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TOPOGRAFIA

Lucas Brandão Monteiro de Assis


,

2 DISTÂNCIAS

Apresentação
Como vimos no bloco anterior, a Topografia é a área da geodésia que estuda pequenas
porções da superfície terrestre; esses estudos são normalmente feitos a partir de
levantamentos topográficos, que são os processos de medições de grandezas lineares
ou angulares.
Neste bloco, vamos abordar um pouco mais os processos de medição de distâncias, ou
seja, das medidas lineares. A área da Topografia responsável pela medição de
distâncias é chamada de Gramometria.
Sabe-se que as medições de distâncias podem ser feitas por métodos diretos ou
indiretos, de acordo com os instrumentos e os métodos empregados. Cada
instrumento possui uma precisão e uma situação em que seu uso pode ser mais
apropriado.
Todas as medições envolvem, de alguma forma, um erro relacionado à grandeza que é
medida. É muito importante identificar as possíveis causas e fontes de erros para
tentar minimizá-los. Mas será que é possível eliminar completamente o erro de uma
medida?
Neste bloco, vamos abordar as diferentes distâncias topográficas que existem entre
dois pontos, os instrumentos e os métodos que são capazes de aferir essas distâncias e
falar sobre os erros de medição e como atenuá-los.

2.1 Distâncias topográficas


Como dito, a área da Topografia responsável pelo estudo dos métodos e instrumentos
de medições de distâncias é chamada de Gramometria. Mas antes de entrarmos
nesse assunto, você sabia que existem diferentes tipos de distâncias? Na Topografia,
geralmente, quando falamos em medir uma distância, estamos nos referindo à
distância horizontal que existe entre dois pontos e que está projetada sobre um plano
horizontal, perpendicular à vertical do lugar do ponto que está iniciando a medição.

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Essa distância é um dos principais elementos envolvidos no processo de levantamento


planimétrico.
No entanto, como sabemos, nem sempre é possível fazer a medição dessa distância de
forma direta, pois muitas vezes o relevo e a superfície são irregulares. Então, é
necessário realizar a medição de uma distância inclinada, para que em seguida
possamos calcular a distância horizontal projetada, que é determinada de forma
indireta.
E ainda há uma outra distância, que está relacionada à diferença existente entre as
alturas ou altitudes entre dois pontos; essa distância é denominada de distância
vertical e é muito importante para os levantamentos altimétricos.
A Figura 2.1 mostra as distâncias horizontal, inclinada e vertical, entre os pontos P e Q.

Figura 2.1 ̶ Distâncias existentes entre os pontos P e Q.


Fonte: Autoria própria.

Considerando que essas medições são realizadas para pontos relativamente próximos,
de forma que a curvatura da Terra possa ser desconsiderada, as seguintes relações
trigonométricas podem ser aplicadas:

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Agora que compreendemos quais são os tipos de distâncias, é importante ressaltarmos


que há dois métodos para medi-las: o método direto e o método indireto. Silva e
Segantine (2015, p. 107 e 115) definem medições diretas como um “método de
medição que consiste em comparar diretamente a distância a ser mensurada, com um
padrão de medida preestabelecido”, enquanto as medições indiretas consistem em
um “método de medição que consiste em calcular uma distância a partir da medição
de outras grandezas, que permitem calculá-la sem a necessidade de percorrer o
alinhamento para compará-la com uma grandeza padrão”.
Ou seja, podemos considerar como uma medição direta todas aquelas medidas que
são possíveis de se determinar a partir da comparação direta; daí o seu nome, sem
que seja necessário nenhum tipo de cálculo para sua determinação. Diferentemente
das medidas indiretas, que são determinadas a partir da relação matemática, ou seja,
por meio de um cálculo, que envolve outras medidas que podem ser obtidas
diretamente, o que permite a determinação da medida desejada.

2.2 Instrumentos e métodos topográficos para medições de distâncias

Existe uma grande variedade de instrumentos que possibilitam a medição das


distâncias topográficas. Esses instrumentos são chamados de instrumentos
topográficos. Quando esses instrumentos são empregados para medir distâncias em
campo, seguindo uma série de procedimentos e protocolos, quer dizer que está sendo
utilizado um método topográfico.
A medição de distâncias conta com uma grande variedade de instrumentos de
medição, mas também existem diversos instrumentos que auxiliam o processo de
medição de uma forma geral, que podem ser chamados de acessórios.
Dentre os instrumentos de medição de distância, temos as trenas, os teodolitos, as
estações totais, os receptores de GPS.
De forma geral, as trenas podem ser de aço ou de fibra de vidro, quando utilizadas em
processos de medição direta, ou a laser, para medições indiretas. As trenas mais
tradicionais, de medição direta, podem-se apresentar em diferentes tamanhos, e são

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utilizadas para medição de diferença de níveis e distâncias horizontais. A Figura 2.2


apresenta uma trena digital e uma trena de aço.

Figura 2.2 ̶ Trena digital (à esquerda) e trena de aço (à direita).


Fonte: Shutterstock.

Os teodolitos eletrônicos e as estações totais são os instrumentos mais comuns e mais


empregados nos levantamentos topográficos. Como vimos no bloco anterior, esses
dois instrumentos são muito similares, e sua principal diferença está na possibilidade
de medição de distâncias utilizando a estação total e o prisma. A Figura 2.3 mostra a
estação total e o teodolito; é interessante notar a semelhança entre os dois
equipamentos.

Figura 2.3 ̶ Estação total montada sobre o tripé (à esquerda); Estação total (ao meio);
teodolito (à direita).
Fonte: Shutterstock.

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Os principais componentes desses instrumentos são suas lunetas, alidades e as bases


nivelantes, que são mostrados na Figura 2.4

Figura 2.4 ̶ Componentes de teodolitos e estações totais.


Fonte: Shutterstock.

As bases nivelantes correspondem à parte inferior dos teodolitos e das estações


totais, e consistem na união de duas placas por meio de parafusos calantes. A base
inferior garante a fixação do instrumento ao tripé, e os parafusos calantes unidos à
base superior permitem o nivelamento do instrumento, mantendo sua
horizontalidade.
As alidades correspondem à estrutura que mantém todos os componentes do
teodolito e das estações totais. Elas são fixadas ao tripé pela base nivelante e podem
girar em torno de um eixo principal, que corresponde ao eixo vertical. No interior da
alidade, estão todos os componentes eletrônicos responsáveis pelo funcionamento e
pela interface do equipamento.
As lunetas são os componentes que definem o eixo de visada. Estão posicionadas
entre dois componentes verticais da alidade, e podem girar em torno do eixo
secundário e do eixo de visada. As lunetas são caracterizadas por um complexo
sistema ótico, que permite a realização das medições mesmo em situações de difícil
visibilidade. As lunetas possem ainda uma mira de pontaria e controles de foco, para
visualizar melhor o ponto visado.
As lunetas podem ser de dois tipos, alática e analática, a depender do centro do
instrumento. As lunetas em que não há coincidência com o centro do instrumento são

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chamadas de aláticas, enquanto as que coincidem são chamadas de analáticas, sendo


essas as mais comuns no mercado.
Esses três componentes constituem os teodolitos e as estações totais, e devem sempre
ser empregados utilizando os demais instrumentos auxiliares.
Outra forma de obtenção de distâncias são os receptores de sinal via satélite, ou
receptores GNSS, que de forma simplificada, medem a distância por meio da recepção
de sinais de pelo menos quatro satélites, que indicam a posição desse ponto na
superfície. A Figura 2.5 apresenta uma antena receptora de GNSS sobre um tripé para
determinar a coordenada e um ponto.

Figura 2.5 ̶ Antena receptora de sinal GNSS.


Fonte: Shutterstock.

Quanto aos acessórios, que auxiliam o processo de medição, temos as balizas, as


miras-falantes, ou miras estadimétricas, os níveis de cantoneira, os tripés e uma
grande variedade de demarcadores de pontos do terreno (como piquetes e estacas).
As balizas funcionam como um prolongamento vertical do ponto de interesse. Elas
facilitam a visualização do ponto e são fundamentais para as medições que se utilizam
dos teodolitos e das estações totais, e das medições de terrenos inclinados utilizando
a trena. Geralmente, possuem 2 metros e são pintadas de branco e vermelho,
alternadamente em segmentos de 50 cm. Sua cor facilita a identificação do acessório a
distâncias muito longas e em locais com muita vegetação. A Figura 2.6 mostra a
ilustração de uma baliza topográfica.

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Figura 2.6 ̶ Baliza topográfica.


Fonte: Autoria própria.

As miras estadimétricas se assemelham a uma régua e são graduadas em centímetros,


e são instrumentos que auxiliam principalmente no processo de medição de ângulos.
Sua leitura permite a indicação dos metros, decímetros e centímetros a partir da mira
de pontaria da luneta. As miras estadimétricas podem ser de madeira ou alumínio, e
podem ser encontradas em diferentes tamanhos. É importante tomar cuidado com o
uso de miras de alumínio em dias chuvosos, pois o acessório pode servir como um
para-raios e causar acidentes em campo. A Figura 2.7 mostra um operador segurando
uma mira estadimétrica:

Figura 2.7 ̶ Operador segurando uma mira estadimétrica.


Fonte: Shutterstock.

Os níveis de cantoneira são pequenos acessórios que possuem um nível de bolha, e


que podem ser encaixados nas miras e balizas, servindo para manter a verticalidade
desse instrumento. A Figura 2.8 mostra um nível de cantoneira acoplado a uma mira
estadimétrica.

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Figura 2.8 ̶ Nível de cantoneira acoplado a uma mira estadimétrica.


Fonte: Shutterstock.

Os tripés são acessórios de apoio para os teodolitos, estações totais e as antenas de


GPS. Possuem três pernas que podem ser ajustadas de acordo com a necessidade do
instrumento, e um encaixe universal para acoplar os instrumentos por meio do
parafuso calante. Os tripés podem ser de madeira ou alumínio. A Figura 2.9 mostra um
tripé em que são encaixados os instrumentos de medição.

Figura 2.9 ̶ Tripé para apoio do instrumento de medição.


Fonte: Shutterstock.

Por fim, os demarcadores de terreno são acessórios que servem para a materialização
dos pontos de interesse do terreno. Essa materialização pode ser feita por meio de
estacas, piquetes, pontos de prego, chapas de aço, e, até mesmo, pintados. A escolha
da forma de materialização depende da durabilidade que o projeto exige; pontos mais
robustos com certeza serão mais resistentes às intempéries e a modificações no
ambiente, enquanto pontos pintados podem ser facilmente apagados ou cobertos. O
ponto de demarcação mostrado na Figura 2.10 é de um material mais resistente e que
eventualmente poderá ser utilizado para levantamentos futuros.

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Figura 2.10 ̶ Ponto de demarcação de propriedade.


Fonte: Shutterstock.

O objetivo deste tópico é apresentar de forma geral os diversos instrumentos que


serão abordados ao longo de toda a nossa disciplina. Nos próximos tópicos, o
funcionamento e a forma de medição relacionados aos instrumentos serão abordados
dentro do contexto do levantamento topográfico.

2.3 Erros de medição

Todas as medições realizadas, sejam elas de distâncias ou ângulos, estão sujeitas aos
erros, e consequentemente, causam imprecisões aos valores observados. As fontes de
erros podem variar muito, desde as características do ambiente, até questões
inerentes aos instrumentos utilizados e às pessoas que os operam.
Os instrumentos de medição passam por um processo de manutenção que é capaz de
identificar e corrigir eventuais problemas relacionados a medições erráticas. Esse
processo é chamado de calibração, e deve ocorrer de tempos em tempos ou caso o
instrumento de medição seja danificado.
No entanto, sabe-se que os erros não estão relacionados somente a falhas
instrumentais. De maneira geral, os erros se classificam de três formas diferentes:
erros grosseiros, erros sistemáticos e erros aleatórios.
Os erros grosseiros são caracterizados por variações muito grandes das medições.
Esses erros normalmente são causados por descuidos do operador durante as
observações, por falhas instrumentais ou por influências externas muito bruscas.

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Na prática, exemplos de erros grosseiros são as situações que ocorrem quando um


operador confunde o valor que foi lido na hora de registrá-lo (por exemplo, a medição
feita marca 2,83 metros e o operador se distrai e registrou 2,38 metros) ou quando o
operador perde a conta do número de trenadas, em medições muito longas.
Para evitar os erros grosseiros, são necessários mecanismos de controle durante o
processo de medição e a repetição de leituras, já que os valores obtidos, afetados
pelos erros grosseiros, são normalmente muito fora do padrão, sendo considerados
outliers dentro de um conjunto de leituras de uma mesma grandeza.
Os erros sistemáticos são aqueles erros que se repetem ao longo de todo o processo
de medição, e que quando identificados podem ser corrigidos no tratamento dos
dados. Normalmente, esses erros são causados por instrumentos não calibrados,
operadores despreparados ou elementos externos ao processo de medição.
Exemplos de erros sistemáticos práticos podem ser observados quando as variações
térmicas deformam trenas ou miras, ou até mesmo, quando o equipamento utilizado
para fazer as medições não está devidamente calibrado.
O último tipo de erro é o erro aleatório, ou acidental, que corresponde a erros que
fogem dos protocolos de controle que contribuem para evitar os erros grosseiros e
sistemáticos e não possuem uma regra totalmente conhecida.
Os erros aleatórios partem do pressuposto de que todo procedimento de medição
apresenta algum erro de origem aleatória que é observado pelas variações existentes
nos valores observados.
Por conta da ocorrência dos erros, observações reiteradas de uma mesma grandeza
podem apresentar diferentes valores. Essa diferença entre os valores é denominada de
discrepância.
Quando há consistência em diferentes valores de medição de uma mesma grandeza,
é dito que há uma precisão nessa medida. Quando há uma aproximação entre os
valores observados e o valor verdadeiro, é dito que há exatidão ou acurácia.
Esses conceitos são muito importantes, pois a precisão é algo que varia muito
conforme alteramos o instrumento de medição e são importantes para se decidir qual
instrumento utilizar para o levantamento.

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Como mencionado, a área da Topografia que busca investigar e minimizar os erros nos
valores levantados é a Teoria dos Erros.
Como apontado, uma das formas mais simples de diminuir a influência dos erros em
uma medição é por meio da reiteração das medições. Quando isso é feito, considera-
se que o valor mais aceitável para a grandeza medida seja a média aritmética dos

O processo de aplicação da teoria dos erros envolve uma série de cálculos matriciais
que contribui muito para a aproximação das medições ao valor real da grandeza. Nesta
disciplina, o principal objetivo é a apresentação do conceito e a indicação breve de
como reduzir o erro de uma medição pela reiteração das observações. Porém, o
processo de aplicação da Teoria dos Erros é mais aprofundado e complexo, devendo
ser trabalhado em uma disciplina dedicada a isso.

2.4 Medições diretas

Quando falamos de medições de distância, principalmente em relação às medições


diretas, é importante dizer que há muitos instrumentos e métodos disponíveis para
medição das distâncias, mas também há muitas formas e características de terrenos e
superfícies para serem medidas. Neste tópico, iremos ver quais são os instrumentos
mais comuns na medição direta de distâncias, e em quais situações eles mais
atendem.
Quando há intenção em realizar medições apenas com intuito de estimar a distância,
sem preocupação com a precisão da distância medida, é possível utilizar do passo

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médio. Geralmente, a “passada” média de um homem de 170 cm, mede 80 cm, e que
há uma variação de 1 cm no tamanho do passo, a cada 5 cm de altura. Então, é
possível multiplicar o número de passos, entre dois pontos, para saber a distância
entre eles de uma maneira menos precisa.
Existem também aparelhos, pouco utilizados na Topografia, que fazem a contagem de
passos, que são chamados de Passômetro ou Podômetro. Esses aparelhos registram o
número de passos a partir das oscilações de um pêndulo interno.
Outro aparelho pouco usual, mas que pode medir distâncias, é o Hodômetro, que
também pode medir as distâncias a partir da contagem dos giros de uma roda que fica
em sua base. Porém, esse instrumento só deve ser utilizado em um terreno suave para
que a medição funcione.
Ainda dentre os instrumentos de medição direta, temos também as Trenas, que
também podem ser chamadas de Diastímetros. Esses instrumentos podem ser de
materiais diferentes e, até mesmo, eletrônicos; no entanto, as trenas eletrônicas não
são consideradas um método de medição direta.
As trenas normalmente se configuram por terem uma fita graduada, que é utilizada
para realizar as medições. Essa fita pode ou não se envolver por um recipiente de
proteção, normalmente de um material plástico. As trenas podem ter diferentes
tamanhos conforme o seu material e sua aplicação, e são normalmente graduadas em
metros, centímetros e milímetros.
Dentre os tipos de trenas, temos as trenas de fibra de vidro, que possuem dimensões
que variam de 20, 30 a 50 metros, sendo que as trenas de 20 metros são as mais
utilizadas nos levantamentos topográficos. Esse tipo de trena é muito vantajoso por
ter uma baixa sensibilidade ao calor e à temperatura, e possui uma precisão que pode
chegar a 1/5.000, mas isso está diretamente relacionado à forma como a trena é
utilizada e à habilidade de quem opera o instrumento. A Figura 2.11 mostra uma trena
de fibra de vidro.

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Figura 2.11 ̶ Trena de fibra de vidro


Fonte: Shutterstock.

Outro tipo de trena muito comum são as trenas de aço. Essas trenas podem ser
encontradas em 2 e 4 metros, ou 20 e 30 metros, sendo essas as mais comuns para
medições topográficas. As trenas de aço são muito práticas e de fácil transporte,
porém o fato de serem de aço faz com que sejam mais sensíveis às variações
térmicas, podendo dilatar e contrair a depender da temperatura no momento das
medições. Porém, sua precisão é bem maior se comparadas às trenas de fibra de
vidro, podendo chegar a 1/10.000. A Figura 2.12 mostra uma trena de aço.

Figura 2.12 ̶ Trena de aço.


Fonte: Shutterstock.

Porém, o fato de as trenas serem muito comuns não quer dizer que todos que as
utilizem saibam empregá-las da maneira mais correta. Por exemplo, imagine três
situações (A, B e C), mostradas na Figura 2.13, Figura 2.14 e Figura 2.15, em que uma
pessoa deseja descobrir uma das dimensões de uma sala.

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Na situação A, o operador, sozinho, se posicionou em uma das extremidades da sala e


esticou uma trena de aço até a outra extremidade, na altura de sua cintura e realizou a
medição.

Figura 2.13 ̶ Situação de medição com trena A.


Fonte: Autoria própria.

Observa-se, neste caso, que a leitura a partir da trena não indica de fato a medida L da
sala, pois houve uma diferença de nível entre as extremidades da trena, que fez com
que a leitura estivesse completamente errada.
Na situação B, o operador recebeu a ajuda de um amigo que trouxe uma trena de fibra
de vidro e se posicionou na outra extremidade da sala, e ambos seguraram a trena,
sem muita atenção, cada um na altura de sua cintura, e realizaram a medição.

Figura 2.14 ̶ Situação de medição com trena B.


Fonte: Autoria própria.

Nesse caso, novamente a medição feita foi executada de forma errada, pois, além de
haver um desnível nas extremidades da trena, o equipamento perdeu sua
horizontalidade ao longo de sua medida, causando um erro muito comum, chamado
de catenária, em que o peso da trena faz com que se forme uma curva, chamada de
catenária, ou flecha.

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Por fim, no terceiro caso, na situação C, o operador, sozinho, novamente, posicionou


uma trena de aço em uma das extremidades da sala, porém, agora apoiando a trena
no chão e realizou a medição.

Figura 2.15 ̶ Situação de medição com trena C.


Fonte: Autoria própria.

Dentre os três casos observados, o caso C é o que mais próximo da forma correta de
se medir uma grandeza utilizando uma trena. Pois o operador buscou estender a trena
sobre o plano horizontal, e a leitura da medição foi feita com a trena em paralelo a
esse plano.
No entanto, ainda não é possível dizer que a medida obtida e a dimensão da sala são
idênticas, devido a uma série de erros que podem estar relacionados ao processo de
medição. Os principais erros relacionados às medições diretas serão abordados ao final
deste tópico.
Os três casos mostrados consideram as medições em uma sala que possui uma
característica muito próxima a de um terreno regular e plano. Porém, muitas vezes, é
necessário fazer medições em terrenos irregulares e inclinados. E como devemos
proceder nesses casos?
Bem, há duas alternativas nesses casos: uma é a determinação da distância horizontal
com base na distância inclinada, e a outra é lançando mão dos instrumentos de apoio
para os levantamentos topográficos.
A primeira alternativa consiste na determinação da distância com base na
trigonometria, em que podemos determinar a distância horizontal, fazendo a medição
direta da distância inclinada e relacionando a distância inclinada à inclinação do
terreno. Isso é mostrado na Figura 2.16:

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Figura 2.16 ̶ Relação entre as distâncias e a rampa do terreno.


Fonte: Autoria própria.

Para se calcular a distância horizontal nesses casos, deve-se seguir a expressão:

Porém, quando não se sabe a inclinação da rampa, é possível medir a distância


horizontal com a trena utilizando os instrumentos de apoio, como as balizas e níveis
de cantoneira. Para isso, é necessário que dois operadores se posicionem nas
extremidades da distância a ser medida, e que o operador no nível mais alto posicione
a trena na base da baliza, enquanto isso, o outro operador deve posicionar a trena em
uma altura que mantenha a trena paralela ao plano horizontal, como é mostrado na
Figura 2.17. Nesse processo, é fundamental que ambos os operadores mantenham
sempre as balizas niveladas, utilizando os níveis de cantoneira. Então, seguindo todos
os processos corretamente, a leitura deve ser feita e a medida tomada.

Figura 2.17 ̶ Processo de medição de uma distância horizontal em um terreno


inclinado.
Fonte: Autoria própria.

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Esse processo pode também medir distâncias maiores a partir da repetição do


processo, repetindo-se as “trenadas” em distâncias mais longas.
Porém, como já informado anteriormente, os processos de medições trazem consigo
os erros, que podem ser evitados ou corrigidos ao final das medições. O processo de
medição de distâncias possui uma série de erros comuns que serão apresentados
agora.
Dentre os erros grosseiros, podemos indicar o engano no número de trenadas, em
que ao se medir grandes distâncias os operadores se confundem com o número de
repetição das trenadas ao longo do percurso. Outro tipo de erro grosseiro é a falta de
atenção ao fazer as leituras, que gera o registro de números completamente
diferentes do que aqueles medidos. Ambos os erros podem ser corrigidos ao fazer um
controle mais rígido das leituras e da contagem de trenadas.
Quanto aos erros sistemáticos, existe a catenária, que é causada pelo peso da trena
na parte central, que acaba por formar uma flecha no instrumento. Isso faz com que a
leitura seja maior que a medida de fato, e a distância sendo medida seja determinada

Há alguns erros que estão relacionados ao comprimento da trena, que podem


apresentar algumas variações, principalmente, quando o equipamento vem sendo
usado por um longo período de tempo. Isso pode ser identificado por meio de
aferições periódicas, que permitem identificar qual o erro relativo ao comprimento da
trena.
Outro tipo de erro comum está relacionado à variação de temperatura, já que as
trenas são fabricadas e aferidas em temperaturas entre 15 °C e 20 °C. Então, medições
fora desse intervalo devem passar por uma correção, definida por:

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Há também erros relacionados a uma tensão muito grande nas extremidades da trena
que acabam por aumentar o comprimento do instrumento. Também há erros por
desnível da baliza, que perde sua verticalidade durante a medição, o que pode ser
facilmente corrigido ao usar um nível de cantoneira corretamente.
2.5 Medições Indiretas

As Medições Indiretas são definidas dessa forma por não serem obtidas a partir da
comparação direta entre o que se deseja medir e uma grandeza padrão. As medições
indiretas são obtidas a partir do cálculo envolvendo as medições de outras grandezas.
As medições indiretas são chamadas de Taqueometria, que etimologicamente significa
medições rápidas. As medições indiretas podem ser de três tipos: óticas, eletrônicas e
com GNSS.
As medições óticas têm o princípio da semelhança de triângulos como base. Observe
a Figura 2.18, que representa um levantamento em um terreno plano
horizontalmente, em que o operador deseja saber a distância horizontal entre C e G.

Figura 2.18 ̶ Levantamento por medições óticas.


Fonte: Autoria própria.

Através da semelhança de triângulos, sabemos que as seguintes relações são


verdadeiras:

Pelas especificações do método e do instrumento, sabemos também que:

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Mas, então, como podemos saber todas essas relações e medir de fato a distância?
Bem, para isso, é utilizado o teodolito, que possui uma luneta, que quando
enxergamos através dela vemos algo semelhante ao que é mostrado na Figura 2.19.

Figura 2.19 ̶ Vista através da luneta.


Fonte: Autoria própria.

Então, para medir a distância, apontamos essa luneta para a mira estadimétrica e
fazemos a leitura das posições dos fios superior, inferior e médio e aplicamos na
equação 2.5.1. A leitura da mira, na mira estadimétrica, é feita como mostra a Figura
2.20:

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Figura 2.20 ̶ Leitura da mira estadimétrica.


Fonte: Autoria própria.

A Figura 2.21 mostra um exemplo de leitura com a luneta apontada para mira. A
medição realizada nessa leitura indica os valores mostrados ao lado da leitura.

Figura 2.21 ̶ Exemplo de leitura estadimétrica.


Fonte: Autoria própria.

A partir dessas informações, podemos determinar a distância:

O método de medição de distâncias com o terreno inclinado é um pouco mais


complexo quando comparado aos terrenos planos. No entanto, ele pode ser ilustrado
pela Figura 2.22:

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Figura 2.22 ̶ Processo de medição de ângulos em terrenos inclinados.


Fonte: Autoria própria.

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Então, temos que:

Outra forma de medição de distância é por meio dos Medidores Eletrônicos de


Distâncias ou MEDs, que podem ser trenas eletrônicas, distanciômetros eletrônicos
ou estações totais. Nesses equipamentos, as distâncias são medidas com base no
tempo que um sinal eletromagnético leva para se deslocar de um ponto A a um ponto
B.
Normalmente, o ponto A é o ponto de início da medição e o ponto B é um anteparo,
que pode ser uma superfície qualquer, como uma parede ou o terreno, ou um prisma
ótico. Quando se utiliza o prisma nas medições, as medições são chamadas de
medições com prisma, e quando não se utiliza o prisma, a medição é chamada de

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medição sem prisma. As medições, utilizando instrumentos eletrônicos, são


normalmente muito precisas e relativamente baratas.
Outra possibilidade é a medição de distâncias utilizando o sistema GNSS, por meio da
comparação direta das coordenadas indicadas pelo sistema. A obtenção das distâncias
por esse método consiste na obtenção de uma reta entre as antenas de recepção do
sinal. A distância medida por esse método é a distância inclinada, e a precisão dos
valores obtidos é alta, em torno de 5 mm + 2 ppm de posicionamento de satélites.

Conclusão

Neste bloco, prosseguimos o nosso estudo da Topografia, e vimos que a Topografia


envolve diferentes tipos de distâncias. Temos as distâncias horizontais, as distâncias
verticais e as distâncias inclinadas, sendo que na maior parte dos levantamentos, o
objetivo é a determinação das distâncias horizontais.
Há muitos instrumentos envolvidos nos levantamentos topográficos. Esses
instrumentos podem ser divididos em duas categorias: os instrumentos de medição,
que são as trenas, os distanciômetros, os teodolitos, as estações totais etc.; e os
instrumentos auxiliares, que são os tripés, as miras estadimétricas, os níveis de
cantoneira etc.
Apesar de serem instrumentos com diferentes finalidades, praticamente todos os
levantamentos são feitos utilizando-os em conjunto. Para garantir um bom resultado e
maior conservação de todos os equipamentos, é importante sempre manuseá-los com
muita atenção e cuidado, para evitar que os instrumentos percam sua regulagem e
necessitem passar pela calibração.
O processo de medição das distâncias pode ser feito de forma direta ou indireta. As
medições diretas são aquelas em que é possível se determinar uma grandeza a partir
da comparação direta, sem que seja necessário calcular o seu valor. As trenas de aço e
de fibra de vidro são exemplos clássicos de instrumentos utilizados para medições
diretas, mas que possuem certas limitações, sendo mais apropriadas para terrenos
planos.
Já as medições indiretas são determinadas a partir da relação matemática, por meio
de um cálculo, que envolve outras medidas que podem ser obtidas diretamente, e que

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permitem que se chegue à dimensão desejada. Essas medições são comumente


realizadas por teodolitos e estações totais, que permitem a determinação das
distâncias por meio da medição de ângulos verticais. Os teodolitos e as estações totais
permitem a medição de distâncias mesmo em terrenos inclinados e irregulares.
Neste bloco, também vimos que todas as medidas estão sujeitas a erros, e que esses
erros podem ser grosseiros, quando são causados por desatenção e mal uso dos
equipamentos; sistemáticos, quando são constantes e se apresentam em todas as
leituras; ou aleatórios, quando suas causam fogem as das outras categorias, não
sabendo exatamente o que os provoca, mas sabe-se que eles existem.
A teoria dos erros é a área da geomática responsável pelo estudo dos erros aleatórios,
também chamados de acidentais, e tenta minimizar esses erros no momento de
processamento dos dados levantados.
No próximo bloco, iremos nos aprofundar um pouco mais no processo de medição de
ângulos e em um recurso muito comum para a realização dos levantamentos
topográficos: a poligonal topográfica.

Referências
SILVA, Irineu da; SEGANTINE, Paulo Cesar Lima. Topografia para Engenharia - Teoria e
Prática de Geomática. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. Disponível em:
https://www.saraiva.com.br/topografia-para-engenharia-teoria-e-pratica-de-
geomatica-8875878.html?pac_id=123134.

Referências Complementares
BORGES, Alberto de Campos. Topografia aplicada à Engenharia Civil v.1. 2. ed. [S.l.]:
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