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RESUMO
Este artigo analisa a composição do comércio internacional brasileiro à luz da complexidade
econômica. Revisou-se a questão da estrutura produtiva em constructos
desenvolvimentistas e a relação entre complexidade econômica e comércio internacional;
identificou-se os setores econômicos e os produtos mais exportados pela economia
brasileira e, aqueles em que se obteve maior vantagem comparativa, contrapondo-os aos
setores e produtos mais importados exclusivamente de economias desenvolvidas. Concluiu-
se que a economia brasileira ainda é, predominantemente, exportadora de produtos de
origem agrária e de extrativismos, ao mesmo tempo em que é importadora de produtos
sofisticados de economias consideradas desenvolvidas e complexas, classificando-a, ao
que pôde o comércio internacional revelar e, pela perspectiva teórica adotada, como não
plenamente desenvolvida.
ABSTRACT
This article analyzes the composition of Brazilian international trade in light of economic
complexity. The question of the productive structure in developmental constructs and the
relationship between economic complexity and international trade was reviewed; The
economic sectors and products most exported by the Brazilian economy were identified, and
those with the greatest comparative advantage, as opposed to the sectors and products
most imported exclusively from developed economies. It was concluded that the Brazilian
economy is still predominantly exporter of products of agrarian origin and extractivism, while
importer of sophisticated products from economies considered developed and complex,
1
Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAD-UFMS). Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E-mail:
7ernan@gmail.com
2
Doutor em Educação (UFMS). Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em
Administração (PPGAD-UFMS). Coordenador do Mestrado Profissional em Administração Pública
em Rede Nacional (PROFIAP-UFMS). Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E-mail:
elciobenini@yahoo.com.br
3
Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAD-UFMS). Professor Permanente do Curso de Graduação
em Administração (UFMS). Nova Andradina, Mato Grosso do Sul. E-mail: gabrielgnemi@gmail.com
4
Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (PPGAD-UFMS). Campo Grande, Mato Grosso do Sul. E-mail:
adrianopcastro@gmail.com
classifying it, to which international trade could reveal and, from the theoretical perspective
adopted, as not fully developed.
1 INTRODUÇÃO
Baseada na hipótese de que a estrutura produtiva de uma economia afeta
tanto o ritmo quanto a direção de seu desenvolvimento, a literatura estruturalista
destaca a importância da industrialização como um agente de transformação. Para
os economistas desta tradição, na ausência de um processo robusto de
industrialização, o aumento do emprego, da produtividade e da renda per capita de
um país, não deslancha. Para os economistas estruturalistas, o processo de
desenvolvimento econômico exige o deslocamento da produção de setores de baixa
produtividade, para setores de alta produtividade, nos quais prevalecem retornos
crescentes à escala (BRESSER-PEREIRA, 2005; GALA, 2017).
Celso Furtado (2004, 2009), icônico economista da corrente
desenvolvimentista latino-americana, enfatiza os desafios específicos que os países
menos abastados enfrentam em uma economia capitalista polarizada
internacionalmente em centro e periferia, com polos marcados por diferentes
estruturas produtivas de dualismos historicamente construídos.
Para os clássicos do desenvolvimento econômico, as atividades produtivas
possuem diferentes capacidades de geração de crescimento. Atividades com
retornos crescentes à escala, por exemplo, são fortes indutoras do crescimento, da
mesma forma que incidências de inovação tecnológica e de cumulativas sinergias
decorrentes da divisão do trabalho. Em geral, nessas atividades predomina a
concorrência imperfeita, que atrela as mesmas, características próprias como:
importantes curvas de aprendizagem, progresso técnico acelerado, opimos
programas de desenvolvimento, possibilidades de economias de escala, ocorrências
de concentração industrial e, por vezes, conformam arranjos de barreias à entrada
em mercados que as presenciam (PREBISCH, 1949; REINERT, 1994, 2005).
Bresser-Pereira (2016, p.103) também enfatiza que “uma economia aumenta
a sua produtividade ao subir a escada tecnológica, migrando de atividades de baixa
qualidade para atividades de alta qualidade, rumo à sofisticação do tecido
produtivo”. Polanyi (2001) e Reinert (2016) ressaltam que o caminho dos países
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Treemaps são mapas setoriais em forma de gráfico, daí o nome “mapa em árvore”. São ideais para
a visualização de uma vasta quantidade de dados, pois os categorizam com marcadores de forte
apelo visual, sendo bem funcionais na representação de relações bilaterais entre nações no
comércio internacional, ou mesmo cadeias produtivas (OEC, 2018).
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descrição textual dos Figuras dos setores econômicos dos mesmos. Atesta-se que o
modelo visual para a elaboração de Figuras de Figuras é idêntico aos exibidos no
OEC, são de domínio público e passíveis de confirmação. Ao se elaborar Figuras
próprios oriundos de tabelas, geralmente, estes acabam sendo exportados como
gráficos, que são convertidos em Figuras, de modo a facilitar a visualização e
entendimento. O software utilizado na importação dos dados, organização,
tabelamentos, construção de gráficos e conversão de Figuras, foi o Excel, da linha
de produtos Office da Microsoft, software licenciado, versão 2019.
Após esta introdução, este artigo estrutura-se em mais três seções. A
segunda seção, intitulada ‘Qualidades produtivas e a base de dados de comércio e
complexidade econômica’, é de cunho teórica, reunindo e atualizando a discussão
acerca da questão das qualidades produtivas em constructos desenvolvimentistas,
além de apresentar a base de dados acerca do comércio e da complexidade
econômica das nações, considerando principalmente a sua origem, ferramental
disponível e possibilidades de pesquisa. Posteriormente, a terceira seção, intitulada
‘O que o comércio internacional pode revelar?’ é de cunho empírico-descritiva,
expondo, com o auxílio de Figuras, os dados referentes ao comércio internacional
brasileiro, no que tange aos setores econômicos e produtos envolvidos – conforme
proposto e no recorte temporal estabelecido. Por fim, como quarta seção, a
conclusão do estudo.
8
Iniciado como uma Tese de Doutorado em Ciência da Computação e Análise de Dados pelo MIT
Media Lab, o trabalho hoje é sequênciado e apoiado pela OMC e reúne diversos trabalhos e
pesquisas acerca do desenvovimento econômico e do comércio das nações (HAUSMANN et al.,
2014).
9
Capacidade de estar contido/presente em vários lugares.
10
Como uma ferramenta, permite aos usuários compor rapidamente uma narrativa visual sobre o que
os países transacionam. Endereço eletrônico do Observatório: <http://atlas.media.mit.edu/>.
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soja [7,8% dividido por 0,35%], portanto, podemos dizer que o Brasil revelou
vantagem comparativa na soja, obteve valor de RCA (BALASSA, 1965; OEC, 2018).
– Matematicamente:
𝑋𝑐𝑝 = A quantidade em dólar de um produto (𝑝) que um país (𝑐) exporta;
C = Número de países considerados;
P = Número de produtos considerados
𝑋𝑐𝑝 ∑𝑝 𝑋𝑐𝑝
𝑅𝐶 𝐴𝑐𝑝 = ⁄
∑𝑐 𝑋𝑐𝑝 ∑𝑐,𝑝 𝑋𝑐𝑝
Essa medida é usada para a construção de uma matriz 𝑀 ∈ ℝ𝐶×𝑃 que liga
cada país aos produtos que ele produz. Logo:
1 𝑠𝑒 𝑅𝐶 𝐴𝑐𝑝 ≥ 1
𝑀𝑐𝑝 = {
0 𝑐𝑎𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑜
270
Bilhões (dólares correntes)
240
210
180
150
120
90
60
30
0
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
Importações Exportações
56
49
42
Bilhões (dólares correntes)
35
28
21
14
7
0
-7
1976
2002
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
11
Wiedervereinigungsvertrag (A Reunificação) – processo efetivado em 3 de outubro de 1990, logo, a
computação dos dados de comércio internacional do Estado uno, teve início em 1991.
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Tabela 1 - Setores, produtos mais exportados e produtos com o maior valor de RCA da
pauta exportadora da economia brasileira no período de 1962 a 2016:
Tabela 2 - Proporção dos setores econômicos mais exportados e seus valores monetários –
Pauta exportadora da economia brasileira – 1962 a 2016
Tabela 3 - Setores e produtos com o maior valor de RCA e produtos mais exportados –
Pauta exportadora da economia brasileira – 1962 a 2016
Tabela 4 - Proporção dos setores econômicos com o maior valor de RCA e seus valores
monetários – Pauta exportadora da economia brasileira – 1962 a 2016
Tabela 5 - Setores e produtos mais importados – Pauta importadora brasileira – 1962 a 2016
EUA 1962-1996 Machinery Wheat and Meslin Cereals and Vegetable Oils
Unmilled
1996-2016 Maachines Refined Petroleum Mineral Products
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4 CONCLUSÃO
A economia brasileira se mostrou uma grande exportadora de produtos de
origem agrária e extrativismos. Predominantemente, no período analisado, os
setores mais exportados foram: agricultura diversa e produtos minerais. Destes
setores, os produtos mais exportados foram: café e minério de ferro, que, também,
corresponderam aos produtos em que a economia brasileira obteve maior vantagem
comparativa de exportação. Como exceção, no período dos anos de 1986 a 2001,
os setores econômicos mais exportados foram: maquinários e gêneros alimentícios,
sendo os produtos mais exportados destes setores – acessórios e partes de veículos
e farelo de soja. Dos setores deste período em específico (1986 a 2001), o produto
em que a economia brasileira obteve maior vantagem comparativa de exportação foi
o farelo de soja.
Já em relação aos setores econômicos em que a economia brasileira obteve
maior vantagem comparativa de exportação, predominantemente, foram: cereais e
óleos vegetais e gêneros alimentícios. Destes setores, os produtos mais exportados
foram: massa de óleo vegetal e açúcar em natura. Dos mesmos setores, os produtos
em que a economia brasileira obteve maior vantagem comparativa de exportação
foram: óleo de rícino (derivado da mamona, insumo da indústria alimentícia), açúcar
em natura e erva mate. Como exceção, no período entre os anos de 1991 a 1996, o
setor em que a economia brasileira obteve maior vantagem comparativa de
exportação foi o setor econômico do tabaco – sendo o produto mais exportado o
tabaco cortado, e o produto em que a economia brasileira obteve maior vantagem
comparativa de exportação, o refugo de tabaco, sobra. Como outra exceção, no
período entre os anos de 2001 a 2006, o setor em que a economia brasileira obteve
maior vantagem comparativa de exportação foi o de produtos de origem animal,
sendo o produto mais exportado, também aquele em que se obteve maior vantagem
comparativa: carne de aves.
No quesito importação, a economia brasileira se mostrou uma grande
importadora de produtos sofisticados de países considerados desenvolvidos e
complexos, tendo importado, predominantemente, no período analisado, produtos
dos setores econômicos: máquinas, maquinários, produtos químicos e produtos
eletrônicos. Destes setores econômicos, os produtos mais importados foram: partes
REFERÊNCIAS
BALASSA, B. Trade Liberalisation and “Revealed” Comparative Advantage. The
Manchester School, v. 33, n. 2, p. 99–123, maio 1965.
POLANYI, KARL. The Great Transformation: The Political and Economic Origins
of Our Time. 2. ed. Boston: Beacon Press, 2001.
REINERT, E. S. Como os países ricos ficaram ricos e por que os países pobres
continuam pobres. Rio de Janeiro: Contraponto: Centro Internacional Celso
Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, 2016.
SMITH, A. Teoria dos Sentimentos Morais. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2015.
SMITH, A. A Riqueza das Nações. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
WORLD BANK. Data World Bank. Trade Balance of Countries Series. Disponível
em: <https://data.worldbank.org/country/brazil?locale=pt>. Acesso em: 12 jan. 2019.