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Tópicos de Atuação

Profissional – Enfermagem
Autoras: Profa. Maria Luiza Mazzieri
Profa. Camila Luzeiro
Profa. Helga Harumi Kabutomori Rosa
Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professoras conteudistas: Maria Luiza Mazzieri / Camila Luzeiro /
Helga Harumi Kabutomori Rosa

Maria Luiza Mazzieri

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Guarulhos (1994) e especialização em Administração


Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto (1995), Enfermagem em Cardiologia no Instituto de Cardiologia
(InCor) pela Universidade de São Paulo (1996) e Docência no Ensino Superior pela Universidade Cidade de São Paulo
(2009). É mestre em Ciências da Saúde na área de Concentração em Enfermagem pela Universidade Guarulhos (2003).
Profissional com experiência na área clínica e educacional, com atividade clínica na terapia intensiva de adultos em
hospitais públicos. Possui vivência acadêmica em escolas técnicas e universidade, atuando na coordenação e na área
pedagógica. Também é professora adjunta da Universidade Paulista no curso de Enfermagem. Atualmente, estuda as
temáticas de instrumentos básicos de enfermagem e educação em saúde.

Camila Luzeiro

Graduou‑se como enfermeira pela Universidade Paulista (2010) e é mestre em Ciências pela Universidade Federal de São
Paulo (2017), é especialista em Enfermagem do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo (2012). Atuou como enfermeira
assistencial e, atualmente, é professora adjunta da Universidade Paulista, lecionando disciplinas de Saúde do Adulto, Atenção à
Saúde da Família e Pessoa em Situação de Risco e Prevenção e Controle das Infecções em Instituições de Saúde.

Helga Harumi Kabutomori Rosa

Graduou-se em Enfermagem pela Universidade Paulista (2013) e é mestre em Ciência e Tecnologia da Saúde pela
Universidade de Mogi das Cruzes (2018). Atuou como professora do curso técnico Gerência em saúde pelo Programa
do Governo Pronatec na Universidade Paulista, como coordenadora do curso Técnico de Enfermagem (Pronatec) pela
Universidade Paulista e atualmente é professora adjunta da mesma universidade no curso de Enfermagem, lecionando
disciplinas de Políticas de Saúde, Atenção à Saúde da Família e Pessoa em Situação de Risco, Prevenção e Controle das
Infecções em Instituições de Saúde, Ética Aplicada a Enfermagem, Bioestatística Aplicada a Enfermagem e Auditoria,
entre outras.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M477t Mazzieri, Maria Luiza.

Tópicos de Atuação Profissional – Enfermagem / Maria Luiza


Mazzieri et al. – São Paulo: Editora Sol, 2020.

136 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Política nacional de atenção básica. 2. Política nacional de


saúde. 3. Política nacional de atenção hospitalar. I. Luzeiro, Camila. II.
Rosa, Helga Harumi Kabutomori. III. Título.

CDU 616.08

W505.39 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Talita Lo Ré
Jaci Albuquerque
Sumário
Tópicos de Atuação Profissional - Enfermagem

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB)...............................................................................9
1.1 Novas diretrizes da PNAB.................................................................................................................. 13
2 ESTRATÉGIAS PARA O CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA CRÔNICA........................................ 15
2.1 Cuidado para a pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica............... 20
2.1.1 Novas diretrizes para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica............................. 24
2.2 Cuidado para a pessoa com doença crônica: diabetes melito............................................ 27
3 CONTROLE DA TUBERCULOSE NO BRASIL............................................................................................. 37
4 ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: SÍFILIS...................................................................................................... 48
4.1 Transmissão da sífilis............................................................................................................................ 48
4.2 Manifestações clínicas da sífilis....................................................................................................... 49
4.2.1 Sífilis primária........................................................................................................................................... 49
4.2.2 Sífilis secundária...................................................................................................................................... 49
4.2.3 Sífilis latente.............................................................................................................................................. 50
4.2.4 Sífilis terciária............................................................................................................................................ 50
4.2.5 Sífilis em gestante e a sífilis congênita.......................................................................................... 50
4.3 Diagnóstico da sífilis............................................................................................................................ 50
4.4 Tratamento e monitoramento da sífilis........................................................................................ 52
4.5 Prevenção e redução da sífilis.......................................................................................................... 53

Unidade II
5 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA......................................................................................................... 63
5.1 Conceitos e atuação da equipe de Estratégia Saúde da Família....................................... 63
5.2 Composição, territorialização e atividades básicas da equipe de
Estratégia Saúde da Família..................................................................................................................... 64
5.3 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)............................................................................... 67
5.4 Agentes Comunitários de Saúde (ACS)........................................................................................ 68
6 SAÚDE MENTAL................................................................................................................................................. 68
6.1 Estratégia de redução de danos...................................................................................................... 71
6.2 Síndrome de burnout.......................................................................................................................... 73
6.3 Suicídio e depressão na contemporaneidade............................................................................ 75
7 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE................................................................................................................. 79
7.1 Política nacional de proteção dos direitos da pessoa com
transtorno do espectro autista............................................................................................................... 79
7.1.1 Histórico...................................................................................................................................................... 79
7.1.2 Lei n. 12.764............................................................................................................................................... 81
7.2 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa............................................................................... 83
7.3 Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.................................................... 93
7.3.1 A situação de saúde da população negra no Brasil e seus determinantes sociais....... 94
7.4 Política Nacional de Saúde Integral da População Indígena............................................... 98
8 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO HOSPITALAR...............................................................................108
APRESENTAÇÃO

O presente livro-texto tem como meta a imersão do leitor na sustentação teórica para a realização
da leitura, interpretação e conhecimento de temas vinculados ao conhecimento geral, específico e
contemporâneo na área da saúde.

Além disso, almeja suscitar a reflexão sobre a importância da construção do conhecimento de temas
contemporâneos da área com a análise crítica das informações, projetando ações de intervenção e
solução de situações-problemas.

A disciplina trabalha leitura, interpretação e conhecimento de temas vinculados ao


conhecimento geral, específico e contemporâneo do egresso, envolvendo as políticas públicas,
educação, responsabilidade social no setor público e privado, relações de trabalho, relações de
gênero e tecnologia de informação e comunicação, objetivando capacitar o aluno na construção do
conhecimento de temas contemporâneos da área por meio de uma análise crítica das informações,
projetando ainda ações de intervenção e solução de situações-problema sobre a atuação profissional
pautada na bioética.

Esperamos que, ao final de nosso percurso de ensino/aprendizagem, seja compreensível a relação


indissociável entre conhecimento específico e atuação ética, para uma prática cada vez mais consciente
e efetiva de cuidado com o outro.

Os objetivos da disciplina são:

• ler e interpretar textos;

• analisar e criticar informações;

• conhecer temas vinculados ao conhecimento geral, específico e contemporâneo da área;

• projetar ações de intervenção;

• propor soluções para situações-problema;

• construir perspectivas integradoras e interprofissionais;

• refletir sobre a atuação profissional com base na bioética.

7
INTRODUÇÃO

Quando pensamos no profissional dessa área, muitas vezes pensamos no quanto ele necessita de
um olhar ético e globalizado nas suas ações, pois seu campo está comprometido com a saúde e com
a qualidade de vida da pessoa, da família e da coletividade. Esse profissional atua na promoção, na
prevenção, na recuperação e na reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos
éticos e legais. Dentro de suas atribuições, participa como integrante da equipe de saúde, promovendo
ações que visem a satisfazer as necessidades de saúde da população. Também participa da defesa dos
princípios das políticas públicas de saúde e políticas públicas ambientais que garantam a universalidade
de acesso aos serviços de saúde, à integralidade da assistência, à resolutividade, à preservação
da autonomia das pessoas, à participação da comunidade, à hierarquização e à descentralização
político-administrativa dos serviços de saúde e respeito à vida, à dignidade e aos direitos humanos em
todas as suas dimensões. Exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano em
sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética, atuando nos cuidados à pessoa, à
família e à comunidade.

Neste livro-texto abordaremos sua atuação na Atenção Básica/Saúde da Família, nas ações
voltadas às doenças crônico degenerativas (diabetes melito e hipertensão arterial sistêmica), às
doenças infecciosas (tuberculose e sífilis), aos problemas de saúde mentais (síndrome de burnout,
depressão e suicídio), além de seu envolvimento direto nas ações de políticas públicas de saúde
voltadas à redução de danos, à saúde do idoso, aos indígenas, aos negros, aos indivíduos classificados
no espectro da síndrome do autismo. Isso tudo junto a uma equipe multidisciplinar, nos aspectos
assistenciais e gerenciais, avançando cada vez mais na articulação multidisciplinar das equipes de
saúde e viabilizando a gestão administrativa das unidades de serviços de saúde em que atuam.

8
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Unidade I
1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB)

Na Atenção Básica (AB), a universalidade é o eixo estrutural da atenção à saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Considerando a pessoa em sua singularidade social e cultural, proporciona a ela
uma atenção integral, além de incorporar as ações de vigilância em saúde, num processo contínuo e
sistemático de coleta, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde. Isso se dá
visando ao planejamento e à implementação de ações públicas para a proteção da saúde da população,
além da prevenção e da redução de riscos, agravos e doenças (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2017a).

A Atenção Básica é caracterizada por ser a porta de entrada preferencial do SUS, relacionando-se
ao cuidado das pessoas e a um papel estratégico na rede de atenção à saúde (servindo como base para
a integralidade da saúde). Dentro das estratégias do cuidar, o Programa Saúde da Família, criado em
1994, amplia a cobertura de saúde, sendo voltado à população em situação social mais vulnerável e,
ao longo dos anos, organizando o processo de trabalho com equipe multiprofissional, base territorial
e responsabilidade sanitária. Ampliando suas ações de saúde para a população e com a Rede de Atenção
à Saúde (RAS), melhorou os índices de resolutividade, cuidado clínico, cuidado terapêutico e diagnóstico
necessários para a Atenção Básica.

Diante de todas as necessidades, percebeu-se a indispensabilidade de políticas públicas voltadas


a essa situação de saúde e, em 2006, foi promulgada a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB),
inserida no contexto do Pacto da Saúde. Ela ainda teve uma segunda edição em 2011, com a Portaria
n. 2.488 (BRASIL, 2011b), estabelecendo diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para
a Estratégia Saúde da Família (ESF) e para o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs). Sua
terceira edição data de 2017 (BRASIL, 2011b).

A PNAB é resultado da experiência e da consolidação do SUS com movimentos sociais populares,


trabalhadores e gestores das três esferas de governo. Essa portaria, conforme normatização vigente no
SUS, define a organização em Redes de Atenção à Saúde como uma estratégia para um cuidado integral e
direcionado às necessidades de saúde da população, além de destacar a Atenção Básica como o primeiro
ponto de atenção e a porta de entrada preferencial do SUS, devendo ordenar os fluxos e contrafluxos de
pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde (BRASIL, 2011b).

O Decreto n. 7.508, de 28 de julho de 2011, que regulamenta a Lei n. 8.080/90,


define que “o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços
de saúde se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede
regionalizada e hierarquizada” (BRASIL, 2011b).

9
Unidade I

A RAS se caracteriza por apresentar arranjos que contribuem para a atenção continuada das
necessidades de serviços de saúde integral e com qualidade à população assistida. A atenção primária
é primordial para a continuidade da assistência à saúde dos que necessitam de um cuidado maior. Por
exemplo, os casos de pacientes crônicos não podem simplesmente ser resolvidos apenas por um sistema
de saúde fragmentado por meio de equipamentos de pronto atendimento ambulatorial e hospitalar,
demandando também ações de cuidado (como hospitais, pronto atendimento e serviço de atendimento
móvel de urgência – Samu), promoção da saúde (campanhas de educação em saúde, ESF e Unidades
Básicas de Saúde – UBS), acompanhamento (UBS e ESF) e continuidade (hospitais, melhor em casa) no
atendimento de saúde prestado à população (COSTA; RAMIRES, 2014).

Figura 1 – Exemplo de pontos de atenção secundários e terciários que compõem uma Rede de Atenção à Saúde

Tendo em vista uma melhor articulação, a PNAB rege princípios e diretrizes que caracterizam a relação
de serviços ofertados na Atenção Básica e são orientadores para a sua organização nos municípios,
conforme descrito a seguir.

10
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Quadro 1 – Princípios do SUS na Atenção Básica

Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados


Universalidade como a porta de entrada e preferencial da RAS (primeiro contato), acolhendo as pessoas e promovendo
a vinculação e a corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde.
Ofertar o cuidado reconhecendo as diferenças nas condições de vida e de saúde de acordo com as
necessidades de cada pessoa. Considerar que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais
Equidade e deve atender à diversidade, ficando proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, cor,
crença, nacionalidade, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição
socioeconômica, escolaridade e limitação física, intelectual ou funcional, entre outras.
É o conjunto de serviços executados pela equipe de saúde que atendem às necessidades da
Integralidade população adscrita nas necessidades biológicas, psicológicas, ambientais e sociais causadoras das
doenças, da promoção e manutenção da saúde, da prevenção de doenças e agravos, da cura, da
reabilitação, da redução de danos e dos cuidados paliativos.

Adaptado de: Brasil (2011b); Brasil (2017a).

As diretrizes que regem o SUS, a serem operacionalizadas na Atenção Básica, são descritas a seguir.

Quadro 2 – Diretrizes da Atenção Básica

Regionalização e É a Atenção Básica como ponto de comunicação entre a RAS, considerando-se regiões de saúde
hierarquização um recorte espacial estratégico para fins de planejamento, organização e gestão de redes de
ações e serviços de saúde.
Permite a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e interssetoriais
Territorialização e com foco em um território específico, obtendo impacto na situação, nos condicionantes e nos
adstrição determinantes da saúde das pessoas e das coletividades que constituem aquele espaço e estão,
portanto, adstritos a ele.
Trata-se da população que está presente no território da UBS. O objetivo é estimular o
População desenvolvimento de relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população
adscrita garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado, a fim de se
tornar referência para o seu cuidado.
Aponta para o desenvolvimento de ações de cuidado de forma singularizada que auxilie
Cuidado centrado as pessoas a desenvolverem os conhecimentos, as aptidões, as competências e a confiança
na pessoa necessária para gerir e tomar decisões embasadas sobre sua própria saúde e seu cuidado de saúde
de forma mais efetiva.
Refere-se à importância de a Atenção Básica ser resolutiva utilizando e articulando diferentes
Resolutividade tecnologias de cuidado individual e coletivo por meio de uma clínica ampliada capaz de construir
vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, centrada na pessoa e na
perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e dos grupos sociais.
Pressupõe a continuidade da relação de cuidado, com construção de vínculo e a responsabilização
Longitudinalidade entre profissionais e usuários ao longo do tempo e de modo permanente e consistente,
do cuidado acompanhando os efeitos das intervenções em saúde e de outros elementos na vida das pessoas,
evitando, assim, a perda de referências.

Coordenação do Trata-se de elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção
cuidado das RAS articulando também as outras estruturas das redes de saúde e interssetoriais, públicas,
comunitárias e sociais.
Significa reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade,
Ordenação das organizando tais necessidades em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo
redes para que o planejamento das ações, assim como a programação dos serviços de saúde, parta das
necessidades de saúde das pessoas.

Participação da Refere-se a estimular a participação das pessoas, a orientação comunitária das ações de saúde
comunidade na Atenção Básica e a competência cultural no cuidado como forma de ampliar sua autonomia e
capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território.

Adaptado de: Brasil (2011b); Brasil (2017a).

11
Unidade I

População
Modelo
de saúde Sistema
logístico

Sistema de Centro
governança RAS comunicador
(APS)

Pontos de
atenção Sistema
terciários Pontos de apoio
de
atenção
secundários

Figura 2 – Elementos constitutivos da Rede de Atenção à Saúde

As ações da equipe de saúde devem buscar a integralidade da atenção de modo a superar a assistência
fragmentada. É essencial uma abordagem integral ao usuário, compreendendo-o como ser singular em
suas diferentes dimensões biológicas, psicológicas, econômicas, sociais e culturais, além de todos os
pontos de atenção para dar vazão às suas necessidades de saúde, e essas ações empreendidas devem ser
de fato resolutivas (BRASIL, 2011b; COSTA; RAMIRES, 2014).

Entre as atribuições dos profissionais das equipes de atenção básica, as atividades devem seguir as
referidas disposições legais que regulamentam o exercício de cada uma das profissões. Assim, trataremos
agora das atividades específicas do enfermeiro, destacando a seguir suas obrigações (BRASIL, 2017a).

• Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias vinculadas às equipes e, quando indicado
ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas e associações, entre
outras), em todos os ciclos de vida.

• Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, solicitar exames complementares, prescrever


medicações conforme protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas ou outras normativas técnicas
estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as
disposições legais da profissão.

• Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e classificação de risco de acordo
com protocolos estabelecidos.

• Realizar estratificação de risco e elaborar, como os demais membros da equipe, um plano de


cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território.

12
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

• Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário, os usuários a outros serviços,


conforme fluxo estabelecido pela rede local.

• Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas por técnicos, auxiliares de enfermagem,


agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate às endemias (ACE) em conjunto com
os outros membros da equipe.

• Supervisionar as ações de técnico, auxiliar de enfermagem e ACS.

• Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos relacionados a sua área de


competência na UBS.

• Exercer outras atribuições, conforme legislação profissional, que sejam de responsabilidade na sua
área de atuação.

1.1 Novas diretrizes da PNAB

A Portaria n. 2.436 (BRASIL, 2017a), do Ministério da Saúde, aprovou a PNAB no Brasil, que revisou
as diretrizes para a organização da Atenção Básica no âmbito do SUS.

Essa portaria define a Atenção Básica, ou Atenção Primária em Saúde, como um conjunto de ações
de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem a promoção, a prevenção, a proteção, o
diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos, os cuidados paliativos e a vigilância em
saúde. Esse conjunto de ações deve ser desenvolvido por meio de práticas de cuidado integrado e de
gestão qualificada, realizadas por uma equipe multiprofissional e dirigidas à população em território
definido (BRASIL, 2017a).

Com as novas diretrizes, a PNAB permite que o gestor trabalhe a sua equipe de acordo com as suas
especificidades e necessidades. Ela também traz novidades em relação ao financiamento da Atenção
Básica com o reconhecimento de novos modelos de atenção e consequente ampliação do número
de equipes que receberão recursos do Ministério da Saúde. Essa regra permite ao gestor municipal
compor suas equipes de Atenção Básica de acordo com as características e as necessidades locais,
com a presença de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e/ou técnicos de enfermagem
(BRASIL, 2017a).

Além disso, a portaria define a organização em Redes de Atenção à Saúde como a estratégia para o
cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, com destaque para a Atenção
Básica como o primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema de saúde no Brasil
(BRASIL, 2017a).

Para atualização dos referenciais da PNAB, as principais mudanças dos princípios e diretrizes
que regem o SUS a serem operacionalizados na Atenção Básica estão descritas no quadro a seguir
(BRASIL, 2017a).

13
Unidade I

Quadro 3 – Principais mudanças na Política Nacional


da Atenção Básica (PNAB 2011/2017)

Principais mudanças PNAB 2011 PNAB 2017


ACE não compunha ESF, não tendo ACE pode ser membro da ESF/EAB, o território é
Integração, Atenção atribuições a eles, processo de considerado único e há o planejamento integrado
Básica e vigilância trabalho e território diferentes e sem das ações e a incorporação das atribuições do ACE
atribuições relacionadas à Vigilância. conforme Lei 11.350.
Núcleo Ampliado de Nasf era somente ESF e tinha atuação Nasf‐AB pode se vincular às ESF e EAB, complementar
Saúde da Família e no matriciamento. as ações das equipes e tem maior resolutividade.
Atenção Básica (Nasf-AB)
Oferta de serviços e ações Processo iniciado pelo Programa Criação de uma relação de ações e serviços que
essenciais e ampliados da Nacional de Melhoria do Acesso e da devem ser disponibilizados pelas UBS, ampliando o
atenção básica qualidade de Atenção Básica (PMAQ). atendimento.
Usuário pode se vincular a mais de uma UBS, através
Territorialização/vínculo Usuário só podia se vincular a uma UBS. de negociação entre gestão e equipes mantendo a
informação com a equipe de referência.
Atribui aos membros da equipe a função de participar
e contribuir com os processos de regulação do
Regulação Aparece de forma superficial. acesso a partir da AB, sinaliza o Telessaúde e a
utilização de protocolos como ferramentas de apoio e
aperfeiçoamento do processo de regulação.
Equipe de Saúde Bucal (ESB) vinculada
somente às equipes de saúde da Possibilidade de comporem as equipes de Saúde da
Saúde bucal família ou equipes parametrizadas Família e Atenção Básica.
pelo PMAQ.
Reforça o papel da UBS como espaço de formação da
força de trabalho para a Atenção Básica (formação
Educação Permanente não versava técnica, graduação e residência em saúde). Incorpora
Formação e educação na sobre formação em saúde (ensino na a temática do ensino na saúde (integração, ensino,
saúde saúde). serviço), destacando o papel da AB como locus de
formação na graduação e na residência, de pesquisa
e extensão.
Reconhece os pontos de apoio como estrutura
física que compõe a AB/SUS para atendimento às
Pontos de apoio Não reconhecia os pontos de apoio. populações dispersas e destaca que os pontos de
apoio devem respeitar as normas gerais de segurança
sanitária e acolhimento humanizado para a população.
Incluiu-se no regramento de credenciamento o prazo
Credenciamento de Não tratava do credenciamento das de 4 meses para implantação, após publicação no
equipes equipes. DOU, sob pena de descredenciamento
eSF mínima com médico, enfermeiro, eSF mínima com médico, enfermeiro, técnico/auxiliar
Composição das equipes: técnico/auxiliar de enfermagem, ACS, de enfermagem, ACS.
equipe de Saúde da complementar com saúde bucal e não eSF complementar com saúde bucal, ACE, carga
Família (eSF) e equipe de havia padrão mínimo, o município horária mínima semanal definida (40 h), assim
Atenção Básica (eAB) podia definir composição e carga como a composição das equipes (máximo de três
horária. profissionais por categoria pelo mínimo de 10 h).
Reconhece o papel do gerente de UBS a depender
da necessidade local. Necessita ter nível superior,
Gerente de Atenção Não era recomendado. preferencialmente na área da saúde, e, caso seja
Básica enfermeiro, a UBS deverá ter outro enfermeiro para
as ações de cunho clínico.
É reconhecida, mas dispõe de um caráter transitório
Equipes de Atenção Não eram reconhecidas e não (em direção à eSF) e seu financiamento tem um valor
Básica (eAB) recebiam custeio estadual ou federal. inferior ao das eSF.

Adaptado de: Brasil (2011b); Brasil (2017a).

14
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

2 ESTRATÉGIAS PARA O CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA CRÔNICA

Devido aos processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, a urbanização e o


crescimento econômico e social contribuem para o maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas
na população. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são, globalmente, as principais causas de
mortalidade. As doenças cardiovasculares, os cânceres, as doenças respiratórias crônicas e o diabetes
melito configuram como as principais doenças crônicas não transmissíveis, tendo sido responsáveis, em
2015, por 51,6% do total de óbitos na população de 30 anos a 69 anos no Brasil (BRASIL, 2011c).

No Brasil, as DCNT constituem o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a 72% das
causas de mortes. Assim como no cenário mundial, no país as DCNT atingem fortemente as camadas
mais pobres da população e os grupos vulneráveis (BRASIL, 2011c). Suas principais causas incluem
fatores de risco modificáveis, como tabagismo, consumo nocivo de bebida alcoólica, inatividade física e
alimentação inadequada.

Em termos de mortes atribuíveis às DCNT, os grandes fatores de risco globalmente conhecidos


são: hipertensão (responsável por 13% das mortes no mundo), tabagismo (9%), hiperglicemia (6%),
inatividade física (6%), sobrepeso e obesidade (5%). Vale destacar que as taxas de mortalidade por
doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas estão diminuindo, possivelmente como resultado do
controle do tabagismo e do maior acesso à Atenção Primária, além da melhoria da assistência e da
redução do tabagismo nas últimas duas décadas, que passou de 34,8% (1989) para 15,1% (BRASIL,
2011a; BRASIL, 2014). Entretanto, as taxas de mortalidade por diabetes e câncer aumentaram nesse
mesmo período (BRASIL, 2011c).

Saiba mais

Acessando o documento a seguir, você pode conhecer melhor o plano


de ações que o Ministério da Saúde traçou para as DCNT.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância de Saúde.


Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas
para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no
Brasil: 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf.
Acesso em: 20 nov. 2019.

No país, os fatores de risco para as DCNT são monitorados por meio de diferentes inquéritos de
saúde, com destaque para o monitoramento realizado pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Já a vigilância epidemiológica de DCNT é
responsabilidade da Coordenação-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e
Promoção da Saúde do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção
da Saúde, pertencente à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Essa vigilância se configura como
15
Unidade I

um conjunto de ações e processos que permitem conhecer a ocorrência, a magnitude e a distribuição


das DCNT e de seus principais fatores de risco no país, bem como identificar seus determinantes e
condicionantes econômicos, sociais e ambientais. Além disso, uma das ações da vigilância de DCNT
é caracterizar a sua tendência temporal: por isso, tais ações são fundamentais para o planejamento,
o monitoramento e a avaliação das ações de cuidado integral e das políticas públicas de prevenção e
controle das DCNT no Brasil (BRASIL, 2014).

Os três componentes essenciais da vigilância de DCNT são:

• monitoramento dos fatores de risco;

• monitoramento da morbidade e mortalidade das DCNT;

• monitoramento e avaliação das ações de assistência e promoção da saúde.

O instrumento norteador da Vigilância de DCNT é o Plano de Ações Estratégicas para o


Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil: 2011-2022 (BRASIL, 2011c).
Esse documento apresenta a vigilância de DCNT como um de seus eixos, sendo também detalhados
os indicadores, as metas, os objetivos e as ações a serem desenvolvidas por essa vigilância. Entre as
metas, podemos destacar:

• redução de mortalidade prematura (de 30 anos a 69 anos) por DCNT em 2% ao ano;

• redução da prevalência de tabagismo em 30%;

• aumento dos índices de mamografia em mulheres de 50 anos a 69 anos para 70% em dois anos;

• aumento dos índices de papanicolau em mulheres de 25 anos a 64 anos de idade para 85% em
3 anos;

• aumento da prevalência da prática de atividade física no tempo livre em 10%;

• contenção do crescimento da obesidade em adultos;

• aumento do consumo recomendado de frutas e hortaliças em 10%;

• redução do consumo abusivo de bebidas alcoólicas em 10%.

Dessas metas, cinco estão sendo atingidas, como a redução da mortalidade prematura (30 anos a
69 anos) por DCNT, a redução da prevalência de tabagismo, o aumento do índice de mamografia em
mulheres de 50 anos a 69 anos nos últimos dois anos, a elevação da prevalência da prática de atividade
física no tempo livre e a ampliação do consumo recomendado de frutas e hortaliças (BRASIL, 2011c).

16
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

O plano aborda os quatro principais grupos de doenças crônicas não transmissíveis (circulatórias,
câncer, respiratórias crônicas e diabetes) e seus fatores de risco em comum modificáveis (tabagismo,
álcool, inatividade física, alimentação não saudável e obesidade). Define ainda diretrizes e ações em
três eixos:

• vigilância, informação, avaliação e monitoramento;

• promoção da saúde;

• cuidado integral.

Quadro 4 – Principais diretrizes e ações do plano de ações estratégicas para o


enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no eixo vigilância, informação,
avaliação e monitoramento

Eixo Diretrizes
- Monitorar os fatores de risco.
Vigilância, informação, – Monitorar a morbidade e mortalidade específicas das doenças.
avaliação e
monitoramento – Avaliar as respostas dos sistemas de saúde (que também incluem gestão,
políticas, planos, infraestrutura, recursos humanos e acesso a serviços de
saúde essenciais, inclusive a medicamentos).
- Realizar, junto com o IBGE, a Pesquisa Nacional de Saúde, abordando
temas como acesso aos serviços e sua utilização, morbidade, fatores de
risco e proteção de doenças crônicas, saúde de idosos, mulheres e crianças,
além de fazer medições antropométricas, de pressão arterial e coleta de
material biológico.
Principais ações – Elaborar estudos sobre DCNT com análises de morbimortalidade e
inquéritos com foco em desigualdades em saúde (populações vulneráveis
como indígenas e quilombolas), intervenções em saúde e custos de DCNT.
– Criar um portal na internet para monitorar e avaliar a implantação do
Plano Nacional de Enfrentamento das DCNT, bem como desenvolver um
sistema de gestão em DCNT.

Fonte: Brasil (2011c).

Quadro 5 – Principais diretrizes e ações do plano de ações estratégicas para o


enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no eixo promoção da saúde

Eixo Diretrizes
Compreendendo a importância das parcerias para superar os fatores
determinantes do processo saúde-doença, foram definidas diferentes
ações envolvendo diversos ministérios (Educação, Cidades, Esporte,
Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente,
Agricultura/Embrapa, Trabalho e Planejamento), a Secretaria Especial
Promoção da saúde de Direitos Humanos, a Secretaria de Segurança Pública, órgãos de
trânsito e outros, além de organizações não governamentais, empresas e
sociedade civil com o objetivo de viabilizar intervenções que impactem
positivamente na redução dessas doenças e de seus fatores de risco, em
especial para as populações em situação de vulnerabilidade.

17
Unidade I

Eixo Diretrizes
Atividade física
– Programa Academia da Saúde com construção de espaços saudáveis que
desenvolvam ações de promoção da saúde e estimulem atividade física,
práticas corporais, lazer e modos de vida saudáveis em articulação com a
Atenção Básica em Saúde.
– Programa Saúde na Escola propondo ações no âmbito de avaliação
nutricional, avaliação antropométrica, detecção precoce de hipertensão
arterial, sistêmica, promoção de atividades físicas e corporais, promoção
da alimentação saudável e de segurança alimentar no ambiente escolar.
– Praças do Programa de Aceleração do Crescimento com construção
de praças, como uma forma de integrar atividades e serviços culturais,
práticas esportivas e de lazer.
– Reformulação de espaços urbanos saudáveis com a criação do Programa
Nacional de Calçadas Saudáveis e construção e reativação de ciclovias,
parques, praças e pistas de caminhadas.
– Campanhas de comunicação que incentivem a prática de atividade física
e hábitos saudáveis associadas a grandes eventos culturais e esportivos.
Alimentação saudável
– Promoção de ações de alimentação saudável por meio do Programa
Nacional de Alimentação Escolar.
– Aumento da oferta de alimentos saudáveis por meio do estabelecimento
de parcerias e acordos com a sociedade civil (agricultores familiares,
pequenas associações e outros) para o aumento da produção e da oferta
de alimentos in natura. Apoio a iniciativas interssetoriais para o aumento
da oferta de alimentos básicos e minimamente processados.
Principais ações
– Regulação da composição nutricional dos alimentos processados por
meio de acordos com o setor produtivo e parcerias com a sociedade civil
com vistas à prevenção de DCNT e à promoção da saúde (redução do sal
e do açúcar nos alimentos).
– Redução dos preços dos alimentos saudáveis por meio de redução de
impostos, taxas e subsídios, objetivando estimular seu consumo.
– Implantação do Plano Interssetorial de Controle e Prevenção
da Obesidade visando à redução da obesidade na infância e na
adolescência e à detenção do crescimento da obesidade em adultos.
– Regulamentação específica para a publicidade de alimentos,
principalmente para crianças.
Tabagismo e álcool
– Adequação da legislação nacional que regula o ato de fumar em
recintos coletivos.
– Ampliação das ações de prevenção e de cessação do tabagismo,
com atenção especial aos grupos mais vulneráveis (jovens, mulheres,
população de menor renda e escolaridade, indígenas e quilombolas).
– Fortalecimento da implementação da política de preços e de aumento
de impostos dos produtos derivados de tabaco e álcool a fim de reduzir o
consumo (conforme preconizado pela OMS).
– Apoio à intensificação de ações fiscalizatórias em relação à venda de
bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.
– Fortalecimento, no Programa Saúde na Escola (PSE), de ações educativas
voltadas à prevenção e à redução do uso de álcool e tabaco.

18
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Eixo Diretrizes
– Apoio a iniciativas locais de legislação específica em relação ao controle
de pontos de venda de álcool e horário noturno de fechamento de bares
e outros pontos correlatos de comércio.
Envelhecimento ativo
– Implantação de um modelo de atenção integral ao envelhecimento
ativo, favorecendo ações de promoção da saúde, prevenção e atenção
integral.
– Promoção do envelhecimento ativo e ações de saúde suplementar.
Principais ações – Incentivo aos idosos para a prática da atividade física regular no
programa Academia da Saúde.
– Capacitação das equipes de profissionais da Atenção Básica em Saúde
para o atendimento, acolhimento e cuidado da pessoa idosa e de
pessoas com condições crônicas.
– Incentivar a ampliação da autonomia e independência para o
autocuidado e o uso racional de medicamentos.
– Criar programas para formação de cuidadores de pessoas idosas e de
pessoas com condições crônicas na comunidade.

Fonte: Brasil (2011c).

Quadro 6 – Principais diretrizes e ações do plano de ações estratégicas para o


enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no eixo cuidado integral

Eixo Diretrizes
Realizar ações visando ao fortalecimento da capacidade de resposta
do SUS e à ampliação de um conjunto de intervenções diversificadas
Cuidado integral capazes de uma abordagem integral da saúde com vistas à prevenção e ao
controle das DCNT.
- Linha de cuidado de DCNT definindo e implementando protocolos
e diretrizes clínicas das DCNT com base em evidências de custo-
efetividade vinculando os portadores ao cuidador e à equipe da Atenção
Básica, garantindo a referência e a contrarreferência para a rede de
especialidades e a rede hospitalar, favorecendo a continuidade do
cuidado e a integralidade na atenção. Outro fator de importância é
desenvolver um sistema de informação de gerenciamento de DCNT.
– Capacitação e telemedicina: capacitação das equipes da Atenção Básica
em Saúde expandindo recursos de telemedicina, segunda opinião e cursos
a distância, qualificando a resposta às DCNT.
– Medicamentos gratuitos: ampliação do acesso gratuito aos
Principais ações medicamentos e insumos estratégicos previstos nos Protocolos Clínicos e
Diretrizes Terapêuticas das DCNT e tabagismo.
– Câncer do colo do útero e de mama: fortalecer as ações de prevenção e
qualificação do diagnóstico precoce e tratamento dos cânceres do colo de
útero e de mama; garantir acesso ao exame preventivo e à mamografia
de rastreamento de qualidade a todas as mulheres nas faixas etárias
e periodicidade preconizadas, independentemente de renda, raça/cor,
reduzindo desigualdades; garantir tratamento adequado às mulheres
com diagnóstico de lesões precursoras; garantir avaliação diagnóstica
dos casos de mamografia com resultado anormal; e garantir tratamento
adequado aos casos de mulheres com diagnóstico confirmado de câncer
de mama ou diagnóstico de lesões benignas.

19
Unidade I

Eixo Diretrizes

– Saúde Toda Hora – Atenção às Urgências: fortalecimento do cuidado


ao portador de DCNT na rede de urgência, integrando as unidades de
promoção, prevenção e atendimento à saúde com o objetivo de ampliar
e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de
urgência nos serviços de saúde de forma ágil e oportuna.
– Atenção Domiciliar: ampliação do atendimento a pessoas com
dificuldades de locomoção ou que precisem de cuidados regulares, mas
não de hospitalização, por meio de um conjunto de ações de Promoção
à Saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação prestadas
Principais ações em domicílio com garantia de continuidade de cuidados e integradas às
Redes de Atenção à Saúde.
– Linha do Cuidado do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Acidente
Vascular Encefálico (AVE) na Rede de Atenção às Urgências: qualificação
e integração de todas as unidades de saúde da Rede de Atenção
às Urgências para permitir que os pacientes com IAM e AVE sejam
atendidos, diagnosticados e tratados rapidamente, com acesso às terapias
estabelecidas nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, garantindo
acesso e tratamento adequados em tempo hábil.

Fonte: Brasil (2011c).

Lembrete

No Brasil, as DCNT correspondem ao problema de saúde de maior


magnitude (72% das causas de morte). Assim como no cenário mundial,
no país as DCNT atingem sobretudo as camadas mais pobres da população
e grupos vulneráveis.

2.1 Cuidado para a pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica

A hipertensão arterial (HA), no Brasil, atinge 36 milhões de indivíduos adultos, correspondente a


32,5% da população e mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das
mortes por doença cardiovascular (DCV). Associada à diabetes melito (DM), suas complicações cardíacas,
renais e vasculares, como o acidente vascular encefálico, têm impacto elevado na perda da produtividade
do trabalho e da renda familiar (MALACHIAS et al., 2016).

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares
(DCV), sendo uma condição clínica associada à elevada mortalidade. Salienta-se ainda que cerca de 80%
dos hipertensos possuem comorbidades como diabetes, dislipidemia, tabagismo ou histórico familiar de
ateromatose (MALACHIAS et al., 2016; BRASIL, 2013b).

Acidente vascular encefálico (AVE); infarto agudo do miocárdio (IAM); insuficiência cardíaca (IC);
doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC) são doenças relacionadas a HA que levam
a agravos na saúde e até à morte súbita (MALACHIAS et al., 2016).

20
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Acidente vascular
encefálico

Infarto agudo Hipertensão/ Doença arterial


do miocárdio morte súbita periférico

Doença
renal crônica

Figura 3 – Agravos à saúde associados a HA que podem levar à morte súbita

A HA é uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação nos níveis pressóricos
(≥ 140 mmHg e/ou 90 mmHg). É frequentemente associada a distúrbios metabólicos e alterações
funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco
(FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e DM (MALACHIAS et al., 2016;
BRASIL, 2013b).

A pré-hipertensão (PH) é uma condição caracterizada por pressão arterial sistólica (PAS) entre
121 mmHg e 139 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) entre 81 mmHg e 89 mmHg. Ela associa-se
a um maior risco de desenvolvimento de HA e anormalidades cardíacas, pois cerca de um terço dos
eventos cardiovasculares (CV) atribuíveis à elevação da pressão arterial (PA) ocorrem em indivíduos
com PH. Metanálises do risco de incidência de DCV, doença isquêmica do coração (DIC) e AVE em
indivíduos pré-hipertensos mostraram que o risco foi maior naqueles com PA entre 130 mmHg e
139 mmHg ou 85 mmHg e 89 mmHg do que naqueles com valores entre 120 mmHg e 129 mmHg ou
80 mmHg e 84 mmHg (MALACHIAS et al., 2016).

A avaliação inicial de um usuário com HA deve incluir a confirmação do diagnóstico, a suspeição


e a identificação de causa secundária, além da avaliação do risco CV. As lesões de órgão-alvo (LOA) e
doenças associadas também devem ser investigadas. Faz parte também dessa avaliação a medição da
PA: o exame físico e a investigação clínica e laboratorial. Propõem-se avaliações gerais dirigidas a todos
e, em alguns casos, avaliações complementares apenas para grupos específicos (MALACHIAS et al., 2016).

21
Unidade I

De forma geral, sugere-se uma periodicidade anual de acompanhamento dos exames. O profissional
deverá estar atento ao acompanhamento individual de cada caso considerando sempre o risco
cardiovascular, as metas de cuidado e as complicações existentes (BRASIL, 2013b).

A consulta de enfermagem faz parte da estratégia dirigida a grupos de risco que propõe uma
adequada intervenção educativa em indivíduos com valores de PA limítrofes (que estão mais predispostos
à hipertensão). As medidas são equivalentes às propostas para tratamento não medicamentoso da HA
(BRASIL, 2013b). Nesse contexto, a consulta de enfermagem objetiva promover a educação em saúde
para a prevenção primária da doença por meio do estímulo à adoção de hábitos saudáveis de vida, além
de avaliar e estratificar o risco para doenças cardiovasculares (BRASIL, 2013b).

A prevenção primária da HA pode ser feita mediante controle de seus fatores de risco, como
sobrecarga na ingestão de sal, excesso de adiposidade, especialmente na cintura abdominal, e abuso de
álcool, entre outros. Duas estratégias de prevenção podem ser consideradas: uma visando à população
em geral e outra dirigida especialmente aos grupos de risco. A primeira defende a redução da exposição
populacional a fatores de risco, principalmente com relação ao consumo de sal. O profissional poderá
atuar nessa estratégia por meio de ações educativas coletivas com a população em geral para orientar
sobre a restrição à adição de sal na preparação de alimentos e sobre a identificação da quantidade de
sal e/ou sódio presente nos alimentos industrializados, entre outros (BRASIL, 2013b).

Nas consultas de enfermagem, para os usuários portadores de HA, o foco do processo educativo
será também a orientação com relação às medidas que reduzem a pressão arterial (hábitos alimentares
adequados; manutenção do peso e de um perfil lipídico desejável; estímulo à vida ativa e aos exercícios
físicos regulares; redução do consumo de bebidas alcoólicas e do estresse; abandono do tabagismo)
(BRASIL, 2013b).

Quadro 7 – Principais medidas na consulta de enfermagem


para acompanhamento da pessoa com HA

Investigação Consulta de enfermagem


Coleta de informações referente à pessoa, à família e à comunidade com o propósito de
identificar necessidades, problemas, preocupações ou reações.
– Realizar a identificação da pessoa (dados socioeconômicos, ocupação, moradia,
trabalho, escolaridade, lazer, religião, rede familiar, vulnerabilidades e potencial para o
autocuidado).
– Anotar os antecedentes familiares e pessoais.
– Registrar as queixas atuais, principalmente as indicativas de lesão de órgão-alvo, como
Histórico tontura, cefaleia, alterações visuais, dor precordial, dispneia, paresia, parestesia, edema e
lesões de membros inferiores.
– Identificar a percepção da pessoa diante da patologia, do tratamento e do autocuidado.
– Anotar as medicações em uso e a presença de efeitos colaterais.
– Investigar os hábitos de vida (alimentação, sono, repouso, atividade física, higiene e
funções fisiológicas).
– Identificar os fatores de risco (diabetes, tabagismo, alcoolismo, obesidade, dislipidemia,
sedentarismo e estresse).

22
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Investigação Consulta de enfermagem


– Pesquisar a presença de lesões em órgãos-alvo ou doenças cardiovasculares.
– Doenças cardíacas: hipertrofia de ventrículo esquerdo; angina ou infarto prévio do
miocárdio; revascularização miocárdica prévia; insuficiência cardíaca.
Histórico – Episódio isquêmico ou acidente vascular encefálico.
– Nefropatia.
– Doença vascular arterial periférica.
– Retinopatia hipertensiva.
– Realizar medidas antropométricas (altura, peso, circunferência abdominal e IMC).
– Aferir a pressão arterial com a pessoa sentada e deitada.
– Mensurar as frequências cardíaca e respiratória.
– Aferir os pulsos radial e carotídeo.
– Investigar alterações na visão.
Exame físico – Inspecionar a pele (integridade, turgor, coloração e manchas).
– Inspecionar a cavidade oral (dentes, prótese, queixas, dores, desconfortos e data do
último exame odontológico).
– Avaliar o tórax/abdômen e realizar a ausculta cardiopulmonar e abdominal.
– Avaliar os membros superiores e inferiores: unhas, dor, edema, pulsos pediosos e lesões;
articulações (capacidade de flexão, extensão, limitações de mobilidade e edemas); pés
(bolhas, sensibilidade, ferimentos, calosidades e corte das unhas).
Realizar a interpretação e fazer as devidas conclusões quanto às necessidades, aos
Diagnóstico problemas e às preocupações da pessoa frente aos dados obtidos na anamnese para
direcionar o plano assistencial.
Pontos importantes no planejamento da assistência para prevenir, minimizar ou corrigir
os problemas identificados:
– Orientar sobre os tópicos indicados a seguir:
– doença e processo de envelhecimento;
– motivação para modificar hábitos de vida não saudáveis (fumo, estresse, bebida
Planejamento alcoólica e sedentarismo);
– percepção de presença de complicações;
– medicamentos em uso (indicação, doses, horários, efeitos desejados e colaterais);
– solicitação e avaliação dos exames previstos no protocolo assistencial local.
– Quando pertinente, encaminhar aos outros profissionais.
Deverá ocorrer de acordo com as necessidades e o grau de risco do usuário e da sua
Implementação capacidade de adesão e motivação para o autocuidado, em cada consulta.
– Avaliar com a pessoa e a família o quanto as metas de cuidados foram alcançadas e o
seu grau de satisfação em relação ao tratamento. Observar se ocorreu alguma mudança
a cada retorno.
Avaliação – Avaliar a necessidade de mudança ou de adaptação no processo de cuidado e
reestruturar o plano de acordo com essas necessidades.
– Registrar em prontuário todo o processo de acompanhamento.

Fonte: BRASIL (2013b).

O intervalo das consultas deve ser determinado pelo grau de severidade da condição clínica e pela
capacidade de autocuidado. A capacidade de autocuidado deve ser sistematicamente avaliada levando-se
em consideração os aspectos socioeconômicos e culturais, além da capacidade do indivíduo e da família
para o autocuidado.
23
Unidade I

Avaliação
inicial do
usuário com
HA

Suspeição e a
Confirmação do Avaliação do Lesões de
identificação de
diagnóstico risco CV órgão-alvo (LOA)
causa secundária

≥ 140 mmHG x Medição da PA


90 mmHG

Exame físico

Laboratorial

Figura 4 – Fluxo de atendimento na avaliação inicial do usuário com HA

2.1.1 Novas diretrizes para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
como uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação sustentada dos níveis pressóricos
arteriais, maiores ou iguais a 140 mmHg e/ou 90 mmHg. Frequentemente, está associada a distúrbios
metabólicos e a alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de
outros fatores de risco como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito
(MALACHIAS et al., 2016). Associa-se, ainda, a eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico
(AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e
doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal (MALACHIAS et al., 2016).

A classificação da pressão arterial segundo a SBC está apresentada no quadro a seguir (MALACHIAS
et al., 2016).

Tabela 1 – Classificação da pressão arterial de acordo com a medição


casual ou no consultório (a partir de 18 anos de idade)

Classificação Pressão arterial sistólica (PAS) – mmHg Pressão arterial diastólica (PAD) – mmHg
Normal ≤ 120 ≤ 80
Pré-hipertensão 121 – 139 81 – 89
Hipertensão estágio 1 140 – 159 90 – 99
Hipertensão estágio 2 160 – 179 100 – 109
Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110
Quando a PAS e a PAD situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação da PA.

Fonte: Malachias et al. (2016, p. 11).

24
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

A abordagem terapêutica da hipertensão arterial deve ser realizada com os objetivos de reduzir a
pressão arterial, proteger os órgãos-alvo e prevenir desfechos cardiovasculares e renais, considerando as
medidas não medicamentosas e o uso de fármacos anti-hipertensivos. A decisão terapêutica deve estar
fundamentada na presença de fatores de risco, de lesão em órgão-alvo e/ou de doença cardiovascular,
e não somente no nível da pressão (MALACHIAS et al., 2016).

O tratamento não medicamentoso da HAS inclui a redução do peso corporal, a adoção de um plano
alimentar saudável e sustentável, a prática de atividades físicas regulares, a cessação do tabagismo e o
controle do estresse (BRASIL, 2013b; MALACHIAS et al., 2016).

De acordo com MALACHIAS et al. (2016), a escolha do medicamento a ser utilizado como monoterapia
inicial para o tratamento medicamentoso da HAS deve basear-se na capacidade de o agente escolhido
reduzir a morbimortalidade cardiovascular, no mecanismo fisiopatogênico predominante no paciente
a ser tratado, nas características individuais, nas doenças associadas e nas condições socioeconômicas
do paciente.

Com base nesses critérios, as classes de anti-hipertensivos atualmente consideradas preferenciais pela
SBC (MALACHIAS et al., 2016) para o controle da pressão arterial em monoterapia inicial são: diuréticos
(preferência para os diuréticos tiazídicos como clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida, reservando
os diuréticos de alça, como furosemida e bumetanida, aos casos de insuficiência renal); inibidores da
enzima conversora de angiotensina (iECA); bloqueadores dos canais de cálcio (BCC); bloqueadores dos
receptores da angiotensina II (BRA).

Para o Ministério da Saúde e para a SBC, as evidências científicas demonstraram redução de morbidade
e de mortalidade com a administração dessas classes de medicamentos (diuréticos, betabloqueadores,
inibidores da enzima conversora de angiotensina, antagonistas de receptores de angiotensina II e
bloqueadores de canais de cálcio). No entanto, os benefícios obtidos com os betabloqueadores são
menores quando comparados aos dos demais grupos, devendo ser reservados para situações específicas.
Por isso, não se indica o uso de betabloqueadores como droga de primeira linha no tratamento da HAS
(BRASIL, 2013b; MALACHIAS et al., 2016).

A proteção observada não depende do tipo de fármaco empregado, mas fundamentalmente


da redução da PA. Desse modo, todos os medicamentos anti-hipertensivos disponíveis podem ser
utilizados, desde que sejam observadas as indicações e as contraindicações específicas. A preferência
inicial será sempre por aqueles que, comprovadamente, reduzem os eventos cardiovasculares
(MALACHIAS et al., 2016).

Em 2017, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA) publicaram
uma nova diretriz (ACC/AHA, 2017) com recomendações sobre a definição de hipertensão, diretriz que
considera hipertensão arterial sistêmica a presença de pressão arterial sistólica (PAS) igual ou superior a
130 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) igual ou superior a 80 mmHg, conforme apresentado
no quadro a seguir.

25
Unidade I

Tabela 2 – Classificação da pressão arterial

Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg)


Normal ≤ 120 ≤ 80
Elevada 120 – 129 > 80
Hipertensão estágio 1 130 – 139 80 – 89

Adaptado de: ACC/AHA Hypertension Guideline Writing Committee (2017).

A diretriz atualizada recomenda o início do tratamento medicamentoso (ACC/AHA, 2017) para pessoas
com hipertensão em estágio 1 com risco cardiovascular ou com risco cardiovascular estimado em dez
anos superior a 10% pelo cálculo do risco cardiovascular utilizando o escore global de Framingham,
chamado ASCVD risk calculator. Para pessoas com hipertensão em estágio 2, recomenda-se o início da
terapia medicamentosa combinada (dois anti-hipertensivos) nos casos de HAS estágio 2 e/ou se a PA
medida estiver acima da meta em mais de 20/10 mmHg (sistólica/diastólica) (ACC/AHA, 2017).

Os fármacos de primeira linha continuam os mesmos: tiazídico; inibidores do ECA ou bloqueadores


dos receptores de angiotensina; e bloqueador de canal de cálcio. No entanto, na população negra, os
tiazídicos e os bloqueadores dos canais de cálcio são mais eficazes (ACC/AHA, 2017).

Diuréticos
tiazídicos

Bloqueadores
Betabloqueadores dos receptores da
angiotensina

Outros Bloqueadores dos


anti-hipertensivos canais de cálcio

Inibidores da ECA

Combinações preferenciais
Combinações não recomendadas
Combinações possíveis, mas menos testadas

Figura 5 – Associações de fármacos recomendadas pela SBC

26
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Saiba mais

Para obter mais informações sobre essas modificações, você pode fazer
a leitura dessa nova diretriz, indicada a seguir.

ACC/AHA HYPERTENSION GUIDELINE WRITING COMMITTEE. Prevention,


detection, evaluation and management of high blood pressure in adults:
synopsis of the 2017 American College of Cardiology/American Heart
Association Hipertension Guideline. Disponível em: https://healthmetrics.
heart.org/wp-content/uploads/2017/11/Highlights-from-the-2017-
Guideline.pdf. Acesso em: 19 nov. 2019.

2.2 Cuidado para a pessoa com doença crônica: diabetes melito

O termo diabetes melito (DM) refere-se a um transtorno metabólico de etiologias heterogêneas


caracterizado por hiperglicemia e distúrbios no metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras,
resultantes de defeitos da secreção e/ou da ação da insulina. A patologia vem aumentando nos últimos
anos tornando-se um importante e crescente problema de saúde, estando sua prevalência habitualmente
associada à dislipidemia, à hipertensão arterial e à disfunção endotelial. As evidências demonstram que
o bom manejo desse problema na Atenção Básica evita hospitalizações e mortes por complicações
cardiovasculares e cerebrovasculares, podendo melhorar também a qualidade de vida das pessoas
acometidas pela doença (BRASIL, 2013c).

Estima-se que glicemia elevada é o terceiro fator, em termos de importância, de causa de mortalidade
prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco). Em 2015 calculou-se que
415 milhões de pessoas, entre 20 a 79 anos de idade, valor que correspondia a 8,8% da população
mundial, vivia com diabetes. Projeta-se que, caso as tendências atuais persistam, em 2040, 642 milhões
de pessoas serão portadoras de diabetes, estando cerca de 75% dos casos em países em desenvolvimento
(INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015).

No Brasil, dados do Vigitel mostram que a prevalência autorreferida na população acima de 18


anos aumentou de 5,3% para 5,6% entre 2006 e 2011. Ao analisar esse dado de acordo com o gênero,
apesar do aumento de casos entre os homens, que eram 4,4% em 2006 e passaram para 5,2% em 2011,
as mulheres apresentaram uma maior proporção da doença, correspondendo a 6% dessa população
(BRASIL, 2013c).

As ocorrências de diabetes são mais comuns em pessoas com baixa escolaridade: os números
indicam que 7,5% das pessoas que têm até oito anos de estudo possuem diabetes, contra 3,7% das
pessoas com mais de 12 anos de estudo; ou seja, uma diferença de mais de 50%. O levantamento
apontou, também, que o DM aumenta de acordo com a idade da população: 21,6% dos brasileiros com
mais de 65 anos referiram a doença, um índice bem maior do que o observado entre pessoas na faixa
etária de 18 a 24 anos, faixa em que apenas 0,6% estão com a doença. Estima-se que o país passe da
27
Unidade I

oitava posição em 2000, com prevalência de 4,6%, para a sexta posição, com 11,3%, em 2030. Os fatores
de risco relacionados aos hábitos alimentares e ao estilo de vida da população estão associados a esse
incremento na carga de DM globalmente (BRASIL, 2013c).

Um estudo realizado em Cuiabá (MT) descreveu as características epidemiológicas de 7.938 pessoas


com DM atendidas na rede pública entre 2002 e 2006. Os principais fatores de risco cardiovasculares
identificados foram sobrepeso, sedentarismo e antecedentes familiares cardiovasculares. Mais de 80%
dessas pessoas também eram hipertensas. O infarto agudo do miocárdio (IAM) foi a complicação mais
frequentemente observada. Outro resultado importante foi a identificação de que o usuário já chega
na Atenção Básica com sinais de estágio avançado da doença, o que demonstra, entre outros fatores, as
dificuldades de diagnóstico precoce e de ações de prevenção (BRASIL, 2013c).

Dessa forma, com o atendimento tardio, as complicações agudas e crônicas da doença causam
alta morbimortalidade, acarretando altos custos para os sistemas de saúde. Gastos relacionados ao
diabetes mundialmente, em 2010, foram estimados em 11,6% do total dos gastos com atenção em
saúde, e, em nosso país, os valores são semelhantes. Um estudo realizado pela OMS mostrou que os
custos governamentais de atenção ao DM variam de 2,5% a 15% dos orçamentos anuais de saúde, e os
custos de produção perdidos podem exceder, em até cinco vezes, os custos diretos de atenção à saúde
(BRASIL, 2013c).

Diante dos dados epidemiológicos, entender sobre a doença e sobre o manejo clínico prepara o
profissional de saúde para um cuidado especializado com relação a DM, doença na qual a produção de
insulina pelo pâncreas está ausente ou diminuída e/ou os receptores celulares de insulina tornaram-se
incapazes de ligar-se a ela e, então, permitir a entrada de glicose na célula. A insulina é um hormônio
produzido pelo pâncreas que atua ligando-se a receptores especiais na superfície da célula que promovem
a abertura dos canais responsáveis pela entrada da glicose na célula (LEWIS, 2013).

A doença ocorre pela diminuição da produção da insulina e/ou a resistência à insulina, podendo ser
classificada como tipo 1 ou tipo 2. No tipo 1, o processo de destruição da célula beta leva ao estágio
de deficiência absoluta de insulina, quando sua administração (de insulina) é necessária para prevenir
cetoacidose. Em geral, a manifestação inicial ocorre de forma abrupta, acometendo principalmente
crianças e adolescentes sem excesso de peso. Na maioria dos casos, a hiperglicemia é acentuada,
evoluindo rapidamente para a cetoacidose, especialmente na presença de infecção ou outra forma de
estresse. Assim, o traço clínico que mais define o tipo 1 é a tendência à hiperglicemia grave e cetoacidose,
acometendo aproximadamente 8% da população com a doença. Já no tipo 2, a deficiência relativa de
insulina é menos intensa do que a observada no tipo 1, costumando ter um início insidioso e sintomas
mais brandos. Manifesta-se, em geral, em adultos com longa história de excesso de peso e com história
familiar de DM tipo 2. No entanto, com a epidemia de obesidade atingindo crianças, observa-se um
aumento na incidência de diabetes em jovens, até mesmo em crianças e adolescentes.

Após o diagnóstico, a doença pode evoluir por muitos anos antes de requerer insulina para
controle. Seu uso, nesses casos, não visa evitar a cetoacidose, que é rara nessas situações e, quando
presente, em geral é ocasionada por infecção ou estresse muito grave; o objetivo é manter o controle
glicêmico. A hiperglicemia desenvolve-se lentamente, permanecendo assintomática por vários anos,
28
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

acometendo cerca de 90% dos casos na população e estando relacionada a diabetes gestacional (estado
de hiperglicemia, menos severo que os tipos 1 e 2, detectado pela primeira vez na gravidez e que
geralmente se resolve no período pós-parto, retornando, no entanto, frequentemente anos depois).
Hiperglicemias detectadas na gestação que alcançam o critério de diabetes para adultos, em geral, são
classificadas como diabetes na gravidez, independentemente do período gestacional e da sua resolução
ou não após o parto. Sua detecção deve ser iniciada na primeira consulta de pré-natal (BRASIL, 2013c).

Tipo 1 Termo indica que o processo de destruição da célula beta leva ao


estágio de deficiência absoluta de insulina

Deficiência relativa de insulina, que é menos intensa do que a


Tipo 2 observada no tipo 1, costuma ter início insidioso e sintomas mais
brandos

Estado de hiperglicemia, menos severo que os tipos 1 e 2, detectado


Gestacional pela primeira vez na gravidez geralmente se resolve no período pós-
parto e pode frequentemente retornar anos depois

Figura 6 – Conceituação da classificação dos tipos de diabetes

Diante desse cenário, é relevante realizar o diagnóstico precoce para o adequado tratamento, ou
seja, antes que se instalem as complicações. Dessa forma, o rastreamento das pessoas com fatores de
risco torna-se uma medida primordial na Atenção Básica.

O diagnóstico baseia-se na detecção da hiperglicemia. Existem quatro tipos de exames que podem
ser utilizados: glicemia casual, glicemia de jejum, teste de tolerância à glicose com sobrecarga de 75 g em
duas horas (TTG) e, em alguns casos, hemoglobina glicada (HbA1c). Quando a pessoa requer diagnóstico
imediato e o serviço dispõe de laboratório com determinação glicêmica imediata ou de glicosímetro
e tiras reagentes, a glicemia casual é o primeiro exame a ser solicitado. Nesse caso, o ponto de corte
indicativo de diabetes é maior ou igual a 200 mg/dL na presença de sintomas de hiperglicemia. Não
havendo urgência, é preferível solicitar uma glicemia de jejum medida no plasma por laboratório. Pessoas
com glicemia de jejum alterada, entre 110 mg/dL e 125 mg/dL, por apresentarem alta probabilidade de
ter diabetes, podem requerer uma segunda avaliação por TTG-75 g. No TTG-75 g, o paciente recebe
uma carga de 75 g de glicose, em jejum, e a glicemia é medida antes e 120 minutos após a ingestão.
Uma glicemia de duas horas pós-sobrecarga maior ou igual a 200 mg/dL é indicativa de diabetes, e uma
glicemia entre 140 mg/dL e 200 mg/dL indica tolerância à glicose diminuída (BRASIL, 2013c).

A Sociedade Brasileira de Diabetes (2017) adotou valores laboratoriais de normoglicemia para


indivíduos com glicose em jejum menor que 100 mg/dL, glicose após duas horas de sobrecarga com
75 g de glicose (mg/dL) menor que 140 mg/dL e HbA1c (%) menor que 5,7%. Ela também classificou,
29
Unidade I

para pré-diabetes ou risco aumentado para DM, indivíduos com glicose em jejum maior que 100 mg/dL
e menor que 126 mg/dL, índice de glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL)
maior que 140 mg/dL e menor que 200 mg/dL e HbA1c (%) maior ou igual a 5,7% e menor que 6,57%.
Por fim, tomou como indivíduos com diabetes estabelecido aqueles com glicose em jejum maior ou
igual a 126 mg/dL, índice de glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL) maior
ou igual a 200 mg/dL, glicose ao acaso maior ou igual a 200 mg/dL e HbA1c (%) maior ou igual a 6,5%.

Para prevenção de doença cardiovascular, a estratificação de risco baseia-se em idade, presença


dos fatores de risco tradicionais, existência de marcadores de aterosclerose subclínica e ocorrência de
eventos cardiovasculares. Recomenda-se estratificar o risco em quatro categorias (baixo, intermediário,
alto e muito alto), avaliando os fatores de risco como idade superior a 49 anos para homens e 56 anos
para mulheres, diabetes melito com duração superior a 10 anos, história familiar prematura de doença
cardiovascular, presença de síndrome metabólica, hipertensão arterial sistêmica tratada ou não,
tabagismo, taxa de filtração glomerular estimada menor que 60 mL/min, albuminúria maior que 30 mg/g
de creatinina, neuropatia autonômica cardiovascular e retinopatia diabética (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2017).

Quanto ao rastreamento e às ações ao usuário com diabetes, o enfermeiro deve tomar algumas
condutas a fim de monitorar, controlar e educar o portador de DM, conforme indicado no quadro a seguir.

Quadro 8 – Principais medidas a serem realizadas na


consulta de enfermagem do usuário portador de DM

Investigação Consulta de enfermagem


- Realizar a identificação da pessoa: dados socioeconômicos, ocupação,
moradia, trabalho, escolaridade, lazer, religião, rede familiar,
vulnerabilidades e potencial para o autocuidado.
– Registrar os antecedentes familiares e pessoais: história familiar de
diabetes, hipertensão, doença renal, cardíaca e diabetes gestacional.
– Registrar queixas atuais, história sobre o diagnóstico de DM, cuidados
implementados e tratamento prévio.
Histórico – Avaliar a percepção da pessoa com relação a doença, tratamento e
autocuidado.
– Medicamentos utilizados para DM e outros problemas de saúde, além da
presença de efeitos colaterais.
– Registrar os hábitos de vida: alimentação, sono, repouso, atividade física,
higiene e funções fisiológicas.
– Identificar os fatores de risco: tabagismo, alcoolismo, obesidade,
dislipidemia e sedentarismo.
- Realizar medidas antropométricas (altura, peso, circunferência abdominal
e IMC).
– Aferir a pressão arterial com a pessoa sentada e deitada.
– Identificar alterações de visão.
Exame físico
– Realizar o exame da cavidade oral, com atenção para a presença de
gengivite, problemas odontológicos e candidíase.
– Medir a frequência cardíaca e respiratória, além de realizar a ausculta
cardiopulmonar.

30
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Investigação Consulta de enfermagem


– Realizar a avaliação da pele quanto a integridade, turgor, coloração e
manchas.
– Inspecionar os membros inferiores: unhas, dor, edema, pulsos pediosos
Exame físico e lesões; articulações (capacidade de flexão, extensão, limitações de
mobilidade, edemas); pés (bolhas, sensibilidade, ferimentos, calosidades e
corte das unhas).
– Durante a avaliação ginecológica, atentar-se à presença de Candida albicans.
- Quanto a dificuldades e déficit cognitivo, analfabetismo, prejuízo da
acuidade visual e auditiva, problemas emocionais, sintomas depressivos e
outras barreiras psicológicas como sentimento de fracasso pessoal, crença
no aumento da severidade da doença e medos da perda da independência
podem ser a causa de hipoglicemia, ganho de peso e alterações nas
aplicações de insulina.
– Quanto ao uso da insulina, se o usuário realiza a autoaplicação, se não
Diagnóstico realiza, quem faz para ele, atentando, nesse caso, aos motivos pelos
quais ele precisa de ajuda. Averiguar sobre a presença de complicações
e reações nos locais de aplicação, além da forma de conservação e
transporte.
– Quanto à automonitorização, é necessário identificar se o paciente
consegue realizar a verificação da glicemia capilar e se apresenta
dificuldades no manuseio do aparelho
- Esclarecer sobre os sinais de hipoglicemia e hiperglicemia e fornecer
orientações sobre como agir diante dessas situações.
– Estabelecer motivação para modificar hábitos de vida não saudáveis
(fumo, estresse, bebida alcoólica e sedentarismo).
– Atentar para a presença de complicações.
– A doença e o processo de envelhecimento.
– Uso de medicamentos prescritos (oral ou insulina), indicação, doses,
Planejamento horários, efeitos desejados e colaterais, controle da glicemia.
– Estilo de vida.
– Complicações da doença.
– Uso da insulina e o modo correto de reutilizar agulhas; planejamento de
rodízio dos locais de aplicação para evitar lipodistrofia.
– Solicitar e avaliar os exames previstos no protocolo assistencial local.
– Quando pertinente, encaminhar ao médico e, se necessário, a outros
profissionais.
Deverá ocorrer de acordo com as necessidades e o grau de risco da pessoa
e da sua capacidade de adesão e motivação para o autocuidado, a cada
consulta.
Implementação – Pessoas com DM com dificuldade para o autocuidado precisam de mais
suporte até que consigam ampliar as condições de se cuidar.
– O apoio ao autocuidado poderá ser da equipe de Saúde ou de outros
recursos, familiares ou comunitários, articulados para esse fim.
- Avaliar a pessoa e a família, se as metas de cuidados foram alcançadas e
seu grau de satisfação em relação ao tratamento.
– Observar se ocorreu alguma mudança a cada retorno à consulta.
Avaliação
– Avaliar a necessidade de mudança ou adaptação no processo de cuidado
e reestruturar o plano de acordo com essas necessidades.
– Registrar no prontuário todo o processo de acompanhamento.

Fonte: Brasil (2013c).

31
Unidade I

Consulta de
enfermagem

Sinais/sintomas e condições de risco presentes

Glicemia capilar

≤100 mg/dL ≥100 e ≥ 200 mg/dL ≥ 126 mg/dL

Diabetes improvável Glicemia de jejum Diabetes

Consulta de enfermagem
Testar glicerina a cada para MEV e reavaliação a Consulta médica
2 anos (grupo de risco) cada ano

Figura 7 – Fluxo de atendimento ao usuário portador de DM

Entre as complicações crônicas do DM, as úlceras de pés e a amputação de extremidades são as mais
graves e de maior impacto socioeconômico. As úlceras nos pés apresentam uma incidência anual de
2%, tendo a pessoa com diabetes um risco de 25% para desenvolver úlceras nos pés ao longo da vida.
Estudos estimam que essa complicação é responsável por 40% a 70% das amputações não traumáticas
de membros inferiores.

Figura 8 – Deformidades nos pés/área de risco para ulceração em diabéticos

32
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Aproximadamente 20% das internações de indivíduos com DM ocorrem por lesões nos membros
inferiores. Quanto à amputação de membros inferiores na DM, 85% delas são precedidas de ulcerações,
sendo os principais fatores associados a neuropatia periférica, deformidades no pé e traumatismos
(BRASIL, 2013a). A figura a seguir ilustra o desenvolvimento de uma úlcera plantar em pés de diabéticos.

Figura 9 – Úlcera plantar em pé diabético

Observação

A neuropatia sensitivo-motora e a autonômica são a causa mais


importante das úlceras diabéticas.

Os principais pontos a serem ressaltados para os portadores de DM quanto à avaliação dos seus pés
são: o conhecimento sobre os cuidados com a região, inclusive unhas; o comportamento do paciente
com relação aos seus pés; o apoio familiar no cuidado com a região e as condições dos calçados e das
palmilhas (BRASIL, 2013c).

A prevenção por meio do exame frequente dos pés de pessoas com DM, exame realizado pelo médico
ou pelo enfermeiro em todas as consultas, é uma medida crucial para a redução das complicações.
Quanto aos fatores de risco, o profissional deve atentar-se à necessidade de amputação prévia, úlceras
nos pés no passado, neuropatia periférica, deformidade nos pés, doença vascular periférica, nefropatia
diabética, mau controle glicêmico e tabagismo (BRASIL, 2013c). Portanto, o exame físico dos pés de
portadores de DM deve ser minucioso, seguindo algumas etapas como a avaliação da pele, a avaliação
musculoesquelética, a avaliação vascular e a avaliação neurológica.

Na avaliação da pele, a inspeção deve ser ampla, observando ressecamento e descamação da pele,
unhas espessadas ou onicomicose, intertrigo micótico, presença de bolhas, ulceração ou áreas de
eritema, incluindo observação da higiene dos pés e corte das unhas. Na avaliação musculoesquelética,
inspecionam-se deformidades nos pés e na avaliação vascular. A palpação dos pulsos pedioso e tibial
posterior deve ser registrada como presente ou ausente, observando também temperatura e pelos, além
do estado da pele e dos músculos (BRASIL, 2013c).

As figuras a seguir são de instrumentos que devem ser utilizados na avaliação neurológica, caso do
teste de sensibilidade com o uso de monofilamento, do reflexo aquileu e do diapasão.

33
Unidade I

Figura 10 – Instrumentos que devem ser utilizados na avaliação neurológica

No teste de sensibilidade com o uso do monofilamento, deve atentar-se às áreas de teste, aplicar o
monofilamento de 10 g e solicitar ao cliente que diga “sim” ou “não” durante o toque nas áreas de teste
(para confirmar a existência ou não de sensibilidade), aplicando força apenas o suficiente para curvar
o monofilamento. Deve-se realizar uma aplicação simulada e uma aplicação concreta nas mesmas
áreas para confirmar a identificação, pelo paciente, do local testado, e, se duas respostas estiverem
corretas, descarta-se a perda de sensibilidade protetora. Da mesma forma, qualquer área insensível
indica sensibilidade protetora alterada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).

Figura 11

34
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

O diapasão 128 Hz testa fibras grossas sensitivas para avaliação de sensibilidade vibratória. Aplica-se
o instrumento nos punhos do paciente (ou cotovelo ou clavícula) para que ele saiba o que esperar. A
pessoa não deve ser capaz de ver se ou onde o examinador o aplica. O diapasão é aplicado sobre uma
parte óssea no lado dorsal da falange distal do hálux, perpendicularmente com pressão constante,
sendo tal aplicação repetida duas vezes, mas alternada com pelo menos uma aplicação simulada (em
que o instrumento não esteja vibrando). O teste é positivo se o paciente responde de forma incorreta
a, pelo menos, duas de três aplicações, e negativo com duas das três respostas corretas. Se o paciente
é incapaz de sentir as vibrações no hálux, o teste é repetido mais proximalmente (tuberosidade tibial,
maléolo) (BRASIL, 2013c).

Outra avaliação é a realização do teste para o reflexo aquileu (reflexos do tornozelo). Nesse teste, o
paciente deve estar sentado, com o pé pendente, ou ajoelhado sobre uma cadeira, com o tornozelo em
posição neutra. Então, utiliza-se um martelo apropriado para percussão do tendão de Aquiles conforme
a figura a seguir. O teste é considerado alterado quando há ausência da flexão do pé. Com essa avaliação
sistemática, o enfermeiro deve atentar aos sinais clínicos para intervir o mais precocemente possível em
intercorrências envolvendo os pés do paciente com DM, evitando, assim, complicações decorrentes do
diabetes (2013c).

Quadro 9 – Condutas a serem realizadas em vista de


intercorrências encontradas nos pés de portadores de DM

Sinais clínicos Conduta


Lesões ulcerativas, descoloração, Avaliação médica se nova lesão, descoloração, edema ou necrose.
edema ou necrose
Monitorar sinais e sintomas de isquemia e encaminhar para avaliação
Ausência de pulsos especializada.
Calo Avaliar necessidade de remoção do calo.
Infecção fúngica Avaliação médica para tratamento com antimicótico.
Infecção bacteriana Avaliação médica imediata para tratamento.
Avaliar a necessidade de correção e orientar para que não corrija o problema
Unha encravada
sozinho.
Orientar sobre calçados apropriados e encaminhar para avaliação do
Deformidade nos pés ortopedista/encaminhar para órtese.
Orientar sobre a importância da higiene e identificar fatores que não
Higiene inadequada permitam a adequada higiene.
Calçados ou meias inadequados Implementar estratégias de educação em saúde, orientando sobre riscos.
Desconhecimento sobre Implementar estratégias para o autocuidado, reforço nas orientações e busca
autocuidado de rede de apoio.

Fonte: Brasil (2013c).

Diante de lesões nos pés dos portadores de DM, algumas condutas devem ser realizadas, como a
coleta do material para cultura dos ferimentos infectados, limpeza diária com solução fisiológica a 0,9%.
Em caso de crostas ou calosidade, deve-se realizar desbridamento e avaliar a necessidade de encaminhar
ao cirurgião, uso de preparos enzimáticos, conforme protocolos locais, evitar o uso de esparadrapo

35
Unidade I

diretamente sobre a pele e orientar repouso, com o membro inferior afetado ligeiramente elevado,
protegendo o calcâneo e a região maleolar (BRASIL, 2013c; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).

A imagem a seguir ilustra os tipos de calçados mais adequados para evitar lesões nos pés dos
portadores de DM.

Partes do calçado

Contraforte Existem no mercado calçados que obedecem à


padronização para o portador de pé diabético
Casca anterior que não tem deformidades maiores

Salto
Solado

Contraforte rígido
Ausência de costuras internas com forro macio
Caixa anterior larga e alta
Solado flexível
Salto médio 2-3 cm
Largura e altura adequadas

Figura 12 – Calçados mais adequados para evitar lesões nos pés dos portadores de DM

Inexiste um consenso sobre calçados adequados em normas brasileiras, porém o Departamento de


Pé Diabético da Sociedade Brasileira de Diabetes elaborou um conjunto de normas técnicas, com base
em conceitos globais mínimos de adequação, para uso de calçados por pacientes com DM. O sapato,
por exemplo, deve ter peso menor que 400 g (e máximo de 480 g), parte anterior (frente) ampla, com
largura e altura suficientes para acomodar os dedos (modelos com até três larguras); parte externa de
couro macio e flexível; forração interna em couro de carneiro, microfibra antialérgica e antibacteriana
que absorva o suor; entressola palmilhada com fibras de densidade variável; solado não flexível, do
tipo mata-borrão, com redução de impacto e antiderrapante, de couro ou borracha densa, colado ou
costurado, com espessura mínima de 20 mm com contraforte rígido e prolongado para acomodar e
ajustar o retropé, prevenindo atrito no calcâneo e/ou no maléolo; ausência de costuras e/ou dobras
internas e colarinho almofadado com lingueta prolongada, gáspea complacente, com altura para o
dorso do pé, palmilha removível e abertura e fechamento com calce regulável (velcro ou cadarço não
encerado e mínimo de ilhoses), cabedal de material não sintético, numeração um ponto ou meio ponto
e, ao menos, duas larguras; salto de 2 cm, rigidez no médio pé e fixação no calcanhar (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).

36
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Saiba mais

Para obter informações mais detalhadas sobre a avaliação dos pés dos
portadores de DM, acesse o documento indicado a seguir.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira


de Diabetes: 2017-2018. São Paulo: Clannad, 2017. Disponível em: https://
www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/diretrizes/diretrizes-
sbd-2017-2018.pdf. Acesso em: 20 nov. 2019.

3 CONTROLE DA TUBERCULOSE NO BRASIL

A tuberculose pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo
Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi
e M. caprae. Em saúde pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, pois está relacionada a
uma doença infecciosa causada por bacilo álcool-ácido-resistente que inicialmente atinge os alvéolos
pulmonares e, após englobado por macrófagos, é transportado para os linfonodos hilares e mediastinais.
O agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis: fino, ligeiramente curvo e mede de 0,5 μm a 3 μm,
e o modo de infecção ocorre pela inalação de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos
pela tosse, pela fala ou pelo espirro do doente com tuberculose ativa de vias respiratórias (pulmonar
ou laríngea). A doença atinge principalmente os pulmões, porém existem formas exclusivamente
extrapulmonares e não transmissíveis. O período de incubação varia de 4 a 12 semanas após a infecção,
havendo desenvolvimento de reação tuberculínica positiva. O período de transmissão acontece com
doentes bacilíferos, isto é, aqueles cuja baciloscopia de escarro é positiva, os quais são a principal fonte
de infecção (ROSSMAN; MACGREGOR, 1995).

Mundialmente, a tuberculose ainda é um importante problema de saúde, exigindo das autoridades o


desenvolvimento de estratégias para seu controle em vários aspectos, como o social-humanitário,
o econômico e o de saúde pública. Com o objetivo de resolver essa questão, o Programa Nacional de
Controle da Tuberculose (PNTC) determina ações epidemiológicas para o controle e o fim dessa infecção
(BRASIL, 2011d).

No final de 2015, a Organização Mundial de Saúde classificou os 22 países com maior índice da
doença no mundo, e entre eles estava o Brasil. Para o período de 2016 a 2020, foi definida uma nova
classificação de países prioritários segundo características epidemiológicas. Cada lista é composta de
30 países, e alguns aparecem em mais de uma lista, somando, assim, um total de 48 países prioritários
para a abordagem da tuberculose (BRASIL, 2017d).

Em 2017, foram diagnosticados e acompanhados pelo Sistema de Informação de Tratamentos


Especiais de Tuberculose (SITE-TB) 246 casos novos de monorresistência, 80 de polirresistência, 713 de
multidrogarresistência ou resistência à rifampicina e 2 casos de resistência extensiva. Com as ações no
combate à tuberculose, de acordo com a OMS, o Brasil atingiu as metas relacionadas à incidência e à
37
Unidade I

mortalidade pela doença, contribuindo, assim, para a redução da carga da TB no mundo, classificação
na qual possui a maior taxa de detecção entre os países de alta carga (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2016).

O bom resultado alcançado parece estar relacionado ao crescimento econômico, às iniciativas


governamentais para reduzir a desigualdade na saúde, ao compromisso político para garantir a cobertura
universal do SUS e ao aumento do financiamento para as ações destinadas ao controle da TB. Outro
fato a ser considerado é o Brasil não possuir uma epidemia generalizada, mas concentrada em algumas
populações vulneráveis, como as pessoas vivendo com HIV (PVHIV), em situação de rua, pessoas privadas
de liberdade (PPL), a população indígena e pessoas que vivem em aglomerados e em situação de pobreza
(BRASIL, 2019c).

Entre as estratégias para o controle da tuberculose, o chamado tratamento diretamente


observado (TDO) se tornou um meio eficaz que envolve o compromisso político com: fortalecimento
de recursos humanos e garantia de recursos financeiros, elaboração de planos de ação (com
definição de atividades, metas, prazos e responsabilidades) e mobilização social, diagnóstico de
casos por meio de exames bacteriológicos de qualidade, tratamento padronizado com a supervisão
da tomada da medicação e apoio ao paciente, fornecimento e gestão eficaz de medicamentos e
sistema de monitoramento e avaliação ágil que possibilite o monitoramento dos casos, desde a
notificação até seu encerramento.

Desde 2006, com a estratégia Stop-TB/OMS para o alcance das metas globais de redução da TB até
2015, a estratégia do TDO continua sendo central para atingir os objetivos do Plano Nacional pelo Fim
da Tuberculose (Brasil, 2019a).

Observação

Um dos objetivos do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose é


diagnosticar precocemente todas as formas da doença, com oferta universal
de cultura e teste de sensibilidade, incluindo o uso de testes rápidos.

Sabe-se que, entre os principais sinais e sintomas, observa-se o comprometimento do estado


geral de saúde, febre vespertina, sudorese noturna, inapetência, emagrecimento, fadiga, tosse que
pode ser acompanhada ou não de escarros hemoptoicos. As principais complicações ocorrem no
sistema respiratório, portanto, o enfermeiro deve abordar, na entrevista, dados relacionados ao
aparelho respiratório e atentar-se ao exame minucioso do tórax.

No quadro a seguir destacam-se as ações que o enfermeiro deve tomar na consulta a fim de
monitorar, controlar e informar o paciente com tuberculose.

38
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Quadro 10 – Principais medidas a serem realizadas na consulta


de enfermagem do usuário portador de tuberculose

Investigação Consulta de enfermagem


Deve-se questionar duração e aspecto da tosse, perda de peso e de apetite, aumento de temperatura
(principalmente no período da tarde), fraqueza, cansaço, sudorese (principalmente noturna), preocupações e
Entrevista dúvidas sobre a doença, preocupações familiares e sociais, além de hábitos pessoais e ambiente em que vive.
Observar tosse insidiosa e progressiva, aspecto da tosse (mucoide ou mucopurulenta), hemoptise, dispneia,
ortopneia; avaliar fraqueza, fadiga, umidade da pele devido à sudorese, dor torácica durante palpação,
Exame físico
diminuição do frêmito (caso tenha derrame pleural) e atentar para macicez (principalmente em bases
pulmonares devido a derrame pleural e murmúrios vesiculares reduzidos, ou crepitações devido muco).
Com base na interpretação e nas conclusões quanto às necessidades, aos problemas e às preocupações da
pessoa frente aos dados obtidos na anamnese, alguns diagnósticos, descritos a seguir, podem ser dados.
– Controle ineficaz da saúde relacionado ao regime de tratamento complexo, apoio social insuficiente e
conhecimento insuficiente do regime terapêutico.
– Conhecimento deficiente relacionado a informação insuficiente ou errônea, interesse insuficiente em
aprender, limitação na função cognitiva.
Diagnóstico – Nutrição desequilibrada (menor que as necessidades corporais na situação da doença, fatores biológicos,
culturais, incapacidade de absorver os nutrientes e desvantagens econômicas).
– Risco de infecção evidenciado por desnutrição, imunossupressão, conhecimento insuficiente para evitar
exposição a patógenos.
– Intolerância à atividade relacionada a fadiga, fraqueza e desequilíbrio entre a oferta e as demandas de
oxigênio.
– Padrão respiratório ineficaz relacionado a fadiga e dor.
Alguns pontos devem ser observados para se alcançar as metas da assistência, como orientar sobre a
percepção da presença de complicações, sobre os medicamentos em uso (indicação, doses, horários,
Planejamento
efeitos desejados e colaterais), solicitar e avaliar os exames previstos no protocolo assistencial local e,
quando pertinente, encaminhar aos outros profissionais.
Fazer avaliação da saúde facilitando o acesso aos serviços de saúde, orientando sobre razões e propósitos
da monitorização da saúde, obter consentimento informado para os procedimentos e avaliações, obter
a história de saúde e realizar o exame físico, atentar para a condição nutricional, avaliar o peso a cada
consulta e investigar os recursos disponíveis e usuais de alimentação do doente e, quando necessário,
estabelecer parcerias para obtenção de recursos, como cesta básica e vale-refeição.
É importante a troca de informações sobre os cuidados de saúde identificando as capacidades do cliente
para adesão ao regime terapêutico, administrar dose supervisionada e orientar sobre a importância da
continuidade do uso da medicação de maneira regular, das drogas utilizadas, da duração do tratamento,
dos controles mensais da baciloscopia e das consultas médico/enfermeiro, informando reações e
interações dos medicamentos, atentando aos efeitos colaterais dos medicamentos (hemoptise e dispneia,
entre outros), orientar sobre a cura e encorajar quanto à dose supervisionada, orientar a família e o
Intervenções
indivíduo com tuberculose quanto à importância de medidas preventivas (como o descarte adequado dos
lenços utilizados, a proteção da boca durante a tosse e a correta lavagem das mãos), proceder busca dos
faltosos e contatar comunicantes.
É vital a educação para a saúde, determinando os conhecimentos de saúde e os comportamentos de vida
atuais dos indivíduos, desmitificando falsos conceitos relativos à tuberculose, formulando os objetivos
para o programa de saúde, identificando os recursos necessários, enfatizando os benefícios à saúde a
serem obtidos por comportamentos de vida positivos, incorporando estratégias que elevem a autoestima
e fazem o doente compreender todos os aspectos da doença durante o tratamento diretamente
observado (o que é a doença, como ocorre sua transmissão, medicamento em uso, condução/duração
do tratamento, associação das drogas, regularidade na tomada da medicação, cura da doença, contatos,
estigmas e preconceitos).
Avaliar com a pessoa e a família quanto às metas de cuidados, se foram alcançadas e o grau de satisfação
em relação ao tratamento, observar se ocorreu alguma mudança a cada retorno, avaliar a necessidade de
Avaliação
mudança ou adaptação no processo de cuidado e reestruturar o plano de acordo com essas necessidades,
registrando no prontuário todo o processo de acompanhamento.

Fonte: Brasil (2011e).

39
Unidade I

Na investigação, questiona-se também sobre a história de tuberculose anterior, outras comorbidades,


história familiar de TB, moradia, uso/abuso de álcool e drogas, abandono de tratamento e aspectos
psicossociais que podem estar ligados ao isolamento e à rejeição de familiares e amigos devido ao
estigma e ao preconceito relacionado à doença (BRASIL, 2011e).

Para detectar a doença, a baciloscopia direta torna-se imprescindível. Após os dados


clínico-epidemiológicos do usuário coletados durante a consulta de enfermagem, deve-se solicitar
imediatamente a coleta da primeira amostra do escarro para aproveitar a presença do cliente. Essa
amostra deve ser coletada em um ambiente aberto, de preferência ao ar livre.

Para o diagnóstico, deve-se coletar pelo menos duas amostras de escarro: a primeira geralmente no
momento da consulta, a segunda no dia seguinte, preferencialmente ao despertar (essa última geralmente é
abundante porque provém das secreções acumuladas na árvore brônquica durante a noite (BRASIL, 2011e).

Para a coleta da segunda amostra, a unidade de saúde deve ter pessoal adequado para fornecer
informações claras e simples ao paciente quanto à coleta do escarro, representando a equipe de
enfermagem um profissional capacitado e de extrema importância nessa situação (BRASIL, 2011e).

Quadro 11 – Orientações pertinentes ao paciente quanto à coleta do escarro

1. Entregar o recipiente ao paciente, verificando se a tampa fecha de forma adequada e se o pote


está devidamente identificado (nome do paciente e data da coleta no corpo do pote).
2. Orientar o paciente quanto ao procedimento de coleta: ao despertar pela manhã, lavar bem
a boca, inspirar profundamente, prender a respiração por um instante e escarrar após forçar a
tosse. Repetir essa operação até obter três eliminações de escarro, evitando que ele escorra pela
Orientações ao parede externa do pote.
paciente
3. Informar que o pote deve ser tampado e colocado em um saco plástico com a tampa para
cima, cuidando para que permaneça nessa posição.
4. Orientar o paciente a lavar as mãos.
5. Na impossibilidade de envio imediato da amostra para o laboratório ou unidade de saúde, ela
poderá ser conservada em geladeira comum até no máximo sete dias.
Qualidade e Uma boa amostra de escarro é a que provém da árvore brônquica, obtida após esforço de tosse,
quantidade da e não a que se obtém da faringe ou por aspiração de secreções nasais, nem tampouco a que
amostra contém somente saliva. O volume ideal é de 5 mL a 10 mL.
O material deve ser coletado em potes plásticos descartáveis, com boca larga (50 mm de
Recipiente diâmetro), transparente, com tampa de rosca, altura de 40 mm, capacidade de 35 mL a 50 mL.
A identificação (nome do paciente e data da coleta) deve ser feita no corpo do pote e nunca na
tampa, utilizando-se, para tal, esparadrapo, fita crepe ou caneta com tinta indelével.

Local da coleta As amostras devem ser coletadas em local aberto, de preferência ao ar livre ou em condições
adequadas de biossegurança.

Fonte: Brasil (2011e).

As unidades de saúde devem receber, a qualquer hora de seu período de funcionamento, as amostras
coletadas no domicílio e conservá-las sob refrigeração até o seu processamento.

Para o transporte, as amostras devem ser refrigeradas, ter proteção contra a luz solar e um
acondicionamento adequado para que não haja risco de derramamento, utilizando caixas de isopor
40
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

com gelo reciclável ou cubos de gelo dentro de um saco plástico. As requisições dos exames devem ser
enviadas com o material, fora do recipiente de transporte (BRASIL, 2011e).

Outro exame pode ser realizado para fins diagnósticos, como o teste rápido TRM-TB, que apresenta
o resultado em aproximadamente duas horas em ambiente laboratorial, sendo necessária somente
uma amostra de escarro. Trata-se de um teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado para
detecção de DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis e triagem de cepas resistentes à rifampicina
pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real. A sensibilidade do TRM-TB
em amostras de escarro de adultos é de cerca de 90% sendo superior à da baciloscopia. O teste
também detecta a resistência à rifampicina, com uma sensibilidade de 95%, porém está indicado,
prioritariamente, para o diagnóstico de tuberculose pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes
(BRASIL, 2011d).

Um outro método na investigação da tuberculose é a radiografia de tórax. Os achados radiológicos


podem auxiliar no diagnóstico apontando para a suspeita de doença em atividade ou cicatrizes da
doença no passado, possibilitando também, nos casos positivos, a extensão do comprometimento
pulmonar (BRASIL, 2011d).

Um método auxiliar no diagnóstico da tuberculose em pessoas não vacinadas com a BCG é a prova
tuberculínica (PT), que consiste na inoculação intradérmica de um derivado proteico do M. tuberculosis
para medir a resposta imune celular a tais antígenos. É utilizada, em adultos e crianças, para o diagnóstico
de infecção latente pelo M. tuberculosis (BRASIL, 2011d).

Também se pode ter o diagnóstico através da histopatologia (biópsia), empregada para investigação
de formas extrapulmonares ou pulmonares que se apresentam radiologicamente como doença difusa
(BRASIL, 2011d).

Uma vez diagnosticada a doença, o tratamento antiTB consiste na quimioterapia antituberculosa


com o uso de rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E), fármacos que interferem
no sistema enzimático do bacilo ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial para o seu
crescimento. No Brasil, o esquema básico para tratamento da TB em adultos e adolescentes é composto
de quatro fármacos na fase intensiva e dois na fase de manutenção. A apresentação farmacológica dos
medicamentos atualmente em uso para o esquema básico é de comprimidos em doses fixas combinadas
com a apresentação tipo 4 em 1 (RHZE) ou 2 em 1 (RH) (BRASIL, 2019a).

Casos falências são aqueles que persistem da positividade do escarro ao final do tratamento e
também os que, no início do tratamento, são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação
até o quarto mês ou, ainda, aqueles com positividade inicial seguida de negativação e nova positividade
por dois meses consecutivos, a partir do quarto mês de tratamento (BRASIL, 2011e).

41
Unidade I

Tabela 3 – Esquema básico para tratamento de TB em adultos e adolescentes

Esquema Faixa de peso Unidade/dose Meses


20 kg a 35 kg 2 comprimidos (cp)
RHZE
RHZE 36 kg a 50 kg 3 comprimidos
150 mg/75 2 meses
(doses fixas mg/400 mg/275 51 kg a 70 kg 4 comprimidos (fase intensiva)
combinadas) mg
acima de 70 kg 5 comprimidos
1cp 300 mg/150 mg ou
20 kg a 35 kg 2 cp 150 mg/75 mg
1cp 300 mg/150 mg +
RH 36 kg a 50 kg 1cp 150 mg/75 mg ou
RH comprimido 3 cp 150 mg/75 mg 4 meses
(doses fixas 300 mg/150 mg (fase de
combinadas) ou 1 cp 300 mg/150 mg ou manutenção)
51 kg a 70 kg
150 mg/75 mg 4 cp 150 g/75 mg
2 cp 300 mg/150 mg +
acima de 70 kg 1cp de 150 mg/75mg ou
5 cp 150 mg/75mg

Fonte: Brasil (2019a).

A grande preocupação em relação à doença são os casos que evoluem para falência do tratamento, os
quais devem ser criteriosamente avaliados quanto a histórico terapêutico, adesão aos tratamentos
anteriores e confirmação por meio de exames e testes de sensibilidade que comprovem a resistência
aos medicamentos (para então receber um esquema padronizado para multirresistência ou
esquemas especiais individualizados).

Casos novos, para efeito de indicação de esquemas terapêuticos, são pessoas virgens de
tratamento (VT), aqueles pacientes que nunca se submeteram a nenhum tipo de tratamento antiTB ou
pacientes submetidos ao tratamento por até 30 dias. São considerados casos de retratamento ou com
tratamento anterior (TA) os pacientes já tratados para TB por um período maior que 30 dias e que necessitam
de novo tratamento por recidiva após cura (RC) ou retorno após abandono (RA) (BRASIL, 2011e).

Alguns cuidados, listados a seguir, devem ser observados com relação ao tratamento (BRASIL, 2011e).

• Os medicamentos deverão ser administrados preferencialmente em jejum (uma hora antes ou duas horas
após o café da manhã) em uma única tomada ou, em caso de intolerância digestiva, com uma refeição.

• Orientar a mulher a utilizar outros métodos anticoncepcionais que não os orais, pois a rifampicina
interfere na ação desses contraceptivos.

• Atentar às reações adversas mais frequentes ao esquema básico, como mudança da coloração
da urina (avermelhada), intolerância gástrica (40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e
dores articulares (4%).

É preconizado o acompanhamento do caso de tuberculose resistente por pelo menos cinco anos
após a cura, a fim de detectar precocemente uma possível recidiva (BRASIL, 2019a).
42
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Lembrete

Para o sucesso do tratamento da tuberculose, é fundamental que o


profissional de saúde acolha o usuário no serviço de saúde, desde
o diagnóstico até a alta. A abordagem humanizada e o estabelecimento
de vínculo entre profissional de saúde e usuário, com escuta de saberes,
dúvidas, angústias e a identificação de vulnerabilidades, auxiliam tanto no
diagnóstico como na adesão ao tratamento.

Para todo caso de tuberculose (novo ou retratamento), deve-se realizar o tratamento diretamente
observado (TDO), no qual o usuário é orientado a comparecer na unidade para receber o medicamento
ingerindo-o na frente de um profissional de saúde. Esse tipo de tratamento vai além de ver o usuário
deglutir o medicamento, cria-se um vínculo entre o doente e o profissional de saúde, bem como entre
o doente e o serviço de saúde. Para a supervisão, utiliza-se uma ficha de acompanhamento diário,
como demostrado a seguir (BRASIL, 2011e; BRASIL, 2019a).

Figura 13 – Ficha de acompanhamento da tomada diária da medicação do tratamento diretamente observado (TDO)

43
Unidade I

A escolha da modalidade de TDO deve ser decidida conjuntamente, entre a equipe de saúde e o
doente, considerando a realidade e a estrutura de atenção à saúde existente. É desejável que a tomada
observada seja diária, de segunda-feira a sexta-feira. Na impossibilidade de comparecer à unidade todos
os dias, caso de ele só possa ir três vezes por semana, deve-se explicar exaustivamente a necessidade
da tomada diária, incluindo os dias em que o tratamento não será observado. Outra possibilidade é o
profissional ir ao domicílio para ter essa observação das doses medicamentosas. No fim do tratamento,
para definir se foi observado, esse doente deverá ter no mínimo 24 tomadas observadas na fase de
ataque e 48 tomadas observadas na fase de manutenção (BRASIL, 2011e).

Para uma boa adesão ao tratamento, torna-se também necessário remover as barreiras que
impedem o usuário de chegar à unidade de saúde usando incentivos como lanche, auxílio-alimentação
e facilidades de acesso, como a distribuição de vale-transporte para evitar as faltas (BRASIL, 2011e).

Quadro 12 – Etapas de organização dos serviços para implantação do TDO

- Identificar e ordenar o local na unidade para o acolhimento do paciente e para a


observação da tomada dos medicamentos com água potável e copos descartáveis.
– Viabilizar incentivos e facilitadores.

Unidade de Saúde – Utilizar instrumentos de registro (ficha de controle de TDO e cartão do paciente).
– Questionar a respeito de efeitos colaterais e incentivar a adesão ao tratamento a
cada visita do paciente.
– Em caso de falta do paciente, proceder contato telefônico e/ou visita domiciliar,
preferencialmente no mesmo dia.
– Estabelecer fluxo de visitas e supervisão dos ACS ou outros profissionais de saúde
responsáveis pelo TDO.
Domicílio – Utilizar instrumentos de registro (ficha de controle de TDO e cartão do paciente).
– Questionar a respeito de efeitos colaterais e incentivar a adesão ao tratamento a
cada visita.

Fonte: Brasil (2011e).

Diante de um caso de tuberculose, é necessária a investigação epidemiológica das pessoas que


tiveram contato com o indivíduo infectado, especialmente os que residem na mesma casa. Outras
situações, como contatos no trabalho, escola, populações institucionalizadas, presos, albergues,
asilos e habitações coletivas devem ser avaliadas quanto ao tipo de contato e tempo de convivência
(BRASIL, 2011d).

As pessoas que tiveram contato devem ser investigadas quanto à presença de tuberculose ativa, e o
enfermeiro, no acolhimento, deve investigar sintomas, principalmente tosse, e realizar baciloscopia de
escarro (e exame radiológico quando indicado) (BRASIL, 2011d).

Para o controle da doença e a detecção precoce, torna-se necessária a realização permanente da


busca ativa de sintomáticos respiratórios (SR). Por meio dessa busca, identificam-se precocemente
as pessoas com tosse por tempo igual ou superior a três semanas como indivíduos com suspeita de
tuberculose pulmonar. Isso ocorre visando à identificação precoce dos casos bacilíferos com o objetivo

44
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

de interromper a cadeia de transmissão e reduzir a incidência da doença a longo prazo (BRASIL, 2011d).

É fundamental que a busca ativa ocorra nos equipamentos de saúde para que possamos interromper
a cadeia de transmissão da TB, sendo, assim, fundamental a descoberta precoce dos casos bacilíferos.
Desse modo, a busca ativa em pessoas com tosse prolongada deve ser uma estratégia priorizada para a
descoberta desses casos. Vale salientar ainda que cerca de 90% dos casos de tuberculose são da forma
pulmonar e, desses, 60% são bacilíferos (BRASIL, 2011d).

A busca ativa dos SR deve ser realizada em populações com alto risco de adoecimento, com atenção
especial à população prisional. Sugere-se que a busca ativa seja realizada em indivíduos que apresentem
tosse por tempo igual ou superior a duas semanas, a fim de aumentar a sensibilidade da busca, desde
que seja garantido o suporte laboratorial (BRASIL, 2011d).

Vale lembrar que, para cada 100 SR examinados, espera-se encontrar, em média, de três a quatro doentes
bacilíferos, índice que pode variar de acordo com o coeficiente de incidência da região (BRASIL, 2011d).

É importante lembrar ainda que, ao realizar a busca ativa, devemos usar como estratégia operacional
algumas ações: interrogar sobre a presença e a duração da tosse, independentemente do motivo da
procura; informar às pessoas que os SR identificados devem ser encaminhados para a coleta do exame
de escarro e que serão coletadas duas amostras de escarro (uma no momento da identificação e outra
no dia seguinte). Nos serviços de saúde deve-se fornecer ao paciente a orientação sobre como coletar
o escarro e qual o local apropriado para isso (na área externa do serviço de saúde). Deve-se também
registrar as atividades e os dados do paciente em instrumentos padronizados, estabelecer fluxo para
conduta nos casos positivos e negativos e avaliar rotineiramente a atividade da busca por meio dos
indicadores sugeridos (avaliar a proporção de sintomáticos respiratórios examinados, a proporção de
baciloscopias positivas e se a proporção da meta foi alcançada) (BRASIL, 2011d).

Observação

A busca ativa do SR deve ser realizada permanentemente por todos os


serviços de saúde (níveis primário, secundário e terciário) e tem sido uma
estratégia recomendada internacionalmente.

Como prevenção à tuberculose, a vacinação é de extrema relevância. A Portaria n. 452, de 6 de


dezembro de 1976, do Ministério da Saúde, e a Portaria n. 3.030, de outubro de 2010, instituem os
calendários de vacinação em todo o território nacional. A vacina BCG como medida preventiva é
prioritariamente indicada para crianças de zero a quatro anos, sendo obrigatória para menores de um
ano (BRASIL, 2011d).

A BCG é uma vacina atenuada, cada dose administrada contém cerca de 200 mil ou até mais de um
milhão de bacilos, sendo administrada por via intradérmica, no braço direito, na altura da inserção do
músculo deltoide. Ela pode ser simultaneamente administrada com outras vacinas, até mesmo com as
de vírus vivos (BRASIL, 2011d).
45
Unidade I

Na atuação contra a tuberculose, as ações de combate devem ser multiprofissionais. O quadro a


seguir descreve as atribuições de cada profissional envolvido no controle da doença.

Quadro 13 – Atribuições específicas dos profissionais de Atenção


Básica/Saúde da Família no controle da tuberculose

- Fazer busca ativa dos sintomáticos respiratórios nos domicílios e na comunidade.


– Orientar e encaminhar caso suspeito à equipe.
– Encaminhar os contatos à Unidade Básica de Saúde para consulta, diagnóstico e tratamento, quando necessário.
– Ensinar a forma correta da coleta e o encaminhamento do escarro dos sintomáticos respiratórios.
– Supervisionar o TDO, conforme planejamento da equipe.
– Visitar os domicílios de acordo com a programação da equipe, usando a ficha do Siab (B-TB) e a ficha de
Agente acompanhamento da tomada diária da medicação, mantendo-a sempre atualizada.
comunitário de
saúde – Acompanhar no Cartão da Criança a situação vacinal, e, se faltoso, encaminhar à Unidade Básica de Saúde.
– Fazer a busca ativa dos faltosos e daqueles que abandonaram o tratamento.
– Observar a presença de cicatriz da vacina BCG no braço direito da criança. Caso não exista e não haja
comprovante no Cartão, encaminhar a criança para vacinação.
– Realizar ações educativas com a comunidade.
– Planejamento, com a equipe, das ações para o controle da tuberculose na comunidade.
– Conhecer os cuidados básicos de redução da transmissão do Mycobacterium tuberculosis.
- Auxiliar na identificação dos sintomáticos respiratórios nos domicílios e na comunidade.
Agente de
controle de – Encaminhar casos suspeitos e contatos para avaliação na UBS.
endemias – Desenvolver ações educativas e de mobilização da comunidade, em sua área de abrangência, relativas ao
controle da tuberculose.
- Diagnosticar os sintomáticos respiratórios.
– Solicitar exame de bacilo de Koch (BK) do sintomático respiratório para diagnóstico (duas amostras).
– Solicitar raio-X de tórax.
– Encaminhar todo paciente com diagnóstico de tuberculose confirmado para o teste sorológico anti-HIV.
– Iniciar o tratamento para tuberculose dos pacientes com tuberculose pulmonar.
– Orientar o doente sobre o tratamento diretamente observado e a necessidade de supervisão.
– Convocar os contatos para consulta.
– Iniciar o tratamento da infecção latente da tuberculose.
Médico – Orientar doente e familiares quanto ao uso da medicação, esclarecer dúvidas e desmistificar tabus e estigmas.
– Solicitar baciloscopias de controle para acompanhamento do tratamento.
– Iniciar e acompanhar tratamento dos casos de tuberculose pulmonar com baciloscopias negativas e dos casos
de tuberculose extrapulmonar quando o diagnóstico for confirmado após a investigação em uma unidade de
referência.
– Dar alta por cura aos pacientes após o tratamento e encaminhar, quando necessário, os casos que necessitam
de um atendimento em unidade de referência, respeitando os fluxos locais e mantendo-se responsável pelo
acompanhamento.
– Realizar assistência domiciliar, quando necessário.
– Contribuir e participar das atividades de educação permanente dos membros da equipe quanto à prevenção, ao
manejo do tratamento, às ações de vigilância epidemiológica e controle das doenças.

46
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

– Identificar os sintomáticos respiratórios.


– Realizar assistência integral às pessoas e às famílias na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio ou
nos demais espaços comunitários.
– Orientar quanto à coleta de escarro.
– Administrar a vacina BCG.
– Realizar a prova tuberculínica.
– Realizar consulta de enfermagem, conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor
municipal, observadas as disposições legais da profissão.
– Solicitar exames (BAAR, raio-X de tórax, cultura, identificação e teste de sensibilidade para BK, prova tuberculínica).
– Convocar os contatos para investigação.
– Orientar doentes e familiares quanto ao uso da medicação, esclarecer dúvidas e desmistificar tabus e estigmas.
– Convocar o doente faltoso à consulta ou que abandonar o tratamento.
Enfermeiro – Acompanhar a ficha de supervisão da tomada de medicação preenchida pelo ACS.
– Realizar assistência domiciliar, quando necessária.
– Planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS, técnicos e auxiliares.
– Orientar os auxiliares e técnicos de enfermagem e ACS para o acompanhamento dos casos em tratamento e/ou
tratamento diretamente observado.
– Contribuir e participar das atividades de educação permanente dos membros da equipe quanto à prevenção, ao
manejo do tratamento, às ações de vigilância epidemiológica e ao controle das doenças.
– Enviar informações epidemiológicas referentes à tuberculose mensalmente.
– Analisar os dados e planejar com a equipe de saúde as intervenções.
– Notificar os casos confirmados de tuberculose.
– Encaminhar ao setor competente a ficha de notificação.
– Fazer a programação anual das ações de controle da tuberculose.
– Observar cuidados básicos de redução da transmissão do Mycobacterium tuberculosis.
- Identificar os sintomáticos respiratórios.
– Convocar os contatos para consulta médica.
– Identificar o pote de coleta do escarro.
– Orientar sobre a coleta do escarro.
– Encaminhar o material ao laboratório com a requisição do exame preenchida.
– Receber os resultados dos exames, protocolá-los e anexá-los ao prontuário.
– Aplicar a vacina BCG e fazer prova tuberculínica, após capacitação.
– Supervisionar o uso correto da medicação nas visitas domiciliares e o comparecimento às consultas de acordo
com a rotina da equipe.
Auxiliar e técnico – Convocar o doente faltoso ou que abandonar o tratamento à consulta.
de enfermagem
– Dispensar os medicamentos, conforme prescrição.
– Orientar pacientes e familiares quanto ao uso da medicação, esclarecer dúvidas e desmistificar tabus e estigmas.
– Realizar assistência domiciliar, quando necessária.
– Programar os quantitativos de medicamentos necessários ao mês para cada doente cadastrado na Unidade
Básica de Saúde, de forma a assegurar o tratamento completo de todos.
– Preencher o livro de registro e acompanhamento dos casos de tuberculose e o de sintomático respiratório na UBS.
– Realizar o tratamento diretamente observado para todos os pacientes com tuberculose, conforme orientação do
enfermeiro ou médico.
– Notificar os casos suspeitos de tuberculose.
– Observar os cuidados básicos de redução da transmissão do Mycobacterium tuberculosis.

Fonte: BRASIL (2019a).

47
Unidade I

4 ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: SÍFILIS

A sífilis é uma infecção sistêmica causada pela bactéria Treponema pallidum. Sua evolução é lenta e,
quando não tratada precocemente, pode evoluir para uma doença crônica com sequelas irreversíveis. A
transmissão se dá predominantemente por via sexual e vertical, caracterizando-se como uma infecção
sexualmente transmissível (IST) (BRASIL, 2016b).

A OMS estima que mundialmente ocorram 12 milhões de novos casos de sífilis a cada ano, sendo
90% desses casos em países em desenvolvimento (SALEM et al., 2013).

Em 2016, a sífilis foi declarada como um grave problema de saúde pública no Brasil. No ano de 2017,
o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) recebeu 119.800 casos de sífilis adquirida,
49.013 de casos de sífilis em gestantes, 24.666 de casos de sífilis congênita. O Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), por sua vez, informou o número de 206 óbitos por sífilis congênita no mesmo ano
(BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).

A Portaria n. 542, de 22 de dezembro de 1986, estabeleceu a notificação compulsória nacional


da sífilis congênita; a Portaria n. 33, de 14 de julho 2005, determinou a mesma obrigatoriedade
para a sífilis em gestante; por fim, a Portaria n. 2.472, de 31 de agosto de 2010, inclui a sífilis
adquirida nessa obrigatoriedade (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).

Nos últimos anos foi observado no Brasil um aumento constante do número de casos de sífilis em
gestantes, congênita e adquirida, o qual pode ser relacionado, pelo aumento da cobertura de testagem,
com a ampliação do uso de testes rápidos, a redução do índice de uso de preservativo, a resistência
dos profissionais de saúde à administração da penicilina na Atenção Básica (AB) e o desabastecimento
mundial de penicilina, entre outros (BRASIL, 2017e; BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).

Outro ponto a ser considerado é o aprimoramento do sistema de vigilância que pode refletir no
aumento de casos notificados. Para fins de vigilância epidemiológica, os critérios de definição de casos
de sífilis adquirida, sífilis em gestantes e sífilis congênita foram alterados em setembro de 2017 por meio
da Nota Informativa n. 2 – SEI/2017 – DIAHV/SVS/MS, com a intenção adequada da sensibilidade na
captação de casos de sífilis congênita e reduzir a subnotificação de casos de sífilis em gestantes. Assim,
passou a ser definido o caso de sífilis congênita, deixou-se de considerar o tratamento da parceria sexual
da mãe; e no caso de sífilis em gestantes, definiu-se que todas as mulheres diagnosticadas com sífilis
durante o pré-natal, parto e/ou puerpério devem ser notificadas como caso de sífilis em gestantes, e não
como sífilis adquirida (BRASIL, 2017e).

Portanto, pode ser que o aumento de casos de sífilis em gestantes a partir de 2017 seja atribuído, em
parte, à mudança no critério de definição de caso.

4.1 Transmissão da sífilis

A sífilis é uma doença altamente transmissível não só durante a relação sexual desprotegida como
também entre mãe e feto, por via transplacentária. Além disso, quando uma gestante portadora de sífilis
48
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

não é tratada ou quando o tratamento de algum indivíduo acometido é realizado inadequadamente,


também pode ocorrer a transmissão no contato com lesões mucocutâneas, acidentes com materiais
perfurocortantes e raramente por transfusão sanguínea (CARDOSO, 2019).

A infecção pela bactéria não gera imunidade protetora, ou seja, uma pessoa pode ser infectada inúmeras
vezes se tiver contato com o T. Pallidum. Vale destacar que não existe vacina contra sífilis (BRASIL, 2016b).
Durante sua evolução, se não tratada, a doença alterna entre períodos de latência (assintomáticos) e
períodos sintomáticos (com manifestações clínicas, imunológicas e histopatológicas diferentes).

A sífilis é classificada em estágios que orientam o tratamento (BRASIL, 2016b; CARDOSO, 2019;
BRASIL, 2019b):

• sífilis recente (primária, secundária e latente recente), com até dois anos de evolução;

• sífilis tardia (latente tardia e terciária), com mais de dois anos de evolução.

4.2 Manifestações clínicas da sífilis

4.2.1 Sífilis primária

Após o contato sexual infectante, ocorre o período de incubação com duração de 10 a 90 dias (média
de três semanas). O primeiro sinal é caracterizado por uma úlcera rica em treponemas, geralmente única
e indolor, com borda bem definida e regular, com a base endurecida e fundo limpo, que ocorre no local de
entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais do tegumento), sendo
denominada cancro duro. A lesão geralmente é acompanhada de linfadenopatia regional (acometendo
linfonodos localizados próximos à lesão), e sua duração pode variar muito, em geral de três a oito
semanas, podendo também desaparecer sem tratamento, de forma que o portador pode não perceber
a lesão ou sua importância. Trata-se de uma caso menos frequente, porém pode acontecer de a lesão
primária ser múltipla (BRASIL, 2015c; BRASIL, 2019b).

4.2.2 Sífilis secundária

Ocorre aproximadamente entre seis semanas e seis meses após a infecção, permanecendo, em média,
entre quatro e doze semanas. Manifestações iniciais, recorrentes ou subentrantes do secundarismo podem
ocorrer em um período de até dois anos. Aqui também os sintomas podem desaparecer de forma espontânea
em poucas semanas, e as manifestações são muito variáveis, podendo ocorrer: erupções cutâneas em
forma de máculas (roséola) e/ou pápulas principalmente no tronco; lesões eritemato-escamosas
palmo-plantares (essa localização sugere fortemente o diagnóstico de sífilis no estágio secundário); placas
eritematosas branco-acinzentadas nas mucosas; lesões pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas
cutâneas (condiloma plano ou condiloma lata); alopecia em clareira e perda da sobrancelha, em especial
do terço distal; febre, mal-estar, cefaleia, adinamia e linfadenopatia generalizada. Menos frequente, porém
possível de ser observado, são o comprometimento hepático e os quadros meníngeos e/ou até oculares, em
geral como uveíte. Merece destaque o fato de as lesões de pele do secundarismo não serem pruriginosas,
o que auxilia no diagnóstico clínico (BRASIL, 2015c; BRASIL, 2019b).
49
Unidade I

4.2.3 Sífilis latente

Na ausência de tratamento, após o desaparecimento dos sinais e dos sintomas da infecção, a sífilis
entra no período latente. Como falado anteriormente, tal período é dividido em latente recente (até
dois anos de infecção) e latente tardio (mais de dois anos de infecção). A maioria dos diagnósticos
acontecem nesse estágio por meio de sorologias (BRASIL, 2015c; BRASIL, 2019b).

4.2.4 Sífilis terciária

Corresponde a um valor entre 15% e 25% das infecções não tratadas após períodos de latência
(podendo variar entre 2 e 40 anos após a infecção). Nesse estágio ocorre uma destruição tecidual, sendo
comum o acometimento dos sistemas nervoso e cardiovascular. Observa-se também a formação de
tumorações com tendência a liquefação na pele, nas mucosas, nos ossos e em outros tecidos, podendo
causar incapacidade e levar a óbito (BRASIL, 2019b).

4.2.5 Sífilis em gestante e a sífilis congênita

Toda gestante deve realizar dois testes para sífilis durante o pré-natal, um no primeiro trimestre de
gravidez e o segundo no terceiro trimestre (a parceria sexual também deve fazer o teste). Também é
obrigatória a realização de um teste, treponêmico ou não treponêmico, imediatamente após a internação
para o parto na maternidade ou em caso de aborto (BRASIL, 2016b).

A sífilis congênita precoce se manifesta antes dos dois primeiros anos de vida, e a sífilis congênita
tardia após os dois anos. O diagnóstico da sífilis congênita precoce e tardia é feito por meio de
avaliação clínico-laboratorial, além de uma avaliação epidemiológica criteriosa materna e da criança
(BRASIL, 2015c).

A lesão genital está associada ao aumento de risco de transmissão e aquisição do HIV, sendo tal
quadro relacionado como a principal causa para a propagação do vírus nas populações vulneráveis.
Logo após o diagnóstico, o tratamento deve ser imediato, visto que constitui uma medida de prevenção
e controle da epidemia de HIV (BRASIL, 2015c).

Observação

Toda erupção cutânea sem causa determinada deve ser investigada


com testes para sífilis.

4.3 Diagnóstico da sífilis

O diagnóstico da sífilis pode se dar por exames coletados diretamente das lesões e por testes
imunológicos com pesquisa de anticorpos em amostras de sangue total, soro ou plasma, sendo eles os
treponêmicos e os não treponêmicos.

50
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

Figura 14 – Kit teste rápido para sífilis

Observação
Os testes rápidos (TR) são práticos e de fácil execução, com leitura do
resultado em, no máximo, 30 minutos. Podem ser realizados com amostras
de sangue total colhidas por punção digital ou venosa. Sua vantagem é
poder ser realizado durante a consulta, possibilitando tratamento imediato.

Nos casos de TR positivos (reagentes), uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada
para realização de um teste laboratorial (não treponêmico) a fim de se obter a confirmação do diagnóstico.

Para o diagnóstico de sífilis em gestante, podem ser utilizados os testes treponêmicos rápidos ou os
testes treponêmicos convencionais (Elisa, FTA-Abs, TPHA, entre outros) e os não treponêmicos (VDRL,
RPR, TRUST, entre outros).

Quadro 14 – Testes imunológicos para diagnóstico de sífilis

VDRL
Quantificáveis (ex.: 1:12, 1:4, 1:8).
Não RPR
treponêmicos Importantes para o diagnóstico e
TRUST monitoramento da resposta ao tratamento.
USR
Testes imunológicos São os primeiros a se tornarem reagentes.
FTA-Abs Na maioria das vezes, permanecem
ELISA/ EQL/CMIA reagentes por toda a vida, mesmo após
Treponêmicos tratamento.
TPHA/TPPA/MHA-TP
São importantes para o diagnóstico, mas
Teste rápido (TR) não estão indicados para o monitoramento
da resposta ao tratamento.

Fonte: Brasil (2019b).

51
Unidade I

Saiba mais

Você pode aprofundar seu conhecimento sobre o assunto acessando o


documento indicado a seguir.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente
Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção
Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Brasília:
Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: http://www.aids.gov.br/system/
tdf/pub/2016/57800/pcdt_ist_fnal_24_06_2019_web.pdf?file=1&type=n
ode&id=57800&force=1. Acesso em: 20 nov. 2019.

4.4 Tratamento e monitoramento da sífilis

O medicamento de escolha para tratar sífilis é a benzilpenicilina benzatina, a única droga com eficácia
documentada para tratar gestantes. Não existem evidências de resistência à penicilina da bacteria
T. pallidum (BRASIL, 2019b).

Outras opções para não gestantes podem ser empregadas (conforme indicado no quadro a seguir),
porém devem ser usadas com um acompanhamento clínico e laboratorial rigoroso, monitorando
resposta clínica e cura sorológica (BRASIL, 2019b).

Na situação epidemiológica atual, é recomendado o tratamento imediato, com benzilpenicilina,


após apenas um teste reagente para sífilis (teste treponêmico ou teste não treponêmico) nas seguintes
situações: gestantes, vítimas de violência sexual, pessoas com chance de perda de seguimento, pessoas
com sinais e ou sintomas de sífilis primária ou secundária e pessoas sem diagnóstico prévio de sífilis,
independentemente da presença de sinais e sintomas da doença. Esse fato não exclui a necessidade de
realização de outro teste para melhor análise do diagnóstico, do monitoramento laboratorial de cura e
do tratamento das parcerias sexuais para interrupção da cadeia de transmissão (BRASIL, 2019b).

Quadro 15 – Tratamento da sífilis conforme protocolo


clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com IST

Alternativa Seguimento
Estadiamento Esquema terapêutico (exceto para gestantes) (teste não treponêmico)
Sífilis recente: sífilis primária, Benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões Teste não treponêmico trimestral
Doxiciclina 100 mg,
secundária e latente recente (com UI, IM, dose única (1,2 milhão UI em (em gestantes, o controle deve
12h/12h, VO, por 15 dias.
até dois anos de evolução). cada glúteo). ser mensal).
Sífilis tardia: sífilis latente tardia Benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões Teste não treponêmico trimestral
(com mais de dois anos de UI, IM,1x/semana (1,2 milhão UI em Doxiciclina 100 mg, (em gestantes, o controle deve
evolução) ou latente com duração cada glúteo) por 3 semanas. Dose 12h/12h, VO, por 30 dias. ser mensal).
ignorada e sífilis terciária. total: 7,2 milhões UI, IM.

Fonte: Brasil (2019b).

52
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

A benzilpenicilina benzatina dever ser administrada exclusivamente por via intramuscular (IM). A
região ventro-glútea é a via preferencial, por ser livre de vasos e nervos importantes, com poucos efeitos
adversos e dor local. A benzilpenicilina benzatina pode, ainda, ser administrada na região do vasto
lateral da coxa e do dorso glúteo (BRASIL, 2019b).

A) B) C)

Figura 15 – Regiões para administração de medicamento

No caso de gestantes, dado ao risco de transmissão para o feto, o tratamento deve ser iniciado
com apenas um teste positivo (reagente), sendo desnecessário aguardar o resultado do segundo teste
(BRASIL, 2019b).

Durante o atendimento, a anamnese, a identificação das diferentes vulnerabilidades e o exame físico


do usuário devem constituir importantes elementos para o diagnóstico da sífilis e de outras possíveis
IST. Para o atendimento, os profissionais de saúde precisam conhecer a anatomia e a fisiologia dos tratos
masculino e feminino (BRASIL, 2015c).

Quando indicado, complementa-se a avaliação com a coleta de material biológico para exame
laboratorial. Caso esteja disponível, é importante a realização de exames laboratoriais para a identificação
de outras doenças como HIV, hepatite, clamídia e gonorreia. Vale lembrar que, sempre que alguma
dessas infecções for diagnosticada, deve-se fazer a notificação compulsória (BRASIL, 2015c).

Os exames laboratoriais devem ser colhidos na primeira consulta, e, caso os resultados não estejam
disponíveis no momento, a conduta terapêutica não deve ser postergada. A prescrição e a orientação do
tratamento devem se dar ao final da consulta, estabelecendo-se também a estratégia para seguimento
e a atenção às parcerias sexuais (BRASIL, 2015c).

4.5 Prevenção e redução da sífilis

Com objetivo de reduzir os índices de sífilis adquirida, sífilis na gestação e sífilis congênita no Brasil, em
2016, foi implementada a Agenda de Ações Estratégicas para Redução da Sífilis Congênita no Brasil.
Em outubro de 2017, renovaram-se as ações estratégicas para os dois anos seguintes (BRASIL, 2017e).
53
Unidade I

Para alcançar tal objetivo foram criados eixos de atuação com ações e atividades voltadas para a
redução e o controle dessa infecção nas redes de atenção à saúde. Cada atividade deve ter uma área
responsável, que fará a coordenação e a articulação com as demais áreas e parcerias (BRASIL, 2017e).

Resposta rápida a
sífilis nas redes de
atenção à saúde
Educomunicação

Fortalecimento
das redes de
atenção à saude
Qualificação
de informações
estratégicas

Ampliação
dos comitês
de investigação de
transmissão vertical
de HIV, Sífilis e Fortalecimendo
hepatites virais da parceria do MS
com outros atores

Figura 16 – Eixos de atuação para redução da sífilis no Brasil

Saiba mais

Você pode aprofundar seu conhecimento sobre a Agenda Estratégica


para Redução da Sífilis no Brasil acessando o documento indicado a seguir.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções
Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Agenda
de ações estratégicas para redução da sífilis no Brasil. Brasília: Ministério
da Saúde, 2017. Disponível em: http://www.aids.gov.br/system/tdf/
pub/2016/65000/agenda_sifilis_20_11_2017.pdf?file=1&type=node&id=
65000&force=1. Acesso em: 20 nov. 2019.

Entre outras ações existentes na Agenda, estão a elaboração e a divulgação de materiais informativos
e educativos sobre prevenção, diagnóstico, tratamento e vigilância da sífilis. Trata-se de materiais
importantes não somente para os jovens da população brasileira, mas principalmente para os homens

54
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

adultos, considerando-se que a maioria deles só procura os serviços de saúde quando já estão doentes,
o que impõe a necessidade de desenvolver estratégias interssetoriais, incluindo ações de prevenção
nas escolas e nas redes de interação juvenil. Esse movimento contribui para a promoção da saúde
integralmente (BRASIL, 2017e).

Para que se tenha adesão à redução e à prevenção da sífilis e de outras IST, o profissional de
saúde deve estabelecer uma relação de confiança com o usuário em ambiente privativo, com tempo
adequado para atendimento (atendimento que deve promover educação em saúde, garantindo,
assim, qualidade e eficiência). É recomendada a vacinação contra hepatite B para todas as pessoas e
vacinação quadrivalente contra HPV tipos 6, 11, 16 e 18 para adolescentes na faixa etária de 9 a 13 anos
e para mulheres HIV-positivas de 9 a 26 anos de idade (que, nesse caso, precisam de prescrição
médica) (BRASIL, 2016b).

Ponto extremamente importante para prevenção é a distribuição de preservativos masculinos e


femininos com foco em todas as pessoas sexualmente ativas. Trata-se de um método eficaz para a
redução do risco de transmissão da sífilis e de outros agentes sexualmente transmissíveis, além de evitar
gravidez (BRASIL, 2019b).

As pessoas também devem ser orientadas quanto à conservação e ao uso correto e regular dos
preservativos, e esses insumos devem ser disponibilizados como parte da rotina de atendimento
(BRASIL, 2015c).

Quadro 16 – Cuidados com os tipos de preservativo

Cuidados com o preservativo feminino Cuidados com o preservativo masculino


- Armazenar longe do calor, observando-se a - Armazenar longe do calor, observando-se a
integridade da embalagem e o prazo de validade. integridade da embalagem e o prazo de validade.
– Não usar juntamente com o preservativo masculino. – Deve ser colocado antes da penetração, durante a
ereção peniana.
– Ao contrário do preservativo masculino, o feminino
pode ser colocado até oito horas antes da relação e – A extremidade do preservativo deve ser mantida
retirado com tranquilidade após o coito, de preferência apertada entre os dedos durante a colocação,
antes de a mulher levantar-se, para evitar que o retirando todo o ar do seu interior.
esperma escorra do interior do preservativo. – Ainda segurando a ponta do preservativo, deve-se
– Já vem lubrificado. desenrolá-lo até a base do pênis.
– Para colocá-lo corretamente, a mulher deve encontrar – Devem-se usar apenas lubrificantes de base aquosa
uma posição confortável (em pé com um dos pés (gel lubrificante), pois a utilização de lubrificantes
em cima de uma cadeira, sentada com os joelhos oleosos (como vaselina ou óleos alimentares) danifica
afastados, agachada ou deitada). o látex, ocasionando sua ruptura. O gel lubrificante
facilita o sexo anal e reduz as chances de lesão.
– O anel móvel deve ser apertado e introduzido na
vagina. Com o dedo indicador, ele é empurrado o mais – Em caso de ruptura, o preservativo deve ser
profundamente possível, para alcançar o colo do útero. substituído imediatamente.
A argola fixa (externa) deve ficar aproximadamente – Após a ejaculação, retirar o pênis ainda ereto,
3 cm para fora da vagina. Durante a penetração, o segurando o preservativo pela base para que não haja
pênis deve ser guiado para o centro do anel externo. vazamento de esperma.
– Um novo preservativo deve ser utilizado a cada nova – O preservativo não pode ser reutilizado e deve ser
relação. descartado no lixo (não no vaso sanitário) após o uso.

Fonte: Brasil (2015c).

55
Unidade I

Figura 17 – Imagens ilustrativas do uso correto dos preservativos feminino e masculino

Para o controle das IST e em conformidade com a Portaria n. 2.488 (BRASIL, 2011b), de 21 de outubro
2011, que aprova a Política Nacional da Atenção Básica, e com a Lei n. 7.498 (BRASIL, 1986), que dispõe
sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, o enfermeiro desempenha uma atividade de
extrema importância na realização de consulta de enfermagem, de procedimentos e de atividades em
grupo, conforme protocolos ou outras normas técnicas estabelecidas pelo gestor (federal, estadual,
municipal ou do Distrito Federal), observadas as disposições legais da profissão para solicitação de
exames complementares, prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública
aprovados pela instituição de saúde e encaminhamento, quando necessário, de usuários a outros
serviços (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2017; BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2018).

Tendo em vista o princípio de atendimento integral à saúde, em grande parte das unidades de
saúde o atendimento é agendado, fato que pode dificultar uma demanda espontânea. Com objetivo
de diagnosticar, tratar e reduzir os casos de IST, a unidade e os profissionais devem ser organizados e
acolhedores, personalizando o atendimento caso a caso.

Conforme o protocolo clínico e as diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com IST
(BRASIL, 2015c), as atividades para controle das IST na Atenção Básica devem:

• garantir o acolhimento e realizar atividades de informação/educação em saúde;

• realizar consulta imediata no caso de úlceras genitais, corrimentos genitais masculinos e femininos
e de verrugas anogenitais;

• realizar coleta de material cérvico-vaginal para exames laboratoriais;

• realizar testagem rápida e/ou coleta de sangue e/ou solicitação de exames para sífilis, HIV e
hepatites B e C, nos casos de IST;

• realizar tratamento das pessoas com IST e suas parcerias sexuais;

56
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

• seguir o protocolo do Ministério da Saúde para a prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis
e hepatites virais;

• notificar as IST conforme a portaria vigente (os demais agravos são notificados de acordo com as
recomendações dos estados/municípios, quando existentes);

• comunicar as parcerias sexuais do caso-índice para tratamento, conforme protocolo;

• referir os casos suspeitos de IST com manifestações cutâneas extragenitais para unidades que
disponham de dermatologista, caso necessário;

• referir os casos de IST complicadas e/ou não resolvidas para unidades que disponham de
especialistas e mais recursos laboratoriais;

• referir os casos de dor pélvica com sangramento vaginal, casos com indicação de avaliação
cirúrgica ou quadros mais graves para unidades com ginecologista e/ou que disponham de
atendimento cirúrgico.

Resumo

Tratou-se da Política Nacional de Atenção Básica. Com a Portaria n. 2.436


estabeleceu-se a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica
no âmbito do SUS. Com as novas diretrizes, a PNAB permite que o gestor
trabalhe a sua equipe de acordo com as especificidades e necessidades.
Entre outras mudanças, traz novidades em relação ao financiamento da
Atenção Básica com o reconhecimento de novos modelos de atenção e
consequente ampliação do número de equipes que receberão recursos do
Ministério da Saúde. Essa regra permite ao gestor municipal compor suas
equipes de Atenção Básica de acordo com características e necessidades
locais, com a presença de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem
e/ou técnicos de enfermagem.

Outro assunto abordado foram as DCNT, que constituem o problema de


saúde de maior magnitude e correspondem a 72% das causas de morte.
Os grandes fatores de risco globalmente conhecidos são: pressão arterial
elevada (responsável por 13% das mortes no mundo), tabagismo (9%), altos
níveis de glicose sanguínea (6%) e inatividade física (6%), além de sobrepeso
e obesidade (5%). No acompanhamento dos usuários portadores de DM e
HAS devem ser enfatizados a mudança do estilo de vida, o tratamento
medicamentoso, a prática de atividades físicas e a alimentação balanceada.
A consulta de enfermagem faz parte da estratégia dirigida a esses grupos de
risco que propõe uma adequada intervenção educativa em indivíduos com
valores de PA limítrofes e distúrbios metabólicos. Essa consulta objetiva
57
Unidade I

promover a educação em saúde para a prevenção primária da doença por


meio do estímulo à adoção de hábitos saudáveis de vida e também pela
avaliação e estratificação do risco para doenças cardiovasculares.

Das doenças infecciosas, a tuberculose e a sífilis foram abordadas,


enfatizando-se a necessidade de controle destas. A tuberculose é
uma doença infecciosa causada por bacilo álcool-ácido-resistente, o
Mycobacterium tuberculosis, e o modo de infecção ocorre pela inalação
de núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos pela tosse,
pela fala ou pelo espirro do doente com tuberculose ativa de vias
respiratórias (pulmonar ou laríngea). A doença atinge principalmente
os pulmões, porém existem formas exclusivamente extrapulmonares
e não transmissíveis. O período de incubação varia de 4 a 12 semanas
após infecção, e há desenvolvimento de reação tuberculínica positiva.
O período de transmissão acontece com doentes bacilíferos.

Na consulta de enfermagem, deve-se questionar a duração da tosse


(que pode ser acompanhada ou não de escarros hemoptoicos) e observar
o comprometimento do estado geral, além de febre vespertina, sudorese
noturna, inapetência, emagrecimento, fadiga. Sabendo-se que as principais
complicações ocorrem no sistema respiratório, o enfermeiro deve abordar
na entrevista dados relacionados ao aparelho respiratório e atentar ao
exame minucioso do tórax. Com os dados clínico-epidemiológico do
usuário, deve-se solicitar imediatamente a coleta da primeira amostra do
escarro para aproveitar a presença do cliente (deve ser coletada em um
ambiente aberto, de preferência ao ar livre), a segunda amostra deve ser
coletada no dia seguinte, preferencialmente ao despertar. O tratamento
farmacológico consiste na quimioterapia antituberculosa com o uso de
rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E). Realizando
o tratamento diretamente observado (TDO), o usuário deve ser diretamente
observado na deglutição dos medicamentos, indo diariamente à unidade,
construindo-se um vínculo entre o doente e o profissional de saúde, bem
como entre o doente e o serviço de saúde.

Diante de um caso de tuberculose, deve-se investigar os comunicantes,


sendo necessária uma investigação epidemiológica das pessoas que tiveram
contato com o indivíduo infectado, especialmente os que residem na mesma
casa. Outras situações, como contatos no trabalho, escola, populações
institucionalizadas (presídios, albergues, asilos etc.) e habitações coletivas,
devem ser avaliados quanto ao tipo de contato e tempo de convivência. A
prevenção deve ser a aplicação da vacina BCG, prioritariamente indicada
para crianças de 0 a 4 anos (com obrigatoriedade para menores de 1 ano),
e, para o controle da doença e a detecção precoce, torna-se necessário a
realização permanente da busca ativa de sintomáticos respiratórios.
58
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

A sífilis é uma infecção sistêmica causada pela bactéria Treponema


pallidum. Sua evolução é lenta, e, quando não tratada precocemente, pode
evoluir para uma doença crônica com sequelas irreversíveis. A transmissão
é predominantemente por via sexual e vertical, caracterizando-se, assim,
como uma infecção sexuamente transmissível. O medicamento de escolha
para tratar a sífilis é a benzilpenicilina benzatina, única droga com
eficácia documentada para tratar gestantes e que deve ser administrada
exclusivamente por via intramuscular (IM). A região ventro-glútea é a via
preferencial, por ser livre de vasos e nervos importantes e com poucos
efeitos adversos e dor local, mas a droga pode ainda ser administrada na
região do vasto lateral da coxa e no dorso glúteo.

O profissional de saúde deve estabelecer uma relação de confiança com


o usuário, em ambiente privativo e com tempo adequado para atendimento.
Deve promover a educação em saúde, garantindo, assim, um atendimento
com qualidade e eficiência. É recomendada, ainda, a vacinação contra
hepatite B para todas as pessoas e vacinação quadrivalente contra HPV
tipos 6, 11, 16 e 18 para adolescentes na faixa etária de 9 a 13 anos e para
mulheres HIV-positivas de 9 a 26 anos de idade.

Exercícios

Questão 1. (Uncisal, 2018) No que concerne a infraestrutura, ambiência e funcionamento da


Atenção Básica, de acordo com a Portaria n. 2.436 de 2017, é correto afirmar:

A) Refere-se ao conjunto de procedimentos que objetiva adequar a estrutura física, tecnológica e de


recursos humanos das UBS às necessidades de saúde da população de cada território.

B) A infraestrutura de uma UBS não deve estar adequada ao quantitativo de população adscrita
e suas especificidades, mas, sim, aos processos de trabalho das equipes e à atenção à saúde
dos usuários.

C) Os parâmetros de estrutura devem levar em consideração apenas a densidade demográfica; o


perfil da população, as ações e serviços de saúde a serem realizados.

D) As UBS devem ser construídas de acordo com as normas sanitárias e tendo como referência as
normativas de infraestrutura vigentes. Devem, ainda, ser cadastradas no Sistema Eletrônico do
SUS e no Sistema de Informação da Atenção Básica.

E) Para um ambiente adequado em uma UBS, existem componentes que atuam como modificadores
e qualificadores do espaço, recomenda-se contemplar: recepção com grades (para garantir
privacidade à pessoa), identificação dos serviços existentes, cronograma de atendimento, conforto
térmico e acústico, e espaços adaptados para as pessoas com deficiência.
59
Unidade I

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: a alternativa é uma transcrição de trecho da Política Nacional da Atenção Básica,


aprovada pela Portaria n. 2.436/17, sobre infraestrutura, ambiência e funcionamento da atenção
básica. Refere-se ao conjunto de procedimentos que objetiva adequar a estrutura física, tecnológica e
de recursos humanos das UBS às necessidades de saúde da população de cada território.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: segundo a Portaria n. 2.436/17, a infraestrutura de uma UBS deve estar adequada ao
quantitativo de população adscrita e suas especificidades, bem como aos processos de trabalho das
equipes e à atenção à saúde dos usuários.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a Portaria n. 2.436/17 traz que parâmetros de estrutura devem levar em consideração
densidade demográfica, composição, atuação e tipos de equipes, perfil da população e ações e serviços
de saúde a serem realizados.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a Política Nacional da Atenção Básica, aprovada pela Portaria n. 2.436/17, diz que as
UBS devem ser construídas de acordo com as normas sanitárias e tendo como referência as normativas
de infraestrutura vigentes, bem como possuir identificação segundo os padrões visuais da Atenção
Básica e do SUS. Devem, ainda, ser cadastradas no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos
de Saúde (SCNES), de acordo com as normas em vigor para tal.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: de acordo com a Portaria n. 2.436/17, para um ambiente adequado em uma UBS, existem
componentes que atuam como modificadores e qualificadores do espaço, recomenda-se contemplar:
recepção sem grades (para não intimidar ou dificultar a comunicação e também garantir privacidade
à pessoa), identificação dos serviços existentes, escala dos profissionais, horários de funcionamento e
sinalização de fluxos, conforto térmico e acústico, e espaços adaptados para as pessoas com deficiência
em conformidade com as normativas vigentes.

Questão 2. (Cetro, 2012) A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é um problema grave de saúde
pública no Brasil e no mundo. A aferição correta da pressão arterial é de extrema importância para o
diagnóstico de HAS e prevenção de complicações. Sobre os cuidados básicos para a aferição correta da
pressão arterial, assinale a alternativa incorreta.
60
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM

A) A posição recomendada para a medida da pressão arterial (PA) é a sentada. Entretanto, a medida
da PA na posição ortostática deve ser feita pelo menos na primeira avaliação, especialmente em
idosos, diabéticos, pacientes com disautonomias, alcoólicos e pacientes em uso de medicação
anti-hipertensiva.

B) Certificar-se de que o paciente não está com a bexiga cheia, não praticou exercícios físicos de
60 a 90 minutos antes da aferição, não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, ou fumou até
30 minutos antes da aferição, e não está com as pernas cruzadas.

C) Manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a palma da mão voltada
para cima e cotovelo ligeiramente fletido.

D) A “síndrome do avental branco” é a elevação da pressão arterial pela tensão provocada pela
simples presença do profissional de saúde, e deve ser considerada quando o paciente apresentar
valores de PA elevados, recomendando-se a aferição repetida em diversos dias.

E) Utilizar manguito de tamanho adequado ao braço do paciente, cerca de 5 cm acima da fossa


antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. A largura da bolsa de
borracha deve corresponder a 80% da circunferência do braço e o seu comprimento envolver pelo
menos 40%.

Resposta incorreta: alternativa E.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: a posição recomendada para a medida da pressão arterial (PA) é a sentada. Entretanto,
a medida da PA na posição ortostática deve ser feita pelo menos na primeira avaliação, especialmente
em idosos, diabéticos, pacientes com disautonomias, alcoólicos e pacientes em uso de medicação
anti-hipertensiva.

B) Alternativa correta.

Justificativa: certificar-se de que o paciente não está com a bexiga cheia, não praticou exercícios
físicos há 60-90 minutos, não ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos, ou fumou até 30 minutos
antes, e não está com as pernas cruzadas é um dos procedimentos para a medida da pressão arterial.

C) Alternativa correta.

Justificativa: manter o braço do paciente na altura do coração, livre de roupas, com a palma da
mão voltada para cima e cotovelo ligeiramente fletido é um dos procedimentos para a medida da
pressão arterial.

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Unidade I

D) Alternativa correta.

Justificativa: explicar o procedimento ao paciente, orientando que não fale e descanse por
5-10 minutos em ambiente calmo, com temperatura agradável. Promover relaxamento, para atenuar o
efeito do avental branco (elevação da pressão arterial pela tensão provocada pela simples presença do
profissional de saúde, particularmente do médico).

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: utilizar manguito de tamanho adequado ao braço do paciente, cerca de 2 cm a 3 cm


acima da fossa antecubital, centralizando a bolsa de borracha sobre a artéria braquial. A largura da bolsa
de borracha deve corresponder a 40% da circunferência do braço e o seu comprimento, envolver pelo
menos 80%.

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