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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

AS RELAÇÕES-ÉTNICO RACIAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UMA


REVISÃO NARRATIVA

LOHANA RODRIGUES DE MORAES 201414550-2


Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação Física – 13° Período - Campus
Seropédica, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

IZABELLA SOUZA VALIM 201514055-5


Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação Física – 12° Período - Campus
Seropédica, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Seropédica

2021
INTRODUÇÃO

O Brasil é o país de maior concentração de população negra fora do continente


africano, no entanto as discussões acerca das relações étnico-raciais nas escolas,
entretanto, apenas alcançaram uma maior visibilidade, de fato, quando foi sancionada a
Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que fala, em seu artigo 26 A, §1º:

Altera a lei 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “história e cultura afro-brasileira”. A partir
desta lei, tornou-se obrigatório no currículo escolar da educação básica
o “estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra Brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,
econômica e política pertinentes à história do Brasil (BRASIL, 2003).
Apesar da implementação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da
história e cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio, ter acontecido há quase
vinte anos, estudar as relações étnico-raciais na escola é algo complexo, pois esta reflete
e contribui com a estrutura racista e discriminatória da nossa sociedade.

A Educação Física, enquanto componente curricular escolar se inclui nesta


obrigatoriedade, no entanto se aproxima ainda de forma tímida das relações étnico-
raciais, e muitos professores da área não sabem como trabalhar efetivamente tais
discussões no cotidiano em seus conteúdos já historicamente pré-estabelecidos.

Diante dessa perspectiva, surge a problemática deste estudo: como as questões das
relações étnico-raciais podem ser abordadas nas aulas de Educação Física?

Considerando o exposto, este trabalho tem como objetivo compreender como a


temática das relações étnico-raciais tem sido estudada na educação física escolar e discutir
como o professor de Educação Física pode inserir discussões étnico-raciais no cotidiano
em suas aulas.

Tal objetivo de compreender o que tem sido publicado acerca da temática se


mostra extremamente relevante, visto que possibilita perceber as lacunas ainda existentes
sobre a mesma, tornando possível propor diferentes abordagens sobre a Educação e as
relações étnico-raciais.
OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo analisar e compreender como o conteúdo das relações
étnico raciais vêm sendo trabalhado pedagogicamente, no âmbito da educação física
escolar, sob vista da lei 10.639/03, através dos artigos publicados no CONBRACE nos
anos de 2015, 2017 e 2019.

METODOLOGIA

Para este estudo, utilizamos como método a revisão bibliográfica narrativa, uma
vez que a revisão narrativa tem a preocupação primária de fornecer "sínteses narrativas",
que permitem compilar conteúdos de diferentes obras, apresentando-as para o leitor de
forma compreensiva (RIBEIRO, 2014).

Assim, foi analisada a produção teórica presente nos anais dos congressos
Conbrace dos anos de 2015, 2017 e 2019 como base para a revisão bibliográfica, sendo
que o critério de inclusão se deu a partir de artigos que tiveram como foco a temática a
ser estudada, ou seja, relação com o tema relações étnico-raciais na Educação Física
escolar. Artigos em que a educação física escolar era discutida, porém relacionada a
outros temas e que não abordavam as relações étnico-raciais foram excluídos.

Com isso, 11 artigos foram selecionados através dos anais do Conbrace, sendo 2
artigos do Conbrace XIX - VI Conice (2015) e 2 artigos do Conbrace XXI - VIII Conice
(2019), e, seguindo os critérios de inclusão e exclusão, foi descartado apenas 1 artigo que
apresentava ênfase na temática de gênero, além da abordada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a coleta deste trabalho, utilizamos os seguintes artigos do CONBRACE dos


anos de 2015 a 2019, seguindo a tabela abaixo contendo informações de: Edição do
congresso, Título, Autoria, Metodologia, Tipo e Categorização, respectivamente.
EDIÇÃO DO TÍTULOS AUTORIA METODOLOGIAS TIPO CATEGORIZAÇÃO
CONGRESSO

MOJUODARA – Estudo de caso Artigo Dança


CONBRACE UMA BINS, Gabriela etnográfico
XIX- VI (2015) POSSIBILIDADE Nobre;
DE TRABALHO MOLINA,
COM AS Vicente
QUESTÕES
ÉTNICO RACIAIS
NA EDUCAÇÃO
FÍSICA

DANÇA AFRO- RIOS, Vandélma Relato de caso Resumo Dança


CONBRACE BRASILEIRA NAS Silva Oliveira; Simples
XIX- VI (2015) OFICINAS DO Ramos
ENSINO MÉDIO MICHAEL, Daian
INOVADOR: Pacheco; DA
PRIMEIRAS SILVA Geisa
VIVÊNCIAS Alves

AS DANÇAS AFRO- LIMA Isabela Estudo qualitativo Resumo Dança


CONBRACE BRASILEIRAS EM Talita Gonçalves; Simples
XXI- VII (2017) PROPOSTAS SILVA, Samara
CURRICULARES Rúbia;
DA REDE BRASILEIRO,
ESTADUAL DE Lívia Tenorio
PERNAMBUCO

OS CONTEÚDOS DA SILVA Élen Estudo qualitativo Resumo Proposta pedagógicas


CONBRACE AFRO- Laura Figueirôa Simples
XXI- VII (2017) BRASILEIROS NA André;
EDUCAÇÃO LIMA Isabela
FÍSICA ESCOLAR: Talita Gonçalves;
ANALISANDO BRASILEIRO
ARTIGOS Lívia Tenorio
CÍENTIFICOS

CONTEÚDOS DA SILVA Élen Estudo qualitativo Resumo Lutas


CONBRACE AFRO- Laura Figueirôa Simples
XXI- VII (2017) BRASILEIROS E A André;
EDUCAÇÃO LIMA Isabela
FÍSICA ESCOLAR: Talita Gonçalves;
ESTUDOS SOBRE BRASILEIRO
A CAPOEIRA Lívia Tenorio
CULTURA SILVA, Soraia Levantamento Resumo Implementação da Lei
CONBRACE CORPORAL E de Oliveira bibliográfico Simples
XXI- VIII (2019) IGUALDADE VIANA,
ÉTNICO - Raimundo
RACIAL: Nonato
CONTRIBUIÇÕES Assunção
DA EDUCAÇÃO
FÍSICA PARA A
IMPLEMENTAÇÃ
O DA LEI Nº
10.639/03 NO
ENSINO BÁSICO

A PRODUÇÃO REIS, Ronaldo Levantamento Resumo Implementação da lei


CONBRACE DO bibliográfico Expandido
XXI- VIII (2019) CONHECIMENTO
SOBRE
RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS
NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO
FÍSICA

MANIFESTAÇÕES SILVEIRA Keylla Estudo qualitativo Resumo Dança


CONBRACE CULTURAIS AFRO- Amélia Dares; Expandido
XXI- VIII (2019) BRASILEIRAS: FERNANDES
ELEMENTOS Silvio Anderson
NORTEADORES Toledo
PARA SUA
ABORDAGEM NAS
AULAS DE
EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR

PROPOSTAS RODRIGUES Levantamento Resumo Proposta Pedagógica


CONBRACE PEDAGÓGICAS Raíra; bibliográfico Simples
XXI- VIII (2019) SOBRE A VIEIRA Jairo
CULTURA AFRO-
BRASILEIRA E
AFRICANA NA
EDUCAÇÃO
FÍSICA: UMA
ANÁLISE DOS
ANAIS DO
CONBRACE DE
2005 A 2017

CULTURA AFRO- LIMA Isabela Estudo descritivo Resumo Dança


CONBRACE BRASILEIRA E A Talita Gonçalves; qualitativo Simples
XXI- VIII (2019) EDUCAÇÃO BRASILEIRO
FÍSICA ESCOLAR: Lívia Tenorio
O QUE DIZ A
PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO
Aplicação da Lei

Bins e Neto (2015), trazem um artigo no qual faz parte de uma dissertação de
mestrado, retratando uma experiência de quase quinze anos como docente em escolas
públicas, onde foi contatado que o dispositivo escolar inviabiliza a reflexão sobre as
questões étnico-raciais onde seus alunos negros estão envolvidos. Onde o mesmo afirma
que estudar as relações étnico-raciais na escola é algo complexo, pois a escola refle e
contribui com a estrutura racista e discriminatória da sociedade.

Entretanto, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das


Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
(BRASIL, 2004), com a obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura AfroBrasileira
e Africana nos currículos da Educação Básica passa-se a reconhecer que é preciso avaliar
e valoriar corretamente a história e a cultura negra e tentar reparar os danos à sua
identidade e direitos ao longo dos séculos. As diretrizes também destacam que a
relevância do estudo desses temas não se limita apenas aos negros, pois toda a população
brasileira deve se educar para formar cidadãos ativos em uma sociedade multiétnica e
multicultural, assim tendo condições de construir um país democrático.

Ainda no artigo de Bins e Neto (2015), traz o relato do professor Baobá, que tem
como a intenção pedagógica ensinar a filosofia aos alunos, desde a forma que os alunos
saem da sala de aula. Os alunos, por exemplo, não fazem filas separados por gênero, como
é comum entre as escolas, eles saem em grupos misturados. E quando é preciso fazer uma
fileira, essa fileira não é dividida por gênero.

Em uma aula do professor Baobá pode-se notar, através das atividades de “pique
pega” feitas, que alguns alunos corriam para salvar os colegas de classe, já outros
pensavam bastante antes de descolar algum, até mesmo selecionava aqueles que iram
descolar. Por final, havia uma atividade que para descolar os alunos deveriam beijar a
bochecha do colega de classe, nessa hora, as crianças não pararam de brincar, entretanto,
quase ninguém salvou alguém.

As atividades desse professor têm sempre como objetivo de valorizar a


cooperação, solidariedade e o afeto. Segundo Baobá, trabalhar os valores civilizatórios
não funciona só na conversa, tem que ser vivenciado na prática, como o corpo. Estes
conceitos que estão condizentes com a visão africana.

O artigo também relata que os alunos participaram efetivamente da construção


desse tipo de conhecimento e colaboraram com o professor na realização de pesquisas
comunitárias envolvendo racismo, preconceito e discriminação.

Por fim, pode-se observar que a escola introduziu a relação étnico-racial não
porque seja obrigatória, mas porque o professor passa um valor muito importante para
seus alunos.

Silva e Viana (2019), apresentam um artigo com um projeto, que ainda está em
andamento, que tem como objetivo contribuir para as análises e reflexões das ações da
política educacional no Estado do Maranhão, quanto à aplicação da Lei nº10. 639/03.
Este projeto vem sendo desenvolvido e aplicado por meio da interação com
pesquisadores/extensionistas (alunos de graduação e professores) através de jogos, danças
e lutas, originados da cultura africana que contribuíram para a formação da cultura
brasileira. Esse grupo é constituído por alunos e professores da UEB Mário Andreazza,
em São Luiz do Maranhão.

Apesar de o artigo ainda não trazer uma conclusão do estudo/projeto, seus


idealizadores esperam iniciar investigações que tenham avanço nas discussões sobres as
políticas educacionais e as práticas pedagógicas escolares adotadas pelo país. Trazendo
assim uma reflexão sobre as mudanças das relações sociais, visto que apenas a
homologação da lei nº 10.639/03 não significa aplicação prática.

Reis (2019), através de seu artigo, trouxe um levantamento bibliográfico feito com
vinte e dois trabalhos, que apontaram para uma necessidade de ampliação e produção de
trabalhos nas escolas com a tematização e problematização de práticas corporais de
matrizes afro-brasileiras nas aulas.

Desses esses 22 artigos, Reis os dividem em três tópicos: 1 – Implementação da


Lei 10.639/2003; 2 – Práticas Pedagógicas abordando as relações étnico raciais e 3 –
Racismo, Gênero e Identidade.
No tópico 1, os artigos apontam possíveis caminhos na direção da formação dos
docentes para o trabalho de cumprimento e efetivação do Art. 26 A da LDB, verificando
seus impactos no cotidiano escolar:

Para Bins (2014 e 2015) e Bins e Molina Neto (2017), o foco estabelecido foram às aulas
de Educação Física, com o objetivo de identificar e compreender como os professores
abordam as questões das relações étnico-raciais em suas aulas.

Moreira (2008), desenvolveu sua pesquisa balizando-se em pilares como a questão étnico-
racial, a ancestralidade e a cultura, sobretudo presente em documentos oficiais e formas
de aplicabilidade de leis instituídas em vários Estados brasileiros, como o objetivo de
propiciar outras discussões e novos horizontes.

Pereira et al (2018) fizeram uma pesquisa com os professores da rede municipal de


Fortaleza/CE, a respeito do conhecimento sobre as leis n° 10.639/2003 e n° 11.645/2008,
assim, identificaram que cerca de 70% dos 55 entrevistados (31% do total atuantes na
rede) não conheciam as leis; todavia, mesmo não tendo conhecimento, afirmaram atuar
com temas que viabilizam conteúdos relacionados às relações étnicas, porque acreditam
que fazem parte do componente curricular.

No tópico 2, Reis (2019) pontuou algumas ações referentes as práticas das


atividades na Educação Física Escolar. Através da pesquisa de Rangel (2017), que
investigou como o Jongo é capaz de trazer para dentro da aula discussões sobre
diversidade, no município de São Matheus, no Espírito Santo.

Macamo (2013), observou o desenvolvimento de jogos e brincadeiras como práticas


pedagógicas, nos quais o foco era a matriz cultural africana.

Bento (2012), em sua pesquisa buscou compreender os processos educativos que se


desenvolveram na prática social de jogos de descendência indígena e africana, com alunos
do 4º ano do ensino fundamental.

Pereira, Gonçalves Junior e Silva (2009) fizeram uma coleta de informações por meio de
registros de um diário de campo, com objetivo de levantar jogos, danças e contos de
origem afro-brasileira, afim de introduzi-los em suas intervenções.

Para finalizar, em seu último tópico, Reis destaca artigos que trazem questões
como preconceito racial, bullying e sexualidade.
Batista (2013) analisou o bullying. Para isso, ouviu estudantes, buscando saber sobre as
suas experiências e vivências no cotidiano escolar, definindo o bullying também como
uma questão racial

Lins Rodrigues (2013) pode identificar onde ocorrem as separações dos estudantes, ao
analisar as diferenças produzidas a partir de cor da pele, cabelo, forma e estatura do corpo,
entre outras características físicas ou intelectuais nos anos iniciais do ensino fundamental.

Corsino e Auad (2014) observaram que nas salas de aula e em outras situações escolares,
nas escolas onde realizaram as pesquisas, que as diferenças são inerentemente
estratificadas, relacionadas aos conflitos raciais e à forma como professores e professores
tratam alunos de forma desigual.

Gaudio (2013), investigou um grupo de crianças vindas de famílias de baixa renda, no


município, e pode perceber que as relações sociais entre as crianças e seu pertencimento
étnico-racial.

Reis finaliza seu levantamento a mostrando que, dos vinte e dois estudos
analisados, apenas em quatro deles os abordaram diretamente os estudantes, onde os
professores tiveram muito mais espaço e abertura para falarem.

Proposta Pedagógica

Lima, Silva e Brasileiro (2017), teve como objetivo analisar os artigos de


periódicos científicos da área de Educação Física que tematizam os conteúdos afro-
brasileiros na escola.

A produção de conteúdo afro-brasileiro em centros de educação física sobre


capoeira e futebol, pesquisa específica sobre teoria do racismo, esportes, jogos, dança na
comunidade quilombola e estudos de caso sobre preconceito, pesquisa realizada em
comunidades afrodescendentes. Influência e pesquisa sobre multiculturalismo. Portanto,
existem poucos relatórios sobre conteúdos relacionados a este tema. Percebemos também
que a pesquisa bibliográfica se concentra na análise do campo da literatura, e ainda são
poucos os estudos que se dedicam a lidar com a realidade escolar por meio da pesquisa
de campo ou intervenção.
Rodrigues e Vieira (2019), compreender como o campo científico da Educação
Física tem contribuído para a aplicabilidade da Lei 10.639/03 a partir da tematização das
manifestações corporais de origem negra no contexto da disciplina.

Ao organizar sua análise, foi possível perceber o protagonismo da temática Dança.


Destaca-se, portanto, este conteúdo da Cultura Corporal como um acervo cultural vasto a
possibilitar a aplicabilidade da Lei 10.639/03.

Após este estudo, pode-se concluir que a produção científica do campo da


Educação Física escolar pouco tem contribuído com propostas pedagógicas voltadas a
aplicabilidade da lei nas escolas.

Dança

O artigo de Rios, Ramos e Da Silva (2015) teve a finalidade de relatar a prática


de Estágio Supervisionado do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade
do Estado da Bahia. O interesse em trabalhar com a dança afro-brasileira no âmbito
escolar surgiu a partir da constatação de que este conteúdo não vinha sendo apresentado
nas escolas de modo geral.

Com isso, optaram pela proposta de utilizar a dança afro-brasileira como uma
ferramenta para aproximação do alunado com a cultura negra. Dessa forma, de acordo
com o que propõe a sua inserção, a dança no âmbito pedagógico pode contribuir para o
processo de desenvolvimento emocional e na estruturação da identidade individual do
aluno, promovendo assim a sua formação singular no intuito de que o aluno possa
construir de forma crítica, suas capacidades e maneiras próprias de ser, pensar e agir.
(RIOS et. al, 2015)

Lima, Silva e Brasileiro (2017) conclui que, partir de seu estudo, percebe-se que
a Educação Física pode contribuir com o trato das relações étnico-raciais na escola. Sendo
assim, há a necessidade de estabelecer aproximações com a referida lei. Compreendendo
as danças afro-brasileiras como um conteúdo que pode vir a ser problematizado
criticamente, considerando a importância do povo africano na constituição da identidade
brasileira, apontando para a necessidade de estudarmos essa temática dentro da escola, e
mais especificamente nas aulas de Educação Física.
Lima, Silva e Brasileiro (2017), analisaram como a capoeira se destaca na
produção de conhecimento sobre os conteúdos de matriz afro-brasileira na área de
Educação Física Escolar.

Os dados indicaram que, quando o assunto é conteúdo afro-brasileiro no ambiente


escolar, ainda está intimamente relacionado ao tratamento da Capoeira. Essa premissa
tem dois aspectos, a saber: a capoeira, como conteúdo de matriz afro-brasileira, possui
ricas possibilidades de processamento na educação física escolar, mas também aponta a
carência de outros conteúdos afro-brasileiros na pesquisa científica, como dança, jogos,
ginástica e esportes.

Silveira e Fernandes (2019) apresentaram conteúdos oriundos de culturas


africanas e afro-brasileiras possíveis de serem abordados na Educação Física escolar,
como: a capoeira, o Jongo, o Maculelê, Samba de Roda, Bumba-meu-boi, Carimbó e
Tambor de Crioula.

Nesse estudo não teve como a finalidade de dissertar sobre planos de aula e
abordagens a serem seguidas. O objetivo dele foi trazer alguns elementos que possm
nortear cada professor/professora, com suas particularidades, e que consigam estruturar
suas aulas a partir das diversas abordagens, como dimensão histórica, social, econômica,
religiosa e cultural.

Lima e Brasileiro (2019), analisaram os artigos de periódicos científicos da área


de Educação Física que tematizam os conteúdos afro-brasileiros na escola.

Em suma, entende-se que a educação física escolar leva a capoeira como principal
patrimônio da cultura afro-brasileira da escola. O que entra em conflito com a falta de
outro conteúdo (como dança, jogos, etc.). Apesar disso, não diminuiu a riqueza da
Capoeira, mas a realidade nos convida a sair de uma possível zona de conforto. Mesmo
em áreas não amparadas pela Lei nº 10.639, existem relações raça-raça na educação física
escolar. Não apenas aponta para a educação antiracista, mas também aponta para a visão
histórica de uma sociedade igualitária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa não podemos deixar de pontuar que, apesar de ser um tema muito
pertinente dentro da educação física, ainda encontramos poucos estudos a respeito das
relações étnico-raciais, principalmente em um lugar de suma importância como o
CONBRACE.

Podemos identificar que a educação física tem uma ampla forma de abordar e
inserir o tema no dia-a-dia escolar e ainda assim é pouco trabalhado, deixando para que
outras disciplinas abordem em suas aulas.

Certamente existem professores que reconhecem a importância de se trabalhar


com as questões étnico-raciais, entretanto não sabem a maneira correta ou tem receio de
abordá-lo por acreditarem ser um tema que possa gerar polêmica ou até mesmo
desconforto. Isso acontece por falta de uma formação adequada, que possibilita ao
professor ter argumentos e didáticas de debater o assunto.

Podemos concluir que, para que as escolas e professores de educação física


avancem nessa temática, é preciso se atentar para as crianças negras que são silenciadas
frequentemente no ambiente escolar. Os professores devem deixá-los expressar suas
opiniões, pensar se os mesmos precisam estabelecer intervenções críticas para desafiar e
buscar estratégias que podem ajudar os alunos a construir autoestima, reconhecendo a
cultura africana e Afro-Brasileira.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-


Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília,
DF, outubro de 2004
RIBEIRO, J. L. P. Revisão De Investigação e Evidência Científica. Psicologia, Saúde
& Doenças, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 671-682, 2014. Disponível em:
<https://scielo.pt/pdf/psd/v15n3/v15n3a09.pdf>. Acesso em: 31 de outubro de 2021.

BINS, Gabriela Nobre; MOLINA, Vicente. Mojuodara: uma possibilidade de trabalho


com as questões étnico-raciais na educação física. Revista Brasileira de Ciências do
Esporte, v. 39, p. 247-253, 2017.

RIOS, Vandélma Silva Oliveira; Ramos MICHAEL, Daian Pacheco; DA SILVA Geisa
Alves. DANÇA AFRO-BRASILEIRA NAS OFICINAS DO ENSINO MÉDIO
INOVADOR: PRIMEIRAS VIVÊNCIAS. CONBRACE XIX- VI Conice, 2015.

LIMA Isabela Talita Gonçalves; SILVA, Samara Rúbia; BRASILEIRO, Lívia Tenorio.
AS DANÇAS AFRO-BRASILEIRAS EM PROPOSTAS CURRICULARES DA
REDE ESTADUAL DE PERNAMBUCO. CONBRACE XIX- VII Conice, 2017

DA SILVA Élen Laura Figueirôa André; LIMA Isabela Talita Gonçalves; BRASILEIRO
Lívia Tenorio. OS CONTEÚDOS AFRO-BRASILEIROS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
ESCOLAR: ANALISANDO ARTIGOS CÍENTIFICOS. CONBRACE XIX- VII
Conice, 2017

DA SILVA Élen Laura Figueirôa André; LIMA Isabela Talita Gonçalves; BRASILEIRO
Lívia Tenorio. CONTEÚDOS AFRO-BRASILEIROS E A EDUCAÇÃO FÍSICA
ESCOLAR: ESTUDOS SOBRE A CAPOEIRA. CONBRACE XIX- VII Conice,
2017.

SILVEIRA Keylla Amélia Dares; FERNANDES Silvio Anderson Toledo.


MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS: ELEMENTOS
NORTEADORES PARA SUA ABORDAGEM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR. CONBRACE XIX- VIII Conice, 2019.

RODRIGUES Raíra; VIEIRA Jairo. PROPOSTAS PEDAGÓGICAS SOBRE A


CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA
ANÁLISE DOS ANAIS DO CONBRACE DE 2005 A 2017. CONBRACE XIX- VIII
Conice, 2019.

LIMA Isabela Talita Gonçalves; BRASILEIRO Lívia Tenorio. CULTURA AFRO-


BRASILEIRA E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O QUE DIZ A PRODUÇÃO
DO CONHECIMENTO. CONBRACE XIX- VIII Conice, 2019.

SILVA, Soraia de Oliveira; VIANA, Raimundo Nonato Assunção, CULTURA


CORPORAL E IGUALDADE ÉTNICO - RACIAL: CONTRIBUIÇÕES DA
EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI Nº 10.639/03 NO
ENSINO BÁSICO. CONBRACE XIX- VIII Conice, 2019

REIS, Ronaldo. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE RELAÇÕES


ÉTNICO-RACIAIS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. CONBRACE XXI-
VIII Conice, 2019.

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