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Tenho a impressão que a dificuldade de concentração no texto é um dos maiores desafios dos

redatores.
Nos últimos anos, vi de perto como é difícil e raro que um redator se dedique a um texto inteiro
sem interrupções, sem distrações e sem ser cooptado por redes sociais, chats e links aleatórios.
Para o redator freelancer (e para qualquer um que é remunerado por tarefas), o tempo é um
artigo muito valioso: quanto mais ele demora para concluir o trabalho, menos dinheiro ganha,
pois fica impossibilitado de assumir mais jobs. Da mesma forma, um blogueiro que produz dois
posts de qualidade por dia alcança audiência maior do que o blogueiro que se contenta com um
só.
Além de prejudicar o faturamento, essa dificuldade de atenção e organização do tempo leva
muita gente boa a atrasar as entregas para o cliente. E aí a situação piora ainda mais, porque o
cliente logo deixa de confiar nesse redator.
Até aí, a situação já parece preocupante. Mas esse desafio é ainda maior: um texto que não
recebe a devida atenção (me refiro ao foco absoluto, em que o texto é a única e mais importante
coisa que existe), que é tratado pelo redator como uma de suas 33 atividades em execução
naquele momento, vai conter erros, imprecisões e carecer de um acabamento mais refinado.
Então, a dificuldade em organizar o tempo e em manter a atenção absoluta no texto leva o
redator a escrever menos, ganhar menos e escrever pior.
Por tudo isso, acho que vale a discussão e a troca de ideias: como você lida com o seu tempo e
como tenta driblar tanta gente (e tantos dispositivos, e tantas plataformas) tentando chamar a
sua atenção enquanto você precisa manter a cabeça no texto?
Esse debate foi lançado lá no nosso grupo no Facebook, o Laboratório do Redator Hacker. Se
quiser participar, este é o link: ​https://www.facebook.com/groups/laboratoriodoredator/
Como essa é uma questão que já nos afligiu muito (tanto na posição de editores à espera de
texto quanto na função de redatores à espera do foco no trabalho), produzimos algumas regras
de conduta que vão ajudar bastante quem sente dificuldade em produzir bem e finalizar o dia no
horário, com todas as tarefas feitas e a cabeça no lugar.

Regra número 1: defina quais são as tarefas da semana


Visualizar a semana inteira de trabalho parece simples para quem tem a carteira assinada e
cumpre um horário específico, mas esse não é o caso da maioria dos redatores por aqui.
Por isso, a regra básica, a essencial, é entender exatamente o que você precisa fazer ao longo
da semana. Quais são os textos, quais são os prazos de entrega, quais são as estimativas de
tempo para cada um, quantas reuniões com cliente você terá, quantas alterações no portfólio
você fará, quantas publicações em redes sociais, quantas interações em grupos, quantas
edições em sistemas de publicação, quantas ações de busca de oportunidades e expansão da
clientela, etc.
Não sabe por onde começar? Sem problema. A maioria dos redatores vive uma rotina caótica
mesmo. Mas esse é um dos motivos pelos quais a gente prega que a concorrência na área é
menor do que você imagina. Basta se organizar, aprimorar seu texto e botar a cabeça no lugar.
Então, melhor abrir logo uma planilha do Drive e começar a assinalar todas as suas tarefas da
semana.
Depois de ter mapeado tudo, estabeleça um dia para repetir essa operação na próxima semana.

Regra número 2: estabeleça um cronograma diário


Só depois de adotar a regra número 1 é que você poderá estabelecer horário para cada tarefa e
assim planejar melhor seu dia. Para criar seu cronograma, use uma planilha (pode ser uma nova
aba na planilha anterior) que delimite a tarefa, a descrição da tarefa, o horário de início e fim.
Sim, não é fácil estabelecer exatamente o tempo que você levará em cada texto e em cada uma
das frentes de batalha na sua rotina. Mas é importante fazer uma estimativa inicial. Ao longo das
semanas, você vai descobrir, finalmente, quanto tempo cada pedaço de conteúdo toma.
No fim das contas, essa pequena organização já vai fazer uma diferença enorme na sua vida.
Lembra aquela ideia antiga de ter um horário de trabalho, ganhar o fim de semana de volta e
estabelecer uma rotina mais saudável? Tudo começa por aqui.
Claro que não é tão fácil. Você vai falhar algumas vezes até acertar os ponteiros. A galera
criativa tende a procrastinar e enveredar por caminhos nada produtivos até que um raio de
inspiração (normalmente, o editor cobrando o texto) a motive a baixar a cabeça e trabalhar.
Mesmo assim, persista.

Regra número 3: deixe as redes sociais e os chats de lado


Há muitos estudos sendo lançados que lançam uma luz bastante assustadora sobre as redes
sociais e sobre nossos hábitos na internet. Ao que parece, essas recompensas que ganhamos
em interações, likes, compartilhamentos e visualizações acionam neurotransmissores como a
serotonina e a dopamina, aquela duplinha que inunda o cérebro de sensações boas após o
chocolate, o sexo e o exercício físico intenso.
É tudo lindo e crocante, mas esse paraíso sensorial vicia. E como os redatores trabalham na
frente do computador, conectados, com o celular por perto, estão ainda mais suscetíveis à
dependência do uso de redes sociais, chats e elementos de distração que nos levam para um
estado de consciência mais próximo do sonho do que da realidade.
Sabe quando você se dá conta de que passou um tempão vendo stories no Instagram ou
rolando a página do Facebook sem nem registrar exatamente o que você está vendo ou
fazendo? E sabe aquela sensação pesada de ter que abandonar esse estado para voltar a se
concentrar no texto, que parece uma tarefa pesada, árdua e intransponível?
Se não sabe, ótimo: pule para a próxima regra.
Mas a maioria entende exatamente do que estamos falando. Nesse caso, tenha consciência de
quanto tempo você gasta por dia em redes sociais, chats, vídeos, memes e distrações na
internet. Essas horas (sim, se você somar tudo, são horas, todo dia) podem ser aproveitadas
para o trabalho e podem multiplicar o seu faturamento.
Então, se fica difícil ver a utilidade da hora de trabalho, basta quantificá-la financeiramente.
Quanto vale a sua hora de concentração? Ou seja, quanto custa desviar a atenção do texto para
aquela discussão em comentários do Facebook?
Não precisa abandonar as redes sociais, até porque o redator, querendo ou não, depende um
pouco delas. Mas você precisa voltar àquele período de sua vida em que horário de trabalho
significava produzir e se movimentar para longe dessa tendência recente de misturar
completamente o dever com o lazer, de forma a não saber distinguir mais o que é o quê.
Isso vale não apenas para freelancers, mas também para produtores de conteúdo. Você pode
escrever sobre o que gosta, porém precisa escrever.

3 dicas rápidas para quem quer reduzir sua exposição às redes sociais
1) Baixe um bloqueador do Newsfeed do Facebook. ​Existe um para o Chrome​, e deve
haver outros para os demais navegadores. Com ele, você entra no Facebook à procura
de distração, mas encontra o espaço destinado a sua timeline em branco. Vale a pena.
Lembre-se: você pode acioná-lo apenas no horário de trabalho.
2) Bloqueie todas as notificações de apps do seu celular. Assim como na primeira dica,
você pode manter essa rigidez apenas durante o horário de trabalho e depois retomar as
configurações normais. Mas é um alívio ser menos bombardeado por pedidos de
atenção.
3) O WhatsApp não é necessariamente uma rede social, mas pode entrar nessa categoria
facilmente, pelo menos para os fins desta aula. Com tantos grupos e mensagens
chamando a sua atenção a todo momento, fica difícil se concentrar. Por isso, não ceda:
durante o expediente, use o celular apenas para receber chamadas (podem ser uma
emergência).

Regra número 4: treine a sua concentração


Se você chegou até aqui, provavelmente é porque concorda com nossa avaliação de que tempo
é dinheiro e de que nossa concentração vale ouro.
A boa notícia é que você pode treinar sua capacidade de se focar em uma única tarefa por vez.
Para isso, a primeira medida que você deve tomar é tomar consciência absoluta do motivo pelo
qual você está fazendo aquela tarefa.
Se é um texto, por exemplo, lembre-se: um bom trabalho dentro do prazo deve resultar em
novos jobs, em maior qualidade para o portfólio, em maior audiência e, no fim das contas, em
mais dinheiro.
Depois de recordar exatamente por que você está se dedicando às atividades que compõem a
sua rotina de trabalho, é hora de arregaçar as mangas.
Se você seguiu as regras anteriores, vai ser bem mais fácil. O objetivo aqui é prolongar o tempo
ao longo do qual você consegue manter sua atenção (absoluta) em uma mesma tarefa
(normalmente, o texto).
Observe o relógio ali no canto inferior do notebook. Que horas está marcando? Então se
programe: nos próximos 30 minutos, tudo que você pode fazer é escrever o seu texto e realizar
tarefas relacionadas, como a pesquisa. Nada de Face, nada de Insta, nada de Whats, nada de
Hangouts, nada de e-mail. Por meia hora, apenas o texto.
Normalmente, os redatores não sobrevivem nem a esse primeiro teste.
Se não conseguir, tudo bem: tente de novo. Você não é especial. Todo mundo falha, todo
mundo erra e todo mundo tem dificuldade em se focar nas tarefas que não são prazerosas.
Então, vamos à luta novamente.
Quanto tempo você conseguiu? Adicione mais cinco minutos na próxima rodada.
Isso não quer dizer que você nunca mais vai poder se distrair no meio do trabalho. Você pode,
sem problemas, determinar um período de recompensa de 10 minutos a cada 1h ou 1h30 de
trabalho, por exemplo. Em oito horas de trabalho, isso dá um bom tempo, mas você vai ver que
hoje se distrai ainda mais, por não conseguir manter os olhos no que realmente interessa.
Há muitas ferramentas e técnicas para ajudar nesse treinamento de atenção. Uma delas é o
Pomodoro, um sistema de gerenciamento de tempo que divide o seu foco em períodos de 25
minutos, com um intervalo para a diversão, digamos.
Com esse conceito, você encontra aplicativos como ​este aqui​. Ele é basicamente um
cronômetro em que você determina um tempo de concentração no trabalho e é avisado quando
esse período chega ao fim. Funciona, mas o esforço depende mesmo de sua vontade.

Regra número 5: crie seu ambiente de produção


A gente acredita que essas quatro regras acima vão ajudar muito na sua produtividade. Mas
dá para ir além.

Só que essa regra aqui depende de você. É hora de observar o seu comportamento. Como
você rende mais? Escutando música? Com som ambiente? Com heavy metal? Com a
televisão baixinha no fundo? Com um gatinho (animal de estimação) no colo? Bebendo
café? Tomando chá? Ingerindo litros de coca-cola (tomara que não)? Em qual cômodo? Em
qual posição? Com teclado móvel ou direto no notebook? Com mouse com ou sem fio?
Direto no Drive ou em outro software (Drive, por favor)? Com incenso? De madrugada, à
noite, de manhã, durante o dia inteiro?

Esses são apenas alguns elementos que podem compor o seu ambiente. Você precisa, de
fato, criar uma plataforma que facilite a sua concentração, a sua produtividade e a sua
organização. Esse trabalho depende apenas de você e de sua capacidade de encarar a
tela, o teclado e a pauta.

Chega de ler? Então volte para o texto.

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