compaixão e terror; a definição dos efeitos da tragédia
estudos clássicos, voltados sobretudo para a tradução de textos fun-
por Aristóteles é deduzida das peças de Eurípides — por isso,
damentais da cultura helênica.
Aristóteles lhe chamou “o poeta mais trágico”. Concordamos
Além de ter colaborado, como organizador, na tradução rea-
com essa maneira de ver. Eurípides comove. É poeta lírico lizada por Haroldo de Campos da Ilíada de Homero (2001), tem
como aqueles poetas líricos gregos cujas obras se perderam se dedicado a verter poeticamente tragédias do repertório grego,
— o seu individualismo suspeito reside na sua poesia. Sabe como Prometeu prisioneiro de Ésquilo e Ájax de Sófocles (reuni-
manifestar o seu pathos trágico como uma força lírica que o das, com a Antígona de Sófocles traduzida por Guilherme de AÍ-
aproxima mais de Petrarca do que de Ibsen. Eurípides é o meida, no volume Três tragédias gregas, 1997); As bacantes de
primeiro poeta que exprime a alma do homem, sozinho no Eurípides (2003); Édipo rei (2001), Édipo em Colono (2005) e Fi-
mundo, fora de todas as ligações religiosas, familiares e po- loctetes (2009) de Sófocles, além da Electra de Sófocles e a de Eu-
líticas, sozinho com a sua razão crítica e o seu sentimento rípides reunidas em um único volume (2009). Trajano é também o
pessimista, com a sua paixão e o seu desespero. É “o mais tradutor de Xenofanias: releitura de Xenófanes (2006) e Konstan-
tinos Kaváfis: 60 poemas (2007). Sua versão do Agamêmnon de
trágico dos poetas”.
Ésquilo (2007) recebeu o Prêmio Jabuti de Tradução.

190
Hoje, lemos a sós e em silêncio, quase co-
mo partituras musicais, apenas o que a tra-
dição nos legou dos textos originalmente
encenados, ou, ainda, traduções das falas
das personagens e dos cantos corais. É por
isso que as versões precisam ser eficazes €
tanto maior será a importância daquelas
que conseguirem recuperar, de alguma for-
ma, algo do que se perdeu. Nesta tradução
da Medeia, em decassílabos e versos livres,
Trajano Vieira busca recriar a linguagem
poética do texto original: os efeitos sonoros
e prosódicos, a especificidade lexical e sin-
tática, e as figuras retóricas. Temos a opor-
tunidade de acompanhar esse trabalho do
tradutor e as soluções por ele alcançadas
em notas que elucidam o seu processo de
transcriação.
* Seatragédia morreu, conforme George
Steiner, em contrapartida, o crescente nú-
mero de traduções de tragédias gregas para
o português nos últimos vinte anos é forte
indício de que os estudos clássicos e o pú-
blico leitor interessado em tragédia antiga
não apenas sobrevivem como prosperam
entre nós. Trajano Vieira, professor de lín-
gua e literatura grega da Unicamp, tem-se
dedicado a essa difícil tarefa, sendo um dos
maiores responsáveis pelo expressivo au-
mento de versões de tragédias gregas no
país. Contam-se, entre as suas obras, tradu-
ções de Prometeu prisioneiro (1997) e Aga-
mêmnon (2007), de Ésquilo; Ájax (1997),
Édipo rei (2001), Édipo em Colono (2005),
Filoctetes (2009) e Electra (2009), de Sófo-
EsTE LIVRO FOI COMPOSTO EM SABON cles; e As bacantes (2003) e Electra (2009),
E CARDO PELA BRACHER & MALTA COM
CTP E IMPRESSÃO DA EDIÇÕES LOYOLA
de Eurípides.
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