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FILOSÓFICOS BUS
CA
DO
Don
Bonamigo
de las
Fuentes
HU
MA
NO
Universidade Federal do Espírito Santo Filosofia
Secretaria de Ensino a Distância Licenciatura
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Secretaria de Ensino a Distância
EM
POEMAS
BUS
FILOSÓFICOS
CA
DO
Don
Bonamigo
de las
Fuentes
HU
MA
UFES
Vitória - 2017 NO
Presidente da República Coordenadora Adjunta UAB da UFES Laboratório de Design
Michel Temer Maria José Campos Rodrigues Instrucional (LDI)
CDU: 821.134.3(81)-1
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indicando-se o nome do autor e a origem da obra). Toda reprodução foi realizada com amparo legal do regime geral de
direito de autor no Brasil.
SU
MÁ
5Introdução
6Andante
7Do Primeiro Olhar
RIO
8Das Ações dos Homens
9Maieutica Humana 31Muralhas da Solidão
10Novena Antropoética 32Da Temporalidade Humana
11Vita Brevis 33Requiem
12Cooperança 34Relações do Tempo
13Canto do Abandono 35Canto de Amor
14Retrato 36Balada do Anoitecer
15Do Próprio Nome 37Chuva Molhada
16De Um Grande Amor 38Chuva Cadente
17Pobrezas da Humanidade 39Reversos do Menino
18Alma Cabocla 40Da Condição Humana
19Filha da Noite 41Casas da Vida
20Sete Lições de Solidariedade 42Lógica Infinita
21Agonia e Graça 43Primeiras Águas
22Da Felicidade 44Silêncio das Flores
23Doença Universal 45Palavras Vitais
24Certezas Vitais 46Tome a Rosa
25Primeira Certeza 47Luas
26Carta Funebre 48Como a Corrente do Rio
27Caminho de Casa 49Cabelos Brancos
28Prato de Alegria 50Metamorfose Desumana
29Capiau Depressivo 51Frutos da Ternura
30Água de Poço 52Do Caminho de Don
53Das Coisas da Terra
54Das Coisas Humanas
55Do Filosofar
56Sobre o Autor
INTRODUÇÃO
AO INVÉS DE LER,
REFLETIR
AN
Como uma curva
De estrada
Suspensa no céu sem fim
Como um arco
DAN
De arco-íris
Distendido na estrada sem cor
Sou eu
Sou eu que me distendo
Na poeira da estrada
TE
Sou eu que viajo
Nas curvas do céu,
Qual peregrino
Que avança na vida
Don Vencendo mais uma curva
Da vida
Qual menino
Bonamigo Trilhando seu caminho
Esperando tocar no céu.
Sou eu
de las Sou eu em quem a dor me toca
Porque não quero
Não quero ser só com minhas dores
Fuentes Por que não quero
Não quero ser só no meu amor;
Isto não me contenta.
E porque quero
E porque espero
Eu avanço noutra curva
E vejo um peregrino
Saindo de mim.
Sou eu
Sou eu que avanço na vida
Andante
Amante
Construtor de pedaços de céu
Mostrando o arco-íris na estrada
Com minha dor
Com meu amor; Como um amante da amada vida
Andante,
Andante sou eu!
DO
Levanta teu olhar Don Bonamigo
O primeiro de las Fuentes
Bem de manhã, criatura
PRIMEIRO
Antes das outras
E contempla, no silêncio
As criaturas que ainda dormem
OLHAR
Dentro, bem dentro de ti.
Levanta teu olhar
O primeiro
E fecha os olhos, criatura
Para ver, no silêncio
O que é o privilégio dos cegos
E contempla, silenciosamente
A claridade do que não deixaste viver
Dentro, bem dentro de ti.
Levanta teu olhar,
O primeiro
Que dissipa a sonolência
E vê que a aurora continua
Silenciosamente
Todos os dias
Começando as manhãs, criatura
E contempla
Porque o som da vida é leve
E exige o tempo de silêncio
Dentro, bem dentro de ti.
Levanta teu olhar
O primeiro
E prepara-te, criatura
Para todas as noites
Voltar aos teus próprios braços
Silenciosamente
Como gesto sagrado
Porque Deus te espera
E contempla
O Seu incontestável Amor.
E dorme em paz, criatura
E deixa os anjos, todas as noites, criatura
Dentro, bem dentro, cuidarem de ti.
DAS
AÇÕES
DOS
HOMENS
Don
Bonamigo
de las
Fuentes
ANTROPO-
E quanto já se fez da felicidade: Convida alguém para passear
Retoma-te e conhece-te a ti mesmo; Deixa que ele decida aonde vão ter lugar
No 2º dia Acompanha os seus movimentos
Exercita a contemplação Percebendo onde ele permanece
ÉTICA
( Para
E passa o tempo acompanhando
O movimento do ser numa criança;
E ao fim do dia
Registra para sempre
Mesmo que esteja a caminhar;
E ao fim do dia
Inclui este alguém em teu mundo
Mesmo que nada puderes esperar;
conseguir A criança em teu coração; No 8º dia
a No 3º dia Volta ao teu mundo
graça Viaja ao outro extremo Faze todas as coisas de antes
de Escolhe um velho para ouvir Distingue o que são pessoas e o que são coisas
FAZER Tal como foi sua história Vê como as pessoas estão diante de ti;
SER ) Segundo seus próprios olhos; Ao fim do dia, até a última,
E ao fim do dia Registra um bem-querer por todas
Registra para sempre Lá no mais fundo de ti; Don Bonamigo de las Fuentes
O velho em tua mente; No 9º dia
No 4º dia Exercita viver o dia e a noite
Vai ao lugar onde vivem os presos Totalmente para as pessoas
Don Bonamigo de las Fuentes E ouve a um só, até o cair da tarde, Mesmo que poucas
Um daqueles a quem a vida nada conta; Ou muitas coisas sejam tuas;
E ao fim do dia E ao fim desta noite SER )
Liberte o prisioneiro e encontre o homem Faze um balanço do Ser FAZER
Sem condená-lo à pena de morte; Somente do vivido de
No 5º dia E depois me diz graça
Passa a totalidade do tempo Qual foi a graça que alguém alcançou; a
Acompanhando o movimento Antes de repetir a mesma conseguir
Numa UTI de crianças Descansa feliz um dia ( Para
Que por certo em breve hão de morrer; Pois toda novena inclui o descanso ÉTICA
Registra para sempre o que é o desespero inocente Que é pra não chatear o santo
Na impotência de viver; Principalmente se o santo
E ao fim da noite desse dia O invocado
Leva a criança nos braços É aquele que começou a nascer
ANTROPO-
Para que ela possa morrer; Dentro de ti.
No 6º dia Se houver necessidade
Conduze-te a alguma montanha
Enquanto ouves, olha e mira por todo tempo
De uma segunda novena
É recomendado
NOVENA
Até as sombras começarem a descer; Que não seja feita só!
E ao fim do dia registra no teu mundo
10
Por debaixo de todos os pés Inscreve neste instante Don
VITA
BREVIS
Como sinais O que ultrapassa tua vida
A todo instante Porque a vida é breve
De que a vida é breve, A vida é breve! Bonamigo
A vida é breve! Sente pelo todo toda presença
Aproveita Pelos dias e até o fim das noites
E inscreve no instante o que é eterno Experimenta deste agora de las
Porque não é possível eternizar o instante A plenitude de tua ternura
Se a vida é breve Porque talvez logo pela manhã
E a vida é breve! A vida já tenha mostrado Fuentes
Penetra de amor o instante Por alguém ao teu lado
Amor sem condição Que ela é breve
Amor nas mãos E a vida é breve!
Olhar de amor Amanhã é só uma palavra, coração meu
E verás que o eterno vem morar E uma esperança
Na fluidez da vida; A ternura é uma precisão, coração de todos
Prolonga pelo amor a duração Precisão do tempo presente; Que é a face obscura e mais dolorosa
Entra em teu quarto De cada uma das vidas Só o amor ilumina o instante Para quem experimenta
Olha teu filho Que se passam pela tua E sua ausência acelera Que a vida é breve,
Contempla enquanto há tempo E experimenta A brevidade E a vida é breve!
Ama em silêncio Na brevidade de tudo A certeza da brevidade da vida; Vê, coração
Denso e profundo O aquém e o além da vida, Sem ternura Como este instante de amor
Porque a vida é breve Apreende no teu tempo O reino é da solidão Clareia as direções
Não percas tempo Abre o véu e a onda
Na finitude do mundo; Sem machucar o céu,
Olha os velhos Faz parte
Medita as crianças E não aumenta
Vê quem é forte A brevidade da vida;
Ouça quem padece Aproveita
Todos se vão Cada instante
Todos nós passamos E não sofras
Todos nós deixamos E não te desgostes
Como amostra permanente Porque mesmo assim
De que a vida é breve A vida é breve;
A vida é breve! Depois de amanhã
Aproveita, meu coração, Se ainda for possível
Não percas tempo Verás com outros olhos
Porque tudo não passa de instantes Que mesmo com tudo
Instantaneamente tudo se esvai A vida é breve,
Por sobre as mentes E valeu a pena!
11
Olha, Moço E vê se és como a Terra
Olha para a tua Terra Vê se dás tua parcela
E vê que ela é muito Mais Olha se não pisas em muitos
Muito mais do que uma roça; Vê se não andas sozinho
Olha, Moço E ainda reclamas da Vida, da Terra e de tantos!
Olha para os teus Filhos Olha para a cidade, Moço
Com os olhos úmidos da Terra Olha para a miséria
E os olhos da terra são promessa Vê se enxergas a violência
São Promessa e Esperança Então olha quanto vale a terra
Assim como a Vida das crianças! Vê se ficas feliz em tua terra
Não desanimes, Moço Mas não vás sozinho, Moço
Olha que nem tudo é pedregoso COOPERE, Moço
Mas não vás só Soma tuas forças com os braços de muitos
COO Don
Bonamigo
PERAN de las
ÇA Fuentes
RE
E mire as suas pegadas
Se são largas passadas
Com direção;
Mire os seus problemas
E olhe sua pequenez
TRA
E não se curve
Pois há de ter uma outra vez;
Mais um sim
Mais um não.
Mire que a vida é breve
TO
Olhe que a estrada é longa
E não se canse
E não desista
Antes de chegar ao Fim!
Don
Bonamigo
de
DO Fuentes
las
PRÓPRIO
NOME
Onde queres chegar Com teu nome finito
Talvez não haja caminho Não podes desmentir
Feito Ou esconder
Porque a floresta é pouca A verdade de uma alma
E virgem Que na verdade
Porque a areia do deserto é muita Ainda é virgem
E o vento encobre os passos Ou então árida
Dos que passaram antes E não viu suas fontes
E foram poucos. Irrigando os próprios desertos.
Onde podes chegar: Onde queres que vás
Terás que medir a altura Onde podes chegar
E a profundidade Só tu mesmo imporás a ti mesmo
De tuas forças O dever que teu nome espera
E dos fundamentos Realizado
Para que a tortura Escolhe o bem dos outros
E o sofrimento E as florestas renascerão
Não sejam teus guias Com os oásis nos desertos
Na escuridão da noite E tu
Na selva Tu viverás
E na aridez do deserto Viverás infinitamente feliz
Durante os dias. E entenderás teu próprio nome
Onde deves chegar Enfim!
DE UM GRANDE AMOR
Vê, eis teu amor
Ele foi profundamente desperto
Vê, é teu amor
Ele mostrou teu coração
E enquanto não for preenchido
Eis, ele ficará aberto!
Vê, é teu amor
Ele abriu as trancas
Eis, ele desnudou tua nudez
É ele, ele te deu razões para viver!
Eis, é teu amor
Ele, ele se mostrou tão grande
Ele, ele foi o melhor presente
Eis, é teu amor
Amor na carne,
Que vem da alma
Ele, ele te mostrou
Eis, ele agora é Tu!
Don Bonamigo de las Fuentes
Toda criança que morre
Por qualquer das misérias de todos os lados
A Humanidade se recente
Isto empobrece a Humanidade;
Todo homem que seca a sua Alma
Por dor provocada
A Humanidade SE adoece
Isto empobrece a Humanidade;
Todo homem que expulsa
Por obras ou intenção
Qualquer homem do seu coração
A Humanidade se recente
Isto empobrece a Humanidade;
Todo homem que fere o rosto
Machuca a Humanidade Don Bon
A Humanidade se encolhe
Isto empobrece a Humanidade;
Todo homem de uma só ideia
Só consegue andar em um só caminho
Elimina as potencialidades da vida
Inibe muitas iniciativas
A Humanidade se encurta amigo de las
Isto empobrece a Humanidade;
Todo homem que despreza
O que fez bem por todo passado
Esquece o lado que já foi Esperança Feita
Maltrata mais a história da Humanidade
Isto empobrece a Humanidade. Fuentes
Maltrata as águas, as fontes
E vê que os rios reclamam suas águas
Maltrata a natureza
E vê o que acontece com a Humanidade
Destrata a Humanidade
E vê que só sobrará o inferno
Com a face anônima da violência POBREZAS DA
Que destrói em cada homem
A sua mesma Humanidade! HUMANIDADE
Solto meu canto caboclo
ALMA
CABOCLA
Rasgando meu peito saudando a noite
Sou retirante da seca
Tocado nas brenhas sem chão nem porção
Minha alma é cabocla;
Sento na porta do rancho
Rasquejo na viola em tom de poesia
Andejo de estradas sem rumo
Canto a saudade em melancolia
Caboclo sem chão!
Olho pro céu e medito:
O sol que se apaga brilhou para todos
A sombra da noite se enrosca em todo cercado
A chuva respinga molhado em cada terreiro
E não há primeiro na fila do vento
A terra viceja o verde na chapada e no monte
E não há quem conte tanta fartura
E o caboclo sem chão!
Conto a vida sofrida
No braço da viola surrada no tempo
Lavo minha alma e a saudade se perde no vento
Minha alma é cabocla;
Junto com a companheira
Eu gasto a noite proseando a vida
Dói no meu ombro o peso de tanta injustiça:
Caboclo sem chão!
AGONIA
O horizonte do entendimento
Caleja-se
E torna-se tão difícil e dolorida
A abertura nos calos
Para valorizar suficientemente
E GRAÇA
Os novos sentimentos;
Então a alegria
Permanece fria por um bom tempo
E inda desconfiável
Até que a lembrança
Atenue sua força
E a esperança
Possa ser feita em paz.
Viver todos os dias
Em permanente desafio
Cansa qualquer homem
E a alma é que sofre a tortura
E o corpo manifesta a dor;
Tudo se torna pálido
E inerte como as cinzas
E a própria brisa incomoda
E tudo se torna o mesmo: a praga e a flor.
Recuperar-se para a vida
Quando se beira a morte
Já não é mais questão de sorte
Nem só de querer
Porque isto importa, mas não basta;
É preciso parar e esperar um tempo
Para que a natureza faça o que possa
Até que venha a coragem
Nos dedos da Providência
E o novo horizonte se faça
Levando a agonia,
Lavando a vida de Graça!
Don Bonamigo
de las Fuentes
Quase todos os homens
Buscam a felicidade
Como um estado da alma
Como momentos de sorte na vida
A qualquer preço
Mas não conseguem garantir sua duração.
A felicidade é um problema em si para tantos
Mas, na verdade,
A felicidade é um problema de dignidade.
Ela só dura e ninguém a rouba de nós
Se dela formos dignos
Como os filhos deveriam ser dignos dos pais.
A felicidade duradoura
É a expressão funda da alma
Don Daquele Homem
Que leva junto o sofrimento
Bon E a dor
Porque o olhar da Alma
amigo Perpassa o tempo para além do presente
E distingue o que espinha
de E o que é flor.
A felicidade verdadeira
las Leva consigo o pranto dos outros
No homem que se despoja de si
Fuentes E entende no outro o seu próprio mistério
Que na verdade é um só
CERTEZA
Já são importantes de um modo diferente;
E quando tiveres dúvida, no silêncio,
Lembra-te da Primeira certeza;
Despoja o teu coração
E então encontrarás o jeito amadurecido
Entra em teu quarto, em silêncio, O jeito certo de amar
Silencia, olha firme e acolhe a primeira certeza; Aquele que fará Feliz para sempre;
Entra em ti mesma, em silêncio, Quando encheres as pessoas de amor encarnado
E então verás quem já mora em ti; Elas serão felizes e terão a mesma certeza
Depois olha para fora de ti, em silêncio, Por teu amor, por tuas mãos
E joga fora as migalhas A tua beleza humana será imensa
Que se espalham dentro de ti E sempre será maior a tua fonte!
E só atrapalham teu coração;
Don Bonamigo de las Fuentes
Olha firme dentro de ti
E vê que teu Amor já não quer ser mendigo
Olha para fora de ti
E vê que o amor é coisa bem diferente
Entra mais fundo dentro de ti
25
Em tua última carta
Me dizes com tristeza
Quantas tentativas fizeste Don
Para fazer a experiência
De preencher a carência maldita Bonamigo
Que te habita
Em cada batida, o coração; de las
Tua carta me dia, na última
Quão próxima te parece a morte Fuentes
E mais e mais distante
Uma cadência para a tua vida
E imploras até mesmo um golpe de sorte
Para espantar o desespero
Que se tornou um companheiro
A maldizer todo o instante
No movimento de volta
Na perspectiva de ida;
Na última carta
Na última carta, confessas
Já nem me pedes uma réstia
Que tudo parece perecer à volta
Quando antes eu era da luz um raio
Que as amarras da vida estão todas soltas
Agora, em tuas palavras
E tudo aumenta a face da desistência
Já te entregas à moléstia
E nada mais vale
Que chegou também ao corpo
E ao mesmo tempo encolhe
E me pedes que eu não responda
Para além de tuas forças
Porque nem a mim já não queres ver
E virou real em tudo
Porque nem a mim poderias amar;
O desgostoso jogo das aparências;
Na tua última carta
Não me disseste ‘adeus’
E foi nos dias seguintes
CARTA
Que eu tive a notícia
Por nenhum dos ‘teus’
Ti te adentraste na terra
Como alguém que morreu;
E agora, agora deixo uma folha em branco
FÚNE
Ao túmulo
Sem as palavras, que não quiseste
E que meu coração por ti sempre escreveu;
Fico com tuas cartas
E com teu silêncio junto de mim,
BRE
Com minhas lembranças
E com as reticências
Eternamente não preenchidas por um ‘adeus’!
Onde começam os caminhos pouco trilhados noD Don Onde levantarei minha casa
Aqueles que exigem pés firmes Quando lançarei fora os restos e os entulhos?
E outros tipos de calçados noB Bon Dar-me-ás, oh céus, a chuva
Porque as pedras nas alturas são muitas E o teto por testemunha
E os escorregões nas profundezas abundantes? ogima amigo De que meu silêncio não para
Onde começam as certezas De que minha ‘querença’ é imensa
Que recobrem alicerces pouco experimentados ed de E que a minha esperança é certa?
Aqueles que sustentam a beleza Onde começam os caminhos
Das casas e dos rostos sal las Onde repousam as certezas
E a longitude do alcance das mãos? O que me diz minha beleza
Onde encontrar sensibilidade humana setneuF Fuentes Como se constroem as casas
A cada vez tão rara e distante Da sensibilidade humana agradecida?
Daquelas que fazem escorrer pelos olhos o coração Quantas janelas familiares se fecharam
Que encurtam muitas distâncias Por que portas estreitas e altas se abriram
E conhecem tanto da gratidão? Por que agora as pedras se afastam à beira
Onde se encontra meu rosto E parecem marcar a direção de um caminho?
Que atalhos abrem minhas mãos Eis que aparecem estrelas na noite da minha vida!
Quanto pode pesar meu desgosto Por que sinto cócegas nas dobras das mãos?
Até onde pode ir minha solidão Eis que meu rosto se ilumina
Por onde meus pés afundam Como se eu tivesse trocado as veias do mesmo coração!
Por onde tocam a certeza das pedras Enquanto isto, as abelhas inventavam caminhos no céu
Que ferem meus pés descalços Quando a ‘essência’ iam procurar
E pelo menos repousam no chão? E, em casa, a rainha vivia da certeza:
Por onde passa o fio tênue da vida que é minha Isto era o melhor que ela podia Esperar!
E separa os rastros da possibilidade dos da ilusão
CAMINHO OHNIMAC
DE CASA ASAC ED 27
Depois do último encontro É incompleta e futura
Fez-se a distância Enquanto espera
Houve silêncio Acontecer o que fora antes;
E não foi mudo Quando nos encontramos
Não houve incerteza O silêncio desce sobre nós como a chuva
Ao longo dos dias E nosso abraço não machuca
Houve espera Nossos filhos enroscados ao pescoço
Mas não reticências Porque é coração, sangue e osso
E agora Firmeza de bem-querer
Neste encontro Que nasce do fundo do poço
O prato da minha vida E lava as mãos com a bênção
Encheu-se de alegria; Sem precisar de luvas;
Quando falamos Quando findar o encontro
Parece que foi só ontem Segurarei a alegria
A prosa da nossa ternura Até que uma nova bênção
Quando ficamos distantes Presenteie por nós uma aurora
Parece que a aurora Para todos os nossos dias!
PRATO DE ALEGRIA
Don
Bonamigo
de
las
Fuentes
Don
Bonamigo
de
las
DEPRESSIVO
“A ‘nubrina’ não molha a terra
Ela só molha bobo
Que acha que ‘nubrina’ não molha;
Mas para molhar a terra
A ‘nubrina’ é fachada
Porque pra isso a água da ‘nubrina’ é pouca”.
E ponderou:
“A ‘nubrina’ é uma esperança pequena
CAPIAU
De pingo miúdo;
Ela refresca o sentimento
Depois de muitos dias de abafamento;
Mas a água da ‘nubrina’ é pouca
Para orientar o sentido do meu sentimento;
A ‘nubrina’ só ajuda na sede das folhas
Ela não aumenta a água da fonte
Ela é uma fachada da água ausente”.
E sentenciou:
“Minha vida é triste
Porque estão secando as águas da nascente”!
Se o poço é fundo
A água é fresca
Se o poço é raso
Se esvai na seca
ÁGUA DE
POÇO
Se o poço é fundo
Promete medo
Se o poço é raso
Só molha o dedo Se o poço é raso
Se o poço é fundo A alma fenece
Sacia um mundo Se o poço é fundo
Se o poço é raso Faz aliança
Cai no descaso Se o poço é raso
Se o poço é fundo Fica na infância;
A alma padece Se o poço é fundo,
Don Se o poço é fundo,
Se o poço é raso, É alma e água
Bon Então é raso Águas profundas
A diferença está na água Irmãs das rosas
amigo É água rasa Gêmeas da alma
É água funda Água da vida
de É alma rasa De quem alcança
Água e vida
las Água sofrida
Água aliança
Fuentes Sacia a sede
Da Esperança;
E a água rasa,
A água rasa
Fecha o seu poço!
MURALHAS
Pela ilusão da posse de si
mesmo.
Indivíduo
DA SOLIDÃO
São quase todos os homens
Mal das pernas atrofiadas
Mal que corrói a intimidade
Como violência velada
Indivíduo Da Humanidade;
Eis um homem que é só! Indivíduo
Eis aquele que se fecha em si mesmo Homem de olhar fundo
Erige muralhas para cercar sua intimidade E vazio
Para que ninguém penetre Com a certeza dilacerante
Nem perfure De ser nada!
Nem descubra
A penumbra
A penúria
E a miséria de ser só.
Indivíduo
Talvez não seja por maldade
A escolha do isolamento interior
Talvez seja um falso juízo
A respeito da vida
Da liberdade
Da felicidade
E mesmo do próprio amor.
Indivíduo
É homem ‘dez-infeliz’ e doente
Porque mais adiante não se aguenta
E o corpo não mente
Quando cai doente
De males sem causa aparente
De uma morte que se faz lenta, lenta ... !
Indivíduo é rei das coisas de fora
Mas escravo de si mesmo
Da sofreguidão de não suportar o silêncio, o silêncio... Don
E a voz do questionamento Bonamigo
Que tantas vezes ainda ecoa lá dentro de las
E congela os sorrisos da aparência Fuentes
DA TEMPORALIDADE Houve um tempo
E já era o futuro:
E pediam perdão por tê-lo feito;
Havia os que mostravam as maquiasses do futuro
Os homens abriram suas teorias parciais E pediam ajuda para corrigir em tempo os defeitos;
Porque prevalecia o simplesmente vivido Havia os que dormiam de dia
Porque voltaram ao meramente simples Para ajudar melhor pela noite;
E os homens perceberam Havia os que faziam camas para os que dormiam de dia
Que havia alguma verdade por todo lado E também faziam camas para si, para o repouso da noite;
E muita cegueira se abriu Havia os que plantavam a Terra
E muita cerca caiu E colhiam sem precisar fazer contas;
E tanta violência se foi Havia extraterrestres trazendo novas descobertas
E pouca foi a saudade E aproveitavam a viagem para levar outras tantas;
Das antigas e inseguras certezas. Havia muitos cientistas fazendo encontros nos astros
Houve um tempo E sua Sabedoria já fazia parte das crianças;
E já era o futuro Havia muitos Homens, muitos
E apareceram tantas possibilidades: E a Vida aumentava em abundância.
As mãos não retesavam armas Houve um tempo
Ofertavam a abertura das mãos E já era o futuro:
As mentes simplesmente inteligentes Os altos dos montes viraram florestas
Contavam com os dez dedos E se refizeram as fontes
As batidas do coração As margens dos rios se cobriam de sombra
E cada proximidade era um encontro E era tanto peixe, tantos
Como se já não fosse preciso Os homens bebiam as águas dos rios
HUMANA
32
Houve um tempo Que eu sempre vi dentro de mim
E já era o futuro: E no poço fundo do sofrimento dos homens.
Havia muita notícia na Terra, na Água, no Ar Houve um tempo
E eram partilha de belas experiências E já era o futuro:
As crianças se divertiam com o trabalho dos homens Eu já o conhecia há muito
E não tinham pressa de crescer Porque sempre se passou dentro de mim
Os homens continuavam crianças brincalhonas E descobri que os homens já conhecem este Tempo
E não temiam envelhecer E não apostam a Vida para Ser feliz;
Os velhos balançavam a Sabedoria na rede Há um tempo que sempre houve
E rodeados pelas crianças, esqueciam-se de contar os anos Que faz ver o reverso do não-ser de sempre
E tinham muitos anos, tantos; E amar quem já viveu desse tempo
As mulheres tinham brilho nos olhos Como a Certeza que até parece sonho
E o sorriso da meninice nos lábios E Não desgruda dos homens
E eram amadas tanto, em cada morada, tanto Esses mortais que temem a morte
E acarinhavam seus amores no colo, muito, muito; Porque pressentem que ainda faltaria muito para deixar de viver.
Os homens e mulheres se doavam e nem lembravam Houve um tempo
E a Felicidade era muita, tanta, tanta E já era o futuro
E passeavam em tantos lugares E o Progresso era imenso, tanto
E era tão fácil de ver os abraços. E a Luz da Vida era intensa, tanta
Houve um tempo Como se todas as estrelas tivessem descido do céu
E já era o futuro: E as possibilidades eram múltiplas, muitas;
A polícia andava de sandálias Já era o Futuro
E em vez de apito, assoviava Como se fora o mar- da- vida
Os presídios guardavam muito trigo, muito E já era Tempo;
E não havia grades nem portões Quem passar por Lá
Os juízes saíam dos tribunais Mande recado para os homens de nosso tempo!
E contavam belas Histórias pelas calçadas Don
Os governantes não tinham partidos
O seu discurso era o Silêncio de suas belas decisões Bon
E distribuíam sorvetes à sombra das árvores.
Houve um tempo amigo
E já era o futuro:
Quando passei por lá de
Eu tive medo
Um medo estranho de Ser feliz las
Medo de começar e depois Continuar a Ser feliz
Como se eu não desse conta de Viver Fuentes
Porque eu teria de ser aquele Outro oculto
33
REQUIEM
Dessa vida bem-vinda
Que me foi dada no ventre;
Agora só sobrou a saudade
Nas asas infinitas do meu amor
E que agora, agora
Agora chora o meu coração
Pelas veias sempre abertas da recordação!
Filho perdido
Filho levado
Não te deixarei morrer
Jamais
De qualquer outro jeito
Nem dentro
Nem fora
De mim;
Alivia tua mãe, meu filho
E ama-me ainda
Filho perdido Ainda e para sempre
Dor descabida Como foi nosso tempo aqui;
Fenda na vida E no tempo mais propício
Amargo de fel; Depois dessa mágoa de morte
Filho amado Vem ajudar tua mãe
Filho tirado A percorrer o caminho
Colo sangrando Que fizeste antes de mim!
Dor sem igual; Adeus, meu filho
Don
Secam-se as fontes A Deus deixo a bondade
Vão-se as razões E a ti a minha saudade
Cessa o fundamento Eterna! Bon
Para um sofrimento
Que me dilacera amigo
O que há de mais sagrado
No santuário do coração;
Filho perdido de
Filho levado
Para longe do meu colo las
Fora do alcance das minhas mãos
Que apertam trêmulas
As lembranças costuradas Fuentes
Don
RELAÇÕES DO TEMPO
Um tempo de vida sempre puxa o outro Os filhos que nem nasceram
E não há começo E os traz de volta para os espaços humanos
Sempre só há meios e fins; Porque incluem um processo Bon
Às vezes não há tempo nem de Recomeço De seres humanos em construção;
Porque não há mais tempo interior E sempre parece
Mas só uma tentação de avanço No começo do meio amigo
Como se o aperfeiçoamento Mas raramente no fim
Só pudesse estar noutro lugar Que o melhor sempre mora noutro lugar! de
Como se um outro ritmo Um tempo de vida puxa outro
Pudesse inovar a vida; E parece que nossa importância
las
E então passamos por cima Decresce no mesmo lugar;
E atropelamos o tempo do interior! Qualquer infortúnio é motivo
Um tempo de vida puxa o outro Uma e outra afronta é desgraça Fuentes
E logo interpretamos Qualquer esforço é desgaste
Que deve ser noutro lugar; Todo tropeço é uma queda E em cada tempo
Criamos uma lacuna na história Um simples não é sem misericórdia Poucas coisas são necessárias para se viver bem;
E achamos que estamos prontos Qualquer espaço é pequeno Há coisas que são necessárias, mas não suficientes
Para enfrentar a primeira solidão; Toda tocha real é só faísca; Outras são simplesmente suficientes
Então relativizamos as experiências Então só vemos a nós mesmos E assim é o que basta;
Aquelas que nos fizeram quem somos Como o pouco de bem transferível Há o que faz um homem viver bem muito tempo
Apesar do mesmo lugar; Nas hipóteses de outro lugar! Há o que faz feliz mesmo que não se viva muito
E por consequência só ouvimos o mesmo desejo Um tempo de vida puxa outro E há o que se vive muito
Ficamos cegos das possibilidades E queremos garantir por nós mesmos E vale para o pouco tempo e para sempre;
Os ouvidos ensurdecem no silêncio O que talvez nem possa Há nuvens no coração dos homens
E, se Deus fala, só fala noutro lugar! Ser real noutro lugar; E há homens andando nas nuvens
Um tempo de vida puxa outro Vem um primeiro tempo, é a possibilidade Que não são do céu
E só vê bem à frente Vem um segundo, e já é só esperança Há homens que só se entendem diante do mar
Quem leva todos os tempos detrás; Vêm outros tempos E há homens que nunca viram
Uma história é uma tecitura sem saltos E a necessidade de olhar para trás; Seu sangue derramar
As mudanças incluem o sacrifício Então vemos nas entrelinhas do tempo Há homens que recomeçam Seu Tempo
A esperança é o suporte da prece As estrelinhas do esforço e do planejamento Contando a parte melhor da história
O conhecimento deve incluir a visão Da Providência e do despojamento Que não foi noutro lugar!
Os sentimentos não machucam o pensamento E vem a experiência Se tudo isto medita em Verdade
Quando não forçam o sentir do coração De que já Só somos sós Talvez achemos que haja um outro motivo
A segurança não machuca a alma E que o anonimato é o cárcere Para querer viver noutro lugar;
Se os motivos foram suficientes De quem julgou sua história E talvez nem se preencham as lacunas
Para a primeira e a última decisão; Só digna em um outro lugar! Que se fizeram em cada tempo
Uma decisão leva consigo os filhos Um tempo de vida puxa o outro Neste e noutro lugar!
35
Don Ou nas noites de tormenta
Bonamigo Eu sempre encontrei guarida
de Em algum recanto cálido
las De teu coração;
Fuentes Eu sempre bendigo a Ti mesma
Porque no andar célebre do nosso tempo
Diminui a todo instante
A penumbra angustiante da solidão!
Perscrutei meu coração
E encontrei a saudade
Em cada instante inseguro
Em que ficas longe de mim
E eu fico longe do teu olhar;
DA Enquanto eu me elevava
Do chão da estrada
Eu voltava de onde partia
Eu queria vencer a vida
E a vida me vencia
DO Eu preferia a noite
Porque eu me pertencia
Ninguém testemunhava
O que eu vivia
Eu era eu mesmo
NOITE
Era uma alegria imensa
Era como se tudo fosse real
CER
Porque vinha dos trilhos
Da fantasia
E eu dormia
Com os pés na estrada
Eu embalava a vida durante a noite
E depois me perdia
Durante os dias!
CHUVA MOLHADA
Don
Oh, Chuva, que és chuva
Bon
De água molhada e pura
amigo
Lava a poeira da estrada
Enche meus cântaros de água
Leva as minhas sobras
de
Faze florir meus canteiros
las
Para alegrar o meu bem;
Fuentes
Oh, chuva, que és chuva
De água molhada e pura
Don
Faze que eu sinta a ternura
De tua brisa no rosto
Como sinto amor tão leve e denso Bon
amigo
Dentro de mim por meu bem;
Oh, chuva, que és chuva
de
las
Purifica as minhas lembranças
Fuentes
Fuentes
Para sempre
Bon
amigo
las
Fuentes
CHUVA CADENTE
Quando o céu se fecha de nuvens negras, negras
O sol fúlgido se esconde tímido
Ventaneja o vento intrépido, roçante
Esborram-se as nuvens negras, negras
Derramando-se em chuva cadente!
Chuva mansa, garoa plácida
Traz o dom do recolhimento
Fecunda milhões de vidas latentes
E a esperança dos sem-sentido
Há um amor que a chuva lembra!
Os lampejos que acompanham tua cadência, chuva branda
São centelhas para as palhas dos descrentes
Réstia de paz aos tripulantes
Renovação para os corações amantes!
Teu murmúrio desmancha os nós empedernidos
Chuva branda, harmonia das notas imprevisíveis
Lucidez dos sentimentos indecifráveis, impossíveis
Resposta aos mistérios infindos do ser humano!
Da terra se eleva o canto
De gratidão apenas balbuciada, sussurrante
Dos corações aflorados em tua cadência
Porque és sempre nova, chuva cadente
Misturada aos rios do meu pranto!
Don
Bon
amigo
de
las
Fuentes
DO MENINO
Don
Bon
REVERSOS
amigo
de
las
Fuentes
DA CONDIÇÃO
HUMANA
Dentre as muitas coisas De uma rosa;
De que é feita a vida Quem quiser viver
Da sapata da casa da vida Só pode escolher o que pede a Vida
Há ainda muitas experiências E fará um bom esforço para Fazer
Teorizadas, e não vividas Sim!
Comentadas, e não entendidas Há muitas experiências
Espreitadas, e não sofridas Que pouco foram seguidas;
Desejadas, e ainda não queridas Há muitas vidas vazias
Barulhadas, e ainda não ouvidas Porque quem as guia
Esperadas, mas ainda não amadas Pouco Ama
Tocadas, mas ainda não encarnadas E então
Apontadas, e ainda não seguidas! Só passa pela vida
Há um sal que é preciso comer Não construiu casas para a vida
Na justa medida Não sabe Cuidar da Vida!
Há um frio que é preciso sofrer
Para entender que o frio faz recolher
Há uma Terra que é preciso cavar
Para Ver o que está sobre a mesa
CASAS
DA VIDA
Há uma Fé que é preciso encarnar
Para que o Amor suporte e Ouça a Esperança
Há uma balança de egoísmo que é preciso conferir
Para que advenha o homem sem morrer a criança Don Bon
Há uma dureza da vida que é preciso louvar
Porque ela ensina a percorrer muitos caminhos amigo de las
Sem perder o rumo da Casa que volta! Fuentes
Dentre as muitas experiências
Algumas tecem a fortaleza da Vida
Outras colhem flores que logo murcham
E machucam de ilusão a Esperança!
Quem aprendeu a plantar
Quem aprendeu a cuidar das roseiras
Não precisará colher para si nenhuma das rosas
Quem quiser subir até a rosa
Ouça os espinhos da roseira
E prepare muitos jardins
E Verá que a vida não dá tantos espinhos
E a cada vez
Há uma experiência em cada desabrochar
LÓGICA INFINITA
Há pessoas mais profundas porque mais sensíveis
Há pessoas mais sensíveis porque mais sofridas
Há pessoas mais doloridas porque mais profundas
Há pessoas mais profundas porque mais bondosas
Há pessoas mais bondosas porque mais generosas
Há pessoas mais generosas porque mais doadas
Há pessoas mais sensíveis porque mais humanas
Don Há pessoas mais generosas porque mais sensíveis
Há pessoas mais doloridas porque mais humanas
Bon Há pessoas mais esperançosas porque mais bondosas
Há pessoas mais bondosas porque mais humanas
amigo Há pessoas mais simples porque mais sensíveis
Há pessoas mais generosas porque mais simples
de Há pessoas mais humanas porque mais humanas
Há pessoas mais felizes porque mais felizes
las Há pessoas porque há pessoas
Que são pessoas infinitamente
Fuentes Infinitamente gratuitas!
PRIMEIRAS
ÁGUAS
Don
E dali em diante
Bonamigo Me faz uma falta imensa
Se eu não vejo algum naufrágio
de las Em cachoeira abaixo
Do mais próximo dos corações;
Fuentes
Depois da queda
Quando eu fui levada Um breve remanso
Como pessoa, Convidada E o turbilhão no meu silêncio
A visitar a cachoeira das primeiras águas Das águas puras que vêm de cima
Foi então que eu fui Das águas claras que vêm de dentro
E quando eu a vi E me põem no rio das águas limpas
Eu fui convidada por ela No reencontro com a inocência;
A adentrar-me em sua queda Quando eu me lembro
A receber sua força nos ombros De mim, a mesma,
A gritar minha sofreguidão Renasce funda a cachoeira
Em suas águas geladas Quando me vejo no rio que eu danço
Mesmo que ainda fosse verão; Nas peripécias do leito
Então eu me fui nela Já sou capaz até de um beijo;
Porque as suas eram as primeiras águas Quando eu me lanço
E só elas poderiam Nos rios dos muitos
Poderiam dar sequência Levo outra água, cheia de bênção
À cura do meu coração; É que eu já bebo da primeira água
E quando adentrei-me nela E também entendo a sofreguidão de
Havia alguém me esperando um mundo;
Na sua experiência das águas Quando eu voltar
E então estendeu-me a mão; Quando eu for para o alto
E eu, em mim mesma, O caminho é o mesmo
No discurso da minha solidão Para o que eu já vivo aqui em baixo;
Fui fundo na queda d´água Ora por nós, cachoeira,
E foi então que eu Para que deixemos as primeiras águas
Que eu encontrei meu próprio chão; Brotarem fundo de dentro
E depois daquele dia Para que elas sempre desçam do alto!
Se as flores respondessem com palavras
A perguntas tão profundas
Tão honestas
Tão sinceras
Falariam com um tom de primavera
Compassado
Desses que a alma inunda
E derrama o transvazado
Pelas frestas
Feito amor de vagabundo!
Se as flores não teimassem no silêncio
Se não fossem revestidas de candura
Soltariam em cada pétala o incenso
Burilado pela ponta dos espinhos
E fariam de minha alma mansa e pura
Padecente das agruras dos caminhos
Uma voz da ressonância da ternura!
Se as flores me ensinassem seu silêncio
Se as flores compreendessem minha voz
Nós seríamos tão completos de alegria:
Eu seria a sua voz no som da noite
E as flores o meu sol durante o dia
Nós seríamos duas pontas enlaçadas
E não mais seria preciso palavras
Para dizer o meu silêncio e minha voz!
SILÊNCIO
DAS FLORES
Don
Bonamigo
de las
Fuentes
PALAVRAS VITAIS
Don Preciso de uma Palavra
Quero ouvir uma palavra!
Palavra tem que ser Verdade
Bon
Tem de ter Sentido
Preciso de uma palavra-verdade
amigo Quero ouvir uma palavra-sentido
Preciso de um ato de amigo:
Grande Palavra
de Verdade
Sentido!
las Uma palavra nas mãos estendidas
Uma palavra no sorriso aberto
Dos olhos brilhantes
Fuentes Fuentes Do coração ardendo;
Preciso da palavra das lágrimas sinceras
Verdade!
las Quero a palavra abraçando o abraço
Palavra-verdade do desabafo
Sentido!
de Quero-te comigo
Porque és a verdade do meu Sentido
O sentido das minhas Palavras
amigo Palavra da minha Verdade!
Preciso de ti, comigo
Para ser tua palavra
Bon A verdade do teu Sentido
Do Sentido que em nós quis sua morada
De Verdade!
Don Palavra!
TOME A ROSA
Tome a Rosa
Leve a Rosa, leve
Don
Feliz de
Depois da saudade!
las
Tome a Rosa
Leve a Rosa, leve Fuentes
Alivia as dores
Com flores
Cura o coração com amores!
Tome a Rosa
Leve a Rosa, leve
Dá a Rosa, vermelha
Do Amor!
É crescente
A Lua
Quase cheia
E já vai alta
No céu
Como as horas
Cheias
Que crescem na madrugada
Da minha calçada
E eu olhando
Olhando para o céu.
É tarde
E a noite
Com sua Lua crescente
Deixa mais cheia a minha esperança
Na providência
Que quase tarda
No dardo de minha avaliação;
LUAS
E se me entristeço
É comigo
Não com a providência
Que fez a Lua minguante
Começar a ser nova
Para que fosse crescente
O brilho da Lua cheia
Mais do que as estrelas
Pouco mutantes
Bem distantes
E desconhecidas;
Acresce-me, Lua,
Mais confiança
Para que a tristeza passe
E a providência se faça
Em mim
Em todas as Luas!
Don amigo las
Bon de Fuentes
Segue a corrente do Rio
Homem Don
E a vida toda Bonamigo de
Não queiras tirar as pedras do Rio las Fuentes
Pois as pedras fazem parte
Elas têm nome
E cadenciam
E desviam a corrente
Dos Rios
Dos homens.
Segue a torrente do Rio
Homem
E antecipa os desvios
E por entre as pedras
Encontra o fio do Rio
E de vez em quando
Descansa na sombra
Do calmo e frio Remanso
Que é o cio do Rio;
Prepara-te para as cachoeiras
Que são pedra pura
Homem
E o Desafio descendente do Rio.
Concentra tuas forças
Homem
No sentido do Rio
É mais para baixo que ele vai
Com sua corrente por entre as pedras
Solta a canoa bamba
COMO A
Homem
E desce teu próprio Rio
E marca teu nome nas pedras
Que são as marcas do teu próprio cio,
Depois descansa
CORRENTE
No Remanso
E abre os braços
Como fazem todos os Rios. DO RIO
Cessada a responsabilidade pela sobrevivência A Humanidade oprimida e dormente
Recomeça, mesmo que tardiamente, De muitos homens
A responsabilidade pelo Sentido Cuja vida solitária não conta
Pelo Sentido da Vida, que é Sua Não conta com nenhuma Esperança;
Pelo que conta da vida dos outros; Alguém que vê com um outro coração
Abre-se para o homem Pode ver muitas e outras coisas
Que já não teme morrer de fome A melodia que pode ser uma criança
O começo do caminho Que toca flauta de taquara
Que mata a fome de tantos Que assobia sem pauta
E orienta o coração de muitos E imagina um violão
De muitos seres humanos Mesmo sem noite de luar;
Que nem contam sua vida São os homens que dão sentido à noite
Porque acham que não vale nada; E acompanham o luar da lua-cheia
Alguém pode levantar, com espanto São os homens que fazem passar as luas
As Luas minguantes
CABELOS
Para poder esperar as luas-cheias
São os homens que olham para si mesmos
E transformam seu coração vazio ou minguante
BRANCOS
Em mãos cheias de melodias
E já não importa o que são as noites
Ou o que são os dias;
Os homens Felizes
Eles cercam as noites de imaginação
De imaginação infinita
Eles contemplam
Don Eles se reinventam
Eles retomam
Os caminhos em que outros passaram
Bon Como um Pai que renasce
Como um filho que amadurece;
Os homens só descansam, sossegam
amigo Quando se redescobrem de Amor
E Então, se amam,
Os Cabelos Brancos
de Sempre serão a Expressão do seu Amor;
E a felicidade já encontrou mais uma Morada
E sempre volta para casa
las Dos homens
Que sabem espalhar muitas e tantas
Daquelas velhas sementes
Fuentes Que esperam um Novo cuidado-de-Amor!
De tanto ver a dor Don
De tão raro que é o humano
Os homens pouco lembram Bon
De ser homens
Os homens não lembram amigo
Dos homens
Porque não encontram a si. de
De tanto ouvir aflição
De tão rara a emoção las
Os homens
Eles calejaram o coração Fuentes
O não se tornou constante
E atende pelo nome de opressão.
De tanto aceitar a mentira METAMORFOSE
De tão rara a voz da verdade
O engano tornou-se normal
E a felicidade
DESUMANA
A felicidade, um sonho que faz muito mal.
Fuentes
De tanto maltratar o carinho
De tão rara a ternura
las
A traição tornou-se banal
E a saudade
de
A saudade, um trauma de quem está fossal.
De tanto conviver com a morte
amigo
Dos outros
De tão rara a escritura da vida
Bon
A violência se fez universal
E a vida
Don
A vida, confundida
Na metamorfose do bem no mal!
Don Porque por perto de ti
Tenho a sensação que tudo vive;
Bonamigo E me chamaste pra perto
E eu fiz um fogão-de-lenha
de las
Pra prosear em nossa roça
Fuentes Esperando que mais chuva venha;
E quando a tarde declina
É bom conversar contigo ( Para el És o primeiro que se anima
Meu amigo hermano A saborear uma polenta
Duas vezes meu compadre! y compadre Enquanto o nosso fogão esquenta
Quando eu dormia no chão Don Marco E afina o coração;
Na margem da grande cidade de la Depois, mais um dedo de prosa
Tua visita levou-me um clarão Sielva ) Até que a última brasa
Foi um dia de felicidade; Possa parar de queimar
Muitos invernos vivi depois Deixando passar a escuridão!
Muitos verões infernais sofri E quando nasceu o meu filho
Digeri o amargor das solidões Chamei-te pra ser padrinho
Desci aos mais profundos porões Porque já sei desde muito
E de novo me ergui Que velarás pelo menino;
Estonteado E se te faltarem certezas
Faminto de ternura Buscarás na natureza
E reencontrei tua presença O fio-da-meada perdido
No dia da formatura E se te faltarem clarezas
Com duas mãos estendidas Invocarás teu coração
Envolvendo-me em abraços Para não te sentires traído!
E foi mais um pedaço Quando voltarem as chuvas
Que se fez de nossas vidas! Então estarei por perto
Houve outras peripécias E encheremos nossas fontes;
E eu desposei tua irmã Quando for tempo de secura
Quando tua família era só secura Vem buscar minhas mãos
E o teu carinho veio com fartura Pra não ter que começar de novo
E viajaste bem longe No coração
Para que minha escolha fosse segura; O que já é o fruto da tua ternura!
Depois, eu que fui longe, longe
E eu tinha ainda o sabor da amargura
FRUTOS DA
E me pediste que voltasse
Se lá onde eu vivia
Eu não sentia
TERNURA
O fervor da ternura!
E eu voltei, faz tempo
E foi o tempo bom que eu nunca tive
Lá onde vive alguma nobreza Don é criança
Lá já esteve o Don Se você vem por mim muitas vezes
Esta palavra tão pequena e imensa Don não envelhece;
Que não vale para qualquer um; Se é dia de despedida
Ela é essencialmente E você me deixa ir
Propositadamente discriminatória E também ficar em você
Ela vem colada à vida vivida Don é o tamanho de sua porta;
Ela é no que aumenta a vida E se é você que vai
A vida que já veio Dom. Don sabe que você volta.
Lá onde há um cuidado sereno Don não quer ser rico
Onde se vê um sensível andando Nem deseja ser pobre
Don vai dentro da carruagem; Don é toda face do nobre
Onde cai a lágrima da paixão amorosa Que revela o humano;
Don nasce no chão Don é uma constância humana
Don é a aragem; Decidida e funda
Se a dor de um Que bate o sino de viver;
Também dói de dor um outro Don é quem segura o mundo
Don encontrou uma morada; Num fio tênue
Se o filho talvez não volte Sem idade de morrer;
E há um olhar que espera de madrugada Don não é uma dádiva
Don já mora em casa. É um presente feito em Si mesmo
Se você veio perguntar por mim No passo a passo de Ser!
DO CAMINHO
Bon
Don
DE DON
amigo
de
las
Fuentes
Tenho identificado a vida nas cidades o decreto antecipado da própria dos homens, longe de se entender; Numa palavra, é no interior que ainda se
grandes como cultura da morte e, com morte e dos outros! trabalho e linguagem instrumentalizados pode pensar numa cultura da vida, porque
isso, lugar majoritário da não-vida; por uma cultura da morte, apoiada no ali a Terra é mais propícia, não para o
Não haverá progresso sustentável, por
individualismo. culto do Eu, mas para a conquista da Terra
Na cidade, as experiências propriamente mais que ciência e técnica avancem, se a
Do Outro Lado, a Vida: fecunda do Nós!
humanas têm se tornado extremamente fonte for o individualismo, pois os frutos
raras; tenho as procurado em muitos padecem da doença da árvore; Tenho experimentado que isto é quase
Feliz é o homem que transforma a
lugares e não as tenho encontrado; impossível na vida desumana das cidades
Ciência e técnica estão sendo os maiores natureza por seu trabalho, diretamente,
e pela linguagem é capaz de entrar em com seu carrossel de violência e morte;
E quando encontro sinais, apurando a instrumentos da morte. E com isto a
entendimento em vista de objetivos se tenho razão, olhe cada um se a terra
fundo, percebo-as parciais, limitadas, morte tornou-se banal e a cultura diz ,
razoáveis e comuns! mentiu e se dela ainda posso esperar!
redutoras e por isto com um grau na prática, que ela é normal, resultante
insuficiente de Humanidade! da natureza humana, desumanizada Então, Creio que o Verbo que temos de
Este é um homem que vale, vale muito
naturalmente, sem outro jeito; porque não está só, vale muito porque aprender a conjugar não pode ser o verbo
Há tão poucos seres propriamente
tem raízes profundas, vale muito porque Explorar, pois este conduz à morte e já foi
humanos porque o Individualismo tornou- Quem achar o contrário está fora
soma forças com outros, vale muito e conjugado demais da conta;
se o lugar-comum e o Outro tornou-se do tempo: sujeito problemático,
gerador do medo e um rival; ‘elemento anormal’! é difícil de morrer! O verbo só pode ser este: COOPERAR!
DAS COISAS
Então, aos poucos, a morte tornou-se E saber que o homem só tem duas Todas as verdadeiras Revoluções que a
um fato normal, divulgada, na prática, grandes Mediações para dar conta história conheceu tiveram suas raízes na
em todas as instâncias hegemônicas da de viver: o trabalho e a Linguagem; terra, na terra que se forjaram os grandes
DA TERRA
‘cultura’, o que faz do homem um ‘ser seres humanos e seus empreendimentos
Pela linguagem o homem tem a condição
para a morte’ em todos os sentidos! foram duradouros e chegaram até nós;
do Entendimento com os outros, pois sem Don
Oficialmente o que vale é, na verdade, o os outros, mesmo que instrumentalizados, Feliz o homem que ama a terra e
que não pode valer, pois se a cultura leva ninguém dá conta de viver, nem mesmo entende a verdadeira natureza das coisas
o homem à morte, então a vida já não é de nascer; humanas; este homem corre atrás das
Bon
o que importa; coisas humanas e viverá feliz mesmo
Pelo trabalho o homem tem a condição de
sem saber!
O que o individualismo produz é a morte Transformar a natureza, fonte primeira do
do humano nas imensuráveis formas da sustento e garantia fundamental da vida; É no Interior que se constroem os amigo
violência em quem a comete, em quem grandes projetos e ali vicejam ainda
E, de novo, todo homem precisa dos
a sofre! as grandes esperanças;
outros, pois ninguém dá conta de produzir
de
A nossa cultura é cultura do tudo o que precisa para satisfazer suas É no interior que ainda florescem as mais
individualismo; e ele mata; necessidades. significativas experiências humanas pela
então é uma cultura da morte. própria força da natureza da terra;
Mas o que vemos? Vejo a total perversão las
Por isto é vão e contraditório tentar do trabalho e de seus verdadeiros fins: É na terra interior do homem
viver tendo como pano-de-fundo o vejo a total perversão da linguagem que se destrói o vírus mortífero
individualismo: o individualismo é do individualismo; Fuentes
54
DAS COISAS
E foi por um ponto muito simples: Vi que a infelicidade e a violência são
abundantes demais por toda parte e não consegui admitir, diante da Razão,
que isto possa ser o verdadeiro sentido da vida humana. E percebi então,
HUMANAS
com sofrimento, que ser humano não é ser normal.
Retomei e aprofundei minha procura por seres humanos, mas já com uma
certeza: um ser humano certamente é “coisa rara”.
Ao longo dos anos, tenho procurado homens, verdadeiramente seres
humanos, por toda parte onde tenho andado. E, a duras penas, tenho Então tive que encontrar outros critérios para poder avaliar os homens e Don
que reconhecer que existem muitos indivíduos e raríssimos seres distinguir as diferenças. Tive também que aprender a olhar os homens por
verdadeiramente humanos. O que vejo são indivíduos medindo uns aos dentro e, aos poucos, muito raramente e, com alegria, consegui encontrar
outros pelo número das coisas, pela força dos braços, pela esperteza da alguns seres humanos. Então decidi aprender nessa companhia. E, na
inteligência, pela beleza do corpo. verdade, tenho aprendido muito a respeito dos seres humanos: Bon
Eu vejo números anônimos imersos no reino das aparências, porta-vozes Aprendi que um verdadeiro homem se mede pela medida da bondade do
e executores de tantas formas da violência, dependentes das coisas seu coração e muito pouco por sua força ou por sua inteligência;
exteriores e, por isto, inseguros de si mesmos, seres fora de si. Eu tenho amigo
procurado seres humanos e está difícil de encontrar. Aprendi que um verdadeiro homem reconhece a precisão que tem dos
outros e por isso desmancha seu egoísmo em atos silenciosos de gratidão;
Tenho encontrado muitas definições a respeito do homem e, dentre elas, Aprendi que um verdadeiro homem jamais sacrifica a Verdade em
uma parece ser a mais aceita: “O homem é um animal racional”. qualquer situação e já descobriu o jeito de vivê-la; de
Então, nas minhas andanças, procurei ver como vivem os animais e como Aprendi que um verdadeiro homem não anula e não separa as
vivem os homens. Vi que os animais da mesma espécie não se eliminam necessidades do corpo, as necessidades do afeto e as necessidades do
uns aos outros, não se matam entre si e, no máximo, têm alguma disputa; espírito e sabe distinguir com equilíbrio que o essencial é o suficiente; las
Já os homens, se despedaçam até por causa de um parágrafo ou por um Tenho aprendido tantas e tantas coisas com os raros seres humanos que
pedaço de papel. E cheguei à seguinte conclusão: “Afirmar que o homem é encontrei, coisas tão óbvias. E o que mais me alegrou foi vê-los Felizes
um animal é ofender os animais”. com tão poucas coisas, seguramente felizes, sem temor na vida, sem Fuentes
medo da morte. Seu sofrimento é por aqueles muitos que não querem ser
Depois olhei para o lado “racional” daquela definição e procurei ver humanos por medo da própria felicidade, tão rara como os verdadeiros
os seus frutos, as ações do homem. E vi que, no geral, há muito pouca seres humanos.
racionalidade na pretensa vida dos homens e sobra muita desumanidade.
Então conclui que falta muito ao homem para ser efetivamente racional. Isso a minha Razão tranquilamente reconheceu.
Nesse ponto de minhas meditações e de minha procura por seres humanos Em algum lugar, existem seres humanos; quem procurar poderá, talvez
eu desejei muito estar enganado, mas não consegui ver meu erro. com espanto, encontrar Um deles querendo nascer em Si Mesmo!
55
DO FILOSOFAR
O trabalho de filosofar é tão árduo
E sofrido
Como arrebentar pedras com picaretas
Ou o mesmo que arrombar os corações
Empedernidos
E as almas embrutecidas
Só com as armas do Bem-Querer e da Razão.
O trabalho de filosofar
É o afã de colocar
O trabalho na filosofia
E a filosofia como forma de vida;
O afã de ser Homem
Implica no trabalho de ser sábio
E o sofrimento faz parte da Sabedoria
Por causa de um Bem-Querer.
Compreender a Vida é a primeira tarefa da filosofia
Querer bem ao homem, tarefa de todo Homem
Viver estas duas coisas, tarefa do homem sábio!
Com os pés na história humana,
Com as mãos na esperança
Certamente o sábio morrerá
Antes do Seu Tempo
E terá suas Razões;
Assim foi,
Assim parece que sempre será!
Don
Bon
amigo
de
las
Fuentes
Don Bonamigo de las Fuentes é Gilmar Francisco
Bonamigo, Professor Associado II do Departamento de
Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo. É
graduado e mestre em Filosofia e Doutor em Educação.
Sua tese doutoral é um tratado de educação moral a
partir da obra do filósofo ético Emmanuel Lévinas. Seu
esforço reflexivo e sua produção intelectual alinham-se na
direção da Antropologia Filosófica, da Ética, da Filosofia
Política e da Filosofia da Educação. Sempre esteve ligado
aos Movimentos Sociais e ultimamente tem inclinado sua
procura filosófica na direção de uma Filosofia da Terra.
O AUTOR