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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – CAMPUS SANTA MARIA | CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LEGISLAÇÃO, ÉTICA E SEGURANÇA DO TRABALHO | PROF. ARQ. ESP. JOÃO ERNESTO TEIXEIRA BOHRER
ALUNA: ISABELLE VERA

DIREITO AUTORAL E CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Os temas principais deste trabalho são as Leis que dizem respeito ao exercício profissional do arquiteto.

Elaborada ao longo do ano de 2013, a resolução nº 67 do CAU-BR, trata especificamente sobre os direitos
autorais em arquitetura e urbanismo, ajuda a combater o plágio e o uso indevido dos projetos de arquitetura,
práticas ainda recorrentes e, muitas vezes, de difícil reparação no Brasil, estipulando multa para quem
desrespeita tais direitos. Essa norma determina quem é o consumidor e o fornecedor, onde o projeto
arquitetônico pode ser considerado um produto.

Para que uma obra seja considerada amparada pela legislação autoral é preciso que nela estejam presentes
diversas características, entre elas, a originalidade. Assim sendo, o projeto arquitetônico, deve ser novo,
criativo e original. Novo, pois não se concebe cópia de trabalho intelectual; criativo, pois é uma característica
imprescindível ao autor de qualquer obra que goze das prerrogativas de direito autoral; original, pois não pode
se confundir com outro nem ser cópia de outro preexistente. Não se confunde com as obras derivadas, que,
baseadas em obra original gera uma nova obra intelectual com características próprias, amparadas pelo Direito
Autoral.

Não importa que o desenho, esboço ou projeto tenha sido idealizado com lápis, caneta, régua e outros
apetrechos técnicos ou através de um poderoso software para sua criação. O importante é que o autor seja
sempre pessoa física (arquiteto, engenheiro ou paisagista), licenciado ou não para uma pessoa jurídica,
através de relações de emprego. Independe, por conseguinte, do suporte que fora utilizado para a confecção
da obra arquitetônica, de engenharia ou paisagística. O importante e pré-requisito exigido pela lei autoral é que
o autor será sempre uma pessoa física.

A resolução diferencia os direitos patrimoniais, que são de utilização da obra, e os morais, que são relativos à
paternidade do trabalho. Os direitos morais são inalienáveis e perpétuos. Ou seja, o autor de um projeto
original deve sempre ser lembrado como tal, ainda que não possua mais os direitos autorais patrimoniais da
ideia.

Os projetos - e outros trabalhos técnicos de criação - somente podem ser reproduzidos com o consentimento
do detentor do direito autoral. Isso vale não só para a repetição de projetos (para o caso em que o construtor
contrata um projeto de arquitetura e constrói dois ou mais empreendimentos iguais), mas também para
alterações a serem realizadas tanto no projeto quanto na obra construída.

Para ter sua obra protegida, os profissionais precisam fazer uma solicitação com um requerimento específico
disponibilizado no Sistema de Informação e Comunicação do CAU (Siccau), acessado pela internet. O
requerimento deve ser acompanhado de cópia certificada digitalmente do projeto ou do trabalho técnico, além
de uma descrição de suas características essenciais. Pela análise do processo administrativo será cobrado o
valor de duas vezes a taxa de RRT.

O registro é então analisado pelo CAU do Estado onde o profissional reside, e então encaminhado ao CAU/BR
para publicação em sua página na internet. Ali, devem ser listados todos os projetos e obras intelectuais
protegidas para consulta pública.

Os projetos devem ser registrados para que possa garantir a autoria, porém, apenas com o RRT ainda se
consegue provar a exclusividade. Diferentemente do que acontece com o RRT, que era e continua sendo
obrigatório, o registro de autoria é facultativo.

A resolução recomenda indenizações mínimas a serem requisitadas à Justiça em casos de violação de direitos
autorais. Por exemplo, caso um arquiteto queira processar uma construtora por plágio de obra intelectual
protegida, o CAU/BR recomenda uma indenização de no mínimo quatro vezes o valor dos honorários
profissionais a título de violação de direitos autorais morais, e mais duas vezes o valor dos honorários por
violação do direito autoral patrimonial. O pagamento da multa não isenta o infrator da obrigação de, quando
possível, sanear a violação, tampouco o exime de eventual responsabilização civil ou criminal.

A resolução do CAU/BR procura contemplar uma realidade cada vez mais presente na arquitetura brasileira,
que é a da existência de múltiplos autores de um mesmo projeto.
O objetivo é criar um regramento para eventuais disputas jurídicas entre coautores. Para fins de direitos
autorais, são considerados coautores todos os profissionais que participaram da criação da obra intelectual
protegida. A exceção fica por conta dos profissionais que apenas auxiliaram na representação da obra
intelectual, como os desenhistas, digitadores e maquetistas.

A expectativa é que a resolução de direitos autorais cause impactos na qualidade dos projetos e da arquitetura
como um todo. A garantia desses direitos trará benefícios concretos aos profissionais inovadores, que buscam
alternativas melhores e mais eficientes, e que criam soluções. A capacidade criativa dos arquitetos tende a ser
mais valorizada, inclusive porque a autoria dos projetos será indicada em documentos e peças de divulgação
onde a obra intelectual aparece.

Tudo isso evita situações como o plágio e a cópia malfeita, levando os arquitetos a pensarem em soluções que
atendam às condições específicas do local onde a obra será erguida. É um avanço em relação à valorização
da atividade, com ganhos para os profissionais e seus clientes.

Para a construção de todo imóvel a figura do arquiteto é de grande importância para um resultado satisfatório
ao fim do serviço, principalmente no que concerne à segurança de seus futuros frequentadores. Infelizmente,
diversos erros podem ser causados por falhas na elaboração ou efetivação do projeto, o que poderá acarretar
danos de extrema gravidade. Primeiramente, importante denotar que a relação tratada há de ser regida, em
sua grande parte, pelo Código de Defesa do Consumidor, simplesmente pelo fato de estarmos diante de um
consumidor (cliente) e um fornecedor de serviços (arquiteto).

Assim, importante observar os dizeres do art. 14 § 4º do Código de Defesa do Consumidor, que trata sobre a
conhecida responsabilidade objetiva (sem necessidade da verificação de culpa), quando este vem tratar acerca
da responsabilidade dos profissionais liberais:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. [...]

Ao redigir o presente artigo, o legislador pretendeu tratar os profissionais de uma maneira diferente,
constituindo uma exceção. O engenheiro e o arquiteto, por se tratarem de prestadores de serviços e
profissionais liberais, somente responderão se comprovada sua culpa, ou seja, a imprudência, negligência ou
imperícia na execução/elaboração do projeto, pois sua responsabilidade é pessoal e subjetiva.

Diferentemente da responsabilidade objetiva, onde, pelo próprio risco exercido pela atividade, não há que se
provar absolutamente nenhum evento culposo, mas apenas a conduta; o dano; e o nexo causal, a
responsabilidade subjetiva requer, para restar caracterizado o ato ilícito e o dever de indenizar, a necessidade
de comprovação do cometimento de culpa do profissional, como imprudência, negligência ou imperícia,
segundo explica Daniele Oliveira:

“Na responsabilidade civil a culpa se caracteriza quando o causador do dano não tinha intenção de provocá-lo,
mas por imprudência, negligência, imperícia causa dano e deve repará-lo. A imprudência ocorre por
precipitação, quando por falta de previdência, de atenção no cumprimento de determinado ato o agente causa
dano ou lesão. Na imprudência, estão ausentes prática ou conhecimentos necessários para realização de ato.
A imperícia ocorre quando aquele que acredita estar apto e possuir conhecimentos suficientes pratica ato para
o qual não está preparado por falta de conhecimento aptidão capacidade e competência. A negligência se dá
quando o agente não toma os devidos cuidados, não acompanha a realização do ato com a devida atenção e
diligência, agindo com desmazelo.”[1]

O engenheiro e o arquiteto são ambos responsáveis por quaisquer danos resultantes de erros na elaboração
do projeto, como cálculos e concepções pré-estabelecidas, conforme explicado abaixo:

“[...] se o profissional se incumbir de elaborar o projeto e fiscalizar a construção, estará se responsabilizando


pelo eventual evento danoso que a obra gerar, pois será seu dever orientar e acompanhar a execução do
projeto, desde os serviços preliminares, de preparação do solo, até o acabamento, bem como examinar os
materiais empregados, tais como tijolos, canos e vergalhões, e recusá-los se inadequados ou defeituosos,
ficando, deste modo, responsável pela solidez e segurança do trabalho.” [2]

Deixemos claro que, se estes profissionais estão de alguma maneira vinculados à construtora, incorporadora
etc, estas também serão responsabilizadas solidariamente de forma objetiva, conforme estabelecido
pelo Código de Defesa do Consumidor.
No caso de projetos encomendados via empreiteiras/construtoras, como o vínculo criado fora apenas no que
concerne a elaboração do projeto, ficará a responsabilidade restrita a essa parte da obra, não podendo o
profissional ser responsabilizado no caso da execução do projeto erroneamente por parte da construtora, mas
simplesmente à criação do projeto, como erros de cálculo, dimensionamento, etc.

Outro caso extremamente comum é quando o profissional contratado responsável pela obra for dispensado por
seu cliente antes da conclusão do serviço. Obviamente que sua responsabilidade não poderá alcançar
problemas supervenientes à sua saída, salvo quando manterem algum nexo de causalidade.

O próprio CREA-SP cita alguns casos em que o engenheiro ou arquiteto poderá ser responsabilizado, confira:

“1 - Responsabilidade contratual: pelo contrato firmado entre as partes para a execução de um determinado
trabalho, sendo fixados os direitos e obrigações de cada uma.

2 - Responsabilidade pela solidez e segurança da construção: pelo Código Civil Brasileiro, o profissional
responde pela solidez e segurança da obra durante cinco anos; é importante pois, que a data do término da
obra seja documentada de forma oficial. Se, entretanto, a obra apresentar problemas de solidez e segurança e,
através de perícias, ficar constatado erro do profissional, este será responsabilizado, independente do prazo
transcorrido, conforme jurisprudência existente.

3 - Responsabilidade pelos materiais: a escolha dos materiais a serem empregados na obra ou serviço é da
competência exclusiva do profissional. Logo, por medida de precaução, tornou-se habitual fazer a
especificação desses materiais através do "Memorial Descritivo", determinando tipo, marca e peculiaridade
outras, dentro dos critérios exigíveis de segurança. Quando o material não estiver de acordo, com a
especificação, ou dentro dos critérios de segurança, o profissional deve rejeitá-lo, sob pena de responder por
qualquer dano futuro.

4 - Responsabilidade por danos a terceiros: é muito comum na construção civil a constatação de danos a
vizinhos, em virtude da vibração de estaqueamentos, fundações, quedas de materiais e outros. Os danos
resultantes desses incidentes devem ser reparados, pois cabe ao profissional tomar todas as providências
necessárias para que seja preservada a segurança, a saúde e o sossego de terceiros. Cumpre destacar que os
prejuízos causados são de responsabilidade do profissional e do proprietário, solidariamente, podendo o lesado
acionar tanto um como o outro. A responsabilidade estende-se, também, solidariamente, ao sub-empreiteiro,
naquilo em que for autor ou co-autor da lesão.” [3]

Referências

• Direitos Autorais na Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: http://www.caubr.gov.br/resolucao67/;

• http://www.caubr.gov.br/proteja-sua-criacao-contra-o-plagio-conte-com-o-cau/;

• http://www.caubr.gov.br/direitosautorais/;

• https://www.archdaily.com.br/br/01-98175/as-10-coisas-que-voce-deve-saber-sobre-direitos-autorais-
arquitetonicos;

• http://www.caubr.gov.br/proteja-sua-criacao-contra-o-plagio-conte-com-o-cau/;

• Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm;

• [1] OLIVEIRA, Daniele Ulgim. A responsabilidade civil por erro médico. Ambito-Jurídico. Disponível em:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3580;

• [2] Disponível em: http://www.forumjuridico.org/threads/responsabilidade-civil-do-engenheiroedo-


arquiteto.12115/;

• [3] Responsabilidade Civil. CREA-SP. Disponível


em http://www.creasp.org.br/profissionais/responsabilidades-profissionais/responsabilidade-civil.

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