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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, pp.

59 - 70, 2009

A AÇÃO TERRITORIAL DOS SINDICATOS


NO LIMAR DO SÉCULO XX NO BRASIL

Amir El Hakim de Paula*

RESUMO:
Este artigo tem como objetivo discutir as territorialidades dos sindicatos no Brasil nas primeiras décadas
do século XX. Nesse sentido, procuraremos demonstrar essas ações territoriais em dois períodos: o
primeiro, até o início da década de 1920, quando havia grande pluralidade sindical e pouca participação
do Estado nas relações entre o capital e o trabalho, e, após a Revolução de 1930, quando o Estado
iniciou uma intervenção na organização interna dessas entidades e, consequentemente, em suas
ações territoriais.
PALAVRAS-CHAVE:
Geografia; Território; Territorialidade; Sindicatos; Brasil

ABSTRACT:
This article discusses the trade unions’ territorialities in Brazil in the first decades of the 20 thcentury.
Their territorial actions are divided in two periods: the first ends at the beginning of the 1920s, when
there was great trade union plurality and little State participation in the capital work relations. The
second period begins after the 1930 Revolution, when the State started intervening in the trade
unions’ organization and, therefore, in their territorial actions.
KEYWORDS:
Geography; Territory; Territoriality; Trade Unions; Brazil

Introdução “[...] no campo da Geografia, esses estudos são


pr ati came nte inexi stentes. O op erar iad o,
Os estudos sobre o sindicalismo brasileiro
enquanto classe e sujeito-objeto da história
tiveram um aumento qualitativo nos últimos anos
na Geografia, surgindo inúmeras dissertações e merece vaga referência, e é confundido no tema
teses sobre a estrutura e funcionamento dos genérico da população.” (MOREIRA, 1985, p.21)
sindicatos rurais no país. O nosso interesse em um aprofundamento
Dentre essas pesquisas, poderíamos citar maior de estudo sobre o sindicalismo brasileiro
a tese de doutoramento de Thomaz (1996) sobre surgiu durante o bacharelado em Geografia,
a territorialidade da organização sindical do setor quando realizamos uma pesquisa acerca das
sucroal cool ei r o, b em com o os trab al hos origens do movimento operário no Brasil, como
produzidos no âmbito do CEGET (Centro de trabalho de conclusão de curso.
Estudos da Geografia do Trabalho). D esde e nt ão, nossa s p esquisas se
Entretanto, poucos foram os geógrafos remetem a esse temário (operariado no Brasil),
que procuraram entender a organização dos seja na análise macroespacial como no trabalho
trabalhadores urbanos. Ainda na década de 1980, de conclusão de curso, seja numa pesquisa mais
*Aluno de doutorado do programa de pós-graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo.
Orientando da Profª Drª Lea Francesconi. E-mail: elhakim@usp.br
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delimitada espaço-temporalmente, como em O t e m á r i o g a nhou um si g ni f i ca d o


nossa dissertação de mestrado sobre o operário importante para a ciência geográfica no final
em São Paulo no início do século XX. do século XIX e início do século XX, por meio
dos trabalhos de Ratzel, principalmente na sua
Nesse artigo, apresentaremos alguns
obra Antropogeografia. (MORAES, 1984, p.91).
dados iniciais de nossa pesquisa de doutorado
Sua concepção prioriza o papel do território (e
e m curso, cujo obj e ti vo é e nte nd er a s
sua organização) pelo ponto de vista do Estado,
territorialidades sindicais no país, do início do
compreendendo qualquer outra manifestação no
século XX até a década de 1930. Ou seja,
t e r r i t ór i o, q ue nã o a e st a t a l , co m o u m a
compreender como os sindicatos se organizavam
e x ce p c i on a l i d a d e , o u se j a , um a a ç ã o
no território brasileiro no limiar do século XX e
“extraterritorial”.
como as mudanças ocorridas com a chegada ao
poder de Getúlio Vargas em 1930, transformou Muito p r e se n t e na G e og ra f i a
completamente essa estrutura sindical. (principalmente na Geografia Política), essa
concepção de território teve sempre um papel
Dentre as mudanças ocorridas no início
destacado entre os intelectuais brasileiros do
da dé ca da de 19 30 , i nt er essa m- nos
início do século XX, como Backheuser, Elysio de
principalmente aquelas que se referem à ação
Carvalho e Delgado de Carvalho, claramente
do Estado, alterando as formas de relacionamento
influenciados pelas concepções de Ratzel.
existentes até então entre as entidades sindicais.
Entretanto, mais recentemente alguns
Compartilhamos da hipótese de que a
ge óg ra fos pr ocura ra m te or iza r sobr e essa
Revolução de 1930, tendo como base uma maior
questão, incluindo em suas pesquisas algumas
centralização do poder1, procurou limitar a escala
visões advindas de outras ciências (como por
de ação dos sindicatos, “adequando-os” a um
exemplo, a antropolog ia), gerando críticas
modelo único oficial.
d a q ue l e s q ue nã o conc or d a m c om t a l
Essa intervenção na forma de organização apropriação 2 .
dessas entidades determinou a fragmentação de
Dentre os autores que buscaram outras
suas lutas, separando, por exemplo, sindicatos
formas de entendimento sobre território, poder
de uma mesma categoria pela sua base territorial.
e territorialidade encontramos Claude Raffestin.
Ou seja, inibiu um maior contato entre as
Para o geógrafo suíço o território “[...] é o
agremiações das áreas menos industrializadas
resultado de uma ação conduzida por um ator
com seus congêneres do Centro Sul do país.
sintagmático (ator que realiza um programa)
A fim de compreender melhor essas em qualquer nível)”(RAFFESTIN, 1993, p.143).
mudanças, definimos metodologicamente um
Baseado largamente nas concepções
recuo histórico antes de 1930 e também a
foucaultianas3 de poder, o autor diverge da ideia
d iscussão concei tual sobr e te r ri tóri o e
que admite o Estado como única fonte dotada
territorialidade.
de ação no território, como fica evidenciado nas
suas cr íticas à chama da Geografia Política
Território e Territorialidade: Principais clássica, ao afirmar que “[...] em vez de se
Fundamentos. interessar por qualquer organização dotada de
poder político suscetível de se inscrever no
Na história da ciência, os estudos sobre
espaço, a Geografia Política só vive, e em
território e territorialidade foram objetos de
conseqüência, só fez a análise de uma forma
preocupação de vastas áreas do conhecimento,
de organização: a do Estado.” (RAFFESTIN,
como a botânica e a zoologia, por meio dos
1993, p.28)
trabalhos de naturalistas do século XVIII ou
mesmo pela Etologia de Auguste Comte, para As ab ordagens de Raff estin sobre a
citar os principais. (MORAES, 1984, p. 91) relação território e poder, permitem produzir “[...]
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uma Geografia Política que dê conta das formas as diversas formas de territorialidades. Baseando-
novas e complexas de exercícios de poder, em se nas análises de Sack (1980), o autor mostra
sua relação com o espaço, que propriamente com que a territorialidade não deixa de ser uma
o Estado em si”. (COSTA, 1988, p.24) estratégia de controle, visto que é a partir dessa
ação no território que se pode controlar recursos
A partir dessas teorizações, o monopólio
ou mesmo impor novas relações.
do poder sobre o território não se fixa apenas e
tão somente na ação estatal, sendo que outros Para o autor, o conceito de territorialidade
agentes sociais, como os sindicatos, por exemplo, deve ser usado também
aparecem como organismos de grande atuação
“[...] para enfatizar as questões de ordem
no território, questionando em alguns casos,
simbólico-cultural. Territorialidade, além da
m esmo q ue si mb ol ica me nt e, a estr ut ura
acepção genérica ou sentido lato, onde é vista
dominante determinada pelo poder central.
como a simples qualidade de seu território, é
Sendo assim, as ações dessas entidades muitas vezes concebida em um sentido estrito
não podem ser ocultadas, visto que muito embora como a dimensão simbólica do território”
a relação poder-Estado-território seja a mais (HAESBAERT, 2004, p. 74).
evidente, alguns Entendemos a partir dessas teorizações
“[...] mecanismos políticos se desenvolvem que o conceito de territorialidade pode ajudar-
através da atuação da sociedade civil em sua nos a compreender as práticas dos sindicatos no
relação com as formas institucionalizadas do território antes de 1930, e também quais foram
poder. [.. .]Tais mecanismos, aq uel es q ue as consequências das intervenções estatais
interferem nessa relação [poder-território] nessas ações territoriais, quando da chegada ao
de senv olv em- se através das formas e poder de Getúlio Vargas.
organizações já conhecidas como partidos, O território não pode ser entendido como
sindicatos, entidades, etc“ (COSTA, 1988, p.24). área de atuação de um único agente (o Estado),
Outro autor importante nessa discussão pois outros organismos, entre eles os sindicatos,
metodológica é Rogério Haesbaert (2004), que também atuam nele.
aponta pelo menos três concepções básicas de Partindo dessa premissa, trabalharemos
território: a política ou jurídico-política, a mais a di ante com a s di v er sa s form as d e
difundida, na qual o território é visto como um territorialidades impressas pelo movimento
espaço delimitado e controlado, através do qual sindical no território nacional, e como o Estado, a
se exerce um determinado poder, na maioria das partir da Revolução de 1930, interferiu nessa
vezes – mas não exclusivamente – relacionado dinâmica.
ao poder político do Estado; a cultural ou
simbólica, na qual o território é visto, sobretudo,
como o produto da apropriação/valorização de um As territorialidades do movimento
grupo em relação ao seu espaço vivido; e a sindical no Brasil no início do século XX aos
econômica, aquela que enfatiza a dimensão anos de 1930
espacial das relações econômicas.
Antes de analisarmos as ações territoriais
Desta forma, o autor necessariamente dos sindicatos, buscaremos entender o processo
multiplica as possibilidades de entendimento de industrialização que acontece em fins do século
acerca da relação poder-Estado-território, ao XIX e início do século XX.
considerar outras formas de análise e não apenas
Est ud ad o por d iv er sos a ut or es, a
a político-jurídica.
compreensão do processo de industrialização
Ao ampliar as análises sobre o território e suscitou grandes debates. Dean (1971) defende
seus agentes, Haesbaert (2004) discute também a t ese de q ue esse p roce sso ocorr eu,
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principalme nte, com a entrada d e capitais de organização social desejado pela classe
e st ra ng ei ros q ue che ga vam à s ca sa s operária numa possível sociedade futura, no qual
importadoras que trabalhavam com bens de “na feder ação livre, grupos aut ônomos de
produção, e que posteriormente foram aplicados trabalhadores podem e sabem melhor que outros,
na indústria. Mello (1982) declara a grande organizar diretamente a produção e o consumo,
importância dos capitais advindos da economia ou todas as funções sociais úteis e necessárias”
cafeeira. (SFERRA, 1987, p. 19).
Com uma perspectiva diferente, Martins Para os anarcossindicalistas, a greve,
(1986) destaca que não foi necessariamente o principalmente a greve geral, era um instrumento
café que propiciou o surgimento de uma economia de luta que possibilitava conquistas parciais à
monetária, pois desde o século XVIII algum tipo classe trabalhadora, como aumento de salários,
de economia exportadora existia em São Paulo, diminuição da jornada de trabalho, etc, mas
e por isso conclui que“o aparecimento da indústria também era um aprendizado na forma de como
está vinculado a um complexo de relações e a classe deveria se organizar.
produtos que não pode ser reduzido ao binômio Ta is a ções ser ia m pa ut ad as e m um
café-indústria” (MARTINS, 1986, p. 106). 4 relacionamento autônomo entre as entidades de
Concomitantemente à industrialização, classe, de forma
houve a formação da classe operária, composta “que a união da categoria evolua para a união
em sua maioria por imigrantes, principalmente d a cl asse t r ab al ha dora como um todo,
europeus, que a o p aí s v inham em grande formando um exército compacto e disciplinado
número5. para o evento final, que é a transformação da
Sem quase nenhum amparo social do sociedade capitalista em uma nova sociedade,
Estado e vivendo em uma condição de grande na qual t udo sej a p ropr ie da d e dos que
penúria, esses trabalhadores começaram a se produzem: os trabalhadores” (SFERRA, 1987,
organizar, primeiro em sociedades de apoio mútuo p. 27).
e depois em sindicatos. Ainda que o movimento sindical, em larga
G ra nd e pa rt e d essa s org anizaçõe s medida, estivesse concentrado na região sudeste,
sindicais, em sua maioria anarcossindicalistas, principalmente nos estados do Rio de Janeiro e
sobrevivia em um ambiente no qual havia pouca de São Paulo, até 1920 ocorreram três congressos
intervenção estatal (quase sempre a intervenção nacionais.
se resumia à re pressão), dep ende ndo das O I Congresso Operário Brasileiro realizou-
cotizações de seus filiados para sobreviverem, o se no Rio de Janeiro, de 15 a 22 de abril de 1906,
que possibilitava que fossem independentes, mas e contou com a participação de representantes
também efêmeras. de vários estados, como a Federação Operária
Embora fossem anarquistas, ou seja, de São Paulo, a Federação Socialista Baiana e o
Centro Protetor dos Operários de Pernambuco.
d ef ende ssem a de st ruição do Est ad o e a
autogestão operária, os anarcossindicalistas Nesse encontro foram afirmados alguns
entendiam que a educação política ou mesmo a princípios anarcossindicalistas, tais como a
ação direta não poderia estar desvinculada da autogestão, o federalismo, a autonomia nas
organização dos trabalhadores em órgãos de diversas esferas, o enfrentamento de classes e a
resistência, visto que essas entidades seriam os necessidade de criação de sindicatos de ofícios
veículos para a conquista de uma sociedade mais vários, quando a categoria não conseguisse ainda
justa. ter uma organização independente.
Desta forma, a organização interna de um A maior concentração de entidades estava
sindicato anarcossindicalista, espelharia o modelo no antigo Distrito Federal (atual cidade do Rio de
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Janeiro), com 21 associações, o que revela “a se dava na repressão ao movimento operário


estreita correlação entre a concentração da por meio das investiduras policiais. Entretanto
atividade industrial e a aglutinação da mão-de- surgiram algumas leis trabalhistas.
obra assalariada” (BERNARDO, 1982, p. 43).
Uma importante lei do período foi o
Como resultado de sse congresso foi decreto nº 1637, de 05 de Janeiro de 1907. Um
l a nça d o e m 1 9 0 8 o j or na l “A Voz d o dos artigos centrais desse decreto versava sobre
Trabalhador”, periódico de grande importância a questão territorial. Dizia o artigo:
para a a rticulação do movim ento operá rio
“Os sindicatos terão a faculdade de se
nacional, bem como formada a Confederação
federar em uniões ou sindicatos centrais,
Operária Brasileira, claramente influenciada pela
sem limitação de circunscrições territoriais
CGT francesa. 6
( gr i f o n o ss o ) . A s f e d e r a ç õ e s t e r ã o
O I I Cong r e sso O pe r á r i o Bra si l e i r o personalidade civil separada e gozarão dos
ocorreu entre 8 e 13 de setembro de 1913, no mesmos direitos e vantagens dos sindicatos
Rio de Janeiro, e contou com a participação de isolados” (Decreto nº 1637 apud MORAES
duas federações estaduais (Rio Grande do Sul FILHO, 1978, p. 186).
e Alagoas), mas também representantes de
Ao a n a l i s a r m os e ss e d e cr e t o
sindicatos de São Paulo, Amazonas, Rio e Minas
percebemos que o Estado não interferiria de
Gerais.
f o r m a si st e m á t i ca na s r e l a çõe s e n t r e os
Ne sse congre sso se re afir maram os sindicatos, fossem essas municipais, estaduais
postulados anarcossindicalistas e, ao contrário ou nacionais, propiciando a emergência de
d o 1 º con g r e s so, j á se v i a um a m a i or diversas relações intersindicais, algumas delas
or ga ni za çã o da cla sse ope rá ri a, f at o esse discutidas posteriormente.
demonstrado pela grande atividade sindical
Muito embora a lei permitisse inúmeras
ocorrida entre os dois congressos.
relações interterritoriais entre os sindicatos,
Isso aconteceu devido à predominância possuindo forte influência federalista 8 , não
de intensas greves no período que vai do 1º ao podemos afirmar categoricamente que a lei
2 º C on g r e sso, b e m co m o a l u t a d os incentivou as inúmeras territorialidades sindicais
trabalhadores em se oporem à lei Adolfo Gordo 7, existentes, visto que, em várias situações essas
que determ inava a expul são de milita ntes relações não levavam em consideração, por
operários imigrantes. e xe mp lo, a di vi sã o polí ti co-a dm inistrat iva
vigente.
O III Congr esso Op erá rio Brasi lei ro
realizou-se entre 23 e 30 de abril de 1920, no As múltiplas territorialidades sindicais
Rio de Janeiro, contando com a participação de desse período ocorreram, para nós, muito
150 delegados, representando cerca de 75 m a i s p e l a p r ed o m i n â n ci a d a s i d e i a s
associações sindicais de vários estados como anarcossindicalistas nos sindicatos, do que
Amazonas, Pará, Paraná, São Paulo e Rio de propriamente pelo poder da lei.
Janeiro.
A p r e se nça d e ssa i d e ol og i a ne ssa s
Esses três congressos demonstram uma e n t i d a d e s p r o p i c i a va um a or g a n i za ç ã o
grande presença sindical no território nacional, horizontal, federalista e largamente baseada em
si ndi ca t os se nd o e ncont ra d os e m r e gi õe s laços de afinidades.
afastadas do grande centro industrial, como nos
Um movimento operário fundamentado
estados do Amazonas e do Pará, por exemplo.
nesses princípios possibilitava a existência de
Nesse período inicial (até meados da redes de solidariedade entre os trabalhadores,
década de 1920), a principal intervenção do e d inâm icas terr itori ais b asea das, única e
Estado nas relações entre o Capital e o Trabalho exclusivamente, em suas necessidades.
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Para os sind icat os de ori enta çã o poucos ia se tornando nacional 9 (MOREIRA,


anarcossindicalista 1985, p.80).
“organizar é levar a classe trabalhadora a se Desta forma, percebemos que mesmo
associar em ligas operárias, uniões de ofícios, com todas as dificuldades na organização dos
associações e sindicatos, que são o centro de sindicatos, os operários estavam atentos aos
l iv re d iscussã o e ed ucaçã o no q ua l o m ov i me ntos q ue ocor r ia m no p a ís, q uase
proletariado aprende que sua emancipação sempre realizando manifestações de apoio.
econômica será obtida por meio da união da
A estruturação do funcionamento da
classe, mas não para reivindicar e mendigar
C o nf e d e ra çã o O p e r á r i a B ra si l e i ra e a
reformas no sistema de trabalho, na espera
nece ssi d ad e de sup era ção dos ob stá culos
que estes façam leis e melhorem sua situação.
criados pela extensão territorial que, de alguma
Os trabalhadores, unidos nessas associações,
forma, dificultava a organização das entidades
discutem e formulam propostas com o intuito
si nd i c a i s d i s t a n t e s d os g ra nd e s ce nt r o s,
de solidários, tomar uma ação conjunta e impor
propiciaram a presença de diversas relações
seus interesses por meio da resistência e
interterritoriais entre os sindicatos.
pressão direta constante sobre os donos do
capital”(SFERRA, 1987,p. 63). Até o início dos anos de 1930 havia uma
grande pluralidade sindical, ocorrendo às vezes
Essa maciça presença libertária nos meios
presença de duas entidades representando a
sindicais, junto a uma pluralidade de entidades,
mesma categoria, em uma única base territorial.
permitiu várias articulações entre os sindicatos
Quand o isso ocorri a, não e ra incom um as
no país.
entidades procurarem um acordo. É o que
E m esmo t e nd o como ob st ácul o a vemos no caso dos padeiros do Rio de Janeiro
extensão territorial do país e as precárias
“Sindicato dos Operários Panificadores
condições de comunicação (visto que até 1922 o
p ri ncip al me io d e com unicaçã o eram os Em assembléia jeral realizada no dia 8 do
telégrafos), quando ocorria um movimento de co r r e n t e , para r e zo l v e r so b r e a
grande expressividade nos meios operários, sua regulamentação do trabalho a seco, ficou
ressonância atingia regiões afastadas do eixo Rio- rezolvido por unanimidade fixar o número em
São Paulo. 2$ diários, para a manutenção de todos os
tr abal hadores em pad aria s, d epe ndendo
Foi o que aconteceu na Greve Geral de
somente da aprovação da sua co-irmã, a liga
1917 em São Paulo. Embora surgisse limitada a
federal dos empregados em padarias”(A VOZ
uma categoria (têxteis), o movimento paredista
DO TRABALHADOR, 15/02/1914, p.04).
logo se alastrou pela cidade, tendo ocorrido
greves de solidariedade ao movimento em várias Um fato também interessante de se
localidades do Estado (Campinas, Sorocaba, analisar ocorreu com a categoria de pedreiros
Jundiaí), no Rio de Janeiro, em Curitiba e, em e estucadores. Vejamos o caso.
á re as m ai s a fa st ad a s, f ora m nota da s
“Brazil Operário
manifestações de solidariedade, como Recife,
Manaus e Belém. (LOPREATO, 2000) Estado do Rio
Para Moreira (1985), as greves gerais Ni t er ó i – O si n d i c a t o d e p ed r ei r o s e
que ocorreram no período de 1917 a 1920, estucadores de Niterói comunica-nos que
demonstram certa maturidade do movimento tem havido uma grande ajitação naquela
operário brasileiro, visto que já se organiza cidade, e que muitos operários desta capital
nacionalmente e sob uma única orientação, estão ali trabalhando sem pertencerem
acompanhando dessa forma a dinâmica da a qu el e sin di ca t o ou a o S in di cat o do s
economia fabril que, outrora regionalizada, aos estucadores do Rio.
As territorialidades dos sindicatos no Brasil
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Informa-nos ainda que, para poderem trabalhar Maranhão, Ceará e Piauí; o norte, com sede em
é precizo que esses operários aprezentem o Recife, compreendia os estados de Pernambuco,
recibo de sócio quite do Sindicato do Rio, ou Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e
cazo não estejam ainda associados, filiarem- Bahia; o centro, com sede no Rio, compreendia o
se a qualquer um dos sindicatos desta capital antigo Distrito Federal, o estado do Rio, e Minas
ou de Niterói”(A VOZ DO TRABALHADOR, 15/ Gerais (excetuando o sul e o triângulo mineiro);
12/1913, p.03). o sul, com sede em São Paulo, compreendia os
estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, o
Nessa reportagem, o jornal aponta, em
Triângulo Mineiro e o Sul de Minas e por fim, o
primeiro lugar, a força do sindicato de estucadores
e xt re mo sul , com sed e em Port o Al eg re ,
e pedreiros, pois obrigava os donos de empresa
com pree ndia os Estad os d o Pa raná , Sa nta
a só aceitarem trabalhadores sindicalizados e
Catarina e o Rio Grande do Sul10.
quites com a contribuição.
Posteriormente o jornal aponta que os O estado de Minas Gerais, devido a sua
sindicatos de pedreiros do Rio e de Niterói extensão e particularidades econômicas, foi
p ropunham q ue os t ra ba lhad or es se d iv id id o em duas g ra nd es ár ea s pe los
sindicalizassem, independente da cidade em que sindicalistas, tendo em vista a organização do 3º
trabalhassem, ou seja, o mais importante era a Congresso Operário em 1920. O sul d e Mi na s
filiação ao sindicato, ocorrendo uma solidariedade Gerais (região que compreende a cidade de Poços
entre ambos, que não disputavam o mesmo de Caldas) e o triângulo mineiro (compreendendo
trabalhador e sua contribuição. as cidades de Uberaba e Uberlândia) foram
de sme mbrad os e a grupad os na se ção sul,
A análise dos documentos operários capitaneada por São Paulo.
permitiu observar, no que tange às relações
territoriais dos sindicatos, a presença de uma Esse desmembramento do Estado de
exte nsa gama de possibilidad es, base adas Minas Gerais em três departamentos (Minas
livremente em suas necessidades mais urgentes. Gerais, Triângulo Mineiro e Sul), sendo os dois
últimos liderados pela cidade de São Paulo, pode
Nesse sentido, se no primeiro caso houve demonstrar a clara influência econômica da capital
a possibilidade de duas representantes da mesma paulista sobre essas regiões mineiras.
categoria, na mesma cidade, chegarem a um
acordo, vemos no segundo caso que, ás vezes, Interessante anotar que essa divisão
operários se filiavam aos sindicatos não ligados geográfica ou regionalização do espaço ocorria
estritamente à base territorial que a indústria desde a década de 1910 e determinava os
ocupava. vínculos entre os sindicatos e as federações
operárias.
Para os sindicatos dos estucadores era
mais importante ter o trabalhador sindicalizado, Um dos principais exemplos foi a Liga
independente da base territorial a que ele estaria Operária de Poços de Caldas, nas Minas Gerais,
vinculado pelo trabalho. que optou por se filiar à Federação Operária de
São Paulo desde a sua fundação, ocorrida em
Como forma de facilitar a organização do
1914 (DIAS, 1977, p.286).
3º Congresso Operário Brasileiro em 1920, os
sindicalistas resolveram dividir o país em 5 A liga operária dessa cidade mineira então
r eg iões, na s q ua is os sindi ca tos e st ar ia m estreitava laços com uma federação operária
subordinados a um grande centro industrial. Essa muito mais organizada e consequentemente mais
d iv isão l e va va e m consi de ra çã o a sp ectos ativa.
locacionais mas também socioeconômicos.
E ss a r e l a çã o o c o r r i a g ra ça s à
O extremo norte, com sede em Belém, proximidade territorial, mas também à força
compreendia os estados de Amazonas, Acre, da indústria paulista na região mineira,
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levando alguns sindicatos a se organizarem dos principais sustentáculos do poder e, por


conforme essa dinâmica. isso, mereceria um melhor ordenamento, já que
e r a g e r i d o, a t é e nt ã o, d e f o r m a p ou co
Outro caso de territorialidade que não
centralizadora.
se limitava à divisão político-administrativa,
ocorreu em 1920, no Pará, quando a Aliança Como afirma PENHA (1993)
dos Empregados em Comércio e Indústria, se
filiou à sua congênere do Rio de Janeiro. Diz a “[...] o território, neste particular, adquiriu
base de acordos da entidade paraense: uma discussão política bastante significativa.
A intenção de Vargas de tornar o Estado de
“Art. 5º - A Aliança será filiada à Federação dimensões tão vastas quanto o país, tinha o
dos Trabalhadores do Rio de Janeiro e à sentido de redimensionar espacialmente o
Confederação Operária Brasileira sempre que alcance das políticas governamentais nas
estejam baseadas no acordo com os fins da quais o controle da população (mercado/
aliança e mantenham a mesma orientação de na çã o) e o t e r r i t ór i o ( p a í s ) e r a m
que trata e mantenham a mesma orientação condicionante fundamental não só para a
de que trata o art. 3º destas bases”. consecução destas políticas, como também
E explicando os motivos de tal filiação p a r a a p r óp r i a cons ol i d a çã o d o Es t a d o
afirma: Nacional” (PENHA, 1993, p. 63).
“ [ ...] [ os t r a b a l ha d o r e s] r e sol v e r a m a Concomitantemente a essa intervenção,
fundação da Aliança dos Empregados no ocorreu também um cerceamento das ações
Comércio e Indústria do Pará a qual será territoriais dos sindicatos existentes (seja de
composta de empregados do comércio e e m p r e s á r i o s, mas p r i n ci p a l m e nt e de
casas industriais e será filiada á Aliança dos trabalhadores) por meio de uma lei que criava
Empregados no Comércio e Indústria do Rio a unicidade sindical no país.
d e Ja ne i r o, a f i m de com e st a e out r a s
associações do pa iz f und ar a Fede ração Em 1931, o Estado promulga o decreto
Nacional dos Empregados do Comércio e nº 19.770 que extinguia a pluralidade sindical
Indústria”. 11 e i nst i t ui a ob r i g a tor i e d a d e d e um úni co
sindicato por categoria e base territorial.
Com a revolução de 1930, o governo que
assumiu impôs uma intervenção mais forte do Es sa p ol í t i c a estat al m od i f i c ou
Estado nas relações entre o trabalho e o capital. completamente a forma de organização interna
Foi criado em 26 de Novembro de 1930, por e territorial dessas agremiações. As entidades
m e i o d o d e cr e t o 1 9 .4 3 3 , o M i ni st é r i o d o si nd i c a i s f or a m obrigadas a se r e m
Trabalho, Indústria e Comércio, que teria a ‘reconhecidas’ pelo Ministério do Trabalho.
incumbência de, nas palavras de Getúlio Vargas, Ta l p o l í t i ca p r o cur ou c l a r a m e n t e
“[...] substituir a luta de classes negativista e co nt r o l a r q ua i sq u e r a çõe s t e r r i t or i a i s
e st ér il , pe lo conce it o or gâ ni co e j usto d e
determinadas por setores da sociedade civil,
colaboração entre as classes” (Apud BERNARDO,
independente de serem ou não divergentes da
1982, p. 84).
estrutura oficial.
O Estado passou a ter um controle sobre
Nas palavras de Oliveira Vianna (1951),
a sociedade, e desta forma, os sindicatos,
principal técnico do Ministério do Trabalho na
g r a ça s á s ua p l ur a l i d a d e e m ob i l i d a d e
década de 1930, a intervenção foi necessária
e x i st e nt e s , s ur g i a m c om o e l e m e nt os
para “de um lado, a eliminação do espírito de
perturbadores dessa nova ordem.
localismo e de outro, a eliminação do espírito
Esse controle, que foi iniciado logo após de internacionalismo”. E completa o raciocínio,
a revolução de 1930, tinha o território como um afirmando que:
As territorialidades dos sindicatos no Brasil
do início do século XX aos anos de 1930, pp. 59 - 70 67

“[...] do Amazonas ao Rio Grande por todo o revolucionária, procurava ampliar sua área
Bra si l, os nossos hom ens do tr ab al ho, territorial de ação, essa proposta era negada pelo
i nd iv id ua l me nt e ou ag rupa dos nos seus Ministério do Trabalho.
sindicatos voltam, na sua unanimidade, o seu
É o que vemos no parecer do Ministério
pensamento para aqui, para o centro político
do Trabalho, publicado na Revista do Trabalho.
da Nação, como agulhas imantadas atraídas
por um pólo magnético”(VIANNA, 1951, p. 90). “Um syndicato local não pode estender sua
jurisdicção a outra localidade em que haja
O discurso oficial, representado aqui pelas
syndicato da mesma profissão devidamente
palavras de O.Vianna, demonstra a clara intenção
reconhecido.
do governo revolucionário de 1930 de centralizar
e direcionar as ações territoriais dos sindicatos. I -N ão há ma rg em l e ga l de a mp ar o a
O objetivo dessa ação estatal foi aparelhar reclamação da Associação de Operários de
i nt er na me nt e os si nd icat os, m as t am bé m América Fabril. Trata-se de um syndicato local,
delimitar a sua área de influência, ou seja, com sede no Districto Federal, que pretende
fragmentar as ações dos sindicatos no território extender o seu raio de actividade a municípios
nacional, obstando, por exemplo, a formação de de outros Estados, ou seja, até Pau Grande,
uma rede nacional difusa, porém organizada. Districto do Município de Magé, Estado do Rio
de Janeiro” (REVISTA DO TRABALHO, 1937).
O processo de controle dos sindicatos
permitiu Esse caso demonstra a atuação do Estado
na ação territorial dos sindicatos proibindo uma
“[...] a criação de um conjunto muito grande ampliação da área de influência.
de sindicatos por categorias profissionais e
d iv id id os te rr it ori al me nte p el os li mi te s O enquadramento do sindicato possibilitou
a dm inistr a ti vos muni cip ai s se m mais do que um simples controle. Ele promoveu
necessa ri am e nt e esta r v incula do à s uma maior fragmentação da classe operária e
manifestações da dinâmica do trabalho, ou á di fi cult ou a org anização t er ri tori al d essa s
l ut a dos tr a ba lhad or es p r op ri am ente ” entidades.
(CARVALHAL, 2004, p. 23). Enquanto na República Velha alguns
Com o Decreto nº 24.694, de julho de sindicatos unificavam-se com seus congêneres
1 93 4, a s r el açõe s e nt re os sindi cat os d e mais organizados, como forma de fortalecer seus
trabalhadores ficaram cada vez mais restritas. Em laços na luta contra o capital14, a partir de 1930,
que pese eles poderem formar uniões municipais essas ações seriam dificultadas, estimulando-se,
ou me sm o naciona is, e sses sind icat os só com a lei de sindicalização, o surgimento de
p od er ia m e fe ti va r essa uniã o, de sd e que sindi ca tos sem q ua lq uer e xp re ssi vi da de ,
p ossuísse m si ndi ca tos na esca la l ocal , compostos por uma burocracia desinteressada
diferentemente dos sindicatos dos empregadores pelas demandas de seus associados.
que poderiam se unir independentemente de sua
Para nós, a a çã o e st at al i mp ôs a o
organização na escala local. 12
operariado uma fragmentação territorial, já que
Desta forma, enquanto aos empresários circunscreveu esse movimento à rígida divisão
e ra f acul ta d a a op çã o de se r euni re m administrativa oficial, dinâmica essa que não seria
nacionalmente, sem necessariamente terem necessariamente a seguida pelo capital.
sindi ca tos l ocai s, a os trab al ha d or es e ssa
possibilidade era negada, enfraquecendo sua N esse senti do, as açõe s do Est ad o
organização e concomitantemente suas lutas. 13 p romove m a p ul ve ri zação d as luta s dos
trabalhadores e transformam os sindicatos em
E quando algum sindicato, mesmo que org anismos a ssistenci alistas. Como afi rma
r econhe ci da m ente não send o de m at ri z Moreira (1985)
68 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 PAULA, A.E.H.

“Dissolvendo a regra básica anarcossindicalista entidades, controlando os sindicatos mais fortes


de deixar a forma de organização sindical e obstando o fortalecimento das categorias que
entre gue às de terminaçõe s das próprias estavam em fase de amadurecimento e que
necessidades da movimentação operária o necessitavam unirem-se aos seus companheiros
Estado cria o sindicato único, padronizado, de luta.
sendo características dessa padronização o Mais ainda, trouxe para o interior da classe
particularismo, o paralelismo e o verticalismo. operária uma maior fragmentação territorial e de
[...] O critério da correlação categoria-território categorias, o que a médio prazo dificultou
destina-se à desagregação da unidade das quaisquer possibilidades de formação de amplas
ações do operariado sobre a base da reiteração uniões nacionais (como a formação de uma
da divisão técnica do trabalho capitalista, central) ou mesmo de diversas categorias em
submetendo-as, na segregação categorial- busca de um resultado comum (como a que
territorial, à tutela ministerial” (MOREIRA, ocorreu na Greve Geral de 1917).
1985, p. 108).
Essa ação esta ta l, ao i nt e rf er ir na
Ao delimitar a área de atuação do sindicato organização interna e de relações dos sindicatos,
quase sempre circunscrita à divisão geográfica contribuiu para o surgimento de uma organização
oficial, o Estado conseguiu diminuir as relações sindi ca l ma is enfraq ue ci d a, t ot al me nt e
i nt er municip ai s e i nt er - re gi onai s d essa s dependente e de limitada ação territorial.

Notas
1
Como aponta Costa (1988) “O regime político Movimento Operário no Brasil 1890-1920, p.13.
imposto ao país pelos golpistas é marcadamente No caso do Estado de São Paulo, em 1920, 70%
autoritário e centralizador”. (COSTA, 1988, p.44) do operariado e 64,2 % dos donos de indústrias
2 eram imigrantes. Para mais detalhes sobre a
Para a Antropologia, território é o espaço pelo qual um
comp osição i migrant e na in dústria ver:
grupo étnico tem acesso aos recursos que tornam
BERNARDO, Antonio Carlos. Tutela e Autonomia
possível a sua reprodução material e espiritual. Para
uma análise crítica dessa conceituação ver em : Sindical, p.19.
Moraes, Antonio Carlos Robert . Geografia, 6
A CGT- Confederation Generale du Travail – é uma
Capitalismo e Meio Ambiente, p.45. organização sindical nascida em 1895 e que a
3
O poder para Foucault não pode ser localizado em partir de seu congresso de 1906 ( no qual adotou
um único ponto, como o Estado, por exemplo. a Carta de Amiens) tornou-se adepta de várias
Ele é relacional, dinâmico, mantém ou destrói proposições anarquistas, como a ação direta, o
grandes esquemas de dominação, numa grande apoliticismo, o federalismo, funcionando como
correlação de forças. Ver mais em: Foucault, órgão de resistência dos operários na luta contra
Michel . Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: o Capital e o Estado. Na década de 1920, cisões
Graal, 1995. internas fizeram a Confederação mudar suas
p ro po si ç õe s á crat as , t or n an do -s e
4
Uma melhor compreensão de algumas das várias majoritariamente comunista.
concepções sobre o processo de industrialização
7
no início do século XX, está em Suzigan, Wilson. A Lei Adolfo Gordo, de 07 de janeiro de 1907,
Indústria Brasileira: Origem e Desenvolvimento. p re vi a a e xp ul sã o d e es tran g ei ro s qu e
São Paulo: Editora Brasiliense, 1986. com prom etes sem a ord em n acio nal, ao
5
participarem de greves e manifestações.
Dados apontam que entre 1871 e 1920 entraram
8
no país 3.390.000 pessoas, conforme MARAM, Moraes Filho (1978) aponta que essa lei foi
Leslie Sheldon. Anarquistas, Imigrantes e o largamente baseada na legislação sindical
As territorialidades dos sindicatos no Brasil
do início do século XX aos anos de 1930, pp. 59 - 70 69

francesa de 1884, a qual permitia grande com o objetivo de promover o desenvolvimento e


pluralidade sindical. a prosperidade dos diversos ramos da indústria,
9
concorrendo quando possível, para a formação nos
“Assim, quanto mais o espaço molecular se unifica
Estados, de associações congêneres de maneira a
e se torna nacional, mais se unifica e se torna
estabelecer com segurança a federação dos
nacional o operariado. [...] Como que em claro
interesses industriais no Brasil” (BERNARDO,
enunciado dessa configuração escalar, no
1982, p. 13).
período 1917-1920, o movimento operário
13
paralisa nacionalmente o trabalho em greves É o que afirma Costa (1986), comentando esse
que vão se sucedendo de um para outro lugar, de cret o: “ Os s indicat os d e em preg ador es
sob uma só orientação e programa, do Rio poderiam constituir-se por profissões ou atividades
Grande do Sul ao Pará, em “greves gerais” por exercidas numa mesma localidade, num mesmo
todo o país (RS, SP, RJ, BA, PE, PA), anunciando ou em vários Estados ou em todo o País. Já no
sua m aturidade como suje ito histó rico” caso dos empregados, os seus sindicatos deveriam
(MOREIRA, 1985, p. 80). ser apenas locais. Somente em situações especiais,
10
atendendo às condições peculiares a determinadas
Conforme Boletim da Comissão Executiva do 3º
profissões, o Ministério do Trabalho, Indústria e
Congresso Operário, p.4.
Comércio fixava, aos sindicatos respectivos, uma
11
Trechos extraídos do jornal A Voz do Trabalhador base territorial mais extensa. Neste caso, portanto,
– Pará- nº07 e 08. fica patente a intenção de limitar, em termos
12
te rritoriais , a or ganizaç ão sin dica l d os
Interessante perceber que, no limiar do século
trabalhadores, reduzindo a possibilidade da
XX, já existia um centro congregando indústrias
formação de um sindicato mais forte, com um
nacionalmente, sem que necessariamente
poder de barganha maior” (COSTA, 1986, p. 36).
existissem bases locais. Como aponta Bernardo
14
(1982): “De fato, em 1904 os empresários Como vimos no caso de um sindicato do Pará em
industriais criaram o Centro Industrial do Brasil aliança com o sindicato do Rio.

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Trabalho enviado em outubro de 2009


Trabalho aceito em dezembro de 2009

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