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Unid 1
Unid 1
Profissional – Enfermagem
Autoras: Profa. Maria Luiza Mazzieri
Profa. Camila Luzeiro
Profa. Helga Harumi Kabutomori Rosa
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professoras conteudistas: Maria Luiza Mazzieri / Camila Luzeiro /
Helga Harumi Kabutomori Rosa
Camila Luzeiro
Graduou‑se como enfermeira pela Universidade Paulista (2010) e é mestre em Ciências pela Universidade Federal de São
Paulo (2017), é especialista em Enfermagem do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo (2012). Atuou como enfermeira
assistencial e, atualmente, é professora adjunta da Universidade Paulista, lecionando disciplinas de Saúde do Adulto, Atenção à
Saúde da Família e Pessoa em Situação de Risco e Prevenção e Controle das Infecções em Instituições de Saúde.
Graduou-se em Enfermagem pela Universidade Paulista (2013) e é mestre em Ciência e Tecnologia da Saúde pela
Universidade de Mogi das Cruzes (2018). Atuou como professora do curso técnico Gerência em saúde pelo Programa
do Governo Pronatec na Universidade Paulista, como coordenadora do curso Técnico de Enfermagem (Pronatec) pela
Universidade Paulista e atualmente é professora adjunta da mesma universidade no curso de Enfermagem, lecionando
disciplinas de Políticas de Saúde, Atenção à Saúde da Família e Pessoa em Situação de Risco, Prevenção e Controle das
Infecções em Instituições de Saúde, Ética Aplicada a Enfermagem, Bioestatística Aplicada a Enfermagem e Auditoria,
entre outras.
CDU 616.08
W505.39 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Talita Lo Ré
Jaci Albuquerque
Sumário
Tópicos de Atuação Profissional - Enfermagem
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB)...............................................................................9
1.1 Novas diretrizes da PNAB.................................................................................................................. 13
2 ESTRATÉGIAS PARA O CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA CRÔNICA........................................ 15
2.1 Cuidado para a pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica............... 20
2.1.1 Novas diretrizes para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica............................. 24
2.2 Cuidado para a pessoa com doença crônica: diabetes melito............................................ 27
3 CONTROLE DA TUBERCULOSE NO BRASIL............................................................................................. 37
4 ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: SÍFILIS...................................................................................................... 48
4.1 Transmissão da sífilis............................................................................................................................ 48
4.2 Manifestações clínicas da sífilis....................................................................................................... 49
4.2.1 Sífilis primária........................................................................................................................................... 49
4.2.2 Sífilis secundária...................................................................................................................................... 49
4.2.3 Sífilis latente.............................................................................................................................................. 50
4.2.4 Sífilis terciária............................................................................................................................................ 50
4.2.5 Sífilis em gestante e a sífilis congênita.......................................................................................... 50
4.3 Diagnóstico da sífilis............................................................................................................................ 50
4.4 Tratamento e monitoramento da sífilis........................................................................................ 52
4.5 Prevenção e redução da sífilis.......................................................................................................... 53
Unidade II
5 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA......................................................................................................... 63
5.1 Conceitos e atuação da equipe de Estratégia Saúde da Família....................................... 63
5.2 Composição, territorialização e atividades básicas da equipe de
Estratégia Saúde da Família..................................................................................................................... 64
5.3 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)............................................................................... 67
5.4 Agentes Comunitários de Saúde (ACS)........................................................................................ 68
6 SAÚDE MENTAL................................................................................................................................................. 68
6.1 Estratégia de redução de danos...................................................................................................... 71
6.2 Síndrome de burnout.......................................................................................................................... 73
6.3 Suicídio e depressão na contemporaneidade............................................................................ 75
7 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE................................................................................................................. 79
7.1 Política nacional de proteção dos direitos da pessoa com
transtorno do espectro autista............................................................................................................... 79
7.1.1 Histórico...................................................................................................................................................... 79
7.1.2 Lei n. 12.764............................................................................................................................................... 81
7.2 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa............................................................................... 83
7.3 Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.................................................... 93
7.3.1 A situação de saúde da população negra no Brasil e seus determinantes sociais....... 94
7.4 Política Nacional de Saúde Integral da População Indígena............................................... 98
8 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO HOSPITALAR...............................................................................108
APRESENTAÇÃO
O presente livro-texto tem como meta a imersão do leitor na sustentação teórica para a realização
da leitura, interpretação e conhecimento de temas vinculados ao conhecimento geral, específico e
contemporâneo na área da saúde.
Além disso, almeja suscitar a reflexão sobre a importância da construção do conhecimento de temas
contemporâneos da área com a análise crítica das informações, projetando ações de intervenção e
solução de situações-problemas.
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INTRODUÇÃO
Quando pensamos no profissional dessa área, muitas vezes pensamos no quanto ele necessita de
um olhar ético e globalizado nas suas ações, pois seu campo está comprometido com a saúde e com
a qualidade de vida da pessoa, da família e da coletividade. Esse profissional atua na promoção, na
prevenção, na recuperação e na reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos
éticos e legais. Dentro de suas atribuições, participa como integrante da equipe de saúde, promovendo
ações que visem a satisfazer as necessidades de saúde da população. Também participa da defesa dos
princípios das políticas públicas de saúde e políticas públicas ambientais que garantam a universalidade
de acesso aos serviços de saúde, à integralidade da assistência, à resolutividade, à preservação
da autonomia das pessoas, à participação da comunidade, à hierarquização e à descentralização
político-administrativa dos serviços de saúde e respeito à vida, à dignidade e aos direitos humanos em
todas as suas dimensões. Exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano em
sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética, atuando nos cuidados à pessoa, à
família e à comunidade.
Neste livro-texto abordaremos sua atuação na Atenção Básica/Saúde da Família, nas ações
voltadas às doenças crônico degenerativas (diabetes melito e hipertensão arterial sistêmica), às
doenças infecciosas (tuberculose e sífilis), aos problemas de saúde mentais (síndrome de burnout,
depressão e suicídio), além de seu envolvimento direto nas ações de políticas públicas de saúde
voltadas à redução de danos, à saúde do idoso, aos indígenas, aos negros, aos indivíduos classificados
no espectro da síndrome do autismo. Isso tudo junto a uma equipe multidisciplinar, nos aspectos
assistenciais e gerenciais, avançando cada vez mais na articulação multidisciplinar das equipes de
saúde e viabilizando a gestão administrativa das unidades de serviços de saúde em que atuam.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Unidade I
1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB)
Na Atenção Básica (AB), a universalidade é o eixo estrutural da atenção à saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Considerando a pessoa em sua singularidade social e cultural, proporciona a ela
uma atenção integral, além de incorporar as ações de vigilância em saúde, num processo contínuo e
sistemático de coleta, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde. Isso se dá
visando ao planejamento e à implementação de ações públicas para a proteção da saúde da população,
além da prevenção e da redução de riscos, agravos e doenças (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2017a).
A Atenção Básica é caracterizada por ser a porta de entrada preferencial do SUS, relacionando-se
ao cuidado das pessoas e a um papel estratégico na rede de atenção à saúde (servindo como base para
a integralidade da saúde). Dentro das estratégias do cuidar, o Programa Saúde da Família, criado em
1994, amplia a cobertura de saúde, sendo voltado à população em situação social mais vulnerável e,
ao longo dos anos, organizando o processo de trabalho com equipe multiprofissional, base territorial
e responsabilidade sanitária. Ampliando suas ações de saúde para a população e com a Rede de Atenção
à Saúde (RAS), melhorou os índices de resolutividade, cuidado clínico, cuidado terapêutico e diagnóstico
necessários para a Atenção Básica.
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Unidade I
A RAS se caracteriza por apresentar arranjos que contribuem para a atenção continuada das
necessidades de serviços de saúde integral e com qualidade à população assistida. A atenção primária
é primordial para a continuidade da assistência à saúde dos que necessitam de um cuidado maior. Por
exemplo, os casos de pacientes crônicos não podem simplesmente ser resolvidos apenas por um sistema
de saúde fragmentado por meio de equipamentos de pronto atendimento ambulatorial e hospitalar,
demandando também ações de cuidado (como hospitais, pronto atendimento e serviço de atendimento
móvel de urgência – Samu), promoção da saúde (campanhas de educação em saúde, ESF e Unidades
Básicas de Saúde – UBS), acompanhamento (UBS e ESF) e continuidade (hospitais, melhor em casa) no
atendimento de saúde prestado à população (COSTA; RAMIRES, 2014).
Figura 1 – Exemplo de pontos de atenção secundários e terciários que compõem uma Rede de Atenção à Saúde
Tendo em vista uma melhor articulação, a PNAB rege princípios e diretrizes que caracterizam a relação
de serviços ofertados na Atenção Básica e são orientadores para a sua organização nos municípios,
conforme descrito a seguir.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
As diretrizes que regem o SUS, a serem operacionalizadas na Atenção Básica, são descritas a seguir.
Regionalização e É a Atenção Básica como ponto de comunicação entre a RAS, considerando-se regiões de saúde
hierarquização um recorte espacial estratégico para fins de planejamento, organização e gestão de redes de
ações e serviços de saúde.
Permite a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e interssetoriais
Territorialização e com foco em um território específico, obtendo impacto na situação, nos condicionantes e nos
adstrição determinantes da saúde das pessoas e das coletividades que constituem aquele espaço e estão,
portanto, adstritos a ele.
Trata-se da população que está presente no território da UBS. O objetivo é estimular o
População desenvolvimento de relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população
adscrita garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado, a fim de se
tornar referência para o seu cuidado.
Aponta para o desenvolvimento de ações de cuidado de forma singularizada que auxilie
Cuidado centrado as pessoas a desenvolverem os conhecimentos, as aptidões, as competências e a confiança
na pessoa necessária para gerir e tomar decisões embasadas sobre sua própria saúde e seu cuidado de saúde
de forma mais efetiva.
Refere-se à importância de a Atenção Básica ser resolutiva utilizando e articulando diferentes
Resolutividade tecnologias de cuidado individual e coletivo por meio de uma clínica ampliada capaz de construir
vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, centrada na pessoa e na
perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e dos grupos sociais.
Pressupõe a continuidade da relação de cuidado, com construção de vínculo e a responsabilização
Longitudinalidade entre profissionais e usuários ao longo do tempo e de modo permanente e consistente,
do cuidado acompanhando os efeitos das intervenções em saúde e de outros elementos na vida das pessoas,
evitando, assim, a perda de referências.
Coordenação do Trata-se de elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção
cuidado das RAS articulando também as outras estruturas das redes de saúde e interssetoriais, públicas,
comunitárias e sociais.
Significa reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade,
Ordenação das organizando tais necessidades em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo
redes para que o planejamento das ações, assim como a programação dos serviços de saúde, parta das
necessidades de saúde das pessoas.
Participação da Refere-se a estimular a participação das pessoas, a orientação comunitária das ações de saúde
comunidade na Atenção Básica e a competência cultural no cuidado como forma de ampliar sua autonomia e
capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território.
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Unidade I
População
Modelo
de saúde Sistema
logístico
Sistema de Centro
governança RAS comunicador
(APS)
Pontos de
atenção Sistema
terciários Pontos de apoio
de
atenção
secundários
As ações da equipe de saúde devem buscar a integralidade da atenção de modo a superar a assistência
fragmentada. É essencial uma abordagem integral ao usuário, compreendendo-o como ser singular em
suas diferentes dimensões biológicas, psicológicas, econômicas, sociais e culturais, além de todos os
pontos de atenção para dar vazão às suas necessidades de saúde, e essas ações empreendidas devem ser
de fato resolutivas (BRASIL, 2011b; COSTA; RAMIRES, 2014).
Entre as atribuições dos profissionais das equipes de atenção básica, as atividades devem seguir as
referidas disposições legais que regulamentam o exercício de cada uma das profissões. Assim, trataremos
agora das atividades específicas do enfermeiro, destacando a seguir suas obrigações (BRASIL, 2017a).
• Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias vinculadas às equipes e, quando indicado
ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas e associações, entre
outras), em todos os ciclos de vida.
• Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e classificação de risco de acordo
com protocolos estabelecidos.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
• Exercer outras atribuições, conforme legislação profissional, que sejam de responsabilidade na sua
área de atuação.
A Portaria n. 2.436 (BRASIL, 2017a), do Ministério da Saúde, aprovou a PNAB no Brasil, que revisou
as diretrizes para a organização da Atenção Básica no âmbito do SUS.
Essa portaria define a Atenção Básica, ou Atenção Primária em Saúde, como um conjunto de ações
de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem a promoção, a prevenção, a proteção, o
diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos, os cuidados paliativos e a vigilância em
saúde. Esse conjunto de ações deve ser desenvolvido por meio de práticas de cuidado integrado e de
gestão qualificada, realizadas por uma equipe multiprofissional e dirigidas à população em território
definido (BRASIL, 2017a).
Com as novas diretrizes, a PNAB permite que o gestor trabalhe a sua equipe de acordo com as suas
especificidades e necessidades. Ela também traz novidades em relação ao financiamento da Atenção
Básica com o reconhecimento de novos modelos de atenção e consequente ampliação do número
de equipes que receberão recursos do Ministério da Saúde. Essa regra permite ao gestor municipal
compor suas equipes de Atenção Básica de acordo com as características e as necessidades locais,
com a presença de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e/ou técnicos de enfermagem
(BRASIL, 2017a).
Além disso, a portaria define a organização em Redes de Atenção à Saúde como a estratégia para o
cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, com destaque para a Atenção
Básica como o primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema de saúde no Brasil
(BRASIL, 2017a).
Para atualização dos referenciais da PNAB, as principais mudanças dos princípios e diretrizes
que regem o SUS a serem operacionalizados na Atenção Básica estão descritas no quadro a seguir
(BRASIL, 2017a).
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Unidade I
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
No Brasil, as DCNT constituem o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a 72% das
causas de mortes. Assim como no cenário mundial, no país as DCNT atingem fortemente as camadas
mais pobres da população e os grupos vulneráveis (BRASIL, 2011c). Suas principais causas incluem
fatores de risco modificáveis, como tabagismo, consumo nocivo de bebida alcoólica, inatividade física e
alimentação inadequada.
Saiba mais
No país, os fatores de risco para as DCNT são monitorados por meio de diferentes inquéritos de
saúde, com destaque para o monitoramento realizado pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Já a vigilância epidemiológica de DCNT é
responsabilidade da Coordenação-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e
Promoção da Saúde do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção
da Saúde, pertencente à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Essa vigilância se configura como
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Unidade I
• aumento dos índices de mamografia em mulheres de 50 anos a 69 anos para 70% em dois anos;
• aumento dos índices de papanicolau em mulheres de 25 anos a 64 anos de idade para 85% em
3 anos;
Dessas metas, cinco estão sendo atingidas, como a redução da mortalidade prematura (30 anos a
69 anos) por DCNT, a redução da prevalência de tabagismo, o aumento do índice de mamografia em
mulheres de 50 anos a 69 anos nos últimos dois anos, a elevação da prevalência da prática de atividade
física no tempo livre e a ampliação do consumo recomendado de frutas e hortaliças (BRASIL, 2011c).
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
O plano aborda os quatro principais grupos de doenças crônicas não transmissíveis (circulatórias,
câncer, respiratórias crônicas e diabetes) e seus fatores de risco em comum modificáveis (tabagismo,
álcool, inatividade física, alimentação não saudável e obesidade). Define ainda diretrizes e ações em
três eixos:
• promoção da saúde;
• cuidado integral.
Eixo Diretrizes
- Monitorar os fatores de risco.
Vigilância, informação, – Monitorar a morbidade e mortalidade específicas das doenças.
avaliação e
monitoramento – Avaliar as respostas dos sistemas de saúde (que também incluem gestão,
políticas, planos, infraestrutura, recursos humanos e acesso a serviços de
saúde essenciais, inclusive a medicamentos).
- Realizar, junto com o IBGE, a Pesquisa Nacional de Saúde, abordando
temas como acesso aos serviços e sua utilização, morbidade, fatores de
risco e proteção de doenças crônicas, saúde de idosos, mulheres e crianças,
além de fazer medições antropométricas, de pressão arterial e coleta de
material biológico.
Principais ações – Elaborar estudos sobre DCNT com análises de morbimortalidade e
inquéritos com foco em desigualdades em saúde (populações vulneráveis
como indígenas e quilombolas), intervenções em saúde e custos de DCNT.
– Criar um portal na internet para monitorar e avaliar a implantação do
Plano Nacional de Enfrentamento das DCNT, bem como desenvolver um
sistema de gestão em DCNT.
Eixo Diretrizes
Compreendendo a importância das parcerias para superar os fatores
determinantes do processo saúde-doença, foram definidas diferentes
ações envolvendo diversos ministérios (Educação, Cidades, Esporte,
Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente,
Agricultura/Embrapa, Trabalho e Planejamento), a Secretaria Especial
Promoção da saúde de Direitos Humanos, a Secretaria de Segurança Pública, órgãos de
trânsito e outros, além de organizações não governamentais, empresas e
sociedade civil com o objetivo de viabilizar intervenções que impactem
positivamente na redução dessas doenças e de seus fatores de risco, em
especial para as populações em situação de vulnerabilidade.
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Unidade I
Eixo Diretrizes
Atividade física
– Programa Academia da Saúde com construção de espaços saudáveis que
desenvolvam ações de promoção da saúde e estimulem atividade física,
práticas corporais, lazer e modos de vida saudáveis em articulação com a
Atenção Básica em Saúde.
– Programa Saúde na Escola propondo ações no âmbito de avaliação
nutricional, avaliação antropométrica, detecção precoce de hipertensão
arterial, sistêmica, promoção de atividades físicas e corporais, promoção
da alimentação saudável e de segurança alimentar no ambiente escolar.
– Praças do Programa de Aceleração do Crescimento com construção
de praças, como uma forma de integrar atividades e serviços culturais,
práticas esportivas e de lazer.
– Reformulação de espaços urbanos saudáveis com a criação do Programa
Nacional de Calçadas Saudáveis e construção e reativação de ciclovias,
parques, praças e pistas de caminhadas.
– Campanhas de comunicação que incentivem a prática de atividade física
e hábitos saudáveis associadas a grandes eventos culturais e esportivos.
Alimentação saudável
– Promoção de ações de alimentação saudável por meio do Programa
Nacional de Alimentação Escolar.
– Aumento da oferta de alimentos saudáveis por meio do estabelecimento
de parcerias e acordos com a sociedade civil (agricultores familiares,
pequenas associações e outros) para o aumento da produção e da oferta
de alimentos in natura. Apoio a iniciativas interssetoriais para o aumento
da oferta de alimentos básicos e minimamente processados.
Principais ações
– Regulação da composição nutricional dos alimentos processados por
meio de acordos com o setor produtivo e parcerias com a sociedade civil
com vistas à prevenção de DCNT e à promoção da saúde (redução do sal
e do açúcar nos alimentos).
– Redução dos preços dos alimentos saudáveis por meio de redução de
impostos, taxas e subsídios, objetivando estimular seu consumo.
– Implantação do Plano Interssetorial de Controle e Prevenção
da Obesidade visando à redução da obesidade na infância e na
adolescência e à detenção do crescimento da obesidade em adultos.
– Regulamentação específica para a publicidade de alimentos,
principalmente para crianças.
Tabagismo e álcool
– Adequação da legislação nacional que regula o ato de fumar em
recintos coletivos.
– Ampliação das ações de prevenção e de cessação do tabagismo,
com atenção especial aos grupos mais vulneráveis (jovens, mulheres,
população de menor renda e escolaridade, indígenas e quilombolas).
– Fortalecimento da implementação da política de preços e de aumento
de impostos dos produtos derivados de tabaco e álcool a fim de reduzir o
consumo (conforme preconizado pela OMS).
– Apoio à intensificação de ações fiscalizatórias em relação à venda de
bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.
– Fortalecimento, no Programa Saúde na Escola (PSE), de ações educativas
voltadas à prevenção e à redução do uso de álcool e tabaco.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Eixo Diretrizes
– Apoio a iniciativas locais de legislação específica em relação ao controle
de pontos de venda de álcool e horário noturno de fechamento de bares
e outros pontos correlatos de comércio.
Envelhecimento ativo
– Implantação de um modelo de atenção integral ao envelhecimento
ativo, favorecendo ações de promoção da saúde, prevenção e atenção
integral.
– Promoção do envelhecimento ativo e ações de saúde suplementar.
Principais ações – Incentivo aos idosos para a prática da atividade física regular no
programa Academia da Saúde.
– Capacitação das equipes de profissionais da Atenção Básica em Saúde
para o atendimento, acolhimento e cuidado da pessoa idosa e de
pessoas com condições crônicas.
– Incentivar a ampliação da autonomia e independência para o
autocuidado e o uso racional de medicamentos.
– Criar programas para formação de cuidadores de pessoas idosas e de
pessoas com condições crônicas na comunidade.
Eixo Diretrizes
Realizar ações visando ao fortalecimento da capacidade de resposta
do SUS e à ampliação de um conjunto de intervenções diversificadas
Cuidado integral capazes de uma abordagem integral da saúde com vistas à prevenção e ao
controle das DCNT.
- Linha de cuidado de DCNT definindo e implementando protocolos
e diretrizes clínicas das DCNT com base em evidências de custo-
efetividade vinculando os portadores ao cuidador e à equipe da Atenção
Básica, garantindo a referência e a contrarreferência para a rede de
especialidades e a rede hospitalar, favorecendo a continuidade do
cuidado e a integralidade na atenção. Outro fator de importância é
desenvolver um sistema de informação de gerenciamento de DCNT.
– Capacitação e telemedicina: capacitação das equipes da Atenção Básica
em Saúde expandindo recursos de telemedicina, segunda opinião e cursos
a distância, qualificando a resposta às DCNT.
– Medicamentos gratuitos: ampliação do acesso gratuito aos
Principais ações medicamentos e insumos estratégicos previstos nos Protocolos Clínicos e
Diretrizes Terapêuticas das DCNT e tabagismo.
– Câncer do colo do útero e de mama: fortalecer as ações de prevenção e
qualificação do diagnóstico precoce e tratamento dos cânceres do colo de
útero e de mama; garantir acesso ao exame preventivo e à mamografia
de rastreamento de qualidade a todas as mulheres nas faixas etárias
e periodicidade preconizadas, independentemente de renda, raça/cor,
reduzindo desigualdades; garantir tratamento adequado às mulheres
com diagnóstico de lesões precursoras; garantir avaliação diagnóstica
dos casos de mamografia com resultado anormal; e garantir tratamento
adequado aos casos de mulheres com diagnóstico confirmado de câncer
de mama ou diagnóstico de lesões benignas.
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Unidade I
Eixo Diretrizes
Lembrete
2.1 Cuidado para a pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares
(DCV), sendo uma condição clínica associada à elevada mortalidade. Salienta-se ainda que cerca de 80%
dos hipertensos possuem comorbidades como diabetes, dislipidemia, tabagismo ou histórico familiar de
ateromatose (MALACHIAS et al., 2016; BRASIL, 2013b).
Acidente vascular encefálico (AVE); infarto agudo do miocárdio (IAM); insuficiência cardíaca (IC);
doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC) são doenças relacionadas a HA que levam
a agravos na saúde e até à morte súbita (MALACHIAS et al., 2016).
20
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Acidente vascular
encefálico
Doença
renal crônica
A HA é uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação nos níveis pressóricos
(≥ 140 mmHg e/ou 90 mmHg). É frequentemente associada a distúrbios metabólicos e alterações
funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco
(FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e DM (MALACHIAS et al., 2016;
BRASIL, 2013b).
A pré-hipertensão (PH) é uma condição caracterizada por pressão arterial sistólica (PAS) entre
121 mmHg e 139 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) entre 81 mmHg e 89 mmHg. Ela associa-se
a um maior risco de desenvolvimento de HA e anormalidades cardíacas, pois cerca de um terço dos
eventos cardiovasculares (CV) atribuíveis à elevação da pressão arterial (PA) ocorrem em indivíduos
com PH. Metanálises do risco de incidência de DCV, doença isquêmica do coração (DIC) e AVE em
indivíduos pré-hipertensos mostraram que o risco foi maior naqueles com PA entre 130 mmHg e
139 mmHg ou 85 mmHg e 89 mmHg do que naqueles com valores entre 120 mmHg e 129 mmHg ou
80 mmHg e 84 mmHg (MALACHIAS et al., 2016).
21
Unidade I
De forma geral, sugere-se uma periodicidade anual de acompanhamento dos exames. O profissional
deverá estar atento ao acompanhamento individual de cada caso considerando sempre o risco
cardiovascular, as metas de cuidado e as complicações existentes (BRASIL, 2013b).
A consulta de enfermagem faz parte da estratégia dirigida a grupos de risco que propõe uma
adequada intervenção educativa em indivíduos com valores de PA limítrofes (que estão mais predispostos
à hipertensão). As medidas são equivalentes às propostas para tratamento não medicamentoso da HA
(BRASIL, 2013b). Nesse contexto, a consulta de enfermagem objetiva promover a educação em saúde
para a prevenção primária da doença por meio do estímulo à adoção de hábitos saudáveis de vida, além
de avaliar e estratificar o risco para doenças cardiovasculares (BRASIL, 2013b).
A prevenção primária da HA pode ser feita mediante controle de seus fatores de risco, como
sobrecarga na ingestão de sal, excesso de adiposidade, especialmente na cintura abdominal, e abuso de
álcool, entre outros. Duas estratégias de prevenção podem ser consideradas: uma visando à população
em geral e outra dirigida especialmente aos grupos de risco. A primeira defende a redução da exposição
populacional a fatores de risco, principalmente com relação ao consumo de sal. O profissional poderá
atuar nessa estratégia por meio de ações educativas coletivas com a população em geral para orientar
sobre a restrição à adição de sal na preparação de alimentos e sobre a identificação da quantidade de
sal e/ou sódio presente nos alimentos industrializados, entre outros (BRASIL, 2013b).
Nas consultas de enfermagem, para os usuários portadores de HA, o foco do processo educativo
será também a orientação com relação às medidas que reduzem a pressão arterial (hábitos alimentares
adequados; manutenção do peso e de um perfil lipídico desejável; estímulo à vida ativa e aos exercícios
físicos regulares; redução do consumo de bebidas alcoólicas e do estresse; abandono do tabagismo)
(BRASIL, 2013b).
22
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
O intervalo das consultas deve ser determinado pelo grau de severidade da condição clínica e pela
capacidade de autocuidado. A capacidade de autocuidado deve ser sistematicamente avaliada levando-se
em consideração os aspectos socioeconômicos e culturais, além da capacidade do indivíduo e da família
para o autocuidado.
23
Unidade I
Avaliação
inicial do
usuário com
HA
Suspeição e a
Confirmação do Avaliação do Lesões de
identificação de
diagnóstico risco CV órgão-alvo (LOA)
causa secundária
Exame físico
Laboratorial
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
como uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação sustentada dos níveis pressóricos
arteriais, maiores ou iguais a 140 mmHg e/ou 90 mmHg. Frequentemente, está associada a distúrbios
metabólicos e a alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de
outros fatores de risco como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito
(MALACHIAS et al., 2016). Associa-se, ainda, a eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico
(AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e
doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal (MALACHIAS et al., 2016).
A classificação da pressão arterial segundo a SBC está apresentada no quadro a seguir (MALACHIAS
et al., 2016).
Classificação Pressão arterial sistólica (PAS) – mmHg Pressão arterial diastólica (PAD) – mmHg
Normal ≤ 120 ≤ 80
Pré-hipertensão 121 – 139 81 – 89
Hipertensão estágio 1 140 – 159 90 – 99
Hipertensão estágio 2 160 – 179 100 – 109
Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110
Quando a PAS e a PAD situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação da PA.
24
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
A abordagem terapêutica da hipertensão arterial deve ser realizada com os objetivos de reduzir a
pressão arterial, proteger os órgãos-alvo e prevenir desfechos cardiovasculares e renais, considerando as
medidas não medicamentosas e o uso de fármacos anti-hipertensivos. A decisão terapêutica deve estar
fundamentada na presença de fatores de risco, de lesão em órgão-alvo e/ou de doença cardiovascular,
e não somente no nível da pressão (MALACHIAS et al., 2016).
O tratamento não medicamentoso da HAS inclui a redução do peso corporal, a adoção de um plano
alimentar saudável e sustentável, a prática de atividades físicas regulares, a cessação do tabagismo e o
controle do estresse (BRASIL, 2013b; MALACHIAS et al., 2016).
De acordo com MALACHIAS et al. (2016), a escolha do medicamento a ser utilizado como monoterapia
inicial para o tratamento medicamentoso da HAS deve basear-se na capacidade de o agente escolhido
reduzir a morbimortalidade cardiovascular, no mecanismo fisiopatogênico predominante no paciente
a ser tratado, nas características individuais, nas doenças associadas e nas condições socioeconômicas
do paciente.
Com base nesses critérios, as classes de anti-hipertensivos atualmente consideradas preferenciais pela
SBC (MALACHIAS et al., 2016) para o controle da pressão arterial em monoterapia inicial são: diuréticos
(preferência para os diuréticos tiazídicos como clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida, reservando
os diuréticos de alça, como furosemida e bumetanida, aos casos de insuficiência renal); inibidores da
enzima conversora de angiotensina (iECA); bloqueadores dos canais de cálcio (BCC); bloqueadores dos
receptores da angiotensina II (BRA).
Para o Ministério da Saúde e para a SBC, as evidências científicas demonstraram redução de morbidade
e de mortalidade com a administração dessas classes de medicamentos (diuréticos, betabloqueadores,
inibidores da enzima conversora de angiotensina, antagonistas de receptores de angiotensina II e
bloqueadores de canais de cálcio). No entanto, os benefícios obtidos com os betabloqueadores são
menores quando comparados aos dos demais grupos, devendo ser reservados para situações específicas.
Por isso, não se indica o uso de betabloqueadores como droga de primeira linha no tratamento da HAS
(BRASIL, 2013b; MALACHIAS et al., 2016).
Em 2017, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA) publicaram
uma nova diretriz (ACC/AHA, 2017) com recomendações sobre a definição de hipertensão, diretriz que
considera hipertensão arterial sistêmica a presença de pressão arterial sistólica (PAS) igual ou superior a
130 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) igual ou superior a 80 mmHg, conforme apresentado
no quadro a seguir.
25
Unidade I
A diretriz atualizada recomenda o início do tratamento medicamentoso (ACC/AHA, 2017) para pessoas
com hipertensão em estágio 1 com risco cardiovascular ou com risco cardiovascular estimado em dez
anos superior a 10% pelo cálculo do risco cardiovascular utilizando o escore global de Framingham,
chamado ASCVD risk calculator. Para pessoas com hipertensão em estágio 2, recomenda-se o início da
terapia medicamentosa combinada (dois anti-hipertensivos) nos casos de HAS estágio 2 e/ou se a PA
medida estiver acima da meta em mais de 20/10 mmHg (sistólica/diastólica) (ACC/AHA, 2017).
Diuréticos
tiazídicos
Bloqueadores
Betabloqueadores dos receptores da
angiotensina
Inibidores da ECA
Combinações preferenciais
Combinações não recomendadas
Combinações possíveis, mas menos testadas
26
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Saiba mais
Para obter mais informações sobre essas modificações, você pode fazer
a leitura dessa nova diretriz, indicada a seguir.
Estima-se que glicemia elevada é o terceiro fator, em termos de importância, de causa de mortalidade
prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco). Em 2015 calculou-se que
415 milhões de pessoas, entre 20 a 79 anos de idade, valor que correspondia a 8,8% da população
mundial, vivia com diabetes. Projeta-se que, caso as tendências atuais persistam, em 2040, 642 milhões
de pessoas serão portadoras de diabetes, estando cerca de 75% dos casos em países em desenvolvimento
(INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015).
As ocorrências de diabetes são mais comuns em pessoas com baixa escolaridade: os números
indicam que 7,5% das pessoas que têm até oito anos de estudo possuem diabetes, contra 3,7% das
pessoas com mais de 12 anos de estudo; ou seja, uma diferença de mais de 50%. O levantamento
apontou, também, que o DM aumenta de acordo com a idade da população: 21,6% dos brasileiros com
mais de 65 anos referiram a doença, um índice bem maior do que o observado entre pessoas na faixa
etária de 18 a 24 anos, faixa em que apenas 0,6% estão com a doença. Estima-se que o país passe da
27
Unidade I
oitava posição em 2000, com prevalência de 4,6%, para a sexta posição, com 11,3%, em 2030. Os fatores
de risco relacionados aos hábitos alimentares e ao estilo de vida da população estão associados a esse
incremento na carga de DM globalmente (BRASIL, 2013c).
Dessa forma, com o atendimento tardio, as complicações agudas e crônicas da doença causam
alta morbimortalidade, acarretando altos custos para os sistemas de saúde. Gastos relacionados ao
diabetes mundialmente, em 2010, foram estimados em 11,6% do total dos gastos com atenção em
saúde, e, em nosso país, os valores são semelhantes. Um estudo realizado pela OMS mostrou que os
custos governamentais de atenção ao DM variam de 2,5% a 15% dos orçamentos anuais de saúde, e os
custos de produção perdidos podem exceder, em até cinco vezes, os custos diretos de atenção à saúde
(BRASIL, 2013c).
Diante dos dados epidemiológicos, entender sobre a doença e sobre o manejo clínico prepara o
profissional de saúde para um cuidado especializado com relação a DM, doença na qual a produção de
insulina pelo pâncreas está ausente ou diminuída e/ou os receptores celulares de insulina tornaram-se
incapazes de ligar-se a ela e, então, permitir a entrada de glicose na célula. A insulina é um hormônio
produzido pelo pâncreas que atua ligando-se a receptores especiais na superfície da célula que promovem
a abertura dos canais responsáveis pela entrada da glicose na célula (LEWIS, 2013).
A doença ocorre pela diminuição da produção da insulina e/ou a resistência à insulina, podendo ser
classificada como tipo 1 ou tipo 2. No tipo 1, o processo de destruição da célula beta leva ao estágio
de deficiência absoluta de insulina, quando sua administração (de insulina) é necessária para prevenir
cetoacidose. Em geral, a manifestação inicial ocorre de forma abrupta, acometendo principalmente
crianças e adolescentes sem excesso de peso. Na maioria dos casos, a hiperglicemia é acentuada,
evoluindo rapidamente para a cetoacidose, especialmente na presença de infecção ou outra forma de
estresse. Assim, o traço clínico que mais define o tipo 1 é a tendência à hiperglicemia grave e cetoacidose,
acometendo aproximadamente 8% da população com a doença. Já no tipo 2, a deficiência relativa de
insulina é menos intensa do que a observada no tipo 1, costumando ter um início insidioso e sintomas
mais brandos. Manifesta-se, em geral, em adultos com longa história de excesso de peso e com história
familiar de DM tipo 2. No entanto, com a epidemia de obesidade atingindo crianças, observa-se um
aumento na incidência de diabetes em jovens, até mesmo em crianças e adolescentes.
Após o diagnóstico, a doença pode evoluir por muitos anos antes de requerer insulina para
controle. Seu uso, nesses casos, não visa evitar a cetoacidose, que é rara nessas situações e, quando
presente, em geral é ocasionada por infecção ou estresse muito grave; o objetivo é manter o controle
glicêmico. A hiperglicemia desenvolve-se lentamente, permanecendo assintomática por vários anos,
28
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
acometendo cerca de 90% dos casos na população e estando relacionada a diabetes gestacional (estado
de hiperglicemia, menos severo que os tipos 1 e 2, detectado pela primeira vez na gravidez e que
geralmente se resolve no período pós-parto, retornando, no entanto, frequentemente anos depois).
Hiperglicemias detectadas na gestação que alcançam o critério de diabetes para adultos, em geral, são
classificadas como diabetes na gravidez, independentemente do período gestacional e da sua resolução
ou não após o parto. Sua detecção deve ser iniciada na primeira consulta de pré-natal (BRASIL, 2013c).
Diante desse cenário, é relevante realizar o diagnóstico precoce para o adequado tratamento, ou
seja, antes que se instalem as complicações. Dessa forma, o rastreamento das pessoas com fatores de
risco torna-se uma medida primordial na Atenção Básica.
O diagnóstico baseia-se na detecção da hiperglicemia. Existem quatro tipos de exames que podem
ser utilizados: glicemia casual, glicemia de jejum, teste de tolerância à glicose com sobrecarga de 75 g em
duas horas (TTG) e, em alguns casos, hemoglobina glicada (HbA1c). Quando a pessoa requer diagnóstico
imediato e o serviço dispõe de laboratório com determinação glicêmica imediata ou de glicosímetro
e tiras reagentes, a glicemia casual é o primeiro exame a ser solicitado. Nesse caso, o ponto de corte
indicativo de diabetes é maior ou igual a 200 mg/dL na presença de sintomas de hiperglicemia. Não
havendo urgência, é preferível solicitar uma glicemia de jejum medida no plasma por laboratório. Pessoas
com glicemia de jejum alterada, entre 110 mg/dL e 125 mg/dL, por apresentarem alta probabilidade de
ter diabetes, podem requerer uma segunda avaliação por TTG-75 g. No TTG-75 g, o paciente recebe
uma carga de 75 g de glicose, em jejum, e a glicemia é medida antes e 120 minutos após a ingestão.
Uma glicemia de duas horas pós-sobrecarga maior ou igual a 200 mg/dL é indicativa de diabetes, e uma
glicemia entre 140 mg/dL e 200 mg/dL indica tolerância à glicose diminuída (BRASIL, 2013c).
para pré-diabetes ou risco aumentado para DM, indivíduos com glicose em jejum maior que 100 mg/dL
e menor que 126 mg/dL, índice de glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL)
maior que 140 mg/dL e menor que 200 mg/dL e HbA1c (%) maior ou igual a 5,7% e menor que 6,57%.
Por fim, tomou como indivíduos com diabetes estabelecido aqueles com glicose em jejum maior ou
igual a 126 mg/dL, índice de glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL) maior
ou igual a 200 mg/dL, glicose ao acaso maior ou igual a 200 mg/dL e HbA1c (%) maior ou igual a 6,5%.
Quanto ao rastreamento e às ações ao usuário com diabetes, o enfermeiro deve tomar algumas
condutas a fim de monitorar, controlar e educar o portador de DM, conforme indicado no quadro a seguir.
30
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
31
Unidade I
Consulta de
enfermagem
Glicemia capilar
Consulta de enfermagem
Testar glicerina a cada para MEV e reavaliação a Consulta médica
2 anos (grupo de risco) cada ano
Entre as complicações crônicas do DM, as úlceras de pés e a amputação de extremidades são as mais
graves e de maior impacto socioeconômico. As úlceras nos pés apresentam uma incidência anual de
2%, tendo a pessoa com diabetes um risco de 25% para desenvolver úlceras nos pés ao longo da vida.
Estudos estimam que essa complicação é responsável por 40% a 70% das amputações não traumáticas
de membros inferiores.
32
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Aproximadamente 20% das internações de indivíduos com DM ocorrem por lesões nos membros
inferiores. Quanto à amputação de membros inferiores na DM, 85% delas são precedidas de ulcerações,
sendo os principais fatores associados a neuropatia periférica, deformidades no pé e traumatismos
(BRASIL, 2013a). A figura a seguir ilustra o desenvolvimento de uma úlcera plantar em pés de diabéticos.
Observação
Os principais pontos a serem ressaltados para os portadores de DM quanto à avaliação dos seus pés
são: o conhecimento sobre os cuidados com a região, inclusive unhas; o comportamento do paciente
com relação aos seus pés; o apoio familiar no cuidado com a região e as condições dos calçados e das
palmilhas (BRASIL, 2013c).
A prevenção por meio do exame frequente dos pés de pessoas com DM, exame realizado pelo médico
ou pelo enfermeiro em todas as consultas, é uma medida crucial para a redução das complicações.
Quanto aos fatores de risco, o profissional deve atentar-se à necessidade de amputação prévia, úlceras
nos pés no passado, neuropatia periférica, deformidade nos pés, doença vascular periférica, nefropatia
diabética, mau controle glicêmico e tabagismo (BRASIL, 2013c). Portanto, o exame físico dos pés de
portadores de DM deve ser minucioso, seguindo algumas etapas como a avaliação da pele, a avaliação
musculoesquelética, a avaliação vascular e a avaliação neurológica.
Na avaliação da pele, a inspeção deve ser ampla, observando ressecamento e descamação da pele,
unhas espessadas ou onicomicose, intertrigo micótico, presença de bolhas, ulceração ou áreas de
eritema, incluindo observação da higiene dos pés e corte das unhas. Na avaliação musculoesquelética,
inspecionam-se deformidades nos pés e na avaliação vascular. A palpação dos pulsos pedioso e tibial
posterior deve ser registrada como presente ou ausente, observando também temperatura e pelos, além
do estado da pele e dos músculos (BRASIL, 2013c).
As figuras a seguir são de instrumentos que devem ser utilizados na avaliação neurológica, caso do
teste de sensibilidade com o uso de monofilamento, do reflexo aquileu e do diapasão.
33
Unidade I
No teste de sensibilidade com o uso do monofilamento, deve atentar-se às áreas de teste, aplicar o
monofilamento de 10 g e solicitar ao cliente que diga “sim” ou “não” durante o toque nas áreas de teste
(para confirmar a existência ou não de sensibilidade), aplicando força apenas o suficiente para curvar
o monofilamento. Deve-se realizar uma aplicação simulada e uma aplicação concreta nas mesmas
áreas para confirmar a identificação, pelo paciente, do local testado, e, se duas respostas estiverem
corretas, descarta-se a perda de sensibilidade protetora. Da mesma forma, qualquer área insensível
indica sensibilidade protetora alterada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).
Figura 11
34
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
O diapasão 128 Hz testa fibras grossas sensitivas para avaliação de sensibilidade vibratória. Aplica-se
o instrumento nos punhos do paciente (ou cotovelo ou clavícula) para que ele saiba o que esperar. A
pessoa não deve ser capaz de ver se ou onde o examinador o aplica. O diapasão é aplicado sobre uma
parte óssea no lado dorsal da falange distal do hálux, perpendicularmente com pressão constante,
sendo tal aplicação repetida duas vezes, mas alternada com pelo menos uma aplicação simulada (em
que o instrumento não esteja vibrando). O teste é positivo se o paciente responde de forma incorreta
a, pelo menos, duas de três aplicações, e negativo com duas das três respostas corretas. Se o paciente
é incapaz de sentir as vibrações no hálux, o teste é repetido mais proximalmente (tuberosidade tibial,
maléolo) (BRASIL, 2013c).
Outra avaliação é a realização do teste para o reflexo aquileu (reflexos do tornozelo). Nesse teste, o
paciente deve estar sentado, com o pé pendente, ou ajoelhado sobre uma cadeira, com o tornozelo em
posição neutra. Então, utiliza-se um martelo apropriado para percussão do tendão de Aquiles conforme
a figura a seguir. O teste é considerado alterado quando há ausência da flexão do pé. Com essa avaliação
sistemática, o enfermeiro deve atentar aos sinais clínicos para intervir o mais precocemente possível em
intercorrências envolvendo os pés do paciente com DM, evitando, assim, complicações decorrentes do
diabetes (2013c).
Diante de lesões nos pés dos portadores de DM, algumas condutas devem ser realizadas, como a
coleta do material para cultura dos ferimentos infectados, limpeza diária com solução fisiológica a 0,9%.
Em caso de crostas ou calosidade, deve-se realizar desbridamento e avaliar a necessidade de encaminhar
ao cirurgião, uso de preparos enzimáticos, conforme protocolos locais, evitar o uso de esparadrapo
35
Unidade I
diretamente sobre a pele e orientar repouso, com o membro inferior afetado ligeiramente elevado,
protegendo o calcâneo e a região maleolar (BRASIL, 2013c; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).
A imagem a seguir ilustra os tipos de calçados mais adequados para evitar lesões nos pés dos
portadores de DM.
Partes do calçado
Salto
Solado
Contraforte rígido
Ausência de costuras internas com forro macio
Caixa anterior larga e alta
Solado flexível
Salto médio 2-3 cm
Largura e altura adequadas
Figura 12 – Calçados mais adequados para evitar lesões nos pés dos portadores de DM
36
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Saiba mais
Para obter informações mais detalhadas sobre a avaliação dos pés dos
portadores de DM, acesse o documento indicado a seguir.
A tuberculose pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo
Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi
e M. caprae. Em saúde pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, pois está relacionada a
uma doença infecciosa causada por bacilo álcool-ácido-resistente que inicialmente atinge os alvéolos
pulmonares e, após englobado por macrófagos, é transportado para os linfonodos hilares e mediastinais.
O agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis: fino, ligeiramente curvo e mede de 0,5 μm a 3 μm,
e o modo de infecção ocorre pela inalação de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos
pela tosse, pela fala ou pelo espirro do doente com tuberculose ativa de vias respiratórias (pulmonar
ou laríngea). A doença atinge principalmente os pulmões, porém existem formas exclusivamente
extrapulmonares e não transmissíveis. O período de incubação varia de 4 a 12 semanas após a infecção,
havendo desenvolvimento de reação tuberculínica positiva. O período de transmissão acontece com
doentes bacilíferos, isto é, aqueles cuja baciloscopia de escarro é positiva, os quais são a principal fonte
de infecção (ROSSMAN; MACGREGOR, 1995).
No final de 2015, a Organização Mundial de Saúde classificou os 22 países com maior índice da
doença no mundo, e entre eles estava o Brasil. Para o período de 2016 a 2020, foi definida uma nova
classificação de países prioritários segundo características epidemiológicas. Cada lista é composta de
30 países, e alguns aparecem em mais de uma lista, somando, assim, um total de 48 países prioritários
para a abordagem da tuberculose (BRASIL, 2017d).
mortalidade pela doença, contribuindo, assim, para a redução da carga da TB no mundo, classificação
na qual possui a maior taxa de detecção entre os países de alta carga (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2016).
Desde 2006, com a estratégia Stop-TB/OMS para o alcance das metas globais de redução da TB até
2015, a estratégia do TDO continua sendo central para atingir os objetivos do Plano Nacional pelo Fim
da Tuberculose (Brasil, 2019a).
Observação
No quadro a seguir destacam-se as ações que o enfermeiro deve tomar na consulta a fim de
monitorar, controlar e informar o paciente com tuberculose.
38
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
39
Unidade I
Para o diagnóstico, deve-se coletar pelo menos duas amostras de escarro: a primeira geralmente no
momento da consulta, a segunda no dia seguinte, preferencialmente ao despertar (essa última geralmente é
abundante porque provém das secreções acumuladas na árvore brônquica durante a noite (BRASIL, 2011e).
Para a coleta da segunda amostra, a unidade de saúde deve ter pessoal adequado para fornecer
informações claras e simples ao paciente quanto à coleta do escarro, representando a equipe de
enfermagem um profissional capacitado e de extrema importância nessa situação (BRASIL, 2011e).
Local da coleta As amostras devem ser coletadas em local aberto, de preferência ao ar livre ou em condições
adequadas de biossegurança.
As unidades de saúde devem receber, a qualquer hora de seu período de funcionamento, as amostras
coletadas no domicílio e conservá-las sob refrigeração até o seu processamento.
Para o transporte, as amostras devem ser refrigeradas, ter proteção contra a luz solar e um
acondicionamento adequado para que não haja risco de derramamento, utilizando caixas de isopor
40
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
com gelo reciclável ou cubos de gelo dentro de um saco plástico. As requisições dos exames devem ser
enviadas com o material, fora do recipiente de transporte (BRASIL, 2011e).
Outro exame pode ser realizado para fins diagnósticos, como o teste rápido TRM-TB, que apresenta
o resultado em aproximadamente duas horas em ambiente laboratorial, sendo necessária somente
uma amostra de escarro. Trata-se de um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado para
detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis e triagem de cepas resistentes à rifampicina
pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real. A sensibilidade do TRM-TB
em amostras de escarro de adultos é de cerca de 90% sendo superior à da baciloscopia. O teste
também detecta a resistência à rifampicina, com uma sensibilidade de 95%, porém está indicado,
prioritariamente, para o diagnóstico de tuberculose pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes
(BRASIL, 2011d).
Um método auxiliar no diagnóstico da tuberculose em pessoas não vacinadas com a BCG é a prova
tuberculínica (PT), que consiste na inoculação intradérmica de um derivado proteico do M. tuberculosis
para medir a resposta imune celular a tais antígenos. É utilizada, em adultos e crianças, para o diagnóstico
de infecção latente pelo M. tuberculosis (BRASIL, 2011d).
Também se pode ter o diagnóstico através da histopatologia (biópsia), empregada para investigação
de formas extrapulmonares ou pulmonares que se apresentam radiologicamente como doença difusa
(BRASIL, 2011d).
Casos falências são aqueles que persistem da positividade do escarro ao final do tratamento e
também os que, no início do tratamento, são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação
até o quarto mês ou, ainda, aqueles com positividade inicial seguida de negativação e nova positividade
por dois meses consecutivos, a partir do quarto mês de tratamento (BRASIL, 2011e).
41
Unidade I
A grande preocupação em relação à doença são os casos que evoluem para falência do tratamento, os
quais devem ser criteriosamente avaliados quanto a histórico terapêutico, adesão aos tratamentos
anteriores e confirmação por meio de exames e testes de sensibilidade que comprovem a resistência
aos medicamentos (para então receber um esquema padronizado para multirresistência ou
esquemas especiais individualizados).
Casos novos, para efeito de indicação de esquemas terapêuticos, são pessoas virgens de
tratamento (VT), aqueles pacientes que nunca se submeteram a nenhum tipo de tratamento antiTB ou
pacientes submetidos ao tratamento por até 30 dias. São considerados casos de retratamento ou com
tratamento anterior (TA) os pacientes já tratados para TB por um período maior que 30 dias e que necessitam
de novo tratamento por recidiva após cura (RC) ou retorno após abandono (RA) (BRASIL, 2011e).
Alguns cuidados, listados a seguir, devem ser observados com relação ao tratamento (BRASIL, 2011e).
• Os medicamentos deverão ser administrados preferencialmente em jejum (uma hora antes ou duas horas
após o café da manhã) em uma única tomada ou, em caso de intolerância digestiva, com uma refeição.
• Orientar a mulher a utilizar outros métodos anticoncepcionais que não os orais, pois a rifampicina
interfere na ação desses contraceptivos.
• Atentar às reações adversas mais frequentes ao esquema básico, como mudança da coloração
da urina (avermelhada), intolerância gástrica (40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e
dores articulares (4%).
É preconizado o acompanhamento do caso de tuberculose resistente por pelo menos cinco anos
após a cura, a fim de detectar precocemente uma possível recidiva (BRASIL, 2019a).
42
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Lembrete
Para todo caso de tuberculose (novo ou retratamento), deve-se realizar o tratamento diretamente
observado (TDO), no qual o usuário é orientado a comparecer na unidade para receber o medicamento
ingerindo-o na frente de um profissional de saúde. Esse tipo de tratamento vai além de ver o usuário
deglutir o medicamento, cria-se um vínculo entre o doente e o profissional de saúde, bem como entre
o doente e o serviço de saúde. Para a supervisão, utiliza-se uma ficha de acompanhamento diário,
como demostrado a seguir (BRASIL, 2011e; BRASIL, 2019a).
Figura 13 – Ficha de acompanhamento da tomada diária da medicação do tratamento diretamente observado (TDO)
43
Unidade I
A escolha da modalidade de TDO deve ser decidida conjuntamente, entre a equipe de saúde e o
doente, considerando a realidade e a estrutura de atenção à saúde existente. É desejável que a tomada
observada seja diária, de segunda-feira a sexta-feira. Na impossibilidade de comparecer à unidade todos
os dias, caso de ele só possa ir três vezes por semana, deve-se explicar exaustivamente a necessidade
da tomada diária, incluindo os dias em que o tratamento não será observado. Outra possibilidade é o
profissional ir ao domicílio para ter essa observação das doses medicamentosas. No fim do tratamento,
para definir se foi observado, esse doente deverá ter no mínimo 24 tomadas observadas na fase de
ataque e 48 tomadas observadas na fase de manutenção (BRASIL, 2011e).
Para uma boa adesão ao tratamento, torna-se também necessário remover as barreiras que
impedem o usuário de chegar à unidade de saúde usando incentivos como lanche, auxílio-alimentação
e facilidades de acesso, como a distribuição de vale-transporte para evitar as faltas (BRASIL, 2011e).
Unidade de Saúde – Utilizar instrumentos de registro (ficha de controle de TDO e cartão do paciente).
– Questionar a respeito de efeitos colaterais e incentivar a adesão ao tratamento a
cada visita do paciente.
– Em caso de falta do paciente, proceder contato telefônico e/ou visita domiciliar,
preferencialmente no mesmo dia.
– Estabelecer fluxo de visitas e supervisão dos ACS ou outros profissionais de saúde
responsáveis pelo TDO.
Domicílio – Utilizar instrumentos de registro (ficha de controle de TDO e cartão do paciente).
– Questionar a respeito de efeitos colaterais e incentivar a adesão ao tratamento a
cada visita.
As pessoas que tiveram contato devem ser investigadas quanto à presença de tuberculose ativa, e o
enfermeiro, no acolhimento, deve investigar sintomas, principalmente tosse, e realizar baciloscopia de
escarro (e exame radiológico quando indicado) (BRASIL, 2011d).
44
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
de interromper a cadeia de transmissão e reduzir a incidência da doença a longo prazo (BRASIL, 2011d).
É fundamental que a busca ativa ocorra nos equipamentos de saúde para que possamos interromper
a cadeia de transmissão da TB, sendo, assim, fundamental a descoberta precoce dos casos bacilíferos.
Desse modo, a busca ativa em pessoas com tosse prolongada deve ser uma estratégia priorizada para a
descoberta desses casos. Vale salientar ainda que cerca de 90% dos casos de tuberculose são da forma
pulmonar e, desses, 60% são bacilíferos (BRASIL, 2011d).
A busca ativa dos SR deve ser realizada em populações com alto risco de adoecimento, com atenção
especial à população prisional. Sugere-se que a busca ativa seja realizada em indivíduos que apresentem
tosse por tempo igual ou superior a duas semanas, a fim de aumentar a sensibilidade da busca, desde
que seja garantido o suporte laboratorial (BRASIL, 2011d).
Vale lembrar que, para cada 100 SR examinados, espera-se encontrar, em média, de três a quatro doentes
bacilíferos, índice que pode variar de acordo com o coeficiente de incidência da região (BRASIL, 2011d).
É importante lembrar ainda que, ao realizar a busca ativa, devemos usar como estratégia operacional
algumas ações: interrogar sobre a presença e a duração da tosse, independentemente do motivo da
procura; informar às pessoas que os SR identificados devem ser encaminhados para a coleta do exame
de escarro e que serão coletadas duas amostras de escarro (uma no momento da identificação e outra
no dia seguinte). Nos serviços de saúde deve-se fornecer ao paciente a orientação sobre como coletar
o escarro e qual o local apropriado para isso (na área externa do serviço de saúde). Deve-se também
registrar as atividades e os dados do paciente em instrumentos padronizados, estabelecer fluxo para
conduta nos casos positivos e negativos e avaliar rotineiramente a atividade da busca por meio dos
indicadores sugeridos (avaliar a proporção de sintomáticos respiratórios examinados, a proporção de
baciloscopias positivas e se a proporção da meta foi alcançada) (BRASIL, 2011d).
Observação
A BCG é uma vacina atenuada, cada dose administrada contém cerca de 200 mil ou até mais de um
milhão de bacilos, sendo administrada por via intradérmica, no braço direito, na altura da inserção do
músculo deltoide. Ela pode ser simultaneamente administrada com outras vacinas, até mesmo com as
de vírus vivos (BRASIL, 2011d).
45
Unidade I
46
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
47
Unidade I
A sífilis é uma infecção sistêmica causada pela bactéria Treponema pallidum. Sua evolução é lenta e,
quando não tratada precocemente, pode evoluir para uma doença crônica com sequelas irreversíveis. A
transmissão se dá predominantemente por via sexual e vertical, caracterizando-se como uma infecção
sexualmente transmissível (IST) (BRASIL, 2016b).
A OMS estima que mundialmente ocorram 12 milhões de novos casos de sífilis a cada ano, sendo
90% desses casos em países em desenvolvimento (SALEM et al., 2013).
Em 2016, a sífilis foi declarada como um grave problema de saúde pública no Brasil. No ano de 2017,
o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) recebeu 119.800 casos de sífilis adquirida,
49.013 de casos de sífilis em gestantes, 24.666 de casos de sífilis congênita. O Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), por sua vez, informou o número de 206 óbitos por sífilis congênita no mesmo ano
(BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).
Nos últimos anos foi observado no Brasil um aumento constante do número de casos de sífilis em
gestantes, congênita e adquirida, o qual pode ser relacionado, pelo aumento da cobertura de testagem,
com a ampliação do uso de testes rápidos, a redução do índice de uso de preservativo, a resistência
dos profissionais de saúde à administração da penicilina na Atenção Básica (AB) e o desabastecimento
mundial de penicilina, entre outros (BRASIL, 2017e; BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).
Outro ponto a ser considerado é o aprimoramento do sistema de vigilância que pode refletir no
aumento de casos notificados. Para fins de vigilância epidemiológica, os critérios de definição de casos
de sífilis adquirida, sífilis em gestantes e sífilis congênita foram alterados em setembro de 2017 por meio
da Nota Informativa n. 2 – SEI/2017 – DIAHV/SVS/MS, com a intenção adequada da sensibilidade na
captação de casos de sífilis congênita e reduzir a subnotificação de casos de sífilis em gestantes. Assim,
passou a ser definido o caso de sífilis congênita, deixou-se de considerar o tratamento da parceria sexual
da mãe; e no caso de sífilis em gestantes, definiu-se que todas as mulheres diagnosticadas com sífilis
durante o pré-natal, parto e/ou puerpério devem ser notificadas como caso de sífilis em gestantes, e não
como sífilis adquirida (BRASIL, 2017e).
Portanto, pode ser que o aumento de casos de sífilis em gestantes a partir de 2017 seja atribuído, em
parte, à mudança no critério de definição de caso.
A sífilis é uma doença altamente transmissível não só durante a relação sexual desprotegida como
também entre mãe e feto, por via transplacentária. Além disso, quando uma gestante portadora de sífilis
48
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
A infecção pela bactéria não gera imunidade protetora, ou seja, uma pessoa pode ser infectada inúmeras
vezes se tiver contato com o T. Pallidum. Vale destacar que não existe vacina contra sífilis (BRASIL, 2016b).
Durante sua evolução, se não tratada, a doença alterna entre períodos de latência (assintomáticos) e
períodos sintomáticos (com manifestações clínicas, imunológicas e histopatológicas diferentes).
A sífilis é classificada em estágios que orientam o tratamento (BRASIL, 2016b; CARDOSO, 2019;
BRASIL, 2019b):
• sífilis recente (primária, secundária e latente recente), com até dois anos de evolução;
• sífilis tardia (latente tardia e terciária), com mais de dois anos de evolução.
Após o contato sexual infectante, ocorre o período de incubação com duração de 10 a 90 dias (média
de três semanas). O primeiro sinal é caracterizado por uma úlcera rica em treponemas, geralmente única
e indolor, com borda bem definida e regular, com a base endurecida e fundo limpo, que ocorre no local de
entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais do tegumento), sendo
denominada cancro duro. A lesão geralmente é acompanhada de linfadenopatia regional (acometendo
linfonodos localizados próximos à lesão), e sua duração pode variar muito, em geral de três a oito
semanas, podendo também desaparecer sem tratamento, de forma que o portador pode não perceber
a lesão ou sua importância. Trata-se de uma caso menos frequente, porém pode acontecer de a lesão
primária ser múltipla (BRASIL, 2015c; BRASIL, 2019b).
Ocorre aproximadamente entre seis semanas e seis meses após a infecção, permanecendo, em média,
entre quatro e doze semanas. Manifestações iniciais, recorrentes ou subentrantes do secundarismo podem
ocorrer em um período de até dois anos. Aqui também os sintomas podem desaparecer de forma espontânea
em poucas semanas, e as manifestações são muito variáveis, podendo ocorrer: erupções cutâneas em
forma de máculas (roséola) e/ou pápulas principalmente no tronco; lesões eritemato-escamosas
palmo-plantares (essa localização sugere fortemente o diagnóstico de sífilis no estágio secundário); placas
eritematosas branco-acinzentadas nas mucosas; lesões pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas
cutâneas (condiloma plano ou condiloma lata); alopecia em clareira e perda da sobrancelha, em especial
do terço distal; febre, mal-estar, cefaleia, adinamia e linfadenopatia generalizada. Menos frequente, porém
possível de ser observado, são o comprometimento hepático e os quadros meníngeos e/ou até oculares, em
geral como uveíte. Merece destaque o fato de as lesões de pele do secundarismo não serem pruriginosas,
o que auxilia no diagnóstico clínico (BRASIL, 2015c; BRASIL, 2019b).
49
Unidade I
Na ausência de tratamento, após o desaparecimento dos sinais e dos sintomas da infecção, a sífilis
entra no período latente. Como falado anteriormente, tal período é dividido em latente recente (até
dois anos de infecção) e latente tardio (mais de dois anos de infecção). A maioria dos diagnósticos
acontecem nesse estágio por meio de sorologias (BRASIL, 2015c; BRASIL, 2019b).
Corresponde a um valor entre 15% e 25% das infecções não tratadas após períodos de latência
(podendo variar entre 2 e 40 anos após a infecção). Nesse estágio ocorre uma destruição tecidual, sendo
comum o acometimento dos sistemas nervoso e cardiovascular. Observa-se também a formação de
tumorações com tendência a liquefação na pele, nas mucosas, nos ossos e em outros tecidos, podendo
causar incapacidade e levar a óbito (BRASIL, 2019b).
Toda gestante deve realizar dois testes para sífilis durante o pré-natal, um no primeiro trimestre de
gravidez e o segundo no terceiro trimestre (a parceria sexual também deve fazer o teste). Também é
obrigatória a realização de um teste, treponêmico ou não treponêmico, imediatamente após a internação
para o parto na maternidade ou em caso de aborto (BRASIL, 2016b).
A sífilis congênita precoce se manifesta antes dos dois primeiros anos de vida, e a sífilis congênita
tardia após os dois anos. O diagnóstico da sífilis congênita precoce e tardia é feito por meio de
avaliação clínico-laboratorial, além de uma avaliação epidemiológica criteriosa materna e da criança
(BRASIL, 2015c).
A lesão genital está associada ao aumento de risco de transmissão e aquisição do HIV, sendo tal
quadro relacionado como a principal causa para a propagação do vírus nas populações vulneráveis.
Logo após o diagnóstico, o tratamento deve ser imediato, visto que constitui uma medida de prevenção
e controle da epidemia de HIV (BRASIL, 2015c).
Observação
O diagnóstico da sífilis pode se dar por exames coletados diretamente das lesões e por testes
imunológicos com pesquisa de anticorpos em amostras de sangue total, soro ou plasma, sendo eles os
treponêmicos e os não treponêmicos.
50
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
Observação
Os testes rápidos (TR) são práticos e de fácil execução, com leitura do
resultado em, no máximo, 30 minutos. Podem ser realizados com amostras
de sangue total colhidas por punção digital ou venosa. Sua vantagem é
poder ser realizado durante a consulta, possibilitando tratamento imediato.
Nos casos de TR positivos (reagentes), uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada
para realização de um teste laboratorial (não treponêmico) a fim de se obter a confirmação do diagnóstico.
Para o diagnóstico de sífilis em gestante, podem ser utilizados os testes treponêmicos rápidos ou os
testes treponêmicos convencionais (Elisa, FTA-Abs, TPHA, entre outros) e os não treponêmicos (VDRL,
RPR, TRUST, entre outros).
VDRL
Quantificáveis (ex.: 1:12, 1:4, 1:8).
Não RPR
treponêmicos Importantes para o diagnóstico e
TRUST monitoramento da resposta ao tratamento.
USR
Testes imunológicos São os primeiros a se tornarem reagentes.
FTA-Abs Na maioria das vezes, permanecem
ELISA/ EQL/CMIA reagentes por toda a vida, mesmo após
Treponêmicos tratamento.
TPHA/TPPA/MHA-TP
São importantes para o diagnóstico, mas
Teste rápido (TR) não estão indicados para o monitoramento
da resposta ao tratamento.
51
Unidade I
Saiba mais
O medicamento de escolha para tratar sífilis é a benzilpenicilina benzatina, a única droga com eficácia
documentada para tratar gestantes. Não existem evidências de resistência à penicilina da bacteria
T. pallidum (BRASIL, 2019b).
Outras opções para não gestantes podem ser empregadas (conforme indicado no quadro a seguir),
porém devem ser usadas com um acompanhamento clínico e laboratorial rigoroso, monitorando
resposta clínica e cura sorológica (BRASIL, 2019b).
Alternativa Seguimento
Estadiamento Esquema terapêutico (exceto para gestantes) (teste não treponêmico)
Sífilis recente: sífilis primária, Benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões Teste não treponêmico trimestral
Doxiciclina 100 mg,
secundária e latente recente (com UI, IM, dose única (1,2 milhão UI em (em gestantes, o controle deve
12h/12h, VO, por 15 dias.
até dois anos de evolução). cada glúteo). ser mensal).
Sífilis tardia: sífilis latente tardia Benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões Teste não treponêmico trimestral
(com mais de dois anos de UI, IM,1x/semana (1,2 milhão UI em Doxiciclina 100 mg, (em gestantes, o controle deve
evolução) ou latente com duração cada glúteo) por 3 semanas. Dose 12h/12h, VO, por 30 dias. ser mensal).
ignorada e sífilis terciária. total: 7,2 milhões UI, IM.
52
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
A benzilpenicilina benzatina dever ser administrada exclusivamente por via intramuscular (IM). A
região ventro-glútea é a via preferencial, por ser livre de vasos e nervos importantes, com poucos efeitos
adversos e dor local. A benzilpenicilina benzatina pode, ainda, ser administrada na região do vasto
lateral da coxa e do dorso glúteo (BRASIL, 2019b).
A) B) C)
No caso de gestantes, dado ao risco de transmissão para o feto, o tratamento deve ser iniciado
com apenas um teste positivo (reagente), sendo desnecessário aguardar o resultado do segundo teste
(BRASIL, 2019b).
Quando indicado, complementa-se a avaliação com a coleta de material biológico para exame
laboratorial. Caso esteja disponível, é importante a realização de exames laboratoriais para a identificação
de outras doenças como HIV, hepatite, clamídia e gonorreia. Vale lembrar que, sempre que alguma
dessas infecções for diagnosticada, deve-se fazer a notificação compulsória (BRASIL, 2015c).
Os exames laboratoriais devem ser colhidos na primeira consulta, e, caso os resultados não estejam
disponíveis no momento, a conduta terapêutica não deve ser postergada. A prescrição e a orientação do
tratamento devem se dar ao final da consulta, estabelecendo-se também a estratégia para seguimento
e a atenção às parcerias sexuais (BRASIL, 2015c).
Com objetivo de reduzir os índices de sífilis adquirida, sífilis na gestação e sífilis congênita no Brasil, em
2016, foi implementada a Agenda de Ações Estratégicas para Redução da Sífilis Congênita no Brasil.
Em outubro de 2017, renovaram-se as ações estratégicas para os dois anos seguintes (BRASIL, 2017e).
53
Unidade I
Para alcançar tal objetivo foram criados eixos de atuação com ações e atividades voltadas para a
redução e o controle dessa infecção nas redes de atenção à saúde. Cada atividade deve ter uma área
responsável, que fará a coordenação e a articulação com as demais áreas e parcerias (BRASIL, 2017e).
Resposta rápida a
sífilis nas redes de
atenção à saúde
Educomunicação
Fortalecimento
das redes de
atenção à saude
Qualificação
de informações
estratégicas
Ampliação
dos comitês
de investigação de
transmissão vertical
de HIV, Sífilis e Fortalecimendo
hepatites virais da parceria do MS
com outros atores
Saiba mais
Entre outras ações existentes na Agenda, estão a elaboração e a divulgação de materiais informativos
e educativos sobre prevenção, diagnóstico, tratamento e vigilância da sífilis. Trata-se de materiais
importantes não somente para os jovens da população brasileira, mas principalmente para os homens
54
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
adultos, considerando-se que a maioria deles só procura os serviços de saúde quando já estão doentes,
o que impõe a necessidade de desenvolver estratégias interssetoriais, incluindo ações de prevenção
nas escolas e nas redes de interação juvenil. Esse movimento contribui para a promoção da saúde
integralmente (BRASIL, 2017e).
Para que se tenha adesão à redução e à prevenção da sífilis e de outras IST, o profissional de
saúde deve estabelecer uma relação de confiança com o usuário em ambiente privativo, com tempo
adequado para atendimento (atendimento que deve promover educação em saúde, garantindo,
assim, qualidade e eficiência). É recomendada a vacinação contra hepatite B para todas as pessoas e
vacinação quadrivalente contra HPV tipos 6, 11, 16 e 18 para adolescentes na faixa etária de 9 a 13 anos
e para mulheres HIV-positivas de 9 a 26 anos de idade (que, nesse caso, precisam de prescrição
médica) (BRASIL, 2016b).
As pessoas também devem ser orientadas quanto à conservação e ao uso correto e regular dos
preservativos, e esses insumos devem ser disponibilizados como parte da rotina de atendimento
(BRASIL, 2015c).
55
Unidade I
Para o controle das IST e em conformidade com a Portaria n. 2.488 (BRASIL, 2011b), de 21 de outubro
2011, que aprova a Política Nacional da Atenção Básica, e com a Lei n. 7.498 (BRASIL, 1986), que dispõe
sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, o enfermeiro desempenha uma atividade de
extrema importância na realização de consulta de enfermagem, de procedimentos e de atividades em
grupo, conforme protocolos ou outras normas técnicas estabelecidas pelo gestor (federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal), observadas as disposições legais da profissão para solicitação de
exames complementares, prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública
aprovados pela instituição de saúde e encaminhamento, quando necessário, de usuários a outros
serviços (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2017; BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).
Tendo em vista o princípio de atendimento integral à saúde, em grande parte das unidades de
saúde o atendimento é agendado, fato que pode dificultar uma demanda espontânea. Com objetivo
de diagnosticar, tratar e reduzir os casos de IST, a unidade e os profissionais devem ser organizados e
acolhedores, personalizando o atendimento caso a caso.
Conforme o protocolo clínico e as diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com IST
(BRASIL, 2015c), as atividades para controle das IST na Atenção Básica devem:
• realizar consulta imediata no caso de úlceras genitais, corrimentos genitais masculinos e femininos
e de verrugas anogenitais;
• realizar testagem rápida e/ou coleta de sangue e/ou solicitação de exames para sífilis, HIV e
hepatites B e C, nos casos de IST;
56
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
• seguir o protocolo do Ministério da Saúde para a prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis
e hepatites virais;
• notificar as IST conforme a portaria vigente (os demais agravos são notificados de acordo com as
recomendações dos estados/municípios, quando existentes);
• referir os casos suspeitos de IST com manifestações cutâneas extragenitais para unidades que
disponham de dermatologista, caso necessário;
• referir os casos de IST complicadas e/ou não resolvidas para unidades que disponham de
especialistas e mais recursos laboratoriais;
• referir os casos de dor pélvica com sangramento vaginal, casos com indicação de avaliação
cirúrgica ou quadros mais graves para unidades com ginecologista e/ou que disponham de
atendimento cirúrgico.
Resumo
Exercícios
B) A infraestrutura de uma UBS não deve estar adequada ao quantitativo de população adscrita
e suas especificidades, mas, sim, aos processos de trabalho das equipes e à atenção à saúde
dos usuários.
D) As UBS devem ser construídas de acordo com as normas sanitárias e tendo como referência as
normativas de infraestrutura vigentes. Devem, ainda, ser cadastradas no Sistema Eletrônico do
SUS e no Sistema de Informação da Atenção Básica.
E) Para um ambiente adequado em uma UBS, existem componentes que atuam como modificadores
e qualificadores do espaço, recomenda-se contemplar: recepção com grades (para garantir
privacidade à pessoa), identificação dos serviços existentes, cronograma de atendimento, conforto
térmico e acústico, e espaços adaptados para as pessoas com deficiência.
59
Unidade I
A) Alternativa correta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: segundo a Portaria n. 2.436/17, a infraestrutura de uma UBS deve estar adequada ao
quantitativo de população adscrita e suas especificidades, bem como aos processos de trabalho das
equipes e à atenção à saúde dos usuários.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Portaria n. 2.436/17 traz que parâmetros de estrutura devem levar em consideração
densidade demográfica, composição, atuação e tipos de equipes, perfil da população e ações e serviços
de saúde a serem realizados.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Política Nacional da Atenção Básica, aprovada pela Portaria n. 2.436/17, diz que as
UBS devem ser construídas de acordo com as normas sanitárias e tendo como referência as normativas
de infraestrutura vigentes, bem como possuir identificação segundo os padrões visuais da Atenção
Básica e do SUS. Devem, ainda, ser cadastradas no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos
de Saúde (SCNES), de acordo com as normas em vigor para tal.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: de acordo com a Portaria n. 2.436/17, para um ambiente adequado em uma UBS, existem
componentes que atuam como modificadores e qualificadores do espaço, recomenda-se contemplar:
recepção sem grades (para não intimidar ou dificultar a comunicação e também garantir privacidade
à pessoa), identificação dos serviços existentes, escala dos profissionais, horários de funcionamento e
sinalização de fluxos, conforto térmico e acústico, e espaços adaptados para as pessoas com deficiência
em conformidade com as normativas vigentes.
Questão 2. (Cetro, 2012) A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é um problema grave de saúde
pública no Brasil e no mundo. A aferição correta da pressão arterial é de extrema importância para o
diagnóstico de HAS e prevenção de complicações. Sobre os cuidados básicos para a aferição correta da
pressão arterial, assinale a alternativa incorreta.
60
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM
A) A posição recomendada para a medida da pressão arterial (PA) é a sentada. Entretanto, a medida
da PA na posição ortostática deve ser feita pelo menos na primeira avaliação, especialmente em
idosos, diabéticos, pacientes com disautonomias, alcoólicos e pacientes em uso de medicação
anti-hipertensiva.
B) Certificar-se de que o paciente não está com a bexiga cheia, não praticou exercícios físicos de
60 a 90 minutos antes da aferição, não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, ou fumou até
30 minutos antes da aferição, e não está com as pernas cruzadas.
C) Manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a palma da mão voltada
para cima e cotovelo ligeiramente fletido.
D) A “síndrome do avental branco” é a elevação da pressão arterial pela tensão provocada pela
simples presença do profissional de saúde, e deve ser considerada quando o paciente apresentar
valores de PA elevados, recomendando-se a aferição repetida em diversos dias.
A) Alternativa correta.
Justificativa: a posição recomendada para a medida da pressão arterial (PA) é a sentada. Entretanto,
a medida da PA na posição ortostática deve ser feita pelo menos na primeira avaliação, especialmente
em idosos, diabéticos, pacientes com disautonomias, alcoólicos e pacientes em uso de medicação
anti-hipertensiva.
B) Alternativa correta.
Justificativa: certificar-se de que o paciente não está com a bexiga cheia, não praticou exercícios
físicos há 60-90 minutos, não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, ou fumou até 30 minutos
antes, e não está com as pernas cruzadas é um dos procedimentos para a medida da pressão arterial.
C) Alternativa correta.
Justificativa: manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a palma da
mão voltada para cima e cotovelo ligeiramente fletido é um dos procedimentos para a medida da
pressão arterial.
61
Unidade I
D) Alternativa correta.
Justificativa: explicar o procedimento ao paciente, orientando que não fale e descanse por
5-10 minutos em ambiente calmo, com temperatura agradável. Promover relaxamento, para atenuar o
efeito do avental branco (elevação da pressão arterial pela tensão provocada pela simples presença do
profissional de saúde, particularmente do médico).
E) Alternativa incorreta.
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