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‘Paris dos Trópicos’ através do Teatro

Enfim o grande dia chegou onde finalmente poderemos dar descarte as máscaras
e aproveitar a nossa belíssima Manaus. Após tanto tempo dentro de casa, sem poder ver
a família e amigos… agora sim, podemos voltar a viver aos poucos novamente. Há duas
semanas tive a honra de poder reviver sensações e momentos ao levar meu neto Luizinho
ao Teatro Amazonas, lugar que durante meus 80 anos de vida tenho como minha segunda
casa de onde fiz parte da comissão de Interpretes do Teatro Amazonas. Logo eu, que
sempre gostei de contar histórias, junto dele, que sempre teve a imaginação incrível,
embarcamos em uma viagem no tempo, rumo à história do nosso amado teatro Amazonas
para que isso aconteça vamos ser transportados direto a nossa ‘Paris dos Trópicos’.
Voltamos à 1879, ano em que Manaus vivia o auge do ciclo da borracha, e que viria a
ganhar o apelido tão aclamado de 'Paris dos Trópicos'. Durante o último quarto de século
o turismo vinha se desenvolvendo cada vez mais. Não havia quem não quisesse conhecer
aquela nova obra encantadora. O clima, a arquitetura, a paisagem e a maioria dos
visitantes, portanto, vinham em busca de emoções fortes, de naturalidade genuína. A
construção do teatro foi iniciada em 1882. Contudo, as obras caminharam lentamente, e
em 11 de agosto de 1885 foram suspensas pelo governo provincial para tentar uma
negociação com os executores do projeto, que queriam a alteração do plano original, neste
momento eu fiquei aflito como que eles iriam mudar todo o projeto com madeiras e
colunas vindas da Europa para o início das construções seria uma tragédia econômica.
Por fim o edifício foi inaugurado em 31 de dezembro de 1896, no auge do ciclo
econômico da borracha, durante a administração do governador Fileto Pires Ferreira. Para
a estreia foi contratada a Companhia Lírica Italiana, empresariada pelo maranhense
Joaquim de Carvalho Franco. A primeira ópera a estrear no Amazonas, no dia 7 de janeiro
de 1897, foi Gioconda, de Amilcar Ponchielli umas das óperas mais bem assistidas por
toda a sociedade burguesa da época que ficaram abismados com tamanha beleza em forma
de repertorio e música.

Mas quando se fala de Teatro Amazonas também se vem a cabeça a decoração e


a sofisticação e que de fato ele nos deslumbrar e nos leva a vários períodos e o trabalho
de decoração que foi feito no teatro se estendeu por alguns anos após a inauguração
oficial. Por conta que o edifício foi construído com predomínio de elementos
neoclássicos, mas a presença de outros estilos o caracteriza como uma construção
eclética. E para a realização da obra foram contratados artistas renomados nos cenários
brasileiro e europeu. O pernambucano Crispim do Amaral foi o responsável pela
decoração do salão interno. O italiano Domenico de Angelis – que também trabalhou na
decoração da sala de espetáculos do Teatro da Paz em Belém – foi contratado por Crispim
do Amaral para fazer a ornamentação do salão nobre. No plafond do salão destacam-se a
pintura A glorificação das belas artes na Amazônia, projetada por De Angelis, além de
32 lustres de vidro de Murano, bustos de personalidades ilustres, colunas com base de
mármore de Carrara e espelhos trazidos da Itália e França. O piso com desenho
geométrico, também projetado pelo italiano, é formado por 12 mil peças de madeira
encaixadas. Mas Luizinho você sabia que A cúpula do nosso teatro é composta de 36 mil
escamas de cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas, vindas da Alsácia que foi adquirida
na Casa Koch Frères, em Paris, e sua pintura ornamental foi feita por Lourenço Machado.
Luizinho vos apresento um dos mais lindos salões de festa do Mundo e que se
encontra dentro do Teatro Amazonas o nosso famoso Salão Nobre que contempla
interesses associados à identidade da sociedade local e que tinham como foco principal
promover o Amazonas, as qualidades de sua natureza e suas potencialidades, falando um
pouco da decoração deste salão me lembro como se fosse hoje que na ocasião em que foi
encomendada a decoração interna do Teatro Amazonas, eram praticamente inexistentes
na cidade as pinturas decorativas, em especial aquelas com temática laica ou que
retratassem a natureza tropical. Agora Luizinho você percebe que a decoração do edifício,
remete as alegorias referidas à mitologia greco-romana, recurso muito frequente na
decoração de teatros e no Teatro Amazonas, quando se chega ao foyer, é notável a
descontinuidade entre os painéis que ocupam as paredes laterais e circundam o salão e o
restante da decoração do edifício. Embora a temática da natureza apareça mesclada aos
temas das alegorias, especialmente através da folhagem verdejante dos trópicos, no salão
nobre é ela mesma o centro das representações pictóricas em que a paisagem em
panorâmicas. Por assim dizer o Salão Nobre e um espaço onde se apresenta nos quadros
decorativos a natureza amazônica pujante e diversa: águas, árvores, nuvens, musgos,
flores, pássaros, folhagens, florestas alagadas, animais, troncos e galhos retorcidos, as
variações das luzes e da luminosidade compõem a iconografia do salão nobre.

O salão nobre era um dos locais para o público que buscava pelas noites de lírica,
nos grandes encontros cívicos, nos saraus e banquetes, eventos expressivos da
sociabilidade cosmopolita do período e da afirmação da sociedade burguesa. Nas
comemorações que que ocorriam, muitas vezes, a decoração reforçava e promovia o
envolvimento desejado com a atmosfera e com a paisagem amazônica. Vasos com
palmeiras e outras plantas se misturavam à vegetação representada nas pinturas e davam
mais possibilidades a que o visitante experimentasse ‘ter estado na floresta’, e os espelhos
que ocupam paredes do salão reproduziam ao infinito tanto as pinturas como as cenas da
vida social. Nas noites de gala, mesclavam-se no foyer a natureza amazônica retratada
nos painéis e os ‘espetáculos de civilização’ em que interagiam políticos, representantes
comerciais e outros indivíduos da sociedade de então com aqueles que chegavam à
próspera cidade. O momento em que foi concluída a decoração interna do teatro se teve
a certeza de que a elite local passou a ocupar os cargos que vinham sendo preenchidos
pelos representantes indicados pelos primeiros governos republicanos. E no teatro, são
muito importantes as características em que se opera, por um lado, a remissão à tradição
europeia e, por outro, a intenção de valorizar a ‘natureza nacional’ associada a um
território Reveste o piso do salão minucioso trabalho embutido de várias madeiras
regionais, de cores e formas diversas, em arranjo concebido por De Angelis. No edifício
em que ferro 21 e madeira são materiais em evidência, o uso da matéria vegetal reverencia
a riqueza e a variedade dos recursos da floresta e contrapõe-se aos avanços da tecnologia
industrial e do progresso, identificados com a civilização que vinha sempre de bom tom
nas adversas propostas que foram feitas durante a construção do teatro por completo.

Me diga Luizinho o que você aprendeu hoje? -Eu entendi que desde que quando
foi pensado e estruturado o nosso Teatro sempre foi colocado como algo fundamental e
que para sua construção o uso de madeiras amazônicas que foi essencial para trazer a
regionalidade e como você disse no revestimento do piso do salão nobre que são
representados nessa “união entre natureza e cultura”. Entendi também que o teatro vem
como uma forma fixar e difundir entre os frequentadores e convidados do teatro a
possibilidade de observação da natureza em si, dando a imagem da nossa Amazônia
idealizada, e distanciada das febres, das populações indígenas e dos trabalhadores
urbanos, singularizada pela riqueza da flora e da fauna que estão na base da sensibilidade
romântica dos que fizeram o nosso lindo e amado Teatro Amazonas.

Fim

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