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O Dr. Henrique Gandelman, escritor e advogado em sua obra "De Gutemberg à Internet, assim
assinalara: "A tendência de alguns profissionais da área, usuários, advogados, generalistas e
cultores do direito, é a de encarar os direitos autorais como assunto de extrema complexidade (o
que, aliás, por vezes, é mesmo!...) e de que sua compreensão seria acessível somente aos poucos
especialistas da matéria." (Editora Record, 1997).
Segundo o Dr. Jorge Machado, ex-presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, "O
Grau de importância que é dado ao sistema de propriedade intelectual serve hoje como um dos
principais parâmetros diferenciadores entre os países desenvolvidos e aqueles, como o Brasil, em
processo de desenvolvimento." (in Revista INPI).
A proteção constitucional ao direito autoral está prevista na Carta Mágna de 1988 em seu artigo
5º, incisos XXVII e XXVIII letras "a" e "b", como abaixo reproduzido:
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
...
A legislação específica que regula os Direitos Autorais é a Lei 9610/98, e logo em seu artigo 7º,
cuida de especificar as obras protegidas por esta lei, e dentre elas estão:
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais
como:
... (omissis)
... (omissis)
... (omissis)
(grifo nosso)
Note-se que os projetos de engenharia, arquitetura e afins estão claramente prescritos, de modo a
não haver erro, dúvida ou confusão quanto a proteção autoral das referidas obras, porquanto assim
ainda suscita-se dúvidas e confusões com as matérias protegidas pela legislação da Propriedade
Industrial, como marcas, patentes, desenho industrial e direitos que lhe são conexos, quando
confunde-se a proteção de um desenho industrial (propriedade industrial), por exemplo, com um
projeto de engenharia (direito autoral). A distinção entre a proteção do desenho industrial e o
direito autoral é ínfima, cuja fronteira muitas vezes não existe, podendo certas obras serem
protegidas por ambas as matérias, bem como serem registradas em ambos os órgãos, ou seja o
INPI ou o Confea, atendendo os requisitos de cada um.
Outros projetos porém, são distintos e claros, não podendo se confundir o projeto de um produto
(direito autoral) com uma patente de produto (propriedade industrial), sendo a matéria regulada
por aquela concernente ao tipo de proteção legal, ou seja, um engenheiro pode ser autor de um
projeto de engenharia, tendo indiscutivelmente sua obra protegida pela legislação autoral (o
projeto), bem como pode ter o fruto do projeto de sua invenção ou modelo de utilidade protegido
pela legislação da propriedade industrial. É necessário que se separe ambas as matérias, a fim de
se perceber a área de proteção de cada uma, não se confundindo uma e outra.
Quanto a titularidade porém, há que se verificar, que a legislação autoral e a que regula a profissão
dos engenheiros e arquitetos, ambas prevêem claramente que autor é pessoa física, e não poderia
ser diferente, porquanto pessoa jurídica nada cria, e depende do intelecto humano para tal criação,
mesmo que a obra tenha sido criada com o auxílio mecânico ou cibernético. Ou seja, autor é
sempre a pessoa física que concebeu o projeto de engenharia ou arquitetura, topografia ou
geografia, e não a empresa na qual trabalha o autor ou da qual é proprietário, quer seja engenheiro,
arquiteto, geógrafo ou topógrafo, como querem ambas as leis.
E além da proteção dada pela Carta Magna e pelas Legislações Autoral e do Software (Leis
9610/98 e 9609/98 respectivamente), as Leis e resoluções que regulam as atividades de engenharia
também consagram alguns princípios inequívocos, como passaremos a conferir abaixo, com as
transcrições oportunas que esta matéria requer.
A Lei nº 5.194, de 24 de dezembro de 1966, que Regula o exercício das profissões de Engenheiro,
Arquiteto e Engenheiro-Agrônomo, e dá outras providências, prevê a questão das atividades de
competência de pessoa física:
a e b) omissis...
e, f, g e h) omissis...
Art. 8º - As atividades e atribuições enunciadas nas alíneas "a", "b", "c", "d", "e" e "f" do artigo
anterior são da competência de pessoas físicas, para tanto legalmente habilitadas.
(Grifo nosso)
Já o artigo 17 da referida Lei, trata da questão autoral, e define de quem é o direito autoral em tela,
não podendo ser diferente:
A autoria aludida no artigo 17 acima, deve respeitar os princípios da Lei 6.496 de 7 de dezembro
de 1977, que institui a "Anotação de Responsabilidade Técnica"- ART na prestação de serviços de
Engenharia, etc, e dá outras providências. Cominado com os artigos 7º e 8º, para aqueles casos em
que somente a pessoa física poderá exercer certa atividade, por analogia, somente a pessoa física
do autor poderá requerer ART para esses casos, podendo a pessoa jurídica, para os casos que a Lei
assim permitir:
Art. 2º - A ART define para os efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de
engenharia, arquitetura e agronomia.
§ 1º - A ART será efetuada pelo profissional ou pela empresa no Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), de acordo com Resolução própria do Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA).
Abaixo passamos a demonstrar esses princípios legais, determinados nas resoluções do CONFEA,
ainda no tocante aos casos dos direitos autorais, não confundindo, misturando em tempo algum a
matéria com Propriedade Industrial, no tocante à marcas ou patentes, transferência de tecnologia e
seus conexos.
Art. 2º - A ART define, para os efeitos legais, os responsáveis técnicos pela execução de obras ou
prestação de quaisquer serviços de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, objeto do contrato.
Enfim a Resolução nº 317, de 31 outubro de 1986 dispõe sobre o Registro de Acervo Técnico dos
Profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia e expedição de certidão, bem como define
exatamente o que é Acervo Técnico, bem como a quem pertence. Então vejamos:
Art. 1º - Considera-se Acervo Técnico do profissional toda a experiência por ele adquirida ao
longo de sua vida profissional, compatível com as suas atribuições, desde que anotada a
respectiva responsabilidade técnica nos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia.
O registro para a Lei autoral não é obrigatório, compulsório, é faculdade do autor, que poderá usar
o traslado de registro, que goza de fé pública, a fim de garantir a precedência, podendo apresentá-
lo como prova documental, cautelar, de presunção de autoria.
Já na Propriedade Industrial, a marca por exemplo, só se confere direito de uso exclusivo após o
registro validamente concedido, de acordo com os ditames da Lei. Esse direito - objetivo - nasce
com o registro, e não quando a marca é criada ou reproduzida, salvo quando por sua concepção
artística, tenha proteção autoral de que trata a lei do direito de autor.
Art. 18. A proteção aos direitos de que trata esta Lei independe de registro.
Art. 19. É facultado ao autor registrar a sua obra no órgão público definido no caput e no § 1º do
art. 17 da Lei nº 5.988, de 14 de dezembro de 1973.
Art. 50. A cessão total ou parcial dos direitos de autor, que se fará sempre por escrito, presume-
se onerosa.
§ 1º Poderá a cessão ser averbada à margem do registro a que se refere o art. 19 desta Lei, ou,
não estando a obra registrada, poderá o instrumento ser registrado em Cartório de Títulos e
Documentos.
Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis, como quer o artigo 27 da Lei
9610/98, a Lei do Direito Autoral, o que quer dizer que o autor será sempre autor de sua obra
literária, artística ou científica, independente de contrato de trabalho ou edição, bem como
independente da titularidade da obra. Ou seja, aquele que criou, concebeu uma obra protegida pelo
direito autoral, mesmo que transmita por contrato escrito os direitos de exploração econômica das
mesmas, ou mesmo que esteja sob a égide de contrato de trabalho, será sempre seu autor, e esse
direito é inalienável e irrenunciável.
Abaixo reproduzimos exaustivamente o texto legal de alguns artigos da Lei do Direito Autoral,
Lei 9610/98, que prescrevem os direitos morais do autor, e mais adiante, sobre seus direitos
patrimoniais.
Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.
II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o
do autor, na utilização de sua obra;
VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em
poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotográfico ou assemelhado, ou
audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu
detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.
§ 1º Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I
a IV.
§ 2º Compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra caída em domínio público.
§ 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prévias indenizações a terceiros, quando
couberem.
Em obras musicais, por exemplo, o que também ocorre na engenharia e arquitetura, vemos que a
Lei Autoral não é respeitada, quando cantores intérpretes adquirem os direitos de gravação de uma
certa música com ou sem letra, podendo explorá-la economicamente dentro da lei, porém
suprimem o nome do verdadeiro autor, colocando o seu em lugar do legítimo, numa crassa
violação dos direitos autorais. Já no caso da arquitetura, por exemplo, a lei prevê a possibilidade
de repúdio pelo autor do projeto, casos de alteração de projetos na execução que ocorrem com
alguma freqüência, como podemos ler o texto legal abaixo:
Art. 26. O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem o seu
consentimento durante a execução ou após a conclusão da construção.
Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar ao autor sempre
que, após o repúdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado.
Da mesma forma que a Lei prevê expressamente os direitos morais acima transcritos, a Lei
também cuida da exploração econômica de suas obras, o que poderemos claramente notar através
da leitura dos artigos seguintes, antes de chegarmos às conclusões do presente texto:
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou
científica.
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer
modalidades, tais como:
II - a edição;
VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso
ou exploração da obra;
VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas
ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para
percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos
casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em
pagamento pelo usuário;
i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de
comunicação similares que venham a ser adotados;
IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as
demais formas de arquivamento do gênero;
Como exemplo, é nula a cláusula de contrato de direito autoral ou contrato de trabalho que
"transfira a autoria" de determinada obra literária, artística ou científica para outra pessoa
qualquer, que não seja o autor legítimo, visto que já demostramos que o direito moral do autor é
irrenunciável e inalienável Isso já vimos em vários contratos no decorrer dos anos. Não se deve
confundir, portanto, a transferência da titularidade da obra intelectual, que pode ser exercida por
pessoa jurídica, quanto à exploração econômica das mesmas. Também, relembramos que autor de
obra intelectual é sempre pessoa física, mesmo que use um poderoso software para criação de seu
projeto de engenharia licenciado para a pessoa jurídica com a qual o engenheiro ou arquiteto
mantém relação de emprego ou de sociedade, e por mais avançadas as técnicas e recursos que o
software dispõe. Mesmo porque, antes, o referido software fora criação intelectual de uma mente
humana, de uma pessoa, e depende de outra pessoa e sua capacidade intelectual para sua operação
para criar algo novo, um projeto de engenharia mecânica, de arquitetura, geografia e tantos outros.
E por último, a transferência da titularidade de obra intelectual no Brasil, pela legislação vigente,
sempre se fará por escrito, e sempre se presumirá onerosa. Os contratos de transferência dos
direitos patrimoniais do autor poderão, preferencialmente, conforme o caso, serem averbados ou
registrados à margem dos registros das obras nos órgãos de registro que as registrou, ou em
cartório de registro público de documentos. O uso de qualquer obra intelectual sem a devida
autorização "escrita" do autor ou titular dos direitos patrimoniais de autor constitui-se violação de
direitos autorais, pascíeis de ações judiciais na esfera cível ou penal, bem como a reprodução sem
a referida autorização é contrafação, quer como ilícito civil ou criminal, mais conhecida como
pirataria nos casos de software.
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* João Augusto Cardoso, é Advogado e Agente da Propriedade Industrial. Professor de Propriedade Industrial na
Faculdade de Direito da Universidade Metodista de Piracicaba. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela
Faculdade de Direito de Pinhal. Curso de Direito Comercial Internacional na Stetson University nos Estados Unidos;
curso de Direito da Propriedade Industrial pela EMERJ/RJ, Patentes e Desenhos Industriais pelo INPI/RJ, e
Comercialização de Software pela FGV/RJ. Pós-graduação em Direito da Economia e da Empresa pela FGV/RJ, e
pós-graduação em Administração de Empresas pela EEP/SP. Aluno do Programa de Mestrado em Direito da
UNIMEP. Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA-Bs.As./ UNESA-RJ.